Reflexões Xavierianas

Mais um texto do Senhor José Carlos Ferreira Fernandes em que responde a questionamentos feitos por um professor de História relacionados a Chico Xavier e Emmanuel.

Algumas considerações interessantes foram feitas, nos últimos dias, acerca do “ciclo de Emanuel” das obras de Francisco Cândido Xavier, especialmente as referentes à antiguidade romana, e ligadas (ainda!…) à existência, ou não, de Públio Lêntulo, o senador contemporâneo de Cristo.  Gostaria, quanto a isso, de contribuir com alguns esclarecimentos, a par de algumas reflexões.  Os tópicos aqui abordados constam de mensagens do sr. Eduardo José Biasetto, no texto “Psicografia à luz da Grafoscopia – o que Perandréa não viu”, neste “blog”.             

Assim, em mensagem do sr. Eduardo José Biasetto, de 27 de dezembro p.p.:

Tópico 1 – Uma pretensa “descaracterização” das obras de Xavier sobre a antiga Roma,”livros de alto nível – ‘Há Dois Mil Anos’, ‘50 Anos Depois’, ‘Paulo e Estevão’, ‘Ave Cristo!’, por causa dos nomes que ali aparecem”, sendo que tais nomes poderia ter sido modificados, sendo, além disso, secundários;

Tópico 2 – Desconsideração da existência de Públio Lêntulo pelo fato de não haver registros, quando também não há registros históricos da existência de Jesus Cristo, isso sem contar o fato de que teria sido fácil para Xavier ter escolhido uma personagem conhecida da História para escrever suas obras;

Tópico 3 – A implausibilidade da hipótese de fraude no que diz respeito às obras históricas, mais especificamente às do “ciclo de Emanuel”, tendo em vista a quantidade de material que teria de ser absorvida.  Nas próprias palavras do sr. Biasetto: “Sou professor de História.  Vamos supor que eu resolva fraudar e então me declare médium.  Então, eu decido escrever um livro sobre Napoleão Bonaparte, afirmando estar psicografando seu espírito.  Quantos livros eu precisaria consultar a respeito de Napoleão? Quantos livros eu precisaria consultar sobre a França e até mesmo a Europa de sua época? Quanto tempo levaria para realizar minhas pesquisas? Hoje temos a internet, mas o Chico não a tinha a seu dispor.  Eu poderia escrever o livro sobre Napoleão, sim, talvez até ficasse bom.  Mas eu seria capaz de fazer isso com diversos outros temas, com poucos recursos, em pouco tempo?”

Noutra mensagem do mesmo sr. Biasetto, de 31 de dezembro p.p.:

Tópico 4 – Seria secundário utilizar-se, como prova da existência ou não de espíritos, ou da própria mediunidade, argumentos como nomes de personagens, semelhanças entre a escrita do médium e a de espíritos desencarnados, ou outros itens da espécie.  Dever-se-ia, ao invés, levar-se em consideração o conjunto da obra de Xavier, a qualidade dos textos, as informações, as mensagens, o alcance das obras relacionadas à sua vida;

Ainda noutra mensagem do sr. Biasetto, do dia 1o de janeiro p.p.:

Tópico 5 – Em suas palavras, “Chico Xavier, para mim, é, indiscutivelmente, um fenômeno.  Eu só não tenho certeza de qual é a natureza desse fenômeno.  Não se faz necessário lembrar, que o Chico escreveu centenas de livros, que venderam 50 milhões de exemplares.  A questão é: como o Chico escreveu estes livros? (…) O Chico [segundo a visão do “blog” “Obras Psicografadas”] simplesmente estudou assuntos diversos e escreveu os livros a partir das informações obtidas.  Para dar um ‘tchan’ na sua obra literária e na sua vida, resolveu inventar que os livros eram obras de espíritos. É possível isto? Talvez! Mas, sinceramente, me parece pouco provável”.

E, enfim, em mensagem da mesma pessoa, no dia 2 de janeiro p.p.:

Tópico 6 – Em suas palavras, “Você [Vítor] pega na questão do senador romano.  Não há provas de que tenha existido.  Tudo bem, eu até paro para pensar sobre esta indagação.  Agora, veja bem: se o Chico tivesse escrito ‘Há Dois Mil Anos’ usando o nome de um imperador romano conhecido, ou mesmo pouco conhecido, mas que fosse de possível identificação pesquisando-se a história de Roma Antiga, você [Vítor] não usaria o argumento de que o Chico pesquisou a biografia do tal senador e daí inventou a história? Então, é isto que eu quero te mostrar: de qualquer forma, você diria que a história é inverídica”; que foi respondida no mesmo dia pelo sr. Vítor Moura, nestes termos: “se o senador tivesse existido, eu não poderia de forma alguma dizer que a história é inverídica, a menos que outros fatores na história narrada desafiassem seriamente o conhecimento estabelecido que temos da sociedade romana (p.ex, o uso pelos Imperadores de gorilas em vez de leões para castigar os cristãos).  Também não acusaria seu guia de ser fictício”.

Esses, em linhas gerais, os tópicos levantados.  A seguir, serão tecidas algumas considerações, e reflexões, referenciadas ao número dado a cada tópico mencionado.

TÓPICO 1:

De minha parte (creio que também da parte do sr. Vítor Moura) não há um trabalho de “descaracterização” das obras de Xavier que versam sobre a antiga Roma.  A análise é bem mais focada e especializada: averiguar a plausibilidade histórica de “Públio Lêntulo”, uma das identidades passadas do espírito-guia Emanuel.  Só isso, nada mais.  Uma vez que o próprio espírito-guia forneceu informações históricas detalhadas acerca dessa sua identidade pretérita (senador romano contemporâneo de Cristo, bisneto por linha paterna de Lêntulo Sura, tendo exercido funções administrativas em Esmirna, ido em missão especial à Judéia sob a procuradoria de Pôncio Pilatos, feito parte, bem depois, do conselho de guerra de Tito por ocasião da revolta judaica, etc.), tais informações podem ser analisadas historicamente.  E, ao longo de suas obras, mais especialmente de “Há Dois Mil Anos”, fornece Emanuel, igualmente, uma série de detalhes acerca da vida (e das estruturas político-administrativas) de Roma e da Judéia no período dos Júlio-Cláudios – algo que, mais uma vez, pode ser analisado historicamente.

O sr. Biasetto, como professor de História, deve saber perfeitamente que tal análise histórica é não apenas possível, mas necessária, a fim de confirmar (ou não) a identidade que a (suposta) entidade fornece de si mesma – é algo, aliás, que os próprios espíritas deveriam ter feito na ocasião em que Emanuel por primeiro se identificou como “Públio Lêntulo”, se quisessem, mesmo, seguir as recomendações de Kardec.  É sempre bom lembrar que foi o próprio Emanuel que forneceu todos esses dados sobre si mesmo, e os forneceu como coisa certa, histórica, efetivamente ocorrida, tirando dessa identidade com o senador contemporâneo de Cristo muito de sua autoridade.  “Públio Lêntulo”, convém igualmente lembrar, NÃO É UM PSEUDÔNIMO, é uma identidade efetiva, real e verdadeira, ou, ao menos, apresentada como tal – e considerada como tal pela generalidade dos espíritas kardecistas brasileiros.  Basta pesquisar na Internet para confirmar isso.  Como um todo, os espíritas kardecistas brasileiros consideram que Emanuel FOI quem disse que foi.  E lutam desesperadamente, com unhas e dentes, para manter essa crença.

A análise histórica sobre a identidade e existência de Lêntulo, ao contrário do que diz o sr. Biasetto, não se resumiu ao estudo da onomástica romana utilizada pelo espírito-guia.  Diga-se de passagem que tal assunto não é, de modo algum, secundário; tem-se um pretenso senador romano que comete seguidamente deslizes primários no modo como denomina seus pares.  E o sr. Biasetto, como professor de História que é, sabe perfeitamente da importância do estudo da onomástica para a confirmação da plausibilidade da existência de personagens históricos, ou que o dizem ser.  Civilizações distintas têm modos distintos de tratar a antroponímia – há uma prosopografia egípcia, uma grega, uma romana, etc.  O sr. Biasetto pode perfeitamente confirmar isso – e provavelmente, como professor de História, sabe mais do que eu a respeito.

Mas, continuando: a análise não se focou apenas em nomes; em termos gerais, foi possível demonstrar (e demonstrar embasadamente, a partir da análise de fontes históricas, inclusive epigráficas, bem como de obras de referência de especialistas) que:

  • Há evidências razoáveis que apontam para o fato de que Lêntulo Sura, o conspirador catilinário (pretenso bisavô de Públio Lêntulo), não teve herdeiros masculinos que lhe sobrevivessem, já que foi Marco Antônio, seu enteado, que teve de resgatar seu corpo e providenciar suas exéquias;
  • De qualquer modo, nenhum dos (muitos) Lêntulos atestados historicamente na época dos Júlio-Cláudios descendia de Lêntulo Sura – a maioria vinha inclusive duma estirpe plebéia que adentrou nos Lêntulos por adoção testamentária, os Lêntulos Marcelinos (originariamente Cláudios Marcelos), os quais, inclusive, a partir do casamento com uma filha de Cipião Násica Serapião, passaram, crescentemente, a reivindicar ascendência cipiônica, chegando inclusive a reutilizar a cripta dos Cipiões para a deposição de suas urnas cinerárias;
  • Nenhum dos (muitos…) Lêntulos atestados historicamente na época dos Júlio-Cláudios é mencionado em “Há Dois Mil Anos” – inclusive o próprio Públio Lêntulo;
  • Ao contrário, os parentes de Públio Lêntulo que são mencionados na psicografia – de fato, o tal “Sálvio Lêntulo”, cujo nome, aliás, ostenta um gentílico diferente do de “Cornélio”, o que não faria dele, a rigor, um parente de Públio Lêntulo, de acordo com as regras onomásticas romanas – não são atestados historicamente em lugar algum;
  • Nada se diz do “cursus honorum” de Lêntulo, quais magistraturas exerceu; quanto a isso, menciona a psicografia apenas um cargo que teria ocupado na cidade de Esmirna – cargo esse que não existia;
  • Uma “missão” de um senador romano à Judéia (província imperial procuratoriana) era algo sem sentido e inimaginável, dentro da estrutura administrativa do Império Romano na época dos Júlio-Cláudios.  Lêntulo era um senador; Pilatos era um cavaleiro, inferior hierárquico de Lêntulo; se estivesse na Judéia, com um mandato do Imperador (contrariando inclusive a jurisdição de apelação do governador da Síria, que, esse sim, podia intervir na Judéia, e o fez várias vezes), Lêntulo daria ordens a Pilatos, e jamais o trataria como igual – ao contrário do que perpassa ao longo de toda a psicografia;
  • Não havia legiões estacionadas na Judéia antes da revolta de 66-72 dC, ao contrário do que a psicografia afirma (e Hollywood faz crer); Pilatos não comandava legionários, mas sim corpos auxiliares, quer de infantaria (“cohortes”), quer de cavalaria (“alae”);
  • Lêntulo não foi membro do conselho de guerra de Tito – tem-se, a partir do historiador Flávio José, a composição completa do conselho de guerra de Tito por ocasião do cerco e tomada de Jerusalém, e nele não consta nenhum Lêntulo.  Além do mais, para ser membro do conselho de guerra, Lêntulo teria de ocupar um cargo militar; não havia “conselheiros civis”, como a psicografia dá a entender.
  • A própria personagem de “Públio Lêntulo”, como um enviado (ou coisa que o valha) do Imperador à Judéia, de onde teria escrito um relatório ao Senado (ou ao Imperador?) versando sobre Cristo, somente apareceu entre os finais do séc. XIV e os inícios do séc. XV, a partir dum documento, a “carta de Lêntulo” (“epistula Lentuli”), considerada pelo consenso dos historiadores como uma fraude – sendo que, na própria época em que Xavier vinha sendo “assessorado” por Emanuel-Lêntulo, tal fato era plenamente passível de verificação por qualquer pesquisador minimamente cuidadoso – bastava uma visita à seção de livros de referência da Biblioteca Nacional, na Cinelândia, no Rio de Janeiro;
  • Certos dados constantes na psicografia, referentes, p.ex., à marcação com giz dos escravos sobre cujo comportamento os vendedores não pudessem dar garantias (quando os marcados com giz eram os escravos estrangeiros), à população da cidade de Roma (Xavier segue a “teoria do milhão”, algo implausível – será que Lêntulo não sabia quanta gente havia na “sua” Roma?), às dimensões do Circo Máximo e à sua pretensa utilização como local de suplício dos cristãos (que ocorreu no Circo de Nero, na esplanada do Vaticano, e não no Circo Máximo – nem disso Lêntulo se lembrava?) são incongruentes com as informações disponibilizadas pelas fontes históricas existentes.
  • Enfim, claro, a questão dos nomes – longe de ser a única, como se mostrou, mas também longe de não ter importância.  Os romanos nomeados na psicografia o são de uma forma completamente incompatível com o modo como os cidadãos romanos eram de fato nomeados na época dos Júlio-Cláudios (sistema do “tria nomina”); e mais: os erros seguem um padrão, justamente o padrão de alguém que, com acesso a um conjunto de “nomes romanos”, sem conhecer o modo como as diferentes partes constituintes de tais nomes (prenomes, nomes gentílicos e cognomes) se articulavam, os combinou de acordo com o padrão brasileiro moderno usual, “nome” + “apelido” (ou “primeiro nome” + “nome de família”).  Para variar, o distinto senador “esqueceu-se” totalmente do modo como ele próprio, e seus contemporâneos cidadãos romanos, eram nomeados.  Do que mais se esqueceu?

Tudo isso (e mesmo mais) foi demonstrado, com detalhes, numa série de textos postados neste “blog”, que o sr. Biasetto, e quaisquer outros interessados, são convidados a ler e a analisar (se é que já não o fizeram):

  • “Livro ‘Há Dois Mil Anos’ – uma Fraude Histórica Completa”;
  • “Síntese das Críticas ao livro ‘Há Dois Mil Anos’ (Resumo das conclusões do texto anterior)”;
  • “Estudo da Aparência Física de Jesus (partes I a IV)”;
  • “Os Nomes das Personagens no livro ‘Há Dois Mil Anos’, de Chico Xavier”;
  • “Os Nomes das Personagens no livro ‘Há Dois Mil Anos’, de Chico Xavier – 2a Parte”;
  • “Pesquisas para a confirmação histórica de ‘Há Dois Mil Anos’”;
  • “Resposta aos Argumentos mais Comuns dos Espíritas sobre o livro ‘Há Dois Mil Anos’ de Chico Xavier”.

Se tudo o que foi até aqui (de forma resumida) elencado não é suficiente para demonstrar a esmagadora implausibilidade quer da existência de “Públio Lêntulo” quer da identificação dessa personagem com o tal “Emanuel” (e, assim, seguindo os próprios ditames de Kardec, desconsiderar tal identificação e pôr sob suspeita as comunicações emanadas desse espírito-guia, se é que se tem aqui algum espírito-guia), então eu, sinceramente, não sei o que seria.

Aliás, devolvo ao sr. Biasetto (e a quem mais se dispuser a enfrentar a questão) justamente esse questionamento, que ele, como professor de História que é, poderá responder clara e detalhadamente: a) o que ele consideraria adequado e suficiente para aceitar o fato de que Públio Lêntulo, tal como apresentado por “Emanuel”, não existiu?; e, tão importante quanto a primeira indagação, b) o que é, ou foi, suficiente para que ele aceite o fato de que a existência de Públio Lêntulo, e a sua identificação com o espírito-guia “Emanuel”, é plausível?

Dirigindo-me agora diretamente ao sr.: gostaria sinceramente, sr. Biasetto, que o sr. me esclarecesse, e aos demais leitores deste “blog”, as duas questões acima.  Porque o sr., creio, acha insuficiente tudo o que até aqui foi levantado acerca da implausibilidade de Lêntulo e de sua identificação com “Emanuel”; então, o quê o satisfaria? O que seria suficiente? Por que o que até aqui foi levantado é insuficiente? E, por outro lado, o sr., creio também, considera razoável (ou até certa) a realidade de Lêntulo, bem como a sua identificação com “Emanuel”.  O que o faz pensar assim? Que evidências o sr. examinou, para chegar a essa conclusão?  Que provas históricas tem a seu dispor? Que análises efetuou, ou a que análises teve acesso? Considere isso, sr. Biasetto, como um desafio, do qual o sr., como professor de História, haverá de se desincumbir  com galhardia.

Voltando agora ao fio do texto.  Claro que essa situação logo será esclarecida; não obstante, tomo a liberdade de antecipar (e arriscar) uma possível resposta (posso estar errado, claro): ASSIMETRIA CRÍTICA, caracterizada justamente pelo desbalanceamento no julgamento.  É-se hipercrítico com relação a um posicionamento, e extremamente leniente com relação a um outro.  Não se exige praticamente nada para se crer; mas exige-se tudo, e mais um pouco, para se deixar de crer (quando, por prudência, o contrário é que deveria ocorrer!…).  Isso é muito mais comum do que se pensa; de fato, todos nós, nalgum grau, sofremos desse distúrbio (porque é um distúrbio, já que se trata dum vício de julgamento).  Usualmente, por alguma razão que seja (normalmente ligada a uma situação traumática, e à necessidade, ou à esperança, de sua superação), QUEREMOS acreditar em algo, ou PASSAMOS a acreditar em algo – algo que, ao fim, nos dá, em sumo grau, conforto para o espírito, alívio para os traumas e segurança para seguir em frente.  Essa crença passa a ser posse nossa, uma posse valiosa, que defenderemos com unhas e dentes contra qualquer ataque, já que um ataque a ela é interpretado como um ataque à nossa própria saúde, ao nosso equilíbrio e à nossa integridade psicológica (quando não física).  Nessa situação, não há mais lugar para o julgamento racional, ou seja, para o sopesamento, tão cuidadoso e isento quanto possível, dos prós e dos contras, das evidências a favor e das evidências desabonadoras.  Não há mais razão, apenas “wishful thinking”; não há sequer fé, embora as pessoas, hoje em dia, equacionem a fé à irracionalidade (porque a fé, embora sendo adesão a uma verdade divinamente revelada, é uma adesão RACIONAL, decidida diante de evidências que são avaliadas como tais, nunca assumidas “a priori” e/ou sem qualquer base).  De fato, há apenas irracionalidade e emoção, ignorância e ilusão.

