Este foi um dos primeiros livros que Chico leu e plagiou em suas psicografias – até onde sei, “Há Dois Mil Anos” (1939) e “Boa Nova” (1941). Talvez com a digitalização do livro isso facilite encontrar mais plágios em outras obras (dele e de outros médiuns). Para baixar o livro, clique aqui. Outra coisa muito interessante é ver a forma com que o livro influenciou a obra psicográfica de Chico Xavier, não só nos trechos copiados, mas também nas ideias. Por exemplo, Ernest Renan tinha certo preconceito contra os judeus. Encontramos o seguinte trecho no Capítulo 20 de sua obra:
Um dos principais defeitos da raça judaica é sua aspereza na controvérsia, e o tom injurioso que ela quase sempre assume nesse caso. Nunca houve no mundo disputas mais acirradas que as dos judeus entre si. É o sentimento da nuança que faz o homem ser polido e moderado. Ora, a falta de sutileza é um dos traços mais constantes no espírito semítico. As obras delicadas, como os diálogos de Platão, por exemplo, são desconhecidas desses povos. Jesus, que era isento de quase todos os defeitos de sua raça, e cuja qualidade dominante era justamente uma delicadeza infinita, foi levado, a contragosto, a usar o estilo de todos na polêmica.
No Capítulo 24, Renan coloca a culpa da morte de Jesus no partido judaico, excluindo qualquer responsabilidade pelos romanos, o que hoje sabe-se ser historicamente incorreto:
Não foi, então, nem Tibério nem Pilatos quem condenou Jesus. Foi o velho partido judaico; foi a lei mosaica.
Essa mesma responsabilização indevida encontramos no livro “Há Dois Mil Anos” e no livro “A Caminho da Luz”, que afirma
o Divino Mestre é submetido aos martírios da cruz, por imposição do judaísmo, que lhe não compreendeu o amor e a humildade (p. 118).
Apesar do preconceito que Renan tinha, é importante ressaltar que ele mesmo diz
Segundo nossas idéias modernas, não existe transmissão alguma de demérito de pai para filho; cada um deve prestar contas à justiça humana e à justiça divina apenas do que ele próprio fez. Em consequência, qualquer judeu que sofra ainda hoje pela morte de Jesus tem o direito de reclamar.
Ainda assim, no mesmo parágrafo, ele segue dizendo:
Mas as nações têm suas responsabilidades, como os indivíduos. Ora, se já houve um crime que fosse o crime de uma nação, foi a morte de Jesus.
Tais ideias encontram eco ainda hoje. O livro “No Limiar do Abismo” (2007), de Carlos A. Baccelli, diz explicitamente:
Foram mesmo os judeus que crucificaram Jesus! Por que não assumir a culpa? (Cap. 27)
No mínimo porque a culpa está longe de estar provada, e no máximo para não reacender qualquer sentimento antissemita. Além disso, é quase unânime hoje entre os historiadores que a culpa é exclusiva ou praticamente exclusiva dos romanos. Para uma discussão profunda dessa questão, sugiro os artigos de Roberto Pompeu Toledo (1995, aqui), de Alexandre Versignassi e Rafael Kenski (2004, aqui) e de Carlos Aranha (2004, aqui).