Livro Boa Nova (1941) de Chico Xavier
Correspondências entre o livro “Boa Nova” de Chico Xavier e “Vida de Jesus” de Ernest Renan
Introdução
As obras a serem comparadas aqui são “Boa Nova” (Xavier, FEB, 1941)[1],cujo espírito seria Humberto de Campos, e “Vida de Jesus”, de Ernest Renan, publicada em 1863, utilizando a versão em português da Editora Martin Claret (2004). As semelhantes entre as duas obras foram aparentemente descobertas por um tal de Fábio Lins, segundo o administrador de uma lista de discussão do Yahoo chamado Paulo Dias. A primeira notícia que tive disso foi, portanto, através dessa lista chamada “Projeto Gabriel Delanne”[2]. Alguns trechos foram-me mostrados pelo senhor Paulo Dias e de fato revelavam profundas semelhanças. Como não houve maior divulgação em torno da descoberta, resolvi eu mesmo apresentá-la por meio deste artigo, com o intuito de contribuir a um maior conhecimento acerca da vida e mediunidade de Chico Xavier.
Cores são utilizadas para ajudar a destacar trechos idênticos ou semelhantes.
Comparação Entre “Boa Nova” e “Vida de Jesus”
Vida de Jesus (Ernest Renan) |
Boa Nova (Chico Xavier) |
Mesmo hoje em dia, é uma excelente estada, talvez o único lugar da Palestina onde a alma se sinta um pouco aliviada (pág. 104) |
Nazaré, com a sua paisagem, das mais belas de toda a Galiléia, é talvez o mais formoso recanto da Palestina. (pág. 07) |
Nazaré era uma cidade pequena, situada numa dobra de terreno largamente aberto, no alto do grupo de montanhas que limita ao norte a planície de Esdrelão. (pág. 104) |
Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavidade em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. (pág. 07) |
O horizonte da cidade é estreito, mas por pouco que se suba e que se atinja o planalto, fustigado por uma brisa perpétua, que se estende das casas mais altas, a perspectiva é esplêndida. (pág. 105) |
Seus horizontes são mesquinhos e sem interesse; contudo, os que subam um pouco além, até onde se localizam as casinholas mais elevadas, encontrarão para o olhar assombrado as mais formosas perspectivas. (pág. 07) |
Ao oeste, se desdobram as belas linhas do Carmelo, terminadas por uma ponta abrupta que parece mergulhar no mar. Depois se desenrolam o cume duplo que domina Magedo, as montanhas de Siquém, com seus lugares santos no tempo patriarcal; os montes Gelboé, o pequeno conjunto pitoresco ao qual se ligam as lembranças graciosas e terríveis de Sulém e Endor; o Tabor, com sua forma arredondada, que a Antiguidade comparava a um seio. Por uma depressão entre a montanha de Sulém e o Tabor se entrevê o vale do Jordão e as planícies de Pereia, que formam uma linha contínua do lado leste. Ao norte, as montanhas de Safed, inclinando-se para o mar, escondem São João de Acre, mas revelam o golfo de Caifa. Tal foi o horizonte de Jesus (pág. 105) |
Ante seus olhos surgiam as montanhas de Sarnaria, o cume de Magedo, as eminências de Gelboé, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde, ficaria inesquecível o instante da Transfiguração, o vale do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Safed, o golfo de Khalfa, o elevado cenário do Pereu, num soberbo conjunto de montes e vales, ao lado das águas cristalinas (pág. 07) |
Discussão
As semelhanças são, no meu entender, claras. O que se pode analisar aqui é se estamos diante de um plágio ou de um fenômeno de criptomnésia. Existe uma tradução do livro “Vida de Jesus” feita em Portugal, pela Lello & Irmão Editores (Porto), anterior a 1926, com sucessivas reedições e distribuída no Brasil por vários importadores de livros. Humberto de Campos faleceu em 5 de dezembro de 1934, ficando cego pouco antes. Há chances, portanto, dele ter lido a versão em português do livro de Renan. O médium publicou “Boa Nova” em 1941, sendo também possível, portanto, que tenha lido a versão portuguesa de “Vida de Jesus”. Como não é possível saber se o médium copiou os trechos, adulterando-os levemente, de forma consciente, tendo para a explicação de criptomnésia: Chico teria lido o livro de Renan e inconscientemente transcrito seu conteúdo na psicografia do Espírito Humberto de Campos. Há ainda a possibilidade do próprio Humberto de Campos ter lido “Vida de Jesus” e transcrito seu conteúdo pela psicografia, mas considero esta hipótese menos parcimoniosa. Clarividência (percepção visual de objetos, locais e acontecimentos por meios não explicados pelo conhecimento científico atual), retrocognição (conhecimento do passado por meios não sensoriais) e mesmo telepatia (vulgarmente definida como “leitura de mente”) também seriam hipóteses possíveis, mas igualmente menos parcimoniosas, já que invocam meios paranormais de aquisição de informação, enquanto para a criptomnésia bastam meios normais para explicar o fenômeno. Vale ressaltar que, desde os tempos de colégio, 4º ano do primário para ser mais preciso, Chico já sofria acusações de plágio, tendo sido desafiado para improvisar uma redação com o auxílio de um suposto espírito com um tema escolhido ao acaso. Passou com sucesso no teste, o que demonstraria que ele não estava plagiando. O tema escolhido havia sido o grão de areia.
