Crimes e Desaparecimentos resolvidos com a ajuda de médiuns ou psíquicos – parte 5 (2013)

Este artigo, do escritor Michael Prescott, é uma réplica ao artigo anterior escrito por um cético (Tony Youens) tentanto explicar o caso de Jacqui Poole por meios normais.

O assassinato de Jacqui Poole 

Um dos casos mais convincentes e mais bem documentados da mediunidade envolve a morte de uma garçonete de 25 anos que trabalhava em meio expediente chamada Jacqueline Poole, ocorrida em 11 de fevereiro de 1983, no subúrbio de Ruislip, parte oeste de Londres. Assassinada na sexta-feira à noite, Jacqui Poole foi encontrada morta em seu apartamento, no dia 13 de fevereiro (domingo), pelo pai de seu namorado, o qual obteve acesso por uma janela e descobriu-a no chão da sala. Ela havia sido estuprada, espancada e estrangulada.

No dia seguinte, segunda-feira, uma jovem chamada Christine Holohan, que estava estudando para se tornar uma médium profissional, soube do assassinato através de alguns amigos. Naquela noite, ela teve uma visão perturbadora de uma mulher que se chamava “Jacqui Hunt” e não Jacqui Poole. Embora a informação não tivesse sido tornada pública na época, mais tarde se descobriu que Hunt era o nome de solteira de Jacqui Poole.

Na terça-feira à noite, Holohan teve um segundo contato com Jacqui Poole, no qual ela percebia algo como um “esboço branco de uma pessoa… [uma] energia branca de luz … [e] uma voz clara” em seu ouvido.

Em seu artigo oficial “A Possibly Unique Case of Psychic Detection”,* Guy Lyon Playfair e Montague Keen relatam o que Jacqui Poole disse a Holohan:

Holohan disse que Poole supostamente teria ido trabalhar na noite do assassinato, dois homens tendo ligado para ela, mas ela decidiu não ir pois não estava se sentindo bem. Ela então recebeu uma visita de um homem que ela conhecia, um amigo de um amigo que ela nunca tinha gostado. Ela o deixou entrar, pensando que ele podia ter uma mensagem de seu namorado… 

Tendo sido dada essa informação (que mais tarde provou-se estar correta), Holohan foi à polícia, e esteve com o agente policial Tony Batters e o detetive Andrew Smith. No primeiro momento, compreensivelmente, eles não a levaram a sério, mas quando ela forneceu algumas informações específicas relativas ao agente Smith, sua atitude mudou. Anotações detalhadas de Batters indicam que ela forneceu uma grande quantidade de informações, um total de 130 itens separados. Seu único erro aparente foi dizer que o assassinato ocorreu “numa noite de sábado”, quando na verdade, foi na sexta-feira à noite. Curiosamente, a data do assassinato era uma das poucas peças de informação que estava disponível nos meios de comunicação.

No apêndice do seu artigo, Playfair e Keen listam muitas das afirmações específicas de Holohan, como registradas por Tony Batters em seu bloco de anotações.

“Ela foi atacada no banheiro.” Isto provavelmente está correto. Embora o corpo tenha sido encontrado em um outro quarto, um cabide danificado para toalha de banheiro e um tapete do banheiro desarrumado sugeriram que o ataque começou lá.

“Há um envelope e uma carta. Recentemente entregue. Um livro de endereços de cor preta… Os móveis foram reorganizados. As almofadas do sofá mexidas. Fora do lugar… Eu troquei de roupa duas vezes, diz ela”. Isto também estava correto. Os policiais descobriram uma carta recentemente entregue no apartamento, junto com um livro de endereços preto. A sala de estar estava na maior parte intacta exceto o sofá onde as almofadas estavam jogadas no chão. E mais tarde foi descoberto que Jacqui Poole tinha trocado de roupa duas vezes naquele dia.

“Dois copos na cozinha. Um lavado. Ela fez uma xícara de café”. Também correto. Apenas dois copos haviam sido deixados na cozinha outrora arrumada. Um deles tinha sido lavado e depois deixado de cabeça para baixo para secar. O outro estava até a metade com café.

