Livro Gratuito: “A Vida Triunfa” (1992)
Este livro analisa 45 mensagens psicografadas de Chico Xavier. A pesquisa ficou a cargo da Associação Médico Espírita de São Paulo e Paulo Rossi Severino. Há muitos e muitos problemas com a documentação e estudo desses casos. Uma crítica apropriada exigiria uma análise caso a caso, mas devido à quantidade de casos, isso fica inviável. Farei, portanto, críticas gerais, e algumas críticas pontuais a certos casos apenas. Ao final, coloco um link para o download do livro.
A primeira e principal crítica é: não colocaram Chico em condições controladas nem fizeram qualquer espécie de teste com ele. E nem fizeram uma observação decente, pois não registraram as informações que eram trocadas nas entrevistas com os familiares dos falecidos.
Vamos a críticas pontuais, específicas de alguns casos.
No 1º caso, de José Roberto Pereira da Silva, é dito:
José Roberto Pereira da Silva, 18 anos, primeiro-anista da Faculdade de Medicina de Moji das Cruzes. Filho de Nery Pereira da Silva e de Lucy Ianez da Silva, nasceu em 6 de agosto de 1953, em São Paulo, desencarnando em 8 de junho de 1972, em Moji das Cruzes, vitimado por acidente ferroviário. […] Um mil, novecentos e setenta e três. Uberaba, Minas Gerais. O casal procura Chico Xavier em reunião pública normal. Nada disseram. O médium nada sabia de suas vidas. E Beto voltou… voltou através das mãos abnegadas do Chico Xavier.
Em nenhum lugar é informado que aquela não foi a primeira vez que o casal procurou Chico Xavier. No livro “Filhos Voltando” é que ficamos sabendo como se deu o contato:
A primeira mensagem do Beto, como era chamado, foi recebida por Francisco Cândido Xavier, pouco mais de um ano depois, no dia 29 de setembro de 1973. Perguntamos a seus pais, Nery e D. Lucy, a respeito do modo pelo qual receberam o recado do filho, através do Chico, do significado da primeira e das demais mensagens psicografadas pelo querido médium. Literalmente, assim se expressou D. Lucy: "Desesperada de dor, através de vizinha amiga, conheci D. Yolanda Cezar que me Levou a Uberaba para falar com Chico Xavier. Isto quase um ano após a morte do Beto. Voltei a Uberaba por mais duas vezes e na terceira viagem, manhã de 29 de setembro de 1973, nosso querido Beto se manifestou.”
Vejam que havia várias possibilidades de Chico se inteirar sobre a família. Pode ser que nas duas primeiras viagens o médium tenha falado com o casal e conseguido as informações que precisava, ou através de uma outra pessoa, como a D. Yolanda Cezar, que pode ter prestado informações ao Chico até de forma involuntária, sem maldade alguma, como “Ah, Chico, atende esse casal, eles perderam o filhinho José Roberto num acidente ferroviário…”
O caso nº 19 mostra um exemplo de validação subjetiva. Vejam a carta:
N
Mamãe, Deus não nos abandona
Amor é a nossa união
N
Minha vida anjo que adora;
A luz sublime em que moro
Está no seu coração
Agora estamos mais juntas
N
Meu anjo lindo e imortal
O Senhor lhe guarde a vida
Rosa em luz do meu Natal.
Beijos N de sua Rosemari
Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier.
De início ninguém entendeu o que queria dizer o “N” que aparece na mensagem. A mãe então lembrou que tinha o hábito de beijar a filha no nariz. Essa ideia deve ter vindo da última frase da carta porque aparece “beijos N”, mas e os três “N” que aparecem antes? A mãe esqueceu esses outros 3 “N” e atentou apenas para a última frase, encontrando um significado. Validação subjetiva.
O livro dá muita atenção ao fato de o Chico escrever o nome dos familiares corretamente, mas não contabiliza o erro do nome Teresa no caso Ilda Mascaro Saulo (nº 26), que o Chico escreveu “Thereza”. Na verdade, o livro analisou apenas uma carta quando esse erro aparece em outra carta. Porém, os autores informam que o italiano da carta que eles analisaram está correto (ver capítulo II, tópico Linguagem). Não está. E o italiano das outras cartas é ainda pior. A carta que eles analisaram é curtíssima, mas ainda assim possui 2 erros. Segue o conteúdo da carta com sua tradução:
Mensagem em italiano |
Tradução ao português |
Ortensio, figli del mio cuore, sono appena arrivata da Roma. Oggi giá me sento um pó meglio. Um bácio in Salvatore e tutta la famiglia. Dio com te mio figlio, la madre, Ilda. |
Ortensio, filho do meu coração, acabo de chegar de Roma. Hoje já me sinto um pouco melhor. Um beijo em Salvatore e toda família. Deus com você, meu filho. Sua mãe. Ilda. |
Pedi para a Paloma Oliveto, que conhece a língua italiana, analisar a carta. Eis o que ela informou:
– “figli" quer dizer “filhos”. “Filho” seria “figlio”.