Há outro motivo mais forte, contudo, para não pensar
E por isso que todos os historiadores das origens do Cristianismo param a pena, assombrados ante a fé profunda dos primeiros discípulos que se dispersaram pelo deserto das grandes cidades para pregação da Boa Nova, e, observando a confiança serena de todos os mártires que se têm sacrificado na esteira infinita do Tempo pela idéia de Jesus, perguntam espantados, como Ernest Renan, numa de suas obras (grifos meus).
Um plagiador que cita a fonte do qual cometeu o plágio não seria muito inteligente.
Conclusão
O livro “Boa Nova”, de Chico Xavier, possui trechos nitidamente retirados de “Vida de Jesus”, de Ernest Renan, caracterizando provavelmente o fenômeno de criptomnésia, caso o médium tenha lido a obra, e não um fenômeno mediúnico ou paranormal, embora as últimas hipóteses não possam ser descartadas por completo.
Referências
Lewgoy, Bernardo. “Chico Xavier e a cultura brasileira” Revista de Antropologia vol.44 no.1, 2001 (disponível online em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012001000100003&script=sci_arttext , acessado dia 21/04/2007)
Xavier, Chico. “Boa Nova”, FEB, 1941.
Renan, Ernest. “Vida de Jesus”, Martin Claret, 2004.
[1] Utilizou-se de um e-book, disponível à época da elaboração deste artigo gratuitamente no site http://www.projetoespirita.com.br/livros.php. O site, porém, não existe mais (acessado dia 22/04/2007).
[2] A mensagem inicial sobre o assunto, disponível apenas para aqueles associados à lista, pode ser conferida no link http://br.groups.yahoo.com/group/pgdelanne/message/2497.
agosto 29th, 2007 às 8:34 AM
[…] embora Moura enfatize sempre a cautela em acusar o suposto médium de fraude consciente. Em um exemplo, Moura menciona como Xavier em certa passagem menciona o próprio livro do qual diversas […]
agosto 29th, 2007 às 9:58 PM
[…] embora Moura enfatize sempre a cautela em acusar o suposto m?dium de fraude consciente. Em um exemplo, Moura menciona como Xavier em certa passagem menciona o pr?prio livro do qual diversas passagens […]
agosto 31st, 2007 às 8:27 PM
Interessante, mas não prova que é fraude!
setembro 24th, 2007 às 12:51 AM
As semelhanças entre os textos dos dois livros está apenas na descrição da região onde Jesus viveu, o que se pode concluir que ambas as obras estão corretas quanto a descrição do ambiente. Como se pode descrever o mesmo lugar sem usar palavras semelhantes!!??
Os trechos semelhantes representam apenas uma página do livro e as demais páginas (mais de 100) possuim mais coisas semelhantes??
E quem pode dizer que Humberto de Campos não era a reencarnação de Ernest Renan, ou mesmo os dois pegaram os dados de mesma fonte.
E se Ernest Renan estava correto em sua descrição pq Humberto de Campos não poderia ter se baseado na obra dele para ditar a Chico Xavier…
Não achei os fatos relevantes o suficiente para se criar uma página para discussões…
setembro 24th, 2007 às 1:49 AM
Oi, Gérson
comentando:
1) Comparemos as datas:
a)Ernest Renan nasceu em 28 de fevereiro de 1823 e morreu em 2 de outubro de 1892.
b)Humberto de Campos nasceu em 25 de outubro de 1886 e morreu em 5 de dezembro de 1934.
Conclusão: Impossível, portanto, um ser a reencarnação do outro. Quando Renan morreu Humberto já tinha 6 anos.