Nesses casos, não adiante tentar verificar as razões que levaram à aceitação e aquelas que poderiam levar à rejeição; as pessoas já tomaram a sua decisão, e por motivos (como citado no parágrafo anterior) que nada têm de racionais – são emocionais, e pronto (mesmo que, numa espiral de auto-engano, elas dêem uma roupagem “racional” às suas motivações puramente emotivas e irracionais).  Por mais que se venham a acumular racionalmente as evidências em contrário, NADA FARÁ A PESSOA MUDAR DE IDÉIA.  De fato, quanto mais evidências racionais forem levantadas contra a tão amada crença, mais ódio haverá de se instilar na pessoa contra aqueles malditos que ousam perturbar seu equilíbrio de ilusão, porque mais ela sente ameaçada aquela sua posse tão valiosa, tão consoladora e tão reconfortante – de fato, mais ela SE SENTE ameaçada.

É assim com as pessoas que sentem que receberam uma “graça especial” do Padre Cícero.  Ou que se sentem consoladas com as rezas e pedidos à Escrava Anastásia.  Ou que “encontram” o “espiritual”, ou o “sentido” de “ser cristão”, diante daquele trapo de linho em Turim que passa por ser o Sudário do Senhor.  Ou que recebem uma carta consoladora e inspiradora, ditada pelo parente querido que já partiu, dum médium “autêntico”.  Pouco importa o Cícero Romão Batista real, demagogo e político astuto; pouco importa que se acumulem as evidências históricas de que nunca existiu uma Escrava Anastásia, ou de que (se existiu) não sobreviveu um sudário que tivesse envolvido, como lençol, o corpo do Senhor em Seu túmulo.  Pouco importa que, igualmente, se acumulem as evidências de que uma das encarnações do espírito-guia nunca tenha existido, e que tal espírito, portanto (se é que realmente existe) é, na própria nomenclatura de Kardec, um espírito pseudo-sábio.

O consolo é uma força poderosa, e eu sinceramente penso (embora talvez muitos não acreditem em mim) que ele, em muitas circunstâncias, pode ser necessário.  Quem negaria a um moribundo, a um doente terminal, uma última mensagem de otimismo, mesmo quando a última coisa razoável em que se pensar seja justamente isso? O problema é quando uma postura “pró-ilusão”, sem embasamento e sopesamento, e irracional, passa a ser a regra, e não a exceção, e mais, quando passa a ser a regra mesmo entre as pessoas mais instruídas (ou assim consideradas), entre os potenciais formadores de opinião.  Essa justamente é, a meu ver, a grande diferença entre o Brasil e outros países.  Aqui mergulhamos todos, ricos e pobres, instruídos e incultos, “religiosos” e “ateus”, gostosamente, na ilusão consoladora, e nossas posturas filosófico-religiosas, por conseguinte, nada têm de autêntica espiritualidade.  Somos contratualistas, materialistas e imediatistas, temperando isso com melosidade, pieguismo e “cordialidade”.  Se a dura e cruel realidade não se adapta à nossa visão sentimentalóide, pior para a realidade.  Somos todos, de modo democrático, intelectualmente subnutridos.  Viva o povo brasileiro! Viva o coração do mundo, a Pátria do Evangelho!

TÓPICO 2:

Sobre o fato de não haver registros sobre Lêntulo, o assunto já foi tratado no tópico anterior.  Sobre o fato de se pretender, mais uma vez, comparar os casos de Lêntulo e de Jesus, no que diz respeito às evidências históricas, isso já foi respondido no texto presente neste “blog” intitulado “Resposta aos Argumentos mais Comuns dos Espíritas sobre o livro ‘Há Dois Mil Anos’ de Chico Xavier”; não se voltará a esse assunto.  Enfim, sobre o fato de que teria sido mais fácil para Xavier ter escolhido uma personagem conhecida da História para escrever suas obras, a resposta é simples: para Xavier (para o nível de conhecimento que ele possuía), Lêntulo ERA uma personagem histórica.  Tão real quanto Jesus, ou quanto Lêntulo Sura, ou quanto o Duque de Caxias.

Embora o consenso histórico tenha sido, desde o séc. XVI (por sólidos e fundados motivos), o da negação da existência de Públio Lêntulo, sendo sua “carta” considerada, acertadamente, como a fraude que é, o referido documento sempre sobreviveu em certos círculos mais “populares” e “devocionais”, católicos mas também protestantes (luteranos inicialmente, e depois entre os evangélicos norte-americanos ao longo do séc. XIX).  Afinal, seu apelo era grande: um testemunho (pretensamente) independente e contemporâneo, dum pagão, acerca da existência histórica de Jesus.  Difícil para um crente, escudado por sua tendência à assimetria crítica, comentada mais acima, resistir à tentação de considerar esse documento com um razoável grau de seriedade.  Vez por outra aparecia como “autêntico” (p.ex., na edição de 1866 do “Almanach de Lembranças Luso-Brazileiro”, pág. 145, entrada referente a 30 de março: “Retrato de Jesu Christo – em uma nota, a paginas 155 do volume 3o dos ‘Mysterios da Inquisição’ por M. V. Féréal, traduzidos em portuguez, encontra-se o que abaixo se segue, e que pouco mais ou menos também vem na parte segunda, capitulo 14o, da ‘Refeição Espiritual’ pelo padre fr. Manoel do Sepulchro.  ‘No tempo em que a fama de Jesu Christo se começava a espalhar na Judéa, Publio Lentulo, que era então o governador, escreveo ao senado romano: Existe aqui agora um homem de virtude singular a que chamão Jesu Christo (…)’”, etc., etc., etc.  Note-se que, na obra do frei Manuel do Sepulcro, o texto da carta segue as linhas constantes do mesmo documento no preâmbulo da “Vita Christi” de Ludolfo o Cartuxo, ou seja, não é atribuída a Lêntulo, mas é dita constar “nos anais dos romanos”.

Esse é apenas um exemplo.  Para muitos círculos mais “populares”, “devocionais” e “sentimentais”, Lêntulo havia, sim, existido.  Falando-se exclusivamente dos meios católicos (apesar de a carta ser claramente tida por apócrifa e seu autor por inexistente, isso desde Lourenço Valla e o Cardeal Belarmino – veja-se o posicionamento que consta na “Catholic Encyclopaedia”, edição de 1913, neste “link”, http://www.newadvent.org/cathen/09154a.htm), havia uma linha de transmissão nítida, desde o douto padre Jerônimo Xavier (1549-1617, sobrinho-neto de São Francisco Xavier, enviado pela Companhia de Jesus à corte do Grão Mogol da Índia, onde ficou entre 1595 e 1615, e autor, nesse país, e na língua persa, da obra “O Espelho da Santidade”, mais conhecida por seu título alternativo, em consonância do assunto que abordava, como “A Vida do Senhor Jesus”, editada em Agra em 1602 e dedicada ao Grão Mogol Akbar o Grande), no sentido de valorizar o escrito, pelos motivos já explicitados acerca de seu poder “devocional”.

Perfeitamente natural que esse escrito, sempre latente nalguns meios católicos devocionais e populares, acabasse chegando a Xavier, dum modo ou de outro, quer num almanaque, quer numa antologia qualquer, quer num daqueles folhetos de cordel tão populares no interior do Brasil, e que fosse tido como aquilo que se apresentava – um testemunho genuíno dum tal “Publio Lentulo”, ou “Publius Lentulus”, ou “Publio Lentulus”, acerca do ministério terreno de Jesus, com uma descrição de Sua face, descrição essa que (não surpreendentemente…) seguia o modelo canônico firmemente estabelecido na iconografia católica e ortodoxa, de modo virtualmente exclusivo, desde o fim da querela das imagens, em 843 dC.

Xavier, portanto, não precisava “escolher uma personagem conhecida da História”; já tinha uma – uma inclusive que estivera em contato com o seu amado Mestre, Jesus.  Que mais poderia querer? Justos Céus, haveria algo melhor do que isso?

Ligar “Públio Lêntulo” a Lêntulo Sura, o conspirador catilinário, era apenas uma questão de tempo para alguém medianamente lido.  A História, então como agora, era organizada em “tópicos”, mais ou menos padronizados.  Quando se falava em História Antiga, claro, os tópicos eram Grécia e Roma.  E, no tópico “Roma”, um “sub-tópico” da época republicana dizia respeito ao grande orador Cícero, e a uma de suas grandes “proezas” – o desbaratamento da conspiração catilinária.  Xavier não precisava nem mesmo ler uma tradução da “Conspiração de Catilina”, de Salústio; se lesse coisas sobre a história romana (e claro que leu, levado a isso provavelmente por considerações acerca dos primitivos cristãos), logo toparia com algum texto (baseado em Salústio) sobre a dita conspiração, e lá encontraria inevitavelmente o nome do depravado e cruel (assim pintado tanto por Cícero quanto por Salústio – e pelos historiadores posteriores – e, claro, por Xavier) Lêntulo Sura.  Opa! Lêntulo Sura, Públio Lêntulo… romanos… “obviamente” parentes… e aí a coisa toda se arranja, quase certamente no seu subconsciente, sem ele provavelmente sequer se dar conta disso.  Um foi o depravado conspirador; outro (obviamente seu descendente; pelo espaço de tempo entre a conjura catilinária e a época de Cristo, seu bisneto), o contemporâneo de Cristo… Que chance de ilustrar a evolução reencarnatória e a “lei de causa e efeito”!…

Deve-se ter em conta que Xavier não era, de modo algum, uma pessoa desprovida de conhecimentos.  E nele se mesclavam, duma forma tão tipicamente brasileira, a tosca simplicidade e a esmerada sofisticação.

Ele era extremamente sofisticado no sentido de que possuía um razoável cabedal de conhecimento livresco, certamente superior à média de seu tempo, mesmo para pessoas com maior instrução, com “mais anos nos bancos escolares”.  Os testemunhos são unânimes (e já se analisou tal faceta de Xavier noutros textos deste “blog”) no sentido de que era inteligente e esforçado, e leitor voraz.  Queria aprender – mais, GOSTAVA de aprender, não se detendo apenas naquilo que pôde absorver no seu curso primário (e então o curso primário era algo bem melhor e sofisticado do que é hoje, convém não esquecer…).  Nem sempre seria fácil obter algo para ler, mas sempre haveria alguma alma caridosa que poderia emprestar material de leitura ao humilde e sereno Xavier; quem, podendo, se negaria a ajudar alguém que se esforçava por aprender? Pessoas de mais posses, e principalmente padres (que, na época e no lugar, eram os que tinham mais chances de ter livros), não se furtariam a emprestar (ou mesmo, nalguns casos, a dar) o “pão do espírito” ao esforçado e humilde Xavier.  E não se deve subestimar a quantidade de informações que se podem adquirir, e guardar, com leituras feitas por prazer.  Aliás, por qualquer coisa feita por prazer.  Não são só professores de História que conhecem História, que amam História, que pesquisam História, que acumulam informações históricas, que analisam criticamente fatos históricos, ou reputados como tais.  Basta, quanto a isso, e à guisa de exemplo, verificar como certas pessoas, de resto sem nenhum pendor intelectual visível, são capazes de saber, de cor, a escalação de seus times de futebol “do coração”, referentes a vários anos, mesmo décadas; e de memorizar detalhes de muitos jogos, muitas vezes ocorridos há inúmeros anos, e não só isso, mas agregando a tais detalhes uma multidão de considerações estratégicas e de julgamento de atuações.  Não se pode, repito, desprezar a capacidade da memória humana, quando encontra um nicho de estudo em que se sinta bem, e no qual encontre prazer.  Muitos o encontram no futebol; Xavier, uma alma profundamente sensível, encontrou-o na leitura e na erudição, principalmente naquilo que dizia respeito, direta ou indiretamente, profunda ou tangencialmente, à moral e à religião.  Ele era, e sempre foi, um “homo religiosus”, mais, um “homo sentimentalis”.

Mas ele era também desesperadamente tosco e simplório, no sentido de que estava, desgraçadamente, cercado pela ignorância.  E em vários níveis.  A começar pelo Brasil; o “gigante” deitado “em berço esplêndido” não passava – e não passa – dum anão cultural.  Mas isso já vem de longe – do passado colonial; e pode ser dramaticamente visualizado quando se analisam três itens importantes na esfera cultural – a imprensa, a existência de periódicos (sinal de que havia um público leitor já razoavelmente estabelecido) e a existência de universidades – comparando-se o Brasil e a América Espanhola.

O Brasil não teve imprensa até 1808 (quando começou a funcionar a imprensa oficial, a “Impressão Régia”, no Rio de Janeiro, por ocasião da transmigração [ou fuga, se se preferir] da Família Real Portuguesa para o Brasil).  Na América Espanhola, por outro lado, havia imprensa no México, capital do vice-reino da Nova Espanha, desde 1539 (em 1570, a cidade possuía já quatro prelos, e uma livraria).  Em Lima, capital do outro grande vice-reinado espanhol, o do Peru, a imprensa passou a existir em 1581.  A segunda maior cidade do vice-reinado mexicano, Puebla, ganhou a sua imprensa em 1640.  Em 1660, por sua vez, a instâncias do bispo da Guatemala, Payo Enríquez de Rivera (depois arcebispo do México), instalou-se uma prensa na Cidade da Guatemala (hoje Antigua), a capital de toda a região da América Central (fora o México) até ao grande terremoto de 1773.  As missões jesuíticas guaranis no que é hoje o Paraguai tiveram a imprensa por volta de 1700 (embora por pouco tempo), Havana desde 1723, Bogotá em 1738, Santiago do Chile em 1748, Quito desde 1760 (em Ambato desde 1754), São Domingos em 1782, Santiago de Cuba em 1791, Guadalajara em 1792, etc.  Enquanto isso, no Brasil, quando o governador de Pernambuco, em 1703, e o do Rio de Janeiro, em 1747, instalaram prelos, ambos receberam ordem de os fechar tão logo o governo metropolitano, em Lisboa, tomou conhecimento de sua existência.  Em 1754, o “ilustrado” Marquês de Pombal proibiu toda a imprensa colonial – fechando até os já bicentenários prelos da Índia Portuguesa.  No Brasil, como citado, a imprensa (e imprensa oficial) somente chegou em 1808, com a Corte portuguesa transmigrada (ou fugitiva).

Quanto aos periódicos (ainda que com tiragem relativamente pequena, e patrocínio oficial para viabilizar sua publicação), a “Gazeta do México” iniciou sua circulação em 1722, a “Gazeta de Lima” em 1744, a “Gazeta de Havana” em 1782, a “Gazeta de Santa Fé de Bogotá” em 1795, e a “Gazeta de Caracas” em 1811.  Enquanto isso, no Brasil varonil… a “Gazeta do Rio de Janeiro” (também oficial, e impressa na Impressão Régia), antecessora do atual “Diário Oficial” da União, começou a circular em 1808, com a chegada da Corte.

Tecnicamente, o Brasil não teve universidade até à criação da “Universidade do Brasil”, mediante a união de diversas faculdades já existentes, no Rio de Janeiro, APENAS EM 1920 – SIM, 1920, embora houvesse algo próximo de cursos superiores, na época colonial, nos colégios jesuíticos da Bahia, do Rio de Janeiro, de São Luís e de Belém (que foram extintos em 1759, por ocasião da expulsão dos jesuítas de Portugal e de todos os seus domínios coloniais, sendo suas bibliotecas dispersadas – mais um favor que passamos a dever ao “iluminado” Marquês de Pombal), bem como cursos superiores (mas de índole estritamente militar) desde 1699 na Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, no Rio de Janeiro – a fim de viabilizar a construção tempestiva de estradas e de fortificações, tendo em vista a descoberta das minas de ouro e a expansão das fronteiras (que necessitavam ser guardadas) para bem além de Tordesilhas.  Haveria de se esperar também a chegada de d. João VI para que fossem criadas uma série de faculdades isoladas (não universidades).  Inicialmente estabeleceu-se (1808) a Real Academia dos Guardas-Marinhas (1808), e depois a Real Academia Militar (1810), que absorveu as antigas aulas de artilharia, fortificação e desenho, ambas no Rio de Janeiro, seguindo-se as Escolas de Medicina do Rio de Janeiro (1813) e de Salvador (1815), e a Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro (1820).  Após a Independência, foram criadas em 1827 (iniciando as aulas em 1828) as Faculdades de Direito de Olinda (transferida para o Recife em 1854) e de São Paulo – para formar os burocratas do novo Império.  Além dessas, durante o restante do período imperial, uma Escola de Farmácia em Ouro Preto em 1839 e uma Escola de Minas na mesma cidade em 1876.  Em 1858, a Engenharia Civil foi retirada da Real Academia Militar, criando-se a Escola Central, transformada em Politécnica em 1876.  Mas universidade, mesmo, como visto, só a partir de 1920…

Na América Espanhola, havia universidades (universidades mesmo, não apenas simples faculdades; e isso sem contar os inúmeros colégios jesuíticos) desde a primeira metade do séc. XVI: a Universidade de São Marcos, em Lima, iniciou seus cursos em maio de 1551, mantendo-se ininterruptamente até à data presente; no mesmo ano, em setembro, iniciou os seus trabalhos a Real e Pontifícia Universidade do México.  Em 1558, foi a vez da Universidade de São Tomás, em São Domingos, na hoje República Dominicana; em 1580 surgiu a Universidade de São Tomás, em Bogotá (hoje na Colômbia); em 1586 iniciou seus cursos a Universidade de São Fulgêncio, em Quito (agora a capital do Equador); em 1598 foi a vez da Universidade de Santo Antônio Abade, em Cuzco, no Peru, e assim sucessivamente.  Até ao fim da dominação espanhola, havia, de acordo com German Arciniegas, 25 (ou, segundo a contagem mais confiável de John Tate Lanning, 23, já que duas instituições “menores” haviam sido promovidas a “maiores” e, assim, contadas duas vezes) dessas instituições nos vários vice-reinos e capitanias que constituíam o Império Espanhol nas Américas.  No vice-reino do Brasil… zero.

Assim, Xavier, infelizmente, nasceu e cresceu num país notoriamente atrasado em termos culturais, conservador (leia-se: retrógrado) até à medula, e mais, que considerava a educação e a cultura: a) como adorno livresco e beletrista para as pessoas “de classe”, leia-se de posses, e seus agregados e dependentes, ou b) como meio de aquisição de conhecimentos técnico-administrativos específicos e, assim, passaporte para empregos rendosos, especialmente na burocracia.  Uma sociedade que olhava com profunda desconfiança atitudes independentes de questionamento e de análise racional e investigativa.  Numa palavra, em termos culturais, Xavier nasceu e se formou num país situado na mais profunda periferia.

