Lêntulo, o sufeta – Resposta a Nagipe assunção (Parte 1: apresentações e explicações)

José Carlos: a todos os que, como eu, buscam incessantemente o esclarecimento, mesmo sabendo que ele sempre está um passo adiante de nós, saudações. 

Tinha a esperança de não ter mais que me debruçar sobre o “affair” Lêntulo, levando em consideração a multidão de evidências, apresentadas em vários textos de pesquisa (bem como em respostas a indagações) constantes neste portal “Obras Psicografadas” sobre a inexistência dessa personagem, bem como de sua “carta”.  Não obstante, uma pesquisa recente, do sr. Nagipe Assunção, o qual teria descoberto um “Públio Lêntulo” cônsul sufeta em 27 dC, sob o império de Tibério, que poderia ser o “Públio Lêntulo” mencionado em “Há Dois Mil Anos” (encarnação pretérita do espírito-guia de Francisco Cândido Xavier, “Emmanuel”), forçou-me não apenas a uma resposta (que seria, aliás, bem simples e rápida, se se resumisse a isso), mas, principalmente, a uma recapitulação, reelaboração e extensão de vários temas ligados a tal assunto.  E o que começou de forma um tanto enfadonha pôde, com a graça de Deus, tornar-se algo bastante agradável, em que não apenas revi uma série de hipóteses, mas também aprendi mais, consolidei mais minhas certezas acerca do tema, e, creio, enfeixei uma série de argumentos antes espalhados (a par de alguns novos) num texto mais coerente e elaborado.

Quando, acima, mencionei que uma mera “resposta” seria “simples e rápida”, quis dizer que um rápido exame do trabalho do sr. Nagipe Assunção já bastaria, se não para o refutar, ao menos para o questionar profundamente.  Ou seja: mesmo supondo-se que tenha havido um “Públio Lêntulo” que foi cônsul sufeta (substituto) em 27 dC, como esse dado corrobora a existência real daquele “outro” Lêntulo, o da psicografia “Há Dois Mil Anos”? Esse sufeta de 27 dC era descendente de Lêntulo Sura? Foi demonstrado isso? Ele passou vários anos na Judéia procuratoriana, numa legação, ou coisa que o valha? Foi demonstrado isso? Ele participou da guerra judaica, como conselheiro de Tito? Foi demonstrado isso? Ele morreu na erupção do Vesúvio que, sob o império de Tito, soterrou Pompéia, Herculano e Estábias? Foi demonstrado isso? E, last but not least, sendo essa figura um cônsul (ainda que sufeta) em 27 dC (e, portanto, tendo, nessa época, pelo menos 32 anos de idade…), sua idade se harmoniza com a idade que a psicografia sugere para “aquele” outro Lêntulo? Foi demonstrado isso? 

A resposta a todas essas perguntas é: NÃO.  Portanto, a descoberta desse tão conveniente sufeta poderia acenar, no máximo, como um incentivador para a continuação de pesquisas mais acuradas (a fim de responder às questões anteriormente mencionadas, bem como a várias outras correlatas…), nunca para a confecção dum texto que, de pronto, identificasse o sufeta de 27 dC com “aquele” Lêntulo, ainda mais nos termos tonitruantes, triunfalistas e bombásticos utilizados. 

Assim, a rigor, a resposta está dada; falta muita coisa, mas muita coisa mesmo, para o sr. Nagipe Assunção fazer.  Ele (na melhor das hipóteses) apenas arranhou a superfície da questão; mas isso não basta (e ele, como Bacharel em História, deveria saber disso melhor do que ninguém, melhor inclusive do que eu, um simples “leigo”, um mero “diletante” sem canudo…).  Como encorajamento para que as investigações prossigam, o texto do sr. Nagipe Assunção é passável; mas nunca como uma conclusão, ainda que provisória, sobre o assunto.  Onde estão, afinal, as demonstrações faltantes, e acima referidas? 

A resposta é: em lugar nenhum, e, muitíssimo provavelmente, lá continuarão, como (tenho virtual certeza) a pesquisa ora apresentada, “Uma Noite nos Fasti – Caçando Públio Lêntulo”, mostrará a qualquer um que se disponha a analisar a questão com serenidade e racionalidade. 

Não bastou a mim, então, uma “mera resposta”; decidi, novamente, ir a fundo na questão.  E, em assim fazendo, como mencionei no início desta mensagem, pude encontrar prazer e satisfação, e aumentar meus parcos conhecimentos.  Valeria, assim, a pena demorar um pouco mais (de fato, bem mais…) burilando outra pesquisa, e, ao fim, compartilhar tudo isso, gratuita e livremente, com qualquer um que se dispusesse a ler, a meditar e, claro, a aprofundar o que aqui será apresentado.  Mesmo que eu tenha sido obrigado a suspender uma série de outros estudos que realizava (sobre os primeiros tempos do Espiritismo, sobre a Inquisição, sobre a tortura judicial e o direito romano-canônico, sobre os cálculos acerca da idade da Terra – espero voltar a tudo isso o mais rapidamente possível), creio (ou melhor, tenho certeza) que valeu a pena. 

