Uma Crítica aos Argumentos Oferecidos Contra a Reencarnação (1997)

Seria a crença na reencarnação irracional? Neste artigo, Robert Almeder analisa os argumentos oferecidos pelo cético Paul Edwards que defende tal visão.

A revisão deste artigo custou 276 reais. Agradeço a Edmundo Bittencourt pelo patrocínio.

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Journal of Scientific Exploration, Vol. 11, No. 4, págs. 499-526, 1997

0892-3310/97

© 1997 Society for Scientific Exploration

ARTIGO 

Uma Crítica aos Argumentos Oferecidos Contra a Reencarnação[1] 

ROBERT ALMEDER 

Department of Philosophy, University Plaza,  

Georgia State University. Atlanta, Georgia 30303-3083 

Resumo Em seu livro recém publicado Reencarnação: Um Exame Crítico (Amherst, New York: Promethius Books, 1996). Paul Edwards ofereceu vários argumentos contra a possibilidade de reencarnação. É um esforço arrebatador mostrar que a ideia da reencarnação é ilógica e indefensável. Embora não argumente diretamente pela reencarnação, este artigo critica os argumentos principais, a metodologia e as polêmicas empunhadas no que é mais um esforço para desmistificar do que para realizar o exame crítico que é alegado no título do livro. Este artigo, ao criticar os argumentos de Edward, está criticando as principais objeções disponíveis contra a hipótese da reencarnação. 

Palavras-chave: reencarnação — filosofia

Introdução

Em seu recente livro Reencarnação Um Exame Crítico (Amherst, New York: Prometheus Books, 1996), Paul Edwards examina criticamente tanto a lei da reencarnação como a crença na Lei do Karma. Para o autor, ambas as crenças são mutuamente vinculadas e claramente indefensáveis. O autor está fortemente inclinado a pensar que a crença na reencarnação é conceitualmente incoerente (mais do que simplesmente falsa) por causa da “disparidade” de conceitos como “corpo astral” e a “invasão do ventre” da futura mãe por uma alma ou corpo astral (pág. 28). Embora tais crenças populares possam existir, o autor procura mostrar que elas não são somente mitos tolos, indignos de pertencerem a qualquer ser humano racional, mas também parte da maré de irracionalismo que está varrendo o Mundo Ocidental (pág.7). Pessoas que acreditam em reencarnação estão perdidas em alguma forma de ocultismo (pág.58). De fato, a cada passagem no livro o autor sente fortemente que não é razoável o ser humano levar a crença na reencarnação a sério, nem como uma tese minimamente racional. Rapidamente, o autor defende também a visão de que todo o argumento para qualquer forma de sobrevivência após a morte é indefensável. A reencarnação é especialmente absurda, e qualquer forma de dualismo cartesiano vai pelo mesmo caminho, primeiramente porque toda forma de dualismo mente-corpo envolve a existência de corpos astrais.

Para o autor, considerar qualquer forma de reencarnação seriamente é certamente um sinal de déficit cognitivo profundo; e, não raro, avançar a crença como uma crença sólida que pode ser uma marca de torpeza moral que cai sob a rubrica de uma “mentira sagrada” oferecida frequentemente por fanáticos religiosos ou pelos risíveis cérebros-mortos dos espiritualistas. Certamente, ninguém que sabe, nem que seja um pouco, sobre filosofia ou ciência poderia levar a sério a crença em qualquer forma de sobrevivência após a morte.

Com frequência o autor afirma, diretamente ou indiretamente, que os que acreditam na reencarnação e no dualismo da mente-corpo não são de modo algum diferentes do tipo de crente mais enfático associado aos setores religiosos fanáticos ou ocultistas fanáticos.

O que é interessante neste livro é que ele contém a maior parte das objeções que podemos encontrar na literatura contra a crença na reencarnação, e examinando os argumentos oferecidos por Edwards registra-se um exame dos argumentos disponíveis contra a tese, embora, sem dúvida, como nós veremos, Edwards tenha algumas objeções próprias que não são prováveis de serem encontradas seja lá onde for.

O livro tem dezessete capítulos e todos eles confrontam, direta ou indiretamente, argumentos favorecendo a reencarnação ou alguma forma de sobrevivência da personalidade após a morte. Os capítulos possuem os títulos: 

1.        Reencarnação, Karma, e Doutrinas Concorrentes da Sobrevivência;

2.        O Argumento Moral;

3.        A Lei do Karma

4.        Crianças Prodígio, Experiências de Deja Vu e Grupos Reencarnatórios;

5.        Ascensão e Queda de Bridey Murphy;

6.        Mais Regressões Hipnóticas e “Progressões”

7.        Memórias Espontâneas de Vidas Precoces;

8.        A Conservação da Energia Espiritual;

9.        O Corpo Astral

10.    Chamadas Telefônicas dos Mortos; Marcas de Nascença; e o Problema do Modus Operandi;

11.    Dr. Kubler Ross, Dr. Moody, e o Novo Movimento da Imortalidade;

12.    As Fantasias do Dr. Kubler Ross;

13.    Dr. Grof, LSD e a Amorosa Mulher Cobra;

14.    O Problema da População e Outros Sensos Comuns e Objeções Científicas;

15.    O “Interregnum”: O Que Acontece Entre As Vidas?;

16.    Mais sobre Ian Stevenson, o “Galileu da Reencarnação”;

17.    A Dependência da Consciência no Cérebro; e um Postscript Irreverente: Deus e o Problema do Modus Operandi. 

De qualquer forma, eu exponho que nenhum argumento oferecido neste livro sucede um avanço plausível na posição cética porque, apesar de numerosos outros problemas, o livro visivelmente não confronta de modo eficaz o argumento central que favorece a única forma racional defensável da reencarnação (ou alguma forma de sobrevivência pessoal) com quaisquer objeções persuasivas. Sem dúvida, a crença na reencarnação, da forma que o autor a entende, pode bem ser digna de rejeição ou de consignação para o campo da inspiração religiosa ou fanatismo; mas a questão central é que a construção do autor sobre a natureza da reencarnação é uma falácia do tipo espantalho que exclui a única forma de reencarnação para a qual não existe refutação adequada, e para a qual a evidência empírica oferecida a favor dela oferece um argumento sólido que seria irracional rejeitar. Deixe-me explicar, e prosseguir então no exame de outros argumentos específicos oferecidos nas várias seções do livro. 

A Definição de Reencarnação 

O que parece ser basicamente problemático sobre este livro é que a hipótese de reencarnação significa coisas diferentes para pessoas diferentes, e o autor procura refutar o que ele considera como a tese da reencarnação; mas em nenhuma parte nós encontramos uma definição clara do que seja a tese principal de reencarnação, embora o autor esteja completamente certo de que qualquer uma de todas as formas de reencarnação têm determinadas suposições colaterais que são patentemente absurdas — antes que alguém analise qualquer argumento proposto para a crença. Sem dúvida, existem algumas formas de reencarnação que são racionalmente indefensáveis, dependendo do que os defensores dessas formas veem como implícito na crença da reencarnação. Mas, como observado acima, a questão é se existe alguma forma de reencarnação (e, por implicação, no dualismo mente-corpo) que seja defensável recorrendo a evidências empíricas. Caracterizar a tese da reencarnação (assim como o dualismo mente-corpo) de tal forma que implique em um monte de reivindicações absurdas é, como nós veremos, oferecer uma falácia do tipo espantalho porque nós podemos defender uma forma comum de reencarnação que não implica em tais absurdos. Mesmo assim, o autor não tem a menor dúvida de que não há nenhuma forma de reencarnação que seja minimamente defensável de alguma maneira.

Além disso, o autor nunca afirma o que ele aceitaria como evidência para a crença em alguma forma de reencarnação porque sua inclinação é pensar que a tese é tão absurda que nada poderia contar como evidência. Contudo, é bastante curioso que o autor também afirme que alguns fatos empíricos mostram conclusivamente que a crença na reencarnação deve ser falsa.

Ele diz, por exemplo, que a ausência de lembranças de memórias verdadeiras na evidência frequentemente oferecida conta poderosamente em favor da falsidade da tese. (pág. 27; 234). Isto é curioso porque se a hipótese de reencarnação é empiricamente sem sentido, não deveria ser empiricamente testável e falsificável, e se é empiricamente testável e falsificável pelo apelo de uns ou outros fatores, não deve ser estupidamente falsificável. Dizer que a hipótese é empiricamente significativa é dizer que a hipótese possui implicações testáveis no nível sensorial, implicações sensoriais que nos levam a confirmar ou não a hipótese.

Se nada pode concebivelmente registrar por implicações do teste no nível sensorial tanto para a validação da hipótese quanto para a falsidade da hipótese, não é uma hipótese empírica. Além disso, tipicamente, caso se possa somente falsificar empiricamente uma hipótese particular (e nada pudesse concebivelmente contar para validá-la ou aceitá-la), ou caso se possa somente confirmar a hipótese (e nada concebível possa contar para falsificar a hipótese), não é uma hipótese empírica; é um dogma. É uma coisa ou outra: a tese não pode ser absurda e, ao mesmo tempo, empiricamente falsificada. Nem pode ser empiricamente falsificada e ainda nada contar em princípio como evidência para ser aceitável racionalmente. (Hempel, Introdução à Filosofia da Ciência Natural, Prentice Hall, 1972. pág.54)

De qualquer forma, a fim de discutir adequadamente algumas das objeções mais centrais do autor à crença na reencarnação, deixem-nos afirmar simplesmente a seguinte indicação como uma hipótese sem nos importarmos em dizer o que pôde sugerir a hipótese: 

Há algo essencial a algumas personalidades humanas, ainda que nós posteriormente a caracterizemos, que não podemos plausivelmente interpretar unicamente em termos de estados do cérebro, ou de propriedades de estados do cérebro, ou de propriedades biológicas causadas pelo cérebro e, ainda mais, depois da morte biológica este traço não-reduzível essencial persiste por algum tempo, e de algum modo, de alguma maneira, em algum lugar, e por uma razão ou outra, existindo independentemente do cérebro da pessoa e do corpo. Além disso, após algum tempo, alguns desses traços essenciais irredutíveis da personalidade humana, por alguma razão ou outra, e por algum mecanismo ou outro, passam a residir em outro corpo humano durante o período da gestação, no nascimento ou logo após o nascimento.

.

A isto dá-se o nome de hipótese ou tese minimalista de reencarnação. Observe que esta hipótese também pode servir como uma definição particular de reencarnação. Como tal, não nos compete qualquer caracterização particular da natureza do âmago da personalidade humana, ou do que é essencial, para isto, exceto aquilo que não pode ser interpretado direta e exclusivamente nos termos habituais de um estado do cérebro, propriedades de um estado do cérebro, estado complexo do cérebro, ou de propriedades biológicas causadas pelo cérebro. Trata-se de um certo “um não-sei-que lockeano” que parece ser um agente causal básico e, como C. D. Broad diz, compartilha possivelmente de determinadas propriedades comuns à matéria física como nós a compreendemos agora. É o repositório de determinadas memórias e de outros de traços de disposições não identificáveis com estados do cérebro, propriedades de estados do cérebro, ou dos estados biológicos causados pelo cérebro.

A definição acima não nos permite saber por que ou como a reencarnação ocorre, ou por quanto tempo, ou para que fim. Nem se há uma implicação a respeito do que o material essencial sobrevive entre encarnações, se é visível de alguma forma, ou para onde vai; e a definição não implica nada a respeito de quão frequentemente o processo da reencarnação ocorre para aqueles traços essenciais que puderam reencarnar. Nem a definição comete-nos à opinião de que o que é essencial a todos de alguma maneira sempre reencarna, em vez de apenas às vezes. Finalmente, nossa definição não diz que cada aspecto de uma personalidade reencarna sempre que a reencarnação ocorre, mas somente o que é essencial (ou central) à personalidade, isto é, somente o que seria suficiente identificar a pessoa. Esta concepção mínima da reencarnação é consistente com as concepções platônicas da personalidade (que excluem a continuidade corporal como uma condição necessária para a identidade pessoal) e concepções aristotélicas da personalidade que podem requerer a continuidade corporal como essencial à personalidade humana.