– “Un bacio”, e não “Um bácio”
Esses e outros problemas aparecem por quase todo o livro. Aqueles que quiserem que eu analise algum outro caso basta escrever nos comentários que eu respondo.
Para baixar o livro clique aqui.
fevereiro 9th, 2012 às 10:43 PM
Vitor, o que mais me incomoda é que os espíritos falam igualzinho. Um tal de “mãezinha” pra lá, “filhinha” pra cá… As mensagens são muito evasivas, tipo: estou em paz, fique bem, etc. Não vi nada nessas cartas que pudesse ser revelador.
fevereiro 10th, 2012 às 10:40 AM
Uma sugestão: porque você não avalia os livros da wera krijanowskaia, uma medium russa que viveu no final do século xix e início do séc xx. Ela escreveu alguns livros históricos, retratanto persobagens como Tibério e Moisés. Acho que você pode achar interessante… mas não sei se sua proposta é se fixar em livros de mediuns brasileiros. De qualquer forma, sempre tive muita curiosidade com a acuidade, ou não, do que ela escreveu. Tenho alguns livros dela em pdf, se você quiser posso te enviar.
fevereiro 10th, 2012 às 1:10 PM
Essa questão das cartas é muito polêmica. Envolve uma problemática muito séria, que é a do luto, um assunto que hoje é estudado com muita seriedade pela ciência, através da psicologia. Talvez seja a situação mais dolorosa para o ser humano, que representa a perda de um ser amado – principalmente um filho. Nessa situação, as pessoas normalmente se encontram em estado psíquico muito complicado, fragilizadas pela dor, à procura de qualquer alento que possa minorar o seu sofrimento. É sob esse estado psíquico que as cartas aparecem. É claro que os destinatários acreditam. O que me pega é a exploração desse sentimento, que me parece uma coisa torpe. Nunca engoli essa história de cartas, nem quando era espírita. Acho que CX não precisava (e nem deveria) ter se envolvido com isso, mormente porque o conteúdo dessas cartas é realmente muito fraco, a forma delas é padronizada, a linguagem é sempre a mesma, como se todos os missivistas pertencessem à mesma agremiação. E foram centenas delas.
fevereiro 10th, 2012 às 5:52 PM
Agora vc ta dirigindo seus estudos para o caminho correto vitor, na minha opinião. O chico é o que é são por causas dos inúmeros casos individuais que atestam sua paranormalidade.
Esse é o caminho para provar que ele é verdadeiro ou falso, na minha opinião.
Seria interessante pegar os casos em que ele ainda era bem jovem e que ficaram famosos, como a cura da sua irmã. Casos de pessoas que disseram jamais ter tido contato com o chico e ele deu informações especificas.
Há também os caso das mães que perderam seus filhos e fizeram uma homenagem a ele em razão de sua comunicação com os filhos mortos, que foi o tema do filme.
Verificar até que ponto a vida particular dele pode ter influenciado para ele fraudar ou ser confundido como fraude.
Acho que o caminho é esse.
fevereiro 10th, 2012 às 5:55 PM
Pra mim os casos individuais são muito, muito mais importantes do que as materializações e as psicografias ou falsas psicografias. A fama do chico se deu por causa deles, então, se há verdade nessa história, só pode ser nos casos individuais.
junho 10th, 2012 às 8:28 AM
Certamente pode-se criticar e encontrar similaridades em diversas obras do Chico Xavier, mas é no mínimo intrigante tentar acusar de fraude alguém que não ganhou nada com isso. Que passou a vida na divulgação das idéias da vida após a morte. Se a realidade fosse o nada o que se ganharia em prová-la. A inúmeros casos, relatos em que a vida continua. Não devemos por a conta de ilusão aquilo que não é. O fato é que pesquisas desse tipo minam sem necessidade a esperança na vida após a morte. Devia se ter levado em conta pesquisas mais sérias desse grande médium que foi Chico Xavier, nada de estranho que tudo seja parecido, pois o plano espiritual é o mesmo para todos.