AS FRAUDES DO MÉDIUM MIRABELLI (PARTE 26)
Dando prosseguimento à série de reportagens do Correio Paulistano.
Correio Paulistano – Terça-feira, 27 de junho de 1916, página 3
No mundo das maravilhas
Fez-se luz em a noite do mistério
O sr. Carlos Mirabelli é realmente um hábil prestidigitador
Mirabelli através das suas perversidades
PERIGOSOS “FENÔMENOS DE VIDÊNCIA”
Casa Branca aprecia as proezas mirabéllicas
MIRABELLI ATRAVÉS DAS SUAS PERVERSIDADES
Dentre o limitado número de pessoas que ainda distinguem o sr. Mirabelli com a sua simpatia, algumas há que, embora convencidas de que os “fenômenos de deslocação” ele os obtém por meio de “truques”, acham, todavia, que o truão de nosso homenzinho pode ter efetivamente o dom da mediunidade.
Parecerá um paradoxo, mas essas pessoas afirmam que não é, pois dizem ser corrente que os maiores e os mais celebrados “médiuns” foram surpreendidos na prática de estratagemas com que, em certas ocasiões, procuraram iludir os seus admiradores.
Aceitemos essa hipótese sem discussão, porque o nosso escopo, como toda a gente deve ter percebido, não é combater o espiritismo ou negar a possibilidade da existência de forças desconhecidas. Nada disso.
O que visamos, e temos conseguido, graças à nossa vasta e sensacional reportagem, é provar que o “homem misterioso”, que hoje preocupa todas as atenções, é um vulgaríssimo intrujão, sem o menor respeito pela sociedade em que vive.
Quanto aos “fenômenos objetivos”, que se limitam à cediça história do lápis na garrafa, dos papelões que giram e das lâmpadas mal enroscadas, que se acendem a um simples aceno do escamoteador, isso pouco deveria preocupar os homens de ciência, pela sua futilidade, pois “fenômenos” muito mais interessantes, e cuja explicação até hoje se tornou impossível para os leigos no assunto, tem sido “produzidos” nos nossos teatros pelos grandes prestidigitadores, que aliás tiveram a lealdade de não os atribuir a forças misteriosas.
O que, porém, não deve e não pode passar sem um reparo, é a admirável condescendência, ou que melhor nome tenha, de certos homens cultos que, a despeito dos deploráveis antecedentes do astucioso Mirabelli, ainda o julgam capaz de se achar investido de uma missão divina.
Mirabelli, com as suas ligeirezas, com os seus disparates, com a sua irreverência de linguagem, frutos da supina ignorância em que vive, podia ainda ser tolerado, por inócuo.
Há uma fase, entretanto, das suas intrujices que, divulgada, não pode deixar de revoltar profundamente os espíritos ainda os mais tolerantes. É a fase da perversidade.
Comecemos pelo que sucedeu numa das nossas repartições públicas, com o testemunho insuspeito do nosso prezado amigo e ex-secretário desta folha, sr. dr. Alarico Silveira, testemunho valiosíssimo sob todos os pontos de vista.
O sr. dr. Alarico Silveira, sendo um grande apreciador das ciências ocultas e um intelectual digno de todos os respeitos, foi um dos que mais se regozijaram com o aparecimento do MAIOR MÉDIUM DOS TEMPOS MODERNOS e que, na sua opinião, traria ótimos subsídios para a ciência.
Antes mesmo de ter tido o ensejo de conhecê-lo pessoalmente, o nosso distinto amigo não pôs a menor dúvida em se colocar ao lado de um grupo de cientistas, que desde logo se organizou em sociedade, para prestar auxílio pecuniário ao PRECIOSO ELEMENTO DE ESTUDOS, evitando desse modo que ele fosse obrigado a explorar em seu único proveito o extraordinário dom com que a sábia natureza o dotara.
Essa sociedade, composta de vinte intelectuais, concorrendo cada um, mensalmente, com a quantia de 20$000, produziria um total de 400$000 em proveito do sr. Mirabelli. Era seu tesoureiro o sr. dr. Anthero Bloom.
Foi conhecendo a qualidade de seu protetor que Carlos Mirabelli travou relações com o sr. dr. Alarico Silveira, passando desde então a importuná-lo com reiterados pedidos de dinheiro, sob os pretextos os mais disparatados.