Todos os reencarnacionistas concordam que alguma coisa essencial da personalidade humana sobrevive à morte biológica. Sob a definição acima, a personalidade total pode ser maior do que a que sobrevive, mas o que sobrevive é certamente essencial ou o cerne da pessoa, e suficiente para distinguir a pessoa de outra pessoa que possa ter existido. Eu acredito que esta definição de reencarnação é alguma coisa que seria aceita minimamente por todas as formas de crença de reencarnação e a pergunta é se nós temos alguma evidência para esta definição como uma hipótese sobre a natureza da personalidade humana.

Quais são as implicações empíricas dos testes para a hipótese acima? O que se pode aceitar como evidência que confirma empiricamente em algum grau que esta sentença é verdadeira? A hipótese de reencarnação, definida acima, é, penso eu, confirmada pela evidência oferecida nos casos mais fortes apresentados por Ian Stevenson, e nos crescentes números de casos apresentados por outros.

Em outras palavras, partindo da suposição básica sobre o que a personalidade humana deve incluir (a saber, as memórias sistemáticas próprias a somente aquela pessoa, e talvez outros traços individualizantes relacionadas a outras atitudes não-propositais) se nós chegássemos a um grande número de casos não-fraudulentos e seguros metodologicamente em que os sujeitos reivindicassem lembrar-se de terem vivido uma vida anterior, e se suas reivindicações fossem acompanhadas por um grande número de detalhes e a memória verificada reivindicasse eventos que somente a personalidade anterior poderia saber, e se tivessem habilidades não propositais que não poderiam ter sido aprendidas mas que eram claramente as habilidades possuídas pela personalidade anterior historicamente autenticada, então necessitaríamos concluir que nós tínhamos confirmado a hipótese acima… Porque isso é o que nós esperaríamos se a hipótese for verdadeira, e se ter determinadas memórias sistêmicas for necessário e suficiente para identificar uma pessoa particular, nada mais poderia explicar plausivelmente os dados nestes casos também.

Similarmente, se tais dados nunca ocorreram, nós não teríamos nenhuma razão para aceitar a hipótese; ou se nós subsequentemente descobríssemos que todos estes casos são o resultado de fraude ou engano (ou se fosse descoberto subsequentemente que um significante número dos casos mais fortes é desta natureza), então a tese estaria empiricamente errada. De fato, em alguns dos casos examinados no passado, Stevenson, por exemplo, concluiu muito propriamente que os dados nesses casos particulares não comportam a tese e aqueles dados nesses casos particulares falharam claramente em suportar a hipótese como explicação dos dados. Vamos assumir que esta é a tese principal do reencarnacionista e perguntar se as objeções de Edward à reencarnação se aplicam com sucesso a ela. Se não se aplicarem, então, teremos que concluir que não temos objeções fortes para as provas empíricas de que existem mentes que reencarnam. Se há mentes que não reencarnam, não é uma pergunta empírica que se possa responder olhando somente os dados da reencarnação. Vamos nos voltar para os argumentos específicos oferecidos no livro. 

As Objeções de Edwards para a Reencarnação 

1. Para o autor, a crença na reencarnação é oposta a todas as mais extensamente defendidas visões sobre o problema da mente-corpo, e oposta também a uma das principais teorias atuais sobre a identidade pessoal. A última visão defende que independente de um ser humano ser muito mais do que um corpo, sua identidade pessoal envolve a continuidade corporal.

Para o autor, a menos que esta última visão possa ser demonstrada falsa, a reencarnação deve ser descartada (pág.15).

Certamente, se algum traço essencial humano sobrevive à morte biológica e então reencarna, as opiniões extensamente defendidas no problema mente-corpo são falsas, e, certamente também, isto mostraria que mesmo que a continuidade corporal seja essencial à personalidade humana, o que é também essencial à personalidade humana pode sobreviver, e, de fato, às vezes sobrevive à morte biológica. Se a continuidade corporal for necessária e suficiente para a identidade pessoal, então naturalmente, a reencarnação é impossível, junto com alguma forma de sobrevivência. Certamente, se a evidência para a reencarnação, como definida acima, é tentadora, então aquelas opiniões são falsas. O que o autor parece pensar é que deve ter alguma evidência independentemente da evidência oferecida pela reencarnação para mostrar que a continuidade corporal não pode ser necessária para a identidade pessoal. Essa evidência deve refutar a visão de que a identidade pessoal envolve a continuidade corporal antes de olhar a evidência para a reencarnação, quando de fato a evidência para a reencarnação é a evidência contrária apenas a tal visão da identidade pessoal. A evidência para a reencarnação seria evidência de encontro a tais visões; e uma pessoa não pode defender tais visões através da insistência de que não devemos olhar a evidência para a reencarnação até encontramos outra evidência mostrando que a continuidade corporal não é uma condição necessária para a identidade pessoal.

A corporeidade é desafiada diretamente pela evidência para a reencarnação; não é preciso mostrar primeiro que tal corporeidade é falsa já que epistemologicamente está justificado o exame da evidência para a reencarnação. Para considerarmos este argumento seriamente nós necessitaríamos derrotar aquelas hipóteses que desafiamos anteriormente de que nós poderíamos apelar para a evidência contrária àquelas hipóteses. Isso simplesmente não pode ser feito; e insistir nisso seria se entregar a crenças estimadas (e possivelmente filosoficamente populares) sempre incapazes de serem refutadas. Tal proposta torna a crença em qualquer forma de reencarnação a priori falsa porque nada poderia sequer contar como evidência a favor da hipótese. Adicionalmente, apelar para a popularidade de uma posição filosófica é dificilmente uma boa razão mostrando que se deve adotar tais pontos de vista. Em um argumento justo o peso da prova é distribuído igualmente. A evidência oferecida para a reencarnação contraria simultaneamente o tipo de dualismo que o autor parece defender.

2. Ao continuar a caracterizar a afirmação, o autor diz que a crença na reencarnação assume que a mente da pessoa não requer o corpo ou o cérebro particular no qual está conectada na vida presente; e o autor afirma, como nós veremos, que esta suposição é quase certamente falsa (pág.16). Para o reencarnacionista, entretanto, isto seria menos uma suposição e mais uma implicação se a tese fosse verdadeira. Chamá-la de suposição é equivalente a dizer que os reincarnacionistas assumem, sem benefício de qualquer evidência, a tese que afirmam. Talvez alguns reincarnacionistas ajam essa maneira, mas a tese a favor da reencarnação não poderia repousar em tal suposição sem que isso simultaneamente iniciasse a questão em favor da reencarnação. Os estudos de caso mais ricos não assumem a reencarnação, eles a mostram indiscutivelmente como evidência implícita na hipótese.

3. No Capítulo Dois, o autor faz uma pequena análise do argumento baseado na ordem moral do mundo. Este é o argumento de que a existência de injustiça no mundo requer a crença na reencarnação. É um péssimo argumento e o autor está completamente certo em criticá-lo, e querendo saber como isso se tornou tão extensamente aceito. Pode-se adicionar, naturalmente, que é provável que os únicos reencarnacionistas que o oferecem são aqueles que aceitam a doutrina em bases religiosas, e que, por uma razão ou outra, compartilham da visão de que uma das finalidades principais da reencarnação é balançar as escalas da justiça de alguma maneira. Mas nada disto está implícito na definição mínima oferecida acima e para qual a evidência oferecida nos casos mais fortes é relevante.

4. O Capítulo Três é um ataque ao Karma e o ataque parece bastante firme. O autor considera isto um ataque à reencarnação porque ele acredita que a reencarnação, como é geralmente entendida e extensamente aceita, implica na doutrina do Karma, como o autor o constrói. Aqui novamente, entretanto, é importante observar que a crença na reencarnação, como minimamente construída acima, não requer, no fim das contas, qualquer posição sobre o propósito da reencarnação. Os crentes religiosos na reencarnação fazem disto uma certeza, mas a evidência empírica para a reencarnação não implica em nada a respeito de Karma. Assim, a objeção é irrelevante para a empiricamente defensável forma de reencarnação oferecida acima.

5. O Capítulo Quatro examina o argumento das Crianças Prodígio, Experiências de Deja Vu, e Grupos Reencarnatórios. Aqui o autor examina e muito certamente rejeita os argumentos que datam desde 1888 o qual diz que nós não podemos explicar a existência das crianças prodígio (tais como Sir William Hamilton), experiências de deja vu, ou grupos de gênios sem apelar para a reencarnação. E, naturalmente, algumas pessoas criaram estes péssimos argumentos. Neste capítulo, sob uma seção intitulada “Deus das lacunas”, o autor acusa Stevenson de ser culpado da falácia “Deus das lacunas” a qual, nós sabemos, é a falácia de explorar lacunas em explanações científicas colocando Deus como a causa de determinados fenômenos. De acordo com o autor, Stevenson, por analogia, explora aberturas em explanações científicas apelando à reencarnação como a única maneira possível de preencher as lacunas. Tal proposição, para o autor é “absurda” e ele afirma, que “não há necessidade de envolver a reencarnação ou qualquer causa oculta” (pág. 57).

Em defesa de Stevenson, entretanto, nós devemos observar que a acusação do autor é uma falácia do tipo espantalho. Stevenson não argumenta pela reencarnação na base que a crença explica os itens (tais como determinadas fobias) não explicados na ciência atual. Nós todos sabemos que uma hipótese científica boa, quando confirmada independentemente e falsificável nos termos de suas consequências dedutivas fornece invariavelmente poderes explanatórios não previstos para outros fenômenos não explicados ainda. Entretanto, estes últimos fenômenos não são parte da evidência independente que confirma a hipótese como sendo melhor que uma característica logicamente positiva de uma teoria ou hipótese bem estabelecida de modo independente. Mas não é uma condição necessária nem suficiente para uma hipótese bem-confirmada. Adiciona valor confirmatório e aumenta com razão a confiança na hipótese.

Stevenson apenas indicou o poder explanatório que a tese pode ter depois de confirmada como verdadeira de forma independente evidenciado nos estudos de caso mais ricos. Assim, o autor distorce os comentários de Stevenson aqui afirmando que eles são de algum modo considerados como evidência independente para a hipótese.

Além disso, o argumento de Stevenson neste artigo é realmente cauteloso. Ele afirma que parece haver alguma necessidade para um fator além da hereditariedade e do ambiente para explicar determinados comportamentos. Em seguida, ele diz que se a reencarnação ocorre, então “apelar para a reencarnação para explicar estes fenômenos é ao menos digno de consideração como uma explicação possível” (como citado nas págs. 55-56 no livro de Edwards). A atribuição da falácia “Deus das lacunas” a Stevenson é baseada apenas em um dos muitos enganos deste autor (eu não digo distorções deliberadas) sobre as visões e crenças de Stevenson.

6. No Capítulo Quatro o autor também afirma o que ele reafirma extensamente no capítulo 15 e o que ele também como sendo uma objeção básica à reencarnação que explica qualquer coisa em um contexto científico, isto é, que a hipótese não explica nada. Para o autor a crença na reencarnação não pode competir com a fisiologia, genética, ou psicologia como explicação do comportamento humano. Reencarnação, para o autor, não é sequer uma hipótese testável (pág. 58) Mas a resposta a esta objeção parece direta. Sem considerar o fato de que há ótimas explicações na ciência que não são explicações da causa (nós explicamos, por exemplo, os dados em estudos de gêmeos sobre esquizofrenia hipotetizando que a causa estava no fator puramente genético por muito tempo antes de identificarmos o gene que a causa em uma determinada parcela dos casos), nós mostramos também acima como a hipótese de reencarnação, como definida acima, é completamente testável e confirmada em termos do que nós podemos razoavelmente especificar como as implicações dedutivas da hipótese, se assumirmos que ter determinadas memórias sistêmicas é essencial para continuarmos sendo as pessoas que somos.