Evidentemente, há os que pensam que minhas (modestas) pesquisas são extremamente longas e enfadonhas.  Esses não precisam lê-las, afinal.  Há os que, certamente, me consideram parcial (quando não obsediado!…), dedicado exclusivamente a “denegrir” o Espiritismo.  Esses poderiam, então, complementar os dados fornecidos, mostrando quais informações eu teria “escondido” (ou desconsiderado), demonstrando, então, à luz do dia, minha “parcialidade” (talvez eu seja parcial, porque, ao fim e ao cabo, todos nós o somos, nalguma medida; todos nós temos nossas “agendas” e “anseios”; o que ouso dizer em minha defesa é que procuro, com todas as minhas forças, cobrir o mais amplamente possível o assunto, e vislumbrar os vários lados da questão – se não consegui, então me digam, com detalhe, o quê ficou faltando…). 

O fato, porém, é que, ao elaborar uma pesquisa, eu o faço levando em conta duas coisas: a) eu a confecciono muito mais para mim mesmo do que para os outros; confecciono o texto que eu gostaria que um pesquisador honesto e diligente (ou, ao menos, tão honesto e tão diligente quanto humanamente possível) me fornecesse, se eu o indagasse acerca do assunto; e b) eu procuro disponibilizar, do melhor modo que me é possível, e com todo o detalhe necessário, as justificativas para as posições que assumo.  Há os que consideram tal postura como “prolixa”, fruto dum caráter arrogante, que quereria se mostrar “superior” aos outros; eu a considero, pelo contrário, “respeitosa” para com aqueles que vão se dar ao trabalho de ler minhas considerações.  Novamente: os que me consideram arrogante não precisam ler o que escrevo.  Aliás, é bom que não leiam. 

Assim, independentemente do que qualquer um pense, o texto terá o tamanho que tiver que ter, com as alusões que EU julgar convenientes, no grau de detalhe que EU considerar necessário, e ficará pronto quando ficar pronto, quando EU estiver satisfeito com o resultado.  Se alguém pensa que pode fazer melhor, basta fazer. 

Tinha já passado ao sr. Vitor Moura Visoni (e a algumas outras pessoas que respeito e considero) adiantamentos desta pesquisa, inclusive para comentário.  Estávamos, o sr. Visoni e eu, meditando acerca da conveniência de disponibilizar, o mais breve possível, uma parte da pesquisa ao menos, ainda que incompleta, tanto para estimular sua leitura pelos interessados, quanto para que ficasse claro que a demora se devia não à falta de argumentos, mas sim, ao contrário, ao esmero na argumentação.  Portanto, julgamos adequado disponibilizar, neste portal “Obras Psicografadas”, a parte da pesquisa acerca do “sufeta de 27 dC” que julgo apta a ser lida – parte do texto principal, mais dois apêndices.  Quanto ao que falta, repito: ficará pronto quando ficar pronto, quando EU assim decidir. 

Apenas como satisfação aos leitores, apresento a seguir um brevíssimo esboço da parte que ainda está em vias de ser complementada. 

Farrapos de Justificação II – A Doença da Filha: 

Analisar-se-á a outra desculpa esfarrapada (ou melhor, desesperada) que poderia ser utilizada para se tentar dar alguma aparência de credibilidade à vida, à carreira e, principalmente, à fantasmagórica “legação” de “nosso” Lêntulo na Judéia procuratoriana: a prioridade que teria demonstrado para a cura da doença que afligia sua filha, Cornélia (que a psicografia nomeia, de forma absolutamente aberrante, como “Flávia Lentúlia”…) teria justificado sua ida à Judéia e sua longa permanência lá.  Os seguintes tópicos serão, abordados: 

·        De que doença se tratava, segundo a própria psicografia;

·        O que vem a ser, de fato, essa doença;

·        Qual a (possível) origem dessa doença, sua expansão e suas manifestações no mundo mediterrânico, até ao séc. II dC;

·        Como ela era diagnosticada à época de Lêntulo;

·        Que tratamentos disponíveis havia, à época, e que, certamente, Lêntulo teria seguido na busca da cura de sua filha;

·        A viabilidade duma “viagem curativa” à Palestina (Judéia) como parte dum (pretenso) tratamento para Cornélia (NÃO FLÁVIA LENTÚLIA, ISSO NÃO EXISTE). 

Phantasia Honorifica – A “Legação Senatorial” de Lêntulo na Judéia: 

Analisar-se-á circunstanciadamente a plausibilidade dum senador ser enviado como legatus imperial a uma província procuratoriana (algo jamais atestado literária ou epigraficamente, e, ademais, contrário a todas as práticas administrativas imperiais romanas).  Muito menos para uma “reorganização administrativa” da Judéia, coisa que, aliás, não ocorreu sob Tibério. 

Como complemento a esse item, um circunstanciado “Apêndice III”, intitulado “O (Real) Julgamento de Jesus, e a Plausibilidade da Sobrevivência Histórica dum ‘Testemunho Ocular’, ou duma Sentença, do Referido Evento”, consolidando a demonstração do absurdo dum “documento” ou “relatório” contemporâneo sobre a condenação de Jesus. 