Para esse fim, procurou-o sucessivas na repartição que aquele nosso inestimável amigo superiormente dirige, sem que jamais deixasse de conseguir os seus desígnios.
Certa vez, achando-se no gabinete de trabalhos do seu generoso protetor, Carlos Mirabelli desfiara o rosário das suas vicissitudes, narrando com humildade, entre outros infortúnios, o fato de ter sido despejado com sua família da pensão em que morava, porque se tornara elemento de discórdia entre os respectivos hóspedes.
Com aquela exuberância de alma que lhe reconhecemos, o sr. dr. Alarico Silveira prontificou-se, desinteressadamente, a ceder ao PRODIGIOSO MÉDIUM uma pequena casa, de sua propriedade, à alameda Olga, nº 93.
Carlos Mirabelli, sem dispensar o obséquio, insinuou, entretanto, manhosamente, o seu desejo de conseguir um emprego, que o pusera coberto de surpresas durante a tremenda crise que nos avassala.
Nesse momento, abriu-se uma porta e por ela entrou, sisudo, empunhando uma folha de papel almaço, um respeitável funcionário da repartição, Pedindo licença, adiantou-se até à secretária do seu chefe e respeitosamente submeteu a assinatura deste o papel que trazia.
Carlos Mirabelli, fitando o funcionário com o olhar superior dos predestinados, acompanhou-lhe todos os movimentos e, vendo-o desaparecer pela mesma porta por que entrou, seguiu-o de um salto da cadeira, esbugalhou desmesuradamente os olhos e, mergulhando os dedos afilados na cabeleira revolta, exclamou, numa atitude trágica:
– Quem é?
– É um nosso antigo funcionário. Homem muito bom.
– Bom? Puro engano! Vejo-lhe a “aura vermelha” dos homens maus, assim como diviso no senhor a “aura amarela” dos homens bons.
E, prosseguindo, com a voz cava dos personagens dos melodramas, acrescentou:
– É ruim, sob todos os pontos de vista. É o seu maior inimigo. Este homem o odeia! Abra os olhos com ele! Cuidado! Muito cuidado com ele!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O leitor, que nos segue com interesse, já terá compreendido até que ponto pretendeu chegar o perverso intrujão, dispensando-nos de inúteis comentários.
Felizmente para o bom funcionário e infelizmente para Mirabelli, os conceitos do insidioso embusteiro nenhuma repercussão tiveram no espírito altamente liberal do sr. sr. Alarico Silveira, que aufere do valor dos seus empregados simplesmente pela capacidade que estes revelam no cumprimento dos seus deveres.
* *
De idêntica perfídia usou o sr. Mirabelli para com uma jovem empregada do sr. dr. Carlos Niemeyer, e a esse fato já há dias fizemos referência, como o leitor deve estar lembrado.
O ignóbil intrujão, percebendo pelos risinhos indiscretos da ingênua criadinha que ela não “ia à missa” das experiências mirabéllicas, entendeu de persegui-la, fazendo ao dr. Niemeyer a mais torpe das insinuações sobre a conduta da rapariga, que, aliás, se achava há cinco anos na residência daquele facultativo e devia casar dentro de pouco tempo.
Uma outra perversidade de Mirabelli chegou ao nosso conhecimento. Trata-se de uma comunicação que ele diz ter-lhe sido feita pela alma de um ilustre paulista, falecido há alguns anos.
É de tal modo revoltante essa perfídia, que nos repugna divulgá-la e que, se o fizéssemos, o sr. Mirabelli seria, talvez, forçado a despir o seu invólucro material para, no mundo do Além, justar definitivamente contas com o seu “papá”.
Tranqüilize-se, porém, o charlatão, que nós o queremos vivo e esperto, na certeza de que um dia um dos seus próprios admiradores o surpreenderá nos “truques” em que é fértil.
Outras inúmeras maldades constam ainda da fé de ofício do diabólico trampolheiro, como, por exemplo, a “cura” de enfermos por meio de “água fluida”, os seus pavorosos diagnósticos de moléstias incuráveis e até, segundo nos informam, a alienação mental de uma respeitável senhora, que se acha presentemente sob a impressão dos “fluidos mirabéllicos”.