Outras descrições da cena do crime eram precisas, mas poderiam ter sido imaginadas. Por exemplo, Holohan disse que havia jornais lidos por lá, que havia um armário, e que algumas das jóias de Poole tinham sido roubadas (um fato noticiado na imprensa). Embora as observações não sejam claras, verifica-se que ela disse que Poole tinha dois anéis ainda em seus dedos – o que era verdade, o assassino não pôde remove-los porque estavam firmemente presos em seus dedos. Este fato não havia sido divulgado.

Holohan disse que Jacqui Poole andou pelo meio criminoso, mas tinha recentemente decidido a mudar sua vida. Um amigo descreveu mais tarde uma conversa com Poole, pouco antes do seu assassinato, na qual ela expressou estes sentimentos.

A médium disse também que Poole sofria de depressão e tomava pílulas contra isso. Isto estava correto. Ela disse que Poole estava no meio de um divórcio (correto, mas este fato havia sido publicado na imprensa).

O assassino, segundo ela, estava ligado ao ex-marido. “A ligação está na prisão. Ambos tiveram o mesmo amigo que estava na prisão. Não prisão, ela diz, “detenção”. Foi visitá-lo duas semanas antes”.

Isso é interessante, pois sugere que a médium estava sendo corrigida pelo espírito comunicante enquanto a informação era transmitida. No primeiro momento, Holohan usou o termo nick, mas aparentemente foi dita que este termo estava errado e que o termo correto seria bird. Nick é uma gíria para delegacia de polícia ou prisão, enquanto bird é uma gíria para um centro de detenção. Holohan “não entendia a diferença”, Batters observou isso nos comentários posteriores em suas próprias anotações. Mas Jacqui Poole, evidentemente, sabia a diferença e teve o cuidado de alterar a mensagem.

A declaração sobre a última visita de Poole ao “Nick” também estava correta, ela tinha estado lá exatamente duas semanas antes de o corpo dela ter sido encontrado.

Holohan não deu o nome do assassino, mas o descreveu: “1,72 metros, pele escura, cabelo afro-ondulado colorido. Vinte e poucos anos. Ela o conhece. Aniversário em abril, maio. É de Touro. Tem tatuagens nos braços. Espada? Cobra? Rosa? Recebo um nome, Tony. Tem um apelido, não um nome próprio.”.

O homem que acabou condenado pelo crime foi Anthony Ruark, de origem mestiça, 1,74 metros, nascido em abril, tinha 23 anos de idade em 1983 e com muitas tatuagens.

Intrigada com o apelido, Holahan entrou em um transe leve e, por escrita automática, escreveu a palavra “pokie”. O apelido de Ruark era Pokie.

Ela também disse à polícia: “Ele esteve trabalhando recentemente, como pintor ou decorador. Não tem um trabalho regular, não um trabalho próprio. É frio, astuto, entrou em lugares antes. E é esperto com carros. Macaco de graxa, é como ela o chama”.

Tudo isso estava correto. A verdadeira ocupação de Ruark era de rebocador, e ele tinha trabalhado nisso um ou dois dias durante a semana anterior ao assassinato. Por outro lado, ele ganhou dinheiro por meio de furto e roubo de carros. Ele era conhecido como um bom mecânico.

“Ele tem uma namorada. Ela conhecia Jacqui. Tem o cabelo escuro, é pequena, bonita. Tem um C em suas iniciais.”. Batters, mais tarde, confirmou que a namorada de Ruark era uma ‘pequena e bonita, morena, cujo sobrenome começava com C’ e que Poole a conhecia bem.

Holohan mencionou os seguintes nomes para a polícia: Betty, Sylvia, Terry, Barbara Stone, e Tony. Nenhum outro nome fora fornecido. Todos os nomes estão ligados diretamente à vítima. Betty era a mãe de Poole. Sylvia era a mãe do namorado de Poole. Terry era irmão de Poole. Barbara Stone era uma amiga próximo de Poole, que morreu em um acidente de carro cerca dois anos antes do assassinato. Tony era o assassino, Anthony Ruark.