Problemas Adicionais – Só Para Contrariar…: 

Diante da insistência sobre alguns temas (que já se encontram, de fato, esclarecidos), e dada a importância dos mesmos, aproveitaremos o ensejo para os apresentar de modo mais incisivo, e, nalguns casos, com evidências adicionais.  Selecionamos os seguintes: 

·        Antroponímia da Psicografia – Samba da Entidade Doida:

o       Sempre é bom lembrar que “Emmanuel” parece se esquecer totalmente de como eram nomeados seus conterrâneos, cometendo em “Há Dois Mil Anos” erros gravíssimos e repetidos na antroponímia romana…

·        Mundos à Parte – Parentela Psicografada e Parentela Histórica:

o       O que a História atesta como Lêntulos “reais” contemporâneos de Cristo a psicografia “Há Dois Mil Anos” não atesta (nenhum!!!); e o que a psicografia atesta como parentes de nosso inefável Lêntulo, a História não atesta (mais uma vez… nenhum!!!).  Coincidência?

·        A Esposa de Pilatos – Senhora, qual é mesmo o seu nome?

o       Buemba! “Lêntulo”, em “Há Dois Mil Anos”, nomeia a esposa de Pilatos utilizando não apenas o (apócrifo) “Ciclo de Pilatos”, mas também a muito mais grotesca falsificação que é a “Crônica do Pseudo-Déxter”… Quem viver, verá…

·        Onde Está Wally? Ou “Procurando Lêntulo no Conselho de Tito”:

o       Parece incrível, mas há ainda quem queira “passar por cima” da evidência cristalina fornecida pelo historiador Flávio José, que nomeia o conselho de guerra de Tito, nele não incluindo nenhum “Lêntulo” (aliás, não citando nenhum “Lêntulo” em sua detalhada história da guerra judaica).  Como sempre, parte-se para o diversionismo e confeccionam-se desculpas esfarrapadas: o conselho é “de guerra”, e Lêntulo era membro dum “conselho civil”; ou, além dos nomes explicitamente citados, havia vários outros não citados (os tais “procuradores e tribunos” – quem seriam eles, afinal?); ou, então, o supra-sumo do wishful-thinking e do nonsense indemonstrado: o nome de “Lêntulo” foi retirado da composição do conselho, já que o senador havia sido capturado e cegado, desgraçando o mito da invencibilidade romana (Provas? Evidências? Só a opinião não vale…).  Toda a questão do “conselho de guerra” de Tito reexaminada. 

Conclusão e Recapitulação – No Reino das Exceções: 

Como o título deixa claro, uma recapitulação dos principais tópicos examinados e a conclusão a que se chega a partir deles.  Uma seção especial tecerá algumas considerações acerca das possíveis fontes inspiradoras para o novelesco “Lêntulo” de Xavier, inclusive (além da “Crestomatia”) um conto interessantíssimo numa revista de variedades, verdadeira avant première de “Há Dois Mil Anos”.  Adicionalmente, um circunstanciado “Apêndice IV”, no qual são lançados vários desafios aos espíritas que esposam a historicidade de “Há Dois Mil Anos”.  Afinal, basta de apenas respondermos a ataques; vamos dar algum trabalho ao pessoal da “fé raciocinada”, e a chance de provarem que suas assunções repousam, de fato, na ciência e na lógica… 

–:—–o(((*)))o—–:– 

Paro por aqui.  Gostaria que qualquer um que se dispusesse a ler a pesquisa (e a quem, desde já, agradeço) o fizesse com atenção, gastando o tempo que fosse necessário.  Volto a enfatizar: ninguém é obrigado a lê-la.  Mas, se a ler, espero que o faça seriamente, e com espírito desarmado – com “caridade”, enfim.  Pedi ao sr. Visoni que envie todo o material ora disponibilizado ao conhecimento tanto do sr. Nagipe Assunção quanto de todos os portais espíritas que postaram sua pesquisa, de modo que possam, também, postar a minha, e coloca-la diante do escrutínio de todos.  Evidentemente, dentro de minhas possibilidades de tempo (pois sou apenas um, e, embora muitos não acreditem nisso, não sou pago por nenhuma organização secreta, ou pelo serviço secreto do Vaticano, ou pela Ordem de Malta, para combater o Espiritismo…) encontro-me à disposição para dirimir quaisquer dúvidas, desde que sejam relativas a aspectos técnicos e históricos do conteúdo da pesquisa.  Considerações de índole apologético-dogmática serão simplesmente ignoradas.  Com os meus maiores votos de felicidades a todos, 

JCFF.