Mas não era só isso: Xavier vivia nos grotões das Gerais, numa época em que a cultura e a instrução, ou o que passava por isso, concentravam-se numas quantas cidades, Salvador da Bahia, Recife-Olinda, São Luís, São Paulo, Ouro Preto/Belo Horizonte – e principalmente Rio de Janeiro.  Ou seja, Xavier situava-se na periferia da periferia… Portanto, seu acesso a livros e periódicos era limitado, qualitativa e quantitativamente.  Era-lhe difícil, como a todos os seus conterrâneos, acesso a material recente, ou especializado.  O que tinha a seu dispor (ao menos até começar a se tornar famoso nacionalmente como médium) era relativamente desatualizado, constituindo-se, além disso, em florilégios, em antologias, e, quanto ao caráter, em obras generalistas, e não especializadas.  Havia, claro, uma gradação: a) era-lhe relativamente fácil ter acesso a literatura de ficção e a poesia, quer em títulos originais, quer em antologias, pois esse tipo de literatura circulava com (relativa) rapidez no país; b) já lhe era bem mais difícil ter acesso a obras históricas mais especializadas, ou mesmo a obras de índole científica de divulgação; c) enfim, quanto a obras de Matemática, de Física, de Química, de Zoologia e de Botânica, então, isso nem pensar; ele tinha que ficar com o que quer que tivesse aprendido no seu curso primário.

O perfil geral de sua obra, mesmo depois que tornou-se famoso (e que, entrando no “mainstream”, conseguiu melhorar a qualidade do que lia), foi sempre marcado por esse perfil de formação.  Quanto à literatura de ficção e poesia, além do aprendido na sua instrução formal, seu acesso a outros materiais era algo que se podia tomar como relativamente garantido, ainda mais para alguém que se interessava pelo assunto.  Quanto a obras de cunho histórico e científicas de divulgação (não técnicas), ele somente poderia ter acesso a tais temas mediante obras muito generalistas de divulgação, mais especificamente os almanaques.  Quanto a obras especificamente técnicas e especializadas, tanto em termos históricos quanto científicos, tratava-se, virtualmente, dum caso perdido.

A junção dessas duas “vertentes”, a “sofisticada” e a “rústica”, creio, moldaria tanto o “estilo” de Xavier quanto o conteúdo (objetivo) do que escrevia.  Era “leitor voraz”, e adquiria o máximo de informações que podia; mas a qualidade das informações que lhe chegavam era limitada, como se viu.  Podia se arranjar razoavelmente bem no que dizia respeito a obras de ficção e a poesias, ambas no estilo “tradicional”, beletrista, pedante, que imperava ainda no país no primeiro quartel do séc. XX – e que dominou o seu modo de escrever pelo resto de sua vida.  Desempenhou-se muito bem nesse campo, já que gostava de aprender, e tinha material razoável, em quantidade e em qualidade, para aprender; foi até mesmo um tanto radical, acumulando adjetivos, buscando palavras “raras”, numa tentativa patética (e utilizo aqui “patético” no seu sentido etimológico original) de se igualar às suas leituras.  Tinha também, claro, algum talento literário, quase sempre sufocado pela sua obsessão beletrista – foi autor de poesias passáveis, e até com certa “vis poetica”, que, ao menos à época, não atribuía a inspirações mediúnicas; um soneto seu, “Nossa Senhora da Amargura”, foi inclusive publicado no “Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro” do ano de 1932 (aquele mesmo que, em 1866, havia publicado a carta de Lêntulo, como se viu acima).

No que dizia respeito a obras históricas e científicas de divulgação, só podia ter acesso a elas indiretamente, via: a) romances históricos (no estilo de “Quo Vadis”, de “Ben Hur”, de “Fabíola”, e de outros da espécie); b) revistas de variedades, em que houvesse, vez por outra, algum artigo de índole histórica, ou em que se comentasse, em nível bem simples, alguma última “maravilha” da ciência, como, p.ex., os novos avanços no campo da Eletricidade e das comunicações, ou considerações acerca da vida em outros planetas, e coisas do tipo; e c) principalmente, através dos almanaques.  Hoje tem-se Internet; dos meados do séc. XIX até à primeira metade do séc. XX, havia os almanaques, especificamente os almanaques anuais, grossos “tijolos” que albergavam de tudo um pouco: calendário (com fases da lua, informações agrícolas, datas das festas litúrgicas, tanto as fixas quanto as móveis, vidas de santos e outras curiosidades religiosas – Lêntulo, por que não?, como saiu em 1866 no “Luso-Brasileiro”, e sabe-se lá quantas vezes mais, e em quantos almanaques mais…), poemas, historietas, biografias, charadas, e uma pletora de “curiosidades” geográficas, históricas, “científicas”… Uma alma sensível, que se deleitasse na leitura (e o ritmo da vida era bem mais lento naquela época; na média, quem sabia ler, lia mais, e mais intensamente…), não precisava de Internet naqueles abençoados, modorrentos e ingênuos tempos… O “Almanaque Laemmert” (Rio de Janeiro) circulou de 1844 a 1889; o “Almanach de Lembranças Luso-Brazileiro” (Lisboa, mas com contribuições de todo o mundo lusófono), de 1851 até (pelo menos) 1954; o “Almanaque Bertrand” (Lisboa também, mas muito popular no Brasil no 1o quartel do séc. XX), de 1899 a 1969.  Mesmo que em edições antigas e um tanto desatualizadas, esses “tijolos”, muitas vezes amassados e puídos, com muitas folhas quase soltas, ou até mesmo faltando, acabavam alcançando boa parte do território nacional; com certeza as Gerais: que Xavier tinha contato com esse mundo “almanaquístico” prova-o o fato de ter colaborado no “Luso-Brasileiro” de 1932, e de, entre seus livros (em 1959), haver testemunho para o “Bertrand” (segundo reportagem da revista “Realidade” de 1971, cf. o texto “A Biblioteca de Chico Xavier”, neste “blog”).

Enfim, no que dizia respeito a temas especializados, quer históricos, quer científicos, nada, ou quase nada, havia a fazer.  E Xavier praticamente nunca se aventurou nessa seara (ao menos sozinho): em parte por falta de interesse mesmo, falta de gosto, mas em parte porque, talvez inconscientemente, tinha noção de sua extrema fragilidade, e da virtual impossibilidade de superar esse hiato.

O que ele escreveu, assim, é uma imagem fiel de sua formação, que, por sua vez, é uma imagem fiel dessa mescla de sofisticação e de rusticidade que se vem comentando nos últimos parágrafos.  Sob essa óptica, tanto a abrangência dos assuntos tratados por ele em suas obras, a par da (superficial) exatidão de seus conhecimentos históricos, quanto, ao mesmo tempo, seus terríveis erros toda vez que, inadvertidamente, tenta, ou tem que, descer a domínios especializados, tornam-se assim plenamente explicados.  Xavier sabia (podia saber, caramba!…) quem era “Públio Lêntulo”, quem era o devasso e cruel Lêntulo Sura, o que era o Circo Máximo (com a imagem romântica de que era lá que os cristãos eram atirados às feras – algo que é hoje discutível, e que, no mínimo, é parcialmente inexato; de qualquer forma, que é falso para a perseguição da época de Nero); mas não conhecia (não podia conhecer, caramba!…) os meandros da antroponímia romana, com seus prenomes, nomes gentílicos e cognomes, seus modos distintos de nomear cidadãos, mulheres, escravos e estrangeiros (não é como a nossa, com primeiro nome e nome de família, uai?); ou os detalhes técnicos da administração imperial romana sob os Júlio-Cláudios (províncias senatoriais e imperiais e, entre as imperiais, as propretorianas e as procuratorianas; a diferença entre legionários e auxiliares, e o fato de que na Judéia nunca estacionaram legiões – mas como, se em todos os filmes épicos, de então e de agora, aparecem aqueles legionários?! Não confiemos em Hollywood!!!); ou o fato de que os cristãos, sob Nero, não foram supliciados no Circo Máximo (então em ruínas, por causa do incêndio da cidade, e sendo reconstruído), mas sim no Vaticano (não é à toa que é no Vaticano que se venera o sepulcro de São Pedro…); ou a “real” população de Roma na época de Cristo (não, nenhum “espírito” de senador romano lhe mandou um número razoavelmente exato e confiável – como um autêntico Lêntulo poderia, e deveria, fazer; Xavier dá à Cidade Eterna a cifra de um milhão e meio de pessoas não porque “Emanuel;/Lêntulo” lha deu, mas porque ele, Xavier, a leu nalguma nota de rodapé, nalguma antologia, ou nalguma “curiosidade histórica” de almanaque – era o que muitos historiadores sem conhecimentos de demografia pensavam na época, e alguns ainda pensam hoje; mas é algo claramente insustentável, como foi demonstrado em detalhes no texto “Pesquisas para a Confirmação Histórica de ‘Há Dois Mil Anos’”, neste “blog”).  Romances históricos, antologias e almanaques ajudam – mas apenas até certo ponto…

TÓPICOS 3 E 4:

O Tópico 3 já foi respondido nos parágrafos anteriores.  Mais uma vez, não se deve subestimar a capacidade da memória humana, quando empenhada em algo que faça por gosto.  Nem todos gostam de ler; a maioria das pessoas lê porque é obrigada a isso (especialmente entre nós, brasileiros, que não temos tradição de apoio familiar referente a esse assunto, e nem o valorizamos, já que nele não vemos utilidade imediata).  Obrigada, inicialmente, pelos professores, que tentam remediar a dívida que se acumula a partir do geral desinteresse dos pais ou responsáveis; obrigada, depois, pela necessidade (geralmente profissional).  Quer se livrar dos livros o mais rapidamente possível, e lê o estritamente necessário.  “Prazer” e “leitura” são, quase sempre, conjuntos disjuntos.  Xavier pertencia à minoria dos que não são assim – dos que lêem por gosto, por amor.  Dos que superam suas deficiências, e temores, e limitações, nesse espaço fantástico dos livros.  Ao ler e absorver informações, ele se superava, e superava sua ingrata situação de inferioridade social –  ele adquiria o valor que sua pobreza e obscuridade o impedia de obter na “sociedade dos homens”.  Ele não precisava de Internet; tinha as antologias e os almanaques – o volume de informações disponibilizadas era, sem dúvida, bem menor, mas as informações em si eram mais “focadas”: quanto “lixo” não existe na Internet, afinal? Quantas idiotices diversionistas? A Internet aceita tudo; mas é mais difícil fazer isso com livros, mesmo almanaques, mesmo no Brasil.  Xavier não precisava “pesquisar” – lia tudo em que podia pôr as mãos.  Tudo lhe era bom, tudo lhe era prazeroso.  Naquela época, mais uma vez convém lembrar, não havia muita literatura “escandalosa”; havia muita melosidade, mas relativamente pouca maldade.  E se estava também numa época (e, no caso de Xavier, num lugar) de índole mais religiosa (ao menos, mais moralista), ambiente esse que se expressava em muitos dos assuntos tratados nos livros, revistas e almanaques que lhe chegavam.  Enfim, era um mundo mais vagaroso, mais focado, com informações em menor número, mas mais densas (ao contrário do nosso, que é saturado de informações rarefeitas e de espantoso potencial de dispersão).  As pessoas tinham menos coisas para fazer, eram (em geral) menos estressadas, então, se tivessem o necessário módico de instrução, liam mais, e dum modo mais intenso, livros mais densos, e mais focados.

Especificamente quanto ao “conteúdo moral” das mensagens (Tópico 4), tal assunto não é tratado (e nem pode sê-lo) nos estudos acerca da plausibilidade histórica de Lêntulo.  Aliás, uma coisa nada tem a ver com a outra.  A literatura de Xavier era “moral” porque o mundo em que ele, pessoalmente, vivia (e, conseqüentemente, as leituras que mais o marcavam) era um mundo impregnado de religiosidade e de moral.  Trata-se da moralidade católica tradicional, tornada ainda mais severa e vigilante, muitas vezes reacionária, a partir da 2ª metade do séc. XIX, diante da reação da Igreja à “modernidade”; isso mesclado com um romantismo ingênuo e, muitas vezes, exacerbado, e temperado pelas próprias idiossincrasias de Xavier, já por natureza hipersensível e místico.  É assim, em termos gerais, em todos os seus livros, seja qual for o assunto, ou o “espírito-guia” inspirador (apenas com as necessárias, e mínimas, adaptações).  Nenhum “espírito” lhe soprou isso – ele já era assim, ele se formou assim.  Por isso muito do que ele escreveu parece hoje, aos olhos de pessoas mais “arejadas”, mesmo espíritas, embaraçosamente “datado” – uma moral “pequeno burguesa” rígida e ultrapassada, um moralismo tradicional e “carola”, tudo isso embalado num estilo pedante.  Não obstante, para a massa de pessoas que forma o seu público (espíritas ou simpatizantes), ainda é aceitável, ao menos por enquanto – porque essas pessoas ainda pensam assim, ou ainda vêem esse modo de expressão como “desejável”, ou como o “modelo” de como as coisas deveriam ser.  No fundo, todos temos saudades dos rincões das Gerais, da vida austera, da moralidade, das certezas – dos consolos.  Enquanto for assim, ele será preservado – afinal, gera lucros não negligenciáveis para certos “encarnados”, e serve (ainda) para propaganda da “doutrina”.  O grande e santo Xavier, como o grande e santo Padre Cícero, como o grande e santo Frei Damião, como o grande e santo “N” [ponha aqui o nome de seu inspirador favorito].  Isso não é cinismo; é realidade.

TÓPICO 5:

No geral, o tópico também já foi respondido anteriormente.  Não, sr. Biasetto, na minha visão Xavier não “estudou” assuntos diversos, escrevendo livros a partir das informações obtidas.  Ele LEU, com amor e interesse, assuntos diversos, principalmente de índole devocional e religiosa; leu também (do mesmo modo interessado e amoroso) tudo o que pôde em termos da ambientação histórica referente a esses assuntos devocionais e religiosos, para melhor poder compreendê-los – isso é sede de conhecimento, o saber pelo saber, “ars gratia artis”, difícil de entendermos, porque, usualmente, não é esse o nosso posicionamento diante do conhecimento, da cultura e da leitura.  Como já citado, a cultura é ou ornamento, ou ferramenta para empregos rendosos – ou o conjunto de ambas as coisas.  Não é algo a ser INCORPORADO pela pessoa, para o seu engrandecimento interior; é um BEM a ser possuído e fruído pela pessoa, como os demais bens materiais, e utilizado para seus fins materiais – para “impressionar” seu meio social, para exercer uma profissão lucrativa e de prestígio, ou para “cavar” um lugar na burocracia, na manjedoura do Estado.  Mas, a meu ver, não era isso para Xavier – ou, ao menos, não era só isso, não era principalmente isso.  Era a própria “contemplação” (“theoria”, na acepção grega tradicional do termo), que, depois, caridosamente, seria compartilhada com seus “irmãos”, na melhor tradição cristã.  E, ao fim, à medida que se instruía, foi dando vazão à sua ânsia de compartilhamento desses conhecimentos (imperfeitamente) adquiridos mediante seus livros, nos quais fazia uso, naturalmente, da “mise-en-scène” que escolheu para isso (porque a havia escolhido para ser sua fonte de guiamento filosófico-religiosa) – o espiritismo kardecista.  Eu não creio que ele tenha conscientemente “inventado” os “espíritos-guia” para dar um “tchan” à sua obra.  Isso, para ele, foi algo, por assim dizer, “natural”, a partir do momento em que foi “cooptado” pelo kardecismo.

Porque, se Xavier não tivesse sido (por circunstâncias absolutamente fortuitas) cooptado pelo kardecismo, teria, provavelmente, utilizado uma “mise-en-scène” católica tradicional (de fato, ele nunca abandonou totalmente sua formação inicial católica), ou, se se quiser, “institucional”.  Ele tinha a vocação para a vida monástica – se as circunstâncias tivessem sido outras, se ele tivesse sido cooptado pelo “establishment” católico – se tivesse, p.ex., ido estudar num seminário, e professasse numa ordem – seria, sem dúvida, um bom monge, escrevendo os mesmos livros, com a mesmíssima mensagem (que é, em termos gerais, uma mensagem evangélica edulcorada e embrulhada em misticismo e sentimentalismo), apenas com uma “mise-en-scène” católica institucional.  Não haveria “espíritos-guia”, mas sim visões de santos, ou de seu anjo guardião.  Talvez não houvesse mensagens de sua mãe (ao menos, não só dela), mas sim da Santíssima Virgem.  Quem sabe do próprio Jesus? E, ao invés de “consultas” mediúnicas, haveria confissões (quem duvida que Xavier seria um confessor competente, e de sucesso?) e absolvições solenes, com os mesmíssimos efeitos consoladores nas multidões que, da mesma forma, o iriam procurar.  Penitências, ao invés de cartas psicografadas.  Missas, ao invés de passes.

Mas, infelizmente (ao menos, do meu ponto de vista), a instituição católica não pôde, ou não quis, ou não conseguiu, cooptá-lo.  Os kardecistas o fizeram.  De novo: penso que isso foi algo fortuito.  Xavier “encontrou-se” na doutrina kardecista, tal como entendida, ensinada e propagada, na época, pela Federação Espírita Brasileira; tomou-a para si, combinou-a com sua formação religiosa anterior – e passou a utilizar a “mise-en-scène” espírita nas suas obras, e na sua atuação.  Mas – e isso, a meu ver, é importante – foi o que teria sido em quaisquer outras circunstâncias.  Tornou-se um “monge espírita”, já que não se tornou um “monge católico”.  Eis aí, a meu ver, a origem de”Lêntulo”, do “Irmão X”, e de tudo o mais.  Não um plano maquiavélico, deliberado; apenas a assunção, e o uso, por sua alma profundamente mística, das ferramentas que a sua escolha filosófico-religiosa (o espiritismo kardecista brasileiro febiano) lhe proporcionava.  Algo espiritual, sem dúvida, mas (a meu ver) em nada ligado aos “desencarnados” – e sim o resultado das elucubrações de sua alma de “encarnado”.

Xavier, assim, pôde exercer plenamente a sua vocação mais profunda – foi um bondoso, “culto” e respeitado monge espírita, como teria sido um bondoso, “culto” e respeitado monge católico.  Espalhou a mensagem evangélica, procurou consolar as pessoas, e encorajou a caridade (no sentido tradicional católico do termo, não na acepção de Kardec, a qual, aliás, já se estava perdendo no meio espírita brasileiro) – e atuaria assim em quaisquer das suas duas funções monásticas “potenciais”, ainda que com “mises-en-scène” distintas.  Fez, na prática, todos os três votos monásticos formais (pobreza, obediência e castidade), e não tenho nenhuma razão para duvidar que os tenha cumprido – e cumprido com convicção.

