Um Estudo de Replicação: Três Casos de Crianças no Norte da Índia que Alegam se Lembrar de Vidas Anteriores (1989)

Resumo — esta replicação dos estudos de Ian Stevenson de casos espontâneos sugestivos de reencarnação apresenta dados de 3 dos 10 casos investigados pela autora (Antonia Mills) no norte da Índia durante 5 semanas nos verões de 1987 e 1988. O propósito do estudo era ver se um investigador independente, seguindo os métodos de Stevenson, chegaria a conclusões semelhantes às dele. Stevenson informa que os numerosos casos em que uma criança fala e age do ponto de vista de uma pessoa falecida cuja existência pôde ser averiguada, sobre quem a criança normalmente não poderia ter sabido, são mais bem explicados como casos sugestivos de reencarnação. Com uma possível exceção a autora ficou satisfeita em saber que os casos que ela estudou não eram casos de fraude nem auto-ilusão, embora observasse que a aceitação do conceito de reencarnação exerceu um papel no diagnóstico e desdobramento do caso. Enquanto em alguns exemplos a criança não disse nada além do que poderia presumir-se ser de conhecimento dos pais, em outros casos a identificação exata e intensa da criança com alguém desconhecido aos pais indica que algo paranormal aconteceu.

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Journal of Scientific Exploration, Vol. 3, No. 2, pp. 133-184, 1989 

Um Estudo de Replicação: Três Casos de Crianças no Norte da Índia que Alegam se Lembrar de Vidas Anteriores[1]

                                                          ANTONIA MILLS                                          

Departamento de Antropologia & Departamento de Medicina Comportamental & Psiquiatria, Universidade de Virgínia, Charlottesville, VA 22908

A convite de Ian Stevenson, M.D., em agosto e na primeira semana de setembro de 1987, em julho de 1988, e por 3 semanas em dezembro de 1988 – janeiro de 1989, eu investiguei 10 casos de crianças no norte da Índia que, segundo os relatos, espontaneamente se identificaram como pessoas já falecidas. O propósito do estudo era determinar se um investigador independente usando métodos semelhantes aos desenvolvidos por Stevenson chegaria a conclusões comparáveis às dele. Embora nenhum dos casos ofereça prova irrefutável de que a reencarnação aconteceu, eles sugerem que nenhuma explicação normal elucida o fenômeno de crianças que fazem declarações exatas e se identificam com alguém sobre quem elas não poderiam ter tido conhecimento prévio.

Stevenson fez detalhados estudos de casos que ele chama de sugestivos de reencarnação em algumas culturas, sendo que em grande parte delas a maioria das pessoas acredita em reencarnação: por exemplo, Índia (1974, 1975a); Sri Lanka (1977a); Tailândia e Burma (1983a); Líbano e Turquia (1980); Brasil (1974); entre os índios do litoral do noroeste da América do Norte (1966, 1974, 1975b); assim como descreveu características de casos entre os Igbo da Nigéria (1985). No entanto, ele também informou 79 casos entre crianças americanas (1983b, 1987). Ele informa que embora os casos variem de cultura para cultura, eles tendem a seguir um padrão semelhante: uma criança até então normal em certa ocasião fala e age do ponto de vista de outra pessoa, tipicamente começando entre a idade de 2 e 4 anos. Tais crianças normalmente param de fazer estas declarações por volta dos 7 anos ou 8 anos de idade, embora as características comportamentais da suposta personalidade anterior freqüentemente persistam por muito mais tempo. Muitos casos investigados mostram que havia uma pessoa verificável que se encaixava na descrição da criança. Tal pessoa freqüentemente morreu de uma morte violenta ou repentina, normalmente menos de 2 anos antes do nascimento da criança (Stevenson, 1986, 1987).

Como as implicações da pesquisa do Stevenson são de longo alcance e controversas (cf. Stevenson, 1977b), ele procurou ter seus estudos replicados. Em 1979 Pasricha e Stevenson conduziram uma replicação parcialmente independente de casos do tipo reencarnação, comparando os casos estudados por Stevenson com aqueles estudados por Pasricha. Mais tarde (1987) eles conduziram uma pesquisa longitudinal comparando casos em que o sujeito nasceu antes de 1936 com aqueles em que o sujeito nasceu em 1965 ou posteriormente. Ambos os estudos indicaram estabilidade nos padrões dos casos. Como Pasricha foi treinada por Stevenson, seria de se esperar que ela fizesse estudos de qualidade comparável a Stevenson, mas a sua associação sutilmente poderia tê-la influenciado a considerar os dados dele como confirmados. Pasricha e Barker (1981) e Pasricha (1983) demonstraram como investigadores diferentes avaliando o mesmo caso diferem no que se refere às interpretações de autenticidade. Por essa razão, Stevenson procurou outras pessoas qualificadas para executar estudos de maior replicação.

Eu encontrei Stevenson pela primeira vez em 1984 quando ele perguntou no Departamento de Antropologia da Universidade da Columbia Britânica se alguém estaria interessado em continuar seus estudos entre os índios do litoral noroeste. Através de extenso trabalho de campo com os índios Beaver, uma tribo do norte de Athapaskan no nordeste da Colúmbia Britânica no Canadá, eu sabia que a reencarnação exercia uma parte integral em sua visão de mundo (Mills, 1986). Na pesquisa de minha dissertação de doutorado (Mills, 1982) eu procurei observar quão predominante é a crença na reencarnação em uma amostra de 10 tribos diferentes de 10 áreas de cultura norte-americanas diferentes. Descobri que a informação sobre o tema reencarnação na literatura é bastante esporádica e incompleta. Após ter encontrado Stevenson e ouvido mais sobre seus estudos eu concordei em fazer uma pesquisa de casos ocorridos entre os índios Beaver no verão seguinte, enquanto trabalhava em outro projeto, e fazer algumas perguntas pendentes dos estudos do Stevenson entre os Gitksan. O mês com os Beaver e os 5 dias com os Gitksan produziram muito material interessante (Mills, 1988, 1989). Solicitei e recebi uma concessão pós-doutoramento de 2 anos para estudar a crença e os casos sugestivos de reencarnação entre os índios Beaver, Wet’suwet’en e os Gitksan da Columbia Britânica no Canadá.

Entre estas pessoas estão crianças que fazem declarações que são interpretadas como memórias de vidas passadas, e que nascem de parentes próximos da personalidade anterior.1 Enquanto alguns destes casos da Colúmbia Britânica apresentam evidência sugestiva da existência de reencarnação, é freqüentemente difícil eliminar a possibilidade de que muitas das aparentes recordações de vidas passadas sejam baseadas em informações que a criança aprendeu por meios normais quando a criança é próxima de parentes com conhecimento íntimo da suposta personalidade prévia. A informação pode ser internalizada, retrabalhada e mesmo melhorada sem que a fonte da informação permaneça acessível ao indivíduo. Helen Keller ofereceu um exemplo deste tipo de amnésia da fonte ou criptomnésia ao compor uma história a qual ela foi acusada de plágio (Keller, 1954, pp. 342-362).

A Índia oferece uma melhor oportunidade de controlar a variável de contato entre a criança e as pessoas informadas sobre a personalidade anterior, porque em 43% dos 183 casos analisados por Stevenson o sujeito e a personalidade anterior são de famílias desconhecidas uma à outra (1986, p. 211), às vezes de aldeias muito distantes uma da outra (Barker & Pasricha, 1979; Stevenson, 1987). Sendo assim, fiquei interessada em aceitar a oferta de Stevenson de investigar casos na Índia a fim de estudar os fenômenos numa cultura em que existe maior oportunidade para eliminar o fator de obtenção de conhecimento por meios normais da personalidade anterior. A partir de julho de 1988, aceitei uma posição em conjunto com a Divisão de Estudos da Personalidade e o Departamento de Antropologia da Universidade de Virginia, mas para conservar a independência de minha avaliação, Stevenson não leu as notas nem os relatório escritos que eu escrevi.

Procedimento 

Stevenson compartilhou comigo o endereço de 9 casos sobre os quais ele tomou conhecimento durante seus estudos ou através de contatos na Índia. Um destes casos já havia sido investigado por ele e Pasricha. Os outros 8 casos não foram estudados por Stevenson nem ele tinha qualquer informação de primeira mão sobre eles. Embora a comparação de duas investigações independentes do mesmo caso talvez ofereça a melhor replicação, descobri que no caso previamente estudado por Stevenson e Pasricha a criança tinha sido intimidada a não revelar suas memórias de vidas passadas e, neste contexto, eu não consegui completar o estudo do caso.2 Um 10º caso que chegou ao nosso conhecimento também foi estudado no verão de 1987.

No verão de 1988 eu reinvestiguei 7 dos casos com o objetivo de fazer perguntas ainda pendentes e entrevistar testemunhas às quais não tive acesso durante a primeira viagem, e investiguei um caso hindu adicional e 5 casos nos quais o sujeito ou a personalidade anterior eram muçulmanos. Estes casos meio-muçulmanos serão apresentados em um relatório separado. Em dezembro de 1988 e janeiro de 1989 eu retornei para fazer mais perguntas e começar a investigação de uns 3 casos adicionais. Como a informação destes últimos 3 ainda está incompleta, eu não os incluí na análise. Este artigo é baseado nos 10 casos originais estudados. Todos os 10 casos aconteceram no norte da Índia, 9 na província de Uttar Pradesh, e 1 cruzando a fronteira na província de Rajasthan.

Stevenson descreveu os métodos que ele desenvolveu para investigar os casos do tipo de reencarnação (Stevenson, 1974, 1975a, 1987). No verão de 1987 tentei seguir este procedimento da maneira mais próxima e completa possível. Em todos os casos eu me esforcei para entrevistar a criança, os membros de sua família e outras pessoas que testemunharam as declarações da criança sobre o que eventualmente foi identificado como sendo referencias a uma vida passada, e subseqüentemente os parentes da personalidade anterior. As declarações destas pessoas foram verificadas quanto à consistência interna e precisão. Os relatos do encontro da criança com a família e amigos da personalidade prévia e os reconhecimentos feitos também foram pedidos à criança, seus parentes e independentemente das testemunhas entre a família da personalidade anterior. Descrições da natureza e preferências pessoais da personalidade anterior foram obtidas.

Depois que os informantes lembraram-se de todos os detalhes espontaneamente, eu fiz mais perguntas usando o “Formulário de Registro para Casos do Tipo Reencarnação” e algumas vezes recorrei  ao “Livro-Código Computacional par a Casos de Renascimento” que Stevenson desenvolveu para assegurar que reuni, entre outras, informações demográficas que Stevenson julgou útil para análise. Eu também tomei notas de comportamento relevante por parte da criança. Registros escritos de nascimentos, mortes, post mortens, ou diários foram procurados e copiados sempre que encontrados.  No verão de 1988 fiz perguntas adicionais para conseguir mais informações sobre a situação do sujeito em relação ao afeto dos pais e avaliar a semelhança ou diferença com a Desordem de Personalidade Múltipla (cf. Coons, Bowman, & Milstein, 1988).

Todos os 10 casos investigados seguem o padrão de casos “resolvidos” em que a criança e/ou sua família tinham sido bem sucedidos em rastrear e encontrar os parentes de uma pessoa morta que correspondesse às declarações da criança. O ideal é que o investigador chegue antes de o caso ter sido resolvido para obter um registro de declarações feitas antes do contato com a família da personalidade anterior e testemunhar o primeiro encontro da criança com os aparentes assim como o reconhecimento dos parentes da personalidade anterior (Stevenson & Samararatne, 1988). Infelizmente, é difícil achar casos nesta fase de desenvolvimento. Os 2 casos não resolvidos que encontramos no curso de nosso estudo não puderam ser solucionados porque havia pouca informação para localizar a personalidade anterior e os pais estavam pouco dispostos a terem os casos estudados, por razões descritas na seção de discussão.

Em alguns casos a criança visitou a família da personalidade anterior outra vez em nossa presença, o que permitiu que observássemos o relacionamento entre a criança e os vários membros da família da personalidade passada. No entanto, declarações feitas depois do encontro inicial geralmente não têm o mesmo valor das declarações feitas antes do encontro, já que há inevitavelmente uma troca de informações entre a família da pessoa morta e a criança e seus parentes, informações que em alguns casos, não em todos, podem explicar as revelações adicionais feitas pela criança.

O Dr. N. K. Chadha, Professor de Psicologia na Universidade de Délhi, foi meu tradutor e assistente. Vinod Sahni, um estudante graduado do Dr. Chadha no Departamento de Psicologia, acompanhou-nos na maioria das investigações e traduziu minhas entrevistas com mulheres. Enquanto o Dr. Chadha traduzia, a Senhora Sahni tomava notas, fazendo uma tradução independente do que foi dito. Estas notas foram comparadas com aquelas da autora trabalhando a partir da tradução do Dr. Chadha. A comparação revelou um alto nível de consistência entre as duas traduções independentes. Em janeiro de 1989, a Senhora Geetanjali Gulati, uma estudante graduada do Dr. Chadha, substituiu Vinod Sahni.

Resultados 

Em 5 dos 10, ou 50% dos casos, a personalidade anterior era inicialmente desconhecida pela criança e a sua família. Nos outros 50% dos casos, a família da criança tinha ouvido falar da existência (ou da morte) da personalidade anterior ou era levemente familiarizada. Em nenhum dos 10 casos iniciais que eu estudei a criança era parente da personalidade prévia.

Em 6 dos casos a criança tinha entre 4 e 6 anos na época das entrevistas e ainda falava como se fosse uma outra pessoa, enquanto em 4 casos a criança tinha entre 8 e 16 e lembrava apenas o que já havia sido relatado que ele ou ela teria dito. Seis dos sujeitos eram masculinos e 4 femininos (ver Tabela 4 para uma comparação destas características com os dados de Stevenson).

A fim de garantir a brevidade deste estudo, apenas 3 dos 10 casos são apresentados abaixo em detalhes de modo que o leitor possa avaliar as evidências que estes casos apresentam. Os dados dos outros casos estão na seção de discussão. Pretendo publicar relatórios semelhantes sobre os outros casos.

Caso 1: Reena Kulshreshtha de Agra 

Os informantes para este caso em Agra eram o Sr. e a Sra. Kripa Shanker Kulshreshtha, seu filho Pankaj Kulshreshtha, Kailash Kumari (vizinho anterior de Shyam Babu Yadev), Shyam Babu Yadev e sua segunda esposa Urmila. Phoowati Devi, a mãe de Shyam Babu, foi entrevistada em Tilitila.

De acordo com seus pais, Reena Kulshreshtha nasceu no dia 13 de setembro de 1976 em seu lar em Agra. Ela é a mais jovem de seis crianças: tem uma irmã 20 anos mais velha, uma irmã 17 anos mais velha, um irmão aproximadamente 13 anos mais velho, um segundo irmão 9 anos mais velho, e uma irmã 6 anos mais velha. Seu pai começou a trabalhar alguns anos antes de seu nascimento no Departamento de Telecomunicações. Criada inicialmente em Agra, onde seu pai possui uma casa, depois que seu pai foi transferido para o escritório de Telecomunicações em Lucknow em 1980, Reena passou parte de seu tempo em Lucknow, e a outra parte em Agra, já que sua mãe manteve a casa em Agra durante o tempo que seu marido foi designado a trabalhar em Lucknow. Em 1988 o Sr. Kulshreshtha foi reencarregado de trabalhar em Agra. Os Kulshreshthas são da subcasta Kayastha, a casta dos negociantes do sistema de casta Hindu. O nome significa “a mais alta ancestralidade”.

Quando Reena tinha aproximadamente 9 meses de idade, ela disse a palavra “noivo,” e então levantou e deitou-se na cama, fingindo morrer, ao deitar e fazer de conta que parava de respirar (vide a Tabela 1 para notas adicionais sobre a cronologia e estimativas divergentes da idade de Reena quando os vários acontecimentos sobre o caso ocorreram). Nos 8 meses seguintes Reena passou a procurar por revistas ou livros todas as manhãs por várias horas. A princípio não estava claro para os seus pais o que ela fazia. Eventualmente ela achou uma foto que se assemelhava ao seu “noivo” e ficou muito ligada à foto. Fitava-a demoradamente todas as manhãs.

Quando Reena tinha aproximadamente 10 meses de idade, a mãe de Reena informou que ela disse que ela tinha morrido num dia como este (em que uma tempestade se formava) de uma injeção que produziu bolhas em todo o seu corpo. Depois de ouvir uma canção “Radhay Shyam” no rádio quando tinha aproximadamente 12 meses de idade, Reena disse que seu marido se chamava Shyam. Ela costumava pedir que seus pais achassem o seu marido.

Quando Reena tinha aproximadamente 18 meses de idade, ela tentou apontar a rota para o que ela chamou de “lar” quando estava no telhado da casa dos seus pais, mas quando desceu do telhado onde ela não podia mais ver os caminhos no labirinto de alamedas na vizinhança, ela não mais podia guiar os seus pais até lá.

Desde a infância precoce Reena identificou-se como uma mulher casada e uma mãe. Insistiu em usar, durante meses numa certa época, o colar que na Índia é um símbolo usado por mulheres casadas. Aos 2 anos e meio de idade, Reena disse a sua mãe que entendia por que sua mãe quis deitar-se com seu pai, o que sua mãe interpretou como uma indicação de que Reena tinha uma consciência incomum sobre relações sexuais para uma criança tão jovem. Ela foi observada cobrindo uma boneca com um pano cuidadosamente, e quando sua mãe perguntou o que ela fazia, Reena disse, “Meu filho sente frio. Protejo-o do frio”.

Quando Reena tinha menos de 3 anos de idade, ela descreveu todos os passos de sua cremação. Quando ela começou a falar sobre isto pela primeira vez, seus pais não podiam decifrar onde ela disse que tinha sido cremada. Reena disse que depois da cremação ela deitou-se por muitos dias num templo com um capacho no chão; depois de questioná-la, seu pai concluiu que esta seria uma descrição de seu estado depois da morte.

Quando Reena tinha aproximadamente 3 anos de idade, Shyam Babu Yadev, um colega de trabalho do Departamento de Telecomunicações em Agra, de casta mais baixa, veio a sua casa para deixar um pouco de chá seco. Shyam Babu tinha uma segunda profissão como vendedor de chá. Reena estava feliz em vê-lo. Depois que ele partiu, Reena contou sua mãe, “é o meu noivo. Chame-o”. Sua mãe chamou.

De fato, Shyam Babu tinha encontrado Reena quando ela tinha 14 meses de idade. Por ser um colega do pai de Reena, embora fosse de uma casta mais baixa ou “atrasada”, Shyam Babu tinha vindo ao lar de Kulshreshtha assistir o casamento da irmã mais velha de Reena. O pai de Reena lembra-se de Shyam Babu observar, “A quem essa criança puxou”? porque Reena era de tez escura, diferentemente de seus pais (mas apenas um pouco mais escura do que o seu irmão mais velho). Porque Reena usou a palavra “noivo” em vez de “marido” para descrever a foto, eu perguntei-me se Reena tinha começado a identificar a si mesma como sendo a esposa de Shyam Babu na época do casamento da irmã. Tanto o pai como a mãe de Reena insistiam que ela tinha usado esta palavra, indicado como morreu, e procurado uma imagem que se assemelhasse ao noivo antes do casamento da irmã. A tabela 1 expõe alguma variação na idade que eles atribuíram a Reena quando estes acontecimentos começaram.

Shyam Babu de fato tinha tido uma esposa, uma Gompti Devi (que tinha a mesma tez escura). Ela morreu no dia 18 de fevereiro de 1975 após aproximadamente 15 anos de casamento com Shyam Babu (19 meses antes de Reena nascer). Ela tinha cerca de 30 anos de idade quando morreu. De acordo com Shyam Babu, Gompti Devi morreu após receber uma injeção a qual ela era alérgica e que produziu bolhas no seu corpo. Ela foi cremada na mesma noite no templo branco perto do Taj Mahal. O Sr. Kulshreshtha, o pai de Reena, sendo colega de Shyam Babu Yadev, foi convidado para assistir ao enterro mas não pôde ir. Gompti Devi era a mãe de duas filhas e um filho. O filho tinha cerca de um ano de idade quando ela morreu.

Depois de encontrar Shyam Babu quando ela tinha aproximadamente 3 anos, Reena insistiu que Shyam Babu era o seu “marido,” e repetidamente pediu a seus pais que o “chamassem” para assistir os acontecimentos especiais na família. Ouvindo dos pais de Reena as declarações que Reena fizera, e vendo que Reena respondia a ele como seu marido, Shyam Babu ficou convencido de que Reena era a sua esposa renascida e compareceu a aproximadamente 10 eventos familiares. Nestas ocasiões Reena agia apropriadamente como uma esposa hindu: ela lhe servia comida e chá e então se retirava. Depois que ele ia embora, ela pedia a seus pais que o chamassem outra vez e trocavam presentes em harmonia com em um relacionamento de esposa-marido. Por exemplo, ela pediu que Shyam Babu lhe desse o material necessário para ela fazer um vestido longo. Reena insistiu que seus pais providenciassem um suéter e uma touca de bebê para ela dar a Shyam Babu.

