Crimes e Desaparecimentos resolvidos com a ajuda de médiuns ou psíquicos – Parte 4 (2004)

Este texto é a resposta de um cético ao artigo publicado neste link.

 

Uma médium identificou um assassino?

Uma investigação por Tony Youens e Adrian Shaw 

Introdução

No artigo abaixo eu desafio a ideia que uma médium, por contato direto com a vítima morta, identificou um assassino 18 anos antes da sua condenação. Ao fazer isso, eu estou ciente do fato que os parentes da vítima ainda estão vivos, e que eles podem se sentir desconfortáveis para aquilo que é essencialmente uma intromissão não autorizada. Contudo, o caso foi investigado por membros da Society for Psychical Research [Sociedade para a Pesquisa Psíquica], os quais estão convencidos de que ele apresenta forte evidência para a sobrevivência após a morte e pretendem publicar um relatório completo (agora publicado – Fev 2004). Fui desafiado a fornecer um registro mais racional do que aconteceu e Adrian Shaw e eu decidimos realizar nossa própria investigação puramente como uma resposta a esta alegação paranormal. Em certos momentos eu não identifiquei a todos pelo nome para proteger a privacidade das pessoas.

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Jaqueline Poole

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Índice:

Panorama do caso

A intervenção sobrenatural no caso

Meu interesse no caso

Uma teoria alternativa

O que Holohan realmente disse?

Holohan ajudou a investigação?

Quem resolveu este caso?

Resumo

Um apelo

As notas de Tony Batters feitas durante a entrevista com Holohan

Outros links relevantes

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Panorama do caso

Na sexta-feira de 11 de fevereiro de 1983, Jacqueline Poole, 25 anos, foi molestada sexualmente e em seguida estrangulada até a morte no sofá do seu apartamento em Ruislip, West London. O seu corpo foi descoberto no domingo, dia 13, depois que o pai do seu namorado ficou preocupado por ela não estar respondendo à porta. A polícia foi chamada, e depois de arrombar o local, descobriu o corpo.

Uma grande quantidade de joias foi roubada, à qual a equipe de investigação do assassinato, liderada pelo Detetive Superintendente Tony Lundy, estava ansiosa por recuperar. As joias nunca foram achadas. A investigação continuou por cerca de 15 meses, mas acabou por ser encerrada, tendo o assassino aparentemente escapado à justiça.

Em 1999 o caso foi reaberto, desta vez encabeçado pelo Inspetor Chefe Detetive Norman McKinlay. Durante esses 16 anos de intervalo a ciência forense avançou consideravelmente, e a análise do DNA agora estava disponível. Usando uma nova técnica conhecida como ‘Low Copy Number’ (LCN) a polícia pôde obter um perfil do DNA a partir de vestígios muito pequenos de DNA. As amostras coletadas na época do assassinato foram submetidas para análise e um suspeito chamado Anthony James Ruark (apelido “Pokie”) foi subseqüentemente identificado e acusado. Na sexta-feira de 24 de agosto de 2001, em Old Bailey, Ruark finalmente foi condenado. 

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Christine Holohan

Veja uma notícia da BBC em: http://news.bbc.co.uk/1/hi/uk/1507701.stm 

O caso para a intervenção do sobrenatural 

Num artigo publicado na The Police Federation Magazine, Tony Batters escreveu sobre um aspecto extraordinário do caso que não foi revelado à época. Uma médium local chamada Christine Holohan contactou a polícia durante a investigação de 1983 dizendo que ela tinha informações referentes ao assassinato. Tony Batters foi o guarda da polícia que chegou primeiro ao local quando o corpo foi descoberto.

Tony Batters e o detetive da polícia Andy Smith entrevistaram Christine Holohan, que afirmou ter sido contatada pelo espírito da mulher assassinada, Jacqueline Poole. Após entrar em transe, os dois oficiais ficaram surpresos pelas informações detalhadas fornecidas por Holohan. Ela não só descreveu a cena do assassinato como pareceu saber muitas informações pessoais da vítima. Por exemplo, ela mencionou seu divórcio, que ela sofria de depressão e que acabara de receber uma receita fornecida por seu médico. Ela também sabia o seu nome de solteira (Hunt). Mas isso não foi tudo. Ela forneceu uma descrição detalhada do assassino e por meio da escrita automática escreveu o nome “Pokie”, o qual agora sabemos ser o apelido do assassino. Em relação às jóias perdidas ela escreveu “jardim”. Batters afirma que de cerca de 130 pontos feitos por Holohan, mais de 120 se mostraram corretos. Os dois oficiais acharam isso tudo bastante notável, mas o que aparentemente os convenceu foi uma leitura psicométrica improvisada feita por Holohan ao detetive da polícia Andy Smith, em que ela lhe disse informações bastante pessoais, às quais ela não poderia ter sabido antes do encontro.