27 respostas a “Lêntulo, o sufeta – Resposta a Nagipe assunção (Parte 1: apresentações e explicações)”

  1. Marciano Diz:

    Estou ávido para ler, mas deixarei para amanhã, estou muito cansado.
    Tenho debatido este assunto com o Scur, que foi expulso, mas sempre lê os comentários aqui.
    Eu NÃO tenho conhecimentos para refutar a existência física do sufita, apenas inclino-me pela inexistência dele, ou, no mínimo que, se existiu, não tem nada a ver com o personagem inventado por cx.
    Tal pensamento não é embasado por uma profunda pesquisa sobre o assunto, o que, para mim, seria enorme perda de tempo. Alavanco meu palpite por mero bom-senso, o mesmo que me faz duvidar, para não dizer descrer, dos físicos que falam sobre cordas multidimensionais, etc.
    Para mim, isto não é ciência, é palhaçada, vontade de aparecer.
    Pretendo ler com atenção o artigo de jcff, talvez depois palpite algo, certamente comentarei os comentários que acredito que choverão.
    Pelo que me consta, jcff é católico, e o catolicismo é tão delirante quanto qualquer outra religião, inclusive o espiritismo. Isto não quer dizer que eu não reconheça a erudição de jcff; muitos eruditos acreditam em cordas multidimensionais, na santíssima trindade ou em mediunidade. Acreditar em coisas altissimamente improváveis, na melhor das hipóteses, para não declará-las logo impossíveis, não tira o mérito de ninguém.
    A única coisa que reputo negativa no autor é que acho-o excessivamente formal e distante, procurando colocar-se num pedestal, tratando todo mundo cerimoniosamente e desprezando comentários sobre os próprios artigos que posta.
    Digo isto para mostrar que, embora veja defeitos em sua personalidade, credito-o como possuidor de grande conhecimento em assuntos religiosos e tenho em alta conta seus artigos, sempre bem elaborados e fundamentados.
    Vamos ver amanhã o que estarei pensando e o que dirão os demais comentaristas, muitos deles inteligentíssimos, como MONTALVÃO, GORDUCHO, TOFFO, para citar alguns.
    E, dependendo do rumo que as coisas tomarem e do que for esclarecido aqui, vou dar uma gozadinha no Scur, um cara inteligente, de boa índole, mas que também acredita em papai noel.
    ANTONIO, se estiver vendo isto, APAREÇA.
    Um abraço a todos.

  2. Marciano Diz:

    ERRATA: sufeta.
    Alavanco palpite NO mero…

  3. Gorducho Diz:

    Eu continuo c/minha tese especulativa: esse misterioso sufeta sobre o qual nada se sabe deve ter servido de inspiração para quem compôs a carta original…
    &nbsp:
    Sr. JCFF: acaso o Sr. não leu o que constará no livro do Ingemar König (O Estado Romano – II O Império) cujo qual é o único livro moderno (i.e., exceto as obras citadas na pesquisa em tela, claro) que eu vi como citação para esse P LE. Ou seja: será que esse livro acrescentará algo mais, ou só se limitará a citar os Fasti?

  4. Gorducho Diz:

    Desculpe a ignorância: o Sr. poderia ser mais específico sobre como localizar o documento sobre o sufeta? Minha consulta:
    “AE 1990 00221”
    Provinz: “”
    Ort: “”
    Suchtext 1: “”
    Auswahl: “oder”
    Suchtext 2: “”
    EDCS-ID: “”
    Sortierung: “Belegstelle”
    Recherche Nr. 1033 am heutigen Tage.
     
    resultou em: Es wurde keine Inschrift gefunden.
    🙁

  5. Gorducho Diz:

    Uma seção especial tecerá algumas considerações acerca das possíveis fontes inspiradoras para o novelesco “Lêntulo” de Xavier, inclusive (além da “Crestomatia”) um conto interessantíssimo numa revista de variedades, verdadeira avant première de “Há Dois Mil Anos”.
     
    Onde está isso? Ainda não foi publicado, Sr. Administrador?

  6. Vitor Diz:

    Ainda não foi publicado, mas será. Como se pode ver, estou publicando as matérias como “PARTE 1”, “PARTE 2”. etc. Quando eu acabar de publicar tudo colocarei “FINAL”.

  7. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr.:

    Tente o seguinte:

    No portal (http://www.manfredclauss.de/), selecione a opção “Welcome” (para ir à página em língua inglesa). Nessa página, selecione (à esquerda da tela, na parte superior do retângulo amarelo) a opção “Search Database”. Uma nova aba irá se abrir.

    Nela escreva, p.ex., “Lentulus Scipio” (sem aspas) no retângulo “Search text 1”, e depois clique em “Go”. O resultado será:

    Inscriptions found:
    ________________________________________
    There were found 2 inscriptions.
    ________________________________________
    Publication: Allifae 00004 = Campania p 63 = AE 1990, 00221 EDCS-ID: EDCS-05200100
    Province: Samnium / Regio IV Place: Sant’Angelo d’Alife / Allifae
    ] / [K(alendis) Iul(iis) L(ucius) Iunius Silanus C(aius) Vellaeus Tu]to[r] / [3]nius C(ai?) [f(ilius) IIvir(i)] / [praef(ectus) 3 Pa]quius Clem[ens] / [M(arcus) Crassus Frugi L(ucius) Calpu]rnius Piso / [K(alendis) Iul(iis) P(ublius) Lentulus Scipio C(aius) Sallus]tius Passienus / [3]sius C(ai) f(ilius) IIvir(i) / [
    Publication: IAM-02-01, 00129 = AE 1954, 00260 EDCS-ID: EDCS-08800113
    Province: Mauretania Tingitana Place: Banasa
    sibi] / liberis pos[terisque suis cooptave]/runt / P(ublius) Lentulus Sci[pio 3] / [3 Vale]ntiae B[anasae

    Ou seja, duas inscrições foram encontradas no banco de dados com a expressão “Lentulus Scipio”, a de Alifas (AE 1994, 00221) e uma na Mauritânia Tingitana, que não nos interessa aqui.

