As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 14)

Dando prosseguimento à série dos reportagens do Correio Paulistano. Infelizmente muitos trechos estão ilegíveis.

Correio Paulistano – Terça-feira, 13 de junho de 1916, página 3 

No mundo das maravilhas

É mister que se faça luz na noite do mistério 

O sr. Carlos Mirabelli, a nosso ver, não passa de um hábil prestidigitador 

Com a mesma evangélica paciência num recinto em que reinara não só o mais completo silêncio, senão também a mais completa “concentração”, assistimos ontem, no salão nobre do “Correio Paulistano”, a uma nova experiência realizada pelo prestidigitador sr. Carlos Mirabelli. Foi a quarta e a penúltima da série exigida por esta folha no repto que lançamos ao prestimano. 

Silêncio, absoluto silêncio; concentração, absoluta concentração; paciência, absoluta paciência; imobilidade do lápis – absoluta! absoluta! absoluta! 

Duas horas tremendas, duas horas fatigadas, duas horas profundamente insípidas, numa sala cujas portas e janelas cabalisticamente se fechavam para que não viessem de fora, nas asas da viração da noite, pensamentos maus, o rumor dos transeuntes indiferentes, o eco da música duplamente profana dos cafés-concertos… Fechados, inteiramente fechados; quietos, quietos todos e todos quase que tão paralisados, tão imóveis como o próprio lápis…  

Tudo isto para quê? Para que a corrente fluídica se estabelecesse, para que os espíritos [ilegível] das regiões iluminadas, para que se aproximassem de nós, para que os fenômenos se produzissem. 

Em vão, porém, em vão, três vezes em vão! Ainda desta vez ficamos na mesma. Decididamente, os “espíritos” protetores do sr. Mirabelli assentaram de não fazer no “Correio Paulistano” as costumadas traquinices com que, lá por fora, vão divertindo céus e terras. 

Já agora ninguém negará que este jornal está com a razão. 

Conquanto, e infelizmente para a cultura paulista, o audacioso mágico andasse a fazer proezas, acercada das simpatias de alguns homens de real valor científico, o “Correio Paulistano” deu desassombradamente o seu necessário grito de alarme. Houve quem se irritasse com a nossa [ilegível]; houve quem, aliás, com discutível convicção, tomasse a defesa das misteriosas forças do mistificador. Nós continuamos, todavia, a clamar contra o embuste, a reclamar a perspicácia dos nossos homens, a pedir mais argúcia da parte deles, a protestar contra a boa fé dos que afoitamente atestavam a força mediúnica de Mirabelli; reproduzimos em nossa redação todos os “truques”. [Ilegível] em nossos salões uma multidão de curiosos e de interessados sinceros que para logo se convenceram de que [todo o poder secreto?] do homem residia num fio de cabelo e numa bolinha de cera. Mas a nossa ilustrada colega vespertina continuou manhosamente a alimentar com todas as suas forças a misteriosa história de Mirabelli.  

Foi quando o “Correio Paulistano” lançou o seu repto. E o lançou na mais inabalável segurança de que não voltaria a [ilegível] como dizíamos [ilegível]mas simplesmente porque [ilegível] a certeza de que Mirabelli não passa de um hábil ilusionista, tantas vezes aplaudido [ilegível] pela assistência ruidosa [ilegível]. 

[Ilegível] Mirabelli, sem que o mais ligeiro fenômeno houvesse produzido. 

[Ilegível] já pelo sr. Mirabelli na redação deste jornal. 

Os fracassos do prestimano estão na razão direta dos nossos triunfos; e, infelizmente para S. Paulo, na inversa da [ilegível] dos nossos mais inteligentes e estudiosos intelectuais. 

É uma verdade muito dura e muito triste. Mas é uma verdade. 

Estiveram presentes à sessão os srs. drs. Reynaldo Porchat, dr. Bueno de Miranda, dr. Carlos de Castro, Horácio de Carvalho, coronel Fortunato Goulart, dr. Arnaldo Porchat, João Figueira de Freitas, dr. Mario Porchat, dr. Anfrísio Gouvêa, o representante da “Gazeta”, Antônio Fonseca e Aristéo Seixas, do “Correio Paulistano”. Não compareceram o sr. Plínio Reys por se haver passado ontem o aniversário de seu filhinho, e o dr. Couto de Magalhães, diretor da “Gazeta”. 

Quando já haviam sido começados os trabalhos, o pseudo “médium” solicitou a retirada de cinco cavalheiros que se achavam no salão, entre os quais o representante do “Commercio de S. Paulo”, no que foi atendido. 

A próxima e última prova realizar-se-á por estes dias em outro local escolhido pelo júri.

Uma resposta a “As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 14)”

  1. William Diz:

    Crítica: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 14)

    Dizem a propósito dos médiuns reclamarem do “ambiente psíquico” que a penúltima sessão estava no mais absoluto silêncio.

    O leitor pode conferir que se há esse “ambiente psíquico”, de nada adianta o silêncio, sendo que da mesma forma os leões se comportam na savana para o abate da presa, seu objetivo, para saciar a fome.

    A fome de o “Correio Paulistano” é provar que estão certos, acima de qualquer evidência. Jamais eles irão aceitar legitimidade em relação a Mirabelli, pois isso significaria a completa derrota do jornal.

    A fome de o “Correio Paulistano” é provar que estão certos, acima de qualquer evidência. Jamais eles irão aceitar legitimidade em relação a Mirabelli, pois isso significaria a completa derrota do jornal.

    Malgrado a “enorme prestação de serviço” fornecida por eles, outros intelectuais não conseguem identificar a fraude em muitos fenômenos, isso irá se prolongar por anos após as publicações do jornal.

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