Pouco depois que Reena encontrou Shyam Babu quando tinha aproximadamente 3 anos de idade, ela solicitou que sua mãe a acompanhasse até o lar dele. As direções que Reena deu a seus pais sobre como chegar à casa “dela”, do telhado do lar dos Kulshreshtha, antes de identificar Shyam Babu como seu marido, descreviam corretamente o caminho que levava à casa que Shyam Babu possuía e ocupou com Gompti Devi em Agra. A casa ficava a cerca de um quilômetro e meio do lar dos Kulshreshthas. Os pais de Reena desconheciam a localização do seu lar até que Reena pediu para ir lá depois de ter identificado Shyam Babu como seu marido. Enquanto aproximavam-se, Reena guiava sua mãe à casa certa.

Quando Reena chegou à casa de Shyam Babu, ele estava ausente mas sua segunda esposa estava presente. Reena soube pela primeira vez que Shyam Babu tinha se casado novamente. Reena não pediu para voltar a esta casa outra vez mas freqüentemente pediu a sua mãe que a acompanhasse ao lar da senhora que vivia depois da alameda de Shyam Babu, que se chamava Kailash Kumari Yadev, que tinha sido uma espécie de sogra substituta de Gompti Devi. No lar de Kailash Kumari, Reena era tímida e não comia o alimento oferecido na presença de Kailash Kumari, assim como Gompti Devi não comia em sua presença, em sinal de respeito à sogra. Quando Reena repetidamente pedia para visitar Kailash Kumari, sua mãe a obrigaria a levá-la, mas a repreendia dizendo, “Em casa você sempre me pede para trazê-la aqui, mas quando está aqui, você é tímida”.

Reena continuou a convidar Shyam Babu a visitá-la em sua casa depois de saber que ele tinha se casado novamente. Ele não levou sua segunda esposa ao lar de Reena, “por respeito aos sentimentos dela”, mas discutiu a situação com a sua segunda esposa, e eles concordaram em dar a Reena o material necessário para fazer um vestido longo, assim como pulseiras, doces, brinquedos e algum dinheiro.

Gompti Devi passou uma boa parte de sua vida de casada no lar de sua sogra na aldeia de Tilitila, a 145 km de Agra. Após a sua morte as crianças de Gompti Devi foram, em grande parte, criadas pela sogra dela, Phoowati Devi. Após Reena ter declarado que Shyam Babu era seu marido, Phoowati Devi foi até Agra na companhia de Kailash Kumari para ver Reena. Até que ponto as apresentações feitas identificaram Phoowati Devi na zona audível de Reena permanece incerto. A resposta de Reena a Phoowati Devi foi interpretada como um reconhecimento espontâneo já que ela chorou ao ver Phoowati Devi, foi para dentro e cobriu a cabeça com um pano, como Gompti Devi e todas as noras tradicionais fazem na presença de suas sogras. Reena disse no ouvido de sua mãe, “deixei minhas pulseiras na sua casa. Morri na sua casa”. (Esta frase é usada geralmente, não só por Reena, para dizer “quando a sua nora”, em vez de que a morte ocorreu em seu lar; Gompti Devi morreu no hospital em Agra). Muitas outras vezes Reena disse que ela teve um tipo específico de pulseira e quatro anéis, e pediu que o seu pai os trouxesse para ela.

Depois que Phoowati Devi a visitou, Reena retribuiu a visita. Esta foi a segunda vez que ela foi à casa de Shyam Babu. Quando ela chegou o filho de Gompti Devi estava lá, mas Reena não o cumprimentou. A mãe de Reena acredita que foi assim porque Reena não se sentia confortável na presença de Urmila. Esta foi a única vez que Reena viu umas das crianças de Gompti Devi.

Reena foi com a família ao Taj Mahal pela primeira vez quando tinha aproximadamente 3 anos de idade. O pai de Reena pensava que esta visita havia acontecido antes de ela ter reconhecido Shyam Babu como seu marido, enquanto sua mãe pensava que a viagem ao Taj Mahal aconteceu talvez depois do encontro deles. No Taj Mahal Reena ficou muito perturbada. Disse que era perto do lugar onde ela tinha sido cremada. Reena tinha uma fobia do local, e não esteve disposta a retornar ao Taj Mahal desde então. Reena também ficava perturbada ao ouvir canções que mencionavam o Taj Mahal, ou menções ao terreno de cremação.

Depois que Reena foi a Lucknow quando tinha aproximadamente 4 anos de idade ela viu uma agulha hipodérmica pela primeira vez quando sua mãe ficou doente e tomou injeções. Reena ficou muito alarmada. Ela continuou a ter uma fobia de injeções, e corria para longe quando ouvia alguém mencionar a agulha hipodérmica embora ela não tivesse tomado nenhuma injeção desde o seu nascimento.

TABELA 1

Sumário das afirmações, reconhecimentos e comportamento de Reena Kulshreshtha

Item

Informantes

Verificação

Comentários

1. Ela teve um “noivo”.

Sra. Kulshreshtha, mãe de Reena

Shyam Babu Yadev, marido de Gompti Devi

O pai de Reena disse que isto ocorreu quando Reena tinha 6 meses de idade; sua esposa corrigiu-o, dizendo que isto ocorreu quando Reena tinha 9 meses de idade (07/08/ 87). Mais tarde (01/09/89), sua mãe disse que Reena tinha 1 ano e meio quando disse isto,  pensava que ela tinha 2 anos e meio no casamento da sua irmã quando ela tinha de fato 14 meses. Shyam Babu compareceu a este casamento e comentou sobre Reena. Apesar disso tanto o pai quanto a mãe de Reena têm certeza de que ela disse isto antes do casamento, quando era muito pequena.

2. Ela imitou sua morte.

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Reena se deitou e prendeu a respiração quando ela tinha idade o bastante para ficar de pé.

3. Ela procurou e achou uma [foto] semelhante à aparência do marido.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha, pai de Reena

Sr. Kulshreshtha

Reena começou sua procura em revistas e livros aos 9 meses de idade e continuou até que ela achou uma que a satisfez. O pai de Reena observou que a foto que ela finalmente selecionou não era de Shyam Babu Yadev mas era parecida. (Nota: há uma semelhança de rosto e tipo físico entre o pai de Reena e Shyam Babu Yadev). Os pais de Reena observaram que ela procurava uma foto do marido de manhã, às 5 ou 6 da manhã.

4. Ela disse que o nome do seu marido era Shyam.

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Reena disse isto depois de ouvir a canção “Raday Shyam” no rádio.

5. Ela disse que morreu após tomar uma injeção e teve bolhas por todo o corpo.

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Em 01/09/89 a mãe de Reena disse que Reena disse isto quando tinha 10 meses de idade. Em 07/05/88 a mãe de Reena disse que Reena disse isto quando tinha 12 anos meses de idade.

6. Ela descreveu os passos desde a sua morte até a cremação do seu corpo.

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

A princípio seus pais não puderam descobrir o nome do lugar onde ela disse que foi cremada. Reena descreveu a cremação quando tinha 3 anos, antes dela ter encontrado Shyam Babu Yadev.

7. Ela disse que depois da cremação permaneceu num templo com um capacho no chão por muitos dias.

Sr. Kulshreshtha

Sra. Kulshreshtha

 

Seu pai procurou saber a localização do templo perguntando se havia lojas de chá perto do templo. Reena disse que não tinha nenhum desejo de tomar chá. Seu pai interpretou que isso seria uma referência a um estado depois da morte. Ele também interpretou sua afirmação sobre pardais se referindo a uma vida intermediária, mas depois de saber sobre o intervalo entre a morte de Gompti Devi e o nascimento de Reena achou essa possibilidade menos provável.

 

8. Ela disse repetidas vezes: “Encontre o meu marido”.

Sra. Kulshreshtha

 

 

9. Ela disse que protegia o filho do frio quando cobria uma boneca.

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

O filho do Gompti Devi tinha cerca de um ano de idade quando morreu. Ela também tinha criado seu meio irmão depois da morte de sua madrasta.

10. Ela insistiu em usar o colar que é o símbolo de mulheres casadas, assim como outras jóias tipicamente usadas por mulheres casadas.

Sra. Kulshreshtha

 

Ela insistiu em usar tal colar durante vários meses ao longo de anos. Eu não perguntei se Gompti Devi usava um colar. Esse colar é tipicamente amarrado pelo noivo em volta do pescoço da noiva no casamento.

11. Ela apontou o caminho para a sua casa anterior.

Sr. Kulshreshtha

 

11. Ela apontou o caminho para a sua casa anterior.

12. Ela contou a sua mãe que ela entende sobre relações sexuais.

Sra. Kulshreshtha

 

Isto começou aos 2 anos e meio de idade. A Sra. Kulshreshtha diz que ela continua a conversar sem embaraço sobre questões sexuais.

13. Ela ficou muito perturbada quando levada ao Taj Mahal, perto de onde ela disse ter sido cremada.

Sr. Kulshreshtha

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Shyam Babu confirmou que Gompti Devi foi cremada no templo branco perto do Taj Mahal. Embora ele não seja visível do Taj Mahal, o terreno de cremação está bem próximo a ele. Um dos caminhos que leva ao Taj Mahal passa direto pelo terreno de cremação.

O pai de Reena pensava que a viagem havia acontecido antes de ela ter identificado Shyam Babu como seu marido, mas a mãe de Reena não tinha certeza sobre o que ocorreu primeiro e pensou que talvez a viagem ao Taj Mahal tenha ocorrido depois da identificação. Daquele dia em diante Reena se recusou a ir ao Taj Mahal e ficava perturbada quando ouvia menções ou canções sobre o terreno de cremação referido.

14. Ela reconheceu Shyam Babu Yadev.

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

A idade de Reena neste encontro foi dada como 2 e meio por sua mãe e entre 3 e 4 por seu pai.

15. Ela predisse que seu pai seria promovido.

Sr. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

O intervalo exato entre a predição (em 1979) e a promoção (em 1980) não é claro. Reena não predisse que a promoção implicaria uma mudança a Lucknow, como ocorreu.


 

16. Ela tem uma fobia de injeções e não superou esta fobia.

Sra. Kulshreshtha

 

De acordo com sua mãe, Reena não recebeu quaisquer injeções desde seu nascimento e viu uma pela primeira vez quando sua mãe ficou doente quando Reena tinha aproximadamente 4 anos de idade.

17. Ela pedia que Shyam Babu viesse a seu lar em ocasiões especiais.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

 

Shyam Babu afirmou ter comparecido em 10 ocasiões.

18. Ela agia como uma esposa na presença de Shyam Babu.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Ela era tímida, servia chá e comida a Shyam Babu e então se retirava, o que era correto para uma esposa hindu.

19. Ela insistia em dar presentes a Shyam Babu tais como suéteres e uma touca de bebê.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Pankaj Kulshreshtha, irmão de Reena

 

A primeira touca de bebê Reena pode ter pensado que era para o filho de Gompti Devi que tinha cerca de 1 ano de idade quando ela morreu. Veja o Item 23 sobre o presente de Reena, uma touca de bebê, para o neto de Kailash Kumari

20. Ela pediu a Shyam Babu que lhe presenteasse com o material para fazer um vestido longo.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

 

Meninas jovens geralmente usam vestidos curtos, enquanto vestidos longos são usados por mulheres.

21. Ela insiste em ir ao lar de S. B., e mostra o caminho enquanto se aproximam.

Sra. Kulshreshtha

 

A casa estava na direção que Reena tinha indicado quando tinha cerca de 18 meses de idade.

22. Ela levou a mãe até a casa de Kailash Kumari e ao chegar lá a reconheceu.

Sra. Kulshreshtha

Kailash Kumari, vizinho de Shyam Babu

 

Kailash Kumari era uma sogra substituta que vivia bem em frente à casa de Gompti Devi, a quem Gompti Devi visitava diariamente. Reena persistentemente pedia para visitar a vizinha de Gompti Devi.

23. Ela agiu como Gompti Devi na presença de Kailash Kumari.

Kailash Kumari

Kailash Kumari

Assim como Gompti Devi Reena não comia na presença de Kailash Kumari. Este seria um sinal de respeito à sogra. Reena pediu que seus pais dessem uma touca de bebê ao novo neto de Kailash Kumari.

24. Ela disse que havia algum problema em sua casa.

Sra. Kulshreshtha

Urmila Yadev, segunda esposa de Shyam Babu Yadev

Isto ocorreu quando Reena tinha aproximadamente 3 anos. Urmila confirmou que teve um parto muito difícil já que o cordão umbilical estava enrolado no pescoço do bebê.


 

25. Ela anunciou o nascimento de um filho a Shyam Babu e celebrou o acontecimento.

Sra. Kulshreshtha

Urmila Yadev

O nascimento ocorreu em Tilitila, a 145 km de Agra. A mãe de Reena visitou Kailash Kumari para perguntar se isto era verdade. Kailash Kumari perguntou a Shyam Babu que disse que não sabia. Algum tempo depois ele recebeu uma carta anunciando o nascimento de um filho na data citada por Reena. Os pais dela sabiam da gravidez. Reena pediu que a sua sogra enviasse laddu (uma espécie de doce) para que eles pudessem celebrar, o que foi feito, e ela reservou um pouco do doce para si.

26. Ela reconhece Phoowati Devi.

Phoowati Devi, mãe de Shyam Babu Yadev

Sra. Kulshreshtha

 

Phoowati Devi estimou que Reena tinha 3 anos naquela ocasião; enquanto a mãe de Reena disse que ela tinha cerca de 2 anos e meio. Phoowati Devi viu Reena chorar mas ela não observou Reena quando ela entrou e cobriu a cabeça, gesto apropriado para uma nora, nem a ouviu dizer: “Minhas pulseiras estão com você [sogra],” e, “Eu morri em sua casa”, como a mãe de Reena ouviu. Phoowati Devi foi trazida por Kailash Kumari. Indícios para a identidade de Phoowati Devi podem muito bem ter sido dados.

27. Ela não reconhece o filho de Gompti Devi.

Urmila Yadev

Sra. Kulshreshtha

Urmila Yadev Sra. Kulshreshtha

Reena foi à casa de S. B. ver Phoowati Devi. Ela viu Urmila, a esposa de S. B., (pela segunda vez) e viu o filho de Gompti Devi pela primeira vez mas aparentemente não o reconheceu.

28. Ela pediu repetidamente que seu pai fosse à sua casa e pegasse os seus quatro anéis e pulseiras.

Sra. Kulshreshtha

Urmila Yadev

Shyam Babu Yadev

Shyam Babu confirmou que ela teve pulseiras, mas não lembrava de que tipo. A idade que ela tinha quando fez esse pedido não foi determinada.

29. Ela descreveu corretamente as cores dos sáris e suéteres de Gompti Devi.

Sra. Kulshreshtha

Kailash Kumari

 

 

30. Ela anunciou a morte do “irmão mais velho” de Shyam Babu.

Sra. Kulshreshtha

Sr. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Três dias depois Shyam Babu soube que o primo que ele chamava de “irmão mais velho”, tinha morrido três dias antes em Tilitila. Reena nunca foi a Tilitila. Assim como o item 11 esta declaração foi feita enquanto Reena estava no telhado de sua casa.

31. Ela nomeou os deuses representados no templo do terreno de cremação.

Sra. Kulshreshtha

Não confirmado

Quando estávamos em Lucknow nós verificamos alguns templos no terreno de cremação, e não encontramos fotos dos três deuses nomeados.

32. Ela anuncia que o seu marido passou por uma operação.

Sra. Kulshreshtha

Shyam Babu Yadev

Quando tinha aproximadamente 9 anos de idade, Reena perguntou a sua mãe o que era uma operação e como alguém ficava inconsciente e disse que seu marido tinha passado por uma operação. Os Kulshreshthas não sabiam na época (já que Shyam Babu estava em Tilitila quando ficou doente), então souberam através de pessoas que trabalhavam no escritório que ele tinha sido operado.

 

Embora Reena não tivesse visitado a casa de Shyam Babu outra vez, ela conservou uma notável conexão psíquica com Shyam Babu e sua família mesmo quando esta estava em Tilitila. Stevenson (1975a, p. 101) relata que crianças apontadas como detentoras de memórias de vidas passadas às vezes são creditadas na Índia como possuidoras de poderes extraordinários, mas ele não encontrou nenhuma evidência que sustentasse esse conceito. Não obstante, em três ocasiões descritas abaixo Reena falou sobre acontecimentos relacionados a Shyam Babu e à família dele que ela não tinha como saber através de nenhum meio aparente. Dois destes acontecimentos aconteceram em Tilitila. A única outra situação em que Reena exibiu PES também apresenta alguma relação com o seu contato com Shyam Babu.

Quando tinha aproximadamente 4 anos, Reena disse: “Mãe, eu não estou com vontade de comer porque há algum problema em minha casa”. Mais tarde, no mesmo dia, ela disse: “Shyam Babu foi abençoado com um filho. Diga a minha sogra para enviar laddu [uma espécie de doce]. Vamos celebrar e distribuir doce”.

A mãe de Reena foi a Kailash Kumari e perguntou se era verdade que a esposa de Shyam Babu tinha tido um filho. Kailash Kumari não sabia, já que a esposa de Shyam Babu estava em Tilitila, mas perguntou a Shyam Babu quando ele voltou do trabalho. Ele disse que ainda não tinha ouvido qualquer notícia.  Kailash Kumari e a mãe de Reena sabiam que a esposa dele estava grávida mas ela estava em Tilitila. Alguns dias depois Shyam Babu recebeu uma carta anunciando o nascimento de um filho no dia em que Reena tinha anunciado o nascimento. Urmila, a segunda esposa de Shyam Babu, disse que o nascimento tinha sido muito difícil porque o cordão umbilical estava enrolado no pescoço do bebê.

Em outra ocasião Reena disse, “O irmão mais velho do meu marido morreu”. Três dias depois Shyam Babu soube, de acordo com os pais de Reena, que o primo, a quem ele chamava de “irmão mais velho”, tinha morrido em Tilitila no dia em que Reena fez esta declaração (Shyam Babu tinha esquecido este incidente).

Reena continuou a falar como se fosse Gompti Devi até os 7 anos de idade, mesmo quando estava em Lucknow. Lá ela nomeou três deuses cujas fotos ela disse que estavam no templo onde ela foi cremada. Esta declaração não foi confirmada. Quando Reena tinha aproximadamente 7 anos, Shyam Babu afastou-se da família, sentindo que a ligação de uma menina que estava crescendo com um homem que havia se casado uma segunda vez, mas que ela ainda via como seu marido, não deveria ser prolongada.

Em fevereiro de 1985, quando Reena tinha 8 anos e meio de idade (e estava de volta a Agra), ela perguntou a sua mãe o que era uma operação e como uma pessoa ficava inconsciente e disse: “Meu marido passou por uma operação”. A família de Reena então soube através do escritório que Shyam Babu tinha ficado seriamente doente quando estava em Tilitila. Tinha sido hospitalizado em Etawah e então transferido para Agra onde foi operado, sendo que depois disso ele ficou inconsciente por 2 meses. Reena anunciou que ele tinha passado por uma operação antes de seu pai ter ouvido esta notícia. Reena foi com a sua família visitá-lo no hospital.

Os pais de Reena informaram que uma vez ela tinha mostrado percepção extra-sensorial de um acontecimento na própria família: em 1979 ela predisse que o pai, o Sr. Kulshreshtha, seria promovido, e isso aconteceu em 1980. Esta promoção afetou o relacionamento com a família de Shyam Babu já o pai dela foi transferido para Lucknow.

Reena tinha entre 11 e 12 anos quando investiguei e reinvestiguei o caso e nessa época ela não mais falava como se fosse a esposa de Shyam Babu. Ela não permitia que eu a entrevistasse, embora às vezes respondesse a perguntas feitas por seus pais durante as nossas entrevistas. Ela continua mostrando precocidade nas tarefas de donas de casa como cozinhar, escolher verduras, fazer compras, costurar e tricotar. Estas habilidades foram notadamente desenvolvidas quando ela tinha 5 anos. Sua mãe notou que com esta idade ela já podia seguir padrões complicados de tricô em suéteres, o que aconteceu bem mais cedo do que com suas irmãs.

O pai de Reena observou que ela nunca pareceu ser uma criança, e ela ainda age de forma mais adulta do que infantil. Os pais dela informam que ela é uma pessoa particularmente pontual e metódica com uma memória excelente, que estuda antes de se permitir ler por prazer e prefere a companhia de adultos em vez de estar entre crianças. Ela é bem respeitada na escola onde é conhecida como uma pacificadora que acalma as pessoas quando elas brigam.  Na época Reena estava na sexta série, e estava indo bem.

O marido e a sogra de Gompti Devi nos contaram que Gompti Devi tinha estas qualidades de pacificadora, e gostava muito de tricotar e costurar. Gompti Devi tinha estudado até a oitava série.

