Limites da História

Mais um texto do Senhor José Carlos Ferreira Fernandes respondendo aos comentários de um professor de História.

ATÉ ONDE VAI (OU PODE IR) A HISTÓRIA 

À Guisa de Introdução: 

Uma mensagem do professor de História, sr. Sebastião Pinheiro Martins, no tópico “Pesquisas para a Confirmação Histórica de ‘Há Dois Mil Anos’” deste “blog”, datada do dia 1o de janeiro p.p., lançou alguns questionamentos bastante interessantes sobre a própria pesquisa histórica, no geral, e sobre o seu (possível) uso para se chegar a conclusões acerca da existência (ou não) de “Públio Lêntulo”, bem como de sua identificação com o espírito-guia “Emanuel”, de Francisco Cândido Xavier.  Procurarei, neste texto, na medida de minhas possibilidades, comentar os pontos que julgo mais importantes da referida mensagem, e a razão pela qual tenho que discordar dos argumentos postados pelo ilustre professor.  E, aproveitando o ensejo, gostaria de esclarecer, tanto ao prof. Pinheiro Martins quanto a todos os demais, que não sou professor de História – e nem sou formado em História, embora, como o prof. Pinheiro Martins, também tenha passado pelos bancos da UFRJ, num curso de outra natureza. 

Perda de Documentos Relevantes:

O ilustre prof. Pinheiro Martins comenta, na referida mensagem: “Uma quantidade gigantesca de documentos históricos, políticos, literários e administrativos da antiga Roma desapareceram nestes últimos 2000 anos. As obras históricas escritas pelo imperador Cláudio sumiram completamente, sem deixar vestígio senão seus títulos, registrados por Suetônio, lembra? E do pouco que restou, muita coisa nos chegou fragmentada.  O senhor José Carlos Ferreira Fernandes sabe muito bem que várias obras daqueles tempos, como os “Anais” de Públio Cornélio Tácito, nos chegaram incompletos (e, por sinal, somente através de uma única cópia, encontrada na Itália, no século XIV, na mesma época da descoberta da carta apócrifa do suposto Públio Lêntulo; que coincidência, não?).  A História de Roma, escrita por Dion Cássio, também nos chegou fragmentada.  E assim com outros textos. 

Até aqui, o prof. Pinheiro Martins. 

Sobre o fato de que “muitos documentos (…) da antiga Roma desapareceram nestes últimos dois mil anos”, isso é um fato.  Mas será que, efetivamente, desapareceram “sem deixar vestígios”? Não me refiro aqui aos restos das obras em si (muitas vezes redescobertos em palimpsestos); mas deve-se ter em mente que informações contidas em determinadas obras podem ter sido inseridas noutras, de modo que, mesmo com o desaparecimento das fontes, algo dos trabalhos originais foi, assim, preservado. 

Tomando como exemplo um dos casos citados pelo prof. Pinheiro Martins, o das obras sobre os “tirsênios” (i.e., os etruscos), em 20 “livros” (i.e., rolos)[1], e sobre os cartagineses, em 8 “livros”, escritas pelo Imperador romano Cláudio (reinou 41-54 dC), ele mesmo um historiador[2].  Sem dúvida, não chegaram até nós; mas, ao menos em parte, informações nelas existentes podem estar incorporadas noutras obras.  Com certeza, devem ter sido utilizadas por Plínio, o Velho, que, na sua “História Natural”, cita Cláudio como autoridade[3].  Claro, a citação de Plínio dizia respeito a um caso bem específico envolvendo uma situação teratológica; mas trata-se duma citação explícita; quantos usos implícitos (i.e., sem a menção às fontes), tão comuns na literatura antiga, não poderiam ter tido as obras históricas de Cláudio, como, de resto, muitas outras obras que até nós não chegaram? Afinal, para isso serviam os resumos, os florilégios, as antologias, as condensações… Por exemplo, as obras de Pitágoras de Samos, em si, não chegaram até nós, mas a sua geometria sim, nos “Elementos” de Euclides de Alexandria.  Se muitos escritos originais nas áreas da Matemática e da Astronomia desapareceram, o essencial foi conservado, quer pelo já citado Euclides na Geometria, quer por Ptolomeu na Astronomia (isso sem falar nas secções cônicas de Apolônio de Perga, ou na proto-álgebra de Diofanto, ou nos comentários de Papos e de Teão). 

E o mesmo se deu no que diz respeito às obras históricas.  Por exemplo, as “Histórias Filípicas” de Gneu Pompeu Trogo, um gaulês de cultura romana, contemporâneo de Tito Lívio, obra de fôlego, em 44 “livros”, e que cobria a história das terras que haviam formado o Império de Alexandre o Grande até à sua época, perdeu-se; mas os prólogos que o autor escreveu para cada livro foram conservados por Plínio o Velho, e o historiador Marco Júnio (ou Junínio) Justino (talvez um século depois) a preservou substancialmente num epítome (resumo) também em 44 “livros”, adicionando, ao que parece, bastante material próprio em digressões. 

Trata-se apenas de um exemplo, pinçado entre muitos.  E as próprias obras de Tácito, além das de Suetônio[4], de Cássio Dião, a própria “História Augusta” (que, claro, deve ser lida com bastante cautela)[5], além de Herodiano[6], Aurélio Vítor[7], Eutrópio[8], e a “Crônica” de Eusébio de Cesaréia, continuada por São Jerônimo (aqui apenas citando os títulos mais notórios), preservaram o essencial.  De um modo geral, as informações relevantes de inúmeras obras “desaparecidas” lá estão. 

É preciso, portanto, em minha opinião, um certo cuidado quando se diz que informações históricas antigas “desapareceram sem deixar vestígio”.  Há vestígios, sim, e muitos… E, até aqui, foram consideradas apenas as fontes literárias; nem foi citado o tesouro de informações que se pode obter a partir das assim chamadas “ciências auxiliares” – a arqueologia, a numismática, a epigrafia… 

De fato, a tese de que “perdeu-se muito” e que, portanto, “nada se pode concluir com certeza”, é, no mais das vezes, apenas desculpa para se varrer para debaixo do tapete evidências (e conclusões) incômodas.  Ou então para tentar justificar nossa preguiça em pesquisar; é mais fácil dizer que não se pode afirmar nada com certeza do que garimpar informações – que existem, sim, e em grande quantidade, e até mesmo, para vários períodos, com grandes detalhes, mas que, muitas vezes, não são evidentes de imediato. 

