Casos Muçulmanos de Reencarnação no Norte da Índia: Um Teste da Hipótese da Imposição de Identidade Parte I: Análise de 26 casos, por Antonia Mills (1990)

A autora descreve as características de 26 casos de reencarnação, descritos como casos semi-muçulmanos e casos muçulmanos ocorridos no norte da Índia. Em oito dos casos muçulmanos uma criança muçulmana diz ter recordado uma vida de um muçulmano. Em sete casos uma criança muçulmana diz ter recordado uma vida de um hindu, e em 11 casos uma criança hindu diz ter recordado uma vida muçulmana (estes últimos casos são aqui chamados de casos semi-muçulmanos). A maioria dos muçulmanos na Índia não aceita oficialmente o conceito da reencarnação. Em alguns exemplos, a ausência desse conceito na doutrina islâmica fez com que os muçulmanos se tornassem hostis à investigação dos casos. Apesar disso, os casos são geralmente muito similares aos casos hindus mais comuns, sendo que para os casos muçulmanos e semi-muçulmanos há uma proporção mais elevada de mortes violentas quando as vidas anteriores são lembradas. Nos casos semi-muçulmanos, foi possível identificar marcas de nascença e comportamentos apropriados a outras comunidades religiosas. Tanto os pais hindus como os muçulmanos se sentiram incomodados ao ouvir a criança recordar uma vida passada em uma religião diferente das suas. É improvável que tais casos sejam o resultado de indícios sutis dados à criança para que ela adotasse uma identidade diferente da atual.

Introdução 

A maioria dos numerosos casos que Stevenson relatou (1966, 1969, 1974, 197ä, 1975b, 1977, 1980, 1983b, 1985, 1986, 1987) de crianças que dizem recordar uma vida anterior ocorreu nas culturas que acreditam na reencarnação, tais como as culturas hindu e budista do sul da Ásia e de várias tribos de povos de vários continentes. A incidência dos casos relatados (Stevenson, 1986a, 1987) é, não surpreendentemente, menor entre as populações muçulmanas sunitas e judaico-cristãs, que não acreditam na reencarnação.

Agradecimentos. Estou muito grata ao Dr. Narender K. Chadha, Professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Delhi, e aos seus estudantes graduados Dr. Vinod Sahni e Ms. Geetanjali Gulati, que atuaram como meus tradutores e assistentes. O Dr. Chadha e o Dr. Sahni auxiliaram em todas as três viagens; Ms. Gulati me ajudou na terceira. Estou em débito com o Dr. Abdulaziz Sachedina por traduzir do árabe de Ibn Saad. Agradeço ao Dr. Meena Munshi por traduzir os três casos do livro de Sant Ram. Sou grata a Emily Williams Cook, Dra. Satwant Pasricha, Dr. N. K. Chadha, e ao Dr. Ian Stevenson pelos seus comentários sobre uma versão anterior deste artigo.

Correspondência e pedidos de separatas devem ser dirigidas a Antonia Mills, Ph.D., 152 Box Health Sciences Center, University of Virginia, Charlottesville, VA 22908.

No período de (1966, 1980) Stevenson relatou muitos casos entre os drusos do Líbano e dos alevitas da Turquia, e de comunidades muçulmanas xiitas que acreditam na reencarnação, mas nenhum caso entre as populações muçulmanas sunitas, que não endossam o conceito de que o ser humano possa voltar para uma segunda vida ou reencarnar repetidas vezes. Na maioria dos mais de 2.400 casos típicos de reencarnação arquivados na Divisão para o Estudo da Personalidade na Universidade de Virgínia, a criança ou pessoa que ela ou ele diz ter sido recorda uma vida na mesma cultura e país. Stevenson (1987) notou que há um número pequeno de “casos internacionais” em que uma criança recorda uma vida em outra cultura e país, mas nestes casos ninguém que corresponda às descrições das crianças foi encontrado. No período de 1987 a 1989 eu fiz três viagens à Índia, a convite de Ian Stevenson, para conduzir uma re-leitura independente de suas investigações nos casos em que uma criança diz recordar espontaneamente uma vida anterior. Após a primeira viagem eu reconheci que os casos muçulmanos na Índia poderiam ser particularmente interessantes, porque seria improvável que as crianças fossem incentivadas ou treinadas pelos pais. Assim investiguei cinco desses casos (e um caso possivelmente falso relatado na parte II deste artigo). Estes cinco casos tinham sido investigados previamente por Stevenson e por Pasricha. O sexto caso, possivelmente falso, não tinha sido previamente investigado.

Este artigo descreve as características de 26 casos típicos de reencarnação na Índia em que uma criança muçulmana alegou recordar uma vida anterior (como muçulmana ou hindu) ou uma criança hindu alegou recordar uma vida anterior muçulmana. Os casos em que a personalidade atual e a precedente eram muçulmanas eu chamo de “casos muçulmanos”. Os casos em que a personalidade atual ou a prévia era muçulmana, mas a outra pessoa era hindu são chamados aqui de “semi-muçulmanos”. As características destes casos muçulmanos e semi-muçulmanos são comparadas às características dos casos mais freqüentes entre hindus na Índia relatados por Stevenson (1974, 1975b) e por seus colegas (Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, & Stevenson, 1983; Pasricha, 1990; Stevenson, 1986) e estudados por mim (Mills, 1989).1

Esses casos interculturais ou inter-religiosos são de interesse particular por várias razões. Primeiro porque oferecem uma oportunidade de discernir se a identificação com outro grupo religioso foi o resultado de uma simulação ou de regras modeladoras do comportamento do grupo religioso da criança, o que quer dizer que esses casos podem representar um teste para descobrir se a identificação por status ou inveja (Burton & Whiting, 1961) pode fornecer uma explicação adequada para o fenômeno. A segunda razão consiste no fato de que tais casos permitem a avaliação de outra explicação alternativa, sugerida por Brody (1979), de acordo com ele as crianças que relembram vidas passadas estão de fato adaptando uma identidade alternativa em resposta às pistas sutis da sociedade que, talvez inconscientemente, encoraja tais formações de identidade.

Na parte II apresento os dados de três casos muçulmanos ou semi-muçulmanos de reencarnação (incluindo um caso suspeito) de forma que os leitores possam avaliar sobre que circunstâncias as comunidades muçulmanas e hindus identificam tais casos e possam decidir por si mesmos se os casos sugerem algum fenômeno paranormal ou não.

Relações Relevantes Entre Muçulmanos e Hindus na Índia 

A crença na reencarnação era praticamente universal na Índia no tempo dos sucessivos contatos e conquistas muçulmanas, (Haimendorf, 1953; Obeyesekere, 1980; O’Flaherty, 1980). Mohammed (571-623 A.C.); o Profeta e fundador do islamismo expressou a prevalecente visão semítica de seu tempo de que o ser humano tinha somente uma vida na terra. A dissidência na sucessão da liderança do islamismo levou à formação de duas seitas, os muçulmanos sunitas ou ortodoxos e os xiitas. Desde o princípio os muçulmanos que foram para Índia representavam a diversidade do pensamento islâmico, ambos sunitas e xiitas (Hodgson, 1974; Hollister, 1953). Contudo, nenhum dos grupos muçulmanos na Índia, fossem eles sunitas, xiitas ou os grupos sufis místicos xiitas, nunca endossaram oficialmente o conceito de reencarnação (Schimmel, 1975). As regras muçulmanas sempre variaram em suas tolerâncias, intolerâncias e interesses nas práticas e filosofias hindus (Arnold, 1961; Schimmel, 1975; Smith, 1943).

No decorrer de mais oito séculos de presença muçulmana e três séculos sob o domínio Mogol na Índia, o pequeno número de originais muçulmanos, invasores e imigrantes se expandiu em uma taxa considerável na população indiana (Arnold, 1921; Lewis, Menage, Pellat e Schacht, 1971; Spear, 1965). Como Lewis e colegas mostraram (1971),

Foi no âmbito da vida social e dos costumes que o hinduísmo influenciou de forma mais notável os muçulmanos hindus. Já que a maioria das pessoas foi convertida do hinduísmo não foi possível para elas romper completamente com os seus princípios sociais. Em cerimônias ligadas ao nascimento, casamento, batismo, etc. o impacto das tradições hindus era muito marcante (p. 436). 

Arnold (em 1961, p. 289) destaca que “muito dos chamados muçulmanos podem ser chamados de semi-hindus: eles obedecem às regras das castas, participam dos festivais, das praticas de idolatrias e das cerimônias hindus”. Assim ambas as regras muçulmanas e as originalmente hindus convertem para o islamismo, permanecendo apáticas às tradições da reencarnação e do karma.

Lawrence (1979) sugere que as relações hindu-muçulmanas pioraram após o fim da predominância das regras muçulmanas, com a imposição do Raj Britânico, pois este fomentava a dissidência entre as populações muçulmanas e hindus. Ele cita a preocupação da perda de poder com a solidificação da tradição sunita anti-mística. Smith (1943) destaca o impacto do comunismo em enfatizar as diferenças entre muçulmanos e hindus, mesmo antes da divisão da religião em dois grupos.