7. Ele também diz aqui no Capítulo Quatro que reencarnacionistas, em geral, falam vagamente sobre as almas adquirirem habilidades e conhecimentos em uma vida prévia e levá-las para uma próxima encarnação. Ele afirma que alguém tem que tomá-las seriamente e perguntar sobre os mecânicos de transmissão (pág. 58). Em outras palavras, se os reencarnacionistas não podem explicar como a alma transmite as habilidades ou as disposições precedentes de um corpo para outro, então o argumento para a reencarnação é inaceitável. Em seguida, ele afirma que a única explanação plausível da transmissão torna a crença na reencarnação falsa. Nas palavras deles: 

Eu penso que os reencarnacionistas que não estão de todo perdidos em alguma forma fantástica de ocultismo vão admitir que a transmissão de Hanauer para o corpo de Mozart ocorreu através do cérebro e do sistema nervoso do novo embrião. Se eles admitirem isto então eles admitiram tacitamente que a habilidade especial de Mozart é devido a determinadas características de seu cérebro que não estão presentes no cérebro de outros seres humanos. A reencarnação, de certa forma, se torna redundante. Sem dúvida será dito que a reencarnação ainda é necessária para esclarecer as características especiais do cérebro de Mozart. Entretanto, se nós tivermos razão para acreditar no que eu me chamo de “suficiência” da genética e da embriologia, isto irá cuidar do último reencarnacionista de pé. (pág. 58)

.

Ele desenvolve este argumento outra vez no capítulo 15. A resposta óbvia ao autor em questão é que algo pode ser bem conhecido como tendo ocorrido ainda que não se saiba como ocorreu, e a falha em saber como ocorreu não destrói a evidência de que ocorreu. Na definição de reencarnação oferecida acima, a evidência que confirma a reencarnação não confirma nada sobre como ela ocorre, apenas que ocorre, e nenhuma forma defensável de reencarnação necessita lidar com qualquer forma de problema do modus operandi. O autor parece pensar de que nós não podemos saber que Citation ganhou a quarta corrida em Suffolk Downs a menos que nós saibamos como ele fez isso. De qualquer maneira, como a definição acima deixa explícito, a hipótese essencial da reencarnação pode ser mostrada como sendo verdadeira sem sermos capazes de mostrar como ela ocorre, ou porque ocorre, ou quão frequentemente ocorre, ou se todos reencarnam nesta mesma maneira minimalista.

8. O Capítulo Cinco é sobre o famoso caso de Bridey Murphy, e o autor o desacredita ao dizer que trata-se de um caso que força a crença na reencarnação. A criptomnésia e a sugestionabilidade sob a hipnose podem, de acordo com o autor, explicar o caso inteiro. Ele afirma que este caso é um “lixo total e completo”. Diz também que este é um caso razoavelmente típico, e supõe que podemos generalizar a partir dele. De fato, o autor nunca considera nem mesmo um caso de xenoglossia rico porque, como diz no prefácio, Sarah Thomason mostrou em uma “devastadora” crítica que é impossível que uma pessoa pudesse falar em uma língua estrangeira não aprendida de maneira normal. O autor não considera nem apresenta os argumentos de Thomason, nem examina algumas das respostas a sua posição; afirma ao contrário que são refutações devastadoras da reivindicação de que alguém pudesse falar em uma língua não aprendida. Recusa simplesmente olhar alguma evidência mais interessante para a reencarnação porque uma pessoa escreveu um criticismo da evidência em um caso, e então, sem quais eram seus argumentos e porque se mantêm levantados na luz do criticismo sério de outras fontes, generalizou ilegitimamente todos os casos restantes de xenoglossia. Esta é a mesma seção onde ele assegura, por implicação, que a maioria dos que acreditam na reencarnação ou no dualismo da mente-corpo (ambos os quais ele classifica como crenças ocultas porque envolvem a crença em corpos astrais) são insanos ou semi-insanos. Sobre o assunto principal no exemplo de Bridey Murphey, ele diz: 

Virgínia (Tighe) soa como uma americana mediana, basicamente sensível e que tem os pés no chão, completamente diferente da maioria das pessoas insanas ou semi-insanas que são atraídas ao oculto. Eu duvido que ela sequer tenha tido uma conversa séria sobre corpos astrais (pág. 72).

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Esqueçam que isso faz de Platão, Aristóteles, todos os melhores filósofos medievais, Descartes, Leibnitz, Spinoza, Locke, Berkeley, Kant (para intérpretes) crentes no oculto porque acreditaram na existência das mentes, o ponto importante é que isso faz deles insanos ou semi-insanos.

A propósito, mesmo que o autor esteja completamente certo em acreditar que o exemplo de Bridey Murphey não é um caso em que se possa confiar como evidência para a reencarnação (embora alguns estudiosos da época pensassem diferente), é difícil imaginar qualquer um que defenderia agora a crença na reencarnação baseado nas reivindicações unicamente confirmadas da memória que fazem exame deste caso como um caso particularmente rico ou evidente. Estranhamente, o autor admite que “livros muitos melhores que defendem a reencarnação e que contêm uma documentação mais substancial e argumentos menos frágeis foram ignorados totalmente pela imprensa” (pág. 62). Então por que gastar um capítulo inteiro argumentando contra este caso e não olhando casos melhores, casos tais como aqueles envolvendo reivindicações ricas e independentemente confirmadas da memória, memórias que somente os defuntos poderiam ter tido, junto com determinadas habilidades adquiridas e xenoglossia responsiva? E certamente Stevenson, ao admitir que ofereceu alguma evidência razoavelmente confirmatória, nunca listou o caso de Bridey Murphey como um caso particularmente evidente. Já que este nunca foi investigado adequadamente. Compare-o com o exemplo de Bishen Chand Kapoor, ou com o caso de Lydia Johnson qua Jensen, de Gretchen, de Swamlata, e tantos outros que satisfazem os padrões de memória de confiabilidade elevada e de corroboração independente. Em outras palavras, atacar o caso Bridey Murphy em detalhes é lançar outra falácia do tipo espantalho na discussão. Existem casos muito mais fortes, e muitos deles. Stevenson não considera a criptomnésia como uma explicação plausível para todas as reivindicações da memória de Bridey Murphy… (veja pág. 78 e nota de rodapé 38 e se a demonstração irlandesa poderia plausivelmente manter a informação Murphy atestada).

9. O Capítulo Seis critica justificadamente os tipos da nova era que acreditam que possuem boas evidências para a reencarnação (assim como para as vidas futuras) simplesmente pela terapia da regressão na ausência de reivindicações verificadas da memória. Mas este criticismo não é novo. Nós todos sabemos que para certos propósitos a terapia de regressão é geralmente problemática como uma técnica para produzir o tipo de reivindicação de memória que pode fornecer forte evidência, embora ocasionalmente alguém possa vir à tona com reivindicações interessantes da memória que são autenticadas como as memórias que somente a personalidade anterior poderia ter.

Veja, por exemplo, o caso de Lydia Johnson qua Jensen. Admissivelmente, entretanto, a melhor evidência vem dos casos espontâneos que envolvem crianças entre as idades de dois e cinco anos que não são hipnotizadas. Além disso, ao confrontar a evidência das memórias espontâneas de vidas precedentes, o autor oferece uma crítica do caso Ryall (pág. 103) que Stevenson considera como forte, mas um tanto comprometido pelo fato de que nós não temos nenhum registro da existência histórica da personalidade anterior que nós esperaríamos encontrar. Aqui outra vez, entretanto, como no exemplo de Bridey Murphy, o autor seleciona casos problemáticos como casos típicos nos quais há problemas evidentes e ignora o resto das evidências que confirmam demonstravelmente os casos mais fortes. Sobre o caso Ryall, além disso, o autor afirma sem evidência, que Ryall foi eventualmente exposto como um fraudador ou vítima de ilusões (pág. 103). Michael Green supostamente o demonstrou como tal. Mas nós nunca vemos o argumento de Michael Green… Assim como nós nunca vemos a lógica de Wilson ao examinar muitos dos melhores casos e achar todos eles deficientes. De fato, algumas das afirmações sobre a memória de Ryall realmente foram verificas, mas o autor nunca diz quantas delas, ou se as memórias que foram verificadas realmente são as reivindicações que somente o defunto poderiam ter tido. E porque algumas das memórias cruciais de Ryall (não diz quantas) não foram confirmadas, o caso falha como evidência para a reencarnação. O fato de Stevenson admitir que o caso de Ryall não era tão forte quanto ele pensou originalmente não significa que não comprove absolutamente nada. Qualquer falha de memória derruba o caso para o autor mesmo que o número restante das memórias seja muito grande e não possa ser explicado em terrenos naturais ou normais, e mesmo quando se trata de memórias confirmadas que somente a personalidade precedente poderia ter tido.

11. O corpo astral é o tópico da discussão no capítulo nove e o autor afirma outra vez que o conceito de um corpo astral é absurdo e, como todos os reencarnacionistas precisam acreditar em almas ou em corpos astrais, a crença na reencarnação é, por implicação, absurda. Como o autor o vê, a evidência dada geralmente para corpos astrais de OBEs e de NDEs é mais evidência para a desilusão do que para qualquer outra coisa. Aqui o autor cita Susan Blackmore, e passa depois para o caso Wilmot, um caso que ninguém deveria listar como um caso evidencial: outra vez, outra falácia do tipo espantalho (pág. 113).

O espaço proíbe aqui um exame detalhado da posição do autor sobre corpos astrais, mas eu penso que, por razões todas erradas, ele negligenciou as evidências que contam fortemente para a crença na existência das mentes baseadas em OBEs e em NDEs. Como Blackmore, ele negligencia os casos fortemente confirmados com índices verídicos que não podem ser explicados pela apelação a alucinação ou sequer por ESP, e, como tantos outros, ignora as experiências de Osis-McCormick.

A propósito, nada que o autor discute sobre OBES ou NDEs é relevante para a reencarnação como definida acima, porque, como nós observamos anteriormente, a crença na reencarnação não requer a caracterização positiva da parte sobrevivente da personalidade em termos de corpos astrais como o autor os constrói. De fato, a evidência recolhida de OBEs e NDEs não necessita cometer-nos a algo como um corpo astral como é afirmado pelo autor.

Nada na evidência que confirma a crença na reencarnação, como caracterizada acima, implica na existência de corpos astrais como o autor os descreve: resumindo, outra falácia do tipo espantalho. Além disso, o autor argumenta que a menos que possamos explicar como viagens astrais podem exceder a velocidade dos aviões, como os corpos astrais adquirem habilidades navegacionais para começar em determinadas posições distantes e desconhecidas e encontrar sem mapas a casa de um amigo em São Francisco (por exemplo), ninguém deve levar esse assunto de viagem astral a sério. Em resumo, para o autor, nem Ritchie nem qualquer outro viajante astral deve ser estudado seriamente até que possa explicar como os corpos astrais conseguem fazer suas viagens. Aqui, outra vez, o autor comete o erro epistemológico simples de pensar que porque nós não sabemos como algo ocorre, ou qual é a causa dele, nós não sabemos que ocorre. No fim das contas, o ponto importante a ser repetido aqui é que todo o ataque aos corpos astrais baseados na evidência de OBEs ou de NDEs é irrelevante à questão da reencarnação porque a hipótese da reencarnação não é cometida de uma descrição do que sobrevive em termos de como o autor caracteriza um corpo astral. Será o bastante descrever o material pós-morte sobrevivente como essencial à personalidade humana e não como uma parte visível do cérebro, ou qualquer estado do cérebro, ou propriedade biológica causada pelo cérebro. Como nós vimos acima, a hipótese da reencarnação não requer que alguém possa ver o material sobreviver em um estado descorporizado, como poderia um corpo astral da maneira que o autor o caracteriza. Naturalmente, o autor pensa também que qualquer um que acredita no dualismo mente-corpo deve acreditar em corpos astrais e deve consequentemente e igualmente acreditar em questões absurdas ou ocultas.