Mas, a partir de agora, tratemos de estudar os outros dois exemplos que o prof. Pinheiro Martins fornece para ilustrar a sua tese acerca da perda de informações importantes (ou a sua conservação fragmentária), bem como para defender o fato de, segundo dá a entender, não se poder, em princípio, considerar a “carta de Lêntulo” como apócrifa: o de Tácito e o de Cássio Dião. 

Estudo de Caso I – Tácito: 

Recordando as palavras do prof. Pinheiro Martins: “O senhor José Carlos Ferreira Fernandes sabe muito bem que várias obras daqueles tempos, como os ‘Anais’ de Públio Cornélio Tácito, nos chegaram incompletos (e, por sinal, somente através de uma única cópia, encontrada na Itália, no século XIV, na mesma época da descoberta da carta apócrifa do suposto Públio Lêntulo; que coincidência, não?)”. 

Ou seja, segundo o ilustre professor, os “Anais” e a “Carta de Lêntulo” estão, em termos de evidenciação histórica, praticamente no mesmo patamar.  Mas essas observações devem ser bastante matizadas.  Sim, é verdade que tanto os “Anais” quanto as “Histórias” de Tácito nos chegaram incompletas; e é verdade que o que nos chegou, chegou a partir de manuscritos únicos (tanto para os “Anais” quanto para as “Histórias”).  Mas o manuscrito que continha os “Anais” não é do séc. XIV, é do séc. IX; e, além disso (reforçando o mencionado no item anterior), há toda uma cadeia de transmissão de partes das obras de Tácito, indo até a autores do séc. VI dC, autores esses que foram populares e repetidamente copiados ao longo de toda a Idade Média ocidental – algo completamente diferente do que ocorreu com a “Carta de Lêntulo”. 

Vamos, então, aos detalhes. 

As Obras Históricas de Tácito

O senador romano Públio (ou Gaio) Cornélio Tácito (c.56 – c.117 dC), cônsul sufeta em 97 dC, escreveu cinco obras: a) uma “Vida de Agrícola” (c. 98 dC), biografia de seu sogro, o famoso general Gneu Júlio Agrícola (40-93 dC), governador da Britânia (77-85 dC), com cuja filha, Júlia, Tácito se havia casado c. 78 dC; b) “Sobre a Origem e a Localização dos Germanos”, usualmente denominada “Germânia” (na mesma época que a biografia de Agrícola), um estudo etnográfico acerca das tribos germânicas que viviam além da fronteira reno-danubiana; c) o “Diálogo dos Oradores” (c. 102 dC), um pequeno tratado sobre retórica em forma de diálogo, num estilo mais sóbrio que o de suas demais obras (procurando seguir as normas ciceronianas, combinando refinamento e clareza); d) as “Histórias” (c. 105 dC), que cobriam a história romana posterior a Nero, até ao fim da dinastia dos Flávios (68-96 dC); e) os “Anais”, ou (seguindo o seu título oficial) “A Partir do Divino Augusto” (Ab Excessu Divi Augusti), escritos pelo final da vida de Tácito, que cobriam a história romana da morte de Augusto até à de Nero, i.e., a dinastia Júlio-Cláudia (14-68 dC). 

Aqui, trata-se-ão das suas duas obras históricas principais, os “Anais” e as “Histórias”; diga-se de passagem, contudo, que as demais obras, que são denominadas “Obras Menores” (“Vida de Agrícola”, “Germânia” e “Diálogo dos Oradores”), embora pouco conhecidos antes da época da Renascença, são testemunhadas por alguns poucos manuscritos medievais sobreviventes, e que foram copiados ainda na Idade Média. 

Tácito por um Contemporâneo (e Amigo), Plínio o Moço

Inicialmente, diga-se que a pessoa de Tácito, e o fato de ser um historiador, é mencionado por seu contemporâneo e amigo, Plínio o Moço (61-c.112 dC), sobrinho (e filho adotivo) de Plínio o Velho (o autor da “História Natural” já citado acima), cônsul 100 dC e governador da Bitínia-e-Ponto c.110 – c.112 dC (onde, entre outras coisas, teve que lidar com o problema dos cristãos).  Plínio o Moço deixou-nos uma coletânea de suas “Cartas” (Epistulae), em 10 “livros” (Plínio, algumas vezes, incluía as respostas recebidas).  Famosas entre essas cartas são aquelas pedindo ao Imperador Trajano instruções acerca de como tratar os cristãos na Bitínia (“Cartas”, livro X, carta 96, com a resposta de Trajano, carta 97) e as duas dirigidas a Tácito (sim, a Tácito!), contando acerca da erupção do Vesúvio, que soterrou Pompéia, Herculano e Estábias em 24 de agosto de 79 dC, e que vitimou o seu tio (“Cartas”, livro VI, cartas 16 e 20). 

No “box” a seguir, encontra-se o texto completo das duas cartas dirigidas por Plínio a Tácito, acerca da erupção do Vesúvio.  Sua leitura não é, de modo algum, obrigatória para se seguir a linha de raciocínio deste texto, mas, sem dúvida, é bastante interessante e instrutiva – serve como testemunho da existência real de uma pessoa real (não uma fantasmagoria, como “Públio Lêntulo”).

Plínio o Moço, Cartas, livro VI, carta nº 16:

Meu caro Tácito,

Tu me pediste para escrever-te algo sobre a morte de meu tio, a fim de que tua narrativa do evento para a posteridade fosse tão confiável quanto possível.  Agradeço-te, pois vejo que sua morte será lembrada para sempre se tu a inserires em tua obra [as Histórias].  Ele pereceu numa devastação ocorrida no mais belo dos lugares, num desastre memorável que atingiu pessoas e cidades – e cuja descrição, por si só, há de lhe fornecer como que uma vida eterna.  Apesar de ele ter escrito em vida uma série de obras de valor, a natureza imperecível de teus próprios trabalhos acrescentar-lhe-á ainda mais fama.  Felizes são, com efeito, os autores de feitos memoráveis, ou os que escrevem sobre feitos memoráveis; ainda mais felizes são os brindados por ambas as situações.  Com seus próprios livros e com a citação nos teus, meu tio será contado entre aqueles mais afortunados.  É, portanto, com grande prazer que te narro os eventos.