Não remataremos este capítulo, sem que tenhamos revelado ao leitor a última perfídia do pseudo-médium, praticada na residência do sr. coronel Fortunato Goulart.
Este cavalheiro, cujo altruísmo é suficientemente conhecido, deixando-se levar pelas lamúrias do embusteiro, que se dizia um “perseguido”, acolheu-o sob o seu teto, com a respectiva família, fornecendo-lhes comida e roupa lavada. Pois bem, ao cabo de tudo isso, o perigoso hóspede que, naturalmente, pela madrugada levou a preparar os seus embustes, ao amanhecer espatifou-lhe desapiedadamente custosas jarras e preciosos lustros, com o fito de demonstrar-lhe, a um só tempo, a sua eterna gratidão e a sua pavorosa “força mediúnica” de que se achava possuído.
Consola-nos, porém, a esperança de que o sr. coronel Fortunato Goulart, honrado como é, há de reconhecer um dia – e talvez esteja bem próximo – que o seu ingrato hóspede é o maior e o mais cínico dos embusteiros de que há lembrança nos tempos que decorrem.
CASA BRANCA APRECIA AS PROEZAS MIRABÉLLICAS
Lemos na “Tribuna”, do Casa Branca:
“Não há esse que, lendo os jornais da capital, não tenha acompanhado com vivo interesse as façanhas de Mirabelli, um homem que, de simples empregado de uma casa de calçados, passou a ser um indivíduo misterioso.
Em presença de Mirabelli, que se diz protegido por espíritos de parentes, um lápis, obedecendo aos seus gritos, salta de dentro de uma garrafa; um cigarro, de dentro de um pacote; caixas e papelão giram em cima de gargalos; movem-se objetos; correm bengalas; acendem-se lâmpadas elétricas e outras coisas do arco da velha.
S. Paulo inteiro ficou assombrado com a potência mediúnica desse protegido divino, e se não fora a esperteza de um dos redatores do “Correio Paulistano”, que lhe andou a descobrir os “truques”, a estas horas estaria ele num altar a ser adorado por uma população em peso.
De um homem extraordinário passou a ser, porém, um simples mortal, um hábil prestidigitador.
As suas façanhas maravilhosas foram reproduzidas no salão nobre do “Correio”.
Tudo foi descoberto, menos o mistério da lâmpada que se acende ao mando de Mirabelli.
S. Paulo inteiro está à espera desse “truque” extraordinário.
O nosso diretor, como todos, vem acompanhando o desenrolar da “fita” e recordando uns livros velhos de sua estante.
Hoje, apresentará ao público as suas observações e fará representar, na presença daqueles que quiserem assistir, os principais atos mirabéllicos, como sejam: sair um lápis de dentro de uma garrafa, um cigarro de dentro de um pacote, uma caixa dançar em cima de um gargalo, uma carta subir em um copo e, finalmente, acender uma lâmpada, sem lhe tocar, apenas com uma simples ordem.
Essa reunião, que se realizará hoje, às 19 horas, em nossa redação, será exclusivamente familiar. A ela poderão, porém, comparecer as pessoas interessadas em descobrir os “truques”.
Não sabemos ainda qual o resultado das experiências do nosso distinto colega, mas acreditamos que tenham sido coroadas de êxito e daqui lhe endereçamos os nossos aplausos.
* *
RISCOS E LIGAÇÕES
O DIABO E O SR. MIRABELLI
(Do Commercio de S. Paulo)
Eles parecem-se, pelas normas de conduta e pelo desaso.
Não nos precipitemos, porém.
O governo estabelece o “funding loan”, vem a pelo a valorização da preciosa rubiácea, nosso imprescindível lubrificador da engrenagem estadual; assoberba-nos a insuperável crise da guerra e fala-se em fortificarmo-nos e prevenirmo-nos pelo desenvolvimento de nossos meios produtivos: dá-se o alarme da bancarrota nacional e ameaça-se-nos com um formidando imposto de honra.
Que sucede?