12. No Capítulo Dez o autor discute Chamadas Telefônicas dos Mortos, Marcas de Nascença, e o problema do Modus Operandi. Na questão de Marcas de Nascença, o autor examina o caso de Corliss Chotkin e diz: 

Embora o trabalho multivolume de Stevenson sobre marcas de nascença não tenha sido publicado, diversas histórias dos casos que ele reportou incluem, como uma parte essencial da evidência para a reencarnação, detalhes sobre as marcas de nascença dos indivíduos e sua alegada relação com as feridas e doenças dos corpos mais novos. Eu discutirei brevemente o caso de Corliss Chotkin Jr. Este servirá como uma ilustração útil do tipo de evidência que tão fortemente impressiona Stevenson. É um caso típico Stevensoniano e as objeções a ele, com alguns pequenos ajustes, aplicam-se a todos os outros (pág. 136).

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Infelizmente, o autor examina o caso como apresentado resumidamente em uma sinopse em Crianças e Suas Vidas Passadas e não como apresentado originalmente em Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. E afirmar que o caso Chotkin é um caso Stevensoniano típico é completamente falso, já que existem pelo menos três tipos logicamente distintos de casos os quais Stevenson apresenta e os quais variam em termos de força de evidência, apesar de em cada caso a evidência oferecida ser suficiente.

De qualquer maneira, para o autor, a objeção principal ao caso Chotkin é que não há nenhuma maneira concebível através da qual as cicatrizes de Victor Vincent poderiam ter sido transferidas para o corpo de Corliss Chotkin. Para o autor, os corpos não físicos não possuem maneiras pelas quais as cicatrizes físicas poderiam ser transferidas. Além disso, as cicatrizes encolhem no corpo novo? (pág. 139) Este é um outro exemplo da objeção do modus operandi da qual o autor é demonstravelmente adepto (pág. 139). Interessantemente, aqui o autor diz que embora nós saibamos às vezes (como no caso da aspirina, por exemplo) que alguma coisa ocorreu sem sermos capazes de dizer como ocorreu, no caso da reencarnação nós não temos a mais remota ideia de como as cicatrizes se movem (pág. 140). Infelizmente, o autor reivindica que este problema do modus operandi, como ele explica, é “fatal” não somente para casos de marcas de nascença, mas também para a teoria inteira da reencarnação, (pág. 140) neste contexto o autor diz: 

A propósito, eu espero que o quarto volume do trabalho de Stevenson encontre quem o publique. Ele me parece um homem sincero, mas iludido, e merece ser discutido. Além disso, a publicação do livro agradaria a todos. Stevenson e seus defensores ficariam satisfeitos. Quanto aos editores eu não acredito que perderiam dinheiro. Dado o nível da educação no mundo, especialmente nos Estados Unidos, haverá multidões de crentes ou de aspirantes a crentes para comprar uma defesa tão profusamente ilustrada da reencarnação.Quanto a mim, seria uma ótima ocasião para fazer comentários adicionais sobre este absurdo em uma edição posterior (pág. 140).

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Acredito que alguém informará ao autor que a Praeger publicou a obra de dois volumes, intitulada Reencarnação e Biologia (após a Paragon Press ter inicialmente quebrado um contrato assinado para publicá-la em 1991) e que o autor pode começar novamente mostrando com alegria que tais cicatrizes corporais não podem e não poderiam ocorrer porque nós não sabemos como poderiam ocorrer na forma descrita. Sem dúvida, o autor está tão fixado no problema do modus operandi que ele inferirá que a leitura destes dois volumes é um desperdício de tempo e de dinheiro, uma vez que ele já sabe que, dada essa objeção fatal, todos os casos apresentados devem ser exemplos de fraude, engano, mistificação, metodologia equivocada, mentiras sagradas ou de insanidade. Em nenhuma parte, Stevenson alega que a existência das cicatrizes corporais das feridas recebidas anteriormente é necessária a fim de justificar a crença na reencarnação. Como observado acima, há pelo menos três tipos distintos de casos que não envolvem cicatrizes corporais e que seriam suficientes para extrair a conclusão a favor da crença mínima na reencarnação. Stevenson está impressionado, como de fato todos nós deveríamos estar, com o fato de que, às vezes, nos casos bem-confirmados baseados em memórias alegadas não fraudulentas e verificadas em casos desse tipo combinados com a presença de habilidades não proposicionais relevantes não aprendidas, tais cicatrizes aparecem na mesma posição nos corpos da personalidade histórica precedente.

Os Capítulos 11 e 12 são sobre Kubler-Ross, Moody e o novo movimento da imortalidade. Aqui o autor ataca Kubler-Ross após ter notado que ela é a pessoa com menos senso crítico na história do mundo. Ele acrescenta que ela certamente está no livro porque acredita em corpos astrais, e o autor quer falar mais sobre o quão estúpido é acreditar em corpos astrais. Ele também expõe o que pensa sobre quem acredita que a mente existe porque, ele segundo ele, acreditar em mentes, na verdade, leva à crença de corpos astrais. Este capítulo é similar ao capítulo seguinte (Capítulo 13) e é intitulado Grof, LSD e a Amorosa Mulher-Cobra.

Em nome do humor Vitoriano, estes últimos três capítulos envolvem um mau gosto ridículo mais do que qualquer outra coisa, e nada da discussão avança para um exame crítico da evidência mais plausível para a crença na reencarnação. Como é muito improvável que Kubler-Ross, ou Moody, ou Grof procurem oferecer uma prova de sobrevivência crítica e filosoficamente defensável baseada em OBEs, não serve a nenhum propósito atacá-los por falharem nisto. (A propósito, em meu livro, (Almeder, 1992) eu discuti longamente o tópico OBEs e teria sido melhor se o autor tivesse examinado aqueles argumentos, incluindo os experimentos de Osis-Mc-Cormick, em vez de considerar outros argumentos que são facilmente descartados).

O Capítulo 14 é sobre O Problema da População e Outros Sensos-Comuns e as Objeções Científicas. Aqui o autor apresenta cinco objeções contra a reencarnação. São elas:

(1) A Objeção de Tertuliano. De acordo com esta objeção, a pessoa reencarnada começa como um bebê e não como uma pessoa completamente madura. “Como é que regridem na idade?” (Por quê?) Na visão do autor, John Hick também endossa esta objeção quando ele observa que os bebês não nascem com os egos adultos, “quando eles deveriam nascer se fossem continuações diretas dos egos que morreram no fim da vida normal”; (como citado na pág. 223). O autor (Edwards) então diz que “é quase escandaloso o fato de que nenhum reencarnacionista tenha sequer tentado responder a este argumento.” (pág. 223- 224) Ele então prossegue dizendo que a única explanação plausível nos termos da alma metafísica (que envelhece) é distinta da do ego empírico… e naturalmente esta resposta é absurda porque a distinção pressupõe que nós podemos aceitar uma alma metafísica que não seja realmente nada além do que um corpo astral, e acreditar em corpos astrais é algo mais do que absurdo.

A resposta apropriada à pergunta de Tertuliano, naturalmente, é que ela não é uma objeção, e sim uma pergunta; e mesmo que alguém respondesse que ignora o motivo das almas reencarnadas não começarem como continuações plenas dos egos passados dos adultos, isso é irrelevante para a evidência de que alguns traços essenciais da personalidade humana reencarnam às vezes, e de que alguns destes traços são memórias e habilidades não proposicionais dos adultos. Se a pergunta de Tertuliano for por implicação considerada uma objeção digna de ser levada em consideração, qual exatamente seria a objeção? Que a reencarnação, como nós a definimos acima, não pode ocorre porque se a reencarnação for um fato ela necessitaria ocorrer da maneira que Tertuliano acredita ser apropriado para ela ocorrer? Ou ela não pode ocorrer na maneira especificada na tese minimalista porque nós podemos imaginar um outro meio pelo qual ela pode ocorrer? Mesmo que a pergunta de Tertuliano seja uma pergunta interessante, (melhor do que a atrevida afirmação de que a reencarnação como definida acima não pode ocorrer) a resposta é irrelevante como evidência contrária à tese definida acima a qual afirma que ocorre na maneira especificada na tese.

(2) A Reencarnação é Incompatível com a Evolução Darwiniana. “A evolução ensina que a nossa consciência se formou gradualmente junto com o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso (pág. 225). O reencarnacionista precisa defender que tal desenvolvimento não ocorreu porque a mesma alma migrou de um corpo para outro.”

A resposta a esta objeção parece bastante simples. A teoria evolucionária não ensina que a consciência se desenvolveu gradualmente junto com o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso. Para ver que isto é verdade, pode-se simplesmente consultar qualquer texto de biologia respeitável e acadêmico que trata o assunto da evolução. Nem mesmo a biologia ensina que a consciência, como nós a compreendemos, seja nada mais do que um estado do cérebro ou uma propriedade biológica causada por estados do cérebro. A biologia não afirma que as mentes ou as almas ou a consciência sejam uma propriedade biológica de algum tipo. Essa é uma inferência extraída por outros que escolhem concluir isso com base no fato de que a biologia não faz nenhuma alegação testável sobre tais entidades. Os biólogos tendem a não fazer alegações filosóficas sobre a natureza da mente e o grau em que a biologia está preparada para defender a visão de que as mentes ou as almas sejam realmente cérebros, estados do cérebro, ou propriedades biológicas causadas pelo cérebro. E seria notável se o fizesse, já que tais alegações não seriam empiricamente testáveis sem cair na falácia da petição de princípio contra a crença em mentes.

(3) A Recenticidade da Vida (pág. 225). De acordo com esta objeção, a ciência mostra que após o Big Bang não houve nenhuma vida por aqui durante bilhões de anos; mas a “reencarnação em todas as formas postula uma série de encarnações que adentram sem limite no passado, e isto é claramente inconsistente com os fatos”. Isso implica, para o autor, que os crentes ocidentais contemporâneos na reencarnação não estão nem um pouco interessados nas descobertas da ciência. Em resposta a esta objeção, deve ser óbvio que a tese da reencarnação especificada acima como a tese minimalista não diz coisa alguma sobre quando o processo começou, e a defesa dessa tese não requer qualquer crença desse tipo. E simplesmente não é verdade que a reencarnação em quaisquer de suas formas postula uma série de encarnações que adentram sem limite no passado. A evidência empírica para a tese minimalista não implica nisso de forma alguma. 

4) A Objeção da População. Esta é a objeção favorita do autor (pág. 226), e ela lhe parece bastante conclusiva contra a forma principal de reencarnação, apesar das respostas imaginativas dos crentes “verdadeiros” (pág. 226). A mais recente declaração da objeção da população é encontrada no Tratado de Tertuliano Sobre a Alma na qual Tertullian fala do “crescimento luxuriante da raça humana”; observando que isto não pode ser ajustado à noção da população estacionária na qual os reencarnacionistas acreditam (pág. 226). O argumento de Tertuliano é o seguinte: a população será de uns 10 bilhões de habitantes por volta do ano 2016 quando no tempo de Cristo a população do mundo era de 200 milhões de habitantes. O autor prossegue dizendo: 

Como nós vimos anteriormente, os reencarnacionistas se opõem a qualquer a doutrina de “criação especial” das almas, que nega que almas novas sejam sempre adicionadas ao mundo. Todas as almas existiram sempre. Cada nascimento é um renascimento, o renascimento de uma alma que já existe. Tudo isto descarta claramente qualquer aumento da população. Os reencarnacionistas que acreditam que algumas almas podem desistir de sua existência e se fundir ao Absoluto ou ao Nirvana admitem que a longo prazo a população deve diminuir. Outros reencarnacionistas afirmam que a população humana total é estacionária. Em qualquer dos casos, quer a população estagne ou diminua, a reencarnação parece refutada pelas estatísticas da população (pág. 226). 