Ele encontrava-se em Miseno, como comandante da frota, no dia 24 de agosto [do ano 79 dC], quando, entre as duas e as três da tarde, minha mãe chamou-lhe a atenção para uma nuvem de aparência e tamanho não usuais.  Ele tinha acabado de tomar um banho de sol, seguido de um banho em água fria, e encontrava-se reclinado, após o almoço, com os seus livros.  Logo calçou-se e dirigiu-se ao terraço, onde pôde obter uma melhor visão do fenômeno; a nuvem, ao longe, erguia-se duma montanha – àquela distância não podíamos ainda precisar de qual, contudo mais tarde soubemos tratar-se do monte Vesúvio.  Posso melhor descrever o formato da nuvem comparando-a a um pinheiro; ela se erguia ao céu como que num longo tronco, do qual se espalhavam na extremidade superior galhos e ramos.  Imagino que ela tivesse surgido inicialmente, e se erguido diretamente em direção aos céus, após uma explosão forte e repentina, a qual, enfraquecendo-se em seguida, deixou-a como que sem suporte, de modo que seu próprio peso a fez espalhar-se para os lados.  Uma parte da nuvem era branca, mas outras partes eram enegrecidas, como formadas de escória e cinzas.  Sua visão fez com que o cientista que residia em meu tio se determinasse a vê-la duma distância tão próxima quanto possível.

Assim, ele ordenou que se preparasse um navio para o evento.  Ofereceu-me a oportunidade de acompanhá-lo, mas declinei, preferindo dedicar-me ao estudo – pois ele me havia antes designado um exercício de escrita.  Quando estava de partida, recebeu uma mensagem de Rectina, esposa de Táscio, que encontrava-se apavorada pelo perigo aparente.  Sua “villa” situava-se no sopé do Vesúvio, e de lá não havia saída a não ser por mar; assim, ela implorava para que meu tio a fosse socorrer.  Diante disso, ele mudou os planos; o que seria uma expedição científica transformou-se numa missão de resgate.  Ele ordenou imediatamente que se lançassem ao mar as quadrirremes, e embarcou ele mesmo, decidido a ajudar não apenas Rectina, mas também todos os demais que disso necessitassem – porque aquela belíssima costa era densamente povoada.  Assim, ele dirigiu-se para o lugar de onde todos fugiam, guiando seu curso diretamente para o perigo.  Estava com medo? Creio que não, pois manteve sob contínua observação todas as alterações e todos os formatos adquiridos por aquela amaldiçoada nuvem, ditando tudo aquilo que percebia.

À medida que os navios avançavam, uma chuva de cinzas passava a neles cair, numa atmosfera cada vez mais escura e densa.  Logo passaram a cair do céu fragmentos de pedra-pome [pumice], e mesmo blocos de rochas, enegrecidas e quebradas pelo fogo.  O mar encontrava-se agora obstruído por detritos; a costa, por sua vez, tornara-se inacessível por material oriundo da montanha.  Parando um instante o avanço, ele pensou se não valeria a pena regressar, como lhe pediam os marinheiros.  No final, disse: “A Fortuna ajuda os bravos; sigamos até Pomponiano”.

Em Estábias, no outro lado da baía formada pela curvatura da costa, Pomponiano já havia preparado seus navios, mesmo antes de a situação mostrar-se extrema, medida acertada, já que, uma vez que o perigo se mostrou evidente, intensificou-se rapidamente.  Ele planejava zarpar assim que cessasse o vento contrário.  Esse mesmo vento permitiu a meu tio alcançar Estábias, encontrar Pomponiano, abraçá-lo e inspirar-lhe coragem.  A fim de diminuir o medo dos outros, procurou mostrar calma, chegando a ordenar que lhe preparassem os banhos.  De fato, ele banhou-se e jantou despreocupadamente (ou ao menos aparentando despreocupação), o que foi admirável.  Enquanto isso, grandes línguas de fogo iluminavam várias partes do Vesúvio; sua luz e brilho pareciam mais vívidas quando contrastadas com a escuridão total da noite.  A fim de aliviar o medo das pessoas, meu tio as informou que as chamas vinham de casas rurais abandonadas pelos camponeses, que fugiam em pânico.  Logo depois ele descansou, e mesmo, ao que parece, dormiu um pouco (já que pessoas que passaram por sua porta ouviram seus roncos, que eram de fato muito altos, pois ele era um homem corpulento).  Mas o nível do chão já havia subido tanto, devido à chuva de cinzas e pedras, que, se ele se tivesse demorado mais, certamente não escaparia.  Assim, ele acordou e apresentou-se a Pomponiano e aos seus homens, que não haviam conseguido dormir.  Eles discutiram sobre o que fazer: se permaneceriam abrigados ou tentariam a sorte a céu aberto.  Os edifícios haviam sido atingidos por repetidos e fortes tremores de terra, estando com suas substruturas comprometidas e com partes de suas paredes desabadas; mas, a céu aberto, havia o perigo da chuva de pedras, ainda que fossem leves e queimadas pelo fogo.  Ponderando os perigos representados por ambas as opções, eles escolheram seguir sua sorte a céu aberto.  No caso de meu tio, sei que tal decisão foi puramente racional; quanto aos outros, acredito que buscaram a alternativa que os amedrontava menos.

Cobrindo como podiam suas cabeças, como proteção contra a chuva de pedras, saíram; já se gozava da luz do dia noutros lugares, mas onde eles se encontravam a escuridão era cada vez maior – e mais intensa do que a da noite.  Contudo, eles possuíam tochas e outras fontes de luz; decidiram seguir para a praia, a fim de verificar se havia meio de escapar pelo mar; mas as águas permaneciam tão intransitáveis quanto antes.  Descansando e protegido por remos, meu tio bebeu uma ou duas vezes água quente, como havia pedido; depois, sentiu-se odor de enxofre, prenunciando chamas, e logo a seguir as próprias chamas.  Nesse instante, enquanto muitos fugiam, meu tio como que revigorou-se e, ajudado por dois escravos, levantou-se, caindo em colapso contudo logo depois.  Creio que sua respiração acabou por ser obstruída pelo ar contaminado de poeira e cinzas, e seus órgãos, que nunca haviam sido tão fortes assim, simplesmente deixaram de funcionar.  Quando a luz do dia finalmente voltou – isso após dois dias decorridos de sua morte – seu corpo foi achado intocado, sem ferimentos, com a roupa que tinha usado na ocasião; ele parecia muito mais estar dormindo do que morto.

Enquanto isso, em Miseno, minha mãe e eu – bem, mas isso não tem nada a ver com a presente história, já que me pediste apenas informação sobre a morte de meu tio.  Assim, paro por aqui.  Mas direi apenas mais uma coisa: eu escrevi tudo o que fiz na ocasião, enquanto os fatos ainda me eram frescos na memória.  Quanto a meu tio, sei que usarás o que for importante: já que uma coisa é escrever uma carta, e outra é escrever História; uma coisa é escrever a um amigo, e outra é escrever ao público.