Quando o Raj Britânico chegou ao fim, cerca de um quarto da população era muçulmana. Depois que a independência foi conquistada em 1947 e a Índia foi dividida em um estado (muçulmano) Paquistão oriental e ocidental e em uma Índia predominantemente hindu, muitos hindus dos novos estados paquistaneses se mudaram para a Índia, e muitos muçulmanos na Índia se mudaram para o Paquistão, violência e combates se espalhando entre os dois grupos. Ainda assim, muitos muçulmanos permaneceram na Índia depois da divisão e continuam a ter uma forte presença, especialmente no norte da Índia. Em 1981, 11% da população da Índia, ou 75,4 milhões, eram muçulmanos, dos quais a maioria era sunita (Livro do Ano da Europa, 1988). Os muçulmanos correspondiam a cerca de 20-50% da população nas vilas e nas cidades, sendo que os casos que figuram nesse estudo pertencem a esse grupo.

Muçulmanos e hindus agora não se misturam como regra geral, e podem em alguns casos viver em áreas separadas das cidades. Em vilas menores eles tendem a se misturar, e nas vilas e nas cidades detêm consideráveis comércios e estabelecem associações entre eles. É neste contexto que os casos de reencarnação do tipo muçulmanos e semi-muçulmanos são encontrados.

Métodos de Investigação dos Casos 

Os métodos principais usados para investigar os casos muçulmanos e semi-muçulmanos foram os mesmos empregados no estudo de outros casos. Estes métodos incluem: entrevistar a criança e seus familiares; verificar de forma independe a exatidão das informações fornecidas pela criança entrevistando testemunhas e parentes das pessoas que a criança alega ter sido, procurando por originais (autópsias, certidão de nascimento e de óbito); repetindo as entrevistas quando necessário. Os métodos de investigação de casos de reencarnação foram completamente descritos em outros trabalhos (Stevenson 1974, 1975b, 1987).

Características Comuns dos Casos de Reencarnação 

Stevenson (1986, 1987) descobriu que há uma variação cultural considerável nas características dos casos típicos de reencarnação. Entretanto, casos em que as crianças recordam espontaneamente uma vida passada apresentam características muito semelhantes independentemente da cultura local em que ocorrem. As características comuns são: a pouca idade em que a criança começa a falar sobre a vida passada (entre as idades de dois e cinco anos), esquecendo-se das memórias da vida anterior quando atingem a idade de sete ou oito anos, e uma grande incidência de mortes violentas. As crianças frequentemente recordam como morreram, principalmente nos casos em que a personalidade prévia morreu violentamente, e às vezes elas têm uma fobia relacionada ao tipo de morte. Tipicamente, a pessoa da vida anterior nos casos indianos morreu nos dois anos anteriores ao nascimento da criança (Stevenson, 1986).

Características dos Casos Muçulmanos e Semi-Muçulmanos 

A Amostra dos Casos 

Os 34 casos de reencarnação de muçulmanos ou semi-muçulmanos na Índia dentre o total de 356 casos compreendem nove por cento da amostra de casos registrados na Divisão de Estudos da Personalidade da Universidade de Virgínia. Eu não incluí na análise os breves resumos de oito casos muçulmanos e semi-muçulmanos porque a informação está incompleta e não foi verificada por Stevenson nem pelos seus colaboradores.2 Os 26 casos que eu incluí foram investigados por Stevenson ou pelos seus colaboradores com exceção de um caso relatado por K. K. N. Sahay na década de 1920, todos os outros foram investigados entre 1960 e 1989, isto é, após a divisão da religião em dois grupos.

Mesmo para os casos que eu incluí estão faltando algumas informações, em conseqüência de questionários incompletos, da ausência de originais, ou de falhas de memória dos informantes. Sendo assim, o tamanho de amostra é menor que 26 para algumas das características discutidas abaixo.

Localização dos Casos 

Como a maioria dos casos no arquivo da Universidade de Virgínia, os 26 casos muçulmanos e semi-muçulmanos são oriundos do nordeste da Índia. Quatorze dos sujeitos desses casos viveram em Uttar Pradesh, sete em Rajasthan, três em Madhya Pradesh, um em Gujarat e outros nos estados de Jammu e Kashmira, estados do nordeste indiano. A maioria destes casos foi identificada durante o estudo de outros casos de reencarnação na Índia.

A Religião do Sujeito e da Personalidade Prévia 

Dos 26 casos muçulmanos e semi-muçulmanos, em 7 (27%) uma criança muçulmana recordou ter sido hindu em uma vida passada e, em outros 11 (42%) casos uma criança hindu recordou ser muçulmana em uma vida passada, e em outros 8 (31%) casos uma criança muçulmana foi identificada como a reencarnação de um muçulmano.

A maioria dos casos foi de muçulmanos ou de vidas anteriores como muçulmanos sunitas. Uma pessoa de Rajasthan disse que era sunita, contudo ele era mais sufi do que sunita ou xiita. Três dos exemplos de Rajasthan vieram de um grupo especial de Merhat descrito como uma casta de muçulmanos mercantes. Em um caso, descrito abaixo, uma menina muçulmana sunita alegou ter sido um muçulmano Bohora em uma vida passada. Embora alguns Bohoras na Índia sejam hindus (Gibb & Kramers, 1953), os muçulmanos Bohora são membros da vertente xiita ismaili do Islamismo.

Sexo do Sujeito 

Dos 26 casos, 5 (19%) sujeitos eram do sexo feminino. Não houve nenhum caso de sexos alternados entre as pessoas e suas vidas passadas. Numa amostra de 261 casos indianos de reencarnação apenas 3% tinha o sexo alternado; a incidência de mulheres era um pouco acima (36%) para 271 casos indianos analisados por (Stevenson, 1986).

Proporção de Casos Resolvidos e Não-Resolvidos 

Em 3 de 7 (43%) casos de hindus para muçulmanos, 5 de 11 (45%) casos de muçulmanos para hindu, e 1 de 8 (13%) casos de muçulmanos para muçulmanos, o caso permaneceu “não-resolvido” (isto é, ninguém que correspondesse à descrição que a criança deu sobre sua vida anterior foi encontrado). Os casos em que alguém combinava com a descrição da criança foram considerados como resolvidos. A distribuição dos casos resolvidos e não resolvidos encontra-se na Tabela 1.

A proporção de 4 casos em 7 (57%) resolvidos de hindus para muçulmanos e 6 casos em 11 de muçulmanos para hindus (55%) é menor do que os 77% de casos resolvidos na maior amostra indiana analisada por Cook e colaboradores (1983). Por outro lado, os 88% de casos resolvidos em 8 casos de muçulmanos para muçulmanos excedem a proporção de casos resolvidos na maior amostra indiana.3 Contato e distância são relevantes para determinar se um caso foi ou não resolvido.

Contato Entre as Famílias da Criança e da Sua Vida Anterior 

De 16 casos resolvidos entre muçulmanos e semi-muçulmanos em 5 (31%) as duas famílias não se conheciam, em 9 (56%) elas eram conhecidas entre si e em 2 casos de muçulmanos para muçulmanos (13%) elas tinham vínculos familiares. Não foram encontradas informações sobre contato em um caso entre muçulmanos e hindus.

Para outros dois casos de muçulmanos para muçulmanos as duas famílias não se conheciam e em três outros casos elas se conheciam. Entre cinco casos de muçulmanos para hindus, as famílias sabiam um pouco sobre a família da criança na vida anterior em três casos, sendo que em dois deles as famílias se conheciam bem. Dos casos de hindus para muçulmanos, em um caso a família da criança conhecia até certo ponto a família da vida anterior relatada pela criança, sendo que em três casos as famílias não se conheciam. Em dois casos (um resolvido e um não resolvido) o contato entre as duas famílias era muito pequeno, mas envolveu o roubo de alguma coisa pertencente à pessoa prévia por parte de um dos pais do sujeito do caso.

Tabela 1

Distribuição de casos resolvidos e não resolvidos dentre casos muçulmanos e hindus

 

Solucionado

Não Solucionado

Total

S Muçulmano/PP Hindu

4 (57%)

3 (43%)

7

S Hindu/PP Muçulmano

6 (55%)

5 (45%)

11

S/PP Muçulmano

7 (88%)

1 (13%)

8

Total

 

 

 

Muçulmano

17(65%)

9 (35%)

26

Hindu*

195(77%)

58 (23%)

253

Legenda: S = sujeito; PP = personalidade prévia.

* Cook, et al. (1983) analisou 266 casos da Índia, os quais incluem 13 casos muçulmanos e semi-muçulmanos (5%). O número de casos de hindus para hindus foi obtido retirando da amostra de Cook e seus colaboradores os casos muçulmanos ou semi-muçulmanos. A proporção de casos resolvidos e não resolvidos permaneceu a mesma, isto é, 77% resolvidos e 23% não resolvidos.

Em uma amostra maior de 183 casos analisados na Índia por Stevenson (1986), 43% eram desconhecidos um do outro, 41% se conheciam, e 16% tinham vínculos familiares. Esta amostra continha 14 (ou 8%) dos casos muçulmanos ou semi-muçulmanos que são incluídos em minha amostra. 

A Distância Entre os Domicílios das Famílias Envolvidas 

A distância domiciliar entre a pessoa e os lugares das vidas anteriores variava de dentro da mesma cidade ou vila (em sete casos), a uma vila diferente em um raio de 30 quilômetros (em cinco casos), a uma distância considerável, variando de 60 a 380 quilômetros (em quatro casos).