    Clicando na expressão “Allifae 00004 = Campania p 63 = AE 1990, 00221”, uma figura do maior fragmento aparecerá numa janela à parte. E clicando na expressão “Sant’Angelo d’Alife / Allifae”, a localização desse lugar aparecerá.

    Quanto aos fastos: não se trata aqui duma pesquisa acerca da epigrafia romana; as inscrições são utilizadas como um meio, não como um fim. De meu conhecimento, as únicas menções a esse Lêntulo Cipião sufeta 27 dC estão nos Fastos da Irmandade Arval e na inscrição de Alifas.

    Quanto ao fato de o sufeta de 27 dC ter servido, talvez, de inspiração para a confecção da carta, isso não se sustenta, já que: a) a inscrição de Alifas somente foi publicada em 1990, ou seja, é bem recente (e a atribuição da carta a “Lêntulo” é do séc. XV…), e b) o outro testemunho, os Fastos da Irmandade Arval, foi disponibilizado apenas a partir da 2ª metade do séc. XIX (escavações na gruta de “Dea Dia” inicialmente nos anos 1860, e depois, recentemente, nos anos 1980), e assim, do mesmo modo, desconhecido para alguém que vivesse no séc. XV. Portanto, até à 2ª metade do séc. XIX, não se sabia da existência desse sufeta.

    Enfim, sobre a seção a qual tecerá algumas considerações acerca das possíveis fontes inspiradoras para o “Lêntulo” de Xavier, inclusive (além da “Crestomatia”) um conto interessantíssimo numa revista de variedades (que é, de fato uma verdadeira avant première de “Há Dois Mil Anos”), está para ser publicada. O conto em questão é “As Lágrimas do Rabbi”, da “Revista da Semana”, anno xxvii, n.3, de 9 de janeiro de 1926, pág. 32.

    De qualquer modo, se o sr. quiser ler o conto agora, vá à seção da “Revista da Semana” da Hemeroteca Digital Brasileira (no seguinte endereço eletrônico: http://hemerotecadigital.bn.br/revista-da-semana/025909), clique no “link” “busca por palavra” (o pequeno ícone da “página-com-a-lupa”); abrir-se-á uma nova aba. Nessa aba, no campo de pesquisa, escreva, p.ex., “Lentulus” (sem aspas), e clique em “Pesquisar”. Abaixo, aparecerão várias opções de períodos de tempo de edição da revista, com o número de ocorrências dessa palavra. Clique na 1ª linha, e, numa outra janela, aparecerá a página do conto. Vale a pena lê-lo… Note-se que o conto é de 1926; portanto, com tempo mais que suficiente para percolar até aos rincões das Gerais. Sds,

    JCFF

  8. Gorducho Diz:

    Só consegui identificar (3 linhas inferiores do fragmento): Lucius Calpurnius Piso RNIVS PISO
    Caius Sallustius Passienus IVSPASSIENVS
    sius C(ai) f(ilius) Ilvir(i) SIVS-CF-IILVIR
     
    e nas linhas superiores:
    IVS (Publius?)
    QVIVSCL
    🙁

  9. Gorducho Diz:

    Quanto ao fato de o sufeta de 27 dC ter servido, talvez, de inspiração para a confecção da carta, isso não se sustenta, já que &c.
     
    Poderia haver conhecimento disso na idade média por essa ou outras fontes que tenham se perdido. E em alguém o autor da carta deve ter se inspirado, não concorda? Ele iria simplesmente tirar do ar o personagem (i.e., o hipotético relator do relatório sobre o Cristo)?

  10. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr.:

    Quanto à inscrição, o sr. examinou o maior fragmento disponível, e que o portal apresenta à guisa de ilustração. O restante da inscrição (entre colchetes) foi reconstituída, como aliás os próprios Fastos da Irmandade Arval, nos quais o sufeta aparece apenas como “P Le”. Quanto aos métodos de reconstituição, mencionei o caso “en passant” na pesquisa. Por coerência, ou se consideram as duas reconstituições como válidas (por seguirem a mesma metodologia), ou não. Nesse segundo caso, sequer temos um “Lêntulo” sufeta em 27 dC, e podemos todos ir descansar…

    Quanto à “gestação” da carta, uma parte que reputo razoável da explicação estará no “Apêndice I”. A carta de Lêntulo não surgiu como uma carta; surgiu como uma descrição anônima (fins séc. XIV, na “Vida de Cristo” de Ludolfo), e apenas ao longo do séc. XV foi transformada numa carta escrita por um “Lêntulo” (e não só por um Lêntulo; Salvini, p.ex., a considerava como tendo sido escrita por Herodes, como aliás menciono na pesquisa…).