Quando retornei em janeiro de 1989, eu soube que Reena ainda considerava Shyam Babu como o seu marido na vida passada. Em 25 de dezembro, ele estava entre os 400 convidados em um jantar que os Kulshreshthas realizaram para celebrar o nascimento do primeiro neto do Sr. Kulshreshtha. Reena estava jantando quando Shyam Babu chegou, mas ao vê-lo, ela parou de comer e se retirou, como uma bem-educada esposa hindu deve fazer na presença do seu marido.

Avaliação das Características Paranormais do Caso. Reena fez 10 declarações ou atos verificados antes de se encontrar com Shyam Babu e 15 depois. Reena reconheceu corretamente três pessoas e dois locais relacionados à personalidade anterior. Todas as suas declarações e reconhecimentos estavam corretos, exceto pela declaração sobre os deuses no templo onde ela foi cremada. No entanto, ela não deu nenhuma indicação de reconhecer o filho de Gompti Devi. Se Reena tivesse sido levada a Tilitila durante o período em que ela tinha se identificado fortemente como sendo a esposa de Shyam Babu, a sua aparente memória da vida de Gompti Devi talvez tivesse fornecido uma verificação mais completa. Este caso não cumpre o critério de não existir nenhum contato entre o sujeito e a família da personalidade anterior. Com exceção do aparente conhecimento antecipado de Reena sobre o dia e a dificuldade do nascimento do filho de Urmila, a morte do primo de Shyam Babu, e a operação de Shyam Babu, as informações contidas nas declarações feitas por Reena estavam dentro do alcance do conhecimento do pai dela ou apresentavam tal potencial. O pai de Reena foi informado sobre a causa da morte da esposa de Shyam Babu, embora a mãe de Reena apenas lembre ter sido informada que ela tinha morrido deixando para trás crianças pequenas, o que levou a Sra. Kulshreshtha a ter pena da família de Shyam Babu.

O Sr. Kulshreshtha e o Sr. Yadev não tiveram muito contato já que trabalharam em prédios diferentes, cada um de um lado da estrada. Nem o Sr. nem a Sra. Kulshreshtha tinham conhecido a primeira esposa de Shyam Babu, mas outras pessoas no escritório de Telecomunicações sem dúvida a tinham conhecido e sabiam onde a família de Shyam Babu vivia.

As características mais marcantes deste caso são a identificação intensa de Reena com a personalidade de uma mulher casada, a descrição de sua morte numa vida anterior, a procura por uma foto que se assemelhasse ao marido numa idade precoce, a fobia de injeções e do terreno de cremação e o aparente conhecimento antecipado de acontecimentos relacionados à família de Shyam Babu. Não há nenhum motivo aparente para ela se identificar como a esposa de um colega de trabalho do seu pai que pertence a uma casta mais baixa.

Caso 2: Ashok Kumar Shakya de Ritaur 

Os informantes para este caso em Ritaur eram Ashok Kumar Shakya, seus pais Sr. e Sra. S. B. Shakya, e seu irmão Awadesh. Em Bandha os informantes foram o filho mais velho do falecido Kishen Behari, Laxmi Narain Jatev; a viúva de Kishen Behari, Savitri Jatev; o irmão de Kishen Behari, Bhateshwar Dayal Jatev; o irmão mais jovem do pai de Kishen Behari, Shyam Lai; a esposa do falecido, Gian Shri; a mãe de Kishen Behari, Teeja Jatev; e o líder de Bandha, Udal Singh.

Ashok Kumar é o terceiro e mais jovem filho de Shyam Babu Shakya e Chandra Wati da aldeia de Ritaur, Distrito de Etawah, em Uttar Pradesh. Ritaur tem uma população de aproximadamente 5.000 habitantes. De acordo com seus pais, ele nasceu em casa no dia 16 de agosto de 1982. Awadesh, o irmão de Ashok Kumar, é 11 anos mais velho e seu irmão Sarvan é 9 anos mais velho. Eles não têm nenhuma irmã. Seu pai, S. B. Shakya, terminou o segundo grau escolar e lecionava antes de ingressar no exército. Ele foi mal sucedido numa competição e voltou para cultivar a terra de seus antepassados. Os Shakyas são da casta Kshatriya.

Tanto na época da primeira investigação, quando ele tinha acabado de completar 5 anos, como depois, quando iniciei a segunda investigação, ele conversava como se fosse um homem casado e o pai de cinco filhos. Quando eu o visitei em janeiro de 1989, o pai dele me informou que ele falava menos porque era importunado por ser um chamar ou intocável.

Quando Ashok Kumar ainda era incapaz de falar, ele às vezes fingia mancar. Uma vez, após ter desenvolvido suas habilidades verbais, o que ele fez rapidamente, ele ficou irritado com a mãe dele e disse, “eu não vou mais viver com você. Vou para a minha própria casa. Lá eu viverei com toda a minha família”. Quando perguntaram qual era o nome da aldeia dele, a princípio ele respondeu tentando andar em direção a ela, mancando; então disse “Bandha” e afirmou ser da aldeia de Bandha. Sua mãe notou que ele começou a falar de uma forma muito clara e adulta numa idade precoce, e tinha há muito pouco tempo, aos 5 anos de idade, começado a falar com hesitação na linguagem de uma criança da sua idade.

Com o tempo, Ashok Kumar disse que ele teve uma esposa e cinco filhos e estava mais preocupado em saber se eles tinham o suficiente para comer. Ele continuou a pedir que seus pais o levassem até os filhos. E falou muitas vezes de coisas que via na casa dos pais: “Minha esposa não tem isto. Vá e dê isto a ela”. Ele freqüentemente pedia que a mãe parasse de trabalhar para que pudessem conversar sobre a família dele. A tabela 2 lista as declarações, reconhecimentos e comportamento de Ashok Kumar.

Quando a polícia foi mencionada, Ashok Kumar disse que ele tinha medo da polícia e afirmou diversas vezes que o chefe da polícia tinha lhe dado uma surra com um pedaço de pau depois de ele ter se envolvido em uma briga perto dos campos. “Se acontecer de eu encontrá-lo, eu o reconhecerei e baterei nele agora mesmo”, Ashok Kumar disse à sua mãe. Ashok Kumar disse ao pai: “Vamos à delegacia — você, eu e Awadesh — e daremos uma surra no policial encarregado”.

Ashok Kumar continuou a fingir que mancava e costumava dizer aos pais: “eu vim mancando, mancando até a sua casa”. Ele nos contou: “Quando morri, eu achei a casa de minha mamãe [Chandra Wati] com grande dificuldade; é uma casa com paredes de barro como esta. Tive que me apoiar nestas paredes para andar e só então consegui entrar na casa da minha mamãe… Comecei de lá  [Bandha, na morte] e cheguei aqui no nascimento”. Em 1988 adicionou: “Cheguei aqui mancando, mancando. Achei uma porta que estava fechada. Achei outra porta que estava fechada. Então achei esta porta que estava aberta e entrei”.

Depois de Ashok Kumar tanto pedir para visitar a sua família em Bandha, seus pais chegaram à conclusão de que o filho lembrava-se de uma vida passada. Pensaram que ele era de uma família boa porque usou termos adequados e gentis para se referir aos parentes, termos não usados pelos seus pais. A mãe de Ashok Kumar conhecia o fenômeno de crianças que afirmam ser alguém renascido porque uma menina, que agora tem aproximadamente 29 anos de idade, tinha se identificado como a reencarnação da irmã de Chandra Wati que morreu aos 5 anos de idade. No entanto, os pais de Ashok Kumar ficaram irritados com suas contínuas exigências para ser levado à sua família prévia e, segundo o pai dele, tentaram fazê-lo esquecer as memórias “gritando e batendo muito nele”. Contudo, as surras e gritos não surtiram o efeito desejado. Ashok Kumar ficava irritado e não comia por até 2 ou 3 dias.

Em 2 de janeiro de 1987, Ashok Kumar não tinha comido o dia inteiro. Quando seu irmão Awadesh retornou da escola às 4h da tarde, Ashok Kumar insistiu, “eu só comerei se você me levar à minha aldeia. Vamos começar da estrada. Haverá um cruzamento de ferrovia, então haverá uma ponte sobre um canal e perto há um pequeno açude. Perto dali eu construí a minha própria casa e a minha esposa ainda mora lá. Leve-me ao meu lar”.

Awadesh e seus pais pensaram que Ashok Kumar se referia a um povoado chamado Bandha que eles sabiam que ficava a uma certa distância de Ritaur. Awadesh e Ashok Kumar partiram nesse dia e foram acompanhados por dois rapazes, Kuldeep e Bablu. Carregaram Ashok Kumar numa bicicleta mas em vez de indicar a estrada que leva ao povoado de Bandha, Ashok Kumar apontou a rota do outro lado dos campos que ele pensou que eles deviam seguir. Quando estavam perto de uma aldeia Ashok Kumar desceu da bicicleta e disse: “A minha aldeia é lá,” e guiou o caminho.

A aldeia de aproximadamente 250 pessoas onde Ashok Kumar os levou (e que de fato se chama Bandha) fica a aproximadamente 4 km de Ritaur atravessando os campos. Para chegar a Bandha pela estrada, deve-se ir de Ritaur a Ekdil, depois a Etawah, e então seguir rumo ao norte da estrada que leva até o cruzamento de ferrovia, e atravessar a ponte sobre um canal, como Ashok Kumar tinha dito. Os últimos 2 km que levam a Bandha só podem ser percorridos a pé. Esta rota pela estrada dá um total de 18 km.

Nenhum membro da família do Ashok Kumar jamais tinha estado nesta aldeia de Bandha antes. Até Ashok Kumar chegar a Bandha, nenhuma das pessoas que nós entrevistamos no local tinham ouvido falar dele. Os aldeãos de Bandha sabiam da existência da aldeia maior de Ritaur, mas as pessoas que nós entrevistamos não tinham nenhuma ligação com essa aldeia. O centro comercial mais próximo a Bandha é Etawah, ao passo que o mais próximo a Ritaur é Ekdil. A notícia de que Ashok Kumar falou de uma vida passada chegou a Ekdil, onde um sócio de Stevenson tomou conhecimento do caso.

Fora da aldeia, Awadesh perguntou a uma mulher que levava bodes ao campo, “Algum homem morreu aqui? Assassinado ou talvez enforcado por pessoas más? A mulher disse: “Não” e seguiram em frente. Ashok Kumar contou ao irmão: “Ela é a minha mãe”. Awadesh gritou com ele dizendo: “Você não deve chamar todo mundo de mãe”. Na aldeia Ashok Kumar foi diretamente à casa do falecido Kishen Behari Yadev e disse: “Esta é a minha casa”.

Uma multidão grande tinha se reunido, e o chefe da aldeia, Udal Singh, surgiu e assumiu o comando da situação. Com a intenção de verificar se a declaração de Ashok Kumar era verdadeira, ele disse a Ashok Kumar: “Não, esta não é a sua casa,” e o levou ao redor da aldeia sugerindo outras casas, algumas muito mais ricas que a dele. Mais uma vez Ashok Kumar parou na frente da casa de Kishen Behari e disse: “Esta é a minha casa. Eu construí esta casa”. Udal Singh chamou a viúva de Kishen Behari, Savitri, e disse a ela, “Venha aqui. É provável que a sua criança morta tenha renascido.”

Ashok Kumar foi até Savitri e riu, e ela o colocou em seu colo. Ele continuou fitando-a. Ela pensou que ele fosse talvez uma de suas duas crianças que tinham morrido depois de seu marido, mas Awadesh disse: “ele não é a sua criança. Ele diz: ‘eu tenho cinco filhos e uma esposa’, então talvez o seu marido tenha renascido”. Alguém na multidão perguntou a Ashok Kumar: “Quem é ela”? e ele respondeu:“é a minha esposa”. Ela então tocou os pés dele e ele não se opôs. Isto foi considerado como uma indicação de que ele a via como sua esposa.

Ashok Kumar mandou buscar o filho mais velho, que veio, e foi reconhecido por ele, mas ao ser questionado sobre o nome do filho ele disse: “Rakesh”. Na verdade o nome do filho mais velho de Kishen Behari é Laxmi Narain. Ashok Kumar continuou a chamá-lo pelo nome errado mesmo depois de três visitas subseqüentes. O nome Rakesh não tem nenhum significado especial para a família de Savitri.

A mãe de Kishen Behari ouviu o que acontecia e retornou dos campos onde ela tinha levado os bodes; era a mulher que Ashok Kumar tinha dito ao irmão que era a sua mãe quando se aproximaram de Bandha. Alguém perguntou a Ashok Kumar quem ela era e ele disse: “Minha mãe”, mas ela não ouviu. Ela colocou Ashok Kumar em seu colo e perguntou: “Eu sou a sua mãe”? Ele não disse nada, mas ela disse que ele respondeu com os olhos que ela era. Na verdade ele já a tinha reconhecido.

Fomos informados que nesta primeira viagem a Bandha, Ashok Kumar reconheceu o chacha [irmão mais jovem do pai] Shyam Lai e o irmão mais jovem de Kishen Behari, Bhateshwar Dayal, a quem ele chamou pelo nome. Quando chegou a hora de partir, Ashok Kumar disse a Awadesh: “Vai você. Eu permanecerei aqui”. Quando eles o levaram, Ashok Kumar chorou. Os parentes do falecido Kishen Behari Jatev (assim como os parentes de Ashok Kumar) ficaram convencidos de que Ashok Kumar Shakya era Kishen Behari Jatev renascido.

Que Kishen Behari Jatev tinha de fato morrido no mês de Phaghan (de 12 de fevereiro a 12 de março) por volta de 1981, quando tinha aproximadamente 45 anos de idade, nós soubemos através de entrevistas feitas com a família dele: irmão, esposa, filho, mãe e chachi [irmão mais jovem da esposa do pai]. Ele tinha sido um trabalhador sem terra que era empregado de fazendeiros. Era membro da casta mais baixa ou casta chamar que no passado não fazia parte do sistema de castas e era tida como “intocável”. Certa vez Kishen Behari se envolveu numa briga pela posse de uma terra onde tinha sido empregado para trabalhar e subseqüentemente foi pego pelo chefe da polícia, que lhe deu uma surra.

Kishen Behari foi descrito como um homem trabalhador que tinha sido bastante infeliz em seu trabalho no campo uma vez que conseguia ganhar apenas o suficiente para comprar a comida do dia. Pouco antes de adoecer ele tinha construído uma pequena casa de barro para viver com a esposa e os cinco filhos. Ele adoeceu, melhorou, então piorou e depois de 15 dias doente morreu com uma perna paralisada, conseqüência da doença. Três ou quatro dias após a sua morte, Bhateshwar Dayal, o irmão de Kishen Behari informou que ele lhe apareceu em sonho dizendo: “Por que você está chorando? Eu vim até você”.

TABELA 2

Resumo de declarações, reconhecimentos e comportamento de Ashok Kumar Shakya

Item

Informação

Verificação

Comentários

1. Ele fingia mancar.

Shyam Babu Shakya, pai de Ashok Kumar; Chandra Wati Shakya, mãe de Ashok Kumar.

Gian Sri, a mulher do irmão mais novo do pai de Kishen Behari Yadev

Não verificado por Savitri Jadev, viúva de Kishen Behari, e Teeja Jatev, mãe de Kishen Behari

Ashok Kumar fez isto quando ele começou a andar, antes de começar a falar.

Gian Sri disse que Kishen Behari não conseguia esticar as pernas na sua doença final (15/08/87).

Savitri Jadev e Teeja Jadev não achavam que houvesse algo de errado com as pernas de Kishen Behari (08/01/89).

2. Ele disse que tinha a sua própria casa e família.

Chandra Wati

Savitri Jadev

Ashok Kumar disse isto quando estava irritado com sua mãe, por volta dos 2½ anos de idade.

3. Ele disse que era de Bandha.

Chandra Wati

Savitri Jadev

Quando perguntaram pela primeira vez qual era o nome da sua aldeia, Ashok Kumar tentou ir mancando até ela; mais tarde ele disse: “Bandha”, e afirmou que era de Bandha. Ele disse que tinha vindo mancando de Bandha até a casa de sua mãe.

4. Ele disse que tinha uma esposa e cinco filhos.

Awadesh Shakya, irmão mais velho de Ashok Kumar

Laxmi Narain, filho mais velho de Kishen Behari

Kishen Behari Jadev tinha cinco filhos quando morreu. Depois disso, as duas crianças mais jovens morreram. Ashok Kumar parece não saber destas mortes. Ashok Kumar me disse que ele teve cinco filhos. Isto é incorreto. A mais jovem das crianças de Kishen Behari era menina.

5. Ele pediu persistentemente que seus pais dessem comida a sua esposa já que ela não tinha o bastante.

Chandra Wati

Savitri Jadev

 

6. Ele disse que tinha medo da polícia já que o chefe da polícia tinha lhe dado uma surra depois de ele ter se envolvido em uma briga.

Chandra Wati

Shyam Babu Shakya

Awadesh Shakya

Laxmi Narain, Gian Sri

 

Ashok Kumar quis que seu pai e irmão mais velho o ajudassem a dar uma surra no chefe da polícia que ele disse que poderia reconhecer.

7. Ele se recusou a comer após ser repreendido por pedir para ser levado a Bandha.

Chandra Wati

Shyam Babu Shakya

 

Ele se recusava a comer por “dois ou três dias”.

8. Ele descreveu características do caminho até Bandha, tal como um cruzamento de ferrovia.

Awadesh Shakya

Observado pela autora

A aldeia fica no caminho pela estrada.

9. Uma ponte sobre um canal.

Awadesh Shakya

Observado pela autora

Isto está no caminho pela estrada.

10. Um pequeno açude.

Awadesh Shakya

Observado pela autora

Isto está no caminho pela estrada.

11. Ele apontou o caminho a Bandha.

Awadesh Shakya

Awadesh Shakya

Os pais de Ashok Kumar pensaram que ele se referia a uma outra aldeia chamada Bandha, mas não sabiam da existência de duas aldeias com o mesmo nome.  No entanto, os dois rapazes da aldeia, Kuldeep e Bablu, que acompanharam Ashok Kumar e seu irmão, tinham ouvido falar da outra aldeia (mas nunca estiveram lá). Embora Bandha esteja somente a 4 km de Ritaur, está localizada num sistema diferente de estradas e ninguém da família de Ashok Kumar sabia onde ela se localizava, nem tinha estado lá anteriormente.

12. Ele reconheceu a aldeia quando esta apareceu em seu campo de visão.

Awadesh Shakya

 

 

13. Ele disse que tinha construído a própria casa onde sua esposa vivia.

Awadesh Shakya

Savitri Jadev

 

14. Ele identificou a mãe de Kishen Behari Jadev como sua mãe.

Awadesh Shakya

Teeja Jadev

Ashok Kumar identificou uma senhora com quem Awadesh Shakya tinha falado fora da aldeia como sendo a sua mãe. Mais tarde Awadesh verificou que esta senhora era a mãe de Kishen Behari Jadev.

15. Ele reconheceu a casa dele.

Awadesh Shakya

Udal Singh

Laxmi Narain Jadev

Udal Singh, líder de Bandha

Udal Singh tentou convencer Ashok Kumar que outras casas eram suas mas Ashok Kumar foi outra vez à casa de Kishen Behari (após ter feito uma excursão pela aldeia) e disse que ele a tinha construído, o que era verdadeiro.

16. Ele reconheceu Savitri Jadev como sua esposa.

Savitri Jadev

 

Udal Singh disse que Ashok Kumar era sua criança renascida mas Awadesh disse que ele havia dito que tinha uma esposa e cinco filhos. Quando lhe perguntaram quem Savitri era, ele disse que ela era a sua esposa.

17. Ele reconheceu o filho mais velho.

Laxmi Narain Jadev

Laxmi Narain Jadev

Quando Ashok Kumar perguntou pelo seu filho mais velho, qualquer um que se manifestasse poderia ser interpretado como estando se identificando como tal.

18. Ele chamou o filho mais velho de “Rakesh”.

Laxmi Narain Jadev

Incorreto.

Sete meses depois Ashok Kumar ainda deu o nome incorreto “Rakesh” para Laxmi Narain. Em 08/01/89 ele o chamava pelo nome correto.

19. Ele reconheceu Bhateshwar Dayal e o chamou pelo nome.

Awadesh Shakya

Bahateshwar Dayal, irmão de Kishen Behari

 

20. Quando levado de Bandha, Ashok Kumar resistiu.

Laxmi Narain Jadev

 

 

21. Ele reconheceu uma estrada que ele tinha feito.

Chandra Wati Shakya

Verificado por N. K.

Chadha

 

22. Ele reconheceu o lugar onde ele tinha estado doente.

Chandra Wati Shakya

Verificado por N. K.

Chadha

Esqueci de perguntar se foi perto do açude que Kishen Behari se sentiu indisposto a primeira vez.

23. Ele tomava banho no canal com sua esposa.

Chandra Wati Shakya

Savitri Jadev

Ashok Kumar não só mencionou isto a sua mãe enquanto passavam próximo ao canal, como convidou sua esposa a ir com ele.