O Status Socioeconômico das Famílias Envolvidas
 

Pouca informação foi encontrada para permitir a comparação do status econômico entre os casos muçulmanos e semi-muçulmanos. Entretanto, de três casos de hindus para muçulmanos sobre os quais temos informações relevantes, em dois casos a pessoa vem de uma família hindu rica sendo que na vida anterior o muçulmano era muito pobre, e em um outro caso o sujeito pertencia a uma família pobre mas na vida anterior havia pertencido a uma família mais influente. Em um caso de muçulmano para hindu (não resolvido) na vida anterior a personalidade prévia muçulmana era mais rica do que a atual, embora a família da pessoa tivesse uma vida bem mais confortável.

Stevenson reporta (1987, p. 215) que em um terço dos casos na Índia a pessoa atual e a personalidade prévia tinham as mesmas condições socioeconômicas. Os dois terços restantes, ou seja, 44% dos sujeitos dos casos indianos tinham uma vida melhor, ou pertenciam a uma casta mais alta. 

Idade em que Falou pela Primeira Vez em uma Vida Passada 

Na amostra de muçulmanos e semi-muçulmanos a idade em que primeiro se falava em vida passada era de três anos, com um intervalo de três a seis anos de idade. Esse intervalo é similar ao encontrado para um grande número de casos indianos (praticamente todos hindus) nos quais a idade média em que falam do assunto pela primeira vez é de 38,02 meses (Cook e colaboradores, 1983). 

Idade da Morte da Pessoa na Vida Anterior 

A idade da morte da pessoa anterior varia entre 5 a 72,5 anos, fornecendo uma média de 50 anos. A idade média da vida anterior em uma amostra indiana maior com 159 casos na Índia era de 32 anos (Stevenson, 1986).

Intervalo entre a Morte da Vida Anterior e o Nascimento da Vida Atual

O intervalo dos casos muçulmanos e dos semi-muçulmanos, varia de 8 horas a 36 meses. Sendo o intervalo médio de 9 meses. Este é similar ao intervalo médio de 12 meses na amostra de 170 casos (praticamente todos hindus) na Índia (Stevenson, 1986). 

Modo da Morte da Pessoa na Vida Anterior 

De acordo com o Anuário Demográfico (1970) a incidência de morte violenta na população indiana era de 7,2% em 1970. A porcentagem de mortes violentas em casos muçulmanos e hindus na Índia excede esse valor de forma considerável. De 12 casos muçulmanos e semi-muçulmanos resolvidos, a morte violenta era característica de 10 casos (83%). A porcentagem de morte violenta era apenas ligeiramente mais baixa (82%) para os casos não resolvidos. Cook e colaboradores (1983, p. 128) descobriram que 49% dos 193 casos resolvidos na Índia envolveram mortes violentas, ao passo que 85% de 47 casos não resolvidos em sua amostra da Índia envolveram um tipo de morte violenta. A amostra indiana de Cook e colaboradores inclui 6 casos resolvidos de muçulmanos ou semi-muçulmanos com informações sobre o tipo de morte. Quando estes casos são eliminados da amostra, os resultados obtidos são: 49% dos 187 casos hindus resolvidos envolvem uma morte violenta, sendo que 84% dos 43 casos não resolvidos envolvem uma morte violenta. Os casos resolvidos de muçulmanos e de semi-muçulmanos têm uma incidência mais elevada de morte violenta do que a amostra hindu indiana de casos resolvidos. A diferença é estatisticamente significativa (x2 = 5,48, df = 1, p < ,05). Os casos não resolvidos de muçulmanos e de semi-muçulmanos e os casos resolvidos e não resolvidos combinados aos de muçulmanos e semi-muçulmanos não são significativamente diferentes da amostra hindu na Índia.

As violentas causas de morte em casos resolvidos incluíram seis exemplos de assassinato, um caso de suicídio, e das três mortes por acidentes, uma foi causada por picada de cobra, outra por um acidente envolvendo um trator, e a terceira, por uma inundação. Dos casos não resolvidos, três foram assassinatos e cinco envolveram acidentes: em dois casos a pessoa recordou morrer em uma inundação, em outros dois elas morreram de queda (um do telhado e outro de um andaime), e o quinto se envolveu em um acidente fatal de carro. A violência interpessoal se encontra com mais freqüência nos casos resolvidos, do que nos não resolvidos.4 

Marcas de Nascença 

Stevenson (1974, 1975b, 1977, 1980, 1983b, 1985, 1987) relatou numerosos casos em que a criança que aparentemente recorda uma vida passada apresenta marcas ou defeitos de nascença que corresponderiam a ferimentos ou lesões no corpo da personalidade prévia, muitos dos quais tinham sido a causa da morte da personalidade prévia. Stevenson está preparando diversos volumes (a serem publicados em breve) que descrevem marcas e defeitos de nascença em casos de reencarnação. Estes volumes incluem relatórios detalhados das marcas de nascença de dois meninos muçulmanos na Índia incluídos nos casos deste artigo, os casos de Nasruddin Shah e de Umar Khan. No caso anterior a criança teve uma marca de nascença que correspondia a uma ferida de lança descrita no relatório pós-morte. No último caso (não resolvido) a criança teve marcas de nascimento semelhantes às feridas de entrada e saída de uma bala.

Doze das 26 crianças tiveram marcas ou defeitos de nascença dos quais 9 foram relacionados à vida anterior. Dos três casos em que esta relação não é clara, em um caso não resolvido não há nenhum conhecimento de que a marca de nascença esteja relacionada à queda fatal recordada pela pessoa, em um caso resolvido a marca de nascimento não foi estudada, e no terceiro caso a relação da marca de nascença da pessoa com a personalidade prévia que morreu afogada não está clara. Em três dos nove casos não resolvidos a pessoa tinha uma marca de nascença, em dois casos foi possível estabelecer uma relação entre a descrição da criança (não verificada) com a maneira em que a pessoa da vida anterior morreu.

Nove crianças de 17 casos muçulmanos e semi-muçulmanos resolvidos tiveram marcas ou defeitos de nascença, dos quais quatro se relacionaram às feridas fatais de suas vidas anteriores. Esta categoria inclui o exemplo de Naresh Kumar, cujo caso é descrito na parte II deste artigo. Em outros dois casos a criança nasceu com deformidades que foram relacionadas à causa da morte da vida anterior. Neera Kathat nasceu sem o antebraço esquerdo e recordou ser atacado por pessoas que empunhavam espadas. O relatório pós-morte da personalidade prévia descreve lesões causadas por pancadas em todos os membros do seu corpo. A quarta pessoa, Giriraj Soni, nasceu com a coluna torcida e com uma protuberância em forma de um botão na nuca. Ele se identificava como um homem que foi morto por um golpe de espada. O relatório pós-morte deste caso ainda não foi encontrado.

Em dois casos resolvidos a identidade da criança antes de nascer foi revelada para a mãe em um sonho e a cicatriz e outras características físicas da criança que nasceu se relacionavam à sua vida anterior (mas não à maneira como morreu). Em um destes casos, o caso de Ali Kathat, ele e a personalidade prévia, que aparentemente não fazia parte da mesma família, eram albinos. O segundo caso, o de Jalaluddin Shah, era um dos dois casos (um resolvido e um não resolvido) em que a criança nasceu congenitamente circuncidada.

Dizem que o profeta Mohammed “nasceu circuncidado e feliz” (Ibn Saad, 1917, p. 64). Na tradição xiita se diz que os 12 Imans também nasceram congenitamente circuncidados (Sachedina, 1981). A circuncisão congênita do profeta Mohammed é citada como a fonte da importância atribuída às cerimônias de circuncisão entre os muçulmanos sunitas e xiitas (Gibb & Kramers, 1953), embora a circuncisão fosse praticada pelos semitas pré-islâmicos (Houtsma, Wensinck, Arnold, Heffening, e Levi-Provençal, 1987, p. 957). Circuncisão não é uma prática seguida pela população hindu, sendo assim nascer congenitamente circuncidado é considerado uma maldição muçulmana. Em um dos casos envolvendo circuncisão congênita, a criança Jalaluddin Shah era muçulmana, como na sua vida passada. Em um segundo caso (não resolvido), uma pessoa hindu, Mukul Bhauser, lembrava de uma vida muçulmana.5

Comportamento das Pessoas Relacionado à Personalidade Prévia 

Fobias. Cinco das 26 pessoas (19%) tinham uma fobia relacionada à maneira em que a personalidade prévia morreu. Isto é menos do que 27% dos casos reportados para toda a amostra da Índia (Cook e colaboradores, 1983).  Em três casos em que a morte envolveu afogamento, (duas mortes em inundações e um suicídio em um poço) a pessoa tinha fobia de afogar-se. Em um caso, a fobia foi manifestada como um medo de áreas com grande acúmulo de água tais como lagoas ou rios, em outro caso foi identificado o medo de tempestades (que produzem inundações rápidas e fatais), e no terceiro caso o medo de poços foi manifestado. Outras duas fobias relacionadas à morte por assassinato foram registradas. Em um destes casos a criança tinha fobia dos campos de plantas marinhas, que foi dito estar relacionado ao local do assassinato, de acordo com suas lembranças. Esta pessoa tinha também fobia do irmão da vida anterior, pois ela o reportava como um dos seus assassinos. Em outro caso que envolve um assassinato, a pessoa tinha fobia de sair à noite, porque suas memórias aparentes estavam relacionadas ao ataque de seus assassinos na escuridão da noite. Em outro caso, em que a criança recordou saltar em um poço ela tinha aversão ou fobia da esposa da personalidade prévia, com quem a criança dizia ter discutido um pouco antes de cometer o suicídio. Alguns aspectos de filias e aversões relacionados à vida anterior serão discutidos em seguida. 