Este caso agora foi investigado por Montague Keen e Guy Playfair, da Society for Psychical Research, os quais parecem convencidos que ele representa evidência sólida de comunicação pós-morte. A base desta alegação é que seria impossível para Holohan ter obtido essas informações por meios normais e, portanto, devem, por exclusão, ser paranormais. Eles acreditam que deve ter sido telepatia ou mediunidade. Outro aspecto secundário desta hipótese parece focalizar num pulôver que foi recuperado do caixote do lixo de Ruark, após uma busca pelos agentes da polícia. Eles afirmam que sem a recuperação oportuna deste pedaço de vestido Ruark bem que poderia ter escapado da justiça mais uma vez. Montague Keen emitiu uma declaração que foi citada num fórum de discussão (o Fórum da JREF).

Concernente ao pulôver, ele diz

“…mas o fato é isso, sem a ajuda das declarações da médium, a polícia não teria recuperado o pulôver ou entrevistado e tomado os depoimentos de todo mundo com quem Ruark esteve em contato naquela noite. Nem, de acordo com Tony Batters, teriam eles averiguado todos os movimentos de Ruark durante a quinzena anterior”. 

Ele então elabora mais ainda;

“O pulôver revelou-se vital, já que foi a sua única peça de roupa retida pelos forenses, e ela lhes revelou muitas trocas de sangue e de saliva Jacqui Poole. Isso provou tratar-se de um ato de violência, ao contrário de um ato de intimidade, como ele alegou em sua defesa perante o júri.”

Acredito que o exposto acima resume exatamente e de forma clara o caso para os crentes. No tempo em que foi escrito, o relatório de Keen e Playfair ainda não tinha sido publicado. Quando for eu posso adicionar algo ao referido acima.

Meu interesse no caso

Eu fiquei interessado neste caso após um email do Professor Chris French (Ver: http://www.goldsmiths.ac.uk/apru/) o qual buscava informações sobre este caso. Meu pensamento inicial era de que Holohan tinha obtido essas informações passadas para ela por alguém que queria alertar a polícia quanto à identidade de “Pokie” Ruark mas permanecer anônimo. Ainda pode haver alguma verdade nisso, mas uma investigação mais aprofundada mostra que há muito mais. Eu devo declarar neste momento que há uma possibilidade muito pequena de alguém provar conclusivamente que qualquer teoria particular seja a correta, contudo a tarefa que Adrian e eu nos propusemos a fazer era descobrir se uma explicação natural alternativa era possível.

Comecei a me interessar mais ainda no caso depois de Montague Keen mencionou-o na The Skeptic Magazine e pediu, um tanto retoricamente, por uma explicação não-paranormal. Obtive fotocópias dos artigos publicados nos jornais locais da época e busquei ao máximo outras informações já que muitas estavam prontamente disponíveis na Internet. Em seguida minha carta foi publicada na The Skeptic, à qual Montague Keen mais tarde respondeu. Foi pouco depois disto que fui contatado por Adrian Shaw, um membro da ASKE, atualmente servindo como detetive de polícia, que compartilhava de um interesse no caso. Decidimos trabalhar juntos e compartilhar nossas informações e começamos por identificar as pessoas que tinham trabalhado no caso buscando sua ajuda.

Tony Batters muito bondosamente forneceu-me uma cópia das suas notas junto com como elas se relacionavam ao crime. Trocamos numerosos emails. Minha impressão era que Tony Batters, embora convencido pela explicação paranormal, estava sempre pronto para escutar meus argumentos e foi extremamente útil em várias ocasiões. Acredito que ele e eu essencialmente concordamos sobre os fatos mas chegamos a conclusões diferentes. Seu papel durante a investigação original foi em grande parte administrativo mas ele sente que isto lhe deu uma boa visão geral do caso e ele foi um dos poucos oficiais que permaneceram envolvidos até o fim.