24. Ele esperava que a esposa tratasse sua mãe como uma sogra.

Chandra Wati Shakya

Savitri Jadev

Ashok Kumar pediu que Savitri cozinhasse para sua mãe e irmãos, e sugeriu à sua mãe que a levasse para casa para que Savitri cozinhasse para ela, esquecendo-se das diferenças de casta, o que significa que os Shakyas não aceitam comida dos Jadevs, por serem intocáveis.

25. Ele reconheceu o mama (irmão de sua mãe).

Awadesh Shakya

Bhateshwar Dayal

O mama de Kishen Behari deu um tapa no joelho de Ashok Kumar num gesto de saudação em Bandha. Em Ritaur ele disse que era o seu mama, e ao verificarem essa informação, descobriram que Kishen Behari era íntimo deste homem e o chamava de mama, embora ele fosse um mama de aldeia (ou irmão da mãe dele) em vez de um mama de fato.

26. Ele reconheceu Mathura Prasad.

Bhateshwar Dayal

 

A informação que nós temos sobre a declaração de Ashok Kumar é de que ele tinha visto este homem cortando grama na sua primeira viagem a Bandha. Se Ashok Kumar citou o nome deste homem, nós não registramos esta informação. Sendo assim o suposto reconhecimento poderia ter sido apenas uma observação correta.


 

27. Ele reconheceu o cunhado.

Shyam Babu Shakya

 

Quando o cunhado o visitou, Ashok Kumar lhe disse que havia devolvido o bode dele, mas não citou o nome do cunhado. Kishen Behari tinha devolvido o bode que lhe foi emprestado pelo cunhado e cunhada, quando ele estava doente. Em seguida ele adoeceu mais uma vez e morreu.

28. Ele reconheceu o irmão do marido da irmã dele.

Bhateshwar Dayal

 

O reconhecimento aconteceu depois que perguntaram a Ashok Kumar se ele se lembrava de ter devolvido o bode. Assim a menção de algo que Kishen Behari tinha feito desencadeou a memória de Ashok Kumar, embora seja possível que Ashok Kumar tenha tomado conhecimento sobre o incidente do bode depois de ir a Bandha.

29. Ashok Kumar estava irritado porque sua mãe não dava mais açúcar mascavo ao “meu irmão”.

Chandra Wati Shakya

 

 

30. Ele identificou o local onde foi surrado por cinco pessoas.

Ashok Kumar

Verificado por N. K. Chadha.

Como esta declaração foi feita após deixarmos Bandha, ela não foi verificada pelas pessoas de Bandha.

31. Ele pediu que trouxessem um dothi [vestimenta indiana] para sua esposa, e mais tarde disse que ele não poderia levá-la para casa até que eles o fizessem.

Ashok Kumar

 

Como o pai de Ashok Kumar observou, o seu foco de atenção principal era a esposa.

32. Ele identificou o local onde tinha enterrado algum dinheiro.

Shyam Babu Shakya

Não verificado

Os pais de Ashok Kumar pediram que nenhuma verificação fosse feita já que suspeitam que ao enterrar o dinheiro Kishen Behari perturbou um ser desencarnado que seria o responsável pela sua morte, e temem que este ser possa vir a atacar Ashok Kumar também. Em 08/01/89 os parentes de Kishen Behari souberam desta declaração, mas duvidam de sua veracidade, dizendo que Kishen Behari não tinha nenhum dinheiro para enterrar.

 

Em 26 de março de 1987 Ashok Kumar fez uma segunda viagem a Bandha, na companhia da mãe e de dois irmãos. Quando eles se aproximaram da aldeia, Ashok Kumar indicou o local onde tinha levado uma surra da polícia, a estrada que ele tinha ajudado a construir, o canal onde ele e a esposa tomavam banhos quando saiam da aldeia, e o açude que ficava ali perto e onde ele tinha adoecido com vômito e diarréia. Uma vez na casa de Savitri, Ashok Kumar pediu a ela que preparasse comida para sua mãe e irmãos, e sugeriu que sua mãe levasse a esposa dele para casa como sua nora. No entanto, tanto Savitri como Chandra Wati sabiam que os Shakyas não comeriam qualquer comida feita no lar de pessoas de casta baixa. Ashok Kumar falou de forma íntima com Savitri, de marido para esposa, e disse: “Vamos deixar a mamãe aqui e tomar um banho no canal como fizemos no começo da noite”. Savitri respondeu, “Pare com estas coisas. Não fale assim”, mas mais tarde ela perguntou: “Você não vai me levar de volta com você?” Ashok Kumar respondeu: “Não desta vez. Na próxima vez quando eu trouxer roupas para você eu te levarei”. Ao sair Ashok Kumar parou na casa de Bhateshwar Dayal. Lá um homem deu um tapa no joelho de Ashok Kumar num gesto de afeto e perguntou: “Você não me reconhece?” Na ocasião Ashok Kumar não respondeu, mas quando voltou a Ritaur Ashok Kumar disse: “Ele era o meu mama [irmão da mãe].” Mais tarde quando o irmão de Kishen Behari veio a Bandha para visitar Ashok Kumar, ele confirmou que ele e Kishen Behari chamaram este homem de mama, embora ele fosse um tio por costume na aldeia, e não um tio de fato. As testemunhas sentiram que Ashok Kumar não poderia ter descoberto a identidade dele quando estava na casa de Bhateshwar Dayal, embora eu não descarte esta possibilidade. Kishen Behari e o mama em questão tinham sido particularmente próximos.

Entre janeiro e meados de agosto de 1987, Bhateshwar Dayal, Laxmi Narain e vários outros parentes de Kishen Behari visitaram Ashok Kumar três vezes em Ritaur. Ashok Kumar disse a Mathur Prasad, um amigo de Kishen Behari que veio com Bhateshwar Dayal: “Quando vim à minha casa a primeira vez você cortava grama para o gado”. Isto era de fato verdadeiro. Ele não reconheceu o irmão do marido da irmã de Kishen Behari até que Bhateshwar Dayal incitou-o dizendo: “Você se lembra que você levou um bode para casa?” Ashok Kumar disse: “Sim. Agora me lembro de você”. Mais uma vez, não se pode descartar com toda certeza a possibilidade de Ashok Kumar ter chegado a essa informação através de meios normais.

Em uma destas visitas, depois que os Shakyas tinham dado algum doce de açúcar mascavo a Bhateshwar Dayal, Ashok Kumar veio chorar a sua mãe dizendo: “Você tem tanto açúcar mascavo aqui e deu tão pouco ao meu irmão”.

Depois de ir a Bandha, Ashok Kumar uma vez bateu em sua mãe para tentar fazê-la dar milhete à sua família. Uma vez quando lhe disseram que ele tinha que comer Ashok Kumar disse ao pai: “Dê rasaya [um prato feito de açúcar de cana e arroz] ao meu filho e então eu comerei”. Eles lhe disseram que enviariam rasaya à família dele e então ele comeu. Num outro momento ele disse ao pai: “Dê bajara [milhete] ao meu filho porque ele está sentindo frio”. O pai de Ashok Kumar ficou impressionado com esta declaração porque “uma criança de sua idade não teria como saber que a composição da bajara é quente”.

Levamos Ashok Kumar e sua mãe e irmão, Awadesh, a Bandha em 18 de agosto, para o que foi a terceira viagem de Ashok Kumar, e observamos sua familiaridade com Savitri e parentes de Kishen Behari. Enquanto andávamos rumo à aldeia, Ashok Kumar indicou onde tinha trabalhado, onde tinha levado uma surra e onde tinha ficado doente. Quando retornamos perguntei-lhe se aquilo era da surra. Ashok Kumar disse: “Eu fiquei doente, vomitei e tive febre. Fui ao médico, gastei todo meu dinheiro e ainda estava doente. Peguei dinheiro emprestado e fui ao médico mas piorei e morri. Em seguida eu estava mancando, mancando. O meu joelho ficou quebrado por causa da doença”.

Os parentes de Kishen Behari pareceram relutantes em responder a minha pergunta sobre se havia qualquer associação entre a surra que ele levou da polícia e a morte dele. No entanto, alguns tinham certeza de que o joelho e a perna de Kishen Behari não foram afetados pela doença que o matou. Esta descrição correspondia à informação que nós tínhamos reunido em Bandha anteriormente, na ausência de Ashok Kumar, mas a essa altura Ashok Kumar bem que poderia ter ouvido uma descrição da morte de Kishen Behari.

No retorno da sua terceira viagem a Bandha, Ashok Kumar contou a sua mãe que ele tinha enterrado algum dinheiro perto do açude em Bandha e que ele adoeceu ali perto. Com base nessa informação os pais dele suspeitaram que ele tivesse perturbado um espírito do mal; eles se referiam a uma alma desencarnada que espreita ao redor do açude, e que isto teria causado a doença e a morte de Kishen Behari. O pai pediu que nenhuma verificação fosse feita sobre o dinheiro enterrado porque tinha medo de que o espírito do mal atacasse Ashok Kumar e que ele pudesse perder o filho.

Ao retornar no verão de 1988, eu soube que Ashok Kumar tinha sido convidado para o casamento do filho mais velho de Kishen Behari. Ele foi acompanhado de Awadesh, e se recusou a voltar para casa, então Awadesh permitiu que ele dormisse em Bandha aquela noite, e ele e sua mãe foram buscar Ashok Kumar no dia seguinte. Ele aparentemente não fez mais nenhuma declaração que pudesse ser identificada como algo que Kishen Behari soubesse e que não era de se esperar que Ashok Kumar conhecesse, embora a conclusão dos parentes de Kishen Behari de que Ashok Kumar é Kishen Behari agora seja tão completa que eles não necessariamente notariam novas revelações feitas por ele.

Avaliação das Características Paranormais do Caso. Ashok Kumar fez 12 declarações verificadas antes de ir ou no caminho a Bandha e 12 depois de chegar lá. Ele reconheceu oito pessoas e identificou corretamente quatro locais. No entanto, ele errou ao citar o nome Laxmi Narain, e continuou a pensar por algum tempo que ele se chamava Rakesh. A declaração de que todos os seus filhos são meninos também é incorreta. Na verdade, a criança mais jovem de Kishen Behari era uma menina que morreu, assim como o seu segundo irmão mais velho, depois da morte de Kishen Behari. Ashok Kumar aparentemente não está ciente de que duas das crianças de Kishen Behari morreram.

Aos ocidentais parece extraordinário que a concentração da população das aldeias nesta parte da Índia pudesse significar que as pessoas em uma aldeia não saberiam da existência de outra aldeia a 4 km de distância. No entanto, eu não encontrei ninguém que não concordasse que era este o caso. Se isto é verdade, então Ashok Kumar não teve nenhum meio normal de saber sobre a existência de um homem de Bandha que tinha uma esposa e cinco filhos e que tinha sido surrado pela polícia e morrido, assim como não teria motivos para se identificar com tal pessoa.

Caso 3: Toran Singh, Pseudônimo Titu, da Aldeia Bad

      Os informantes para este caso em Bad eram Toran Singh, seus pais Mahavir Singh, sua mãe Shanti Devi, seu irmão Ashok Kumar Singh, e Nardev Singh (amigo de Suresh Verme). Em Agra, os informantes eram a esposa de Suresh Verme, Uma Verme; seu irmãos Mahesh Verme, Raja Babu Verme, Rajvir Babu Verme, e Om Kar Singh; seu pai Chanda Babu Singh Bharity; e sua mãe Burfi Devi Singh.

Toran Singh, chamado de Titu, é o mais jovem das seis crianças de Mahavir Prasad Verme Singh e Shanti Devi da aldeia de Bad (população de aproximadamente 1.000 pessoas), que está a 13,5 km de Agra. O irmão mais velho de Titu, Ashok Kumar, é cerca de 13 anos mais velho; seguido por um outro irmão de Titu, Raj Kumar, aproximadamente 10 anos mais velho. A irmã mais velha de Titu, Asha, é cerca de 8 anos mais velha; a segunda irmã, Kunta, é aproximadamente 6 anos mais velha, e foi dito que a terceira irmã, Guloo, é de 1 a 3 anos mais velha do que ele. Não parece haver nenhum registro das datas exatas dos nascimentos dessa crianças. O pai de Titu e a sua família são da casta de Vaishya e possuem uma considerável porção de terra agrícola ao redor de Bad, terra esta que é cultivada por eles. No entanto, Mahavir Singh vai todos os dia escolares a Agra onde ele ensina química nas 2ª e 3ª séries do Ensino Médio no Hubbulal Inter-College. Titu vive com a família numa ampla casa tradicional que tem um único andar e é feita de cimento.

A mãe de Titu esteve doente nos últimos três meses da gravidez de Titu e foi admitida no Hospital Militar em Agra cerca de uma semana antes do nascimento dele sob o nome de um amigo da família que era membro do time de funcionários do exército e portanto elegível para usar este hospital. O único registro de um nascimento que corresponde ao nome deste amigo e ao nome da mãe de Titu indica 11 de dezembro de 1982 como a data de nascimento. É possível que o nascimento de Titu não tenha sido registrado, e/ou que a data de 11 de dezembro de 1982 corresponda ao nascimento da criança do amigo. Os pais de Titu pensavam que ele tinha 4 anos e meio em vez de 3 anos e meio em 1987, embora o pai de Titu tenha dito que o filho nasceu no dia 10 de dezembro de 1983, a primeira vez que nos encontramos antes da pesquisa nos registros hospitalares ter sido feita.

De acordo com Shanti Devi, Titu começou a falar quando tinha um ano e meio, mais cedo que os seus outros filhos. Pouco depois Titu lhe disse: “Peça ao meu avô para tomar conta dos meus filhos e da minha esposa. Estou fazendo as minhas refeições aqui e estou preocupado com eles”. Quando a mãe dele perguntou: “Quem é você”? Titu disse: “Eu sou de Agra. Não sei como cheguei aqui”.

Numa idade precoce Titu também começou a dizer: “Mamãe, por favor não saia nestas roupas. Eu tenho vergonha delas. Minha esposa tinha sáris bonitos.” Titu fez uma série de outras queixas. Disse: “A sua casa é suja. Eu não vou continuar aqui. A minha casa é muito grande” e “minhas cunhadas são educadas” e “meus irmãos tinham belas camisas que você nunca não viu”. Quando ele tinha que caminhar ou pegar um ônibus, Titu dizia: “Eu costumava ir de carro. Eu não vou a pé nem de ônibus”.

Quando Titu era muito jovem, foi com a sua família a um casamento em Agra. Enquanto viajavam a Agra, Titu disse várias vezes: “Eu tenho uma loja em Sadar Bazaar” embora eles não estivessem perto deste distrito de Agra. Seus pais não prestaram nenhuma atenção a esta observação na época.

À medida que Titu crescia, ele chorava quase todos os dias, querendo “ir para casa”. Ele comumente se referiu, como continua a fazer, a seus pais como “mãe e pai de Guloo,” em vez de chamá-los de seus próprios pais. Ele freqüentemente pediu para ir vê “meu irmão Raja Babu e minha irmã Susheela” principalmente quando os pais ralhavam com ele. Titu queixou-se ao pai: “Você vai todos os dias a Agra mas não traz notícias da minha família”.

Um dia em abril de 1987, Titu chorava muito amargamente quando o seu pai partiu mais uma vez sem ele rumo a Agra. Um amigo do irmão mais velho de Titu colocou-o em seu colo e Titu disse, na presença do irmão: “Meu pai não me leva. Você pode me levar lá? Eu tenho uma loja de rádios transistores e eu era um grande contrabandista e goonda [alguém que usa a força para conseguir o que quer]. Eu sou o dono da Suresh Rádio”.

Depois disto, o irmão mais velho de Titu e seu amigo procuraram a loja Suresh Rádio, que se descobriu que ficava em Sadar Bazaar em Agra. Eles nunca tinham estado naquela loja antes. Eles contaram a Uma Verme, a viúva do proprietário, o que Titu tinha dito. Souberam que Suresh Verme, o proprietário da Suresh Rádio (e um grande contrabandista no mercado negro) tinha sido baleado e morto em 28 de agosto de 1983 em seu carro. Ele tinha aproximadamente 30 anos de idade.

Uma Verme relatou isto à família de Suresh, e pouco depois eles viajaram para visitar esta criança. A princípio eles foram a Bad que é perto de Mathura. Eles não acharam nenhuma criança que correspondesse à descrição de Titu, e então souberam que havia outra aldeia chamada Bad no outro lado de Agra. Um grupo formado por Uma Verme, Burn Devi (mãe de Suresh), o pai de Suresh (Chanda Babu Singh Bharity), e três dos quatro irmãos de Suresh (Rajvir Babu Verme, Mahesh Verme, e Raja Babu Verme) chegaram a Bad numa manhã bem cedo em abril de 1987.

Quando Titu viu o grupo se aproximar, ele ficou muito animado. Reconheceu Uma Verme, o pai e a mãe de Suresh e dois dos três irmãos. Ele descreveu corretamente uma viagem que ele tinha feito a Dolpur com Uma e as crianças que ele chamou por seus apelidos, Mono e Tono, e o chatt e kulfi que eles tinham comido. Titu perguntou por que eles não tinham trazido os filhos dele. Quando inquirido Titu descreveu corretamente como ele [Suresh Verme] tinha sido morto, dizendo: “Eu estava perto da minha casa e três pessoas me pararam. Uma delas atirou em mim e então elas fugiram. Eu não vi o rosto delas.” Quando perguntaram onde ele foi baleado, Titu disse: “Eles vieram do lado esquerdo e depois de atirar fugiram”. Titu descreveu o lar de Suresh e algumas de suas características incomuns, tais como o formato, a distribuição de lâmpadas, e um quarto “que permanece trancado”.

Titu acompanhou a família Vermes ate a estrada e notou que eles não tinham trazido o carro dele. “Este não é o meu carro. Meu carro era branco” ele disse. Ligou o toca-fitas do carro, embora nunca tivesse visto um, e insistiu em dirigir o carro, o que ele fez com ajuda de Raja Babu, pisando no freio, acelerador e embreagem. Quando o grupo partiu, Titu quis ir com eles e jogou os sapatos em direção à mãe dizendo a Shanti Devi: “Eu não sou seu. Você não é a minha mãe”. No meio de toda a animação, Titu acabou não saudando o irmão Mahesh Verme de Suresh, embora Titu não tenha tido a intenção de menosprezá-lo. Apesar disso, Mahesh Verme ficou magoado por não ter sido reconhecido. A Tabela 3 descreve as declarações, reconhecimentos e comportamento de Titu.

Mais tarde nesse dia Raja Babu Verme retornou com duas irmãs do falecido Suresh Verme. Quando Titu viu Susheela Devi, ele disse: “Susheela Gigi, Susheela Gigi”. [Gigi significa “irmã”.] Quando perguntaram quem era a sua irmã mais velha, Titu disse: nenhuma. De fato a irmã mais velha de Suresh é Munni Rani, que não estava presente.

Ao ser levado nesta mesma tarde à loja de TV e rádio dos irmãos Suresh, Titu insistiu que aquela não era a loja dele, embora Raja Babu tenha tentado enganá-lo alegando que aquela era a Suresh Rádio. Ele então foi levado de carro à Suresh Rádio, que fica a aproximadamente 100 jardas de distância. Titu disse: “Esta é a minha loja”. Do lado de dentro Titu disse: “Esta vitrina não estava aqui; quem a construiu?” De fato a vitrina que ele indicava tinha sido construída e instalada depois da morte de Suresh.

TABELA 3

Resumo de declarações, reconhecimentos e comportamento de Toran Singh, apelido Titu

Item

Informantes

Verificação

Comentários

1. Ele disse que tinha uma esposa e filhos.

Shanti Devi Singh, mãe de Titu

Uma Verme, viúva de Suresh Verme

Shanti Devi disse que Titu tinha cerca de um ano e meio.

2. Ele disse que era de Agra.

Shanti Devi

Chanda Babu Bharity, pai de Suresh Verme

 

3. Ele disse que sua casa era grande.

Mahavir Singh, pai de Titu

Shanti Devi

Observado pela autora

Ele também disse: “Esta casa é suja, eu não sei como cheguei aqui”. A casa dos pais de Titu não é suja mas sim uma grande casa no estilo rural feita de cimento onde a comida é feita numa lareira de chão. O lar dos pais de Suresh tem três andares e objetos modernos, como por exemplo: uma TV e uma geladeira. O próprio lar do Suresh Verme é moderno. Note que não há nenhuma diferença socioeconômica entre Titu e a família de Suresh. Ambos os pais eram palestrantes. O pai de Suresh nota que a família do Titu tem uma porção considerável de terra agrícola e é relacionada à família real.

4. Ele fica constrangido com as roupas que a mãe dele usa.

Shanti Devi

Observado pela autora

Em 3 das 4 vezes que eu vi Shanti Devi ela usava sáris velhos feitos de algodão.

5. Ele diz que sua esposa tem belos sáris.

Mahavir Singh

Observado pela autora

Nas três vezes que eu vi Uma Verme ela usava belos sáris feitos de seda, muito apropriados para uma mulher de negócios bem sucedida.