Curiosamente, nenhum dos envolvidos na investigação tinha ouvido falar de Barbara Stone, e este nome permaneceu inexplicado até anos mais tarde – um fato que tende a excluir a telepatia como explicação.

Holohan também mencionou alguém que viveu em “num apartamento sobre uma banca de jornais”. Acabou-se sabendo que ela era a melhor amiga de Poole, uma mulher chamada Gloria, que morou num apartamento sobre uma banca de jornais.

Pedida para determinar a localização das jóias roubadas, Holahan usando escrita automática, produziu as palavras Ickeham, jardim e o número 221. Ickeham foi entendida como uma tentativa de escrever Ickenham, um subúrbio localizado entre a cena do assassinato e a casa de Ruark. Anos depois, Batters acompanhou esta pista com interesse, embora sem resultados conclusivos. Ele descobriu que só havia uma rua em Ickenham onde os números eram tão elevados como 221 – Swakeleys Road. No entanto, onde deveria haver o número 221, havia “um jardim público sem identificação”. Ele tirou algumas pedras do jardim e encontrou um buraco vazio de 15 x 18 centímetros.

Playfair e Keen escreveram:

Naturalmente, é possível que o buraco tenha sido feito depois de 1983, talvez por crianças brincando, porém é preciso dizer que é muita coincidência encontrar um esconderijo ideal para um punhado de anéis e braceletes para o que pode bem ter sido o jardim do nº 221 na única estrada do local com aqueles vários números de casas. 

Batters contou que o local estava exatamente no caminho que Ruark tomou quando ele deixou a cena do crime em Ruislip e voltou para casa. Mesmo depois de tudo isso, não havia nenhuma evidência sólida contra Ruark ou qualquer outra pessoa, em 1983, e por esse motivo o caso permaneceu sem solução por mais de 16 anos. Eventualmente, no entanto, os avanços na tecnologia de DNA tornaram possível examinar mais cuidadosamente a evidência física ligada ao caso. Segundo Playfair e Keen, o DNA correspondente de Jacqui Poole foi encontrado em um pulôver que a polícia havia recuperado do lixo de Ruark. Ruark foi condenado pelo crime. (Vamos olhar para algumas questões que cercam essa afirmação em breve).

A objeção óbvia para o caso Poole é que Holohan poderia estar falando sobre o assassinato e, em seguida, usou suas supostas capacidades mediúnicas para transmitir o que sabia à polícia sem incriminar a si mesma. Mas há obstáculos aparentemente intransponíveis para essa linha de argumentação. Por um lado, a totalidade das informações fornecidas por Holohan não era conhecidas por qualquer pessoa, por isso ela teria que estar em contato com várias delas – talvez cinco. Além disso, grande parte das informações era conhecida apenas pelo assassino, que dificilmente teria discutido o crime com ela em detalhes (ou em absoluto). Não há nenhuma evidência de que Holohan tivesse qualquer ligação com Ruark, Poole, ou qualquer membro da força policial.

A hipótese cética mais sustentável sobre o “caso Poole” que eu conheço é um artigo de Tony Youens, intitulado “Teria uma médium identificado um assassino?” ( “Did a Medium Identify a Murderer?”) Youens e seu sócio, o detetive Adrian Shaw, entrevistaram algumas das pessoas envolvidas no caso, e após isso Youens desenvolveu sua própria teoria sobre o que aconteceu. O problema é que a sua teoria baseia-se quase que exclusivamente em meras possibilidades lógicas – isto é, as coisas são “possíveis” no sentido de que elas não podem ser refutadas, mas para as quais não há nenhuma evidência.

Como exemplo de uma possibilidade lógica, considere a visão de que os pousos lunares da Apollo foram forjados. É logicamente “possível” que os desembarques poderiam ter sido simulados em um estúdio de TV e que todos na NASA estivessem envolvidos e que os astrônomos de todo o mundo foram subornados ou coagidos a colaborar e que incontáveis bilhões de dólares foram gastos para encobrir a proposta, e que ninguém jamais quebraria o código de silêncio e chegaria com “a verdade”.