Saudações. 

Plínio o Moço, Cartas, livro VI, carta nº 20:

Meu caro Tácito,

Disseste-me que a carta que te escrevi sobre a morte de meu tio deixou-te curioso acerca de minhas desventuras em Miseno (onde parei minha missiva anterior).  A mente treme ao lembrar, mas aqui está a narrativa.

Após a partida de meu tio, terminei meus estudos, como tinha planejado.  Então tomei um banho, jantei e passei uma noite curta e de modo algum satisfatória.  Tinha havido tremores de terra desde há muitos dias, aliás coisa comum na Campânia, não sendo em si causa para maiores preocupações.  Mas naquela noite os tremores foram muito mais intensos; as pessoas logo cogitaram tratar-se de algo sério.  De madrugada, minha mãe adentrou meu quarto, e acordou-me; disse-lhe que ela deveria descansar, e que eu a acordaria, se disso houvesse necessidade; contudo, não mais pudemos dormir.  Sentamos pois num pequeno terraço entre a casa e o mar; passei a ler um volume de Lívio; li a partir do ponto em que havia anteriormente parado, e mesmo tomei algumas notas, como se tudo estivesse correndo normalmente.  Não sei se meu comportamento pode ser chamado de bravura ou de tolice (eu tinha dezessete anos na ocasião).  Logo depois chegou um amigo de meu tio, recentemente retornado da Espanha; quando nos viu sentados no terraço – e eu lendo displicentemente um livro – ele repreendeu a minha mãe por sua calma, e a mim por meu desinteresse diante do que estava ocorrendo.  Mesmo assim, continuei minha leitura.

O dia então começou, com uma hesitante e mesmo preguiçosa aurora.  Todos os edifícios a nosso redor tremiam; estávamos numa área aberta, mas não muito ampla, e começamos a temer por um colapso das estruturas.  Assim, finalmente decidimos abandonar aquele lugar; uma multidão confusa nos seguiu, preferindo o nosso plano ao seu próprio (isso passa por sabedoria numa situação de pânico).  Seu número era tão grande que eles terminaram por tornar nosso avanço cada vez mais vagaroso, e, no final, éramos simplesmente levados pela massa humana.  Paramos quando deixamos para trás aquele grupo compacto de edifícios; muitas coisas estranhas nos aconteceram então – e vimos que tínhamos muito a temer.

Com efeito, os nossos veículos passaram a se mover em direções opostas, apesar do chão ser perfeitamente plano, não ficando parados nem mesmo quando as rodas eram imobilizadas por pedras.  Mais ainda, o mar parecia recuar, como se estivesse sendo expulso pelo tremor da terra; a linha da costa avançou, e inúmeras criaturas marinhas eram abandonadas na areia seca.  Atrás de nós despontavam nuvens negras e ameaçadoras, cortadas por clarões que revelavam estranhos desenhos – clarões esses como os de raios, mas mais terríveis.  Nesse ponto nosso amigo espanhol nos advertiu energicamente: “Se teu irmão, e teu tio, está ainda vivo, certamente vos quererá seguros.  Se ele já tiver perecido, desejará a vossa sobrevivência.  Então, por que relutais em escapar?” Respondemos-lhe que não tomaríamos nenhuma providência concernente à nossa própria segurança sem antes saber de seu destino.  Não mais esperando, ele nos deixou, num passo apressado.  Não muito depois, as nuvens como que desceram ao nível do solo, cobrindo o próprio mar.  Rodearam toda a ilha de Cápri, fazendo-a como que desaparecer; cobriram também todo o promontório de Miseno.  Então, minha mãe começou a implorar-me para que fugisse e me pusesse a salvo, ponderando que um rapaz novo como eu sem dúvida conseguiria evadir-se, e que ela, cansada pelo peso dos anos, somente me atrasaria – e que morreria feliz se soubesse que não seria a causa de minha perdição.  Repliquei-lhe que não iria salvar-me sem ela, tomei-lhe a mão e a fiz andar um pouco mais rápido.  Ela me obedeceu sem dificuldade, mas sempre queixando-se por me atrasar.

Logo depois alcançou-nos a poeira, ainda que fina.  Olhei para trás, e vi uma densa nuvem, seguindo-nos como uma inundação através da terra.  “Procuremos nos apartar da multidão enquanto ainda podemos ver”, disse, “porque ela logo nos há de abater no chão, e nos pisotear”.  Mal tínhamos conseguido nos destacar da multidão, e nos sentado, quando sobreveio uma escuridão maior do que a de uma noite sem lua, ou de uma noite nublada.  Podia-se ouvir as lamentações das mulheres, o choro das crianças e os gritos dos homens.  Uns chamavam por seus parentes, outros por seus filhos ou cônjuges; apenas pela voz se podia reconhecer alguém.  Uns lamentavam seu destino, outros o destino de seus próximos.  Havia alguns com tamanho medo da morte que imploravam pela mesma.  Alguns erguiam suas mãos aos deuses, em atitude suplicante, enquanto muitos mais passavam a acreditar que não havia mais deuses, e que aquela era a última noite do mundo.  E também havia aqueles que aumentavam ainda mais os horrores reais com horrores fictícios: diziam que outra parte de Miseno havia sido destruída, ou que ardia em chamas; eram mentiras, mas tais mentiras acharam quem nelas acreditasse.  Uma como que luz tênue voltou então a se apresentar, mas isso parecia muito mais o fogo que se aproximava do que o dia que nascia.  O fogo propriamente dito acabou por estacionar a alguma distância de nós, mas a escuridão voltou, juntamente com uma chuva de cinzas, agora mais densa.  Parávamos e nos limpávamos das cinzas a cada instante, para podermos nos manter de pé e continuar a correr.  Posso dizer que nenhuma queixa, nem nenhuma palavra covarde, brotou de meus lábios durante essa situação de perigo, mas no íntimo eu acreditava que estava perecendo junto com o mundo, e o mundo junto comigo – o que me parecia um grande consolo para a morte.

Ao fim, e à medida que avançávamos, a nuvem de poeira tornou-se cada vez menos densa, até assemelhar-se a algo muito próximo à neblina; logo depois, pôde-se enfim distinguir a luz do dia.  O sol estava até mesmo brilhando, apesar de seu brilho ser pálido, como após um eclipse.  A visão com que os nossos olhos se depararam foi, então, como a dum outro mundo, branco como a neve, totalmente coberto com cinzas.  Então retornamos a Miseno, restabelecemo-nos o melhor que pudemos, mas passamos a noite entre a esperança e o medo.  O medo era mais forte, pois a terra ainda tremia, e muitas pessoas, como loucas, ainda gritavam e lamentavam os males que haviam sofrido, fazendo além disso horríveis prognósticos para o futuro.  Ainda nos recusávamos a partir, até que enfim tivemos notícias de meu tio – isso apesar de todo o medo que sentíamos, e de, em nosso íntimo, esperarmos o pior.