6. Ele diz que suas cunhadas são educadas.

Shanti Devi

Chanda Babu Singh Bharity

A esposa de Mahesh Verme tem dois diplomas universitários de primeira qualidade. Eu não fiz perguntas sobre a educação das outras cunhadas.

7. Ele diz que seus irmãos têm belas camisas.

Mahavir Singh

Observado pela autora

Raja Babu em particular, mas também Mahesh e Rajvir Verme usavam camisas sintéticas elegantes, enquanto os irmãos de Titu usavam camisas simples de algodão.

8. Ele disse que teve uma irmã chamada Susheela Devi e

Shanti Devi

Chanda Babu Singh Bharity

Titu pediu para vê-los freqüentemente e quando era repreendido ele dizia que iria contar tudo para sua irmã Susheela ou para o irmão Raja Babu. (Titu deu um exemplo deste comportamento quando nós o visitamos pela primeira vez, ao dizer ao motorista de táxi que ele iria contar a Raja Babu que o motorista não o deixara entrar no carro, dizendo: “e ele vai te colocar nos eixos” mas isto foi depois do encontro com a família do Suresh).

9. um irmão chamado Raja Babu.

10. Ele disse que não iria de ônibus nem a pé.

Mahavir Singh

Mahesh Verme

Mahesh Verme indiretamente disse que era provável que Suresh se recusasse a ir a pé. Eu não perguntei especificamente se Suresh tinha uma aversão a fazer uso desses meios, mas por ser um homem rico com um carro estrangeiro, é provável que este fosse o caso.

11. Ele disse que teve uma loja em Sadar Bazaar.

Mahavir Singh

Uma Verme

Titu disse isto pela primeira vez quando era muito pequeno e ao ser levado a Agra para um casamento, embora eles não tenham passado perto de Sadar Bazaar. Ele repetiu esta declaração várias vezes quando era bem jovem. A Suresh Rádio fica em Sadar Bazaar.

12. Ele chorava diariamente porque queria visitar a família.

Shanti Devi

A. K. Singh, irmão mais velho de Titu

 

Ele disse ao pai: “Você vai diariamente a Agra mas não traz nenhuma notícia da minha família”.

13. Ele disse: “Eu tenho uma loja de rádios transistores”.

A. K. Singh

Uma Verme, viúva de Suresh Verme

 

14. Ele disse que era um grande contrabandista e um goonda (alguém que usa a força para conseguir o que quer).

A. K. Singh

Informantes em Agra

Embora a família de Suresh não mencionasse atividades relacionadas ao contrabando, outros residentes de Agra confirmaram que Suresh era conhecido por negociar no mercado negro.

15. Ele disse que era o dono da Suresh Rádio.

A. K. Singh

Uma Verme

 

16. Ele reconheceu Burn Devi como sua mãe.

Burn Devi, mãe de Suresh

Chanda Babu Singh Bharity

Os pais de Suresh disseram que Titu a abraçou e a chamou de “Mataji [querida mãe],” sentou-se no colo dela e ambos choraram. Rajvir Verme disse que sua mãe chorou, mas não tinha certeza de que Titu fez o mesmo. Mahesh Verme, o irmão que não foi saudado, negou que Titu tivesse reconhecido “adequadamente” a mãe de Suresh.

17. Foi ele quem escolheu os apelidos dos filhos.

Mahesh Verme, terceiro irmão de Suresh.

Rajvir Verme, segundo irmão de Suresh.

Uma Verme

Titu tinha perguntado: “Por que você não trouxe os meus filhos? Quando perguntaram se ele tinha algum filho, ele disse: “Mono e Tono,” os apelidos dos filhos de Suresh, Sachin Singh e Amit Singh.

18. Ele reconheceu Chanda Babu Singh Bharity.

Chanda Babu Singh Bharity

Chanda Babu Singh Bharity

Shanti Devi lembrou que tanto Titu como Chanda Babu Singh Bharity choraram. Titu abraçou-o e o chamou de “Papaji [querido pai].”

19. Ele reconheceu Uma, esposa de Suresh.

Uma Verme;

Mahesh Verme;

Chanda Babu Singh Bharity;

Burn Devi

Uma Verme

O pai de Suresh perguntou ao Titu: “Quem é ela”?

20. Ele descreveu uma viagem que ele tinha feito a Dolpur com Uma e as crianças.

Chanda Babu Singh Bharity

Uma Verme

Rajvir Verme lembrou-se que Titu havia dito que eles foram a Dolpur porque a irmã dele morava lá (correto). Eu ainda não perguntei se alguma outra pessoa ouviu essa declaração. 

21. Ele disse que eles tinham comido chatt e kulfi nessa viagem.

Chanda Babu Singh Bharity

Uma Verme

 

22. Titu perguntou se as crianças estavam em casa ou estudando na escola.

 

 

A pergunta não contém nenhuma evidência nova. Quando Suresh morreu as crianças estavam em idade pré-escolar.

23. Ele descreveu sua casa citando detalhes sobre o formato e as lâmpadas.

 

Uma Verme

Uma chamou isto de “coisas confidenciais”. As lâmpadas eram feitas sob medida.

24. Ele disse que um dos quartos da casa era mantido trancado.

Mahesh Verme

Mahesh Verme

Um quarto era mantido trancado com material de sucata dentro. Ele usou a palavra kothi para se referir à casa dele.

25. Titu reconheceu Rajvir Babu.

Rajvir Singh Verme, segundo irmão de Suresh

Chanda Singh Bharity;

Bharity

 

 

26. Titu reconheceu Raja Babu.

Mahesh Verme

Raja Babu Verme

Titu chamou-o pelo nome que Suresh usava: “Raghubhaya”.

27. Ele disse que foi baleado.

Uma Verme

Relatório post-mortem

Titu não tinha mencionado como morreu antes de ser questionado. Ele então descreveu o assassinato de Suresh em detalhes, alguns dos quais nunca foram verificados.

28. Ele disse que ele foi baleado pelo lado direito.

Mahesh Verme

Relatório pos-tmortem

Mahesh disse “lado esquerdo” uma vez, mas disse “direito” duas outras vezes.

29. Ele diz que eles não trouxeram o carro dele.

Uma Verme

Uma Verme

Suresh Verme tinha um Fiat. Eles vieram em um Maruthi.

30. Ele disse que o carro dele era branco.

Uma Verme

Uma Verme

O Fiat era branco. Este é o carro em que ele foi assassinado. Eles insistiram que o Maruthi era dele, mas Titu insistiu que não era.

31. Ele insiste que sabe dirigir.

Chanda Babu Singh Bharity

Chanda Babu Singh

Titu insistiu em tentar, pisando no acelerador, embreagem e freio, e usando o volante ele dirigiu com a ajuda de Raja Babu. Raja Babu notou que Titu e Suresh tinham em comum a paixão por carros.

32. Ele ligou o toca-fitas do carro.

Mahesh Verme

Mahavir Singh

Titu nunca tinha visto um toca-fitas ou um gravador de fitas antes, mas o colocou pra funcionar por conta própria.

33. Ele pede para ver a irmã em Délhi.

Rajvir Verme;

Shanti Devi;

Chanda Singh Bharity

 

Rajvir Verme

Disseram ao Titu que a irmã dele que vive em Délhi estava em Agra e ele pediu que dissessem a ela que ele gostaria de vê-la.

34. Ele reconhece Susheela, a irmã de Suresh.

Chanda Babu Singh Bharity

 

Ele disse: “Susheela Gigi [irmã].” O próprio irmão ele não chama por este termo de família, mas sim pelo nome.  O informante não testemunhou isso acontecendo, e eu não consegui verificar esta informação com as testemunhas de primeira mão deste item.

35. Ele se refere aos pais como “pai de Guloo” e “mãe de Guloo”.

Mahavir Singh

 

Ele se referiu aos pais de Suresh como os seus próprios pais. Titu os chamava de pais antes mesmo de encontrar os parentes de Suresh. Titu usou o mesmo método para se referir e se dirigir aos irmãos. Depois de encontrar a família do Suresh, Titu quis ir para casa com eles. Ele jogou os sapatos na mãe, dizendo: “Você não é a minha mãe”.

36. Ele nota que “sua” irmã mais velha não está presente.

Chanda Babu Singh Bharity

Chanda Babu Singh Bharity

Isto ocorreu mais tarde no mesmo dia quando as duas irmãs mais jovens de Suresh vieram fazer uma visita e a mãe de Titu perguntou a ele quem era a irmã mais velha. O pai de Suresh é uma testemunha de segunda mão deste fato. Uma tentativa de confirmação das testemunhas em primeira mão ainda não foi feita.

37. Ele insistiu em “ir para casa”.

Raja Babu Verme

 

Há uma certa confusão sobre o lugar ao qual Titu se referia: o lar de Suresh ou o lar dos pais de Suresh.

38. Ele reconhece a loja Suresh Rádio.

Raja Babu Verme

Raja Babu Verme

Raja Babu levou Titu primeiro à própria loja de rádio e TV e alegou que aquela era a Suresh Rádio. Titu estava teimando que não era. Ao ser levado à Suresh Rádio ele disse que aquela sim era a loja dele.

39. Ele identifica uma TV.

Mahesh Verme

Mahavir Singh

Mahesh fez essa pergunta com o objetivo de testar Titu por acreditar que ele nunca tinha visto uma TV antes.  O pai dele confirmou que ele não tinha visto uma TV. Mahesh disse que Titu teve que pensar bastante antes de arriscar um nome.

40. Ele identifica uma vitrina feita depois da morte do Suresh como algo que não estava lá anteriormente.

Uma Verme

Uma Verme

Titu perguntou quem fez a vitrina.

41. Ele identifica uma fotografia de Suresh como sua própria.

Uma Verme;

Raja Babu Verme

Uma Verme

A proeminência da fotografia na Suresh Rádio talvez sugira sua identidade.

42. Ele identificou a gaveta de dinheiro.

Uma Verme;

Sr. Raju, gerente da Rádio Suresh;

Raja Babu Verme

Uma Verme

Quando perguntaram: “O que é isto”? Titu respondeu corretamente. A gaveta de dinheiro era semelhante a todas as outras gavetas atrás do balcão.

43. Ele insistiu em levar um rádio transistor para casa.

Raja Babu Verme

 

O fato de ele ter escolhido o rádio transistor mais caro foi interpretado como algo que revela o seu contínuo conhecimento no assunto. De acordo com o pai dele, Titu não tinha visto um rádio transistor antes. Isto poderia ter sido uma escolha ao acaso, ou baseada no que seria o mais atraente dos rádios para qualquer criança.

44. Ele disse que o lar dos pais de Suresh não é o lar dele.

Chanda Babu Singh Bharity

Chanda Babu Singh Bharity

Mahesh Verme interpretou que esta declaração de Titu quer dizer que ele não reconheceu o lar dos pais de Suresh. Os pais de Suresh interpretam que ele quis dizer que aquele não era o lar de Suresh. Considerando que Titu tinha descrito o lar de Suresh mais cedo naquele mesmo dia, é possível que ele esperasse ser levado até lá. Chanda Babu Singh Bharity e Titu reconheceram o lar dos pais. A mãe do Suresh ouviu-o dizer que ele tinha um lar diferente. Suresh era o único filho que tinha uma casa separada [kothi]. A ligação de Titu com os pais de Suresh foi demonstrada pelo fato de ele ter dito a Chanda Babu Singh Bharity que ele era o seu único pai, e pela resistência em ser levado para casa pelo próprio pai, cuja camisa foi rasgada. Titu contou à mãe de Suresh: “Estou apenas passando um tempo com estas pessoas que não têm nenhuma TV, carro, videocassete. Voltarei a morar com você”.

45. Ele reconheceu um dos filhos de Suresh.

Chanda Babu Singh Bharity

Chanda Babu Singh Bharity

Os dois filhos de Suresh foram misturados com um grupo de outras crianças para ver se ele os reconheceria. Isto foi um mês e meio depois do primeiro encontro, então é possível que Titu tivesse visto uma foto deles. Ele disse ao filho mais velho: “Você não me disse namastay [saudação]”.

46. Ele disse o que aconteceu com o dinheiro que ele carregava consigo quando foi assassinado.

Chanda Babu Singh Bharity

Uma Verme (verificação de dinheiro)

Titu disse que um policial tirou as 15.000 rúpias da mala do carro. Esta informação não foi verificada. Não está claro se Suresh ainda estava consciente quando a polícia chegou.

47. Ele disse que há doze árvores Ashok na casa “dele”.

Mahavir Singh

Mahavir Singh

Titu exigiu que seus pais o levassem até lá. Acompanhei-o uma segundo vez mas não consegui contar o número de árvores Ashok.

48. Ele reconheceu um velho amigo de Suresh, Ashok Kumar.

Raja Babu Verme

Raja Babu Verme

Este amigo tinha estado fora do povoado até 1987, quando veio ver Titu. Titu perguntou o que aconteceu aos ventiladores que ele tinha instalado no carro dele. Raja Babu Verme lembrou que Suresh tinha mesmo feito isto. “Isto ocorreu quando Titu andava num táxi comigo, um táxi da marca Ambassador”. Titu aparentemente pensou que este era o carro de Ashok Kumar, que era da marca Ambassador.

49. Ele disse que uma das balas atingiu o volante.

Na minha presença

Não confirmado

Depois do assassinato Rajvir Verme procurou por balas no carro e disse que o volante não foi atingido, mas Uma afirma ter ouvido dois tiros.

50. Ele disse que foi de carro ao casamento de Mahesh em Kanpur

Na minha presença

Mahesh Verme

Isto foi em resposta às perguntas feitas por Mahesh no verão de 1987. Titu poderia ter obtido essa informação normalmente até essa altura.

51. Ele deu um forte tapa no banquinho ao entrar e sair na Suresh Rádio.

Na minha presença

Raja Babu Singh

De acordo com Raja Babu Singh, este gesto “de macho” era característico de Suresh.

52. Ele seguiu sozinho e rapidamente para o segundo andar da loja e elogiou o funcionário.

Na minha presença

 

Esta foi a primeira vez que Titu visitou o andar superior na Suresh Rádio. Ele o fez espontaneamente, sem ver ninguém fazer o mesmo, como se soubesse o que estava fazendo. A existência de um segundo andar não era óbvia.

53. Ele disse que havia uma haste no telhado da casa dele.

Na minha presença

Uma Verme

Que servia para segurar uma antena de TV. Ele fez essa declaração na sua segunda visita à casa do Suresh.

54. Ele disse que tinha enterrado um cinto de ouro sob a árvore Ashok mais alta que existia em “sua” casa.

Na minha presença

Não verificado

Uma Verme não achou que isso fosse provável o suficiente para ser verificado. Titu avaliou com astúcia qual seria a árvore em questão.

 

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Fig. 1. A marca de nascimento no crânio de Titu que corresponde ao local de entrada da bala como descrito no relatório post-mortem de Suresh Verme.

Titu identificou uma foto grande de Suresh, decorada com coroas de flores, como sendo uma foto dele mesmo. Ele também identificou a gaveta de dinheiro (que se parecia com todas as outras gavetas atrás do balcão na loja), e reconheceu o gerente da loja pelo nome.

Titu então foi levado ao lar de Chanda Babu Singh Bharity, pai de Suresh. Disse que não era a sua casa [kothi]. Isto foi interpretado por Mahesh como uma indicação de que Titu não reconheceu a casa, enquanto outros membros da família do Suresh interpretaram esta declaração, penso eu que corretamente, como uma indicação de que aquele não era o lar de Suresh. Suresh Verme e Uma Verme tinham vivido em sua própria casa atual [kothi] que era a casa que Titu tinha descrito a Uma Verme mais cedo naquele mesmo dia e para onde ele aparentemente esperava ser levado.

No lar de Chanda Singh Bharity, Titu disse à mãe de Suresh: “Estou apenas passando um tempo com estas pessoas que não têm TV, carro, nem videocassete. Fugirei para a sua casa”. Quando o pai do Titu, Mahavir Singh, tentou levá-lo para o lar da família em Bad, Titu abraçou o pai de Suresh, lutou com Mahavir Singh e rasgou a camisa dele. Chanda Singh disse: “Filho, vai. Eu irei visitá-lo”.

Os parentes de Suresh notaram nesse dia que Titu tem uma pequena marca de nascimento redonda que se parece com uma ferida de entrada de bala, sobre a fonte direita da cabeça onde Suresh foi baleado (vide Figura 1). Eles conjecturaram que várias pequenas marcas de nascimento na parte de trás do crânio de Titu talvez fossem o local de saída da bala. A mãe e a esposa de Suresh notaram que Titu também tem outra marca de nascimento no topo da cabeça que corresponde a uma marca que Suresh Verme tinha quando nasceu (de acordo com a sua mãe) e quando morreu (de acordo com a sua esposa).

De acordo com o relatório post-mortem de Suresh Verme, que nós examinamos no hospital onde ele foi declarado morto, a bala que tirou a sua vida entrou na fonte direita no local correspondente à marca de nascimento de Titu que tinha o formato circular. O relatório post-mortem indica que a bala saiu atrás da orelha direita de Suresh. Depois de anotar esta informação, eu examinei atrás da orelha direita de Titu e descobri que o crânio dele tem um relevo no local indicado como sendo o local de saída da bala (vide Figura 2). Os pais de Titu tinham notado esta deformidade do crânio, mas não a tinham associado à morte de Suresh. Titu não tinha mencionado como Suresh morreu até ser questionado sobre isso por Rajvir Babu Verme na primeira vez que se encontraram. Isto é notável, já que 77% (p < .05) dos sujeitos em casos resolvidos na Índia mencionam o modo de morte da personalidade anterior, e 98% (p < .05) quando o modo de morte foi violento (Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, & Stevenson, 1983).

A família de Suresh e a família de Titu não se relacionam, mas são da mesma casta. O nome do pai da pessoa acusada do assassinato é o mesmo nome do pai de Titu. Ambas as famílias são da mesma área e casta comuns. Isto levou a família de Verme a suspeitar (ilogicamente) que a família de Titu tinha fabricado o caso para salvar o parente de uma condenação.  Mahesh Verme, o irmão com o qual Titu não falou no primeiro encontro, estava particularmente desconfiado. Até o momento Titu passou em todos os testes que Mahesh e a sua família criaram. Por exemplo, quando os filhos de Suresh saíram do internato que eles freqüentam em Dehra Dun (depois do encontro entre os Verme e Titu) e retornaram ao lar pela primeira vez, eles foram colocados entre um grupo de outras crianças no lar de Chanda Singh Bharity, e Titu foi levado ao local. Titu se aproximou do filho mais velho de Suresh e disse: “Por que você não me disse namastay [a saudação gentil e correta]”? A família ficou satisfeita ao perceber que Titu o tinha reconhecido.

Durante a nossa investigação, quando levamos Titu à loja de Mahesh, Titu o chamou pelo nome, o que ele facilmente poderia ter aprendido a fazer por meio normal. Quando um Mahesh contente e assustado perguntou a Titu onde o seu casamento (o de Mahesh) tinha acontecido (“Lucknow, Kanpur, Mathura”?), Titu respondeu corretamente: “Kanpur”. Quando perguntaram se ele tinha ido Titu disse que sim. E como tinha ido? Titu disse: “de carro”. No entanto, assim como o reconhecimento do filho de Suresh, é impossível descartar a possibilidade de que Titu pudesse ter obtido esta informação por meios normais.


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Fig. 2. A marca de nascimento no crânio de Titu que corresponde ao local de saída da bala como descrito no relatório post-mortem de Suresh Verme.

Titu tinha insistido que seus pais o levassem à casa de Suresh (kothi), que Uma Verme está alugando atualmente. Os inquilinos permitiram que ele entrasse na casa, onde Titu descreveu que havia um armário que ele mandou fazer. Ele também insistiu que tinha enterrado um cinto de ouro sob uma certa árvore, uma declaração que não foi verificada (vide Tabela 3). Em janeiro de 1989 eu levei Titu a esta casa na companhia de Uma Verme e dos filhos dela. Outra vez Titu alegou que tinha enterrado um cinto de ouro sob uma árvore em particular que ele indicou. Ele também foi ao telhado e comentou que havia uma haste lá (agora ausente), que Uma verificou. No entanto, as outras declarações que ele fez incorporavam informações às quais ele teve acesso por meios normais desde o encontro com a família Verme.

Os membros da família Verme notaram uma semelhança no temperamento de Titu e Suresh: ambos são indivíduos altamente ativos, intrépidos e esquentados. Observei estas características em Titu, que usando folhas verdes de cana de açúcar bateu tão forte quanto pôde em um menino por ter se irritado com a multidão que tinha se reunido quando eu quis fotografá-lo. Quando nós levamos Titu à Suresh Rádio, Titu deu um forte tapa em um banquinho ao entrar na loja, um gesto muito “macho”.  Ao ouvir música no andar superior, ele foi diretamente aos fundos da loja e subiu a escada que dá acesso a um quarto acima da loja onde um funcionário concertava um toca-fitas e, como se fosse o proprietário, ele disse: “Ele está fazendo um bom trabalho”. Ao voltar desceu as escadas rapidamente recusando uma oferta de ajuda para descer os degraus íngremes, e ao partimos ele outra vez deu uma forte pancada no banquinho. Os irmãos de Suresh mais tarde nos disseram que este era um gesto comum de Suresh.