Mas enquanto esta é uma possibilidade lógica, no sentido de que ela não pode ser definitivamente refutada, é tão absurda que não tem nenhuma chance real de ser verdade. O mesmo, aliás, vale para a maioria das teorias de conspiração, uma vez que qualquer evidência que falsifique a teoria pode ser “explicada” como uma outra parte da trama**.

Youens não alega um encobrimento, exceto no sentido de que Christine Holohan estaria encobrindo as verdadeiras fontes de suas informações. Sua versão de possibilidade lógica consiste em assumir que Holohan poderia ter obtido todas as informações precisas (121 itens) por meios normais.

Mas como? Bem, ela poderia ter obtido algumas informações da imprensa. Mas Playfair e Keen relatam que Batters e seus colegas monitoraram todos os artigos de jornal sobre o caso e concluíram que as únicas informações divulgadas foram o nome de Jacqueline Poole (mas não o seu nome de solteira), o seu endereço, a causa da morte (homicídio), o roubo de jóias, a ausência de qualquer sinal de arrombamento e o fato de que ela e seu marido haviam se separado sete meses antes.

Sobre isso, novamente é interessante observar que um detalhe que sem dúvida poderia ter sido obtido de qualquer jornal, ou seja, o dia da morte de Poole, foi a única coisa Holohan errou.

De qualquer forma, enquanto alguns detalhes poderiam ter sido obtidos pelos meios de comunicação, eles constituíam apenas uma pequena fração das informações exatas que Holohan havia fornecido. Como explicar então o resto?

Youens responde a este desafio assumindo que deve ter havido uma grande quantidade de fofoca sobre o assassinato, e que a fofoca incluía muitos detalhes inéditos, e que Holohan estava em posição de ouvir essa fofoca e fazer uso dela – muito provavelmente em algum bar onde Poole houvesse trabalhado. Para fortalecer seu caso, Youens salienta que este bar estava a apenas dois mil e cem metros do local onde Poole morava. Ele ainda sugere que Holohan poderia ter conhecido pessoalmente Poole.

Infelizmente para a posição cética, não há simplesmente evidência alguma para apoiar quaisquer dessas afirmações “logicamente possíveis”, senão por uma especulação empiricamente infundada. Como diz o relatório de Playfair e Keen, “nós não estamos cientes de qualquer evidência de quaisquer dos amigos ou parentes de Poole de que eles conhecessem Holohan… tivesse havido qualquer evidência de que Holohan freqüentasse os mesmos bares que Poole, em particular o Windmill, onde Ruark e muitos de seus principais amigos bebiam, a polícia teria descoberto isto imediatamente.” Na verdade, não há nada que ligue Holohan a qualquer bar, exceto um chamado Tally-Ho, onde ocasionalmente ela trabalhou em regime de tempo parcial. Fora isso, ela parece não ter visitado bar algum.

Além do mais, ainda há elementos de informação que provavelmente não poderiam ter sido obtidos por qualquer possibilidade de “fofoca”. Por exemplo, os dois copos na cozinha – um lavado, e outro com café nele. Contra isso, Youens é forçado a especular que o único civil que visitou o apartamento após o crime – o pai do namorado de Poole – poderia ter tido uma atenção especial para estes copos e mais tarde comentado com seus amigos, e que de alguma forma Holohan ouviu ou soube dessas conversas. Porém, como Playfair e Keen apontam, o pai “entrou pela janela do saguão para identificar o corpo, permanecendo por apenas alguns segundos.” Ele provavelmente sequer entrou na cozinha, nem é provável que ele tenha focado sua atenção em um par de xícaras, quando defrontado com a visão muito mais chamativa do corpo de Poole. E mesmo que ele tivesse notado os copos, que razão haveria para ele falar sobre isso? O próprio Youens admite que sua especulação nesta área não é muito convincente. Ele escreve:

Para ser justo eu não posso descartar isso completamente, e nem é provável que eu o faça, mas se todos os outros detalhes forem retirados a polícia ficaria tão impressionada com a informação que restou? Eu pessoalmente duvido. 