Aqui, creio que se tenha um bom momento para discutir algo que é visto com embaraço: a pretensa “homossexualidade” de Francisco Cândido Xavier.  Pessoalmente, não acredito que Xavier tivesse inclinações homoeróticas (claro, posso estar errado – estou aqui meramente expressando minha opinião); isso porque, a meu ver, ele mal tinha inclinações eróticas de qualquer natureza.  Sem em absoluto entrar no mérito das “opções sexuais” pessoais, um assunto que não caberia aqui, pode-se dizer que, no geral, os seres humanos têm uma certa faixa “normal” (no sentido de “usual”) de apetite sexual, heteroerótico.  Pode haver “desvios” (no sentido de “comportamentos distantes do usual”) tanto em intensidade (hipereroticidade, ou hipoeroticidade) quanto em, diga-se, “escolha” (no caso, homoeroticidade, ao invés de heteroticidade).  Penso que Xavier era, simplesmente, um heterossexual “hipoerótico” – tinha muitíssimo pouco apetite sexual, bem abaixo da “faixa normal”.  Essas pessoas existem, como existem aquelas que exibem um impulso sexual virtualmente descontrolado.

Pessoas hipoeróticas, geralmente, são mais sensíveis, acanhadas, reservadas.  Se são homens, podem, por seu comportamento, passar por “mariquinhas”, ou homossexuais.  Imagine-se essa situação numa sociedade patriarcal, machista, provinciana – nas Gerais do primeiro terço do séc. XX.  A vida de homens assim (“efeminados”, mas não homossexuais) devia ser um inferno.  Se se manifestassem como eram, seriam, quase certamente, automaticamente tidos como perobos.  De fato, há, ainda hoje, a tendência usual a considerar todos os homens que exibem comportamento “sensível” e “efeminado” como portando inclinações homoeróticas, mas isso não é, necessariamente, verdade.  Podem virtualmente não ter inclinação sexual alguma.  É um “desvio” em relação à “normalidade”, mas é algo que existe (assim como existe o seu reflexo antimétrico, o homem que simplesmente não consegue controlar seus impulsos sexuais diante duma mulher, de qualquer mulher).  Contudo, se a sociedade formalmente condena estes últimos, na prática os tolera (nalguns casos, até os inveja!…).  Não assim para aqueles infelizes que simplesmente não manifestam atração erótica por mulheres – são automaticamente classificados como “homossexuais”, com todos os estigmas daí decorrentes (e estigmas tão mais fortes quão menos afluentes forem essas pessoas, já que dinheiro e posição social aliviam muitas coisas).  Então (e imagine-se, mais uma vez, a época e o lugar), essas pessoas ou procuravam “se enquadrar”, adotando um comportamento devidamente condizente com o do “macho-padrão” (i.e., descambavam para uma estressante “vida dupla”, sempre se autovigiando), ou então… Bem, uma saída era, quando possível, a vida religiosa.  Xavier, humilde, pobre e com trejeitos efeminados, estava realmente numa situação desconfortável.  O tornar-se “monge espírita” foi, para ele, uma solução que se pode dizer caída do Céu – pôde assumir sem problemas certos comportamentos (como a pobreza e o celibato) que, noutras circunstâncias, causariam, no mínimo, estranheza.

Que a sua falta de inclinação erótica tinha a ver (em minha opinião) com efeminação, e não com inclinações homoeróticas, é reforçado pelo fato de que ele a manteve ao longo de toda a sua vida, década após década, sem nenhum esforço aparente.  Claro, havia uma dose não negligenciável de estresse envolvido: não é fácil submeter-se a um regime de austeridade franciscana, ler, e trabalhar intensamente nas suas lides espirituais.  Ele tinha pouca inclinação erótica, mas isso não quer dizer que não tivesse nenhuma.  Não obstante, ninguém agüentaria décadas duma vida assim, se isso não tivesse por base, em alto grau, uma entrega voluntária.  Essa, ao menos, é minha opinião.

Acredito, por fim, que a maior fonte de estresse para Xavier não vinha de (pretensos) recalques sexuais, mas sim de outras origens – de seu relacionamento com o “establishment” espírita.  Fiel ao seu “voto” de “obediência”, Xavier permaneceu por décadas fiel à FEB, mas isso não quer dizer que não tivessem ocorrido atritos.  Em minha opinião, os principais (para além de eventuais discordâncias ideológicas – quanto a isso, apenas especulo; talvez outros possam fornecer informações mais precisas) diziam respeito às manifestações físicas.

O que me parece (de novo, trata-se apenas de minhas conjecturas, e de minha opinião) é que Xavier não se via como um médium de efeitos físicos.  Convém lembrar: ele era um “monge”, no caso um monge espírita, contemplativo, descendente direto (ainda que um tanto degenerado) do “typos” do filósofo antigo – sentado em sua cátedra, com os rolos nas mãos, lendo, escrevendo e ensinando.  Era esse o seu mundo; era o “philosophos”, não era o “thaumatourgos”, o “fazedor de milagres”.  Mesmo suas “consultas” cercavam-se dessa aura catequética e consoladora – eram pronunciamentos do mestre, não espetáculos de milagres.  Mesmo quando escrevia as cartas “psicografadas” dos entes já idos, era o ensino, a lição moral, a mensagem encorajadora que importava – não a “maravilha” de “incorporar espíritos”.  Repetindo: seu “typos” (ou arquétipo, se se preferir) ancestral era o filósofo, não o taumaturgo.  E, provavelmente, a FEB (por que não?), nalguns momentos, quis que ele também assumisse, para o “bem” da “propagação” da doutrina, o espetaculoso papel do médium de efeitos físicos, quer diretamente, quer chancelando terceiros com o seu prestígio.  Claro, era uma oportunidade que o “establishment” não gostaria de perder.

Mas o fato (a meu ver) é que Xavier NÃO SE VIA ASSIM, e talvez nem sequer visse utilidade, ou virtude, nisso.  Ele podia ser místico e extremamente sentimental, mas não era burro; não lhe devem ter passado despercebidas as fraudes, muitas vezes grosseiras, que ocorriam nas materializações (se em todas, se nalgumas, isso agora não vem ao caso; a meu ver, em todas, mas a discussão sobre isso não cabe aqui).  O fato é que participava disso constrangido, quase que “obrigado” (por seu “voto de obediência”, creio – era, ao fim, um monge, e mais, um monge disciplinado; não denunciou as indulgências, não se tornou um Lutero), e o seu mal-estar pode, acredito, ser visto nas fotografias, diante daqueles “lençóis flutuantes” e daqueles “rolos de ectoplasma”.  Devia ser-lhe algo sumamente desagradável; e, numa oportunidade em que teve algum controle da situação – na “materialização” de seu amado espírito-guia, “Emanuel” – vingou-se de forma brilhante: não era um médium de efeitos físicos, era um “MÉDIUM DO LIVRO”, como o “próprio” “Emanuel” (creio eu, o próprio Xavier) enfatizou.  Ele era um “philosophos”, e não um “thaumatourgos”.  Isso, para mim, explica e enquadra, ao menos em linhas gerais, episódios como o dos “perfumes”, ou o “affair” Otília.

Portanto, o estresse a que Xavier era submetido tinha origens outras que uma pretensa “luta” contra tendências homoeróticas.  Vinha, ao contrário: a) de possíveis discordâncias doutrinárias com a FEB, que ele nunca fez aflorar, dado o seu “voto de obediência”; b) de possíveis pressões, da mesma FEB, para que, vez por outra, efetuasse, ou chancelasse, efeitos físicos, algo que Xavier devia detestar, mas que, mais uma vez tendo em vista seu “voto de obediência”, ele tinha que administrar, aquiescendo mesmo com eventuais “fraudes piedosas”; e, enfim, c) do fato de que era muito difícil, se não impossível, que aqueles que o cercavam seguissem o seu alto padrão de desprendimento (sintomático, quanto a isso, foi o “affair” com o seu sobrinho – sendo especial, o comportamento de Xavier era inimitável).  Todos esses problemas já eram, em si, grandes, e estressantes.

TÓPICO 6:

O Tópico 6 foi, em linhas gerais, acredito, já respondido anteriormente, e também respondido pelo próprio sr. Moura.  A questão prende-se, como já se comentou, à assimetria crítica.  Com a lembrança de que, especificamente no que diz respeito à existência de Lêntulo, são os espíritas kardecistas que têm de provar que ele existiu – já que a alegação da existência de Lêntulo, e a sua identidade com o espírito-guia Emanuel, partiu deles (ou, ao menos, de certos segmentos dentre os kardecistas).  As pessoas que (como eu) contestam a existência de Lêntulo precisam apenas declarar suas dúvidas.  Obviamente, dúvidas “razoáveis”, fundamentadas – não simplesmente “dúvidas gratuitas”.  Quanto a isso, é nossa opinião que o conjunto de evidências apresentado em vários textos deste “blog”, e já elencados aqui, expõem dúvidas muitíssimo mais do que meramente razoáveis no sentido de demonstrar a inexistência da personagem e, portanto, da sua identificação com “Emanuel”.

Ficamos por aqui.  Vários trechos deste texto, especificamente ligados ao “affair” Lêntulo, podem ser classificados como esclarecimentos, remetendo-se a outros textos que exibem, em detalhes, toda a evidenciação necessária.  Outros, ao contrário, são meras reflexões – opiniões um tanto despretensiosas, tomadas com base em raciocínio que reputo como lógico, e em fatos que considero razoavelmente estabelecidos.  Mas, de qualquer modo, não deixam de ser reflexões, com hipóteses e pressupostos, opiniões e mesmo especulações; enfim, um material mais apto a encorajar outras reflexões, a abrir outras discussões, a fomentar mais especulações, muito mais do que propriamente exposições que se pretendam firmes, ou imutáveis – muito menos “corretas”.  Esperamos, sinceramente, que de tais “reflexões xavierianas” brotem posteriores comentários e esclarecimentos enriquecedores, e não meramente ataques e condenações.

JCFF.

59 respostas a “Reflexões Xavierianas”

  1. Eduardo José Biasetto Diz:

    Sr. JFCC,
    Eu não vou responder categoricamente a todas as suas colocações, simplesmente, porque, no momento, não estou preparado. Não por falta de capacidade intelectual, porque há 23 anos trabalho no setor público, (três empregos diferentes), depois de ter, inclusive, passado por uma escola militar, sendo que em todas estas ocasiões, alcancei ingresso, mediante concurso público de ampla concorrência.
    Faço este comentário, porque percebi em diversas de suas falas, um ar de ironia no que diz respeito à minha condição de professor de História, indicando que eu deveria saber isto ou aquilo!
    Minha formação, especificamente no que diz respeito ao magistério, se voltou e tem se voltado muito mais à questão didático-pedagógica, centrada nas propostas curriculares, as quais não exigem que se pesquise detalhes sobre a existência de senadores romanos ou legisladores gregos, por exemplo, salvo casos particulares, em que se perceba a contextualização dos temas estudados em sala de aula.
    Desde que descobri este blog, em algumas ocasiões me senti tentado a emitir opiniões, de forma que assim o fiz, sem maiores embaraços, uma vez que a finalidade, o objetivo desta iniciativa, acredito, é propor a discussão democrática e respeitosa, sobre temas extremamente “polêmicos”, temas que não se configuram em ciência exata, de modo que não se configuram em conclusões indiscutíveis e definitivas. Em todos os meus comentários, procurei ser sincero, inclusive manifestando as minhas próprias dúvidas sobre vários apontamentos dos temas propostos no blog. Participei e tenho participado das discussões, inclusive mencionando meu nome e até citei meu email, porque não tenho qualquer receio quanto a honestidade de minhas eventuais opiniões, além do propósito puramente informativo e opinativo.
    Eu venho de formação católica, respeito a Igreja Católica, sei que existem ótimos padres; quando tenho vontade, entro em uma Igreja e rezo, ou simplesmente sento em um banco e contemplo o que me agrada. Porém, não acredito em alguns dogmas do catolicismo e também não concordo com alguns “ensinamentos” que vêm do Vaticano. Mas isto é só um detalhe.
    Ocorre que vejo na Doutrina Espírita, muitas idéias, explicações e ensinamentos significativamente agradáveis à minha forma de pensar e sentir o mundo, a existência, a alegria e a tristeza. Apesar do senhor considerar que

    “embora as pessoas, hoje em dia, equacionem a fé à irracionalidade (porque a fé, embora sendo adesão a uma verdade divinamente revelada, é uma adesão RACIONAL, decidida diante de evidências que são avaliadas como tais, nunca assumidas “a priori” e/ou sem qualquer base). De fato, há apenas irracionalidade e emoção, ignorância e ilusão.” (JFCC)

    Quero afirmar que a minha fé, ainda que seja uma ilusão, é minha e eu tenho o direito de tê-la, inclusive de acordo com a Constituição Federal do país em que nasci e vivo.
    Como afirmei, me simpatizei com os ensinamentos espíritas. Não me declaro como um espírita, de fato, porque não freqüento centro-espírita, não faço “propaganda” da Doutrina. Já li sim, vários livros espíritas, em sua maioria, chegados a este mundo, pelas mãos do Senhor Francisco Cândido Xavier.
    Desde as primeiras leituras dos “livros do Chico”, me senti reconfortado com as informações e mensagens ali contidas. Na minha modesta e simples opinião, as obras são bem escritas e, tendo conhecido a história do Chico, como uma pessoa com formação primária e todas as dificuldades que passou na vida, considerei que seria pouco provável que ele pudesse, propositadamente e apenas através de leituras, ter escrito tantos livros, que somam juntos mais de 100 mil páginas, acredito eu.
    Eu não foquei nos detalhes e nem quis saber da autenticidade das psicografias, uma vez que as mensagens de luz e esperança me preencheram o vazio que muitas vezes senti e ainda sinto, em meio ao mundo recheado de injustiças e desesperanças.
    Assim como escritores de neurolingüística, e dos chamados livros de auto-ajuda procuram levantar o astral das pessoas, conheci nos “livros do Chico”, uma fonte viva de esperança e leitura gratificante.
    Acredito que existem pessoas “enviadas” a este mundo com o propósito, a missão de ajudar os necessitados e, nesse campo, o Chico cumpriu muito bem o seu papel, uma vez que não prejudicou ninguém, até onde eu sei, e nem sequer fez de sua obra um caminho para o enriquecimento e os deleites da fartura material.
    O senhor afirma que

    “O consolo é uma força poderosa, e eu sinceramente penso (embora talvez muitos não acreditem em mim) que ele, em muitas circunstâncias, pode ser necessário. Quem negaria a um moribundo, a um doente terminal, uma última mensagem de otimismo, mesmo quando a última coisa razoável em que se pensar seja justamente isso?” (JFCC)

    E eu pergunto: há algo de errado nisto?
    O senhor vai além e diz:

    “É assim com as pessoas que sentem que receberam uma “graça especial” do Padre Cícero. Ou que se sentem consoladas com as rezas e pedidos à Escrava Anastásia. Ou que “encontram” o “espiritual”, ou o “sentido” de “ser cristão”, diante daquele trapo de linho em Turim que passa por ser o Sudário do Senhor. Ou que recebem uma carta consoladora e inspiradora, ditada pelo parente querido que já partiu, dum médium “autêntico”.” (JFCC)

    É a fé meu amigo, a fé…
    Se permite uma cópia, extraída da Wikipédia:

    “Fé (do Latim fides, fidelidade e do Grego pistia ) é a firme convicção de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nesta idéia ou fonte de transmissão.
    A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais (tais como reconforto em momentos de aflição desprovidos de sinais de futura melhora, relacionando-se com esperança) e a motivos considerados moralmente nobres ou estritamente pessoais e egoístas. Pode estar direcionada a alguma razão específica (que a justifique) ou mesmo existir sem razão definida. E, como mencionado anteriormente, também não carece absolutamente de qualquer tipo de argumento racional.”

    Quanto aos seus estudos e colocações, reconheço a qualidade dos mesmos, de modo que não vou contestá-los, mesmo porque isto exigiria de mim pesquisas e análises desgastantes, as quais me reservo à não realização, tanto por falta de tempo, como também de interesse mesmo.

    Para finalizar meu comentário, faço às seguintes observações:

    1 – O senhor parece concordar e avalizar a existência deste blog, o que me leva a crer que também concorda com as idéias de seu idealizador, o Vítor Moura.
    Eu tenho respeito por ele, que me parece ser uma pessoa inteligente e que procura pesquisar bastante. Porém, apresenta, na minha opinião, conceitos e conclusões contraditórias. Por exemplo, o Vítor não confia na mediunidade de vários brasileiros que se declaram médiuns. Mas acredita na história do menino que se diz lembrar de sua reencarnação anterior, na condição de boi!!!
    2 – O senhor deixa bem claro que não acredita na mediunidade e psicografia do Chico, mas cita, várias vezes, os ensinamentos de Kardec. O senhor acredita no Kardec??? O senhor acredita que existam “médiuns autênticos”??? O senhor acredita em reencarnação???
    3 – O senhor tem fé??? Qual é a sua religião??? Em caso afirmativo, explique a total racionalidade que existe nela.

    Só um lembrete: “moribundos”, “doentes terminais”, “sofredores” aparecem em todas as famílias!
    Nós também estamos sujeitos a isto!

    Um abraço, que Deus o abençoe!

  2. Vitor Diz:

    Oi, Eduardo

    eu não acho que o Sr. José Carlos tenha sido irônico com você. Tivesse eu achado isso, não teria publicado o post. Penso que, sendo você um Professor de História, ele está querendo entender melhor os seus motivos para confiar na mediunidade do Chico, uma vez que com o conhecimento que temos hoje de História percebemos que os escritos do Chico desafiam seriamente tal conhecimento.

    Com relação à parte que me toca, eu não disse que acredito na história do menino que se lembra de uma vida passada como um boi. Nem era um menino, era uma menina burmesa. O que eu disse é que seu relato não era para ignorarmos nem para tratarmos como mera fantasia. Isso é muito diferente de pedir para acreditar.

  3. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr. Biasetto:

    Sinceramente, não me leve a mal, mas, por maior que fosse o meu cuidado ao lê-la, sua resposta não me pareceu ir além duma série de manobras diversionistas, com o objetivo de retirar a discussão de seu foco. Portanto, procurarei fazer voltar o assunto à sua essência.

    Pouco me importam suas crenças pessoais, e penso que pouco deveriam lhe importar as minhas. Se o sr. está tão curioso assim acerca delas, procure neste “blog”, e o sr. as achará. Mas a mim me parece trabalho absolutamente inútil. O que está em jogo aqui não é aquilo em que eu (ou o sr.) acreditamos, ou com que intenção eu (ou o sr., ou qualquer outra pessoa) escrevemos o que escrevemos – mas sim se aquilo que é escrito tem (ou não) fundamentação racional, e efetiva evidenciação. O sr., aliás, como professor de História (seja ou não o seu campo de especialização a História Romana), deveria saber disso, e prezar isso até mais do que eu.