Mais tarde nesse dia, Titu ficou furioso quando chegou o momento dele e do pai deixarem o táxi em que nós os tínhamos levado à Suresh Rádio e continuarem a viagem de volta na scooter de Mahavir Singh. Titu jogou algo no pai e tentou escapar dele o máximo que pôde. Outro dia na casa dele, Titu contou ao vendedor de pulseira que sua mãe o tinha chamado para encaixar pulseiras no meu pulso: “Eu atirarei em você se você cobrar por elas. Expulsarei você do pátio”. O pai do Suresh disse que Suresh não tinha medo de lutar. Em 1975 oito goonda ou “valentões” pegaram Suresh e o colocaram em seu carro. Ele chutou um deles e pulou no rio pela janela do carro, nadou e saiu do outro lado, conseguindo escapar. No ano anterior ao seu assassinato, Suresh recuperou dois carros presumivelmente roubados pelo mesmo homem que anteriormente tinha roubado o seu carro (o homem que posteriormente foi acusado pelo assassinato de Suresh). Suresh foi baleado mas pulou do carro e pegou um dos pistoleiros pelo pescoço.

Quando voltei a visitá-lo em 1988 e 1989, Titu ainda se identificava intensamente como Suresh. Por exemplo, dois dias antes de eu retornar a Agra em julho de 1988, Titu tinha insistido que seus pais o levassem ao lar de Chanda Babu Singh Bharity, o pai de Suresh. Quando eles chegaram Titu descobriu que Chanda Babu Singh Bharity estava doente, e deu ordens para que um médico fosse chamado e administrasse remédios.

Quando eu retornei em janeiro de 1989, o pai de Titu expressou estar preocupado com um possível problema caso Titu continuasse a pensar que ele tem direito à propriedade de Suresh ao envelhecer. Tentei tranqüilizá-lo mencionando que Stevenson descobriu que crianças com memórias aparentes de vidas passadas parecem esquecer-se delas por volta dos 7 ou 8 anos. Titu gritou claramente: “Eu não me esquecerei!” Titu tinha presumivelmente 6 anos de idade na época. Embora, como notado acima, suas declarações agora possam incorporar informação que ele adquiriu desde que as duas famílias se encontraram, a família de Suresh continua a ser surpreendida pelo conhecimento de Titu sobre os negócios de Suresh.

Avaliação das Características Paranormais do Caso. 15 é o número de declarações ou atos de Titu que foram verificados antes de ele encontrar a família Verme. Desde então esse número subiu para 31 (embora algumas dessas ocorrências possam conter informações que ele aprendeu normalmente). Uma destas 31 declarações é aparentemente incorreta: Titu disse que uma segunda bala atingiu o volante. Embora Uma Verme tenha ouvido dois tiros, o irmão mais velho de Suresh Verme disse que ele examinou o carro cuidadosamente depois da morte do seu irmão, procurando a bala fatal, e não notou qualquer sinal de que o volante foi atingido. Titu identificou corretamente 10 pessoas e quatro locais. Os itens 40, 46, 49 e 52 na Tabela 3 não foram verificados.

A informação mais discrepante deste caso é a data de nascimento de Titu e a data de morte de Suresh. Se Titu nasceu em 11 de dezembro de 1982, a data indicada no registro hospitalar para o nascimento do filho do amigo militar do pai de Titu, então ele nasceu 8 meses e 17 dias antes de Suresh Verme ser assassinado. Apesar de existirem casos de Prakash Pravesh registrados, ou da entrada da alma de uma pessoa morta no corpo de alguém que acabou de morrer (Stevenson, 1974), e casos de Prakaya Pravesh da entrada de uma alma em alguém ainda vivo (Stevenson & Pasricha, 1979), a entrada de Suresh em Titu quando Titu era uma criança pequena não explicaria a existência da marca de nascimento de Titu, que corresponde à entrada e saída da bala fatal, a menos que se proponha algum tipo de pré-conhecimento complexo ou prenúncio do assassinato de Suresh e da entrada de Suresh em Titu, ou coincidência. Se Titu nasceu em dezembro de 1983, como o pai dele me disse, então ele nasceu 4 meses depois da morte de Suresh.3  Por desconhecerem a incerteza sobre o intervalo, Titu, as famílias de Suresh e a imprensa indiana supuseram que este é um simples caso de reencarnação.

Antes do primeiro encontro que aconteceu em abril de 1987 as duas famílias não se conheciam, como prova o fato de a família Verme ter ido inicialmente à vila “Bad” errada. No entanto, nós não podemos descartar a possibilidade dos pais de Titu terem ouvido falar do assassinato. Nardev Singh, um homem da aldeia Bad, era amigo de Suresh. A mãe do Titu pensou que Suresh talvez tenha conhecido alguns advogados que se relacionam com eles. Embora o pai do Titu não se lembre de ter ouvido falar do assassinato de Suresh, ele costuma ler os jornais locais. Verifiquei um dos jornais que ele freqüentemente lê e notei que este continha histórias sobre o assassinato de Suresh por 3 dias seguidos após a morte do Suresh. No entanto, os jornais não incluíram uma lista dos familiares de Suresh, e contêm apenas as informações contidas nos itens 2, 11, 13, 15 e 27 da Tabela 3. É muito improvável que os conhecidos de Suresh que viviam na sua aldeia soubessem o resto das informações citadas por Titu. Além disso, a criptomnésia não explicaria a especificidade da correspondência das duas marcas de nascimento, notadas no nascimento do Titu, aos locais de entrada e saída da bala que tirou a vida de Suresh. 

Discussão 

Eu apresentei os dados de 3 casos em alguns detalhes para ajudar o leitor a fazer sua própria avaliação sobre a natureza das evidências. Eu uso a minha experiência em avaliação de evidências de reencarnação ou interpretações de casos para estudar os casos adicionais. A tabela 4 compara os 10 casos que estão sendo discutidos com o corpo maior de casos na Índia estudado por Stevenson num número de características diferentes. Não há de se esperar que as direções indicadas pela minha amostra menor sejam tão exatas quanto numa amostra maior. Eventualmente os casos que eu estudei serão incluídos nos arquivos na Divisão de Estudos da Personalidade e usados para auxiliar no desenvolvimento de mais análises.

A questão é se os casos representam evidência de que algo paranormal está acontecendo ou se os casos são o resultado de engano ciente (fraude), ou ilusão inconsciente e/ou construção cultural. Casos raros de fraude e ilusão foram informados por Stevenson, Pasricha e Samararatne (1988).

A Exatidão da Informação: A Evidência para Engano Ciente 

Antes de realizar essa pesquisa na Índia, eu estava preparada para concluir que alguns ou, talvez, todos os casos que eu investigaria seriam logros praticados por uma série de razões, como o desejo de uma criança e/ou de sua família de se identificar com uma casta superior. Esta foi a minha primeira experiência numa sociedade de casta. As investigações não confirmaram essas suposições.

Como a Tabela 4 mostra, em 3 dos 10 casos estudados o sujeito nasceu em circunstâncias mais humildes (o que é chamado de Rebaixamento na Tabela 4) ou numa casta mais casta do que a personalidade anterior. Três dos casos não mostraram nenhuma diferença substancial de condições socioeconômicas ou de casta (o que é chamado de Nenhuma Mudança na Tabela 4), ao passo que em 4 dos casos a criança nasceu numa casta mais alta do que a personalidade anterior (Promoção na Tabela 4). Na amostra indiana de Stevenson para a qual a análise relevante foi feita, um terço dos casos em que havia promoção ou rebaixamento recordam piores condições materiais, enquanto dois terços recordam melhores condições (1987, p. 215). Uma análise da mudança do status social para o corpo maior de casos indianos será útil, assim como a sua relação com o fato de a personalidade anterior ter sido conhecida ou desconhecida.

Em um dos casos em que a criança era de uma casta mais humilde, eu entretive algumas questões sobre o motivo porque relatos discrepantes de um acontecimento importante sugeriam que dois informantes apresentavam erradamente o acontecimento, ou que um informante muito idoso tinha se lembrado dele de forma incorreta. Em dezembro de 1989 pude reunir mais dados deste caso complexo. Agora estou confiante de que este não é um caso de engano ciente, mas sim um caso de construção inconsciente numa escala maior do que nos outros casos que eu estudei. Espero fazer juz à complexidade do caso num relatório separado.4 

TABELA 4

Comparações das características dos casos do tipo reencarnação na amostra indiana de Stevenson e no estudo de replicação de Stevenson

 

Sexo do Sujeito

 

Percentual dos Casos Resolvidos

Mills

60% masculino

N = 10

 

100%

N = 10

Stevenson

64% masculino

N = 2711

 

77%

N = 2661

 

 

Aparentado

Conhecido

Desconhecido

Mills

0%

N = 10

50%

N = 10

50%

N = 10

Stevenson

16%

N = 1831

41%

N = 1831

43%

N = 1831

 

 

Comparação do Estado Social

 

Promoção

Rebaixamento

Nenhuma Mudança

Mills

40%

N = 10

30%

N = 10

30%

N = 10

Stevenson

28.6%

N = 422

45.2%

N = 422

26.2%

N = 422

 

 

Modo de Morte Violento

(Casos Resolvidos)

Lembranças do Modo de Morte

(Casos Resolvidos)

Fobia Relacionada à Morte

Mills

70%

N = 10

60%

N = 10

20%

N = 10

Stevenson

53%

N = 1641

77%

N = 1721

26%

N = 911

1 (Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, & Stevenson, 1983).

2 (Pasricha, 1978).

Consistência e Exatidão das Declarações. Nos outros casos, eu notei algumas pequenas discrepâncias nos relatos de diferentes testemunhas oculares sobre encontros e reconhecimentos dependendo do que a pessoa realmente ouvira. Eu também notei que um informante atribuiu uma declaração a um sujeito que incorporou informações obtidas só depois de encontrar a família da personalidade prévia, e alguma tendência a aceitar como evidencia as declarações feitas depois que um fluxo óbvio de informação tinha ocorrido. Apesar disso, eu não encontrei nenhuma indicação de que as testemunhas fabricaram as informações.

Na verdade, assim como Yuille e Cutshall (1986), eu descobri que relatos independentes de numerosas referências cruzadas indicaram que o testemunho era geralmente coerente e exato. Como Freeman, Romney e Freeman (1987), eu percebi que informantes que tinham testemunhado um único encontro eram mais capazes de fornecer um quadro claro desse único acontecimento do que as pessoas que testemunharam numerosos encontros, cujos relatos tendiam a misturar informações sobre eventos isolados numa descrição misturada. Com exceção do que foi citado acima, os vários relatos eram coerentes em vez de contraditórios.

Descobri que pequenas inexatidões às vezes ocorreram em estimativas da idade da criança quando ele ou ela disseram determinadas coisas, particularmente se houve um intervalo considerável desde que os acontecimentos aconteceram. A Tabela 1 registra algumas diferenças nas estimativas da idade de Reena quando ela disse ou fez certas coisas. A incapacidade de precisar a cronologia correta é particularmente significativa nos (relativamente raros) exemplos em que os pais não têm certeza se um acontecimento aconteceu antes ou depois que o caso foi resolvido, época em que a criança e sua família tiveram acesso a informações adicionais sobre a personalidade anterior. A implícita suposição de que os casos são exemplos de reencarnação levanta a questão da ilusão inconsciente.

A Evidência para Ilusão Inconsciente 

A categoria de ilusão inconsciente, como eu a vejo, inclui várias explicações alternativas: imposição ou adoção de uma personalidade alternada em resposta a uma patologia séria na família, análoga à Desordem de Personalidade Múltipla; a adoção de uma identidade alternada sem patologia séria; ou diagnóstico equivocado de fantasia normal por parte da criança em conformidade com a categoria de reencarnação culturalmente aceita. Quando a personalidade anterior não era conhecida da criança ou de sua família antes de o caso “ser resolvido,” estas últimas duas explicações se baseiam na suposição de que a descoberta de alguém que se encaixa na descrição do sujeito é uma questão de coincidência e construção cultural.

Hipótese de Construção Inconsciente I: Adoção de uma Personalidade Alternada em Resposta a Complexas Dinâmicas de Família. Krippner (1987) notou as semelhanças de alguns sujeitos brasileiros em casos indicados como do tipo reencarnação com pessoas norte-americanas sofrendo de tendências dissociativas. No Brasil, onde o conceito de reencarnação foi incorporado no espiritismo, personalidades intrusas ou alternadas são diagnosticadas por alguns médicos como personalidades de vidas passadas que o indivíduo não aceitou ou incorporou. (Isto difere dos casos, também informados no Brasil, em que crianças parecem lembrar-se de vidas anteriores sem manifestar qualquer patologia). Há de se questionar se casos reputados como sendo de reencarnação seriam, de fato, exemplos da adoção de uma personalidade alternada por razões semelhantes à etiologia de Desordem de Personalidade Múltipla (DPM). O número de diagnósticos de casos deste último fenômeno vem aumentando em países ocidentais há meio século (cf. Coons, Bowman, & Milstein, 1988; Greaves, 1980). Kenny (1986) vê a DPM como uma metáfora para a cultura americana, análoga a casos diagnosticados como possessão de espírito em outras culturas (Kenny, 1981).

Em casos de Desordem de Personalidade Múltipla o indivíduo às vezes manifesta uma ou mais personalidades bem diferentes, sobre a qual a principal ou presente personalidade não tem nenhuma memória ciente. Um fator precipitante na etiologia da Desordem de Personalidade Múltipla parece ser uma divisão da personalidade em resposta ao abuso infantil (DSM-III-R, 1986). Em alguns exemplos a divisão das personalidades começa na infância, e pode ser interpretada como um companheiro imaginário que tem a capacidade de lidar com situações aflitivas que de certa maneira a personalidade primária não tem (Congdon, Hain, & Stevenson, 1961; Hilgard, 1977).

Nenhum dos casos de crianças que dizem ter memórias de vidas passadas que eu investiguei pareceu se encaixar na categoria de Desordem de Personalidade Múltipla. Eu não encontrei nenhuma evidência de patologia nos sujeitos nem em membros de suas famílias. Apesar da anomalia caracterizada pela convicção do sujeito de que ele era e ainda é outra pessoa e, em alguns exemplos, de sua precocidade, todos os sujeitos pareceram ser indivíduos normais e integrados. Não havia nenhuma evidência de que adotaram a convicção de que pertenceram a outra família porque foram secreta ou abertamente rejeitados por seus pais ou por outros membros da família, nem tinham formado uma personalidade defensiva para lidar com material perturbador ou abuso como acontece nos casos de Desordem de Personalidade Múltipla.

De fato, uma das características mais notáveis dos casos é a consistência da personalidade da aparente vida passada e da vida presente. As crianças não manifestaram duas personalidades diferentes.

Embora as recordações de aparentes vidas passadas às vezes tenham feito com que algumas crianças se tornassem introspectivas, elas manifestaram de modo coerente uma única personalidade sem apresentarem sinais de amnésia em nenhum dos segmentos dessa personalidade. As características distintas da personalidade tipicamente eram manifestadas antes de o caso ter sido resolvido, e a criança e a sua família tinham uma informação sobre a natureza da personalidade anterior. Nos 3 casos que examinei o sujeito já havia passado da etapa em que conscientemente se identifica com um indivíduo morto em particular, a personalidade da criança continuou a ser coerente com aquela exibida anteriormente.

No entanto, perguntas adicionais feitas aos pais indicaram que eles tenderam a dar preferência à criança com memórias de vidas passadas por causa da angústia que a criança experimentou em acreditar que pertencia simultaneamente a dois locais diferentes e a duas famílias diferentes. Isto levanta a hipótese de que crianças podem construir uma identidade de vida anterior para ganhar atenção especial, na ausência de patologia séria.

Construção Inconsciente Hipótese II: Construção de uma Vida Passada para Ganhar Atenção. A hipótese de que crianças inconscientemente desenvolvem o que são interpretadas como sendo memórias de vida passadas, em minha opinião, parece ser refutada por quatro fatores: (1) presume que uma criança muito jovem está ciente de que a indicação de uma identidade de vida passada lhe forneceria uma atenção positiva; (2) presume que uma criança somente ganha reforço positivo por alegar lembrar-se de uma vida anterior; (3) presume que a angústia que a criança sente pela separação da aparente família da vida passada é fingida; e (4) não explica o conhecimento aparentemente exato da criança sobre as pessoas e lugares sobre os quais a criança não tem nenhum meio normal de saber. Assim como a Hipótese I, outra vez presume que a criança não recebe atenção adequada. Eu não encontrei nenhuma indicação de que as crianças foram motivadas pela necessidade de receber atenção compensatória.

Descobri que havia uma variação considerável quando o caso da criança tinha recebido notoriedade, e de fato trazido atenção pública à criança. O caso de Reena nunca foi divulgado nem publicado em nenhum jornal. Outras pesquisas foram feitas sobre o caso de Ashok Kumar mas eu não tenho conhecimento de que ele tenha sido sequer descrito na imprensa indiana. O caso de Titu foi informado em ao menos três revistas na Índia, e entrou em domínio público em Agra. Uma Verme informou que uma companhia indiana de filmes está considerando transformar o caso num filme. O leitor terá que decidir por si mesmo se a identificação de Titu é baseada nessa cobertura da imprensa.

Ainda que uma criança pensasse que alegando se lembrar de uma vida anterior ganharia atenção adicional dos seus pais, eu duvido que uma criança pensaria que vale a pena o problema de tentar manter uma identidade alternada com base na resposta dos pais. Os pais dos sujeitos que investiguei não poderiam ser acusados de desejar que sua criança tivesse memórias de vidas passadas nem de encorajar a manifestação das mesmas. Em todos os 10 casos, as famílias acharam estressante ter uma criança alegando pertencer a outra família e chorando para ser levada a essa família. Eles queriam que a criança visse a eles como os pais. Além do mais, alguns pais ficavam tristes ao descobrir que tinham uma criança que falava do que aparentemente seria uma lembrança de vida passada porque pensavam que crianças com memórias de vidas passadas morriam prematuramente de causas violentas e retornavam rapidamente para acabar os assuntos inacabados da vida interrompida, e que depois disso elas morrerão outra vez.5

Em 8 dos 10 casos, o medo de perder a criança para a morte prematura ou para os parentes da encarnação passada incitou os pais a tomar medidas para fazer a criança esquecer-se e/ou parar de falar do ponto de vista de uma vida passada (Reena e Titu foram as exceções). Estas medidas incluíram gritar, surrar ou esbofetear a criança, virando a criança no sentido anti-horário numa pedra amoladeira na esperança de fazer a criança se esquecer, e ter um pandit ou sacerdote recitando mantras “para apagar as memórias de vidas passadas do cérebro da criança”. Embora os pais esperassem que estas medidas fossem eficientes e sentissem algum alívio em executá-las, a maioria dos pais inicialmente julgou-as como sendo ineficientes em causar a amnésia desejada. Nos casos em que a criança tem agora mais de 9 anos, os pais acharam que as memórias da criança desapareceram quando ela tinha aproximadamente 7 anos de idade (e às vezes atribuíam este alívio às medidas de supressão administradas muito antes).

Hipótese de Construção Inconsciente: O Fenômeno de Crianças que Parecem Lembrar-se de Vidas Anteriores como um Artefato de Construção Cultural de uma Fantasia Infantil Natural. Se o fenômeno não é, como concluo, o artefato de maior ou menor imposição patológica de outra personalidade, pode-se perguntar se é o resultado da interpretação dos pais de fantasias naturais da sua criança como recordações de vidas passadas. Watkins e Watkins (1986) relatam que adultos sob hipnose podem adotar uma personalidade convincente distinta de sua costumeira personalidade presente. Stevenson (1987) nota que “regressões de vidas passadas” induzidas hipnoticamente com freqüência provam-se ser o resultado de fantasia porque elas não correspondem a fatos históricos estabelecidos. Isto indica que a intensidade e a convicção com que uma criança alega ser outra pessoa não indica que este seja necessariamente o caso.

Isto levanta a questão de se os pais criam o fenômeno por rotularem as declarações e comportamento da criança como exemplos de reencarnação. Tendo fornecido a criança com a rubrica mental de uma recordação de vida passada, a criança elaboraria mais detalhes, e passa, assim como os pais, a acreditar implicitamente na criação fantasiosa que os pais inconscientemente sustentam por aceitá-la como uma recordação válida de vida passada? Os psicólogos (Festinger, 1957) e antropólogos (Fiske & Shweder, 1986; Shweder, 1980) fizeram estudos narrativos do impacto da expectativa cultural na avaliação de fenômenos ambíguos. Os antropólogos e psiquiatras (cf. Angel & Thoits, 1987; Hughes, 1985; Kleinman, 1980; Obeyesekere, 1981; Torrey, 1986; Waxler, 1979, inter alia) destacaram que pessoas não-ocidentais usam modelos explanatórios diferentes que afetam o diagnóstico e prognóstico da sintomatologia. Isto levanta a pergunta de se, ou até que ponto, os casos do tipo reencarnação são transtornos culturais.