O autor diz então: 

É notável que este argumento tenha sido sempre discutido superficialmente por alguns dos reencarnacionistas respeitáveis academicamente. Eu suspeito que a razão para isso seja a grande dificuldade de encontrar uma resposta que impressione uma pessoa séria como remotamente credível (pág. 227).

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O autor lista então várias respostas inadequadas dos reencarnacionistas budistas, e lista também a objeção de Geddes MacGregor ao efeito de agora nós sabermos o quão vasto o universo é e o quão vastamente povoado deve ser por almas racionais. A objeção não tem peso algum, já que é uma objeção refém de nocivas suposições ad hoc. O reencarnacionismo, Edwards insiste, não é uma teoria para a qual haja qualquer evidência observacional (pág. 230) e, naturalmente, suposições como aquelas feitas por MacGregor não são, de acordo com o autor, testáveis.

Ele também distorce a posição de Stevenson na resposta de Stevenson. Na verdade, o autor acusa Stevenson de abordar a questão de forma obscura e equivocada. O autor prossegue dizendo que o problema é que “o aumento da população parece (ênfase adicionada) incompatível com a população estacionária ou com o decréscimo implícito na forma principal de reencarnacionismo.” Afirma então que o problema da população pode ser evitado por qualquer um que esteja preparado para oferecer uma versão drasticamente modificada de reencarnacionismo, a saber, a versão que diz que somente algumas pessoas reencarnam às vezes (pág. 253). Ou seja para o autor, alguém que defenda que a reencarnação ocorre, mas que ela não precisa ser universal, poderia bem admitir o crescimento da população sem invocar algumas das suposições ad hoc. “Existe um certo apelo na modéstia desta posição revisada, mas é fácil ver porque ela não é aceita pela maioria dos crentes na reencarnação… Muitos dos argumentos para a reencarnação, se fossem válidos, mostrariam que todos os seres humanos são a reencarnação de almas existentes anteriormente” (pág. 233). Além disso, de acordo com o autor, se esta forma modesta de reencarnação for verdadeira, nós teríamos dificuldade para imaginar quem estava e quem não estava reencarnado, e, portanto, não seríamos capazes de explicar o comportamento humano em termos de karma.

Numa breve resposta a esta objeção, poderia se observar que a forma minimalista da reencarnação, como definida acima, é de fato a única forma defensável de reencarnação; e como essa forma não implica que todos reencarnam, a objeção da população não vai de encontro a ela. A pergunta é se a forma modesta está apoiada pela evidência empírica. Caso se descobrisse que na forma modesta de reencarnação nós não seríamos capazes de escolher quem entre nós tem como parte de nossa personalidade atual uma pessoa reencarnada (ou parte da pessoa), então o autor diz que nós não poderíamos explicar o comportamento humano em termos de karma. Aqui vale a pena observar outra vez que a forma modesta não procura explicar o comportamento humano em termos de karma. Não diz nada sobre uma razão para que tal processo ocorra. Se a forma modesta não for identificável com as formas comuns aceitas por determinadas crenças religiosas, então o autor deve lidar com a pergunta de se a evidência oferecida por Stevenson e por outros apoia realmente esta forma modesta e, se apoia, o que isso significa por implicação para compreender a natureza humana.  

Eu argumentei pela forma modesta da reencarnação em meu livro, e argumentei que essa é toda a evidência de Stevenson requer; e, à luz deste argumento, eu disse também que as suposições por trás da objeção da população pressupõem uma forma de reencarnação que Stevenson não defende e para a qual a evidência que oferece não fornece apoio. Eu afirmo que os reencarnacionistas sãos, sóbrios e respeitáveis academicamente responderam com bastante sucesso à objeção da população e que se o autor não estivesse ocupado vilipediando arbitrariamente aqueles que discordam das suas visões, ele poderia ter visto as respostas.

De fato, a resposta de Stevenson à objeção da população é engenhosa e bastante notável. Eu argumentei também que mesmo             que alguém continue do lado da reencarnação universal, a objeção da população imóvel não teria nenhum peso além do que o de ser simplesmente uma implicação da verdade da tese. A objeção da população, como muitas outras objeções aqui, é um arenque vermelho porque se baseia em uma construção do tipo espantalho do que o reencarnacionista razoável deve acreditar. De fato, muitas pessoas (incluindo MacGregor, Ducasse, Stevenson e eu mesmo) responderam bastante bem à objeção da população.

5) A Ausência de Memórias Genuínas de Vidas Precedentes é Poderosa Evidência Contrária à Crença na Reencarnação (pág. 234). O autor fez esta afirmação na pág. 27, onde diz que “os dois critérios de continuidade corporal e de memória não estão em equivalência e o critério da memória pressupõe o da continuidade corporal enquanto que o inverso não é verdadeiro.” De acordo com o autor, nós necessitamos de um critério para distinguir entre as memórias falsas e as verdadeiras porque as “pessoas frequentemente recordam sinceramente de coisas que não aconteceram…”. Para o autor, é evidente que o critério da memória não pode nos ajudar a distinguir as memórias verdadeiras das falsas. Nós temos que recorrer a outro critério e o único que parece estar disponível é a continuidade corporal (pág. 237).

Em resposta a esta objeção, é fácil determinar se as memórias alegadas de uma pessoa são falsas. Se for possível mostrar que o evento alegado nunca ocorreu, então a memória alegada é falsa. E se não houver nenhuma maneira de confirmar a alegação então não existe nenhuma boa razão para aceitá-la como uma memória verdadeira. Similarmente, se uma pessoa alegar recordar ter enterrado seu dinheiro quarenta anos atrás dentro de um frasco embaixo do seu galinheiro, e a seguir encontrarmos o frasco lá com a soma especificada e certificarmos que ninguém mais poderia tê-lo enterrado lá naquela época ou em um período posterior, então a sua memória alegada é verdadeira. Naturalmente, às vezes algumas alegações de memória não são testáveis porque dizem respeito a acontecimentos para os quais não poderia haver atualmente nenhuma evidência empírica disponível…, por exemplo, o que meu pai disse imediatamente antes de morrer quando nós estávamos sozinhos no quarto.

Referente à reencarnação, se alguém alegar recordar ter enterrado sua colher dourada com suas iniciais na construção feita de cimento da State Street Church em Boston em 3 de abril de 1843 encontrando então a colher após quebrar os alicerces (e sabendo que a posição da colher não era conhecida a ninguém mais e que a colher foi de fato colocada na fundação em 3 de abril de 1843), isso certamente conta como a verificação da memória alegada, a menos que, naturalmente, alguém acredite a priori que ninguém pode ter uma memória verdadeira de um evento que não testemunhou em sua vida atual; e caso se agarre a esta última visão, como explicar o fato de que a memória alegada é verdadeira e que a crença do sujeito é verdadeira? Como Derek Parfit afirma, se nós víssemos tais eventos acontecerem, nós poderíamos querer mudar nossa definição sobre em que consiste a memória, e abandonar a visão de que o cérebro é o portador da memória (pág. 227 na edição pb de Reasons and Persons, Oxford, 1980). Se não houver nada que eu possa aceitar como uma alegação válida da memória de um evento passado que o sujeito não poderia ter testemunhado em seu corpo atual, então parece ser um dogma que a continuidade corporal é necessária e suficiente para a identidade pessoal, quando há uma base forte e intuitiva para se pensar que memórias sistêmicas são suficientes para identificar pessoas distintas. 

Capítulo 15. O Interregnum: O Que Ocorre Entre As Vidas 

Neste capítulo, o autor oferece alguns comentários antigos sobre a sobrevivência pós-morte. Ele observa, por exemplo, que a crença na reencarnação não poderia ser verdadeira porque nós não teríamos nenhuma ideia de onde os traços da personalidade sobrevivente estariam após a morte. Essa é uma outra forma da objeção do modus operandi, que não acrescenta nada pela repetição. Após chamar a atenção para a alegação de Stevenson de que a mente é um corpo não-físico composto de algum tipo de matéria, mas que deve ser uma matéria completamente diferente do que nós geralmente entendemos por esse termo, o autor conclui que Stevenson não diz que ele acredita em corpos astrais, mas que é difícil ver como Stevenson poderia evitar acreditar em algo do tipo. O autor prossegue dizendo: 

Quando eu ouvi as palavras acima pela primeira vez o que eu não consegui foi deixar de querer saber de onde o corpo intermediário veio. A resposta a esta pergunta é dada no Discurso Presidencial de Stevenson em 1980 na Parapsychological Association, em que ele próprio se revela um ocultista de carteirinha. O segundo corpo, que nós temos disponível após a morte, não é nada mais do que a mente que nós temos ou tivemos ao longo da vida. Stevenson é, naturalmente, um dualista, e ele chama a si mesmo de um interacionista radical, mas nenhum interacionista dualista entre os filósofos que eu conheço, da variedade Cartesiana ou Humeana, jamais identificou a mente com um corpo. Nós somos mais uma vez informados que as imagens têm uma posição espacial… que a mente é assim “estendida”. Antes de mudar de assunto, devo observar que Stevenson de forma alguma provou o que ele queria, isto é, que a mente — o segundo corpo — existe em um espaço que seja tão objetivo quanto o espaço físico, (pág. 245).

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Em resposta, C. D. Broad, C. J. Ducasse, e H. H. Price, (entre outros) de fato identificaram a mente sobrevivente como um objeto que compartilha com os objetos físicos algumas propriedades físicas em comum, e assim eles sustentavam um dualismo de substância cartesiana modificada que permitia a sobrevivência pessoal de uma substância que tinha que ser estendida sem ser inteiramente identificável com objetos físicos como nós os compreendemos agora. Além disso, se nós tivermos mentes (distintas dos cérebros e não reduzíveis aos cérebros ou a propriedades biológicas causadas por estados do cérebro) elas certamente são estendidas de alguma maneira, já que a minha mente estaria em todo lugar que eu estivesse e não em outros lugares. Por isso a minha mente existiria no espaço real, a saber, porque o meu corpo está no espaço real e minha mente está em qualquer lugar onde meu corpo está. Em vez de chamar Stevenson, C. D. Broad e todos os outros dualistas da mente-corpo (tais como Platão, Aristóteles, todos os medievais, Locke, Berkeley, Descartes, Leibnitz, Spinoza, Kant, até MacTaggart, Sidgwick, Ducasse, James, Peirce, David Lewis, e David Chalmers) de crentes de carteirinha no oculto, por que não chamá-los de metafísicos, que criam entidades teóricas porque a existência de tais entidades fornece um poder explanatório original para o corpo de dados que não pode ser explicado plausivelmente de outra maneira? Afinal de contas, foi assim que viemos a acreditar nos quarks e nas partículas contidas neles.

E, além disso, para o autor, as invasões de ventres precisariam de uma explicação. Como os corpos não físicos conseguem invadir ventres? Aqui outra vez, de acordo com o autor, a menos que nós possamos explicar como a personalidade sobrevivente (ou parte da pessoa) consegue invadir ventres com a finalidade de reencarnar, nós não temos nenhuma razão para acreditar que a reencarnação ocorre. Em resposta, claro, é útil recordar que a forma defensável da reencarnação, a forma minimalista, não implica nada a respeito de quando a reencarnação ocorre. Até onde sabemos, ela ocorre imediatamente após o nascimento, sem o auxílio, caso digamos assim, de invasões não bem-vindas do ventre.

