As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 11)

Dando prosseguimento à série de reportagens do Correio Paulistano.

Correio Paulistano – Sexta-feira, 9 de junho de 1916, página 2 

No mundo das maravilhas

É mister que se faça luz na noite do mistério 

O sr. Carlos Mirabelli, a nosso ver, não passa de um hábil prestidigitador 

Como temos anunciado, o sr. Carlos Mirabelli, aceitando o repto lançado por esta folha, realizou já duas sessões em nosso salão nobre, sem que conseguisse produzir o mais ligeiro fenômeno de mediunidade. Estamos certos mesmo de que os não produzirá, dada a vigilância dos nossos representantes e de outros cavalheiros que constituem o júri que o deve julgar, e cuja perspicácia não se pode pôr em dúvida. 

Todavia, a benevolência com que o “Correio Paulistano” se tem portado neste debatido caso, vai já causando estranheza. Exigidas do sr. Mirabelli cinco sessões, dentre as quais devia e deve ficar tudo esclarecido, são já decorridos 22 dias e apenas duas sessões se realizaram. E não é que o prestidigitador precise de repouso, pois que de contínuo se submete, fora desta casa, a todas as provas em residências particulares, onde o “sucesso” se não faz esperar, onde os fenômenos se multiplicam. Ainda ontem, anuncia a “Gazeta”, uma nova e extraordinária sessão se realizou, em que novos e extraordinários fenômenos se produziram.  

Tão fora do comum foram as proezas do pseudo médium, que de tudo se lavrou uma ata… Uma gaveta girou sobre o gargalo de uma garrafa e uma lâmpada se acendeu. Foi tudo, mas foi muita. Pois bem: o “Correio Paulistano” precisava demonstrar, com fatos, que o que se transformou nas já tão praticadas experiências do sr. Mirabelli não foi o cabelo em espírito, mas simplesmente o lápis em gaveta… E, incontinenti, na presença de numeroso auditório, fez, sobre uma simples garrafa, movimentar-se uma gaveta que pesa cinco quilos e que mede 0,58 x 0,61, maior, portanto, que a de ontem, lá para as bandas do Braz, causou assombro à grande assistência de que fala a nossa colega vespertina.  E não fez somente isso: acendeu também uma lâmpada das que se achavam no candelabro e mais uma ainda que repousava sobre a mesa do nosso salão nobre, sem nenhum contato com o fio da eletricidade. 

De tudo quanto, a esse propósito, ontem se passou nesta redação, foi uma ata também lavrada e assinada por pessoas insuspeitas e de inteira idoneidade. Ninguém, porém, das que assinaram, desconhecia a existência do “truque”, que, todavia, não foi absolutamente percebido na ocasião em que se realizavam os “fenômenos”, conforme se vê da declaração firmada pelos srs. drs. Reynaldo Porchat e Bueno de Miranda. 

O “Correio Paulistano” não encara esta questão sob o ponto de vista científico, isto é, não nega que as manifestações atribuídas ao sr. Mirabelli se possam realmente dar; o que negamos, com fundamentos que serão dentro em breve publicados, é que o sr. Mirabelli as produza sem embuste. E como os fatos, até agora realmente observados, provam que tanto “lá” como “cá” as manifestações se realizam com a mesma ilusão dos assistentes, razão não há para que se afirme afoitamente que a idéia da prestidigitação seja afastada pelo só motivo de que Mirabelli negue a existência do “truque”. 

Precisamos não ser ingênuos…. 

Nós, abaixo assinados, reunidos na redação do “Correio Paulistano”, assistimos ao seguinte: 

Posta uma gaveta de cinco quilos em cima do gargalo de uma garrafa, em posição de equilíbrio, vimos deslocar-se essa gaveta em sentido rotativo, sem contato absolutamente nenhum com o operador, sendo que na última houve também movimento de subida e descida das extremidades da gaveta, movimento de gangorra, que terminou pela queda da mesma, queda que se estendeu igualmente à garrafa.  

A gaveta media sessenta e um centímetros de comprimento por cinqüenta e oito de largura, pesando cinco quilos. 

S. Paulo, 8 de junho de 1916. 

REYNALDO PORCHAT – Declaro ter assistido à experiência a que se refere a ata supra, em condições semelhantes a que me achava ontem á noite, na casa do sr. coronel Goulart. Depois da experiência me foi mostrado o – truque – por meio de um fio de cabelo, que eu absolutamente não tinha visto antes de me ser mostrado pelo operador. 

Em virtude do que VI na aludida casa, ontem, à noite, sendo operador o sr. Mirabelli, e do que acabo de VER,  na redação do “Correio Paulistano”, continua o meu espírito na mesma dúvida quanto á existência ou não de embuste para a produção dos fenômenos provocados por aquele sr. O meu juízo definitivo somente poderá ser manifestado, com convicção, depois de realizadas as cinco sessões, exigidas pelo “Correio Paulistano”, em uma das salas da sua redação.  

DR. BUENO DE MIRANDA, subscrevendo a declaração do dr. Reynaldo Porchat. 

NESTOR PESTANA.

MANUEL LEIROZ.

GELASIO PIMENTA.

JOSÉ ALVES DE CERQUEIRA CESAR NETTO.

ROBERTO BOTELHO.

SYLVIO DE ANDRADE MAIA.

ARISTÉO SEIXAS.

J. F. DE MELLO NOGUEIRA.

JULIO DE MESQUITA FILHO.