    Porque o sr. fez ver que não estava em absoluto convencido de que tudo aquilo já levantado acerca de “Públio Lêntulo” fosse suficiente para demonstrar a sua implausibilidade. Suas próprias palavras foram as seguintes: “… descaracterizar as obras sobre Roma Antiga, livros de alto nível –‘Há Dois Mil Anos’ ‘50 Anos Depois’, ‘Paulo e Estevão’, ‘Ave Cristo!’, por causa dos nomes que ali aparecem – faça-me um favor, os nomes podem ter sido modificados, são secundários” (mensagem sua de 27 de dezembro p.p., no texto “Psicografia à Luz da Grafoscopia – o que Perandréa não viu”.

    O que no texto deste tópico fiz foi esclarecer que não foram apenas os “nomes” – por mais que os “nomes” sejam, sim, importantes – as razões das dúvidas levantadas (dúvidas essas bem mais do que razoáveis). Foram listadas, resumidamente, todas as principais evidências contrárias à existência de Lêntulo, bem como à identificação dessa personagem fictícia com o “guia” Emanuel (se é que há, mesmo, um guia – alias, quais as evidências que o sr. tem de que existe realmente um guia? Em quê o sr. se baseia para aceitar isso?), a par de todos os textos sobre o assunto presentes neste “blog”. Foram igualmente respondidas as suas demais objeções, citadas uma a uma, e analisadas uma a uma, tópico a tópico.

    Reconduzindo, assim, a discussão ao seu cerne: a) o sr. ainda considera plausível a existência de “Públio Lêntulo”, bem como a sua identificação com o “espírito-guia” Emanuel?; b) caso considere, o que seria necessário para que o sr. não considerasse? O que ficou, na sua opinião, faltando? E por que o que até aqui foi levantado é insuficiente?; c) ainda caso considere plausível a existência de Lêntulo, em quê o sr. se baseia para tal? Que evidências coletou, ou a que evidências teve acesso, para sustentar essa sua posição? E mais, supondo que exista “Lêntulo”, em quê o sr. se baseia para aceitar a identificação dele com o “espírito-guia” Emanuel, de Xavier? Aliás, por que o sr. aceita que existe um “espírito-guia”? Porque Xavier disse? Porque a FEB disse? Quais são suas bases?

    Gostaria apenas que o sr. encarasse as indagações postas no parágrafo anterior, sr. Biasetto. Tudo o mais é manobra diversionista. Ou então, sintoma de Assimetria Crítica de sua parte.

    Tudo de bom. Estou esperando suas respostas. Quanto às MINHAS evidências para duvidar de Lêntulo/Emanuel… bem, o sr. já as tem, aqui neste “blog”. Leia-as, analise-as e critique-as. Sds,

    JCFF.

  4. Eduardo José Biasetto Diz:

    Sr.JFCC,
    Os seus estudos a respeito da existência (no caso, inexistência) do citado senador romano, me parecem conclusivos e baseados em fontes históricas seguras, ainda que possamos reconhecer que muitas evidências históricas foram e continuam sendo derrubadas, modificadas ou substituídas, ao longo do tempo. Uma determinada conclusão hoje, poderá sobreviver durante longo tempo e, de repente, uma nova descoberta, poderá mudar tudo!
    O que eu perguntei e o senhor não respondeu foi – e então eu repito e refaço as perguntas, porque estou interessado na sua opinião a respeito:
    1º De acordo com seus estudos e conclusões, o Chico nunca foi médium? É isto?
    2º O sr. considera que nunca existiram médiuns? Que ninguém psicografa? Outros “médiuns” também inventaram todas as histórias que escreveram ou escrevem (Divaldo Franco, por exemplo)?
    3º O sr. citou o Kardec, mais de uma vez, para justificar suas conclusões a respeito da ausência de mediunidade no Chico. Então, qual sua opinião sobre Kardec?
    Sobre esta pergunta, eu entendo que se o senhor não acredita em nada do espiritismo, então não faz sentido o senhor usar os “ensinamentos de Kardec” para criticar a mediunidade do Chico.
    4º O sr. tem religião? Qual? Por quê?
    A respeito desta pergunta, quero observar o seguinte:
    Todos nós sabemos que muitas pessoas já foram, estão sendo e serão enganadas por crenças e pregadores. Porém, o sr. fala em “racionalizar a fé”, o que eu acho que tem fundamento, mas também é algo muito complicado.
    Se o sr. é católico, por exemplo, e eu já disse que respeito a religião católica, mas eu pergunto: Se o sr. gastasse seu tempo e dedicação aos estudos, da mesma forma que gastou em relação à “mediunidade” e as obras do Chico, então gastasse esse tempo para analisar e estudar a Bíblia, “Adão e Eva”, “Arca de Noé”, “Dez Mandamentos”… Qual destas histórias se manteria em pé?
    Antes que os católicos e os “evangélicos” me critiquem, eu entendo que seguir a Bíblia é uma escolha pessoal, porque também existem muitas histórias belas ali, muitas mensagens positivas, além disso, também entendo que muitas mensagens e informações precisam ser interpretadas.
    Mas também é fato, que a Bíblia está recheada de preconceitos,racismo e discriminações. Há justificativas, por exemplo, da escravidão. E há também passagens em que há um claro incentivo à “força da espada!”, a guerra!
    Então, fico me perguntando se Deus, de fato, ensinaria coisas assim???
    O Velho Testamento está diretamente relacionado à história da antiga civilização hebraica. É inclusive reconhecido como importante fonte histórica, para se conhecer a história desse povo – os hebreus. Agora, existem passagens do tipo – “o povo de Deus”. Então, também pergunto: se os hebreus eram o “povo de Deus”, “os escolhidos”, e os demais povos da Antiguidade eram “povo de quem???”
    Na época da civilização hebraica, havia a civilização egípcia, a civilização mesopotâmica, a civilização fenícia, a civilização persa, só para citar povos contemporâneos da região do Oriente Próximo e nordeste da África. Então, repito: só os hebreus formavam o “povo de Deus”?
    Eu quero concluir com isto, que a “racionalização da fé”, no sentido que o sr. coloca, nos levaria a uma sociedade totalmente voltada para o ateísmo. Qualquer pessoa que tente comprovar os fundamentos de sua fé, irá se deparar com o ateísmo.
    Agora, por outro lado, pelo menos é o que penso, existem inúmeros motivos para acreditarmos em Deus.
    E em um Deus justo e misericordioso. Neste sentido, o espiritismo me parece ser a doutrina que tem uma explicação, ao menos aceitável, porque Deus sendo justo e misericordios, permite que ocorram tantas diferenças entre as pessoas, os “seus filhos”, uma vez que o espiritismo se baseia no conceito de reencarnações e na “lei da ação e reação”.
    Se o Chico nunca foi médium, mesmo assim Deus deve ter gostado das coisas que ele fez, porque ajudou e tem ajudado muita gente. Ou o sr. não concorda com isto também?
    Aliás, o sr. traçou um perfil completo da personalidade do Chico, expondo todas as suas crenças, conflitos, intenções, virtudes e defeitos. Entendo que suas colocações são interessantes, mas, se permite dizer, exageradamente pretensiosas.
    Talvez o sr. não responda às minhas indagações, porque irá afirmar que estou fugindo ao tema central da questão. Mas, sinceramente, gostaria que o sr. me respondesse às perguntas, porque estou interessado em conhecer sua opinião sobre os temas levantados. Já que o sr. está querendo me convencer que embarquei em uma canoa furada ao acreditar no espiritismo, quem sabe o sr. me convence a adotar uma nova religião, para preencher meus vazios e encontrar conforto espiritual.

  5. Eduardo José Biasetto Diz:

    Sr. JFCC,
    Só uma observação a respeito da sua colocação:

    “O sr., aliás, como professor de História (seja ou não o seu campo de especialização a História Romana), deveria saber disso, e prezar isso até mais do que eu.”

    O que nós discutimos neste blog, não tem nada a ver com minhas aulas de história, mesmo porque sempre respeitei a crença de meus alunos e não uso a sala de aula para fazer proselitismo.

    Até…

  6. Vitor Diz:

    Oi, Eduardo

    Divaldo Franco é outro que não é médium, acusado de fraude pelo próprio Chico. Agora, claro que não me fio apenas na palavra do Chico, por isso mesmo aqui no blog já coloquei matérias revelando os plágios dele.

    Outra coisa, você fala como se fosse um problema termos uma sociedade voltada para o ateísmo. Penso que você está sendo extremamente preconceituoso. Afinal, qual o problema de termos uma sociedade totalmente voltada para o ateísmo? Você não sabe que os países mais desenvolvidos são ateus? Duvida?

    http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1421494

    Os países mais éticos e justos são a Suécia e a Dinamarca, que são países com baixíssima religiosidade (recentemente outra pesquisa mostrou que os dinamarqueses são as pessoas mais felizes e satisfeitas do mundo). Mostra algo que todos os ateus já sabiam e que somente os crentes ignorantes sobre o assunto alimentam com seu preconceito: é possível valorizar o bem, a justiça, o homem e a vida por si mesmos, sem precisar acreditar que Deus nos castigará se não o fizermos. Completa Zuckerman:

    “Os dinamarqueses e os suecos têm um respeito muito forte pela dignidade humana. Eles criaram sociedades com as menores taxas de pobreza do mundo, as menores taxas de crimes violentos do mundo e o melhor sistema de educação e de saúde do mundo. Eles fizeram isso não como uma tentativa de agradar ou alcançar Deus, mas porque vêem um valor manifesto na vida humana e acreditam que o sofrimento é um mal em e além de si mesmo.”

    (Entrevista na íntegra:
    http://integras.blogspot.com/2008/12/pas-menos-religiosos-so-os-mais.html

    Outros dados:

    http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/inacreditavel/2009/06/24/209003-ranking-mostra-que-paises-ateus-sao-os-mais-pacificos

    Pode ainda acessar esse estudo publicado em 2008 na revista científica Intelligence (Fator de Impacto 2009: 3,12), aqui relacionando inteligência com ateísmo:

    http://fringe.davesource.com/Fringe/Religion/Average-intelligence-predicts-atheism-rates-across-137-nations-Lynn-et-al.pdf

    Talvez seja hora de rever seus conceitos, Eduardo…

  7. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr. Biasetto,

    Comentarei as partes de suas duas últimas mensagens que, a meu ver, podem agregar algo à presente discussão. O restante, insisto, a mim parece fugir completamente do tema, e não será objeto de considerações neste “post”.

    O sr. diz: “Os seus estudos a respeito da existência (no caso, inexistência) do citado senador romano, me parecem conclusivos e baseados em fontes históricas seguras”.

    Muito grato. Ou seja – a questão não se resume apenas nos “nomes”…

    Mas o sr. continua: “… ainda que possamos reconhecer que muitas evidências históricas foram e continuam sendo derrubadas, modificadas ou substituídas, ao longo do tempo. Uma determinada conclusão hoje, poderá sobreviver durante longo tempo e, de repente, uma nova descoberta, poderá mudar tudo!”.

    Sem dúvida! Mas o sr. já analisou a efetiva probabilidade de que isso venha a ocorrer? Eu lhe sugeriria, sr. Biasetto, que, para cada item principal referente à evidenciação da não existência de Lêntulo (e que foram inclusive listados nas “Reflexões Xavierianas”), o sr. elencasse aquilo que teria de acontecer, ou o que teria de ser descoberto, para invalidá-lo. Creio que, se o sr. se der ao trabalho de fazer isso, notará que, CUMULATIVAMENTE, as descobertas teriam de ser, de fato, explosivamente revolucionárias, não apenas no que diz respeito a Lêntulo, mas sim à civilização romana do período alto-imperial como um todo – ou seja, altamente improváveis de ocorrerem. Portanto, a prudência recomenda que, no mínimo, nos coloquemos de guarda contra a identificação “Lêntulo/Emanuel”, e contra tudo o que disso decorre.

    O sr., em sua mensagem, prossegue, perguntando-me acerca de minhas crenças no que diz respeito à mediunidade e à psicografia, e se, em minha opinião, meus estudos provariam o fato de Xavier não ser médium.

    Olhe, sr. Biasetto, acerca de minhas crenças, repito que eu não as discutirei, já que isso é totalmente irrelevante para a presente discussão. Sobre mediunidade, minhas investigações NÃO SÃO a respeito da existência ou da não existência dos espíritos dos mortos; da possibilidade (ou não) de se comunicarem com os vivos (i.e., sobre a possibilidade, ou não, da necromancia); e nem sobre o fato de existir, ou não, mediunidade. Isso porque a discussão desses temas é, a meu ver, de índole filosófica, e encontra-se num patamar muito superior ao que é aqui tratado – nós nem chegamos a um consenso quanto a coisas bem mais primárias, como evidenciação histórica, quanto mais no que diz respeito a esses temas! Minhas investigações são bem mais focadas, e bem mais simples: um certo “espírito-guia” deu uma série de informações historicamente verificáveis acerca duma sua pretensa encarnação passada (e da época em que teria vivido); praticamente todas as informações relevantes que forneceu ou não são confirmadas, ou então são positivamente negadas, quando se analisa a questão historicamente. A conclusão não é que exista ou não mediunidade, que Xavier seja ou não médium: é que a “entidade” (se é que existe uma “entidade” – de novo, por que o sr. toma como garantido que, no caso específico de “Lêntulo/Emanuel”, existe uma entidade?) ou mentiu, ou se enganou; que, portanto, não é confiável; e mais, que nenhum “espírito superior”, ou “puro”, se deu ao trabalho de avisar Xavier, ou o movimento espírita brasileiro, acerca da situação. Mais ainda: que o próprio movimento espírita kardecista brasileiro, que deveria zelar pela qualidade das “manifestações” que chancela, falhou miseravelmente em realizar, tanto na época quanto depois, pesquisas minimamente decentes quanto a esse tema (ou seja, quanto à efetiva existência de “Públio Lêntulo”, do modo que a “entidade” o descreve). Bela essa “fé raciocinada”!

    As conclusões a que se podem chegar a partir de minhas investigações estão, assim, resumidas no parágrafo anterior. Nem mais, nem menos. Elas estão embasadas (e, segundo o sr., historicamente bem embasadas). O que os espíriats kardecistas vão fazer com isso, eu não sei. Se eu estivesse no lugar deles, aproveitaria a situação para rever toda a base conceitual e metodológica do movimento, especialmente no Brasil, mas também nas próprias obras de codificação. Mas isso, sinceramente, não me diz respeito, e não é problema meu.

    O sr. prossegue, solicitando minha opinião sobre Kardec, e dizendo que eu não poderia citar Kardec como autoridade, se não acredito nele.

    Minha opinião sobre Kardec é irrelevante para o que ora se discute. E, se cito Kardec, não o cito para mim, como autoridade, mas sim para demonstrar que os próprios espíritas não o seguem. Kardec, em quem os espíritas põem toda a sua confiança, é, ao contrário, o primeiro a condená-los. Vamos lá, mais uma vez… Kardec elenca uma série de princípios metodológicos acerca dos “fenômenos” ou “manifestações”, e de como deveriam ser considerados (ou não) por parte dos espíritas. Novamente citando os principais (a numeração das páginas, nas citações a seguir, refere-se às últimas edições, em extensão “pdf”, disponíveis para “download” no portal da Federação Espírita Brasileira):

    Sobre como os espíritas deveriam se comportar diante das investigações científicas, em geral, e de qualquer investigação racionalmente baseada, em particular:

    I) “O Espiritismo, pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. (…) Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”. (“A Gênese”, cap. I, “Caráter da Revelação Espírita”, seção 55, pág. 59)

    II) “Lançar anátema ao progresso, por atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais, trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha”. (“A Gênese”, cap. IV, “Papel da Ciência na Gênese”, seção 9, pág. 116)

    III) “Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas da Ciência (…) Uma religião que não estivesse, por nenhum ponto, em contradição com as leis da Natureza, nada teria que temer do progresso e seria invulnerável.” (“A Gênese”, cap. IV, “Papel da Ciência na Gênese”, seção 10, págs. 116-117)

    Sobre como se deve entender a fé (já que o sr. põe algumas dúvidas acerca da “racionalização da fé”):

    IV) “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade.” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XIX, “A Fé Transporta Montanhas”, item “A Fé Religiosa – Condição da Fé Inabalável”, seção 7, pág. 388)

    Sobre o que é, efetivamente (ou, o que deveria ser), “caridade” para o Espiritismo:

    V) “Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? [Resposta dos espíritos] Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”. (“O Livro dos Espíritos”, cap. XI, “Da Lei de Justiça, de Amor e de Caridade”, seção “Caridade e Amor ao Próximo”, Pergunta nº 886, pág. 497)

    E, para coroar, sobre como deveriam se comportar os espíritas diante de “revelações” e de “mensagens”:

    VI) “Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea”, (“O Livro dos Médiuns”, cap. XX, “Da Influência Moral do Médium”, item 230, pág. 340)

    Como creio que já mencionei noutras ocasiões, sr. Biasetto, não sou eu que os condeno; é Kardec que os condena.

    Passo por cima, por irrelevantes, das demais questões referentes à minha opção religiosa específica, bem como acerca de possíveis estudos sobre assuntos bíblicos. Alguns foram, inclusive, tocados tangencialmente nas investigações acerca de Lêntulo (p.ex., os relativos à aparência física de Jesus); outros ainda o serão (p.ex., referentes ao “Sudário de Turim”, que eu, tendo em vista as investigações históricas que desenvolvi, não considero, em hipótese alguma, como algo genuíno). Mas esses itens têm a ver, especificamente, com o estudo que empreendi, e que continuo empreendendo. Por outro lado, se o sr. gosta da análise e da crítica de assuntos bíblicos, vá em frente, analise as questões que considerar pertinentes, e publique textos a respeito. É provável que (tendo em vista o assunto) não venham a ser publicados neste “blog”, a não ser, creio, que versem especificamente sobre mediunidade e psicografia, mas hão de sê-lo nalgum outro lugar. Quando os tiver publicado, por gentileza, sr. Biasetto, avise-me, e terei o maior prazer em os ler e os comentar. Mas não aqui, e nem agora. Nada têm a ver com o que se está aqui discutindo.

    O mesmo se diga acerca de eventuais discussões filosóficas referentes aos respectivos méritos do Cristianismo e do Espiritismo, e de como cada uma dessas correntes filosófico-religiosas vêem o problema do mal. Poderia até discutir com o sr. alguns desses assuntos, mas não aqui. E não agora – talvez após o sr. responder às indagações que lhe fiz, referentes ao “affair” “Lêntulo/Emanuel”. Quem sabe? Uma coisa de cada vez…

    Diz ainda o sr. que tracei um “perfil completo da personalidade do Chico, expondo todas as suas crenças, conflitos, intenções, virtudes e defeitos”. E concluiu que, embora minhas colocações possam até ser interessantes, parecem-lhe exageradamente pretensiosas.