    Há, assim, duas “linhas de gestação” paralelas:

    – A da progressiva elaboração da imagem canônica de Cristo (adulto barbado e de cabelos longos), juntamente com o desenvolvimento da visão do Salvador como o “Christus Patiens”, culminando nos textos meditativos dos séculos XIV-XV, um dos quais justamente a “Vida de Cristo”, de Ludolfo (isso é tratado no “Apêndice I”);

    – A transformação do “ícone meditativo”, do “retrato por escrito”, que é a versão original da descrição (em Ludolfo) numa carta, atribuída principalmente (mas não só…) a um “Lêntulo”. Por quê “Lêntulo”? Talvez tenha sido a escolha dum humanista, com acesso (limitado) a fragmentos de informações referentes à época imperial de Augusto e dos Júlio-Cláudios (pois a personagem era chamada inicialmente de “procônsul”, de “antecessor de Pilatos” no governo da Judéia, e endereçando sua carta ao Senado – tudo isso absurdo e historicamente errado). Não precisava o criador (quem quer que tenha sido) ter acesso a documentos “antigos” agora (convenientemente) desaparecidos, nem sequer a restos de Fastos. Havia muitos Lêntulos, inclusive cônsules ordinários, e vários com o prenome “Públio”, que eram conhecidos (nas listas consulares, como as de Cassiodoro e Hidácio, p.ex., e em obras históricas populares, como o “Breviário” de Eutrópio, só para citar uma). Foi escolhido (e “vingou”) o cognome “Lêntulo”, como poderia ter sido escolhido (e se firmado) um outro cognome qualquer. Essa é a situação que reputo como a mais provável.

    Enfim, acerca dum “relatório”, ou “sentença”, sobre Cristo, isso simplesmente não existiu. Serão (estão sendo) traçadas considerações bem pormenorizadas a esse respeito num futuro Apêndice (“Apêndice III”), que mencionei na Introdução. Sds,

    JCFF.

  11. Gorducho Diz:

    E eu reputo como mais provável que o autor original se baseasse num personagem que supostamente existiu, o P LE sufeta em 780, mas sobre o qual nada sabe. Pois que assim seria dada credibilidade (um “autor” que teria existido); mas sobre o qual necessariamente nada se sabe pois que senão se saberia que lá nunca esteve, é claro.
    Eis minha tese teórica.
    Obrigado pela atenção! Depois procuro o conto.

  12. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr.,

    É uma hipótese plausível, mas, a meu ver, pouco provável, a não ser que se possa estabelecer que os Fastos para o ano 27 dC fossem conhecidos “in totu” na Idade Média, o que, tanto quanto se pode estabelecer até aqui, não era o caso (conheciam-se apenas os ordinários, não os sufetas, porque as fontes literárias listavam apenas os ordinários; a reconstituição dos sufetas é um trabalho lento, a partir da arqueologia e da epigrafia, a partir do séc. XVI, e, de forma mais sistemática, a partir do séc. XVIII). Sds,

    JCFF.

  13. Sandro Fontana Diz:

    Ao José, autor do artigo, me permita a pergunta (embora o tema não seja do meu interesse, comecei a ler e parei na primeira dúvida):

    Onde você diz:

    “a prioridade que teria demonstrado para a cura da doença que afligia sua filha, Cornélia (que a psicografia nomeia, de forma absolutamente aberrante, como “Flávia Lentúlia”…) teria justificado sua ida à Judéia e sua longa permanência lá”

    Ficam minhas perguntas:

    1 – O suposto real Lentulus tinha uma filha então?

    2 – Essa filha (Cornélia) tinha uma doença então?

    3 – O suposto Lentulus levou sua filha para a Judeia para algum tratamento?

    Por enquanto é isso…

  14. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr. Fontana:

    Esse tema será tratado na continuação (2ª parte), que ainda não está disponível, como comentado. Trata-se da análise do argumento que poderia ser utilizado pelos defensores da existência de Públio Lêntulo, bem como do fato de ele ter tido um “cursus” anômalo, e ter permanecido longos anos na Judéia, pelo fato de precisar tratar da doença de sua filha, “Cornélia” (“Flávia Lentúlia” é uma aberração prosopográfica). Esse argumento é tratado “ceteris paribus”, ou seja, sem se considerar, concomitantemente, todos os outros já aduzidos para mostrar a inexistência da personagem, e, mais ainda, de sua “filha” (ainda mais com o nome “Flávia Lentúlia”…). Sds,

    JCFF.

  15. Sandro Fontana Diz:

    Ok José.. mas independente de qualquer coisa.. algo simples:

    Existiu uma filha desse romano (verdadeiro) que tinha problema de saúde ou que mudou para a judeia?