O Capítulo 16 é sobre o Dr. Ian Stevenson. Após ridicularizar minhas declarações de apoio ao trabalho de Stevenson, o autor afirma então, no processo de exame das visões de Stevenson, que qualquer um que acredite em reencarnação baseia-se em uma série de suposições colaterais dentre as quais as mais importantes são: 

a) quando o ser humano morre, continua a existir não na Terra, mas em uma região que nós não conhecemos como uma mente desencarnada pura ou como um corpo astral ou algum outro tipo de corpo não físico;

(b) embora privado de seu cérebro, retém memórias da vida na Terra assim como algumas de suas habilidades e traços característicos;

(c) após um período que varia de alguns meses a centenas dos anos, esta mente pura ou o corpo não-físico, ao qual falta não somente um cérebro mas todos os órgãos físicos do sentido, escolhe uma mulher apropriada na Terra como sua mãe na encarnação seguinte, invade o ventre desta mulher no momento da concepção de um embrião novo, e une-se a ele para formar um ser humano desenvolvido;

(d) embora a pessoa que morreu possa ter sido um adulto e certamente bem idoso, quando renasce começa uma vida nova com as atitudes intelectuais e emocionais de um bebê;

(e) finalmente, muitas pessoas nascidas desta maneira não viveram antes na Terra, mas (dependendo de qual versão da reencarnação se prefere) em outros planos ou em outros planetas, de onde migram (invisíveis, naturalmente) a maioria delas preferindo adentrar os ventres das mães de países pobres e superpopulosos onde provavelmente terão vidas infelizes;

(f) as suposições colaterais listadas até então são aceitas por praticamente todas as formas de reencarnação, mas no caso de Stevenson há a implicação adicional de que as memórias e as habilidades que o indivíduo assumiu da pessoa que morreu e que são transmitidas ao novo corpo aparecem lá por um tempo relativamente curto durante a infância e em seguida desaparecem para sempre;

(g) se os relatórios de Stevenson forem evidência para a reencarnação, eles devem ser também evidência para as suposições colaterais mencionadas (pág. 255). Para o autor, todas estas suposições constituem o crucifixo da razão, e uma pessoa racional concluirá que os relatórios de Stevenson são seriamente defeituosos ou que os seus alegados fatos podem ser explicados sem recorrer à reencarnação. Em resumo, a presunção inicial contrária à reencarnação é tão forte que a tarefa de refutá-la será bem difícil. Ele então diz: 

De uma forma simplificada, a pergunta diante de uma pessoa racional pode ser dita nas seguintes palavras: O que é mais provável que há corpos astrais, e que eles invadem os ventres das futuras mães, e que as crianças podem recordar eventos de uma vida anterior embora os cérebros das personalidades precedentes estejam por muito tempo inoperantes, ou que as crianças de Stevenson, seus pais ou algumas das outras testemunhas e informantes não estão, intencional ou involuntariamente, dizendo a verdade: que eles estão mentindo, ou que suas memórias e capacidade de observação muito falíveis levaram-lhes a fazer declarações falsas e identificações enganosas? (pág. 256) 

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Em resposta a tudo isso, observe que, dada a definição acima da tese minimalista da reencarnação (essa forma de reencarnação a qual Stevenson discute exclusivamente nos termos dos estudos de caso que ele apresentou), as sentenças declarando as suposições colaterais a, c, e, f, e g são claramente falsas. A e d são verdadeiras, mas dificilmente constituem uma “crucificação da razão” ao invés do que está implícito pela tese minimalista.

Além disso, os filósofos reconhecerão o tipo de argumento oferecido na última das citações acima. Não é diferente da passagem bayesiana feita por David Hume, oferecida em um de seus argumentos contrários à existência dos milagres. O argumento em questão é que já que, além da evidência em mão, não há nenhuma probabilidade anterior para um evento extraordinário como um milagre, e como há certamente uma probabilidade razoavelmente grande de erro baseada na simples percepção do sentido e na falibilidade humana, então é obviamente mais provável que os milagres não existam.

Ninguém precisa acreditar em milagres para notar que o argumento de Hume é um caso de petição de princípio tanto quanto o que se poderia sempre encontrar em qualquer livro introdutório de lógica. A estrutura da estratégia do argumento prossegue assim: sempre que alguém oferece um argumento que desafia a ideia do paradigma do monismo materialista, afirma-se que não existe nenhuma probabilidade real em seu favor porque isso entra em conflito com aquelas teses que têm uma probabilidade prévia de estarem corretas porque são consistentes com o que nós já sabemos, a saber, o que é afirmado na ideia do paradigma. Nesse caso, então qualquer probabilidade em favor do erro e fraude humanos nestas questões mostrará que a evidência oferecida contrária ao paradigma é defeituosa. Há muito vodu epistemológico nesta passagem bayesiana particular, aparte da afirmação implícita que toda explanação adequada de qualquer coisa deve ser consistente com o paradigma atual. Se esta estratégia fosse segura, então nunca haveria qualquer maneira de mostrar que a teoria do paradigma é falsa, ou crucialmente defeituosa. Há outras razões pelas quais essa passagem bayesiana é inaceitável, mas o espaço aqui proíbe qualquer discussão adicional.

Neste capítulo também temos uma discussão intitulada Furos nos Casos de Reencarnação. Estes casos são supostamente melhor lidos no resumo do que quando são examinados de perto (pág. 256). De acordo com o autor, todos eles têm grandes furos. Isto nós supomos saber, naturalmente, porque o autor examina um caso que aparece originalmente em Casos do Tipo de Reencarnação, Volume Um Dez Casos na Índia (1975). Este é o caso de Jagdish Chandra, nascida em 4 de março de 1923. Aqui o autor examina na verdade (após nos ter lembrado que mostrou falhas fatais no caso de Corliss Chotkin) apenas um dos casos fornecidos por Stevenson e criticados por J. Fraser Nicol (Parapsychological Review, 1976). O autor simplesmente repete as afirmações feitas por Nicol sobre este único caso, e se aproveita do fato que nem Stevenson nem nenhum de seus associados se dão ao trabalho de responder à crítica de Nicol. Na verdade, Stevenson respondeu (de forma bem convincente, eu diria) à crítica principal de Nicol deste caso. A resposta ocorre em Crianças Que Lembram Vidas Passadas (University Press of Virginia, 1978) pág. 297, nota #19. Mas, em face da supostamente devastadora objeção oferecida por Nicol, (e não respondida por Stevenson ou por qualquer outra pessoa) a explicação alternativa alegadamente plausível para os dados no caso de Jagdish Chandra é simplesmente que o caso em questão é uma fabricação religiosa frequente na Índia. Em função das outras características do caso (tais como alegações verificadas da memória de eventos que somente a personalidade anterior poderia ter sabido) esta explicação alternativa não poderia explicar fatos cruciais no caso, fatos ignorados pelo autor e por Nicol. Além disso, mesmo que o autor estivesse certo em rejeitar o caso Jagdish Chandra pelas razões oferecidas por Nicol, é lógico que generalizar isso para os milhares de casos restantes nada mais é do que um último suspiro no esforço de nos convencer que todos os casos fornecidos (sob quaisquer dos três tipos distintos) possuem grandes furos.

Neste capítulo o autor endossa também uma outra crítica de um outro caso oferecido por Stevenson. Desta vez o caso é o de Sujith e a crítica é feita por B. N. Moore cujo criticismo principal é que a personalidade anterior morreu apenas seis meses antes do nascimento de Sujith. A mãe de Sujith disse que ele nasceu após sete meses de gravidez (algo que não foi confirmado independentemente), (pág. 258). Em outras palavras, de acordo com Moore, a mãe de Sujith estava grávida dele um mês antes de a personalidade anterior ter morrido. De qualquer modo, e já respondendo, quaisquer que sejam os fatos embriológicos, a objeção pressupõe claramente que toda forma de reencarnação diz que a reencarnação precisa ocorrer em algum momento muito cedo no processo de gestação, quando de fato a crença mínima, tal como definida acima, não faz essa suposição. Toda evidência para a forma defensável da reencarnação é consistente com a crença de que a reencarnação ocorrendo em qualquer hora durante o período de gestação, ou no momento do nascimento, ou logo após o nascimento. E assim vai.

Neste capítulo, o autor repete as objeções aos estudos de caso de Stevenson, objeções levantadas por Wilson, Roll e Chari. Estas críticas eu já havia discutido em meu livro (Almeder, 1992), mas o autor escolheu ignorá-las. E, naturalmente, é necessário que consideremos as objeções que o autor atribui a um antropólogo, o Dr. Barker. Barker não pôde encontrar um caso convincente no qual houvesse uma evidência forte da presença de um elemento paranormal. A razão disto contar como evidência contrária à reencarnação em vez de mostrar a falha do Dr. Barker em ler ou compreender os casos os mais interessantes é completamente impenetrável.

Aqui também o autor levanta a questão de porque a maioria dos casos relatados ocorre fora do mundo ocidental. Sua resposta é que naqueles países onde tais casos são relatados o nível da inteligência é consideravelmente mais baixo e, mais frequentemente, em culturas onde as pessoas já acreditam na reencarnação. A implicação é óbvia: nós somente encontramos tais casos onde o fanatismo religioso e a ignorância reinam supremos nas culturas onde há uma crença prévia na reencarnação. Nos Estados Unidos, por exemplo, o relatório de tais casos é quase inexistente porque, de acordo com o autor, dada a presença de críticos inteligentes, os casos não poderiam se sustentar sob uma investigação cuidadosa.

Em resposta a esta objeção, pode ser útil recordar que, embora seja tentador interpretar os casos relatados pelas fontes não-ocidentais como construções culturais, os casos mais ricos dependem de alegadas memórias do sujeito sobre os eventos verificados da vida anterior que somente a personalidade anterior poderia saber ou ter testemunhado. Tais casos também incluem por vezes o sujeito falando na língua da personalidade anterior, uma língua que o sujeito não aprendeu em sua vida atual. Em nenhum caso nós encontramos um caso particularmente evidente em que as memórias do sujeito pertencessem a itens de informação que fossem matéria de registro público e, portanto, conhecidos da família imediata ou parentes próximos. Além disso, há um número substancial de casos críveis nos Estados Unidos, na Inglaterra, e no Canadá. Stevenson está preparando esses casos para publicação, um livro de casos na América. O autor permanece convencido, naturalmente, que mesmo após a publicação deste livro, não haverá nada de qualquer valor evidencial real nos casos examinados. Antes de sequer olhá-los, o autor está certo de que serão revelados furos quando examinados.

Embora haja um número substancial de casos relatados e examinados nos Estados Unidos, a hipótese de Stevenson sobre por que não houve tantos casos relatados nos Estados Unidos como em outros países é que, entre outros fatores, as crianças americanas são mais frequentemente persuadidas a não contar tais histórias. Ele também entretém a hipótese de que esse último fenômeno poderia igualmente ser devido ao fato de que se existe um grande número de reencarnações nos Estados Unidos, então, já que as pessoas frequentemente reencarnam no mesmo local, as crianças reencarnadas nos Estados Unidos provavelmente possuem alguma disposição prévia para desacreditar fortemente e, portanto, não considerar seriamente o que de outro modo contaria como memórias persuasivas de uma vida passada. A esta hipótese o autor responde com os seguintes comentários filosóficos:

Stevenson evidentemente vive num mundo de lunáticos, e ele considera as suposições mais loucas e mais visionárias, muitas delas são de coerência conceitual questionável, como estando em pé de igualdade com hipóteses empíricas diretas. Ele recorre a tais extravagâncias sempre que questão da relação entre fatores culturais e reencarnação é levantada (pág. 268).