Não há nenhuma dúvida de que a interpretação cultural exerceu um papel importante no desenvolvimento das várias etapas dos casos que eu estudei. Estas etapas são o diagnóstico inicial do caso, a reação ao caso, e a procura e identificação de uma personalidade passada correspondente, os “reconhecimentos” das pessoas e lugares do ambiente da personalidade anterior, e a interpretação de mais declarações feitas pela criança.

Diagnóstico: Tipicamente, depois de um período inicial quando as declarações da criança receberam pouca importância, as contínuas revelações da criança foram interpretadas pelos pais como relacionadas a uma vida passada. Uma crença prévia em reencarnação certamente facilitou a interpretação dos pais das declarações anômalas da criança em termos de reencarnação. Por exemplo, é improvável que a mãe de Reena teria interpretado a enunciação dela da palavra “noivo” e o fato de ela ter deitado e prendido a respiração como uma tentativa de comunicar fatos sobre uma vida anterior se ela não acreditasse que é possível ter memórias de vidas anteriores.

Reação ao caso: Mesmo quando os pais estavam aflitos por pensarem que a criança lembrava-se de uma vida passada, e tentaram fazer com que a criança parasse de falar nestes termos, esta interpretação forneceu uma estrutura para a interpretação de ações e declarações futuras. Em alguns dos casos que investiguei (embora não sejam nenhum dos 3 apresentados aqui), os pais extraíram muito cuidadosamente mais informações da criança de modo que pudessem localizar a personalidade passada, motivados por um desejo de satisfazer a criança com alguma informação que aliviaria o seu desejo contínuo de ser levada ao lar anterior assim como por curiosidade. Nestas situações os pais freqüentemente começaram a supor aspectos da personalidade prévia projetada. Mesmo quando os pais tentaram ignorar a alegação da criança de pertencer a outro lugar, a suposição deles de que a criança conversava sobre uma vida passada se manifesta no palavreado deles. Por exemplo, os pais não fizeram nenhuma distinção em pronomes ao se referirem à criança ou à presumida personalidade prévia, fazendo declarações como: “Ele se lembra do lar e dos irmãos dele”.

É possível que o fornecimento da estrutura conceitual de reencarnação encoraje a criança a continuar a manifestar aparentes recordações de vidas passadas ou identidade (e que o não fornecimento de tal estrutura iniba a continuação deste fenômeno em culturas que não acreditam em reencarnação).

Resolução do caso: Numa cultura que não incorporou a categoria de recordação de vida passada, pouco esforço seria feito para resolver tais casos. Se Reena fosse uma Rachel em Kansas, teria sido improvável que a mãe dela se lembrasse do homem que a filha de 3 anos de idade afirmou ser seu marido dela. Se Titu fosse Tom em Chicago, seria improvável que seu irmão procurasse a loja de rádio que Tom alegou possuir. Na América do Norte seria improvável que um Ashok Kumar sairia com o irmão em busca de um povoado ou a aldeia que o garoto de cinco anos afirmou ser o seu lugar de origem.

Reconhecimentos: A interpretação dos “reconhecimentos” é uma área em que a importância de significados culturalmente constituídos é mais evidente. Eu não testemunhei nenhum dos “reconhecimentos” iniciais, mas se tornou aparente ao ouvir a descrição deles que os participantes raramente estiveram preocupados, ou exigiram, padrões de evidência para paranormalidade. É difícil descartar a possibilidade que a criança recebeu sutis (ou mesmo não tão sutis) sugestões sobre quem supostamente era quem. Em um exemplo (vide p. 155), Ashok Kumar explicitamente foi incitado a reconhecer alguém ele não reconheceu inicialmente. A definição de reconhecimento utilizada pode variar. Na Índia, os atos de Reena, retirar-se e cobrir a cabeça com um pano ao encontrar a sogra de Gompti Devi, foram aceitos como clara evidência de reconhecimento. Na América do Norte não seria. Em outras palavras não há nenhum sinal universal de reconhecimento entre as culturas. No entanto, eu não quero dizer que isso significa que todos os “reconhecimentos” não têm valor como evidência de fenômenos paranormais. Por exemplo, não parece ter havido qualquer indício de sugestões fornecidas a Ashok Kumar para o reconhecimento inicial e espontâneo da mãe de Kishen Behari.

Interpretação de mais declarações feitas pela criança: Uma vez que o caso foi resolvido, a informação obtida por meio normal pode ser interpretada como uma validação adicional do conhecimento paranormal dos participantes. Eu incluí a descrição que Ashok Kumar deu da causa de morte quando deixamos Bandha após a terceira visita dele ao local, como um exemplo de tal declaração. Ashok Kumar não tinha descrito o modo de morte antes de ir a Bandha. A informação correspondeu ao que nos foi dito lá. Embora seja possível que a presença do sujeito no lugar onde os acontecimentos aconteceram tenha estimulado a memória dele, não se pode descartar a possibilidade de que Ashok Kumar tenha reunido informações que ele ou os parentes dele tinham aprendido e recontado na sua presença. Mais ainda, sua mãe tinha passado a acreditar que a descrição de Ashok Kumar de mancar até seu novo lar queria dizer que a personalidade prévia tinha morrido com uma perna machucada. Esta suposição foi confirmada por um informante mas negada por outros. A mãe de Ashok Kumar deu numerosos exemplos de que aceitava que seu filho fosse o sujeito de um caso de reencarnação, dizendo a ele quando nos aproximamos de Bandha: “Diga a sua esposa para nos dar água quando chegarmos” e assim por diante. Isto não diminui, naturalmente, a evidência fornecida pelo conjunto de declarações que foi feito antes de Ashok Kumar ter ido a Bandha.

A evidência mais forte para um processo paranormal ocorre nos casos em que a criança e a sua família não tiveram nenhum conhecimento da personalidade passada antes de eles terem se encontrado. Metade dos casos que eu estudei se encaixam nessa categoria. No entanto, é freqüentemente difícil descartar a possibilidade de que o sujeito ou a sua família poderiam ter aprendido algo sobre a personalidade anterior e então esquecido o que eles sabiam. Como a Tabela 4 mostra, os 10 casos que eu estudei não representam a plena variação de contato na maior amostra indiana de Stevenson. Nenhum dos 10 casos inclui sujeitos que eram relacionados à personalidade passada. Os 3 casos descritos demonstram uma variedade de possibilidades de a criança ter aprendido alguma informação por meios normais sobre a personalidade anterior. O caso de Reena representa a quantia maior de contato; seus pais eram conhecidos do marido da personalidade passada. Codifiquei o caso de Titu como desconhecido, embora houvesse contato entre um conhecido de Suresh e o pai de Titu. No caso de Ashok Kumar não havia nenhum contato anterior.6

No entanto, mesmo no caso de Reena, nem o relacionamento amigável entre Shyam Babu Yadev e Kripa Shanker Kulshreshtha que ocasionou a consciência do falecido de que a esposa de Shyam Babu tinha morrido, nem a convivência na mesma vizinhança explica as alegações da criança, desde a época em que ela tornou-se capaz de se comunicar pela primeira vez, indicando que teve um marido e tinha morrido, nem explica a intensidade de sua fobia do terreno de cremação e de agulhas hipodérmicas. A espontaneidade de Shyam Babu em casar novamente 3 meses depois da morte de Gompti Devi contraria o período normal de luto hindu de 1 ano, e indica sua boa vontade em esquecer-se de sua perda passada. Nem ele nem sua segunda esposa legitimamente podiam ser suspeitos de transmitir de propósitos as informações em questão à Reena. A família de Kulshreshtha não tinha nada a ganhar ao estabelecer um elo entre sua filha e uma esposa de tez escura de um colega de seu pai de casta inferior.

Na seqüência continua do maior para o menor contato, o caso do Titu cai em direção à extremidade de nenhum contato. As duas famílias não sabiam uma da outra, embora o pai de Titu possa ter lido sobre o assassinato ou ouvido de um conhecido de Suresh que vive na aldeia de Titu e esquecido. Contudo é difícil de explicar por que Titu se identificaria como o proprietário da Suresh Rádio com base nessas possíveis fontes de comunicação. Se um motivo pudesse ser achado, não explicaria a correspondência das marcas de nascimento do Titu ao local de entrada e saída da bala que matou Suresh.

Foi sugerido que nestes exemplos é mera coincidência que uma pessoa que se encaixe na descrição da criança realmente exista. No entanto, os limites de credibilidade são excedidos quando se imagina que é mera coincidência que existiu um homem numa aldeia de Bandha com uma esposa e cinco crianças que levou uma surra da polícia, como Ashok Kumar disse antes de ir à aldeia; e que Ashok Kumar insistiria em ir a essa aldeia, sendo capaz de mostrar o caminho e uma vez lá reconhecer a casa e a mãe de Kishen Behari. Neste caso como em outros, a espontaneidade e familiaridade com que os sujeitos relatam aos parentes da personalidade passada desmente a instigação ou ajuste do comportamento da criança para se encaixar em qualquer molde preconcebido.

Se algum meio paranormal de conseguir o conhecimento parece indicado, deve-se perguntar se a percepção extra-sensorial oferece uma explicação mais fortemente convincente do que a hipótese de reencarnação. A demonstração de percepção extra-sensorial de cerca de quatro acontecimentos apresentada por Reena sugere esta hipótese paranormal alternativa.

Há evidência de que crianças ocidentais (assim como adultos) às vezes parecem saber e articular outros pensamentos sem contá-los (Rhine, 1961). As crianças exibem esta propriedade mais freqüentemente na presença do pai ou da mãe, isto é, alguém que ela conhece intimamente. Impressões telepáticas espontâneas em adultos também são típicas entre parentes (Stevenson, 1970). No caso de Reena seus pais sabiam algo sobre a existência de uma esposa anterior de Shyam Babu Yadev. No caso de Titu seu pai pode ter lido ou ouvido sobre o assassinato de Suresh Verme. No entanto, em ambos estes casos a informação não parece importante nem notável o bastante para que os pais expliquem a ligação da criança a esta pessoa em particular. Parece improvável que a criança obteria a informação de parentes do indivíduo morto desconhecido. No caso de Ashok Kumar a hipótese de percepção extra-sensorial consiste na suposição de que Ashok Kumar captava os pensamentos de parentes de Kishen Behari em Bandha, cuja existência não era conhecida nem por nem pelos pais.

Além disso, se algumas crianças podem obter corretamente informações contidas em outras mentes isto não explicaria a notável identificação da criança com uma pessoa em particular. A hipótese de PES pareceria mais crível se estas crianças pudessem relatar corretamente fatos sobre um número de indivíduos que elas não conhecem.7 Três fatores contra-indicam a interpretação de percepção extra-sensorial. Primeiro, a especificidade das informações fornecidas por crianças em casos do tipo reencarnação excede a especificidade das informações em PES espontânea infantil. Segundo, em todos os casos a pessoa alvo com quem a criança parece estar em contato extra-sensorial é uma personalidade falecida anteriormente. Terceiro, percepção extra-sensorial per se não implica tipicamente no sujeito se identificar fortemente com ou como a pessoa alvo. Os fenômenos sugerem que a consciência da pessoa morta no tempo de sua morte tornou-se parcialmente acessível à criança. 

Conclusão 

Meu exame de 10 casos de crianças que se identificaram como um indivíduo morto na Índia, 3 dos quais são descritos acima, indica que um investigador independente, usando os métodos de investigação de Stevenson, encontrará resultados similares. Há aspectos de alguns destes casos que não podem ser explicados por meios normais. Não encontrei nenhuma evidência de que os casos que estudei fossem fruto de fraude ou fantasia ou de que poderiam ser explicado por projeção ou suposição de uma identidade alternada em resposta a complexas dinâmicas de família. Enquanto a aceitação cultural do conceito de reencarnação e a categoria de crianças que se lembram de uma vida passada influenciaram a interpretação dos pais do comportamento da criança, isto não pode ser creditado como o causador de todos os aspectos de sua ocorrência, tal como o alto grau de exatidão das declarações que estas crianças fazem sobre uma pessoa morta real quando nem elas nem os parentes dela conhecem essa pessoa. As explicações normais alternativas baseiam-se na suposição de que a existência de uma personalidade passada que se encaixe à descrição da criança é um produto de coincidência. A consistência e semelhança da personalidade da criança com a personalidade informada como sendo da personalidade passada também é significativa. Nos casos onde se notam marcas de nascimento no sujeito que se relacionam a feridas na personalidade anterior ou fobias relacionadas ao modo de morte, a possibilidade de coincidência diminui ainda mais.

Assim como Stevenson eu concluo que embora nenhum dos casos que eu estudei (ou os 3 casos citados) ofereçam prova irrefutável de reencarnação ou de algum processo paranormal relacionado, eles são parte do crescente conjunto de casos para os quais explicações normais não parecem fazer justiça aos dados. As implicações destes casos para a compreensão da psicologia humana são suficientemente importantes para garantir estudos ainda mais cuidadosos de tais casos. Devemos ser cautelosos em relação à tendência de descartar as evidências que estes casos apresentam porque os conceitos de fenômenos paranormais em geral e a reencarnação em particular não são uma parte da construção cultural científica ocidental. Este estudo de replicação indica que há dados suficientemente inexplicáveis por meios normais para garantir mais investigação de crianças que alegam se lembrar de uma vida anterior, e sugerir que tais casos oferecem evidência da sobrevivência de algum elemento da personalidade humana depois da morte.

Os demais estudos de casos na Índia devem, sempre que possível, se concentrar em casos que ofereçam a mais impressionante evidência sobre o envolvimento de alguma característica paranormal. Estes são casos em que a criança e a sua família não souberam da personalidade prévia e casos que até agora não foram resolvidos, ou em que um registro escrito das declarações da criança foi feito antes da verificação da existência de tal pessoa ser feita.

Mais estudos são indicados para refinar ainda mais o trabalho de Stevenson sobre a interação de crenças culturais específicas e os parâmetros dos casos. Eu recomendaria o estudo de identidades imaginárias da infância em crianças ocidentais para avaliar a semelhança do que é chamado de “fantasia natural” em crianças ocidentais e as identidades alternadas de crianças que dizem lembrar-se de vidas passadas em culturas que acreditam no conceito de reencarnação. 

Notas 

1 Faço uso do termo “personalidade anterior” utilizado por Stevenson para se referir à pessoa morta de quem a criança fala.

2 O sujeito lembra o assassinato da personalidade anterior. O suposto assassino e a sua família identificaram a mim e a meus assistentes como agentes secretos procurando informações para o julgamento de assassinato, e eles ameaçaram a criança, seus parentes, e os aldeãos com conseqüências terríveis se falassem sobre o caso. Além disso, nós não pudemos encontrar a mãe nem o pai da criança, já que eles estavam (ou disseram estar) ausentes da aldeia em nossas repetidas visitas. Por razões menos dramáticas nós não conseguimos, por diversas vezes, encontrar todas as testemunhas que eu quis entrevistar em outros casos também.

3 As questões levantadas por este caso mostram a importância da obtenção de registros de nascimento ou de datas de morte sempre que possível. Infelizmente, nascimentos e mortes freqüentemente ocorrem sem serem registrados na Índia. O intervalo entre a morte da personalidade anterior e o nascimento do sujeito na maioria dos casos estudados por Stevenson é maior que 9 meses, mas há um número de casos em que o sujeito foi concebido antes da morte da personalidade passada (Stevenson, 1986, 1987). Pesquisas adicionais relacionadas ao registro da data de nascimento de Titu ainda não resolveram essa questão, mas indicam que a pessoa sob cujo nome Shanti Devi foi admitida pode ser fictícia.

4 No único caso (o que julguei que os relatos eram seriamente inconsistentes), os pais da criança ficaram convencidos da validez do caso, ao passo que o pai da personalidade anterior (que não tinha testemunhado quaisquer encontros) não. Suas reservas foram baseadas em ouvir que o sujeito tinha chamado tanto o tio como os irmãos da personalidade anterior de tios, e na opinião de que o intervalo entre a morte da filha e o nascimento do sujeito (7 anos) era muito longo. Outras pessoas acreditavam que a sua falta de endosso do caso era o resultado da relutância em acreditar que sua filha retornaria na classe de homens de negócios, já que ele é um brâmane.

5 Stevenson (1974) informa um medo semelhante entre os Tlingit: o de que crianças que se lembram de vidas passadas terão vida curta. Descobri que as crianças nativas dos Beaver, Gitksan e Wet’suwet’en da Columbia Britânica, Canadá, com tais memórias de vidas passadas são estimadas e chamadas de “crianças especiais” e nascem tipicamente entre parentes próximos que são consolados pelo retorno de um parente cuja morte foi profundamente lamentada. Neste contexto tais crianças raramente perturbam seus pais pedindo para visitar um lar ou parentes desconhecidos e diferentes, embora todas as três tribos diagnostiquem o choro ou a doença das crianças que ainda não aprenderam a falar como causados pela angústia do bebê em não ter um objeto predileto da personalidade anterior, ou pela saudade de alguma pessoa querida (Mills, 1988).

6 No caso com o maior contato prévio dos 10 que investiguei, o sujeito tornou-se um visitante freqüente do lar da personalidade passada quando tinha aproximadamente 2 anos de idade, e fez declarações sobre a personalidade anterior depois que um contato havia sido estabelecido. Nos dois casos com a menor quantidade de contato em minha amostra, o sujeito e seus parentes ignoravam a existência da personalidade passada, que viveu em outra aldeia, e o sujeito não visitou a aldeia nem o lar da personalidade anterior, embora os parentes da personalidade passada tenham visitado a criança em seu lar.

            7 Stevenson (1987) relata que vidas passadas intermediárias ou adicionais são raramente lembradas por sujeitos de casos do tipo reencarnação, e são normalmente inverificáveis. Um dos sujeitos em minha amostra alegou lembrar-se de uma vida intermediária não verificada. 

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Referênca original: Mills, A. “A replication study: Three cases of children in northern India who are said to remember a previous life”. J. Sci. Exploration 3, No. 2 (1989) pp. 133-184

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Este artigo foi traduzido para o português por Vitor Moura Visoni e revisado pela Inwords.



[1] Agradecimentos. Eu gostaria de agradecer a Divisão de Estudos da Personalidade do Departamento de Medicina Comportamental e Psiquiatria da Universidade de Virginia por cobrir as despesas da minha pesquisa na Índia, e o Conselho de Pesquisas de Ciências Sociais e Humanidades do Canadá pela concessão de bolsas pós-doutorais da Sociedade de Pós-Doutorados #456-85-1804 e #457-86-0071, para estudar a crença e casos sugestivos de reencarnação entre os Índios Beaver, Gitksan e Wet’suwet’en da Columbia Britânica, Canadá.

Os pedidos de reimpressão devem ser endereçados a Antonia Mills, Ph.D., Box 152, Health Sciences Center, University of Virginia, Charlottesville, Virginia 22908.

25 respostas a “Um Estudo de Replicação: Três Casos de Crianças no Norte da Índia que Alegam se Lembrar de Vidas Anteriores (1989)”

  1. Vitor Diz:

    Agradeço profundamente ao Marcos Arduin e ao Leonardo Montes por terem financiado a revisão da tradução, que custou 414 reais.

  2. HENRIQUE Diz:

    VITOR…POR FAVOR ME PASSE SEU E-MAIL…

  3. Vitor Diz:

    Oi, henrique
    Já escrevi para você, mas pra ver meu email é só ir ao final da página e colocar o mouse em cima do meu nome que aparece.