Sem dúvida lerás o que escrevi, mas com isso não gastarás a tua pena, pois não se trata de material próprio para um livro de História.  E, se o assunto sequer te parecer propício para uma carta – bem, terás que lamentar apenas a tua própria curiosidade.

Saudações. 

Mas não foram essas as únicas ocasiões em que Plínio citou Tácito.  Como dito, Tácito foi cônsul (sufeta) em 97 dC, sob o império de Nerva (reinou 96-98 dC); nessa ocasião, mostrou seu talento na oração fúnebre que pronunciou por ocasião dos funerais do famoso general Lúcio Virgínio Rufo (Plínio o Moço, “Cartas”, livro II, carta 1a, parágrafo 6o: […] Laudatus est a consule Cornelio Tacito; nam hic supremus felicitati eius cumulus accessit, laudator eloquentissimus); e, no ano 100 dC, juntamente com Plínio, processou, acusando-o de corrupção, o procônsul da Ásia, Mário Prisco, que foi, ao fim, considerado culpado, e mandado ao exílio; Plínio, em mais uma de suas cartas, a par de informações sobre o caso, novamente elogiou o estilo oratório de Tácito (Plínio o Moço, “Cartas”, livro II, carta 11, parágrafos 2o e 17: Marius Priscus accusantibus Afris quibus pro consule praefuit, omissa defensione iudices petiit. Ego et Cornelius Tacitus, adesse provincialibus iussi, existimavimus fidei nostrae convenire notum senatui facere excessisse Priscum immanitate et saevitia crimina quibus dari iudices possent, cum ob innocentes condemnandos, interficiendos etiam, pecunias accepisset; e […] Respondit Cornelius Tacitus eloquentissime et, quod eximium orationi eius inest, “semnôs”). 

Tácito e/ou suas obras mencionadas por vários autores antigos

O prof. Pinheiro Martins pode ficar certo de que tais digressões não são, em absoluto, “mera exibição de pedantismo e de polêmica inútil” de minha parte, como ele quer fazer crer.  Ao contrário, trata-se de cuidado investigativo – para mostrar que, ao contrário de “Públio Lêntulo”, que não é citado por nenhum de seus pretensos contemporâneos, e nem por ninguém, ao longo de quatorze ou quinze séculos, Tácito já era citado em testemunhos contemporâneos, como se viu. 

E não apenas contemporâneos – tem-se toda uma cadeia de citações e alusões.  Na “História Augusta”, uma coleção de vidas de Imperadores posteriores à época dos Flávios, e que deve datar dos finais do séc. IV dC, lê-se, na “Vida de Tácito”, que o Imperador Tácito (reinou 275-276 dC, tendo sido eleito Imperador pelo Senado aos 75 anos de idade) “… fez com que Cornélio Tácito, escritor das histórias dos Imperadores, tivesse suas obras postas em todas as bibliotecas, já que [o Imperador Tácito] o tinha como antepassado; e, a fim de que seus trabalhos não fossem perdidos, ordenou que dez cópias de cada um fossem efetuadas anualmente, às expensas públicas, e depositadas nas bibliotecas” (“História Augusta”, “Vida de Tácito”, parágrafo 10o, item 3o). 

Diga-se de passagem que o fato de o historiador Tácito ter sido antepassado do Imperador Tácito é, no mínimo, altamente duvidoso; mas o historiador era suficientemente famoso para que o velho Imperador o considerasse como tal… 

Continuando: o presbítero Paulo Orósio (c.383 – c.420 dC) cita explicitamente sete vezes Tácito como historiador, bem como suas obras (inclusive passagens atualmente perdidas) como fonte histórica: duas no primeiro “livro”, e cinco no sétimo, de sua obra “Histórias Contra os Pagãos” (escrita por volta do ano 418 dC).  Por serem importantes testemunhos, as reproduzimos integralmente no “box” a seguir.

Primeira Citação:

[1] Também Cornélio Tácito, entre outros, menciona que, mil cento e sessenta anos antes da fundação da Cidade [i.e., 1.160 anos antes da fundação lendária de Roma em 753 aC, ou seja, por volta de 1913 aC], a região limítrofe à Arábia então conhecida como Pentápole [i.e., a região ao sul do Mar Morto] foi totalmente queimada, até bem abaixo da superfície do solo, por uma chuva de fogo vinda do céu.  Eis o que [Tácito] informa: [2] “Não longe dali encontram-se as planícies que, como é dito, eram outrora férteis, abrigando várias grandes cidades, mas que foram depois queimadas por raios.  Diz-se que ainda se podem ver traços de tal desastre, e que o solo, antes cultivável, perdeu toda a sua fertilidade”.  [3] Apesar de, nesse ponto [de sua narrativa], ele [Tácito] nada mencionar acerca das cidades que outrora existiram nessas regiões [Orósio refere-se a Sodoma e a Gomorra], como se disso não tivesse conhecimento, noutro ponto acrescenta: [4] “De minha parte, apesar de me parecer plausível que essas antigas e famosas cidades tivessem sido destruídas por fogo vindo do céu, penso que, efetivamente, o atual estado da região originou-se das exalações [pestilentas] do lago [i.e., do Mar Morto], as quais empestaram e envenenaram o solo”.  [5] Assim, ele admite, mesmo relutantemente, que conhecia a existência das cidades queimadas, as quais, de fato, foram destruídas pelo fogo, como punição para os seus pecados.  Portanto, prova-se, desse modo, que ele possuía fontes confiáveis acerca de tais acontecimentos, os quais apenas relutava em admitir a partir de suas próprias opiniões [preconcebidas].  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro I, cap. 5o, parágrafos 1o a 5o)  ([1] Ante annos urbis conditae MCLX confinem Arabiae regionem quae tunc Pentapolis vocabatur arsisse penitus igne caelesti inter alios etiam Cornelius Tacitus refert, qui sic ait: [2] Haud procul inde campi, quos ferunt olim uberes magnisque urbibus habitatos fulminum iactu arsisse; sed manere vestigia, terramque ipsam, specie solidam, vim frugiferam perdidisse.  [3] Et cum hoc loco nihil de incensis propter peccata hominum civitatibus quasi ignarus expresserit, paulo post velut oblitus consilii subicit et dicit: [4] Ego sicut inclitas quondam urbes igne caelesti flagrasse concesserim, ita halitu lacus infici terram et corrumpi reor.  [5] Quo dicto invitus licet de exustis urbibus, quae procul dubio peccatorum noxa conflagrauerunt, et scisse se et concessisse confessus palam prodidit non sibi cognitionis fidem defuisse sed exprimendae fidei voluntatem.) 