Comportamento de Pessoas Com Religiões Trocadas 

Na maioria dos casos semi-muçulmanos a criança exibiu os traços característicos do grupo religioso da vida anterior. A Tabela 2 resume a natureza dos traços das religiões trocadas. Crianças muçulmanas que dizem se lembrar de uma vida hindu recusam alimentos consumidos por muçulmanos; crianças hindus que dizem se lembrar de vidas muçulmanas freqüentemente pedem pratos muçulmanos e realizam rituais muçulmanos.

Entre os casos de hindus para muçulmanos, quatro de sete crianças recusaram se adaptar à dieta de seus pais. Umar Khan recusou comer carne, dizendo que ele era hindu. Mohammed Hanif Khan inicialmente se recusou a comer peixe (na vida anterior ele não comia peixe). Noor Bano se recusou a comer carne; de fato, a mãe de Noor cedeu às vontades dela de comer pratos vegetarianos, embora o pai não soubesse que a esposa cozinhava separadamente para ela. Nasruddin Shah se recusou a comer peixe, embora comesse carne de carneiro. 

TABELA II

Freqüência do comportamento em caso de troca de religiões.

 

S Hindu/PP Muçulmano

S Muçulmano/PP Hindu

S/PP
Muçulmano

Comida recusada

 

5

 

Comida exigida

4

 

 

Ritos realizados (requeridos)

8

1

1

Resistência à religião dos pais

 

1

 

Total

12

7

1

Legenda: S = sujeito; PP = Personalidade Prévia

Nos quatro casos em que a criança hindu aparentemente se lembra de uma vida anterior muçulmana, a criança pede que seus pais vegetarianos sirvam carne para ela. Giriraj Soni pediu carne de carneiro e ovos embora seus pais fossem vegetarianos. Naresh Kumar pediu semia (um prato com macarrão saboreado por muçulmanos no norte da Índia), ovos e chá; sua família bebia chá, mas não comia ovos nem semia. Subhash Singhal pediu uma refeição muçulmana em um feriado muçulmano. Kailash Narain Mishra quis carne e pratos especiais para os festivais muçulmanos, sobre os quais ele costumava falar.

Os hábitos muçulmanos da prática religiosa foram observados com mais freqüência entre as pessoas que passaram de muçulmanos a hindus do que a adoração hindu entre pessoas que passaram de hindus a muçulmanos. Em 2 dos 7 casos de hindus para muçulmanos (29%), a criança resistia à religião muçulmana, ou desejava participar de cerimônias hindus. Nasruddin Shah resistiu à religião muçulmana e não fazia rezas muçulmanas nem ia à mesquita. Mohammed Hanif Khan queria que uma linha de Rakhi fosse amarrada nele após observar a prática desta cerimônia hindu que comemorava a ligação entre irmão e irmã.

Todavia, em 8 de 11 casos muçulmanos (73%) a criança hindu exibiu traços muçulmanos, tais como a prática do namaz (a forma muçulmana de rezar voltando-se para a Meca, em que se ajoelha e se curva à terra repetidamente enquanto rezas árabes são recitadas). Por exemplo, observou-se que Mukul Bhauser fazia reverência ao executar o namaz mesmo antes de saber falar. Kailash Narain Mishra também praticava o namaz. Archana Shastri com dois anos e meio de idade foi vista executando o namaz rogando pela saúde do pai quando ele estava doente. Depois disso, e por algum tempo, ela praticou o namaz às 5 horas e às 21 horas. Hirdesh K. Saxena praticou o namaz até os cinco anos de idade, e quis assistir cerimônias muçulmanas. Giriraj Soni começou a praticar o namaz antes que seus pais suspeitassem que ele podia estar sendo motivado por memórias de uma vida passada. Ele continuou a praticá-lo até a idade de sete anos e meio (a idade que ele tinha quando o encontrei pela última vez); ele comparecia às cerimônias na mesquita local toda sexta-feira. Naresh Kumar praticou silenciosamente o namaz desde a mais tenra idade, muito antes de visitar a casa de sua família da vida anterior. Após visitar o local ele insistiu em usar a capa muçulmana que afirmava ter pertencido a ele na vida anterior, apesar da forte desaprovação de seus companheiros hindus. Subhash Singhal praticou o namaz quando tinha cerca de três anos de idade, e se sentia muito atraído pelas senhoras muçulmanas que usavam a vestimenta preta para se cobrirem quando estavam em público na Índia. A última vez que nós o entrevistamos ele tinha trinta e cinco anos de idade. Ele continuava a ir a um santuário muçulmano sempre que tinha um problema, ou quando precisava de um auxílio divino especial. Ele havia levado sua esposa ao santuário, mas nunca tinha mencionado ao pai que seguia este costume não-hindu, suspeitando da desaprovação de seus pais. Manoj Nigam nunca praticou o namaz, mas recordou que ao morrer (morte da vida anterior) chamou por “Allah”.

Na maioria destes casos em que o namaz foi praticado pela pessoa, os pais observaram a postura característica que a criança fazia silenciosamente para vocalizar as orações. Como a reza geralmente não é audível, se tornava difícil para os pais saberem se a criança estava rezando em árabe, evidenciando assim o fenômeno da xenoglossia ou conhecimento paranormal de uma língua não ensinada desde o seu nascimento (cf. Stevenson, 1984). 

Atitude dos Adultos Relacionada a Esses Casos 

Resistência à Investigação na Resolução dos Casos. Em quatro casos os pais muçulmanos mostraram muita hostilidade na investigação porque a reencarnação é contra a doutrina deles. Em três desses casos a criança veio de uma família muçulmana e recordava uma vida hindu. Em um caso de hindu para muçulmano estudado por Stevenson, a comunidade muçulmana declarou-se contra as investigações: a pesquisa foi realizada sob a proteção de hindus em um quartel da área hindu. Em um outro caso descrito na parte II deste artigo, o grande obstáculo da pessoa foi dizer que reencarnação não era parte da crença muçulmana, portanto não havia justificativa para investigar o caso. Nós só conseguimos continuar fazendo perguntas porque o ponto de vista dele não era compartilhado pelo sobrinho dele nem pelo sobrinhos e filhos de sua esposa.

A oposição dos muçulmanos envolveu bloquear outras investigações somente em dois dos vinte e seis casos que foram estudados. Em um caso de hindu para muçulmano que Stevenson esperava estudar, um muçulmano disse que ele não deveria verificar casos de reencarnação na comunidade muçulmana, somente na hindu. Isso apesar do fato de que sua própria irmã tinha sugerido que Stevenson entrasse em contato com a esposa desse homem, que tinha lhe falado sobre o caso.

Em um caso de muçulmano para hindu (no qual o menino recordou se jogar no poço) estudado por mim e anteriormente por Pasricha, os pais muçulmanos da personalidade prévia se recusaram a se envolver de qualquer forma nessa investigação e nos disseram com muita hostilidade que não sabiam nada sobre o caso, embora diversas pessoas tenham testemunhado o primeiro encontro deles com a criança e a aceitação deles como um membro da família que retornou. Hindus da região explicaram a mudança de atitude dos pais da vida anterior como o resultado do pronunciamento recente do líder muçulmano que afirmou que os muçulmanos de alguma forma envolvidos nos casos de memórias de reencarnação não deveriam se envolver na investigação já que esse assunto contraria a doutrina muçulmana.

Apesar disso, os muçulmanos não resistiram à investigação de todos os casos. K. K. N. Sahay persuadiu os parentes muçulmanos da vida anterior e da atual em um caso de muçulmano para muçulmano a assinar ou afixar sua marca em um testemunho endossando o caso (Sahay, 1927). O caso é descrito na parte II. Em outras três situações o caso foi aceito pelos parentes muçulmanos como um exemplo válido de reencarnação. Em um destes casos a filha muçulmana podia visitar os hindus da vida anterior, quando ela se sentia doente.

Contudo a aceitação de um caso não necessariamente implica na mudança de convicções religiosas. Em um caso não resolvido a mãe muçulmana da pessoa suspeitava que as marcas de nascimento de sua filha se relacionavam à vida anterior, mas quando perguntaram se ela acreditava em reencarnação ela disse “não”. O pai de outra pessoa muçulmana disse: “Os ensinamentos do nosso Alcorão nos dizem que nós não deveríamos acreditar nisso”. O irmão dele disse: “De acordo com a nossa convicção religiosa, não. Mas isso pode ser possível”. Embora apenas um dos hindus, quer fosse parente ou não da criança da vida anterior ou da vida atual em um caso semi-muçulmano, tenha relutado em dar informações, eu percebi que os hindus ficavam apreensivos e até tinham medo da oposição muçulmana ao assunto reencarnação enquanto eles estavam tentando resolver dois casos (não resolvidos) de muçulmanos para hindus.

Um hindu que nós entrevistamos relutou muito em dar informações sobre um muçulmano que teria vivido em sua vizinhança e renascido como hindu. Um senso de dificuldade entre as duas comunidades religiosas pareceu resultar em mais resistência e relutância para resolver os casos do que quando os casos pertencem à mesma comunidade religiosa.