    Talvez. Sua opinião. Mas deixei claro que eram apenas “reflexões” – portanto, sua acusação de serem “pretensiosas” carece de fundamento. Algumas dessas minhas reflexões, eu as considero mais prováveis; outras, menos. Gostaria, sinceramente, que fossem discutidas. O sr. é bem-vindo para o fazer, se puder acrescentar algo ao tema. Por exemplo, é minha opinião que Xavier não se via como médium de efeitos físicos, e que “embarcou” nessa, provavelmente, por pressão da FEB; mas, numa troca de correios eletrônicos com o sr. Moizés Montalvão, em privado, ele me fez ver uma outra possível hipótese: a de que, ao contrário, numa época de sua vida, Xavier ter-se-ia sentido atraído por tais fenômenos, e que poderia ter sido justamente a FEB (receosa das implicações que aqueles “rolos de ectoplasma” e “lençóis voadores” pudessem causar à imagem do médium, e à do movimento) que o tivesse demovido disso – tendo em vista inclusive os fiascos das “materializações”. Nesse caso, a materialização de “Emanuel” teria sido como que uma “saída honrosa”, em “grande estilo”, armada pelo “establishment”, para superar essa situação desagradável. É possível que tenha sido isso? Sim, é possível. É possível que não? Sim, também é possível. Trata-se dum tema aberto à discussão. Eu, ao menos por enquanto, continuo com a minha opinião sobre o assunto, como a mais provável – mas ela pode estar equivocada.

    Enfim, o sr. dá a entender que eu estaria querendo convencê-lo de que o sr. teria embarcado num “canoa furada” ao acreditar no Espiritismo.

    Olhe, sr. Biasetto, isso não tem fundamento algum; o que digo, e continuo dizendo, é que a “entidade” Lêntulo/Emanuel (novamente, se é que há alguma entidade…) não é quem diz ser, e que, portanto, não é confiável; e mais, que essa situação não foi comunicada nem a Xavier e nem aos espíritas por nenhum espírito “superior” ou “puro” caridoso. Só isso. E, para isso, apresentei uma série de evidências. Se, a partir dessas evidências (supondo que as aceite – e, se não aceitar, diga-me a razão…), o sr. considerar o Espiritismo como uma “canoa furada”, ou não, isso, sinceramente, não me diz respeito, é um problema de foro íntimo do sr. Acredite no que quiser – mas saiba em quê acredita, e quais as razões (ou a falta delas) que tem para tanto. Se diz que sua fé é raciocinada, então raciocine, e acredite (ou aceite as coisas) com base em evidências sólidas; se não as tem, então, por prudência, descarte o que não pode ombrear lado a lado com a Razão. Numa palavra: siga o seu guia e codificador, Kardec – se o sr. é um espírita kardecista, essa é a sua obrigação, afinal.

    Por último, acerca do fato de ser professor de História, se o sr. não utiliza sua profissão para fazer proselitismo junto a seus alunos, nada faz além de sua obrigação moral; mas, tendo em vista os tempos desgraçadamente bárbaros em que atualmente vivemos, mesmo isso, que é uma obrigação primária, hoje é (sem dúvida) uma grande virtude. Parabéns. E dou-lhe meus parabéns com sinceridade, sem nenhuma conotação irônica. Agora, o que quis dizer é que, em minha modesta opinião, o sr., como professor de História, deveria levar mais a sério a própria evidenciação histórica dos fatos, mesmo (e principalmente) quando dizem respeito a aspectos da crença que o sr. esposa, ou que deseja esposar. Só isso. Sds,

    JCFF.

  8. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Em conversas minhas com o Juliano, já abordamos o tema sobre os países que você citou. Nestes países não existe, obrigatriamente, um ateísmo como você menciona. Exatamente por serem países desenvolvidos, onde as pessoas, de modo geral, alcançam um elevado grau de satisfação, elas pouco se voltam para a religiosidade, como concebemos aqui no Brasil, por exemplo.
    É óbvio que em países como o Brasil, existe um comércio e diversos interesses em torno dos temas religiosos.
    Você fala em se construir uma sociedade centrada no ateísmo, uma sociedade onde as pessoas se respeitem e coisas assim. Eu penso que as pessoas não precisam mesmo e nem devem fazer ou deixar de fazer algo, com medo do “castigo de Deus”, existem outros valores para esta questão.
    Aliás, eu acredito que Deus não castiga ninguém!
    Porém, as pessoas, todos nós, ao longo de nossas vidas, fazemos escolhas, nos privamos, às vezes, de muitos desejos, uns levam uma vida consideravalmente “boa”, outros levam uma vida miserável. Por inúmeras razões isto acontece, muitas delas estão fora do alcance de cada um.
    Qual a lógica que poderia haver nisto, se não houver uma continuidade da vida, um mundo espiritual?
    Que diferença faz, então, se o sujeito vem a este mundo e só produz desgraça, só faz mal ao próximo, é extremamente egoísta, um sujeito mal mesmo. Enquanto que outro, se preocupa, em 1º lugar, em ser honesto, mas vai além, e faz muitas coisas boas, se dedica ao próximo, faz uso do amor, do respeito…
    Se depois que morrem, os dois sujeitos, não existe mais nada, ou então, aleatoriamente, reencarnam, sem qualquer implicação do que fizeram ou deixaram de fazer. Não seria, no mínimo, ridículo isto?

  9. Vitor Diz:

    Caro Eduardo,

    Eu realmente penso que o Universo não liga a mínima para o nosso conceito de ridículo. Eu acho ridículo e nojento os filhotes de coala conseguirem as proteínas de que precisam comendo as fezes saídas diretamente do ânus da própria mãe. Mas a Natureza ‘quis’ assim. Então nossas ideias do que é ridículo ou não pouco ou nada servem para resolver tais questões. (Porém eu acho que se Deus existisse mesmo Ele jamais faria algo tão tosco assim com os coalas!:-) Mas penso que você está errado quanto á ausência de implicações: penso que o sujeito bom servirá de exemplo para toda a Humanidade, enquanto o mau não. E é uma forma de ‘imortalidade’, muito mais importante do que a vida após a morte em si.

  10. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Pretendo, através desse comentário, encerrar minha participação neste blog. Digo, “pretendo”, porque talvez me sinta obrigado a responder algo que se relacione diretamente a este comentário. De qualquer forma, estou me desligando do blog.
    Você disse que eu estaria sendo preconceituoso com os ateus, mas posso te garantir que não tenho preconceito algum com relação a eles, até acho que eles se comportam melhor do que muitos crentes.
    Agora, você sim, demonstra um enorme preconceito para com os crentes.
    Que humanidade que você está preocupado, se não acredita em Deus?
    De que exemplo você fala? Tanto faz, como tanto fez! Se Deus não existe, se não existe vida espiritual – e aí, você mesmo se complica, porque gasta dinheiro para traduzir uma obra que fala de reencarnação, não sei porque você perde tempo e valores com isso, já que você não acredita em nada, além da matéria.
    Mas então, exemplo de quê? De valores? De ética? De honestidade? De bondade? Pra quê?
    Dentro de uma concepção ateísta, estes valores se transformam apenas em mera conjecturas, formalidades, convenções.
    Tanto faz, se o cara matou dez ou praticou a caridade. Ele morre e pufff, acabou!
    Tudo, neste caso, foi mera ilusão, só isso.
    É impossível desvincular, na essência da questão, a idéia de “bom cidadão” da idéia de “bom espírito”. As duas coisas caminham juntas, na essência!
    É óbvio que isto independe de crença religiosa, trata-se de uma vocação, uma inclinação, uma intuição natural do ser humano. Deus está dentro de nós.
    Os ateus, como você, especialmente você, sentem esta inclinação, mas não conseguem lidar com uma série de outras questões. Então buscam a todo custo as provas. Por isso duvidam, questionam, desafiam.
    A questão do coala, explica-se pela questão da evolução das espécies, pelas idéias de Darwin.
    E é aí, que está a grandiosidade de Deus. Deus permite a vida, cria, oferece as condições para sua manifestação em abundância. Mas ELE não fica interferindo a todo momento, ELE não fica acertando tudo a todo instante. Se ELE agisse assim, não seria Deus.
    Imagine um pai, por exemplo, que fica o tempo todo consertando as “cacas” dos filhos. Talvez ele até pudesse fazer isto. Mas os filham aprenderiam a se virar? A ser dono do próprio nariz?
    A fé pode curar doenças, a fé pode fazer as pessoas superarem seus próprios limites.
    As pessoas que realmente ajudaram a humanidade a dar saltos significativos, inclusive com relação aos conceitos que você menciona, sempre estiveram alicerçadas em “fundamentos divinos”, “espirituais”, ainda que não tenham tido consciência disto ou até mesmo tenham negado isto.
    É só ver e rever a história. Hitler, por exemplo, que você citou na no site do Mori, certamente tinha mesmo alguma qualidade, e era muito inteligente. Só que criou um desastre enorme à humanidade, trouxe o sofrimento e a dor. Por quê? Porque ele era egoísta, ganancioso, perturbado por suas idéias e necessidades de poder. Então, sentimentos que nunca foram pregados por qualquer religião, que se fundamenta em Deus.
    É aí que está a lógica de Deus! Por mais que presenciemos o “caos”, ainda existe uma ordem em tudo. Sabe por quê? Porque Deus não permite que o mal supere o bem. Isto jamais!
    Vítor, a fé é algo muito, mas muito sublime.
    Uma pessoa pode achar uma pedra no chão e, a partir desta pedra, pode revolucionar completamente sua vida.
    Isto é fato, a ciência prova isto. Você sabe!!!
    Então meu amigo, se você quer continuar esta cruzada para avacalhar com o espiritismo, com a crença das pessoas, jogar o seu veneno para destruir esperanças, é um direito que você tem, uma escolha sua.
    Você disse, que talvez seja a hora de eu rever meus conceitos. Nisso você tem razão: está mais do que na hora de eu parar de perder tempo. Há coisas mais úteis, agradáveis e “divinamente” melhores pra se fazer…
    Fique com Deus, amigo!

  11. Juliano Diz:

    Eduardo
    Pense como é mais interessante a pessoa fazer o bem pelo bem em si, apenas. Sem aquele conceito, ou idéia, de possível recompensa futura, mesmo que pretensamente inconsciente. Neste conceito de recompensa, coisa bem de bicho diga-se, no mínimo já se está diante de um “fazer o bem” que não diz respeito a real vontade do cidadão. Se está fazendo algo forçado visando um pretenso futuro. E vou mais além, e se a característica cultural de “fazer o bem” ou “fazer o mal” tiver uma origem genética? Tem muitas coisas ainda sem resposta, ou, o pra onde vamos após a morte, e se é que vamos é uma. Eu pessoalmente não acredito na hipótese do fim (nascer/viver/morrer/terminar) com a morte, mas é uma hipótese bem mais plausível que a do Jesus e do Deus cristão, bem como a dos espíritas, que se tivessem provas concretas já tinham a demonstrado e comprovado.

    José Carlos Ferreira
    Ainda fico com a idéia que o Sr. Chico Xavier tinha sim, e não há mal nenhum nisto, tendências reprimidas homossexuais. Disto decorrendo a criação do personagem/guia Emmanuel (centurião romano alto, esbelto, louro de olhos azuis). O Waldo Vieira não é digno de ser levado em consideração. Mas neste ponto eu vejo que ele fala a verdade quando diz hoje que o Chico era homossexual. Até por quê o “filho amado espiritual” do Chico, Waldo Viera, companheiro de psicografia em noites de mediunidade, nunca escondeu que era o galã de Uberaba quando jovem e do Rio posteriormente. Sendo que eu pessoalmente, hoje, acho que tem muito mais caroço neste “angu” todo. Mas (…) neste caso fica-se no mero achismo apenas de um adepto de Freud.rsrsrsrs É isto.

  12. Juliano Diz:

    Eduardo

    Respeito as tuas colocações, apesar de não concordar com as mesmas e ver nelas pura crença de quem se sentiu acuado ante os argumentos postos, principalmente pelo José Carlos Fernandes. Não ter como contraditar é complicado mesmo.
    Agora, você como professor de História dizer que as religiões com seu Deus não pregam o egoísmo, a perturbação de idéias, a busca pelo poder, a ganância é lamentável. Com exceção da crença materialista fanática do fazismo e do comunismo. Dois movimentos políticos que não deixam de ser religiões (zero espírito crítico e crença no poder salvador do “grande líder”), só que com pretensos deuses humanos. Mas o sentimento de cegueira coletiva é o mesmo. Eduardo, não se pode negar que em nome de Deus se matou, se escravizou, se humilhou e se humilham, se pregou e se pregam o ódio a cada momento! Mesmo que em grande parte travestidos de um pretenso amor cândido. Mas é só cutucar a “onça” que ela mostra rápido a cara. Fatos históricos de massacres, genocídios em nome de Deus abundam nos tempos passados e atuais! Jogos de Poder das religiões abundam! Vide o Massacre de Kosovo e tantos outros massacres humanos. Se Deus é perfeito, se existe, que idéia maluca criar seres imperfeitos para sofrer, só deixando de sofrerem se crerem nele, no mínimo. No mínimo este Deus é um sádico! Um lunático! Eu preferiria, caso ele existisse, sofrer as consequências da minha não concordância em me curvar a este Deus. Mas, fique com o teu Deus, e como já disse uma vez com o Roberto, de coração, boa sorte!

  13. Juliano Diz:

    Pensei e esqueci de escrever.
    Corrigindo: quando digo – Dois movimentos políticos que não deixam de ser religiões ( ) talvez mataram mais que a religião do Deus divino. Mas o sentimento … (continua o resto como no comentário acima).

  14. Vitor Diz:

    Eduardo,

    essa sua pergunta demonstra todo o seu preconceito contra os ateus:

    Que humanidade que você está preocupado, se não acredita em Deus?

    Então como não cremos em Deus isso quer dizer que não nos preocupamos com nossos semelhantes? Você não consegue realmente perceber o disparate desta sua pergunta?

    A questão da existência de um mundo espiritual, e de espíritos, é completamente desvinculada para mim da ideia de Deus. Crer em espíritos não me faz acreditar em Deus nem um milímetro.

    E Hitler era católico. Mais uma prova que religião não necessariamente faz ninguém melhor…

  15. Vitor Diz:

    Juliano,

    onde Waldo Vieira disse explicitamente que Chico era homossexual? Que eu saiba ele dizia que Chico tinha uma alma feminina, tinha sido a própria mãe do Waldo numa vida passada. Uma coisa bem diferente.

  16. Juliano Diz:

    Vitor

    Segue tópico onde o Waldo diz que o Chico era homossexual. É lá pelos 5:08 segundos do vídeo que ele diz claramente que o Chico era homossexual. Eu já tinha visto ele dizer uma vez numa palestra que o Chico era homossexual. Mas segue a prova.

    http://www.youtube.com/watch?v=K7U92-ndi3M

  17. benedactilo Diz:

    Desculpe, Juliano, mas Waldo Vieira é um mentiroso, e um mentiroso perigoso (um falsario, um megalomaniaco, que esconde o desejo de poder numa pseudo ciencia cheia de contradicoes).
    Chico, ao contrario, nao posso afirmar que era um mentiroso, mas, se o for, era um mentiroso piedoso.
    A questao nao é homoSexualidade, cujo conceito é uma bobagem ideologica de ultima categoria, mas a da Vergonha, que impregna a sociedade e produz a mentira e a maldade.
    Pergunte a teu pai, pergunte a tua mae…
    A Verdade está em Cristo, na purificacao do ser atraves do amor. Pense nisso.
    Purificacao do ser atraves do amor: eis o ensinamento do Cristo.
    E pode-se purificar ate os excessos e as doencas dos encontros homoeroticos.
    T+ amigo
    abs Vitor

  18. mrh Diz:

    Como sempre, os estudos do Ferreira akabam deixando seus adversários s/ argumentos, e embezerrados.
    .
    Mas, c/ dor, paulatinamente vamos nos tocando do qto usaram e abusaram d nós, d nossa gente, d todos, p/ vencer na vida. E o processo ainda ñ terminou, está + forte q nunca…
    .
    P/ outro lado, 1 pitako em favor do brilhante JC: fazer o bem s/ esperar compensação sequer permitiria identificar o bem como tal.
    .
    É 1 falácia kantiana muito repetida pelos críticos do esquema moral cristão, do qual sou adepto (talvez p/ ter sido educado no cristianismo; mas seguramente p/ ter refletido e buscado o modo razoável e prático d encarar a moralidade).
    .
    1 exemplo imaginário na linha d Hume: digamos q desejássemos sempre agir em vista do bem, s/ jamais ter tido a experiência do bem, c/ a mera intenção teórika do bem em si, e víssemos 1 doente. Após dar terra a ele, sairíamos todos felizes e realizados acreditando ter feito o bem… O doente certamente pioraria, e somente após a experiência poderíamos avaliar q fizemos o mal… Somente a experiência ulterior permite avaliar se o bem é realmente 1 bem, e é impossível fazer o bem s/ qquer expectativa futura, pois desse modo sequer saberíamos avaliar se o q fizemos é 1 bem.
    .
    Agora q temos determinado q a experiência é imprescindível p/ a prática do bem, digo q o bem só é bom se, no futuro, incidir sobre quem o praticou, ou ao – d algum modo ñ o prejudicar: digamos q alguém c/ muito desprendimento resolvesse fazer o bem a 1 senhor d escravos, entregando seu filho p/ trabalhos forçados. O escravocrata certamente abriria 1 sorriso, pois recebeu 1 bem; depois, daríamos a ele nossa mãe, nossa esposa e, p/ fim, nós mesmos p/ trabalhos forçados. Teríamos feito 1 bem p/ o escravocrata, na sua perspectiva d escravocrata, mas, s/ nenhuma expectativa relativamente à nossa sorte após os atos bons, viveríamos o inferno. Somente alguém muito tolo agiria assim, s/ nenhuma expectativa d compensação (ou ao – d ñ ser prejudicado) após seus atos.
    .
    A experiência, em vários sentidos, é condição fundamental p/ avaliar o bem como tal, e aquele q age bem ñ está fora do mundo – ptto, p/ razões práticas e teóricas, deve fazer o bem tbém c/ vistas a si mesmo – ñ precisa necessariamente ser a salvação cristã no céu, morar no nosso lar dos espíritas ou coisas assim; mas 1 selvagem soltar benemeritamente a patinha do tigre q encontrou preso p/ depois ser devorado ñ parece ser muito inteligente – ainda q fosse a máxima realização do fazer o bem p/ pelo bem, s/ nenhuma expectativa d compensação pessoal, c/ total e literal desprendimento (do nó q segurava o bichano e do korpo físico do gentil e bondoso selvagem).