Segunda Citação:

[1] Pompeu [Trogo] e Cornélio [Tácito] ambos informam que, oitocentos e cinco anos antes da fundação da Cidade [i.e., 805 anos antes da fundação lendária de Roma em 753 aC, ou seja, por volta de 1558 aC], os Egípcios sofreram inúmeros males e terríveis pragas.  A diferença entre os testemunhos dos dois historiadores, a princípio, perturbou-me um pouco, mas ambos registraram fatos [inequívocos] relativos aos Judeus.  [2] Quanto a Pompeu [Trogo], ou melhor, Justino, tem-se o seguinte: “Quando os Egípcios estavam sofrendo com sarnas e eczemas, expulsaram Moisés e todos os doentes para fora do Egito, de modo que a pestilência não mais se espalhasse.  Tornando-se o líder daqueles que haviam sido expulsos, Moisés secretamente levou consigo [muitos] vasos sagrados [i.e., de uso litúrgico em cerimônias religiosas] dos Egípcios; e, quando estes tentaram recuperá-los pela força das armas, foram compelidos, por tempestades, a retrocederem”[9].  [3] E, quanto a Cornélio [Tácito], seu testemunho sobre os mesmos eventos é o seguinte: “Muitos autores são concordes em afirmar que quando a lepra, a qual desfigura terrivelmente os corpos de suas vítimas, irrompeu no Egito, o rei [Faraó] Bócoris consultou o oráculo de Amon a fim de obter um remédio para a situação, tendo sido instruído a limpar seu reino, e expulsar para outras terras, essa raça de homens [os judeus], que era odiada pelos deuses.  [4] Então, os Judeus foram retirados de suas casas, reunidos e depois abandonados no deserto.  Todos aqueles que haviam sido expulsos encontravam-se deprimidos e chorosos, exceto Moisés, que os aconselhou a não procurarem a ajuda nem dos deuses e nem dos demais seres humanos, confiando apenas em si mesmos, sob a liderança dum líder enviado pelos Céus [i.e., dele mesmo].  Com sua ajuda, seriam então capazes de superar seu presente estado miserável”[10].  [5] Assim sendo, Cornélio [Tácito] nos informa que os Judeus foram expulsos pelos Egípcios para o deserto; mas, noutro ponto de sua narrativa, confessa que eles [os judeus] sacudiram o jugo que lhes pesava no Egito com a ajuda de seu líder Moisés.  Portanto, torna-se claro que algumas medidas tomadas por Moisés [e conhecidas do historiador] foram omitidas [em sua narrativa].  [6] Justino, do mesmo modo, assevera que Moisés, quando foi expulso do país juntamente com o restante do [seu] povo, levou secretamente os vasos sagrados dos Egípcios, e que quando estes tentaram recuperá-los com o uso da força, foram forçados, por tempestades, a retrocederem e a retornarem para seu país.  Justino, portanto, apesar de não ter registrado toda a história [tal como se apresenta no Êxodo], guardou algo que Cornélio [Tácito] omitiu.  [7] E, tendo ambos [os historiadores] testemunhado a grandeza de Moisés como líder, seus feitos e palavras [tais como descritos no Êxodo e nos demais livros sagrados] devem ser considerados confiáveis, do modo como foram [nesses livros] relatados.  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro I, cap. 10o, parágrafos 1o a 7o)  ([1] Anno autem ante urbem conditam DCCCV infanda Aegyptiis mala atque intolerabiles plagas incubuisse Pompeius Corneliusque testantur: qui quidem, cum haec ambo de Iudaeis referenda proponant, aliquantulum me pro sui diuersitate mouerunt.  [2] Ait enim Pompeius sive Iustinus hoc modo: Aegyptii cum scabiem ac uitiliginem paterentur, responso moniti Moysen cum aegris, ne pestis ad plures serperet, terminis Aegypti pellunt. dux igitur exulum factus sacra Aegyptiorum furto abstulit; quae armis repetentes Aegyptii domum redire tempestatibus conpulsi sunt.  [3] At vero Cornelius de eadem re sic ait: Plurimi auctores consentiunt orta per Aegyptum tabe, quae corpora foedaret, regem Bocchorim adito Hammonis oraculo remedium petentem purgare regnum et id genus hominum ut invisum deis alias in terras avehere iussum.  [4] Sic conquisitum collectumque vulgus postquam vastis locis relictum sit, ceteris per lacrimas torpentibus Moysen, unum exulum, monuisse, ne quam deorum hominumque opem exspectarent sed sibimet duci caelesti crederent, primo cuius auxilio praesentes miserias pepulissent.  [5] Itaque Cornelius dicit, quod ipsis Aegyptiis cogentibus Iudaei in deserta propulsi sint, et postea subiungit incaute, quia ope Moysi ducis in Aegypto miserias propulissent. Quare ostenditur quaedam quae per Moysen strenue acta sunt fuisse celata.  [6] Item Iustinus adserit pulsum aeque cum populo Moysen sacra Aegyptiorum fuisse furatum, quae Aegyptios armis recipere molientes, coactos tempestatibus ac repulsos, domum redisse. et hic aliquid amplius etsi non totum prodidit quod ille celauit.  [7] Quapropter, quia Moysi magno illi duci testimonium ambo dixerunt, ab ipso sicut per eum et gesta et dicta sunt proferantur.) 