Adrian Shaw falou com o Inspetor Chefe Detetive Norman McKinlay bem como com o detetive que originalmente levou Ruark para o interrogatório e também quem recuperou o pulôver do seu caixote de lixo. Consegui contatar o ex-Detetive Superintendente Tony Lundy que agora vive na Espanha. Lundy foi o oficial encarregado da investigação original e McKinlay cuidou da re-investigação de 1999. Contatamos outros oficiais, que ou não desejavam discutir o caso ou nunca retornaram as nossas chamadas.

Uma teoria alternativa

O argumento para a hipótese paranormal conta com a aparente falta de oportunidade para Holohan ter adquirido suas informações por meios normais. Eu sugiro que se pudermos mostrar que era possível para Holohan fornecer as informações sem o recurso da mediunidade então, como essa é a explicação mais simples*, deve ser considerada como a mais provável. Contudo seria verdadeiro dizer que algo justo é possível não segue que isso é o que realmente aconteceu.

(*Por “mais simples”, eu quero dizer no sentido da Navalha do Occam, “a pluralidade não deve ser proposta sem necessidade.”)

Antes de explicar nossos resultados deixem-me resumir o que Adrian e eu acreditamos ser a série de acontecimentos em 1983;

Sexta-feira, 11 de fevereiro de 1983: Jacqueline Poole é assassinada em algum momento durante a noite, aproximadamente às 21 horas.

Domingo, 13 de fevereiro de 1983: O corpo é descoberto pelo guarda policial Batters após uma chamada do pai do namorado atual de Jacqueline Poole que ficou preocupado por ela não responder à porta.

Segunda-feira, 14 de fevereiro de 1983: Ruark voluntariamente comparece à delegacia local para fazer uma declaração seguindo um apelo da polícia para aqueles que a conheceram apresentarem-se. Esta informação foi fornecida por Tony Batters e parece discordar com o relato de outras pessoas ligadas ao caso. Contudo estou feliz em supor que esta data está correta agora. Infelizmente lidamos com acontecimentos que aconteceram há 20 anos e compreensivelmente as memórias desaparecem.

Terça-feira, 15 de fevereiro de 1983: Um Sargento Detetive local que age como “oficial de contato de bares” faz pesquisas em alguns bares locais. Enquanto no The Windmill é-lhe sugerido que a pessoa com quem ele deveria falar é “Pokie” Ruark. Num golpe de sorte este Ruark visitou e entrou na cervejaria. O detetive então põe Ruark num carro de patrulha e o leva para um interrogatório. Ruark tem arranhões em suas mãos, o que ele mais tarde ele alega ter vindo de sua motocicleta.

Também nesta data o assassinato é mencionado em resumo na primeira página do Hillingdon Mirror, descrevendo Jacqui Poole como uma “divorciada local”.

Neste ponto eu estou inseguro quanto a quando Ruark foi liberado. Durante a investigação Ruark foi detido várias vezes, mas eu não tenho os detalhes exatos.

Quinta-feira, 17 de fevereiro de 1983: O detetive da polícia Andy Smith e o policial Tony Batters visitaram Holohan e anotaram suas informações. Eles ficaram impressionados pelo seu conhecimento do caso e o fato de que ela forneceu informação exata sobre o detetive policial Smith durante uma leitura improvisada de psicometria. O jornal local The Ruislip e o Northwood Gazette correram uma história de primeira página sobre o assassinato e junto com um retrato de Jacqui dá uma lista das joias tiradas de seu apartamento. Veja aqui para uma cópia (sem foto).

Sexta-feira, 18 de fevereiro de 1983: Ruark é detido e durante uma procura de suas instalações um pulôver é descoberto num caixote de lixo e a evidência retida. Aliás, isto pode ter acontecido mais cedo, mas nós não podemos estar seguros.

É seguramente razoável supor que este assassinato foi o assunto de intensa fofoca local. Particularmente em lugares como The Windmill, que não somente foi o local em que Ruark foi levado, mas onde ele também regularmente bebia com sua namorada bem como faziam Jacqui Poole e seu namorado. Jacqueline Poole tinha um círculo grande de amigos e conhecidos, incluindo um amigo próximo que contou à polícia da rejeição de Jacqui Poole das tentativas de Ruark de flertar com ela junto com uma grande quantidade de informação pessoal sobre a própria Jacqueline.