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Contudo, ainda que a explicação de Stevenson para o fato de não termos muitos casos evidenciais relatados nos Estados Unidos não seja diretamente verificável, ela não é de forma alguma incoerente. Além disso, a objeção do autor (se é que pode ser chamada de objeção) negligencia o fato de que há agora um número substancial de casos críveis nos Estados Unidos, e a questão importante é explicar os dados dos casos mais ricos, onde quer que ocorram, quando apenas o apelo a fatores culturais fracassa, como fracassa nos casos mais ricos. De fato, como as pessoas têm frequentemente notado, o apelo aos fatores culturais para explicar os casos mais ricos fracassa visivelmente quando se observa os detalhes dos casos fornecidos. O autor, naturalmente, não analisou esses argumentos nem nos casos mais ricos que não se prestam à tese de que tais casos são fabricações culturais ou religiosas. Finalmente, Stevenson examinou e publicou vários casos em que os sujeitos alegam recordar terem vivido vidas passadas e concluiu que nesses casos as declarações do sujeito são de pouco valor evidencial e não devem ser vistas como verificadas. Nesses casos, as hipóteses alternativas são plausíveis, se não mais plausíveis. Todos nós sabemos o que contaria empiricamente para falsificar a hipótese da reencarnação, mas parece claro que o autor não sabe o que contaria empiricamente para falsear sua afirmação de que esta hipótese jamais poderia ser verdadeira.

No fim, ainda que não houvesse nenhum caso de reencarnação relatado nos Estados Unidos, isso não mostraria que os casos relatados em países estrangeiros são descartáveis como fabricações culturais. Por tudo o que nós sabemos, isso poderia muito bem mostrar que, por uma razão ou outra, as pessoas simplesmente não reencarnam nos Estados Unidos. Além disso, quem disse que se a hipótese minimalista da reencarnação for verdadeira então as pessoas reencarnarão em cada área geográfica no planeta de modo que nós teríamos uma ótima distribuição geográfica politicamente correta? De fato, independente de quão interessante isso possa ser, ninguém precisa explicar porque pode não haver nenhum caso relatado em alguma área geográfica particular; o problema para o autor e outros é explicar os dados nos casos em que aparecem e quando o apelo a fatores culturais fracassa, como ocorre claramente nos casos mais ricos. Ainda assim, há muitos casos notáveis relatados nos Estados Unidos e alguns destes aparecerão numa publicação futura de Stevenson sobre casos americanos.

A afirmação do autor de que Stevenson tem uma tendência para fazer declarações totalmente infalsificáveis (pág. 269) é uma afirmação irresponsável. A crença na reencarnação é uma hipótese empiricamente falsificável e verificável por todas as razões que nós vimos acima, e os dados que confirmam ou que falsificam a hipótese em cada caso particular estão nos dados oferecidos para esse caso. Além disso, o autor tenta destruir a evidência para a reencarnação atacando Stevenson por mau julgamento por causa do assim chamado relatório de Ransom. O Sr. Ransom era um assistente de Stevenson de muitos anos atrás que alegou ter ficado desiludido em trabalhar nos casos tipo reencarnação porque achava que os métodos empregados eram problemáticos, e que havia alguma forma de indução nos métodos investigativos. Ransom disse isso em 1970. Disse também que havia uma tendência entre os investigadores para encontrar o paranormal onde achava que não existia. Ele escreveu também um sumário de suas reflexões para o autor (veja pág. 276) em que ele afirma, inter alia, que em somente 11 dos 1.111 casos examinados no início do projeto de pesquisa não houve contato prévio entre as duas famílias antes que a investigação científica tivesse começado (pág. 277).

Independe de ser verdade ou não, o que Ransom diz é certamente interessante. Naturalmente, se as declarações que Ransom escreveu na correspondência privada forem verdadeiros, alguém também pode vê-las como apoio à alegação de que pelo menos em 11 dos 1.111 casos examinados no início do projeto de pesquisa nós temos uma evidência forte para a reencarnação. Por acaso Stevenson afirmou que aqueles 1.111 casos examinados eram todos casos verificados ou casos particularmente ricos? O autor leu o prefácio de Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação e a introdução (pág. 17) de Crianças Que Lembram Vidas Passadas? Em ambos Stevenson afirma claramente que nenhum caso pode ser um caso evidentemente paranormal se a informação que o sujeito tem sobre uma vida anterior puder ter sido conhecida pela família do sujeito ou pela família existente do sujeito na alegada vida anterior por meios normais. O ponto aqui é que precisamos examinar os casos mais ricos que Stevenson e outros oferecem como casos fortes e ver se eles possuem os defeitos metodológicos que o Sr. Ransom diz que possuem. Em nenhum dos casos verificados como sendo mais ricos e que apoiam a tese minimalista (de que algumas pessoas reencarnam) se encontrará todos os tipos de problemas metodológicos que o Sr. Ransom alegou haver. Além disso, citar uma correspondência confidencial sem oferecer a Stevenson uma oportunidade de responder também parece prejudicialmente tendencioso e não é de nenhum valor evidencial quando os casos oferecidos como evidência rica não têm nenhum problema metodológico com as características citadas pelo Sr. Ransom. Aqui, outra vez, se alguém tiver tempo de olhar o grande e crescente número de estudos de caso atualmente fornecidos (e eu acredito que muitos poucos críticos realmente ajam assim), as críticas do Sr. Ransom e de outros sobre a metodologia empregada sumirão. Deixemos que eles comecem com o caso de Swarnlata, e vejamos se o que Ransom diz se encaixa.

O último capítulo é sobre a consciência, e o autor desenvolve o que chama de “o argumento mais forte”, a saber, que se qualquer um soubesse as mínimas coisas sobre ciência veria prontamente que a consciência não pode existir de forma independente de um cérebro. Para o autor, a evidente ou óbvia dependência da consciência em relação ao cérebro torna a reencarnação e as outras formas da sobrevivência pessoal impossíveis. Ele também nota que de acordo com H. H. Price a evidência para a reencarnação é o melhor desafio aos dados contra o materialismo, compreendido como a visão de que a consciência é um estado particular do cérebro ou uma propriedade biológica de um estado particular do cérebro. O autor rejeita este argumento primeiramente por causa de todos os furos que observou já nos estudos de caso. Nesta discussão, além disso, o autor não mostra nenhuma consciência dos argumentos e da literatura sofisticada oferecidos por muitos filósofos, tais como Noam Chomsky, C. D. Broad, David Lewis, David Chalmers, e John Smythies, por exemplo, no problema dos qualia ou em outras razões de por que o materialismo reducionista, como geralmente é compreendido, é extremamente insatisfatório. Assim sendo, nós podemos argumentar que os desafios empíricos mais fortes para a visão do autor de que a consciência não pode existir independentemente de cérebros são oferecidos nos melhores estudos de caso fornecidos por Stevenson e outros, a maioria dos casos (incluindo casos de xenoglossia) sendo ignorada pelo autor que equivocadamente generaliza a partir de casos fracos e impressionantemente diferentes como o caso Chotkin e o caso Bridey Murphy.

Finalmente, o autor afirma também frequentemente em seu livro, sem mostrar tanto quanto deveria, que as visões daqueles com quem ele discorda foram criticadas de forma devastadora por outros, e que aqueles que discordam do que o autor afirma são culpados de várias distorções violentas, para não dizer formas de desilusão, estupidez, insanidade, malícias e mentiras sagradas. Certamente parece para esse autor que qualquer um que tenha acreditado sempre no dualismo mente-corpo é um tolo filosoficamente incompetente ou um patife desonesto e na maioria das vezes ambos os casos. Mas os bons argumentos para sua linha de ataque nunca estão lá. De fato, este livro pode permanecer como um monumento permanente de falácias do tipo ad hominens, falsas acusações de falácias, espantalhos, generalizações ilegítimas e de falsa erudição.

Isso é tudo parte da retórica do autor de procurar envenenar a fonte para qualquer defesa honesta do dualismo mente-corpo. É deste modo que a estratégia funciona: pegue alguns defensores famosos de uma determinada tese (preferivelmente alguém que não seja um filósofo ou um cientista… alguém tal como Shirley Maclaine ou Sylvester Stalone) e mostre como suas declarações sobre a existência de mentes são dignas de sarcasmo e de ridículo; e então se você cruzar com um filósofo ou um cientista de ponta que possa fazer um exame sério da questão, ignore-o ou ridicularize-o distorcendo suas visões. Desta maneira, alguém pode obter sucesso envenenando a fonte sem examinar os argumentos mais fortes; e criando também uma hostilidade emocional à tese afirmando simplesmente que todas as pessoas que adotam estas visões são igualmente ridículas. Ajudará também se você puder insinuar que suas esposas os deixaram por uma pessoa psicologicamente mais normal. Depois disso, assegure a todos que a razão pela qual você fez tudo isso foi para, desinteressadamente, levantar o padrão moral e intelectual da Civilização Ocidental somente por interesse e amor à verdade, que esta muitíssimo ameaçada até mesmo por aqueles que consideram a opinião que você rejeita como levemente plausível. Então quando alguém finalmente chegar aos interessantes argumentos para a crença na reencarnação ou no dualismo mente-corpo (como no capitulo 17) distorça-os, altere-os de várias maneiras não sutis, depois caminhe em direção ao sol poente, tendo derrotado um inimigo pessoal… todos os quais caem, naturalmente, na categoria de fanáticos religiosos fundamentalistas. Dessa maneira avançamos na causa da formação da crença racional.” 

De fato, este livro relembra a afirmação de Bertrand Russell de que nada o convenceu mais da Teoria de Platão das Formas do que a crítica de Aristóteles a ela. Mas pelo menos Aristóteles teve o bom senso de perceber que xingar a mãe, distorcer brutalmente ou ignorar os argumentos centrais das outras pessoas não é nem filosófico nem particularmente informativo.

Qualquer coisa boa que este livro possa ter feito ao apontar os excessos da comunidade nova-era é eclipsada por uma falha completa em fazer o que se comprometeu a cumprir. Se a boa lógica contar para alguma coisa, o autor não percebe que enquanto aponta para aqueles que acreditam na reencarnação como fanáticos religiosos ou incompetentes mentais, há três dedos que apontam para si próprio. 

Apêndice 

Em uma página de rodapé que ocorre na pág. 254, o autor diz: 

Eu deveria odiar ter Almeder como um defensor. Nós já mostramos sua afirmativa falsa de que Nietzche era um crente na reencarnação. Em um artigo dele, o qual foi rejeitado pela Free Inquiry em 1988 e listado em seu livro de 1992 como “Futuramente na Free Inquiry.” No Capítulo Dois de seu livro ele apresenta como um fato estabelecido o caso de reencarnação do Dr. Arthur Guirdham que foi completamente exposto em Mind Out of Time de Ian Wilson. Almeder menciona o livro de Wilson numeras vezes, mas não compartilha com o leitor a exposição de Wilson feita por Guirdham. Na recente revisão devastadora de Beyond Death de Almeder no Journal of Psychical Research (abril de 1989), o revisor, Michael Coleman, depois de listar numerosas distorções bastante ultrajantes, observa: “Tais práticas seriam repreensíveis para um leigo, e são indesculpáveis em um filósofo profissional”. Eu não poderia concordar mais.