Terceira Citação:

Citando Cornélio Tácito: “Jano [i.e., as portas do Templo de Jano, em Roma, que somente eram fechadas quando não havia nenhuma guerra a concluir] foi aberto nos últimos tempos de Augusto, e assim permaneceu até à época de Vespasiano, enquanto novas tribos [bárbaras] foram enfrentadas [pelos romanos] nos confins do mundo, quase sempre com [nossa] vitória, mas algumas vezes com perdas [para os nossos]”; até aqui, as palavras de Cornélio [Tácito].  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro VII, cap. 3o, parágrafo 7o) (Deinde, ut verbis Corneli Taciti loquar, “sene Augusto Ianus patefactus, dum apud extremos terrarum terminos novae gentes saepe ex usu et aliquando cum damno quaeruntur, usque ad Vespasiani durauit imperium”; hucusque Cornelius) 

Quarta Citação:

[2] Em Roma, ele [Domiciano, Imperador 81-96 dC] ergueu inúmeros edifícios [financiados] com a ruína da propriedade de muitos.  [3] E igualmente terrível para o Estado foi a guerra que seus legados lutaram contra os Germanos e contra os Dácios.  Enquanto Domiciano, no Capitólio [i.e., em Roma] mostrava-se como o terror do Senado e do povo, seus inimigos além-fronteiras continuamente derrotavam seus mal liderados exércitos.  [4] Gostaria de contar em detalhe as grandes batalhas travadas pelo rei dos Dácios, Diurpaneu, contra o general Fusco[11], bem como o tamanho das perdas dos Romanos; mas Cornélio Tácito, que escreveu uma detalhada história desses eventos, declarou que Salústio Crispo e muitos outros autores preferiram manter silêncio acerca do montante das perdas [dos romanos]; e eu também agirei da mesma maneira”.  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro VII, cap. 10, par. 2o a 4o)  ([2] … plurimas urbis aedes destructis populi Romani rebus extruxit.  [3] Bellum adversum Germanos et Dacos per legatos gessit pari reipublicae pernicie, cum et in urbe ipse senatum populumque laniaret et foris male circumactum exercitum adsidua hostes caede conficerent.  [4] Nam quanta fuerint Diurpanei Dacorum regis cum Fusco duce proelia quantaeque Romanorum clades, longo textu euoluerem, nisi Cornelius Tacitus, qui hanc historiam diligentissime contexuit, de reticendo interfectorum numero et Sallustium Crispum et alios auctores quamplurimos sanxisse et se ipsum idem potissimum elegisse dixisset) 

Quinta Citação:

Segundo Eutrópio, Gordiano [o Imperador Gordiano III, reinou 238-244 dC], ainda muito jovem, abriu os portões de Jano antes de seguir para o Oriente combater os Partas [em 242 dC].  Quanto a mim, não me lembro de nenhum escritor que tenha informado que, após a época de Vespasiano e de Tito, eles tenham sido alguma vez fechados.  Cornélio Tácito, contudo, informa que eles foram reabertos um ano depois [de terem sido fechados], pelo próprio Vespasiano.  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro VII, cap. 19, parágrafo 4o)  (Gordianus admodum puer in orientem ad bellum Parthicum profecturus, sicut Eutropius scribit, Iani portas aperuit: quas utrum post Vespasianum et Titum aliquis clauserit, neminem scripsisse memini, cum tamen eas ab ipso Vespasiano post annum apertas Cornelius Tacitus prodat) 

Sexta Citação:

Como mencionamos no primeiro livro [desta obra], de acordo com as referências incompletas encontradas em Pompeu Trogo e em Cornélio Tácito, bem como de acordo com a narrativa [bem mais] completa e adequada de nosso Moisés [no Êxodo], uma fonte que meus próprios críticos, aliás, admitem se tratar de autoridade confiável, os Egípcios e seu rei [i.e., o Faraó] foram atacados por dez terríveis pragas.  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro VII, cap. 27, parágrafo 1o – ver a “Segunda Citação”)  (In primo libello expositum a nobis est, Pompeium Trogum et Cornelium Tacitum commemorasse non plene quidem, nostrum vero Moysen, etiam ipsorum testimonio fidelem, fideliter sufficienterque dixisse, Aegyptios et regem eorum, cum populum Dei seruire intentum et paratum Deo suo, impediendae devotionis instinctu ad lutum paleasque revocarent, decem acerbissimis plagis fuisse vexatos) 

Sétima Citação:

Acreditando que o Estado, o qual passava por dificuldades por causa da ira de Deus, seria sem dúvida restaurado se contasse com Sua [de Deus] misericórdia, e depositando toda a sua confiança em Cristo [e sua religião], Teodósio [Teodósio I o Grande, Imperador 379-395 dC] enfrentou sem hesitação todas aquelas poderosas tribos [bárbaras] de raça cítia, que vinham sendo o terror de todas as épocas anteriores, e que mesmo Alexandre o Grande havia se furtado de enfrentar, como Pompeu [Trogo] e Cornélio [Tácito] nos informam.  E, embora tais tribos (e refiro-me, explicitamente, aos Alanos, aos Hunos e aos Godos) estivessem equipadas com cavalos e com armas dos exércitos romanos [derrotados na batalha de Adrianópolis, em 378 dC], ele as enfrentou e as venceu em inúmeras batalhas.  (“Histórias Contra os Pagãos”, livro VII, cap. 34, parágrafo 5o)  (Itaque Theodosius adflictam rempublicam ira Dei reparandam credidit misericordia Dei; omnem fiduciam sui ad opem Christi conferens maximas illas Scythicas gentes formidatasque cunctis maioribus, Alexandro quoque illi Magno, sicut Pompeius Corneliusque testati sunt, evitatas, nunc autem extincto Romano exercitu Romanis equis armisque instructissimas, hoc est Alanos Hunos et Gothos, incunctanter adgressus magnis multisque proeliis vicit)

As “Histórias Contra os Pagãos” de Orósio, escritas a pedido de Santo Agostinho, procuravam responder às críticas dos pagãos segundo as quais as desgraças que se abatiam sobre o Império Romano (com as invasões bárbaras) deviam-se à adoção do Cristianismo.  Tomando a peito a situação, Orósio então escreveu um compêndio de história mundial, indo desde a Criação até ao ano 417-18 dC, procurando mostrar que a Humanidade em geral, e o mundo romano em particular, havia sofrido tragédias muito maiores nas épocas anteriores ao advento de Cristo, e à adoção, por parte do Estado romano, da religião cristã.  Deve-se notar, adicionalmente, que a obra de Orósio foi extremamente popular ao longo de toda a Idade Média ocidental, bastante lida e inúmeras vezes recopiada – se constituía (juntamente com o “Breviário” de Eutrópio, este especificamente para a história romana), no livro-padrão de História Universal.

Continuando a investigação acerca da citação de Tácito e/ou de suas obras por autores posteriores: São Jerônimo (c.347 – 420 dC), no seu “Comentário a Zacarias”, escrito em 406 dC, cita a pessoa de Tácito como historiador, mencionando inclusive que a sua obra histórica, a qual cobria o período da morte de Augusto à de Domiciano (i.e., os “Anais” e as “Histórias”, que, juntas, se estendem de 14 a 96 dC) comportavam trinta “livros” (“Comentário a Zacarias”, livro III, cap. 14, referente a Zacarias, cap. 14, versículos 1o-2o: Haec omnia plenissime Iosephus, qui Iudaicam scripsit historiam, et multo maiora quam legimus in prophetis, eos sustinuisse commemorat.  Cornelius quoque Tacitus, qui post Augustum usque ad mortem Domitiani vitas Caesarum triginta voluminibus exaravit).  Portanto, nos inícios do séc. V dC, a obra histórica de Tácito era não apenas conhecida, mas ainda subsistia completa. 