Certamente isso pressupõe que “todas as outras informações” poderiam ser removidas – ou seja, explicadas de forma satisfatória – o que, a meu ver, está longe de ser verdade.

Outra linha que Youens ataca é dizer que a contribuição de Holohan não teve nenhum efeito sobre o resultado do processo. De acordo com Youens, a eventual condenação de Ruark foi inteiramente devida à investigação científica (o teste de DNA) e não teve nada a ver com mediunidade. Ele escreve:

Muito foi feito do pulôver recuperado do caixote de lixo de Ruark e como se não fosse pela informação de Holohan este poderia nunca ter sido preso. Mas quão significativo este pedaço de evidência foi na verdade? Quando perguntado por Adrian Shaw, o Inspetor Chefe Detetive McKinlay não podia nem mesmo lembra-se do pulôver. Tony Lundy se lembra de “fibras” sendo mencionadas no julgamento mas ele e McKinlay são enfáticos que a condenação foi alcançada pela evidência do DNA do sêmen e da pele achada embaixo das unhas das vítimas. O pulôver não exerceu nenhum papel, e ainda que tenha exercido, não foi devido a algo que Holohan tenha dito. 

Mas Tony Batters entendeu isso de uma forma muito diferente. Em 2003, ele disse:

Sem as informações de Christine, nós não teríamos (a) recuperado o pulôver; (b) entrevistado e ouvido as declarações de todo mundo com quem Ruark veio a entrar em contato depois [da noite do assassinato] e (c) checado e verificado todos os seus movimentos durante a quinzena prévia. Estes três elementos foram vitais para combater as potenciais (e reais) defesas, que eu acredito teriam levantado dúvida suficiente para levar a um veredicto de “inocente”. 

Isto lembra um comentário que Batters fez em 2002: “Sem a informação de Christine, nós talvez tivéssemos falhado em obter a evidência mais conclusiva” [i.e., o pulôver].

É difícil conciliar os diferentes pontos de vista. Ou o DNA “incriminador” foi tirado do pulôver de Ruark, ou ele foi tirado das unhas de Poole. Mas é interessante notar o caráter ambíguo do argumento de Youens: “O pulôver não exerceu nenhum papel, e ainda que tenha exercido …” Bem, exerceu ou não?

Isso soa como se ele estivesse recuando de sua primeira declaração, mesmo antes de a frase ter terminado. E não está claro como “o pulôver não exerceu algum papel” se Lundy “se lembra de ‘fibras’ sendo mencionadas no julgamento”. Presumivelmente, eram as fibras do pulôver, sendo assim como poderia o pulôver não estar incluso na análise? Neste ponto, o artigo de Youens levanta mais perguntas do que respostas.

Um artigo da BBC sobre o caso, que não menciona Holohan ou sua mediunidade, relata que a condenação foi obtida através de teste de DNA do sêmen deixado em um artigo de vestuário de Poole, encontrado na cena do crime. Se isso for verdade, ele enfraquece a alegação de que o pulôver (encontrado no lixo de Ruark, e não na cena do crime) foi a peça fundamental das provas, embora também enfraqueça o argumento de Youens, de que a prova foi obtida nas “unhas da vítima”. Mas eu não tenho certeza da precisão deste artigo. Por um lado, identifica Ruark como amante de Poole, quando de acordo com as outras historias que eu li, ele era apenas um amigo do ex-marido dela e alguém que ela não gostava ou que não era de sua confiança.

Uma vez que o artigo da BBC não entra em detalhes e não identifica a peça de roupa em questão, e uma vez que afirma que o corpo de Poole foi encontrado “semi-nu”, eu fico me perguntando se o pulôver em questão pertencia a ela, e se Ruark o levou com ele e descartou em seu lixo porque estava manchado com seu sêmen. Se isso é verdade – eu enfatizo o se, porque eu não sei – então o pulôver foi realmente a peça fundamental entre as provas. Parece estranho que haja desacordo sobre uma realidade aparentemente tão básica como esta para o caso, mas é isso.