Assim um menino hindu, Manoj Nigam, que lembrava uma vida como um pedreiro muçulmano, não obteve permissão para visitar a casa em que viveu na vida anterior, ainda que esta casa estivesse localizada na mesma cidade e a criança e os pais atuais passassem por ela. A criança foi observada cumprimentando uma mulher como sua esposa, mas a família dele não procurou nem mesmo saber o nome desta mulher. Um outro menino hindu, Mukul Bhauser, cuja circuncisão congênita foi mencionada acima, foi meramente ignorado quando falou de uma vida passada, mas quando ele e seus pais passaram pela cidade que ele identificou como o local de sua (da vida anterior) morte por afogamento, seus pais esconderam o rosto dele. Eles não fizeram nenhum esforço para saberem sobre a existência da pessoa que o filho deles alegava ter sido, embora não duvidassem da veracidade do que ele disse, e eles nos forneceram informações sobre um outro caso semi-muçulmano. Em um outro caso, quando o pai hindu de um menino perguntou na comunidade muçulmana se havia qualquer um que correspondesse às indicações do seu filho, foi dito que existiu uma pessoa, mas ele não procurou os parentes da pessoa da vida anterior. A parte II descreve um caso em que os pais muçulmanos de uma criança não tinham feito nenhum esforço para resolver o caso. 

Supressão do Discurso e do Comportamento da Criança. Informações sobre supressão estão ausentes em muitos dos casos muçulmanos e semi-muçulmanos. Dos 15 casos sobre os quais nós temos informações relevantes, algum tipo de supressão foi praticada em todos os casos nos quais as crianças recordavam uma vida anterior numa comunidade de religião diferente e em três de quatro casos de muçulmano para muçulmano.

As medidas usadas para reprimir a criança não eram mais severas nos casos de hindus para muçulmanos, para os quais nós tínhamos importantes informações, do que eram nos casos de muçulmanos para hindus, os quais não representavam nenhuma ameaça à doutrina religiosa. Uma família muçulmana girou a criança no sentido anti-horário sobre a pedra de um moinho (para apagar suas memórias da vida passada) cobrindo a cabeça e batendo nele. E no outro caso de hindu para muçulmano sobre o qual tivemos alguma informação sobre supressão, os pais negaram a alegação feita por um amigo muçulmano de que eles batiam na filha por que ela tinha recordações da vida passada como hindu, mas eles disseram que a proibiram de falar sobre a vida passada e a amedrontavam dizendo que ela estava possuída pelo demônio.

Contudo, sua mãe chegou até a cozinhar comida vegetariana para ela, porque ela se recusava a comer carne, dizendo que era membro de uma casta de hindus vegetarianos. Pais hindus de crianças que afirmam ter sido muçulmanas geralmente tentam tomar medidas que eles esperam apagar as memórias de vidas passadas das crianças. As técnicas usadas incluem simplesmente ignorar as alegações da criança, zombar, colocar piercing nas orelhas, girar a criança em uma roda de oleiro, e levar a criança a um exorcista ou amedrontar a criança dizendo que ela ficará doida.

O medo de que as memórias da vida anterior da criança possam levá-la a voltar para a sua família anterior ocorre tanto em alguns casos muçulmanos como em alguns casos hindus. O avô de uma menina muçulmana (que aparentemente recordou uma vida anterior em que foi muçulmana) recitou uma prece ou um feitiço para fazê-la esquecer as memórias, a fim de que não voltasse para os seus pais anteriores. Uma menina hindu que recordou a vida passada como uma muçulmana de fato tentou voltar para a sua família muçulmana, e uma criança muçulmana foi suprimida porque os pais temiam que a criança pudesse voltar para a vila dos hindus de sua vida anterior.6 

Sumário e Discussão 

Embora seja pequena, a proporção de casos muçulmanos e semi-muçulmanos nos arquivos da Universidade de Virgínia é aproximadamente igual à proporção dos muçulmanos na população geral da Índia contemporânea. Em muitos aspectos os 26 casos de muçulmanos e de semi-muçulmanos são muito similares aos casos de hindus para hindus mais relevantes. Entretanto, os casos diferem em diversos aspectos. Primeiro, os casos incluem numerosos exemplos de uma criança que apresenta o comportamento apropriado a uma comunidade religiosa mas que difere do comportamento dos pais. Segundo, a incidência de uma modalidade violenta de morte era mais elevada entres os casos muçulmano e semi-muçulmanos resolvidos do que entre os casos hindus da Índia.

A similaridade dos casos muçulmanos e semi-muçulmanos com os casos hindus é improvável de ser o resultado da familiaridade muçulmana com os específicos casos hindus. Somente em dois casos os pais muçulmanos disseram que tinham ouvido falar de um caso típico de reencarnação entre a população hindu antes que o caso acontecesse em sua própria família.7 Em todos os casos, com exceção de um, os pais muçulmanos não acreditavam na reencarnação até serem apresentados a um caso específico. Quando confrontados com as evidências de um caso, mesmo que os pais muçulmanos tivessem reconhecido o caso na vida privada, em alguns casos eles discordavam publicamente do caso ou de qualquer conhecimento sobre ele, porque reconhecer um caso de reencarnação contraria a doutrina religiosa que eles seguem.

Os pais hindus que pensaram que suas crianças recordavam uma vida muçulmana mostravam quase tanta oposição ao desenvolvimento do caso quanto os parentes muçulmanos, mesmo que os pais hindus não encontrassem nenhuma ameaça a sua religião. Em uma ou outra situação as famílias das crianças que alegaram recordar uma vida passada em outra comunidade religiosa mostraram-se aborrecidas com freqüência de modo que não pode ser universalmente atribuída a elas a tarefa de incentivar que a criança se identifique com alguém de uma religião diferente.

Eu não encontrei nenhuma indicação de que a pessoa percebeu a outra comunidade religiosa como dominante e, conseqüentemente, mais desejável do que a religião atual. A hipótese da identificação por status ou inveja prediria que as crianças muçulmanas adotassem mais o comportamento hindu do que o contrário, já que os hindus são em número extremamente superior aos muçulmanos na Índia. Entretanto, as crianças hindus adotaram mais o comportamento religioso muçulmano do que vice e versa. Em resumo, a hipótese da identificação por status ou inveja, que sugere que uma criança adota uma identidade admirada, não parece ser aplicável a estes casos.

Nos casos que tenho estudado não encontrei nenhuma evidência de que as crianças fossem tratadas como bodes expiatórios pelos pais, ou de que teriam sido abusadas de alguma maneira que pudesse fazer com que a criança adotasse uma identidade alternativa, como parece acontecer em alguns casos de desordem de personalidade múltipla (Bliss, 1986; Coons, Bowman, & Milstein, 1988). Nos casos resolvidos as alegações e reconhecimentos foram precisos, de modo geral, e o comportamento da criança estava de acordo com a vida passada que ela alegava lembrar, mesmo quando ela era membro de uma comunidade religiosa diferente da vida anterior. 

Notas finais 

1 As crianças envolvidas em casos típicos de reencarnação geralmente adotam comportamentos que correspondem ao comportamento de suas respectivas personalidades prévias, os quais podem contrastar fortemente com o comportamento das crianças da família. Os casos semi-muçulmanos diferem no que se refere ao comportamento apropriado a um grupo religioso diferente e com o qual os pais não se identificam.

2 Os oitos casos não incluídos estão relatados na imprensa Indiana.Três deles foram reimpressos por Sant Ram (1974), e um por Délanne (1924). Todos menos 4 dos 26 casos incluídos na análise foram investigados por Stevenson, Pasricha, McClean-Rice, ou por mim mesma. Dos outros quatro, um foi investigado por K. K. N. Sahay, um por K. S. Rawat, um por L. P. Mehrotra, com o auxílio de M. Khare, sendo que um baseia-se na descrição fornecida ao Stevenson por Swami Krishnanand e em uma carta do pai do menino. Eu incluí estes quatro casos não investigados por Stevenson ou pelo seu principal associado pelas seguintes razões. K. K. N. Sahay era um advogado de Bareilly, U.P., que durante os anos de 1920 investigou e publicou (Sahay, 1927) sete casos, incluindo o do próprio filho. Pasricha e Stevenson (Pasricha, 1990; Stevenson, 1987) acompanharam a maioria destes casos e os julgaram como autênticos. K. S. Rawat trabalhou com o Stevenson em pesquisas de campo na Índia, assim como o fez L. P. Mehrotra. Manjula Khare também trabalhou como assistente de pesquisa de Stevenson. Swami Krishnanand por sua vez também auxiliou Stevenson, que julgou como aceitáveis o relatório e a carta do pai do sujeito para inclusão em uma análise.

3 Cook e colaboradores (1983) descobriram que os casos não resolvidos se assemelham aos casos resolvidos na maioria de suas características, a não ser pelo fato de que as crianças em casos não resolvidos param de falar sobre a vida anterior ainda com pouca idade, fazem poucas declarações verificáveis, e apresentam uma incidência mais elevada de morte violenta.

4 Cook e colaboradores (1983) relatam que é mais provável que as crianças que recordaram uma vida que terminou de forma mais violenta mencionem o modo como morreram do que as crianças que recordam uma vida que terminou naturalmente. Stevenson e Chadha (1990) descobriram que o intervalo entre a morte e o nascimento tendeu a ser mais curto nos casos que envolvem um desfecho violento e que as crianças que tinham uma vida que terminou violentamente começaram a falar sobre uma vida anterior com muito pouca idade.