(14.10.06. Em ‘A Voice from the Grave’ Holohan reconhece que ela ouviu duas mulheres discutindo o assassinato, na manhã de segunda-feira – três dias antes de ela ter contatado a polícia)

Neste ponto o endereço de Christine Holohan torna-se muito significativo. Ela vivia apenas a 2 km de The Windmill Pub.

Concernente à real informação que Holohan forneceu sobre a vítima e o seu assassino eu retorno em um momento, mas quanto à leitura psicométrica dada ao detetive da polícia eu receio que eu a descarto simplesmente a leitura fria fazendo seu trabalho. A polícia, tanto quanto qualquer um, pode ser enganada. Até onde sei não há notas contemporâneas sobre o que foi realmente dito em vez do que foi lembrado. Se a informação era o que eu penso que era então posso ver por que o detetive ficou impressionado mas a forma como ele interpretou as palavras de Holohan pode não ser o que ela realmente tinha pretendido. Que ele ficou surpreso eu não tenho nenhum dúvida mas por si mesmo isto não é muito convincente. Embora Andy Smith pareça ter prontamente auxiliado a SPR ele se recusou a discutir o assunto comigo ou com Adrian.

De acordo com o Inspetor Chefe Detetive McKinlay que falou com Adrian não há registros oficiais deste encontro, mas Tony Lundy de fato se lembra de discutir com Holohan e perguntando se ela poderia fornecer alguma informação que eles já não soubessem, tal como a localização das joias perdidas. Aparentemente ela não podia, o que é uma pena, já que isto teria sido de uso considerável para a equipe de investigação. Lundy permaneceu pouco impressionado.

Em minha primeira conversa com Lundy ele disse que as suspeitas caíram imediatamente sobre Ruark e ele foi mantido sob custódia nas primeiras 24 horas da investigação e teria sido durante esse período que as instalações de Ruark foram vasculhadas e o pulôver “vital” descoberto (à época se um suspeito era preso nenhum mandado de busca era exigido). Isto teria sido ao menos 3 dias antes de Holohan ser entrevistada. O oficial que levou Ruark (mas não realmente preso) também pensou ter isto acontecido dentro das primeiras 24 horas. Contudo, de acordo com Tony Batters, Ruark compareceu voluntariamente na primeira segunda-feira, mas ainda que isso não tenha acontecido até terça-feira isso ainda seria dois dias antes de Holohan ser entrevistada.

Das informações acima vê-se que certamente seria possível para Holohan obter ao menos alguma informação. Jacqui Poole sem dúvida alguma teria sido discutida em algum detalhe bem como Ruark. Ambos Tony Lundy e Norman McKinlay disseram que era conhecimento comum que Ruark foi considerado um suspeito. Na época Holohan tinha 22 anos de idade e vivia com a sua irmã. A probabilidade é alta de que elas teriam se misturado com outras pessoas de uma idade semelhante. Em 1983 Ruark também tinha 22 anos. Contudo Holohan veio com outros detalhes que ajudou a causar uma impressão em Tony Batters e seu colega.

O que Holohan realmente disse?

Tony Batters generosamente deu-me permissão para publicar suas notas que agora podem ser lidas aqui. Se você retirar todas as referências pessoais sobre Jacqui Poole e Anthony Ruark, o que eu acredito teria sido fácil de descobrir a respeito no The Windmill e em outros bares locais, as notas são reduzidas bem drasticamente. Há também algumas referências às joias tal como a St. Christopher que foi mencionada no jornal local (aqui). Holohan também fornece detalhes sobre o crime e como seria desagradável para a sua família ter isso debatido em público este texto foi retirado. Não obstante, certas coisas podem ser inferidas do que foi declarado no artigo de jornal acima, i.e., de que ela apanhou, foi estuprada e estrangulada. É impossível saber que tipo de informação foi discutida publicamente pelos muitos amigos e familiares que conheceram Jacqui Poole. As pessoas gostam de bancar os detetives amadores e aspectos do crime podem ter sido discutidos. Isto é apenas conjetura da minha parte e de Adrian e nós deixamos outros livres para discordar.