Aliás, parte do artigo da BBC também afirma que Poole, depois de ter sido espancada e estuprada, foi “estrangulada com o fio de uma lâmpada do banheiro”, embora seu corpo tenha sido encontrado na sala de estar. Se for verdade, isso ainda fundamenta a afirmação de Holohan, de que o ataque começou (ou pelo menos ocorreu em parte) no banheiro, um fato que não havia sido divulgado pela imprensa na época.

Youens também argumenta que Ruark já era um suspeito no caso, e Holohan poderia ter sabido disso por alguma fofoca local. É verdade que Ruark havia ido voluntariamente à polícia depois que a mesma solicitou que colaborassem com informações. De acordo com Batters e Smith, dos cerca de 30 suspeitos, ele não foi considerado um suspeito sério porque ele não tinha histórico de violência. Eles disseram: “Ruark não estava nem perto do topo da lista”. Por outro lado, em uma carta reproduzida no site de Tony Youens, o detetive superintendente Tony Lundy diz que Ruark era o principal suspeito. Outra contradição.

Montague Keen, por sua vez, escreveu num artigo separado que “Ruark já tinha dado à polícia um álibi convincente. Ele não era mais um suspeito quando Holohan foi entrevistada”. Ele parece ter acreditado que Lundy tinha se esquecido de detalhes importantes do caso, a fim de colocar-se em uma situação melhor minimizar quaisquer contribuições feitas por Holohan. Sem mais informações, é impossível dizer quem está certo.

Youens atribui o resto de declarações precisas de Holohan a “leitura fria”. No entanto, é difícil ver como a leitura fria poderia explicar a referência a Barbara Stone, uma mulher desconhecida a qualquer pessoa envolvida no momento da investigação, ou a declaração de que Poole tinha trocado de roupa duas vezes naquele dia, um fato aparentemente não estabelecido até o julgamento de Ruark, quase duas décadas depois, nem o conhecimento sobre os medicamentos prescritos para Poole devido à depressão etc.

Nem leitura fria fornece uma suposta explicação para o teste de psicometria que Holohan fez com Andrew Smith, a fim de provar suas habilidades. Playfair e Keen escreveram:

Ela disse que ele [Smith] tinha recebido recentemente uma carta sobre um trabalho elétrico essencial, como ele de fato recebeu, de uma Building Society dizendo-lhe que fazer uma nova instalação elétrica na casa que esperava comprar, caso quisesse uma hipoteca. Ela disse que ele estava prestes a ser transferido para outro departamento, o que ele achou muito improvável — até que ele foi informado de sua transferência pendente somente dias depois. Primeiramente, no entanto, ela fez uma observação que deve ter sido espantosamente exata. Batters contou-nos que “até o dia da minha morte eu não posso expor o que ela disse. Foi bastante extraordinário, com detalhes”. 

Já que o próprio Smith não sabia que ele estava prestes a ser transferido, ele dificilmente poderia ter transmitido essa informação para Holohan através da linguagem corporal ou outras características, conforme exigido pela leitura fria.

Infelizmente, como a citação acima indica, algumas das evidências mais convincentes do caso não foram tornadas públicas. Seria interessante saber qual o primeiro item que Holohan transmitiu a Smith. Seria ainda mais interessante conhecer os muitos detalhes específicos que ela contou sobre o próprio assassinato. Segundo Playfair e Keen, sua descrição do crime foi extremamente gráfica e realmente precisa, até no ínfimo pormenor, o melhor que alguém pode fazer para uma reconstrução científica do crime. No entanto, em respeito à sensibilidade da família, os investigadores retiraram essas informações do artigo do jornal. Obviamente, o caso ganharia ainda mais força se esses detalhes pudessem ser publicados.

Finalmente, Youens reclama que Playfair e Keen não entrevistaram o Detetive Superintendente sobre o caso, Tony Lundy, ou o Inspetor Chefe Detetive McKinlay, dando a entender que a investigação foi descuidada. Ele escreve maliciosamente:

Até onde estou ciente, a investigação executada por Keen e Playfair nunca incluiu no interrogatório os dois mais veteranos e altamente respeitados detetives envolvidos. Uma omissão séria seguramente? Ainda assim estou certo que ele entrevistou a médium com a minuciosidade típica que nós esperamos de um investigador da SPR. 