  4. Biasetto Diz:

    Meu repúdio à censura
    .
    Há três anos acesso este blog criado por Vítor Moura Visoni. Foi-me uma grande surpresa, quando iniciei minha aventura por estas postagens, especialmente no início, em razão de minha fé espírita-xavieriana. Apesar de ter sentido um mal estar ao ver minhas crenças profundamente questionadas, não reagi no caminho de buscar meios para evitar o direito do criador do blog, em manifestar seus estudos, ideias e pesquisas.
    Procurei, até onde me foi possível, desqualificar suas conclusões e apontamentos, através de argumentos em contrários. À medida que me aprofundava no conhecimento dos artigos do blog, bem como nos comentários e apontamentos de diversos participantes, fui percebendo a fragilidade de meus argumentos. Movido pelo desejo de saber, de buscar a verdade, realizei estudos e pesquisas sobre os temas abordados, chegando à conclusão que estivera enganado em minhas convicções religiosas, o que não significa afirmar que passei a concordar integralmente com todas as ideias e publicações de Vítor Moura Visoni, mas admito que passei a ter por ele respeito e admiração.
    Num país marcado pelas crendices, pelo sincretismo religioso-esotérico, onde a cada dia abrem-se igrejas e fecham-se cinemas e livrarias, me parece de muito bom grado uma iniciativa como a do Vítor, buscando através de estudos e análises sistemáticas, verificar a autenticidade de fenômenos ditos paranormais, fenômenos ditos mediúnicos; procurando ainda, difundir a crença na existência do espírito, crença esta desvinculada dos moralismos e dogmatismos tradicionalmente difundidos por diversos segmentos religiosos, especialmente o espiritismo brasileiro.
    O Vítor nunca foi e não é infalível em suas análises e apontamentos, mas sempre demonstrou capacidade argumentativa, baseada em estudos e referências bibliográficas destacadas. Além disso, sou testemunha de sua vocação democrática, permitindo e incentivando a participação ampla em seu blog, independentemente da crença ou descrenças dos internautas.
    Lamentavelmente, por ação de um internauta, que se mostrou descontente com um artigo recente, testemunhei um ato de censura contra a liberdade de expressão do blog.
    Eu gostaria de ter argumentos e capacidade intelectual para expor com minhas próprias palavras meu repúdio a tal acontecimento, mas me falta inspiração, de modo que vou fazer uso de algumas passagens selecionadas do livro “O Mundo Assombrado Pelos Demônios”, do brilhante e saudoso astrônomo Carl Sagan (1934-1996). Nas páginas 337 e 338 ele escreveu:
    .
    Numa visão curta e incerta, parece cruel fazer qualquer coisa que possa privar as pessoas do consolo da fé, quando a ciência não pode remediar a sua angústia. Aqueles que não conseguem suportar o peso da ciência têm a liberdade de ignorar os seus preceitos. Mas não podemos fazer ciência aos pedacinhos, aplicando-a quando nos sentimos seguros e ignorando-a quando nos sentimos ameaçados – mais uma vez, porque não temos sabedoria para tanto. A não ser dividindo a mente em compartimentos herméticos separados, como é possível voar em aeroplanos, escutar rádio ou tomar antibióticos, sustentando ao mesmo tempo que a Terra tem cerca de 10 mil anos ou que todos os sagitarianos são gregários e afáveis?
    O cientista que pela primeira vez propôs consagrar a dúvida como uma virtude fundamental da inteligência indagadora deixou claro que ela não era um fim em si mesmo, mas uma ferramenta. René Descartes (1596-1650) escreveu:
    .
    Não imitei os céticos que duvidam apenas por duvidar, e fingem estar sempre indecisos; ao contrário, toda a minha intenção foi chegar a uma certeza, afastar os sedimentos e a areia para chegar à pedra ou ao barro que está embaixo.
    .
    Pela forma como o ceticismo é às vezes aplicado a questões de interesse público, há uma tendência para apequenar os opositores, tratá-los com ar de superioridade, ignorar o fato de que, iludidos ou não, os adeptos da superstição e da pseudociência são seres humanos com sentimentos reais que, como os céticos, tentam compreender como o mundo funciona e qual poderia ser o nosso papel nele. Em muitos caos, seus motivos se harmonizam com a ciência. Se a sua cultura não lhes deu todas as ferramentas necessárias para levar adiante essa grande busca, vamos moderar as nossas críticas com bondade. Nenhum de nós nasce plenamente equipado.
    Há certamente limites para os usos do ceticismo. Deve-se aplicar uma análise de custo/benefício, e se o alívio, o consolo e a esperança fornecidos pelo misticismo e pela superstição são elevados, e os perigos da crença relativamente baixos, por que não deveríamos guardar as dúvidas para nós mesmos? Mas a questão é delicada. Imagine que você entra num táxi numa grande cidade e, assim que se acomoda no carro, o motorista começa a discursar sobre as supostas iniqüidades e inferioridades de outro grupo étnico. O melhor a fazer é ficar calado, tendo em mente que quem cala consente? Ou a sua responsabilidade moral é discutir com o motorista, expressar a sua indignação, até mesmo sair do táxi – porque você sabe que cada consentimento silencioso será um estímulo para o próximo discurso, e que cada discordância vigorosa o levará a pensar duas vezes na próxima vez? Da mesma forma, se calamos demais sobre o misticismo e a superstição – mesmo quando parecem estar fazendo algum bem –, favorecemos um clima geral em que o ceticismo passa a ser considerado descortês, a ciência cansativa e o pensamento rigoroso algo insípido e inapropriado. Encontrar um equilíbrio prudente exige sabedoria.
    .
    Destes apontamentos de Sagan, a mea culpa que faço se refere à imprudência, normalmente movida por discussões acaloradas, em se fazer chacota e/ou uso de vocabulário baixo e agressivo. Fora isto, sirvo-me das ideias de Sagan para continuar vivendo em busca das verdades, difundindo História, Geografia, Ciências … idealizando uma sociedade sem a paixão pelos dogmas religiosos, os preconceitos difundidos pela fé e as bobagens ensinadas pelos enganadores e místicos de plantão. Sem me esquecer, sempre, da brilhante declaração do filósofo iluminista Voltaire (1694-1778):
    .
    Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.
    .
    E pra terminar, este simples relato, gostaria de fazer uso de uma colocação de Thomas Henry Huxley (1825-1895):
    .
    Só confie numa testemunha quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem o amor pelo maravilhoso. No caso de haver esse envolvimento, requeira evidência corroborativa em proporção exata à violação da probabilidade provocada pelo seu testemunho.
    .
    Vítor,
    continue suas pesquisas e que um dia se transformem em um belo livro.

  5. Jorge Batata Diz:

    Ederlazil
    Processo
    Vitor amarelão
    Vou na sua casa
    Vamos lá
    Cadeia

    Que porra é essa? peguei o bonde andando….alguem me explica ai….J

  6. Sergio Moreira Diz:

    Jorge, Evite dizer certos nomes aqui. Estamos sendo vigiados pelo OLho que Tudo Lê.
    O Olhe que Tudo Lê é um participante que apareceu a pouco aqui no blog em defesa de uma mulher que diz fazer algo muito incrível que envolve – pra vc ter uma idéia- teletransporte e materialização.

    O Tópico envolvendo esse caso, sustentado por denúncias de uma testemunha ocular apresentava, além do relato, alguns diagramas do local dos fenômenos para melhor fazer entender.

    O debate foi crescendo e alguns comentários foram bastante calorosos e inquiridores o que atiçou o Olho que Tudo Lê, que tomou às dores pela sua mestra e , penso eu, junto à ela resolveram dar uma intimação pro Vitor aqui no blog.

    O Vitor resolveu tirar o tópico do ar pq se não o fizesse teria de arrumar um advogado e arcar com consideráveis despesas, às quais jamais teria de volta, pois ganhar o caso não iria lhe garantir a restituição, segundo ele comentou neste tópico, o que ao meu ver foi uma decisão bastante coerente.

    O Roberto esta mais feliz que pinto no lixo pq pode chamar o vitor de covarde. O Biasetto e demais estão decepcionados e furiosos pela censura e por ver o mal vencer.

    Alimentado pela decepção e Íra o Biasetto desafiou o Roberto para acompanho-lo até a Terra Média desafiando o Olho que Tudo Lê e a Maga Branca da Materialização.

    Tem início a Sociedade do Algodão.

  7. Vitor Diz:

    Sociedade do Algodão, kkkkkkkkkkkk!!!! Pude rir um pouco agora! 😀

  8. Biasetto Diz:

    Sergio,
    Brilhante a tua narração, eu diria: perfeita!
    O Scur já recebeu meu email, vamos ver se ele é ponta firme mesmo!

  9. Biasetto Diz:

    Agora, eu estive pensando:
    – Fazer propaganda enganosa na internet pode?
    – Prometer o que não se pode cumprir, mediante ganhos pessoais, não é crime?

  10. Sergio Moreira Diz:

    “- Fazer propaganda enganosa na internet pode?”
    Pode, pq inicialmente ninguém poderia impedir.Neste estágio seria apenas um crime moral com tendência a complicações jurídicas dependendo das vítimas ou incomodados.

    “- Prometer o que não se pode cumprir, mediante ganhos pessoais, não é crime?”

    Prometer, ludibriar, enganar , etc é passível de ser crime com ou sem ganhos monetários pois o que se considera são as perdas e danos que podem ser de qualquer natureza.
    No caso específico ninguém pode negar que o prometido não foi cumprido pois trata-se de um serviço onde atua a fé e não se pode mensurar a sua eficiência nem ineficiência salvo em casos raros em que a pessoa interessada no serviço continue com alguma enfermidade persistente mesmo após o tratamento.

    Atualmente eu não sei como a justiça brasileira lida com essas questões no tocante a falta de provas científicas.Aparentemente não há muito interesse.

    Antes de um produto ser vendido ( farmacêutico ou algum alimento) ele passa por alguns processos regulatórios para garantir que tal produto , além de não ser nocivo à saúde, atende o especificado garantindo ao consumidor que seu dinheiro sera investido em algo genuíno de acordo com o seus interesses. Se tal rigor fosse aplicado a tratamentos espirituais, (já que algumas pessoas buscam curas neste meios alternativos e tem gastos) , creio que não teríamos casos como o que estávamos discutindo no outro tópico.

  11. Biasetto Diz:

    Então, mas prometer, através de um curso, que a pessoa poderá recuperar a memória de várias encarnações, poderá viver sem alimento algum, só de luz; vai dar um salto quântico …

  12. Sergio Moreira Diz:

    Biasetto,
    Pessoas como nós que poderíamos nos sentir ludibriados por essas coisas, não fazemos esses cursos pq sabemos, assim como os filhotes de tartaruga sabem a direção do mar quando nascem, que é lorota.

    Estava conversando com uma pessoa que fez uns cursos ae com o Olho que Tudo Vê e que passou pelo processo dos 21 dias. Verifiquei nas suas fotos e vi que a mesma se encontrava em situação bastante saudável. Questionei a mesma sobre ainda viver apenas de luz e ela me disse que se alimenta normalmente , mas que pode viver só de luz se quiser. Optou em alimentar-se pelo prazer de comer e mantem um regime aparentemente normal.

    Quando uma pessoa tenta e não consegue, na maioria das vezes ela não abandona as suas crenças. Acredita apenas que falhou, da umas desculpas, não admitem que falharam. Quando alguém suspeita que foi enganado muitas vezes sente vergonha de denunciar e assim o bom negocio continua.

    Acredito ( algum advogado que me corrija ) que poderíamos processar uma pessoa que vende um curso cuja eficiência não possa ser comprovada e tirar um site do ar, por ex. Mas o problema são os recursos de tempo e dinheiro empregados.

    Veja que para quem lida com essas ‘coisas incríveis’ defender seus interesses não tem preço, por isso alguém pagou uma advogada pra tirar um tópico inteiro do ar.

  13. Sergio Moreira Diz:

    * se quisesse

  14. Jorge Batata Diz:

    Se “viagem na maionese” fosse crime o Vitor Moura pegaria prisão perpétua hahahahaha.

    Mas e ai….vai rolar um bafao no datena ou nao? hahahaha

  15. Biasetto Diz:

    Desde onde sei, nunca vi o Vítor vender algo aqui, nem prometer curas ou terapias milagrosas.
    Além disso, também nunca vi ele defender alguma ideia absurda, ridícula … E, se fez algo assim, sempre permitiu a crítica e a opinião contrária.
    Pelo jeito não é só o Scur que “está feliz como pinto no lixo” (esta colocação é um tanto ambígua, mas tudo bem). Entendendo-se o Chimarrão, o Tubérculo e o Olho que Tudo Vê, como opositores ao Vítor, está formado o famoso trio: Os Três Patetas.

  16. Jorge Batata Diz:

    Desde onde sei, nunca vi o Vítor vender algo aqui, nem prometer curas ou terapias milagrosas.
    .
    Concordo…isso tbm nunca vi.
    .
    Além disso, também nunca vi ele defender alguma ideia absurda, ridícula
    .
    Ah claro…reencarnação é um assunto sérissimo…omundo inteiro só fala nisso…os maiores cientistass…os maiores centros de pesquisa….AH VAI TE CATAR!!!!!
    .
    E olha que eu tava só brincando…e a mocinha já se ofendeu pelo seu idolo…hahahahahaha cada uma….

  17. Vitor Diz:

    Jorge Batata,
    veja o que o Sam Harris disse sobre a reencarnação:
    .
    Minha posição sobre o paranormal é essa: Embora tenha havido muitas fraudes na história da parapsicologia, acredito que este campo de estudo foi injustamente estigmatizado. Se alguns psicólogos experimentais querem gastar seus dias estudando telepatia, ou os efeitos da oração, estarei interessado em saber o que eles descobriram. E se é verdade que jovens crianças ocasionalmente começam a falar em idiomas antigos (como Ian Stevenson alega), eu gostaria de saber sobre isso. No entanto, não gastei qualquer tempo para tentar autenticar os dados fornecidos em livros como O Universo Consciente, de Dean Radin, ou 20 Casos Sugestivos de Reencarnação, de Ian Stevenson. O fato que não gasto meu tempo nisso sugere quão valioso de meu tempo penso que tal projeto seria. Ainda assim, achei esses livros interessantes, e eu não posso descartar de forma categórica seu conteúdo da mesma forma que eu posso descartar as afirmações de dogmatistas religiosos. (Aqui, faço uma observação sobre gradações de certeza: posso dizer com certeza que um século de experimentação prova que a telepatia não existe? Parece-me que pessoas razoáveis podem discordar sobre os dados. Posso dizer com certeza que a Bíblia e o Alcorão mostram todo sinal de terem sido escritos por mortais ignorantes? Sim. E essa é a única certeza que se precisa para se descartar o Deus de Abraão como uma criatura ficcional).”
    .
    Agora Arthur C. Clarke:
    .
    Há muitas coisas que não sabemos a respeito. Mas elas devem ser examinadas ceticamente antes de serem aceitas. Um exemplo é a reencarnação, que todo mundo no Sri Lanka acredita. Um americano, o Dr. Stevenson, escreveu muitos artigos sobre isso, e realizou estudos de aproximadamente 50 casos que são difíceis de explicar. Mas o problema com a reencarnação é que é difícil de imaginar qual o meio de armazenamento que haveria para as vidas passadas. Para não mencionar o dispositivo de entrada-saída. Hesito em descartá-la completamente, mas eu precisaria de uma excelente prova definitiva.”
    .
    E agora Carl Sagan:
    .
    No momento em que escrevo, acho que três alegações no campo da percepção extra-sensorial (ESP) merecem estudo sério: (1) que os seres humanos conseguem (mal) influir nos geradores de números aleatórios em computadores usando apenas o pensamento; (2) que as pessoas sob privação sensorial branda conseguem receber pensamentos ou imagens que foram nelas “projetados”; e (3) que as crianças pequenas às vezes relatam detalhes de uma vida anterior que se revelam precisos ao serem verificados, e que não poderiam ser conhecidos exceto pela reencarnação. Não apresento essas afirmações por achar provável que sejam válidas (não acho), mas como exemplos de afirmações que poderiam ser verdade. Elas têm, pelo menos, um fundamento experimental, embora ainda dúbio. Claro, eu posso estar errado. “

  18. Biasetto Diz:

    Jorge Batata,
    Não há motivos (e nem quero) para criar atrito contigo, inclusive porque mal o conheço. Apesar de você ter me chamado de “mocinha”, tudo bem também, porque não ligo para tais provocações.
    Só quero esclarecer alguns pontos:
    – Não tenho o Vítor como ídolo, mesmo porque já travei várias discussões com ele, não só aqui.
    – Já disse que não concordo com tudo que ele defende e afirma, o que é algo perfeitamente natural. Sem problemas.
    Eu aprendi a admirá-lo pelos seguintes motivos:
    1º) Ele saiu do lugar-comum e, ao invés de fazer como muitos, que todos os dias criam blogs/sites para bajular “ídolos” religiosos, gurus da nova era, ele foi ousado e corajoso em criar um blog que se propõe a discutir “obras psicografadas”, incluindo as atividades do tão venerado Chico Xavier.
    2º) Ele procura apresentar fundamentos concretos, sólidos às ideias que defende, o que não significa, obviamente, que esteja absolutamente correto, mas não é uma pessoa que faz uso de informações distorcidas, “pegas ao acaso”, para manifestar suas opiniões. E isto, eu considero algo bastante elogiável.
    3º) Até onde eu sei, ele nunca procurou fazer uso deste espaço para se “enriquecer”, ou “viver de”, o que nem seria nada absurdo também, até acho que ele merece escrever um bom livro (tem material de sobra para isto) e alcançar o sucesso, porque se o Robson Pinheiro pode? Por que ele não pode?
    4º) Todas as vezes, e foram poucas, em que ele pediu uma contribuição para bancar as traduções dos textos que publica aqui, fez isto de forma simples e honesta, até onde sei ou pude perceber.
    5º) Quanto ao fato dele defender a ideia convicta de que somos espíritos, desencarnamos e reencarnamos, também tenho minhas dúvidas e até discordâncias (não na essência de suas ideias, mas em alguns detalhes), mas de qualquer forma, faz isto baseado em estudos e evidências, que ele considera satisfatórias – e que, ainda que possam ser contestadas, estão anos-luz de vantagem aos livrecos espíritas-esotéricos que pulalam por todos os lados, com personagens fictícios, histórias fictícias e exageradamente ridículas.

  19. Phelippe Diz:

    O Stevenson deve ter razão. As evidências falam por si. O problema é a prova.

  20. Antonio G. - POA Diz:

    O Vitor não tinha motivo concreto para retirar o post. Um email enviado por uma advogada não o obriga a isso. Mas é compreensível sua opção de não querer incomodar-se e nem perder tempo com quem vive de picaretagem. Mas pode haver gente com mais familiaridade com as lides forenses que resolva “pagar para ver”. O telhado dessa gente não é blindado…

  21. Jorge Batata Diz:

    Não há motivos (e nem quero) para criar atrito contigo, inclusive porque mal o conheço. Apesar de você ter me chamado de “mocinha”, tudo bem também, porque não ligo para tais provocações.
    .
    E me incluir entre os tres patetas pode?
    .
    To sem tempo… depois eu volto.

  22. Biasetto Diz:

    Tudo bem Jorge, fiz uma “brincadeira” criticável, desculpas então. Eu só quis dizer, que achei lamentável a sua postura em ver graça no que aconteceu com o Vítor, sendo ameaçado para retirar o artigo.
    Independentemente, de se concordar ou não com as ideias do Vítor, eu acredito que ele presta um serviço àqueles que procuram uma vida digna, honesta, criticando os exageros nas crenças, muitas farsas que existem – e existem farsas, isto é fato, não estou nem acusando ninguém aqui.
    E a censura não é bem-vinda nunca, pensou eu.
    Acho que a lição que fica – e me cai muito bem, é procurar evitar certos comentários e certas colocações exacerbadas, levianas.
    Nesse sentido, penso que o artigo poderia ser revisto e reescrito, da mesma forma que muitos comentários poderiam ser excluídos, mas censurá-lo,considero um grande exagero.
    A gente acessa inúmeros sites e blogs, dando informações absurdas, muitas vezes difundindo crendices, “lendas urbanas” … nem por isso, penso que deveriam ser censurados, desde que as pessoas possam criticá-los, opinar sobre eles, isto eu penso que é democracia e bom senso.
    Aproveitando um exemplo que usei aqui, se eu ficar dizendo que tenho um gato com duas cabeças, oito pernas e dois rabos, posso colocar isto até na internet. Porém, se as pessoas me ridicularizarem, tenho que admitir que:
    – ou provo que o gato existe;
    – ou aceito as críticas.
    É simples.
    Ou não é?

  23. Toffo Diz:

    Pois é, para mim fica bem claro que se trata de uma ameaça, foi apenas uma notificação extrajudicial. Mas as teses da causídica da médium são, a meu ver, bastante discutíveis. Vejamos:

    1. Aqui se trata de fato atípico (mediunidade). Como se trata de um blog que discute a veracidade ou a falsidade dos fenômenos supostamente provocados por um médium, atribuir calúnia ou difamação por se considerar o médium fraudulento é bastante nebuloso, justamente porque se trata de fato atípico. Para se comprovar a falsidade ou não de um fenômeno desses, como a “médium do algodão”, seria preciso fazer perícia. Ora, como vai se fazer perícia de uma coisa dessas? É impossível. A ciência não tem uma palavra definitiva sobre essas questões, portanto não haveria crime baseado em fato atípico.

    2. Para haver crime é necessário provar o “animus nocendi”, isto é, o desejo de fazer mal, de prejudicar. Não vejo neste blog nenhuma intenção de causar dano a quem quer que seja, ao contrário, o que se quer é apurar a verdade de tais fatos, mesmo que não se possa falar bem do médium. Contudo, o “falar mal” se refere apenas à atividade que o médium exerce, que é pública, e não há nenhum crime nisso.

    3. A médium é pessoa pública, se exibe em público, faz aparições públicas, portanto se sujeita às reações e repercussões públicas, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis. Dizer que a médium frauda no exercício de uma atividade por si só atípica não é de maneira alguma crime, já que ela se exibe em público como tal. Isso é o que eu penso.

  24. Sergio Moreira Diz:

    Mas o Vitor deixou bem claro que se alguém se responsabilizar por possíveis gastos jurídicos, ele coloca o artigo de volta.
    Se tem algum advogado aqui, bem que poderia ampará-lo.

  25. Lego Diz:

    Desculpe-me Vitor! Indiquei alguns livros em outro post, mas vejo que está familiarizado com as obras de Ian Stevenson… Abraços

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