2) Sobre as fontes, os dados de Renan são originais, ele foi até o local.
3) O problema não é se basear em Renan para escrever a obra, o problema é não dizer isso de modo claro.
Abraço.
outubro 9th, 2007 às 11:28 PM
Alo Vitor,
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Usei este post seu antigo pra fazer este comentário e se quiser, pode apagar.
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Queria dizer que, embora eu faça críticas ao seu site e a suas pesquisas, queria que você continuasse.
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Jamais minhas críticas seriam tentativa de censura, etc. Nada disso 🙂
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Ficaria muito triste se seu site parasse, aliás uma coisa muito muito legal mesmo de seu site é que permite comentários. Nada mais justo e democrático. Você poderia simplesmente colocar seus textos e não deixar ninguém comentar. Por isso, parabéns.
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Aliás, pra ser sincero acho que seu site acaba tendo a função contrária… acaba fazendo como outro amigo diz “o sândalo perfuma o machado que o fere” :-).
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Ou seja, as pessoas saem mais convencidas de Chico do que entram, ou é pelo menos o que eu vejo. O fato é que seu site de certa forma se assemelha ao “Auto de Fé de Barcelona”, sendo na verdade uma ajuda que o Sr. dá a Chico, e se me permite isso ocorre por 2 motivos:
1. Suas colocações são excessivamente duras, não que não tivessem que ser objetivas, mas da forma como são colocadas, as vezes geram recusa imediata (como uma amiga que comentou nervosa com seu site…).
2. De certa forma, falta uma colocação amigável dos artigos, pois as conclusões não deixam espaço para dúvidas. Ou seja, pessoas que pensam ao contrário não encontram um “pensemos” ou “analizemos”.. .etc. Encontram uma colocação final muito incisiva… (não sei se consegui ser claro, mas…)
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Forte abraço do amigo,
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MC
outubro 9th, 2007 às 11:34 PM
Oi, MoonChild,
é problemático. Se eu deixar margem para dúvidas, diriam que não embasei minha pesquisa devidamente e não vêem porque publicar algo sobre o qual não se tem certeza. Diriam que quero apenas polemizar. Do jeito que está, me acusam disso também, mas pelo menos não podem dizer que não forneci provas do que digo 🙂
Abraços.
outubro 13th, 2007 às 7:28 PM
Impressionante a falta de solidez do suposto quedro comparativo entre as duas obras apresentadas no seguinte artigo.
Percebe-se, além da falta da suposta ”semelhança”, que a obras psicografada possui um nível de linguagem e de estruturas muito supeior ou do outro autor.
Obrigado por divulgar o Espiritismo,
Abraços.
outubro 14th, 2007 às 12:29 AM
Oi, Thiago
respeito sua opinião 🙂
fevereiro 18th, 2008 às 12:46 AM
Esse é o segundo email que leio levantando dúvida à cerca da mediunidade de Chico Xavier.
Achar semelhanças de descrições de mesma região geográfica não é estudar criptomnésia,nem tampouco provar fraude.
Se diversos escritores fossem convocados para descrever o ‘corcovado’ no Rio de Janeiro,certamente encontraríamos inúmeras SEMELHANÇAS!
Eu desafio achar alguma semelhança de idéias,roteiro,histórias em qualquer obra do Chico.
julho 4th, 2008 às 2:11 PM
gosto muito de seus livros exclusivamente fiz um livro sobre a sua vida na aula de ensino religioso
agosto 18th, 2009 às 6:09 PM
Esses dados mereceriam uma análise mais aprofundada. Convém mencionar aos que não são pesquisadores que o livro de Renan já caiu em desuso desde os anos 80 do século passado em função de erros topográficos e geográficos e de sua visão etnocêntrica e racista sobre a Palestina.
novembro 5th, 2009 às 7:22 PM
Convido o Vitor a realizar uma jornada sem preconceitos ao “Pentateuco Kardequiano” ou, se muito às principais obras (a meu ver) entre as cinco publicações de Allan Kardec que constituem esse pentateuco – e se possível, realizar pesquisas nos diversos volumes da “Revista Espírita” publicada também por Allan Kardec e, se pouco, nas obras subsidiárias à Doutrina Espírita de autoria dos espíritos Emmanuel e André Luiz. Tenho certeza de que encontrará muitos motivos para “…encontrar a luz no fim do túnel” na temática das obras psicografadas, especialmente as que trazem a chancela de intermediário das psicografias Francisco Cândido Xavier. Creio mesmo que poderemos ter no amigo Vitor um vibrante divulgador das matérias escritas sob a bandeira cristã do Espiritismo. Abraços fraternais!