Há alguns itens triviais que impressionaram Batters e seu colega e ultimamente Montague Keen. Por exemplo:

“2 xícaras na cozinha. 1 lavada. Ela fez uma xícara de café”

O que estas palavras realmente querem dizer? De quantas maneiras elas podem ser interpretadas? Elas dizem que Jacqui Poole só tinha duas xícaras em sua cozinha inteira? Uma num armário ou uma na superfície de trabalho e a outra lavada na tábua de escoar? Ela fez café para o assassino, um amigo? Ou talvez queira dizer que ela fez café para si mesma. Quando ela fez o café?

Tony Batters encaixou as observações aos fatos, “Cozinha 1ª à esquerda do corredor quando se entra. Duas xícaras à vista, outras guardadas. Uma lavada e de cabeça para baixo na tábua de escoar. Outra xícara suja, um quarto cheio de café.”

O que quer que se tenha querido dizer por este trecho particular de futilidades não forneceu qualquer informação relevante concernente ao crime. É completamente possível que isto fosse simplesmente uma suposição. Em seu artigo, ao se referir a algumas das informações, o próprio Batters diz, “Isso pode ter sido apenas suposição.” Eu tendo a concordar. Insatisfatória como pode parecer essa sugestão, permanece a possibilidade que, ainda que estivesse errada, seria difícil desmenti-la. Se uma xícara, lavada ou suja, fosse encontrada, a declaração de Holohan ainda se encaixaria? Há outra possibilidade. Quando o corpo foi descoberto, o pai do namorado de Jacqui Poole entrou nas instalações com Tony Batters. Talvez ele tenha visto algo e talvez não, mas o apartamento era bastante pequeno e isto permanece uma possibilidade. Talvez ele tenha olhado pela janela (até sei a janela frontal do apartamento dá para fora da cozinha). Este homem foi também um das últimas pessoas a ver Jacqui viva e deixou seu apartamento cerca de uma hora antes do assassinato. Estas xícaras estavam aí no tempo? Eu não sei, mas se estavam então obviamente ele já sabia sobre elas, e se não estavam ao vê-las depois ele pode ter pensado que isto era significativo. Naturalmente que ele não simplesmente correu para fora e contou tudo para Christine Holohan, mas talvez se as xícaras tivessem-no deixado confuso ele poderia tê-las mencionado para alguém.

Para ser justo eu não posso descartar isso completamente, e nem é provável que eu o faça, mas se todos os outros detalhes forem retirados a polícia ficaria tão impressionada com a informação que restou? Eu pessoalmente duvido.

“2 homens a chamaram mais cedo. Ela não quis ir.”

De acordo com comentários de Tony Batters duas pessoas estavam obrigadas a levar Jacqui ao seu novo trabalho temporário no bar na Whispers Night Club e ligaram para ela às 19h45min. Também de acordo com as mesmas notas o pai de seu namorado não foi embora até as 20h05min e assim pode ter sabido sobre os telefonemas anteriores. Ou porque ele estava lá ou porque ela lhe contou depois. Novamente, ele mencionou isto a mais alguém?

O conteúdo real de Tony Batters soa suspeitamente como leitura a frio para mim. Como Adrian notou, às vezes Holohan fala como se ela fosse Jacqui Poole contando as coisas diretamente pela médium enquanto em outras vezes ela escorrega de volta para a terceira pessoa. Ela diz coisas como, “Você pegou o grupo correto” em vez de, “Você tem o homem correto sob custódia desde a segunda-feira passada.”

Em seu artigo Tony Batters escreve, “Ela sabia que no curso de assaltá-la, o assassino deixou dois dos muitos anéis que ela sempre usava.”

De acordo com as notas de Batters o que ela realmente disse foi, “Alguém sabe sobre as joias. Ela teve algumas roubadas. Algumas sobraram. Havia lá algum anel além desses dois?”

Lembre-se de que o roubo das joias foi informado extensamente no jornal local então os comentários gerais sobre elas não são notáveis. Ela na verdade não diz que dois anéis foram deixados para trás. Estas notas foram tomadas de uma declaração verbal. Talvez Holohan tenha realmente dito, “… Havia lá outro anel além destes também?”[1] o que foi então mal compreendido por Batters. Como estas joias jamais vieram à luz, a declaração sobre “alguém saber” a respeito pode também estar errada. Tony Lundy sente-se seguro que tivesse ele tentado vendê-las, algo eventualmente teria emergido.