5 Deveria ser notado que a aplasia congênita do prepúcio masculino (prega cutânea) tem sido registrada na literatura médica em contextos onde esta anomalia não teve nenhum significado religioso ou cultural especial (Warkany, 1971). James (1951) relata quatro casos na Inglaterra e nota que o pai (e em um dos casos o avô) tinha nascido com a mesmo aplasia do prepúcio, o que sugeriu alguma evidência de transmissão hereditária. Warkany (1971) observa que em alguns casos a ausência congênita do prepúcio está acompanhada por outras malformações mais severas. Este não foi o caso nos dois exemplos citados acima.

6 As técnicas de supressão são usadas também nos casos que pertencem exclusivamente à comunidade hindu, porque os pais ressentem terem uma criança reivindicando pertencer a uma outra família e se irritam com as exigências da criança para ser levada para a outra família; sentindo-se confusos quando a criança faz comparações entre as circunstâncias da família prévia e da família atual, preocupados com a possibilidade que a criança que se identifique com uma vida passada terá uma chance muito menor de se ajustar à vida atual; e/ou acreditam que a criança possa morrer prematuramente. Pasricha (1990) reporta que 23% de 30 dos pais e 27% de 37 mães usaram algum método de supressão para tentar fazer a criança esquecer suas aparentes lembranças de vidas passadas. Stevenson e Chadha (1990) reportam que 41% dos pais em uma amostra indiana de 99 casos usaram técnicas de supressão.

7 Em uma pesquisa feita em uma área do norte da Índia (Uttar Pradesh), Barker e Pasricha (1979) descobriram que casos de reencarnação eram relativamente raros: apenas 2,2 pessoas em 1000 aparentemente lembravam de vidas passadas.

Referências

Arnold, T. (1921). Saints and martyrs (Muhammadan in India). In J. Hastings (Ed.), Encyclopaedia of religion and ethics (pp. 68-73). New York: Charles Scribner’s Sons.

Arnold, T. (1961). The preaching of Islam: A history of the propagation of the Muslim faith. Lahore: Sh. Muhammad Ashraf.

Barker, D. S., & Pasricha, S. (1979). Reincarnation cases in Fatehabad: A systematic survey of north India. Journal of Asian and African Studies, 14, 231-240.

Bliss, E. (1986). Multiple personality, allied disorders and hypnosis. New York: Oxford University Press.

Brody, E. (1979). Review: Cases of the reincarnation type. Ten cases in Sri Lanka, by Ian Stevenson. Journal of the American Society for Psychical Research, 73 (1), 71-81.

Burton, R. & Whiting, J. W. M. (1961). The absent father and cross-sex identity. Merrill Palmer Quarterly of Behavior & Development, 7(2), 85-95.

Cook, E. W., Pasricha, S., Samararatne, G., Maung, U Win, & Stevenson, I. (1983). A review and analysis of “unsolved” cases of the reincarnation type: II. Comparison of features of solved and unsolved cases. Journal of the American Society for Psychical Research, 77, 115-135.

Coons, P., Bowman, E., & Milstein, V. (1988). Multiple personality disorder: A clinical investigation of 50 cases. Journal of Nervous and Mental Disease, 176(9), 519-527.

Délanne, G. (1924). Documents pour servir a l’etude de la réincarnation. Paris: Editions de la B.P.S.

Demographic Yearbook. (1970). New York: United Nations.

Europa Year Book. (1988). London: Europa Publications Ltd.

Gibb, H. A., & Kramers, J. H. (1953). Shorter encyclopedia of Islam. Leiden: E. J. Brill.

Haimendorf, C. (1953). The after-life in Indian tribal belief. Journal of the Royal Anthropological Institute, 83, 37-49.

Hodgson, M. G. S. (1974). The venture of Islam. Vol. III. Chicago: The University of Chicago Press.

Hollister, J. (1953). The shi’a of India. London: Luzac and Company, Ltd.

Houtsma, M. T., Wensinck, A. J., Arnold, T. W., Heffening, W., & Levi-Provencal, E. (Eds.). (1987). E. J. Brill’s first encyclopaedia of Islam 1913-1936. Vol. IV. Leiden: E. J. Brill.

Ibn Saad. (1917). Biographie Muhammed’s. Band 1. Leiden: E. J. Brill.

James, T. (1951). Aplasia of the male prepuce with evidence of hereditary transmission. Journal of Anatomy, 85, 370-37.

Lawrence, B. (1979). Introduction. In B. Lawrence (Ed.), The rose and the rock: Mystical and rational elements in the intellectual history of south Asian Islam (pp. 3-13). Comparative studies on southern Asia, No. 15. Durham, North Carolina: Duke University Program in Comparative Studies on Southern Asia, Islamic and Arabian Development Studies.

Lewis, B., Menage V. L., Pellat, C, & Schacht, J. (Eds.). (1971). The encyclopedia of Islam. Vol. III. (New Edition). London: Luzac & Company.

Mills, A. (1989). A replication study: Three cases of children in northern India who are said to remember a previous life. Journal of Scientific Exploration, 3(2), 133-84.

Obeyesekere, G. (1980). The rebirth eschatology and its transformations: A contribution to the sociology of early Buddhism. In W. O’Flaherty (Ed.), Karma and rebirth in classical Indian traditions (pp. 137-164). Berkeley: University of California Press.

O’Flaherty, W. (1980). Karma and rebirth in the Vedas and Puranas. In W. O’Flaherty, (Ed.). Karma and rebirth in classical Indian traditions (pp. 3-37). Berkeley: University of California Press.

Pasricha, S. (1990). Claims of reincarnation: An empirical study of cases in India. New Delhi: Harman Publishing House.

Sachedina, A. A. (1981). Islamic messianism: The idea of madhi in twelver Shi’ism. Albany: State University of New York Press.

Sahay, K. C. (1927). Reincarnation: Verified cases of rebirth after death. Bareilly: N. L. Gupta.

Sant Ram. (1974). The riddle of rebirth. Hoshiarpur, Punjab: Vishveshvaranand Institute Publication 626. [in Hindi]

Schimmel, A. (1975). Mystical dimensions of Islam. Chapel Hill: University of North Carolina Press.

Smith, W. C. (1943). Modern Islam in India: A social analysis. Lahore: Ripon Printing Press.

Spear, P. (1965). A history of India. Vol. 2. Harmondsworth: Penguin Books.

Stevenson, I. (1966). Cultural patterns in cases suggestive of reincarnation among the Tlingit Indians of southeastern Alaska. Journal of the American Society for Psychical Research, 20, 229-243.

Stevenson, I. (1969). The belief in reincarnation and related cases among the Eskimos of Alaska. Proceedings of the Parapsychological Association, 6, 53-55.

Stevenson, I. (1974). Twenty cases suggestive of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia. (First published Proceedings of the American society for Psychical Research, 26, 1-362, 1966.)

Stevenson, I. (1975a). The belief and cases related to reincarnation among the Haida. Journal of Anthropological Research, 31(4), 364-375. (Reimpresso com revisões, Journal of the American Society for Psychical Research, 71, 177-189, 1977.)

Stevenson, 1.(1975b). Cases of the reincarnation type. Vol. I. Ten cases in India. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (1977). Cases of the reincarnation type. Vol. II. Ten cases in Sri Lanka. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (1980). Cases of the reincarnation type. Vol. III. Twelve cases in Lebanon and Turkey. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (1983a). American children who claim to remember previous lives. Journal of Nervous and Mental Disease, 171(12), 742-748.

Stevenson, I. (1983b). Cases of the reincarnation type. Vol. IV. Twelve cases in Thailand and Burma. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (1984). Unlearned language: New studies in xenoglossy. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, 1.(1985). The belief in reincarnation among the Igbo of Nigeria. Journal of Asian and African Studies, 20(12), 13-30.

Stevenson, I. (1986). Characteristics of cases of the reincarnation type among the Igbo of Nigeria. Journal of Asian and African Studies, 27(34), 204-216.

Stevenson, I. (1987). Children who remember previous lives: A question of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (vindouro). Birthmarks and birth defects: A contribution to their etiology. New York: Paragon House Publishers.

Stevenson, I., & Chadha, N. K. (1990). Can children be stopped from speaking about previous lives? Some analyses of features in cases of the reincarnation type. Journal of the Society for Psychical Research, 56(818), 82-90.

Warkany, J. (1971). Congenital malformations: Notes and comments. Chicago: Year Book Medical Publishers.                                   

Referênca original: Mills, Antonia. “Moslem cases of the reincarnation type in northern India: A test of the hypothesis of imposed identification, Part I: Analysis of 26 cases”. J. Sci. Exploration 4, No. 2 (1990) pp. 171-188

_________________________ 

Este artigo foi traduzido para o português por Álvaro Tronconi e revisado por Inwords.

24 respostas a “Casos Muçulmanos de Reencarnação no Norte da Índia: Um Teste da Hipótese da Imposição de Identidade Parte I: Análise de 26 casos, por Antonia Mills (1990)”

  1. Marciano Diz:

    Muçulmanos não acreditam em reencarnação.
    Estranho…
    O que Muhammed diria disso?
    Tem base no Corão?