  19. mrh Diz:

    Qdo “bondosamente” educamos nossos aluninhos em ciência, qdo advertimos, como Vinícius d Moraes, q são demais os perigos dessa vida, como faz este blog, temos algo em vista, ainda q remotamente: produzir o esclarecimento, e 1 mundo onde as pilantragens q conhecemos ñ + terão lugar, como queria Voltaire, onde o mal ñ exista, como queria JC. Mas isso é o “meu”, o “nosso” desejo, e ñ o dos pilantras e o dos brutos – eis então mais uma vez eu fazendo algo “bondosamente” p/ mim mesmo, pois meu desejo é minha extensão, algo d mim, o nosso desejo a extensão do meu partido, mas ñ d todos os seres humanos – como lemos neste blog, muita gente chia, e quer continuar a ser enganado.

  20. Juliano Diz:

    mrh

    Apesar do modo estranho da tua escrita. Belos comentários. No mínimo engraçados e esclarecedores. Tuas colocações são pertinentes. Refletindo sobre os teus comentários, e eles me levaram a isto. A essência do conceito “fazer o bem” só pode ser avaliado posteriormente na prática do ato feito e nas consequências que tal gera. E, fazendo uma auto-avaliação, acabei sendo hipócrita, e assumo o erro, quando disse no fazer o bem pelo fazer o bem apenas como regra. Evidentemente sempre há um desejo por trás, mínimo que seja, mas sempre há alguma busca de recompensa no ato. Está certo.
    Indo um pouco além. O que o Vítor faz aqui, e muitos espíritas reclamam e esbravejam, é simplesmente buscar trabalhar e buscar evidências concretas de perguntas que afligem o Vítor, a mim, e a quem pensa um pouco e não acredita por acreditar. Sendo a pergunta essencial buscada de uma resposta definitiva para nós a seguinte:
    – de alguma forma continuamos vivos após a morte? Em alma/espírito como queira se chamar. Ou terminanos juntos com o suspiro final? E as evidências mostram que esta resposta os espíritas, os religiosos em geral, não tem, e digo mais, estão longe de ter. Por incrível que possa parecer estamos mais próximos da mesma. O pessoal todo vivem da crenças apenas. Vide a argumentação aqui colocada pelos mesmos, e a argumentação em geral das religiões. É a mesma coisa que eu viver e acreditar fortemente na crença que Zeus, Júpiter e todos os deuses greco-romanos existem de fato, há um Olimpo Divino, e não crer nisto é algo inaceitável. Passível de punição eterna ou penas não eternas, mas penas, sofrimentos ao descrente. Uma maluquice, vai pensar um religioso ou um espírita de plantão. Júpiter não existe, é um mito. Não vêem o próprio umbigo. É isto.

  21. benedactilo Diz:

    Juliano,
    Nao acredite muito no Deus judeu e no Deus cristao, eles sao muito estupidos.
    Acredite no Deus de Cristo, que o definiu como sendo seu “PAI” – simplesmente isso.
    O sentimento de paternidade (que nao compreendemos ainda) é a chave para a compreensao dessa coisa ingenua de um Criador.
    Nao precisas concordar com isso – apenas considere.
    Nao enverede pela filosofia – ela produz mais loucos que saos.
    Leia o livro que Aristoteles escreveu para o filho (paternidade, lembra?).
    Estou lendo (opa, ouvindo, converti todo o livro pra mp3) o despertar dos deuses de Asimov (permite uma perscrutar a possibilidade de outras dimensoes.
    Uma leitura agradavel e nada religiosa.
    Valeu, mano.

  22. Juliano Diz:

    Benedactilo

    Agradeço as indicações. Mas, sinceramente, não entendi a sua distinção entre o deus cristão e o deus de cristo. Talvez você queira dizer que o deus de cristo na verdade é mais um sentimento de ter de fato um pai, um criador. Alguém para lhe acalmar nas horas duras. Sinceramente acho isto meio infantil esta idéia, mas respeito. A humanidade já está mais do que crescida para andar com suas próprias pernas, e pai, só o pai biológico de cada um, ou a figura, que algumas vezes não é o pai biológico, que nós colocamos como fonte de inspiração e inconscientemente colocamos como o nosso pai. Mas sempre alguém humano, palpável.
    Sobre o tema outras dimensões, aí eu concordo contigo, e quero ler sim o livro do Issac Asimov. Apesar que a ciência já considera pacífica a existência de outras dimensões. Variando apenas para o meio científico o número de dimensões existentes, de 11 a 25 se não me engano, eu li sobre isto estes tempos, tenho que me lembrar aonde.
    É isto. Um grande abraço.

  23. Juliano Diz:

    Bom dia Vitor

    Refletindo sobre os últimos temas aqui abordados, e sobre o comentário que você fez dos espíritas holandeses no site Ceticismo Aberto. Deixo alguns pontos para reflexão.
    1º Se existe um contínuo após a morte do espírito, e algumas evidências são muito fortes que há, vide os últimos temas aqui abordados e outras evidências, apesar de não termos nada conclusivo. Por “n” razões que desconhecemos não há contato entre os planos, ou o mesmo é raríssimo e de difícil detecção; logo toda esta “psicografia” que existe aí, de “psicografia” não tem é nada. E se tem algo de psicográfico de fato se perde ante a imensa feitura não verdadeira de obras ditas como psicografadas;
    2º Também no outro plano, ao contrário do que dizem os espíritas e conscienciólogos, talvez não seja a organização perfeita onde tudo está no seu lugar. E esteja mais para o descrito pelos médiuns holandeses no livro “Erro Espírita”. Sem espíritos superiores, e se há alguns espíritos mais lúcidos, vamos dizer assim, também não podem fazer muita coisa ante a imensidão da coisa;
    3º Talvez a coisa seja mais ou menos como o Stevenson colocou. Fica-se pouco tempo no outro plano e já se nasce novamente. Podendo até se nascer em outro animal que não o humano (pois somos animais em essência dentro de uma escala evolutiva, e muita gente pouco difere de bicho, até é pior do que um bicho em verdade). E o “gap” de esquecimento de possíveis recordações passadas é muito forte. Vide que quantitativamente muito pouco gente se lembra de uma possível vida passada. Então nascer um cachorro ou um ser humano não muda muito.
    Gostaria se possível da tua opinião.
    Outra coisa, não esqueci do depósito pra te dar uma mão. Só fiquei me enrolando e cheio de conta e acabou o dinheiro, com a quinzena agora eu deposito e te aviso.
    É isto. Um abraço.

  24. Juliano Diz:

    Vitor

    Tomei conhecimento hoje da TCI – Transcomunicação Instrumental com espíritos. Eu tinha visto um filme sobre o tema, com o Michael Keaton, e achei meio forçado. Também gostaria de maiores informações da pessoa da Sônia Rinaldi e as possíveis evidências do seu trabalho. Notei que há um reconhecimento de uma instituição estrangeira sobre o mesmo. Porém, entrei no site dela, fiz algumas pesquisas na internet, e de conclusivo achei pouca coisa, só o prêmio que me chamou atenção. Gostaria de informações tuas sobre o processo TCI, e a figura da Sônia Rinaldi.

    Desde já agradeço
    Um abraço

  25. benedactilo Diz:

    Ola,
    Esqueci de recomendar a leitura do livro de Allan Gauld
    Meduinidade e Sobrevivencia.
    É um bom começo, para quem quer estudar o tema de verdade, antes de tentar uma opiniao mais radical.
    Na Estante Virtual ta barato:
    http://www.estantevirtual.com.br/seboespacocultural/Alan-Gauld-Mediunidade-e-Sobrevivencia-30298507

  26. carlos Diz:

    Olá Vitor,
    .
    Estive com o amigo espírita que me forneceu a entrevista onde o Chico Xavier (CX) admite que poderia ter se enganado ao psicografar mensagens de espíritos relatando vida no planeta Marte. A entrevista está transcrita no livro “Lições de Sabedoria – Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita” de Marlene R.S. Nobre.
    .
    O trecho de interesse diz o seguinte:
    .
    Acredita você (CX) que Humberto de Campos, então recentemente desencarnado, em 1939, quando foi recebida a mensagem de que trata a reportagem em Fatos e Fotos (edição de agosto de 1976), ter-se-ia enganado?
    XC – “Creio que não. Humberto de Campos, na Espiritualidade, sempre revela desde o princípio dos comunicados dele, por nosso intermédio, admirável lucidez. Muito mais razoável admitir que o erro, no assunto, se houve erro, deve ser atribuído à minha leviandade ou imperícia, no trato da mediunidade porquanto, no início da tarefa mediúnica, era eu uma pessoa com muita preocupação sobre a vida em outros planetas”.
    .
    XC continua – “Apesar disso, conservando essa certeza íntima e intransferível, posso perguntar tranquilamente a mim mesmo se em 1939 com uma diferença de 37 anos em minhas experiências de trabalho, não terei interferido inconscientemente na psicografia da mensagem do nosso distinto escritor, truncando nomes ou situações, sem a mínima intenção de me intrometer nas transmissões que vinham dele”.
    .
    E ainda:
    Você julga possível semelhante erro de sua parte?
    XC – “Como não? Nunca me apresentei por médium diferente dos outros. A ideia de infalibilidade numa criatura humana positivamente me assusta.”

  27. Vitor Diz:

    Oi, Juliano

    nas pesquisas de Stevenson e associados há pouquíssimos casos de pessoas que lembram a vida como animais. Até agora, os animais lembrados são um boi, um macaco, um pássaro, uma lebre e uma naja. Eu pessoalmente acho que não ficaria feliz em saber que a metempsicose ocorre de fato, mas…vai-se saber…

    sobre a Sônia, eu penso que, para atingir um patamar minimamente científico em sua pesquisa, ainda falta muito.

    Sobre TCI sou bem desinformado, só posso dizer que não conheço 1 caso forte sequer.

  28. Vitor Diz:

    Carlos,

    obrigado pela referência. Fiquei curioso em adquirir o livro. Talvez haja mais material que lance mais luz quanto ao passado de Chico. Você tem o livro? Acha que vale a pena adquiri-lo?

  29. Juliano Diz:

    Vitor

    Não sei se você vai lembrar, mas foi este detalhe da metempsicose (a menina (acho que é menina) que diz lembrar que tinha sido um boi na última vida) que fez o Eduardo Biasetto voltar para a sua crença. Se tornando mais radical que o Roberto, provavelmente já era. O orgulho e a limitação de visão é algo complicado. Mas, é aquela coisa, se existir a possibilidade da metempsicose (…) vai se fazer o quê? É isto.

  30. Carlos Diz:

    Vitor,
    .
    Tenho apenas uma fotocópia das páginas com a entrevista (p. 227 a 230). Não tenho o livro. Acredito, contudo, que o relato é valioso se pretendemos entender o que ocorre no processo de psicografia. Espero que você, Vitor, utilize um dia o farto material disponível no blog para compor um livro e responder a uma questão básica: há espírito em “obras psicografadas” ?
    .
    Juliano, há um grupo em Paris que trabalha com TCI faz um bom tempo. Dê uma olhada no site http://www.ifres.org

  31. Nobody Diz:

    Metempsicose

    611. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?

    “Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, do gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode, pois, dizer que tal homem é a encarnação do Espírito de tal animal. Conseguintemente, a metempsicose, como a entendem não é verdadeira.”

    612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?

    “Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”

    613. Embora de todo errônea, a ideia ligada à metempsicose não terá resultado do sentimento intuitivo que o homem possui de suas diferentes existências?

    “Nessa, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O homem, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas ideias intuitivas.”

    Seria verdadeira a metempsicose, se indicasse a progressão da alma, passando de um estado a outro superior, onde adquirisse desenvolvimentos que lhe transformassem a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta da alma do animal para o homem e reciprocamente, o que implicaria a ideia de uma retrogradação, ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão operar-se, entre os seres corporais das duas espécies, mostra que estas são de graus inassimiláveis, devendo dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as animam. Se um mesmo Espírito as pudesse animar alternativamente, haveria, como consequência, uma identidade de natureza, traduzindo-se pela possibilidade da reprodução material.

    A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao contrário, na marcha ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da sua própria espécie, o que em nada lhe diminui a dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que ele faz das faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida. Seja como for, a ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e, bem assim, a circunstância de a terem professado homens eminentes provam que o princípio da reencarnação se radica na própria Natureza.

    O LIVRO DOS ESPÍRITOS, PARTE 2ª – CAPÍTULO XI

  32. Vitor Diz:

    Nobody,

    sabemos perfeitamente que o livro dos Espíritos rejeita a metempsicose. A questão é: o que assegura que o Livro dos Espíritos está certo nessa questão? O Livro dos Espíritos já se mostrou errado muitas vezes.

  33. Juliano Diz:

    Boa tarde Vitor

    Sinceramente, o que me deixa com dúvidas sérias sobre a vida após a morte são os espíritas, aí incluo o pessoal da conscienciologia também. Li ontem e hoje sobre TCI. E o discurso atual é de contato como se pegasse o telefone e ligasse para o além quando bem se entende. Inclusive, segundo a Sônia Rinaldi já há no além uma Estação Transmissora do além para cá de mensagens. Maravilha.
    E aí eu pergunto. Será que seria tão difícil assim o Chico Xavier enviar uma mensagem falada para cá, via TCI, com um mínimo conjunto de frases do tipo: “Olha, estou bem, com minha querida mãezinha. Aqui é maravilhoso! Fiquem na paz de Deus! (…)”. E de posse desta mensagem, a mesma ser levada para um Instituto de Identificação Sério do Brasil, ou quem sabe até do mundo, para se comparar a voz do Chico aqui quando vivo e a voz vinda, em tese, do além? Inclusive para atestar se existe possibilidade de montagens? Algo óbvio no meu entender, mas que fica provavemente no meu entender apenas. Pra você também não parece óbvio isto? Que tal situação deveria ocorrer?
    Um abraço

  34. Carlos Diz:

    Juliano, permita-me um comentário…
    .
    Não é assim que a coisa aparentemente funciona. O elemento básico na comunicação é o médium. Vamos assumir a possibilidade da comunicação homens vs. espíritos. Nesse caso, o espírito transmitiria a mensagem ao médium que teria a missão de decodificar o pensamento, intenção, vontade do espírito. Se um espírito pretende mandar um abraço, por exemplo, o seu desejo precisaria encontrar um médium que “traduziria” aos vivos esse sentimento..
    O que me parece muito difícil, em qualquer situação, é separar o que é o pensamento do médium do que seria o pensamento de um espírito. Muitas vezes só há como avaliar muito tempo depois, quando a evolução do conhecimento é capaz de checar os conceitos e modelos de um médium ou grupo mediúnico cujas mensagens abordaram temas da alçada da ciência. Esse é o caso do Livros dos Espíritos, que pela leitura verifica-se que traduz o conhecimento médio do final do século 19. O mesmo ocorreu com Chico Xavier quando abordou o estado físico de outros planetas através da mediunidade; no caso de Marte, ele descreveu os famosos “canais construídos por engenheiros marcianos”. CX traduziu (consciente ou inconscientemente, não sei…) não mais do que o conhecimento aceito por parte da comunidade científica à época e que era condizente com a hipótese da “pluralidade dos mundos habitados”, essa um dos pilares do espiritismo. Como não há canais artificiais em Marte, ele admitiu (35 anos depois) que pode ter interferido na comunicação introduzindo seus próprios desejos e expectativas.
    .
    Mesmo a TCI precisa de um médium para obter resultados; sem ele, a coisa não vai… O desafio da mediunidade, e por tabela da TCI, é que não se consegue (re)produzir os fenómenos sob condições controladas. Seria esse um problema inerente ao processo de comunicação espíritos vs homens, ou tudo não passa de uma defesa natural do nosso instinto de sobrevivência?

  35. Juliano Diz:

    Carlos

    Não nego que até ontem não tinha conhecimento algum do processo TCI. E na verdade sei muito pouco ainda sobre o mesmo. Porém, sinceramente, não entendi a tua explicação. Como assim precisa de um médium pra colocar uma voz de um espírito, em tese do além, numa estação de rádio? Ou que apareça numa tela de computador. Creio que o que você quiz dizer é que o médium serve como mecanismo pra chamar o espírito. E este se faz presente numa estação de rádio, ou numa imagem no computador em face do médium. Mas se for isto, um médium então que chame o Chico Xavier. E ele que envie uma mensagem. Pois, segundo a Sônia Rinaldi, já existe, segundo os espíritos do outro lado, uma estação de transmissão de mensagens de espíritos de lá pra cá. Pra mim a coisa é simples. Ou faz ou não faz. Se não faz é por quê tem “boi na linha”, ou sequer tem “linha”. Fico no aguardo da tua resposta.
    Eu salvei num outro computador a entrevista da Sônia Rinaldi. Vou achar neste computador e copio e colo o que ela disse sobre uma estação de transmissão de mensagens de lá pra cá. É isto.

  36. Juliano Diz:

    Carlos

    Não nego que até ontem não tinha conhecimento algum do processo TCI. E na verdade sei muito pouco ainda sobre o mesmo. Porém, sinceramente, não entendi a tua explicação. Como assim precisa de um médium pra colocar uma voz de um espírito, em tese do além, numa estação de rádio? Ou que apareça numa tela de computador. Creio que o que você quiz dizer é que o médium serve como mecanismo pra chamar o espírito. E este se faz presente numa estação de rádio, ou numa imagem no computador em face do médium. Mas se for isto, um médium então que chame o Chico Xavier. E ele que envie uma mensagem. Pois, segundo a Sônia Rinaldi, já existe, segundo os espíritos do outro lado, uma estação de transmissão de mensagens de espíritos de lá pra cá. Pra mim a coisa é simples. Ou faz ou não faz. Se não faz é por quê tem “boi na linha”, ou sequer tem “linha”. Fico no aguardo da tua resposta.
    Eu salvei num outro computador a entrevista da Sônia Rinaldi. Vou achar neste computador e copio e colo o que ela disse sobre uma estação de transmissão de mensagens de lá pra cá.

  37. Juliano Diz:

    Acabei mandando uma mensagem repitida. Pois da primeira vez parecia ter dado erro. Mas a mensagem é a mesma. Vitor dá pra apagar uma delas. E isto é com você.

  38. Juliano Diz:

    Frase da Sônia Rinaldi numa entrevista para a revista IstoÉ:

    Mas, voltando à sua pergunta, percebemos que, porque hoje já existe uma Estação no Além que se destina a contactar o Brasil (e agora com expansão para outros países das Américas – conforme nos informaram há poucos dias), a caminhada de quem começa é bem mais fácil do que o início que tivemos que enfrentar.