A discussão do processo financeiro do “funding” limita-se a dois ou três jornais, por descargo profissional; a valorização serve apenas para movimentar a politicagem contra o seu patrocinador e as graçolas nos diálogos dos cafés, porque ninguém lhe penetra o alcance nem com isso se incomoda; a crise amedronta todo o mundo, retrai capitais, mas para debelá-la somente se lêem nas folhas alguns artigos sobre pecuária; a bancarrota produz só um efeito real: aterroriza o infeliz funcionalismo cabeça-de-turco, que já vê a inexorável tesoura da poda oficial a aparar-lhe ainda mais os parcos vencimentos e provoca uma ou outra tirada jornalística… para o leitor ver.
Os impostos municipais triplicam; os gêneros sobem de preço assombrosamente, custando um frango magro e raquítico, ainda a piar, 1$500, porque a frigorífica arrebanha tudo para a exportação; o povo geme, chara, atreve-se a resmungar… entre dentes, mas cala.
E, assim, todos os cardiais problemas que primordialmente interessam à nossa vida, à nossa economia social, doméstica, mesmo pessoal.
Para tudo, o lema: “É mais cômodo entrar na corrente do que bracejar contra ela.”
Surge, porém, um homenzinho qualquer, mais ou menos barbado, mais ou menos ousado, quase sempre ainda mais ousado do que barbado, a fazer umas pelotiquices incompreensíveis, aparentemente sobrenaturais; e agora, os vereis.
A imprensa agita-se convulsivamente; os cientistas movem-se; as famílias apavoram-se, as beatas benzem-se, e o povo divide-se em grupos opiniosos, que discutem, esbravejam, quase se agridem em um tumultuar fervoroso de convicções e energias.
Que feitio, este nosso!
Pois sigamos o lema e metamo-nos na corrente.
Anda nesta historiada uma tal mistura de alhos com bugalhos, que acaba a gente por não se entender e é isso mesmo o que tenta alcançar o mais interessado no assunto.
Em primeiro lugar, distingamos entre fé e ciência, e, logo depois, entre estas e charlatanismo.
A religião, quer se trate da cristã, quer do budismo, ou qualquer outra, tem a sua pedra angular na fé; quando o dogma se apresenta, a razão bem educada cumprimenta-o respeitosa e afasta-se.
O crente sincero guarda a integralidade da sua razão, a nitidez psíquica da sua entidade moral, não as pondo em colisão com as imposições da sua fé; tem a pureza da intenção. Deve-se-lhe acatamento, porque age na esfera legítima das liberdades individuais.
O espiritismo não é uma religião, nem, em seus princípios, vemos no que atente contra os dogmas da Igreja. Deixemos, pois, tranqüila a religião católica, a um lado, que nada tem de ver com o caso mirabolante do sr. Mirabelli.
Desde os princípios estabelecidos por Allan Kardec, vem estudiosos e cientistas (incluindo nesse enorme grupo o imaginoso Flammarion) procurando descortinar a verdade, nas manifestações de fluidos desconhecidos que, atuando no mundo invisível, produzem fenômenos apreciáveis em concretizações materiais.
A ciência acompanha-os até certa distância; ultrapassa mesmo os beirais do magnetismo, do hipnotismo, do cumberlandismo, penetrando pelo ocultismo; mas, queda-se, receosa de dar passo em falso, desde que se transponha o pórtico das escuras regiões da magia negra ou das demonstrações empíricas, sem base de princípio psíquico ou fisiológico.
Há, todavia, sempre a transparência cristalina da intenção, a nobre elevação da sinceridade, a justificar-lhes o respeito que se lhes deve.
Podemos incluir o sr. Mirabelli em tal categoria?
São fenômenos espíritas esses com que s. s. emergiu da sua insignificância intrínseca?
Como “médium”, nas suas relações com os espíritos, porque se limitam estes a obedecer-lhe – tão somente fazendo sair um lápis ou um cartão (coisas leves) de um copo, ou tombando objetos – postos em equilíbrio – de modo a caírem ao menor movimento que os incline para qualquer lado?
Quando “um espírito” obedece ao “médium” tanto faz cair um objeto leve que se desequilibre como deslocar uma mesa, arrastando-a.