Holohan ajudou a investigação? 

Muito foi feito do pulôver recuperado do caixote de lixo de Ruark e como se não fosse pela informação de Holohan este poderia nunca ter sido preso. Mas quão significativo este pedaço de evidência foi na verdade? Quando perguntado por Adrian Shaw, o Inspetor Chefe Detetive McKinlay não podia nem mesmo lembra-se do pulôver. Tony Lundy se lembra de “fibras” sendo mencionadas no julgamento mas ele e McKinlay são enfáticos que a condenação foi alcançada pela evidência do DNA do sêmen e da pele achada embaixo das unhas das vítimas. O pulôver não exerceu nenhum papel, e ainda que tenha exercido, não foi devido a algo que Holohan tenha dito. Eu acho curioso que Holohan tenha dado uma boa descrição detalhada de Ruark, mas nem uma vez ela escreve o que ele usava no momento. Se este pulôver era de tal importância por que ela não disse o que ele usava? Uma explicação pode ser porque ela não sabia. O que Tony Lundy está seguro, e ele tem reafirmado isto inequivocamente, é que nunca durante a investigação ele tomou qualquer ação baseada na informação fornecida por Holohan. Ele apenas seguiu sempre o procedimento normal da polícia.

Poderia ser argumentado que Lundy mandou cavar vários jardins, mas nesse caso tudo o que fez foi desperdiçar o tempo da polícia. Eu não posso estar seguro se essa escavação do jardim de fato aconteceu, mas vamos supor que sim. Vamos também supor que Ruark foi detido porque a equipe inteira de investigação ficou tão impressionada com Holohan que eles imediatamente saíram, prenderam Ruark e fizeram uma busca em suas instalações. Isto afeta a declaração que a fonte das suas informações era um espírito de desencarnado? Naturalmente que não. Até onde posso dizer com certeza, ela não forneceu nenhuma informação que afetasse, influenciasse, ou ajudasse na investigação por qualquer meio.

Quem resolveu este caso?

Por fim tanto Adrian e eu gostaria de assinalar que o caso foi eventualmente resolvido em conseqüência da investigação profissional diligente executada pela polícia combinada com os avanços tremendos na ciência forense. É para aí que os créditos por resolver o caso devem ir. No fim o trabalho duro da equipe original de investigação capacitou o Inspetor Chefe Detetive McKinlay a eventualmente conseguir uma condenação. Tivesse Tony Lundy tido acesso às técnicas modernas de DNA (ao contrário de uma médium) Ruark teria cumprido sua sentença bem mais cedo.

Resumo 

Vamos olhar mais uma vez para a informação de Holohan. nthony Ruark já havia sido identificado como um suspeito importante ao menos dois dias antes de Holohan ter escrito o seu apelido, “Pokie”. De acordo tanto com McKinlay quanto com Lundy era de conhecimento comum que ele era um suspeito e à parte da sua prisão ele foi visto circulando tanto pelo apartamento de Jacqui Poole quanto pelo seu local de trabalho. Holohan vivia a aproximadamente 5 km da cena do assassinato e a menos que 3 km do bar The Windmill. Seria inteiramente possível descobrir muitas destas informações pela fofoca local. Devido às suas semelhanças de idade é muito provável que andassem em círculos sociais semelhantes e pode ser que Holohan soubesse algo sobre Ruark ou Poole muitos antes de o assassinato acontecer. Nós sequer nem podemos estar certos que um amigo próximo ou mesmo a própria Jacqui Poole não se consultava com Holohan em sua capacidade enquanto psíquica. No relatório final de Lundy que ele escreveu que, “de todas as pessoas entrevistadas Ruark ainda era a pessoa mais possível de ter cometido o assassinato.”

Um apelo 

Ainda existem perguntas a serem respondidas e se você puder fornecer qualquer informação adicional sobre este caso então Adrian e eu agradeceríamos muito em ouvi-la. Envie-nos um email ou pode escrever em confiança a:

Tony Youens

c/o ASKE

PO Box 5994

Ripley

DE5 3XL 

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Em outra parte (http://www.victorzammit.com/articles/montague.html – Comentário) Montague Keen fez comentários sobre mim relativamente ao recente programa The Ultimate Psychic Challenge. Parece que em consideração aos parentes de Jacqui Poole o programa pediu-o para não mencionar o caso acima. Nisto Keen lê o seguinte:

“Posso estar errado, mas esta proibição arbitrária é suspeita, ainda mais depois que soube que Youens, desesperado para achar buracos na evidência, contatou o agente da polícia responsável e viu suas teorias destruídas pelos fatos.”