    Compreendo q o tema sempre precisa ser embasado.

    Obrigado

  16. Vitor Diz:

    Sandro,
    não existiu nem o romano, quanto mais a filha….

  17. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Sandro Fontana,

    Peço-lhe desculpas, talvez eu não tenha sido suficientemente claro em minha resposta anterior. Então, vamos lá: tendo em vista o resultado de minhas pesquisas, e por uma enorme série de razões (aliás, seguindo simplesmente o consenso histórico atual acerca do assunto…), concluo não haver como sustentar a existência histórica de “Públio Lêntulo”, nos termos em que é estabelecida quer pela “carta de Lêntulo”, quer pela psicografia “Há Dois Mil Anos”. Portanto, não existiu também a sua filha (ainda mais com o nome “Flávia Lentúila”…).

    Uma das razões (de longe a única) para tal é o “cursus honorum” absolutamente anômalo (e indemonstrável) que a psicografia fornece acerca de Lêntulo. Não obstante, poder-se-ia argumentar que uma das razões para tal “cursus” anômalo, para a ida de Lêntulo à Judéia, e para sua permanência lá, ligar-se-ia à tentativa de encontrar (pretensamente no clima da região) uma cura para a moléstia que (segundo a psicografia) afligia sua filha (lepra). Exatamente tal justificativa, “ceteris paribus”, virá a ser oportunamente analisada – ou seja, poder-se-ia considerar essa viagem à Judéia, para fins de cura da lepra, como uma opção factível na época (e na classe social) de Lêntulo (supondo, apenas pra fins retórico-argumentativos, que ele de fato existisse)?

    Espero ter esclarecido sua dúvida. Sds,

    JCFF.

  18. Toffo Diz:

    O nome correto é hanseníase, não lepra. Esse termo foi banido da medicina.

  19. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Caro sr. Toffo,

    Sim, e o nome técnico da doença, na época, era “elefantíase”, não “lepra”. “Lepra”, um termo técnico já constante no “Corpo Hipocrático”, designava qualquer infecção cutânea que, embora não grave, tornasse a pele escamosa e/ou áspera (essa a origem etimológica do termo) e chegasse a gerar feridas. A “elefantíase” dos médicos gregos (séc. III aC a séc. II dC) nada tem a ver, claro, com a doença que, modernamente, se chama “elefantíase”. Portanto, na Roma da época de Tibério, se a filha de Lêntulo tinha “hanseníase”, ela tinha “elefantíase”, e não “lepra”. Mas isso é apenas a ponta do “iceberg”; mais virá quando essa parte da pesquisa for publicada. Sds,

    JCFF.

  20. Sandro Fontana Diz:

    Obrigado José…

  21. Toffo Diz:

    Talvez ela tivesse uma psoríase grave. Isto é, se ela existisse de verdade. Se fosse hanseníase pra valer, não teria sobrevivido.

  22. Toffo Diz:

    Digo isso porque tenho psoríase, é muito leve (apenas na sola dos pés e às vezes na palma das mãos), é uma doença de etiologia ainda não totalmente esclarecida na medicina. Mas pode ser atenuada com determinadas águas termais, que talvez existissem na Judeia daquele tempo. Estou só especulando.

  23. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Toffo,

    De fato, o diagnóstico, o nome da doença (o genérico “lepra”, ao invés do preciso “elefantíase”), seu caráter “contagioso” (não era considerada como tal pela medicina grega – a causa estaria em desbalanceamento de humores, não em “contágio”…), lembram mais a tradição cristã (posterior) acerca da “lepra” (pois foi com esse nome que a “tsaraat” do Levítico foi traduzida, pelos Setenta…), bem como o diagnóstico pós-Hansen, do que o que ocorreria na época de Tibério.

    E, quanto às águas, posso lhe garantir que havia, no Lácio, na Etrúria e na Campânia uma enorme gama de estações de águas termais e mínero-medicinais (principalmente sulfurosas), mais ampla, mais sofisticada e bem mais à mão que qualquer coisa que pudesse haver na distante Judéia – a qual se localizava, inclusive, no epicentro da região mais afetada pela “elefantíase” (juntamente com o Egito). Ou seja, o bom papai Lêntulo foi direto para o “olho do furacão”… Mas isso, mais uma vez, será esclarecido com muito mais detalhe quando a próxima parte da pesquisa for publicada. Sds,

    JCFF.

  24. Toffo Diz:

    Ou seja, aparentemente o nobre senador foi tratar a filha no local onde havia maior incidência da doença… não parece uma solução inteligente, por certo. Ainda que, já naquela época, os recursos da medicina seriam muito mais eficientes na Itália do que numa província pobre e distante como a Judeia, o que dá ao leitor um pouquinho mais esclarecido a impressão de que o autor do livro não sabia direito o que estava contando.