Para registrar, e como meio de resposta, enquanto alguém ainda possa defender a afirmação de que Nietzsche argumentou a favor de alguma forma de reencarnação (embora, certamente, não a versão minimalista esboçada acima), eu nunca disse que a tese minimalista era plausível ou mesmo digna de crédito porque outros filósofos famosos acreditaram nela. Assim, se Nietzsche, ou qualquer outro no tocante a esse assunto, chegou a acreditar na reencarnação, isso é irrelevante para o argumento principal que eu ofereci na defesa da crença na reencarnação. Nenhum filósofo antes de Stevenson teve tanta evidência reunida. Concentrar-se na questão de se Nietzsche acreditava ou não na reencarnação ao mesmo tempo em que se ignora o que eu de fato argumentei (especialmente por meio de resposta às visões anteriores de Edwards que reaparecem neste livro) é uma falácia conhecida como arenque vermelho. Se cometi um erro sobre o que Nietzsche argumentou a esse respeito, isso não é nada perto da afirmação do autor de que qualquer um que tenha chegado a acreditar no dualismo de substância mente-corpo cartesiano é um crente irracional no oculto porque isso implica na crença da existência de corpos astrais do tipo que o autor descreveu. Eu admitirei com satisfação que estava errado ao atribuir qualquer forma razoável de reencarnação a Nietzsche, e adicionarei então por substituição os nomes de McTaggart, Price, Ducasse, e C. D. Broad… a uma lista de outros incluindo Platão. Mas, repetindo, fazer isso é irrelevante ao argumento principal e, se alguém tomar isso como evidência para a reencarnação, é um exemplo simples da falácia de apelo à autoridade.

Segundo, em resposta ao segundo comentário dele (que eu listei em meu mais recente livro, um ensaio que foi rejeitado pela Free Inquiry), eu tenho uma cópia dos rascunhos corrigidos desse ensaio que foi solicitado e, após as revisões e abreviações apropriadas, aceito para publicação em 1986 pelo editor daquela época.

Após numerosos telefonemas interrogativos e cartas que não foram respondidas pelo editor, eu fui informado somente muito recentemente pelo editor atual, o Sr. Madigan, que ele não sabia nada sobre o artigo, mas que eu poderia, se eu assim o quisesse, escrever um outro artigo sobre humanismo e reencarnação e o submeter à Free Inquiry para a revisão editorial e possível publicação. O que é interessante é que ele nunca pediu para ver os rascunhos do ensaio anterior, e aparentemente não se eu ao trabalho de entrar em contato com o editor anterior que aceitou o ensaio para publicação. Eu considero esta última carta uma confirmação para a reivindicação que a Free Inquiry convidou e aceitou um artigo para a publicação, que subsequentemente não foi publicado, sem informar o autor até dez anos depois que os rascunhos corrigidos foram enviados. Naturalmente, eu não vou listar este ensaio futuramente.

Em terceiro lugar, no que diz respeito ao caso do Dr. Guirdham e à reivindicação do autor que eu apresentei como um fato estabelecido (significando, presumivelmente que eu o apresentei como uma evidência conclusiva a reencarnação); o que eu discuti naquela seção era talvez, que o caso de Bishen Chand e o caso de Swarnlata eram os mais fortes. O que eu disse sobre a investigação de Guirdham, ou o caso da Sra. Smith foi o seguinte: 

O caso da Sra. Smith não pode combinar todas as características ideais e típicas, envolvendo uma vida passada. Mas a xenoglossia recitativa exibida pela Sra. Smith, e sua consistente memória de fatos históricos anteriormente desconhecidos mas então frequentemente verificados, qualifica o caso como digno da consideração séria no contexto deste estudo.

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Todos os casos que eu discuti foram listados como tipos de casos. Eles tipificam determinadas características lógicas que seriam difíceis de explicar assumindo a ausência de fraude, engano, de influências culturais, ou de metodologia equivocada. Nos casos que eu listei como excelentes, havia uma forte evidência de que a fraude, o engano, a influência cultural, e a metodologia equivocada não poderiam ser levadas seriamente em consideração como a causa dos dados. No que diz respeito ao caso da Sra. Smith, eu discuti mais tarde (pág. 30 de Death and Personal Survival) que a xenoglossia recitativa nestes casos não poderia ser refutada pelas razões que Thomason ofereceu.

E eu não sei de ninguém (exceto Wilson) que tenha mostrado que as memórias de Smith de eventos passados sobre as coisas que não eram parte do registro do público poderiam ser explicadas normalmente. Isto não poderia ser explicado por apelo à paramnésia, ou à criptomnésia ou às forças culturais porque as evidências que confirma aquelas memórias não estavam disponíveis a ela ou a qualquer um no momento que ela fez a primeira afirmação (eu me refiro à cor das vestes usadas pelos cátaros oradores, por exemplo). E no caso de Swarnlata, houve 20 momentos em que alguém escreveu que a criança disse muito tempo antes de qualquer tentativa para verificar essas alegações. Finalmente, após ter discutido a possibilidade de fraude, de engano e de metodologia equivocada como uma maneira de explicar os casos mais fortes, o que eu disse no livro foi simplesmente isto: 

De fato, por sermos incapazes de mostrar que os estudos de caso são falhos em algum dos aspectos sugeridos, o que os casos revelam é que a personalidade humana (o que quer que ela seja), sobrevive à morte e, por implicação, a consciência humana pode (ênfase adicionada) existir (junto com memórias preposicionais e habilidades não-oferecidas) independentemente de cérebros, vigorar por um período sem um corpo como nós conhecemos, e reencarnar. Então, a declaração de que tudo isto é simplesmente inacreditável demais para qualquer pessoa racional acreditar é um gritante caso de refutação de questionamento, indigno de uma resposta racional.

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Em quarto lugar, a revisão do Sr. Coleman de meu livro anterior não era uma revisão “devastadora que menciona numerosas distorções ultrajantes”. Esta é uma afirmação geral que o autor faz de muitos outros livros. Ele nunca menciona exatamente o que torna as revisões “devastadoras”; ou sequer quais eram as “distorções.” Eu vi o criticismo de Coleman como um criticismo deficiente em não escrever um livro diferente, a saber, mais ambicioso. Eu respondi à sua crítica, de todo modo, escrevendo Death and Personal Survival onde eu mostrei como sua crítica básica, uma crítica de um caso no livro mais recente, foi um engano. Por outro lado, Coleman reivindica que eu negligenciei os criticismos importantes que ele fez dos casos que eu discuti no livro mais recente. De qualquer modo, eu imagino se Edwards está ciente de outras revisões positivas e generosas oferecidas mesmo por outros… incluindo o editor do Journal of Psychical Research (onde a revisão original de Colemen ocorreu) que considerou o livro excelente. No mesmo jornal, eu também respondi recentemente a algumas das reservas recentes de Coleman sobre o meu último livro. Sem duvida, Edwards encontrará nos últimos comentários de Coleman uma crítica “devastadora ao apontar as numerosas e ultrajantes distorções”; e não verá nenhuma necessidade real para mencionar quais eram os argumentos, ou mesmo que uma resposta foi oferecida. 

Referência 

Almeder, R. (1992). Death and Personal Survival, the Evidence for Life after Death. Lanham, MD: Rowman and Littlefield.

Este artigo foi traduzido por Vitor Moura Visoni e revisado por Inwords.


[1] Nota do Editor: Através de um intermediário, Edwards recusou uma oferta de publicar uma resposta a este artigo. Veja também nesta edição do Journal (pág. 569) uma revisão adicional do livro de Paul Edwards Reencarnação: Um Exame Crítico (Amherst, New York: Promethius Books, 1996) por James G. Matlock.

11 respostas a “Uma Crítica aos Argumentos Oferecidos Contra a Reencarnação (1997)”

  1. Sandro Diz:

    Parabéns pelo post!
    Com certeza, a “crença” religiosa é muito mais simples do que a Teologia, Filosofia e a Ciência em buscar explicações sobre a existência ou não de reencarnações ou vida após a morte. Creio que a solução mais simples seja mais elegante…
    Impressionante do texto acima, foi uma certa “desonestidade” intelectual de um “doutor”, ou seja, alguém que deveria buscar a verdade acima de tudo…mas que só busca argumentos para apoiar o seu ponto de vista…complicado!

  2. Sergio Diz:

    Apenas alguns pontos:

    Refutar um trabalho apoiado em uma
    ‘tese minimalista ‘ de reencarnação me parece um bom exercício, mas de pouco mérito.

    “Esqueçam que isso faz de Platão, Aristóteles, todos os melhores filósofos medievais, Descartes, Leibnitz, Spinoza, Locke, Berkeley, Kant (para intérpretes) crentes no oculto porque acreditaram na existência das mentes, o ponto importante é que isso faz deles insanos ou semi-insanos.”

    Falacia do apelo à autoridade (alheia).

    “Em resposta a esta objeção, é fácil determinar se as memórias alegadas de uma pessoa são falsas. Se for possível mostrar que o evento alegado nunca ocorreu, então a memória alegada é falsa”

    É possivel provar que ealgo nunca ocorreu?
    Isso não seria inversão de ônus da prova?

  3. Vitor Diz:

    Oi, Sergio
    sim, é possível provar que algo nunca ocorreu, o próprio exemplo do tesouro enterrado que o autor fornece mostra isso. E não se trata aqui de inversão do ônus da prova, mas de investigação pura e simples.

  4. João Diz:

    Olá Vitor, se puder responder, você teria como me dar acesso à publicação sobre reencarnação na Nature? Se puder enviar ao meu e-mail agradeço.

  5. Robespierre Diz:

    Vitor,

    Deixa eu fazer umas perguntas:

    – Muitos casos de reencarnação (Tirando marcas de nascença) não poderiam ser explicados por possessao? Acho que Swedenborg dizia isso….

    – Porque a maior parte das pessoas que passam por EQM não relatam a reencarnacao? Obs: Muitos até são reencarnacionistas, mas as pesquisas de Keneth Ring dizem que essa crença é posterior ás experiências.

    – Não é muita coincidência 99% dos casos acontecerem em culturas reencarnacionistas? indianos lembram mais porque reencarnam mais que suiços ou americanos? estes últimos nao reencarnam (Acho que é vc que fala que reencarna quem quer) ou reencarnam menos, por isso a desproporção nos números?….etc etc. Qual a explicacao dos estudiosos do assunto acerca deste tema ?

  6. Vitor Diz:

    Oi, Robespierre
    .
    1. Stevenson faz uma excelente discussão diferenciando reencarnação de possessão em seu livro 20 Casos Sugestivos de Reencarnação. Mas se é possessão, por que ela findaria por volta dos 7 anos? E por que a criança não é possuída por outros espíritos?
    .
    2. Há casos de pessoas que relatam que iriam reencarnar caso não tivessem sido reanimadas. Porque isso não acontece com a maioria deve-se ao fato que a reencarnação não precisa ser instantânea, e a EQM dura geralmente alguns minutos apenas. Aliás, se a pessoa tivesse reencarnado durante a EQM, não haveria EQM… ela estaria morta no corpo antigo…
    .
    3.Essa sua última pergunta é respondida nesse mesmo artigo: “a hipótese de Stevenson sobre por que não houve tantos casos relatados nos Estados Unidos como em outros países é que, entre outros fatores, as crianças americanas são mais frequentemente persuadidas a não contar tais histórias. “

  7. João Panegalli Diz:

    Olá Vitor, estava lendo alguns comentários seus antigos e vi que você postou algo sobre uma pesquisa ( envolvendo neurologia) para checar se as memórias das crianças são legitimas ou falsas, alguma novidade sobre isso?

  8. Vitor Diz:

    Oi, João
    ainda sem novidades.
    Um abraço.

  9. Robespierre Diz:

    Que pesquisas sao essas? esses neurologistas sao brasileiros?

    O vitor, eu ja vi voce falando varias vezes que a reencarnacao pode nao ser obrigatória…como vc chegou nessa conclusao? Abraço

  10. Vitor Diz:

    Robespierre,
    os neurologistas não são brasileiros, Jim Tucker comenta sobre essas pesquisas no capítulo final do seu livro “Vida Antes da Vida”
    .
    Sobre a reencarnação não ser obrigatória, é só uma hipótese, não uma conclusão.

  11. Robespierre Diz:

    Vc tem esse livro pra download? se tiver, me manda por favor. Valew

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