JOÃO ALBERTO DE SALLES FILHO.

THESEU DA COSTA NEGRAES.

W. RODRIGUES.

ANTONELLI SALLES. 

            ALCYR PORCHAT – (Declaro que esta experiência me foi feita às 4 e meia da tarde, achando-me a metro e meio de distância da referida gaveta, sendo que não percebi “truque” algum. Depois de feita a experiência, o operador demonstrou-me que a realizara com um fio de cabelo de mulher. – Alcyr de L. Porchat.)

10 respostas a “As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 11)”

  1. SeriousBusiness Diz:

    Bom, já que ninguém comenta esse artigo. Vou utilizá-lo para testar formatação de texto. Depois o Victor pode apagar…

    Negrito
    Itálico
    a besteira é o princípio da sabedoria
    X+ Y = 3
    atirei o pau no gato, mas o gato não morreu!
    alguma coisa aqui
    Não clique aqui

    Vamos ver se dá certo!

  2. SeriousBusiness Diz:

    continuando:

    Falcão disse:

    A besteira é o princípio da sabedoria!”

    WWW

    castastrófenão! Catástrofe…

    vamos lá!

  3. SeriousBusiness Diz:

    última!

    Renato Russo disse:

    De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte. Vai ser bom subir nas pedras. Sei que faço isso pra esquecer. Eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora….

    Pronto, testei o que eu queria. Vitor pode apagar se quiser!

    Grande abraço!

  4. SeriousBusiness Diz:

    😉 🙂 😀 🙁 :'( XD

  5. SeriousBusiness Diz:

    http://obraspsicografadas.haaan.com/wp-includes/images/smilies/icon_lol.gif

    lol

  6. SeriousBusiness Diz:

    😆 [lol] 😀 icon_lol [icon_lol] :icon_lol:
    :mrgreen:

  7. William Diz:

    Crítica: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 11)

    O pessoal de o “Correio Paulistano” está impaciente (na verdade estão satisfeitos) com os resultados, ironizam que fora do ambiente deles os fenômenos se multiplicam e ganha repercussão dentre outros veículos de informação, na “Gazeta”.

    Reparem que estão em jogo muitas coisas, a capacidade e a seriedade de todas as outras pessoas fora do jornal “Correio”. Notoriamente, se eles aceitam os fenômenos realizados em outro ambiente, devem se interrogar por qual motivo isso acontece, ora, se recusarem eles estão chamando indiretamente todas as outras pessoas que não pertencem a “sua roda” de tolos ou comparsas.

    Eu ressalto leitor, que um bom ambiente psíquico sempre foi exigido pelos médiuns ao longo da história, alguns cientistas chegaram a dizer que a exigência seria uma total pré-disposição sem ser enganado, e não algo relacionado às forças naturais envolvidas.

    Contudo esse “ambiente psíquico” jamais foi um completo entrave (para aceitar os fenômenos dentro de algum controle) diante de pessoas como W. Crookes, William Huggins, W. Russell Wallace, Sergent Cox, Paul Gibier, James Gully, C. Varley, Charles Richet, Richard Hodgson, William James, etc.

    Depois, estranhamente o “Correio Paulistano” diz: “O ‘Correio Paulistano’ não encara esta questão sob o ponto de vista científico, isto é, não nega que as manifestações atribuídas ao Sr. Mirabelli se possam realmente dar; o que negamos, com fundamentos que serão dentro em breve publicados, é que o sr. Mirabelli as produza sem embuste”.

    Agora eles (“Correio Paulistano”) pintam a possibilidade de um Mirabelli meio termo, é fraude e legítimo ao mesmo tempo! Estranho essa falta de controle em formar opiniões, pois em artigos anteriores havia um “Dr. Leviano” ensinando história do espiritismo como bem entende, sem fundamento nos fatos, tratando Allan Kardec como um interessado em realizar prosélitos para sua seita que argumenta em cima de crendices que não se relacionam absolutamente ao mundo natural.

    Na verdade, demonstram um pouco de timidez porque outro jornal importante levanta uma opinião contra a deles.

  8. Vitor Diz:

    Agora eles (“Correio Paulistano”) pintam a possibilidade de um Mirabelli meio termo, é fraude e legítimo ao mesmo tempo!

    Não é isso. Eles não negam a possibilidade que os fenômenos sejam verdadeiros com outros médiuns. Estão negando apenas quanto ao Mirabelli.

  9. William Diz:

    Corrigindo o texto anterior (estou com problemas em digitar pelo meu PC):

    “Eu ressalto leitor, que um bom ambiente psíquico sempre foi exigido pelos médiuns ao longo da história, alguns cientistas chegaram a dizer que a exigência seria uma total pré-disposição EM ser enganado, e não algo relacionado às forças naturais envolvidas”.

    Depois continua (no texto de cima)…

  10. William Diz:

    Vitor,

    Obrigado pela critica, li novamente (estou lendo rápido porque são muitos números, é bom você e outras pessoas me criticarem).

    Retiro o que disse sobre “Mirabelli meio termo” e mantenho a contradição (em termos de formar opinião) do jornal que permitiu publicar o conteúdo de um doutor que disse basicamente os fenômenos observados por Allan Kardec serem crendices.

    O doutor aceitou poucos fenômenos e quis explicar a sua maneira. Como todos sabem, o Mirabelli tem fama de produzir os mais variados.

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