  25. Gorducho Diz:

    Mas alguma psicografia ou psicofonia pode ter recomendado ele ir para lá…
    Como se sabe, e mrh sublinhou na outra rubrica, médiuns existiam, apenas eram perseguidos pelo governo. Se existiam na Judéia, existiriam na Urbe.
    É claro que ele não poderia revelar isso para os colegas e muito menos p/o Tibério 🙁

  26. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Mas ele poderia ter consultado um oráculo (que lhe poderia mandar uma mensagem no sentido de ir à Judéia), ou mesmo os arúspices (que poderiam ler, examinando os fígados dos animais, a necessidade duma viagem àquela província). Mas, de qualquer modo, segundo a psicografia, não foi esse o caso; seu deslocamento se deu por motivos bem mais prosaicos e racionais, cf. a fala de Flamínio Severo:

    “Poderias [ó Lêntulo] descansar um pouco na Palestina, levando a família para essa estação de repouso. Existem ali regiões de clima adorável, que operariam, talvez, a cura de tua filhinha, restabelecendo simultaneamente as tuas forças orgânicas. Quem sabe? Esquecerias o tumulto da cidade, regressando mais tarde ao nosso meio, com energias novas. O atual Procurador da Judéia é nosso amigo. Poderíamos harmonizar vários problemas do nosso interesse e de nossas funções, porquanto não me seria difícil obter do Imperador dispensa dos teus trabalhos no Senado, de modo a que continuasses recebendo os subsídios do Estado, enquanto permanecesses na Judéia”.

    Ou seja, o deslocamento se deu pelas (pretensas) virtudes médicas do clima da região, algo estranhíssimo, no mínimo (como se não houvesse regiões com clima tão ou mais adorável na própria Itália…), e mais ainda em se tratando de “elefantíase” (i.e., “hanseníase”), sendo a Judéia (juntamente com o Egito e, em geral, o Crescente Fértil) o lugar onde a doença já estava estabelecida de modo endêmico. Claro, o trecho acima apresenta uma série de problemas adicionais: a Palestina não se chamava, na ocasião, “Palestina”, mas sim “Judéia” (somente se chamou “Palestina” após a reorganização efetuada depois do esmagamento da revolta de Bar-Kochba, sob Adriano); o governador não era um Procurador (“Procurator”), mas sim um Prefeito (“Praefectus”) – somente a partir da restauração da província, sob Cláudio, em 44 dC, após o breve interlúdio de “independência” sob Herodes Agripa I (41-44 dC), os governadores de nível eqüestre, da Judéia como de outros lugares, passaram a ser chamados de “procuratores” (exceto o do Egito, que era, e continuou a ser, o “Praefectus Aegypti”); e senadores não recebiam nenhuma remuneração do Estado por serem membros do Senado, e nem por exercerem as antigas magistraturas republicanas urbanas em Roma (questura, edilidade, tribunado da plebe, pretura, consulado), que eram cargos onerosos. Eram pagos apenas quando exerciam governos nas províncias (quer como procônsules, quer como legados propretorianos), ou por exercerem algumas das novas funções na cidade de Roma, ou na Itália, criadas a partir de Augusto (a prefeitura urbana, a cura das estradas, a administração dos aquedutos, etc.).

    Mais ainda: o Imperador não mandaria um senador, aristocrata, numa legação (ou o que quer que fosse) a uma província governada por um eqüestre, seu inferior na hierarquia social. Isso criaria toda uma problemática administrativa, pois nenhum senador que se prezasse aceitaria ordens dum seu inferior social – a autoridade de Pilatos estaria arruinada a partir do instante em que Lêntulo pusesse os pés na província. E note-se bem: no Egito, que era governado por um eqüestre (o “Praefectus Aegypti”), as legiões estacionadas eram comandadas por “praefecti legionum” eqüestres (e não por “legati legionum” senatoriais); e nem havia, nelas, tribunos laticlavos (que eram filhos de senadores), mas apenas tribunos angusiclavos (que eram eqüestres); e, mais ainda, nenhum senador podia pôr os pés na província sem a prévia autorização do Imperador (que, virtualmente, nunca era dada). Tudo isso para evitar conflitos de autoridade.

    Na Judéia seria diferente? Mesmo por ocasião da organização da província, quando o etnarca Arquelau, filho de Herodes o Grande, foi deposto (6 dC), não houve nenhuma “legação” de senadores para tanto. De novo: uma “legação” dum senador à Judéia procuratoriana é algo simplesmente sem sentido. Sds,

    JCFF.

  27. Toffo Diz:

    Pelo que JCFF diz, entende-se que CX teria “mexido” na História para poder adaptar o encontro de Lêntulo, seu suposto chefe e padrinho espiritual, com Jesus de Nazaré. Uma adaptação meia-boca, já que deixou muitos rabinhos pelo caminho. Mas o que me incomoda mais nessa questão toda é que CX assevera no livro HDMA que se trata de uma história real, acontecida, o que é um comportamento intelectualmente questionável, porque tudo indica que não é real. Em outras palavras, uma mentira. Isso e a inexistência histórica de Públio Lêntulo já bastam para desmascarar Emmanuel como “mentor” ou “espírito de luz”. Se for mesmo uma personalidade desencarnada, é um grande mentiroso. Como provavelmente não é, passa às costas de seu criador, CX.

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