    Ler mais: http://www.forumespirita.net/fe/transcomunicacao-instrumental/tci-publicada-na-isto-e-entrevista-com-sonia-rinaldi/#ixzz1BRaNgOqB

  39. Vitor Diz:

    É o fenômeno da globalização… interligando até o mundo do além…:)

  40. Carlos Diz:

    Juliano
    .
    A teoria da comunicação mediúnica afirma que é preciso um intermediário (médium), sempre, para que a comunicação se produza. Colocar a voz no rádio, deixar uma impressão na tela de uma TV, ou mesmo na “voz direta”, como relatado em alguns casos, como por Williams Crooks em seus estudos, requer algum tipo de “impressão” física na matéria. Na voz direta, por exemplo, é preciso uma vibração sonora numa frequência específica para que o ouvido humano registre o som. É aí que entra o médium tanto para fraudar como para produzir um fenômeno mediúnico autêntico.
    .
    Não há propriamente uma “voz direta” ou, como fantasia a Rinaldi, um transmissor de lá para cá… se fosse o caso, o enigma da vida após a morte que atormenta a humanidade desde sempre estaria resolvido faz tempo. A TCI pretende produzir uma comunicação com a mínima intervenção humana possível. Bem, os melhores resultados só ocorrem com um médium por perto; sem ele, nada feito…

  41. Juliano Diz:

    Vitor

    Pois é (…) está tudo globalizado agora! Mas como é para envio de mensagens aqui para o Brasil e América do Sul, a estação parece estar ainda com problemas técnicos ainda. Espera-se que logo logo sejam solucionados.

    Carlos

    No site Ceticismo Aberto fiz o mesmo questionamento, e a resposta foi outra. Não precisa de médium para ocorrer a comunicação via TCI.

  42. Carlos Diz:

    Juliano,
    .
    Existem linhas de pensamento divergentes sobre esse assunto. Alguns grupos que trabalham com TCI procuram obter o que poderíamos chamar de uma “comunicação limpa”, ou seja, sem médiuns. Se você olhar bem, no entanto, o que há é muita conversa e muito pouco resultado prático (ou mesmo nada convincente). Meu contato com a TCI começou no início dos anos 90 e, naquela época, já se escutavam estórias que do além haviam técnicos espirituais especializados que fariam a TCI deslanchar de vez… Quem sabe se o Steve Jobs retornar para o lado de lá a coisa comece a andar prá valer (para minha tristeza pq sou fã dos produtos da Apple!).
    .
    Abraço

  43. Rafael Diz:

    Minha Opiniao: Acho que o aassunto precisa ser mais estudado. Nao so me refiro a Chico ou a outros casos internacionais de reencarnacao, mas a tudo sobre o referido assunto, pois existem muitos argumentos a favor e contra a possivel ideia de reencarnacao, bem como sobre Chico, em que pese todas as provas mostradas aqui.
    Vou citar alguns pontos interessantes, talvez fundamentais para o estudo desse assunto sobrenatural.

    Ponto interessante 1- Porque nao ha psicografias de autores internacionais, como o presidente churchill(talvez tenha errado o nome, mas e aquele presidente da inglaterra durante a segunda guerra)

    Ponto interessante 2- Talvez nao exista reencarnacao, mas apenas transferencia de intelecto, por meios ainda nao conhecidos da ciencia, de informacoes e sentimentos de uma pessoa que acabou de morrer a outro vivo.

    Ponto interessante 3- Considerando a existencia do mundo dos espiritos, as informacoes erradas dadas nas psicografias nao poderiam ser propositais para mostra um anonimato(levando-se em conta que se todos soento ubessem da verdade traria sofrimento pra muita gente, o que nao e do interesse doo mundo espiritual.) Aqui vale mencionar que Chico descreve as colonias como muito mais populosas que o mundo no qual vivemos e dotadas de um governo com hierarquia e tudo mais, situacao esta que condiziria com esta ideia, especialmente se houver ordens de superiores no mundo espiritual, no sentido de preservar o anonimato)

    Ponto interessante 4- E comum encontrarmos em qualquer evento de vidas passadas, nao so no caso do chico chavier, falha em dados fornecidos pela personalidade anterior ou pelo espirito, o que seria possivel levantar a hipotese de a incoerencia de dado nao ser fraude ou alucinacao, mas sim falha de comunicacao, especialmente porque tal fenonemo vem acontecendo muldialmente e repetidamente.

    Existem muitos outros pontos a se discutir, mas pra comecar gostaria de levantar apenas estes

  44. Rafael Diz:

    correcao:
    onde tem: ponto interessante 4-o que seria possivel levantar a hipotese de a incoerencia de dado nao ser fraude ou alucinacao

    leia-se:o que seria possivel levantar a hipotese dessa incoerencia existente entre os dados fornecidos pelos espiritos ou personalidade anterior e o que foi encontrado no mundo real, nao ser fraude ou alucinacao

    onde tem: ponto interessante 3- (levando-se em conta que se todos soento ubessem da verdade traria sofrimento)

    leia-se: ponto interessante 3- (levando-se em conta que se todos soubessem da verdade traria sofrimento)

  45. Juliano Diz:

    Rafael

    Vários pontos mereceriam um maior aprofundamento. E na verdade o que se tem é uma quase que completa ausência de pesquisas dignas de nota. No meu entender particular, há fortes evidências que existe um algo a mais. Porém, creio que os contatos entre dimensões são raros. Não são a regra. Se fossem a regra´o contato já teria ocorrido. Vejo que a maioria destes pretensos “contatos”, destas “psicografias” é tudo conversa pra “boi dormir”. Muitas vezes até a pessoa está bem intencionada. Mas só isto.

  46. Rafael Diz:

    Exatamente isso que venho colocando Juliano.O aprofundamento ainda nao existe. Precisamos disso urgente. Nao podemos descartar perguntas importantes, sob pena de estarmos caindo em erros terriveis Veja só, se o mundo espiritual(observe que esse mundo é mais populoso, desenvolvido, caridoso e bondoso do que o nosso) tem intenção de manter um anonimato, isso para eles seria muito fácil, assim como civilizações mais desenvolvidas fácilmente podem enganar civilizações menos desenvolvidas, como ja aconteceu no passado com os indios e as civilizações europeias.

    Ora, se tal informação procede, a intenção manifesta pelo anonimato, estariamos todos errados em afirmar que nao exste tal mundo, bem como apenas estariamos sendo manipulados por uma civilização superior(eu sei parece viagem, mas se pararmos pra pensar isso pode acontecer) diga-se de passagem que as vezes encontramos casos que todos os dados batem com os dados na vida real, mas nao se descobre o nome real da pessoa.

    Um lembrete do passado nao muito distante, em termos historicos é claro, quando newton declarou a existencia da teoria gravitacional, todos os ridicularizaram, criou-se ate mesmo quadros que mostravam deboxes da cara de newton, onde ele aparecia no ar com várias mãos o puxando para baixo, no quadro as mão simbolizavam a gravidade e newton o ridiculo.

  47. Rafael Diz:

    Como dizia a MInistra Ellen Grace, ex presidente do STF, antes de jugarmos, devemos tomar cuidado para nao cometermos erros do passado.

  48. Juliano Diz:

    Rafael

    Antes de mais nada, estou chegando do cinema agora. Saí sem um lugar pra ir e acabei tendo o privilégio de assistir o filme “Além da Vida”, do diretor, “pouco conhecido”, rsrs Clint EastWood. Tem tudo a ver com as nossas buscas. O filme é fastástico. Além de emocionante.
    Sobre o seu comentário, sinceramente eu não vejo o por quê do não contato entre as dimensões em face de no outro plano haver mais desenvolvimento. Eu acho que é uma questão de limitação mesmo! E também pois a primeira coisa que nós aqui temos que fazer é viver a vida! Nós vivemos muito pouco a nossa vida!
    Também creio que um maior contato não existe também, pois, no meu entender, tanto do lado de lá, como do lado de cá, há poucos espíritos de fato lúcidos, mais autoconscientes da coisa toda, desgrudados de misticismos e radicalismos de toda ordem. Porém, ao contrário do discurso que eu ando vendo por aí, o “Zeitgeist” do momento começa a tornar possível pelo menos se ter em breve uma prova concreta aceita pela ciência, pelo menos parte dela, do outro plano.
    É isto

  49. Juliano Diz:

    “Nada, nem todos os exércitos do mundo podem barrar uma idéia cujo tempo dela chegou.” Victor Hugo

  50. Rafael Diz:

    Se tal mundo existe, penso que limitação nao seria o problema.
    Olha um exemplo, tenho um vizinho que é pastor da igreja evangelica a 20 anos. O cara vive e dorme religião. Apesar disso ele é simpatico inteligente e bom de conversa. Algumas vezes eu e ele tiramos tempo pra conversar sobre a vida e a religião.
    Apesar dele vive mencionando a biblia como norma do que seja certo ou errado, eu sempre digo a ele que a biblia é produto de uma guerra religiosa que exsitia na sua epoca, nesse tempo, disputavam as religiões pelos fieis, no ringue tinhamos os budistas os cristãos e os islamicos. Nascida do concilio de trento, onde autoridades religiosas se juntaram pra decidir o conteudo da biblia, o objetivo dela era conquistar fieis. Isso tudo que eu falei esta como fato pacificos, sendo possivel achar diversos dados historicos que comprovam isso.
    Infelsimente, o contra argumento dele é um desmotivador, ele diz que nao é verdade nada disso, que os dados que comprovam isso sao todos falacias, sendo apenas coisa do capeta.

  51. Rafael Diz:

    Fico imaginando como esse meu vizinho reagiria se a ciencia comprovasse por A + B que o mundo espirita existe. Pra ele seria o fim do mundo. Provavelmente ele iria ter odio e discordia da maioria das pessoas. Muito provavelmente, outros amigos deles diriam que ele perdeu 20 anos da vida dele se dedicando em algo errado.
    Talvez até mesmo teria pessoas que iriam debochar dele.
    Talvez tivesse que fechar as portas da igreja. Perderia fieis. E isso com certeza teria repercussao na vida profissional e pessoal familiar.

    Se isso tudo e preucupante, imagina só se a nação mais poderosa do mundo, leia-se EUA, onde quase todos sao protestantes passasem pela mesmo coisa. Imagine só nao apenas tal fenonmeno nao acontecendo com os cristão(catolicos e protestantes) mas em escala global, com inumeras outras religiões.

    Por tudo isso penso que é do interesse dos lideres da tal mundo preservar o anonimato. E uma questao de amar o proximo, nao apenas de mero capricho

  52. Juliano Diz:

    Rafael

    Permita-me discordar do teu posicionamento. Posso estar enganado, mas provavelmente um posicionamento da ciência neste sentido de aceitação mediante provas incontestáveis da continuação do espírito em nada iria mudar a opinião do teu amigo pastor e dos crentes de modo geral a respeito da religião. Veja o caso do debate evolucionismo x criacionismo. A ciência já provou por A + B que Darwin estava com a razão, e o Adão e Eva bíblico é um grande mito. No entanto, as igrejas refutam tal constatação científica. E o teu amigo pastor por óbvio deve refutar também. Em síntese, não iria mudar nada.

  53. Juliano Diz:

    Rafael

    Outra coisa. Eu faço Psicologia, e vendo a vida cada vez me convenço que é uma dificuldade tremenda, inclusive pra mim e pra você, ver o outro, se comunicar de fato com o outro. Nós vivemos, literalmente, olhando pro nosso umbigo. Então a gente pensa: – Puxa vida. Mas alguém ainda acreditar em Adão e Eva? Nas histórias bíblicas? Isto é uma loucura! – Mas o universo daquela pessoa é este. Nós temos uma dificuldade terrível de ver o outro pelo olhar do outro. Vemos sempre as coisas, o mundo, o outro, pelo nosso olhar. E o mesmo se diz do outro com relação a nós. Em síntese, há muito pouca comunicação de fato entre as pessoas. Ainda mais entre diferentes abissais.

  54. Juliano Diz:

    Rafael

    Por fim, cada vez mais me convenço que o descortinar entre o nosso plano dimensional e outra dimensão não ocorrem pois interessa muito pouco tal situação. Você veja este filme, “Além da Vida”. O filme é uma pérola. No entanto, observe o grau de debate sobre o mesmo? Praticamente nenhum. Poucos estão interessados de fato em tal temática. E a maioria que se interessa só o faz em face de alguma desgraça na família. Chega a ser frustrante! E aí você fala dos Estados Unidos. De fato, lá 80% da população americana abomina tais discussões, e tão conservadora quando 80% da população daqui. Mas são os 20% restantes dos americanos que pelo liberalismo que possuem, pela visão espiritualista não religiosa, pelo interesse na pesquisa e enfoque pragmático que possuem que são ainda quem faz alguma diferença em termos de avanço no nosso campo de interesse.
    Aqui no Brasil está cheio de pessoas dizendo, dos nossos 20%, como é o além, distribuindo conselhos e diretrizes, mas pesquisa, dados empíricos, vídeos realmente interessantes com situações concretas o que temos? Absolutamente nada!! Veja o youtube: Temos apenas algumas “incorporações” do tal Bezerra de Menezes pra lá, e bem pra lá de duvidosas. É isto.
    Obs: Vou postar alguns vídeos do youtube no próximo comentário bastante interessantes.
    Um abraço

  55. Juliano Diz:

    Rafael, seguem os vídeos.

    http://www.youtube.com/watch?v=DN8-3PAlyqw
    http://www.youtube.com/watch?v=YxMlnhIv7mw
    http://www.youtube.com/watch?v=G4EKI4tflk4

    http://www.youtube.com/watch?v=LSom88R4BIE
    http://www.youtube.com/watch?v=r0DlNNoxCfU
    http://www.youtube.com/watch?v=hj6PDN2t2xI

    http://www.youtube.com/watch?v=X1O7e3e6yg0

    Os vídeos das meninas possuem algumas bobagens, principalmente os conselhos da terapeuta e do “médium”. Mas alguns trechos são impressionantes! Do primeiro vídeo pode até ser uma falha na câmara, mas não deixa de ser impressionante.

    É isto. Um grande abraço

  56. De Minas para o mundo espiritual, quem foi Chico Xavier? « METROPOLIS Diz:

    […] Texto na íntegra: http://obraspsicografadas.haaan.com/2011/reflexes-xavierianas/#more-515 […]

  57. Toffo Diz:

    Chegando agora, depois do calor da liça… de qualquer forma, não posso deixar de consignar aqui a minha admiração pela lucidez e o brilhantismo do texto do sr. Fernandes.

    Ex-espírita, hoje cético; nascido de pai e mãe espíritas militantes, leitor voraz e profundo conhecedor das obras de Kardec – li até a série inteira da Revista Espírita, de 1858 a 1869 – e dos livros de Chico Xavier; tendo conhecido Xavier pessoalmente, e até me correspondido com ele na adolescência; não acreditando muito em espíritos, mas defensor ardoroso da espiritualidade, no sentido de ser esta o repositório de todo o nosso patrimônio imaterial, posso dizer que senti a alma lavada ao ler o que o Sr. Fernandes escreveu sobre Públio Lentulus e sobre seu criador, Xavier. É o que eu sempre senti mas nunca consegui expressar.
    E vou talvez um pouco além: muito se sabe a respeito da personagem Chico Xavier, mas pouco sobre quem realmente ele era, isto é, quem era o homem por trás da personagem. Por tudo que sei e li dele, posso arriscar que Xavier não era apenas o monge disciplinado e dedicado à causa: ele tinha, sim, um projeto, e o executou fielmente até o fim de sua vida: ser grande. Não era dinheiro que ele buscava, mas a fama e o prestígio, o que ele conseguiu. Milhões de adeptos de uma doutrina que ele praticamente criou, adaptando o espiritismo kardecista à sua maneira, criando personas, ou heterônimos, à medida que seu projeto avançava: ele próprio, o humilde inculto; o seu alter-ego professoral e mentor, Emmanuel; André Luiz, o médico; Meimei, a pedagoga; e assim vai. Foi deixando criar lendas e mitos a seu respeito e a respeito de seus personagens, e acabou construindo um império material (com seus livros) e imaterial (com sua doutrina), que tem hoje uma força avassaladora no Brasil – mas só no Brasil. Chico me parece o Grande Manipulador – um homem de boa índole, sem dúvida, mas quem diz que um homem de boa índole não pode igualmente ser um grande manipulador?

  58. Maria Heneyda Diz:

    A historiografia é o campo do impreciso, versões historiográficas são interpretações. Especialmente no que tange à historiografia sobre Roma, é enorme o que não se sabe. Então, pra mim, é uma questão de dar crédito a Emmanuel ou a outros cronistas do período. Sobre número de habitantes, de mortos, isso até hoje é dificil por vezes de determinar com alguns dias passados. Só convivendo com a historiografia sobre a arqueologia como eu pra conhecer suas frágeis pretensões de verdade. No máximo, verossimilhança. Agora, o argumento de plágio não se sustenta, as semelhanças seriam possíveis com qualquer outro texto, paráfrases são possíveis… Fica pra mim parecendo aquele pessoal que quer encontrar traços de hindo-europeu no alemão arcaico….conjectura mais do que tudo…..Então, qual a diferença? Se há um campo movediço pra se questionar o livro é o impreciso da historiografia sobre o período. E o mais interessante é que o autor cita a historiografia que questiona os dados e não a que os corrobora. Os argumentos em favor e contra a população de Roma são equivalentes. A arqueologia vai e vem… E, quem questiona a nomenclatura também dá crédito a autores, e, o pior, desconhece que “Ha dois mil anos é um romance histórico…, não uma obra de historiografia positivist”. Se seguirmos a regra dos outros romances psicografados por Chico os pseudônimos são comuns….

  59. Maria Heneyda Diz:

    Essa do tamanho físico de Emmanuel materializado me poupem, é ingênua demais, parte de quem não leu sobre materialização…Até eu que não sou espírita, mas, curiosa, me pouparia de uma ingenuidadedessas…kkk…Argumentar que Emmanuel se materializou com 1,91 é falta do que falar…Geralmente, pra os espíritas, o corpo nunca se materializa tal qual era na Terra…
    E, quanto à acusação de plágio, sugiro levá-la aos tribunais pra ver se ela se sustenta. Nem paráfrase me parece…. Se querem questionar, o façam de forma mais consistente. Está muito emocional, e os argumentos pretensamente historiográficos partem de uma noção de verdade historiográfica positivista tão frágil do ponto de vista da Academia quanto verdade “religiosa.” Aliás, prefiro a segunda, sincera, do que crítica historiográfica mal feita, mal argumentada, etc…

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