novembro 5th, 2009 às 7:25 PM
Amigo Vitor, deixei de citar as principais obras (a meu ver), entre as que recebem a referência “Pentateuco Kardequiano. São as duas: O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo.
fevereiro 7th, 2011 às 10:57 PM
Caro Vítor,
Inicialmente quero cumprimentá-lo pelo seu sincero desejo de contribuir para que, os mais de vinte milhões de adeptos da Doutrina Espírita, no Brasil, possam conhecer o que pensam os não espíritas, mesmo que sob a alegação, também sincera, de se apoiar na Ciência atual.
A Ciência convencional, não pode se apartar do desejo de buscar o novo (para ela), contudo, para fazê-lo, sempre será de bom alvitre que o faça a partir de dados e fontes, que fundamentam aquilo que se pretende seja objeto de suas análises e pesquisas.
Os fundamentos da Doutrina Espírita encontram-se todos em suas obras básicas, coligidas por Hipolyte de Lion Denizard Rivail – o Allan Kardec.
Tenho certeza, meu caro Vitor, que seu trabalho seria mais exitoso, se, com boa vontade, decicasse um pouco do seu precioso tempo, compulsando os Livros que compõem o Pentateuco Kardequiano: “O Livro dos Espíritos” (1857); “O Livro dos Médiuns” (1861); “O Evangelho segundo o Espiritismo” (1864); “O Céu e o Inferno” (1865) e por último, “A Gênese” (1868)
Um fraternal abraço, com votos de sucesso.
Maridásio Martins – Salvador – Ba
fevereiro 7th, 2011 às 11:12 PM
Vítor amigo,
Será que estarei plagiando o Roberfrater, nos seus comentários, segundo a forma em que o Senhor analisa as coisas? O Roberfrater fala em “Pentateuco Kardequiano”;
“Doutrina Espírita”; Livro dos Espíritos e etc…estarei então exercitando o fenômeno da criptomnésia? Será?
Cordialmente,
Maridásio Martins – Salvador- Ba
março 26th, 2011 às 2:07 PM
O plágio é uma palavra criada pelos homens para transformar uma idéia universal, como um bem material de quem as criou. Porquê no mundo espiritual não existe plágio!Quem se preocupa com plágio não é espirita. O mundo dos homens está cheio de mesquinharias!
abril 7th, 2012 às 5:00 PM
Allan Kardec diz que quando as mensagens dos espíritos são verdadeiras elas são recebidas em várias partes do mundo. Os escritores podem não ter consciencia de sua própria mediunidade e terem sido inspirados pelos mesmos espíritos daí a semelhança das linguagens. Médiuns (escritores) diferentes em diferentes partes do mundo recebendo as mesmas informações sendo inspirados pelos mesmos espíritos. É preciso ler e entender as Obras Básicas de Kardec antes de mais nada.
julho 3rd, 2012 às 2:36 PM
Se, antes de publicar tais insinuações vocês tivessem consultado um perito no assunto, teriam sido informados que plágio ocorre apenas no campo das idéias; que não há plágio quando, em uma dissertação, autores diferentes usam termos científicos ou técnicos coincidentes para se referir a uma mesma posição geográfica, os mesmos elementos de altitude, um mesmo fenônemo da natureza, uma mesma obra de arte, um mesmo nome de espécie vegetal, etc.; assim como não constitui plágio, em tais textos descritivos, a citação idêntica de nomes próprios dos lugares ou dos elementos de altitude geográfica, nome das cores, etc. Especialmente naquele caso em que os textos descrevem a mesma região – a Galiléia.
agosto 19th, 2013 às 11:41 PM
Esse detetive ainda vai ter muito trabalho, se ao analisar um livro ele encontrou “TODAS” estas provas de plágio , imagina quando ele terminar todos os 367 livros que faltam , ele devia escrever um livro sobre este assunto e ficar rico .
novembro 27th, 2013 às 11:57 AM
Em suma: psicografia=picaretagem
abril 11th, 2015 às 11:33 PM
Como este post já acabou faz tempo, vou testar pela última vez.
abril 11th, 2015 às 11:33 PM
abril 11th, 2015 às 11:34 PM
Gorducho tem razão, não funciona aqui.
novembro 20th, 2015 às 9:50 PM
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