Como uma faculdade “sui generis” de força visual, poderiam os tais fenômenos ser acolhidos sem desconfiança, pois a ciência registra, a respeito, casos interessantíssimos. Ninguém se lembraria, contudo, de dizer, por exemplo, que há intervenção dos espíritos, quando a cobra atrai o sapo, quando o hipnotizador adormece o paciente, quando, pelo contato das mãos, a olhos vendados, se executa um pensamento transmitido ou quando aparece um indivíduo que vê através de corpos opacos.
Se assim fora, haveria explicação para a preferência de objetos leves ou colocados em fácil desequilíbrio.
Mas, então, esses fenômenos se reproduziriam sempre que o sr. Miraburlas pusesse em ação a sua faculdade especial.
Por que tal não se tem dado nas reuniões pelo repto que lhe lançaram?
É que nas religiões, como na ciência, como no espiritismo, como em tudo, há sempre o abuso da má fé, a intenção do embuste, que caracterizam o charlatanismo. Este encontra por vezes no fanatismo, cuja forma e origem são várias, garantia segura para a sua expansão.
Não poderão, jamais, porém, encontrar guarida nos cérebros equilibrados.
É de notar que, no caso, foi s. s. infeliz como o Diabo na lenda hebraica. Narremos o feito.
Certo dia, resolveu o Diabo vir à terra ceifar almas, para prejudicar a sedra do Criador.
E andou por aí, o tinhoso, todo [liro?], de fraque, lencinho de seda ao lado esquerdo, botinhas encamuçardas de verde com gaspias de verniz, tal qual um ajudante de Fígaro, que se preze, em dia de folga. Correu às repartições públicas, obteve, em uma delas, autorização para publicar, desinteressadamente, um livro de propaganda: palestrou no “Automóvel Club”, sobre os frigoríficos, e já levava uma farta colheita de alminhas mal-aventuradas, quando se lembrou de ir ao colégio do sr…… a um colégio.
Estava o talzinho a perverter o diretor do estabelecimento, quando, de repente, se ouviu a voz esganiçada e trocista de um pequeno a gritar:
– “Seu mestre, esse homem tem rabo!”
De fato, por baixo de uma perna das calças do mafarrico, saía a pontinha do rabo.
E não lhes conto mais nada. A vaia foi estrondosa e o demo saiu corrido.
Com o sr. Miraburlas aconteceu coisa idêntica.
Andou por aí a “soverter” a ordem natural das coisas, a “épater les bourgeois”, a esquentar cabeças de avelãs, a ludibriar a boa fé de gente séria e incauta.
Vai senão quando, julgando que isto de redação de jornal era um cenáculo de velhos orientadores de opinião, sisudos tomadores de rapé, dá-lhe na cabeça de ir à imprensa; o homenzinho queria galgar de um salto a popularidade.
Chega lá, e depara-se-lhe uma rapaziada álacre, vivaz, movimentada e incrédula. Começa o prestímano a tirar lápis das garrafas e a fazer dançar envelopes… Repentinamente, uma voz:
“Oh! Rapazes, esse pandego tem bolinha de cera e fio de cabelo na mão!”
E era uma vez um Miraburlas…
CONSELHO AO MIRABELLI
Oh! Mirabelli, já que foste “arara”,
Já que perdeste o mágico condão
Raspa pra sempre as barbas dessa cara
Trabalha e ganha honestamente o pão.
Se a rósea sorte foi pra ti avara,
Mostrando as tuas manhas de intrujão,
Ou se tu achas que esta vida é cara,
Volta de novo à vida do balcão.
Volta ajuizado, sem demora, já.
Deixa ao menos teu “fluido” descansado…
E o espírito impagável do “Papá”.
Pois que o “truque” já caiu no ouvido,
Gritaste um “seis” bem forte, entusiasmado!
Mas… recebeste um “nove” ao pé do ouvido!
Caçapava.
Dr. Sá Pinho.
Para amanhã:
OS FAMOSOS CASOS DE VIDÊNCIA
Em 14 sugestivos capítulos relataremos cousas do arco da velha – Como foi que o sr. Carlos Mirabelli alcançou as prerrogativas de um vidente extraordinário. Narrativa de algumas das aventuras malogradas, nesse gênero de vidência, com o qual o peludo manipanço aterrorizou fanáticos e supersticiosos – Revelações que assombrarão os crentes do ex-maior médium destes últimos séculos….