Longe de ‘desesperado para achar’ eu descobri tantos buracos na evidência (veja tudo o que foi mostrado acima) que esse caso de Keen se assemelha a um queijo suíço. Até onde estou ciente, a investigação executada por Keen e Playfair nunca incluiu no interrogatório os dois mais veteranos e altamente respeitados detetives envolvidos. Uma omissão séria seguramente? Ainda assim estou certo que ele entrevistou a médium com a minuciosidade típica que nós esperamos de um investigador da SPR.

Num fórum de discussão de JREF Keen tenta desacreditar Tony Lundy e a informação que ele forneceu por escrito, “Eu não falei com Lundy pelas razões dadas anteriormente. Até agora eu não vejo motivos, especialmente quando está claro que sua memória dos acontecimentos no julgamento há dois anos é quase tão falível quanto a sua recordação da seqüência de acontecimentos há vinte anos.”

Mais tarde neste comunicado Keen adiciona,

“É óbvio que qualquer um que não seja um fanático obtuso a quem Batters ou Smith informasse o resultado da entrevista teria ficado impressionado e estimulado por ela, mas mais do que provável, tal é a natureza de memória e desejo de cumprimento – que Lundy não desejaria ter seu orgulho ferido por qualquer recordação de quaisquer declarações feitas por uma médium, especialmente se ele sentisse que isso de alguma forma refletisse sobre sua realização como o principal homem responsável por resolver o único grande mistério de assassinato da sua carreira.”

Concernente à possível explicação proposta por Adrian Shaw e eu, Keen descarta-a assim:

“Por mais que se faça malabarismos em torno das datas, a hipótese é bastante improvável que Holohan, mesmo que ela tivesse o tempo, conhecimento e incentivo para reunir toda a informação que veio em pedaços e trechos não sequenciais durante a entrevista, teria sido capaz de adquirir toda a informação normalmente.”

Concernente a visão científica atual da mediunidade, Keen nos diz:

“Shaw descarta toda a literatura de aparente evidência de comunicação de desencarnado como principalmente anedótica “como neste caso”. Não é de todo surpreendente que um detetive pouco familiar com a literatura da pesquisa psíquica que ele critica exiba uma profunda ignorância deste tipo; mas presumivelmente isto também reflete a visão de Tony Youens que certamente deveria saber melhor. De modo algum a evidência no caso presente pode ser descrita como anedótica. Não mais do que a grande acumulação de leituras e psicografias documentadas que foram o assunto de intensiva e completa análise por cerca de um século pode ser descartada como anedótica.”

Na visão de mundo de Keen parece que a comunicação com os mortos é de algum modo inteiramente possível ao passo que uma explicação natural é “improvável”. Sentimentos que sem dúvida alguma lhe foram passados por Sir Arthur Conan Doyle.

Por favor sinta-se livre para decidir por si próprio.

Fonte original: http://www.tonyyouens.com/ruislip_murder.htm 

Artigo traduzido por Vitor Moura Visoni.



[1] Em inglês two (dois) e too (também) soam muito parecidos (N. T.)

2 respostas a “Crimes e Desaparecimentos resolvidos com a ajuda de médiuns ou psíquicos – Parte 4 (2004)”

  1. FJJ Diz:

    Muito bom o artigo Vitor. E o que nos permite concluir?
    Que a suposta médium pode ter obtido as informações, que ela alegou ter recebido do espírito da vítima.
    Mas que coisa! Sempre tem um “porém”. Esta que é um “boa história”, ainda é muito questionável. E assim caminha a humanidade.

  2. Phelippe Diz:

    Duvido muito. Essas estórias de médiuns ajudando a resolver crimes são quase todas furadas. As respostas nunca são claras, acredito que estão mais para leitura fria do que qualquer outra coisa. Sem falar no “chute”. Prefiro acreditar em telepatia do que em espíritos passando mensagens, principalmente após ter tido conhecimento de como são feitas as chamadas cartas psicografadas.

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