  2. Marciano Diz:

    Mansur al-Hallaaj, uma figura muito reverenciada pelos sufis, disse: “Sou Aquele a Quem amo”, exclamou, “Aquele a Quem amo sou eu; somos duas almas que coabitam um corpo. Se você vir a mim, O verá e se O ver verá a mim.”[3 – At-Tawaaseen de Al-Hallaj]

    Muhiyddin Ibn Arabi, outra figura reverenciadas no Sufismo, foi infame por suas declarações: “O que está sob minha vestimenta não é nada, exceto Deus,” “O servo é o Senhor e o Senhor é um servo.”[4 – Al-Fatoohaatul-Makkiyyah & Al-Fatoohaat]

    Essas crenças acima contradizem fortemente a crença islâmica na unicidade de Deus, porque o Islã é um estrito monoteísmo. Essas doutrinas cardinais sufis não estão distantes de algumas das crenças cristãs ou da crença hindu de reencarnação. S.R. Sharda em seu livro “Sufi Thought” (Pensamento Sufi) disse: “A literatura sufi do período pós-Tamerlão mostra uma mudança significativa na essência de pensamento. É panteísta. Depois da queda do poder da ortodoxia muçulmana no centro da Índia por aproximadamente um século, devido à invasão de Tamerlão, o Sufismo ficou livre do controle da ortodoxia muçulmana e se associou com santos hindus, que os influenciaram a uma extensão surpreendente. Os sufis adotaram o monismo, a devoção extremada e práticas Bhakti e iogues da escola vedântica Vaishnava. Naquela época a popularidade do panteísmo vedântico entre os sufis alcançou seu apogeu.”
    .
    Fonte:
    http://www.islamismo.org/sufismo.htm
    .
    Garanto que entre xiitas e sunitas é a mesma coisa.
    Não sei entre os safaditas, como é.

  3. Marciano Diz:

    Seria por aí?
    Não vejo como se pode encaixar reencarnação no Corão.
    A crença em reencarnação mencionada acima foi no sentido analógico e pejorativo.
    Ver reencarnação na bíblia já é do Peru. No Corão, então, nem se diga.
    Muçulmano é quem adota o Islam.

    Árabe não é sinônimo de muçulmano e vice-versa.
    Não entendi nada.

  4. Johny Blade Diz:

    Até hoje ninguém me explicou por que estas “lembranças” de vidas passadas tem que ter a ver, necessariamente, com a reencarnação e não um outro fenômeno qualquer. Se eu tiver qualquer pensamento ou memória que já esteve presente na cabeça de outra pessoa então eu tenho que ser a reencarnação desta pessoa? Que sentido faz isso? Idéias, memórias, sonhos e muitas outras coisas permeiam a consciência humana, a hipótese de reencarnação nos casos citados é a meu ver muito mais improvável do que outras explicações possíveis. Qual explicação mais possível: atributos da consciência de absorver informações, nada mais que isso. Reencarnação para que?

  5. Vitor Diz:

    Oi, Johny
    Reencarnação para quê?
    para explicar o fato de serem os reconhecimentos coerentes com o relacionamento da vida passada. Por que a criança reconheceria várias pessoas, somente do ponto de vista de uma pessoa falecida? Sua hipótese não explica o padrão de reconhecimento. Nem esclarece os aspectos de comportamento que os acompanham, isto é, o entusiasmo da criança ao ver os vários amigos e parentes da vida passada. Mas, tanto os padrões de reconhecimento como os aspectos de atitude que os acompanham tornam-se compreensíveis, se supusermos que a mente do falecido, de algum modo, participou desses reconhecimentos.

  6. Antonio G. - POA Diz:

    …muito supostamente, né Vitor?

  7. Vitor Diz:

    Antonio,

    se tiver uma explicação melhor, diga, porque estamos aguardando uma já há mais de meio século…

  8. Marciano Diz:

    Será que existe algum caso de criança semi-cristã que se lembre de outras vidas?
    Qual a definição de semi-muçulmano?
    Seria alguém que não se decidiu entre o sunismo, o xiismo, sufismo ou alguma das outras muitas denominações muçulmanas?
    Se for o caso, um semi-cristão poderia ser alguém que ainda não se decidiu sobre o catolicismo apostólico romano, o catolicismo ortodoxo, o presbiterianismo, etc.
    Dependendo da definição de muçulmano, até eu sou semi-muçulmano ou muçulmano não-praticante, semi-cristão ou cristão não-praticante…
    Eu não trabalho nos feriados religiosos cristãos. Talvez isso me torne uma espécie de semi-cristão.
    .
    No espiritismo também são raros os casos de troca de sexo nas reencarnações, o que parece sugerir que espíritos têm sexo. Para que serve sexo espiritual é matéria controvertida.
    Outra coisa que eu acho curiosa é essa mistura de parapsicologia com reencarnação. Parapsicologia se pretende ciência e reencarnação é coisa de algumas religiões.
    Será que TODOS os parapsicólogos engolem essa história de vidas passadas?
    .
    A wikipedia não explica minhas dúvidas, ao contrário, multiplica-as.
    Veja-se este trecho:
    .
    “Apesar de muitas pesquisas concluírem resultados favoráveis à reencarnação9 13 , até o momento não se conhece nenhum processo físico testável pelo qual uma personalidade pudesse sobreviver à morte e se deslocar para outro corpo. De modo que cientistas defensores da teoria reencarnacionista, como Ian Stevenson, Jim Tucker, Erlendur Haraldsson e Brian Weiss, reconhecem tal limitação e atribuem a possível existência de tais fenômenos a processos até o momento não provados através do método científico.
    A ciência, em geral, não se presta a provar ou não a reencarnação ou a ressurreição. Isto porque o aspecto subjetivo que sustenta as ideias da ressurreição e da reencarnação dificulta eventuais demonstrações científicas, fazendo tais ideias aportarem então no âmbito da fé e da crença, o que não significa necessariamente qualquer falta de mérito de qualquer uma delas, senão que se limitam ao campo da fé e da experiência individual. Por mais evidentes que possam parecer determinados relatos, cientificamente, sob os atuais domínios do conhecimento científico estrito, não estão provados”.
    .
    Rhine é citado com frequencia aqui, porém eu acho que Vasiliev (Leonid) cairia melhor. Ele via várias aplicações práticas para a psi, inclusive e principalmente militares. Será que americanos e russos desistiram da parapsicologia, depois de estudá-la bastante, ou será que passaram a tratar do assunto como segredo militar?

  9. Marciano Diz:

    O trabalho do Dr. Stevenson faz-me lembrar do trabalho do Dr. Edward Bach. Um médico renomado, grande bacteriologista, que contribuiu muito para uma ciência moderna, os florais de Bach.
    Maiores informações aqui:
    .
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Edward_Bach
    .
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ess%C3%AAncia_floral#Cr.C3.ADticas_contra_as_ess.C3.AAncias_florais

  10. Marciano Diz:

    Por que será que indianos são mais propensos a se recordarem de vidas passadas e a terem marcas de nascença do que outros povos, inclusive kardecistas brasileiros?
    Seria por alguma razão cultural?
    Ou será que o véu do esquecimento não vigora na Índia?

  11. Antonio G. - POA Diz:

    Vitor, não sei explicar viagens em maionese… Essas histórias são anedóticas, meu caro! “…o entusiasmo da criança ao ver os vários amigos e parentes da vida passada…” Conversa fiada, meu caro! Você está acima disto. Acho, sinceramente, que você deve dar risadas quando escreve estas coisas, imaginando a perplexidade dos céticos. DUVIDO que você realmente acredite na veracidade destas bobagens.

  12. Antonio G. - POA Diz:

    Não é porque está escrito num livro ou numa revista que devemos acreditar em absurdos. Pessoas supostamente confiáveis escrevem asneiras a rodo. Temos que filtar o que nos chega ao conhecimento. E o melhor filtro continua sendo o bom senso.

  13. Gorducho Diz:

    Por isso cito tanto o dito pelo técnico da Kodak p/o Gardner. Adquiri com o tempo o hábito de pensar com meu próprio neurônio. Então não saio repetindo absurdos só porque estão numa publicação americana ou inglesa, apesar do fascínio que esses lugares me provocam – a América nem tanto… mas Londres… Ou a França, ah!; mas da França não tem saído tantos absurdos depois do Kardec e do Richet me parece. Escaldaram-se…
    Falo genericamente sobre o que cá tem sido divulgado.

  14. MONTALVÃO Diz:

    .
    MARCIANO: Para que serve sexo espiritual é matéria controvertida.
    .
    COMENTÁRIO: depende de que sexo espiritual esteja falando. Existe o sexo espiritual terrenal, do qual a ioga tântrica é exemplo ou, mais radicalmente, o sexo contemplativo é outro. Mas o sexo espiritual propriamente dito, ou seja, o praticado por e entre espíritos, serve para gerar (dããããã) espiritozinhos, do mesmo modo que o sexo entre encarnados gera bebês de carne. O que é carne é gerado pela carne, o que é espírito pelo espírito é gerado. Desse modo, quando uma nova vida carnal é produzida, concomitantemente se produz uma vida espiritual. Depois, basta juntar as partes e temos uma nova criatura, completinha.
    .
    Pura ciência aplicada e explicada…

  15. MONTALVÃO Diz:

    .
    MARCIANO: Por que será que indianos são mais propensos a se recordarem de vidas passadas e a terem marcas de nascença do que outros povos, inclusive kardecistas brasileiros?
    Seria por alguma razão cultural?
    Ou será que o véu do esquecimento não vigora na Índia?
    .
    COMENTÁRIO: os indianos nascem marcados porque eles precisam saber que são reencarnação de outrem. Os kardecistas estão dispensados desses indicativos porque Kardec lhes elucidou qualquer dúvida: os espíritos tudo explicaram. Com tudo explicado, tornou-se desnecessário haver recordações de vidas passadas, por isso desceu o véu do esquecimento.
    .
    Visto a espiritualidade em peso ter se concentrado no entorno kardecista e adjacências, não sobrou espírito missionário para noticiar as notícias aos indianos. Foi assim que o sistema marcatório e a liberação de lembranças foi lá implementada.
    .
    Pura ciência espírita aplicada.