Mas, em seu artigo, Playfair e Keen observam que pelo menos Lundy está “aposentado e que, fomos informados, não estava disponível para entrevistas”. Se o homem se recusou a ser entrevistado, isso dificilmente é culpa dos investigadores. Não há nenhuma menção a McKinlay, mas dada a sua aparente antipatia à idéia de que Holohan contribuiu para o caso, é certamente possível que ele também tenha se recusado a falar. Pela mesma razão, algumas pessoas não falariam com Youens e seu colega:

Tony Batters muito bondosamente forneceu-me uma cópia das suas notas junto com como elas se relacionavam ao crime. Trocamos numerosos emails. …. Adrian Shaw falou com o Inspetor Chefe Detetive Norman McKinlay bem como com o detetive que originalmente levou Ruark para o interrogatório e também quem recuperou o pulôver do seu caixote de lixo. Consegui contatar o ex-Detetive Superintendente Tony Lundy que agora vive na Espanha. Lundy foi o oficial encarregado da investigação original e McKinlay cuidou da re-investigação de 1999. Contatamos outros oficiais, que ou não desejavam discutir o caso ou nunca retornaram as nossas chamadas. (negrito adicionado) 

Se foi incompetência dos pesquisadores da SPR não procurar por Lundy e McKinlay, o mesmo não se aplicaria a Youens e Shaw por não procurarem alguém como Batters, Lundy, McKinlay e um detetive não identificado? Não há indícios de que eles falaram com Holohan, Smith ou parentes de Jacqui Poole, por exemplo.

De qualquer forma, enquanto Lundy não quis falar com os pesquisadores da SPR, Batters e Smith o fizeram. Eles ainda assinaram os depoimentos e atestam a precisão do artigo publicado. Playfair e Keen relatam:

Como Batters repetidamente nos disse, a única possível fonte para toda a informação é Jacqueline Poole. … Tony Batters declarou que “aceitei o fato de que Jacqui se comunicou com Christine”, assim como, nos disse, aceitaram todos os seus colegas policiais com quem ele discutiu o caso. 

Artigo original disponível aqui. 

Traduzido por Sandro Fontana e revisado por Vitor Moura Visoni.



* O artigo “A Possibly Unique Case of Psychic Detection”, de Guy Lyon Playfair e Montague Keen é encontrado no Journal of the Society for Psychical Research, Volume 68, Número 874, janeiro de 2004, páginas 1-17. Este artigo, como todos os SPR Journal e artigos anteriores a 2007, podem ser encontrados on-line em um arquivo aberto a membros da SPR. (Os custos de adesão são cerca de US $ 100 por ano). Alternativamente, você pode ler o artigo assinando o banco de dados Lexscien, que mantém os arquivos da SPR. A Lexscien cobra uma taxa, mas há uma alternativa: você pode registrar-se com a Lexscien e depois tirar proveito de sua experimentação sem compromisso de sete dias, lendo o artigo online. (O julgamento de sete dias não permite que você baixe o artigo na íntegra, nem para leitura ou impressão offline.)

** Para uma discussão mais completa dos problemas com o argumentar por meio de por meras possibilidades lógicas, veja Science and the Afterlife Experience de Chris Carter.

Há um livro sobre o caso Jacqui Poole: A Voice from the Grave (2006), de Christine Holohan e Vera McHugh. Pedi uma cópia. Talvez isso lance mais luz sobre algumas das pontas soltas mencionados no post.

Outro resumo e análise do caso Poole, ver este escrito em AECES.

Uma resposta a “Crimes e Desaparecimentos resolvidos com a ajuda de médiuns ou psíquicos – parte 5 (2013)”

  1. Sanchez Diz:

    Bom trabalho Vitor. Ótimo Artigo
    .
    Acho que este artigo merece uma continuação até pela importância de ser como esta escrito no post um caso forte de mediunidade e esclarecer mais detalhes sobre a história. Parabéns

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