  16. MONTALVÃO Diz:

    .
    “Reencarnação para quê?
    para explicar o fato de serem os reconhecimentos coerentes com o relacionamento da vida passada. Por que a criança reconheceria várias pessoas, somente do ponto de vista de uma pessoa falecida? Sua hipótese não explica o padrão de reconhecimento. Nem esclarece os aspectos de comportamento que os acompanham, isto é, o entusiasmo da criança ao ver os vários amigos e parentes da vida passada. Mas, tanto os padrões de reconhecimento como os aspectos de atitude que os acompanham tornam-se compreensíveis, se supusermos que a mente do falecido, de algum modo, participou desses reconhecimentos.”
    .
    COMENTÁRIO: resumindo: a reencarnação se torna compreensível se acreditarmos que a reencarnação exista…

  17. Marciano Diz:

    Cadê JCFF e seu entendimento sobre reencarnação indiana?

  18. MONTALVÃO Diz:

    .
    MARCIANO: Será que americanos e russos desistiram da parapsicologia, depois de estudá-la bastante, ou será que passaram a tratar do assunto como segredo militar?
    .
    COMENTÁRIO: desistiram. Desistiram depois de constatarem que o paranormal, se existir, é “força” incerta, incontrolada, esporádica e sem aplicação utilitária. Enquanto o paranormal estivesse em estado de supressão dos sentidos, esforçando-se por acertar pouco acima do esperado pelo acaso, o inimigo já teria tomado a cidadela.
    .
    Pensando nisso, ocorreu-me um bom teste de campo, com forte apelo emocional, conforme o Vitor afirma ser imprescindível para o sucesso da visão remota: soltar um sensitivo em campo minado para que ache as minas enterradas. Ele vai na frente a indicar a localização dos explosivos. Como tem o dom de enxergar terra a dentro não corre perigo algum…

  19. Marciano Diz:

    De preferência, para evitar vazamento de informações, o campo não deve ser minado para o teste.
    O ideal é encontrar um desses abandonados, onde ninguém sabe a localização das minas.

  20. Marciano Diz:

    Montalvão, tem comentário dirigido a você, no tópico “A PERCEPÇÃO TELEPÁTICA NO ESTADO ONÍRICO, por Stanley Krippner e Montague Ullman (1969)”.

  21. MONTALVÃO Diz:

    .
    MARCIANO: No espiritismo também são raros os casos de troca de sexo nas reencarnações, o que parece sugerir que espíritos têm sexo. Para que serve sexo espiritual é matéria controvertida.
    […]
    Por que será que indianos são mais propensos a se recordarem de vidas passadas e a terem marcas de nascença do que outros povos, inclusive kardecistas brasileiros?
    Seria por alguma razão cultural?
    Ou será que o véu do esquecimento não vigora na Índia?
    .
    COMENTÁRIO: de Marte, fiz minhas incursões pessoais nessa seara: viajei a Índia, com financiamento de Sheldrake (hotel meia estrela, com direito a meio café da manhã e água o resto do dia), e colhi um depoimento (foi o possível com a verba disponível), o qual postei em outro tópico, no qual estou a discutir com o Vitor. Como parece que só eu e ele estamos por lá, repriso aqui o resultado desse trabalho para, caso lhe interesse, dele tome ciência. (Cuidado, se você tem nervos fracos não recomendo que leia).
    .
    “Vamos imaginar, tentar imaginar, o que seria um reencarnado a retornar para o antigo lar. Lembremos que se tratam de crianças de três, quatro anos de idade. Façamos um teatrinho (já que estamos vendo tanta teatralização, temos o direito de apresentar a nossa). Digamos que temos duas famílias, uma a de Dirakivolta, e a de Gorreturn.
    .
    Pradesh Dirakivolta tem uma filha de três aninhos, que cismou ser um filho de Mustafá Gorreturn que morrera assassinado oito anos antes dela nascer. O caso causou sensação, não pelo fato de a criança lembrar de ter sido outra noutra existência, pois reencarnar é banal na comunidade. Mas o falecido era um rapaz de 23 anos e reencarnara menina. Mudança de sexo entre encarnações é coisa de que ninguém por lá recorda. Mas o fato tem uma explicação lógica: o falecido fora acusado de haver estuprado uma vaca, animal sagrado: seus algozes haviam-lhe decepado o braúlio e o deixado a sangrar até a morte.
    .
    A menina não tinha marca de nascença visível, mas dizia que sua marca de nascença era exatamente a ausência do membro viril, o que confirmava sua linhagem encarnativa. Além disso, Pirrikesh (como era chamada) era anêmica desde o nascimento. Isso só reforçava a certeza de que fosse a reencarnação do eunuco radical compulsório, visto que este morrera devido a grande perda de sangue.
    .
    Um certo dia, pancadinhas se ouviram na porta da casa de Mustafá Gorreturn. Ao abrir deparou a garotinha de Pradesh, com sua mochilinha de escola, a olhá-lo com o olhar de filho morto. “Pai”, disse ela, “sou eu, seu filho Ablado, vim reassumir minha vida nesta família”. Entre espantado e estupefato, Mustafá retruca: “Pirrikesh, eu acredito que você seja meu filho emasculado, pois isso é a coisa mais normal do mundo: uma pessoa ser outra que morreu; mas agora você não é mais ele, você é uma menininha, filha de Prakash”. A garotinha sustentou o olhar de Mustafá e obtemperou: “Pai, não me mande embora para aquela casa, lá não tenho onde dormir direito, minhas irmãs mais velhas roubam minhas bonecas; aqui sei que tenho meu quarto e quero dele tomar posse por direito reencarnacional!”. Mustafá, com olhar tristonho, respondeu: “Pirrikesh, não posso aceitá-la, a não ser para vendê-la aos beduínos; aqui você será mais uma boca a ser alimentada e só estará disponível para o trabalho dentro de dois anos, e não poderá fazer muita coisa. Meu filho carregava água, me ajudava com os cavalos e cuidava da horta, você não pode fazer nada disso..”.
    .
    Entretanto, Pirrikesh não estava disposta a ceder e passou a apelar: “você não pode expulsar seu filho, eu sou daqui, eu reconheço tudo nesta casa, tá vendo aquele sofá? Pois eu o reconheço! Tá vendo aquele estante? Eu a conheço, tá vendo aquela velha fazendo comida? Eu sei quem é!”.
    .
    Mustafá estava a perder a paciencia: “Mais respeito, aquela velha, digo, senhora, é sua mãe quando você era Ablado!”…
    .
    Não vou cansar vocês com detalhes dos acontecimentos seguintes. A próxima cena mostra Mustafá carregando menina, que esperneia e chora, de volta ao antigo, digo, novo lar. Lá chegando conversa com Prakesh.
    .
    “Meu amigo Prakesh, acho melhor pararmos com esse negócio de filho meu reencarnar na sua casa, Pirrikesh é a terceira encarnação que aparece. As outras duas aceitei, e os rapazes são verdadeiros vagabundos, não querem fazer nada e vivem respondendo a mãe. Eu acho que você está querendo se livrar da superlotação de sua casa enchendo a minha”.
    .
    Prakesh, laconicamente, respondeu: “nada posso fazer, a encarnação é de filho seu, responsabilidade sua”.
    .
    Mustafá não se conteve: “é mas se Pirrikesh ou outra alma tornar a aparecer lá em casa vai sair debaixo de bordoada!”.
    .
    Depois disso o tempo fechou, os dois se embolaram no chão e foi difícil separá-los.
    .
    Após o desfecho Mustafá e Prakesh se tornaram desafetos, nunca mais se falaram. Só que agora tem um probleminha: Mustafá acaba de ter um filho que diz ser reencarnação de um tio de Prakesh que vivia com a família e insiste em voltar ao antigo lar, onde era tratado com toda mordomia…”
    (Da obra não lançada: “Minhas pesquisas multividas no Oriente”)
    .

  22. Gorducho Diz:

    Viu a sapiência do Platão de do Kardec fazendo as almas deles esquecerem tudo e não terem marcas de nascença? O potencial teórico e prático de transtornos e constrangimentos que disso resulta!
    Reencarnação 1° mundo: Grécia Clássica e França vs terceiro-mundista: indígenas norte-norteamericanos pré-colonização + India…

  23. Marciano Diz:

    MONTALVÃO, depois de sua pesquisa relatada acima acho que finalmente entendi a lógica reencarnacionista.

  24. Antonio G. - POA Diz:

    Excelente trabalho! Era a evidência que me faltava. Mudei de posição, o que é o esperado de quem tem um mínimo de sensatez. A reencarnação é mesmo um fato. Como é que alguém pode duvidar de algo tão… tão… tão lógico !!??

Deixe seu comentário

Entradas (RSS)