O gramático Sérvio Mauro Honorato (ativo nos finais do séc. IV e inícios do séc. V dC), no seu “Comentário à Eneida de Virgílio”, Livro III, parágrafo 399, também cita Tácito.  A citação prende-se, especificamente, ao comentário a um hemistíquio do verso 265 do livro XI da “Eneida”, Lybicone habitantes litore Locros? (“Ou [sobre] os locrianos que habitam o litoral líbio?”); Sérvio faz ver que “…os [locrianos] que viviam perto de Delfos eram chamados Ozolianos […]; contudo, os que migraram para a Líbia [aqui considerada como o litoral norte-africano, que se estendia ao longo da Tripolitânia e da Cirenaica] são chamados de Nasamões, como Cornélio Tácito informa, tendo se originado dos Narícios…” ([…] hi vero qui iuxta Delphos colunt Ozolae nuncupantur […]; qui autem Libyam delati sunt Nasamones appellantur, ut Cornelius Tacitus refert, oriundi a Naryciis […]). 

Enfim, conclui-se esse elenco com o uso das obras de Tácito por Cassiodoro (e depois por Jordanes), quando escreveram (ou melhor, elaboraram) uma história “completa” para os germanos godos, que então, após a queda do Império Ocidental, governavam a Itália (os ostrogodos) e a Espanha (os visigodos). 

Sabe-se que Cassiodoro, ministro do rei ostrogodo Teodorico (reinou 493-526 dC na Itália), escreveu uma obra em doze “livros”, “Sobre os Feitos dos Godos”, que infelizmente não chegou até nossos dias[12].  Não obstante, Jordanes, um burocrata romano de médio escalão, mas ele próprio de origem gótica, a utilizou livremente para escrever seu opúsculo “Sobre as Origens e os Feitos dos Godos”[13]

De acordo com as investigações históricas mais recentes, Cassiodoro (e Jordanes depois, que nele se baseou) “forjaram” uma história épica para os godos – que teriam migrado da “ilha de Escândia” (a atual Suécia – a “Escandinávia”), por volta de 1490 aC, em direção ao sul, até atingirem a fronteira danubiana de Roma nos meados do séc. III dC.  Não se basearam, contudo, na tradição gótica para construir tal narrativa; ao contrário, tomaram suas informações da literatura greco-romana, explorando, eruditamente, nos autores gregos e romanos, nomes de povos bárbaros antigos, e utilizando as narrativas correlatas, para “montar” uma história gótica palatável[14]

De qualquer modo, no “Sobre as Origens e Feitos dos Godos”, cap. 2o, parágrafo 13, Jordanes tem uma menção a Tácito: “Cornélio [Tácito], autor dos ‘Anais’, informa que no extremo norte da Britânia, a noite é mais luminosa, e é mais curta.  Ele também diz que a ilha [da Britânia] é rica em metais e em boas pastagens, de modo tal a poder alimentar melhor os animais do que os seres humanos; e que, além de tudo, no país abundam os rios, exibindo [em seus sedimentos] pérolas e pedras preciosas”.  (Noctem quoque clariorem in extrema eius parte minimamque, Cornelius etiam annalium scriptor enarrat; metallis plurimis copiosam, herbis frequentem et his feraciorem omnibus quae pecora magis quam homines alant;  labi vero per eam multa quam maxima relabique flumina, gemmas margaritasque volventia). 

Que tudo o que até aqui foi demonstrado seja suficiente para evidenciar que Tácito (e seus trabalhos) eram não apenas conhecidos, mas também utilizados, por vários autores da época antiga – algo completamente diferente do que se pode verificar com a “Carta de Lêntulo”, cujo autor não é citado por nenhum autor antigo, e cujo documento não é mencionado por ninguém, nem ao longo de toda a época antiga, e nem mesmo na maior parte da Idade Média. 

Os Manuscritos dos “Anais” e das “Histórias”

Como já se mencionou, os “Anais” originariamente cobriam a história romana entre os anos 14 e 68 dC, e as “Histórias”, entre os anos 68 (ou 69) e 96 dC.  No entanto, nenhuma dessas duas obras nos chegou completas. 

Pensa-se que Tácito compôs suas “Histórias” em 14 “livros”, compondo posteriormente os “Anais” em 16 “livros”[15].  Os dois trabalhos foram depois combinados num conjunto único de 30 “livros”, talvez pelo próprio autor, mas mais provavelmente por um editor, numa coleção de “Vidas dos Césares” – esse arranjo, aliás, está explícito tanto no comentário de São Jerônimo citado anteriormente (volumina = libri), quanto na subscrição do Segundo Manuscrito Mediceu, que será abordado a seguir. 

Dos “Anais”, não se têm os livros 7o a 10o; também partes dos livros 5o e 6o (cobrindo os anos 29 a 31 dC), 11[16] e 16 (cobrindo os anos 66-68 dC) estão faltando.  O 6o livro termina com a morte de Tibério (37 dC); os livros 7o a 12 presumivelmente cobriam os reinados de Calígula (37-41 dC) e de Cláudio (41-54 dC); os livros remanescentes (13 a 16) referiam-se ao reinado de Nero (54-68 dC), levando a narrativa ou ao seu suicídio (junho de 68 dC), ou então (mais provavelmente) até ao final do ano 68 dC, já sob o império de Galba; mas a segunda metade do 16o livro está faltando, como já mencionado, terminando a narrativa, tal como a possuímos, com os eventos do ano 66 dC[17]

Das “Histórias”, apenas os primeiros quatro livros, e 26 capítulos do 5o, sobreviveram, cobrindo todo o ano de 69 e a primeira parte (até ao outono) do ano 70 dC (isto é, o “Ano dos Quatro Imperadores” – Galba, Otão, Vitélio e Vespasiano – e o início do reinado de Vespasiano). 

Os “Anais” e as “Histórias” chegaram até aos nossos dias em dois conjuntos distintos, constantes de dois manuscritos também distintos: a) “Anais”, livros I a VI; b) Anais, livros XI a XVI, juntamente com “Histórias”, livros I a IV e parte do V. 

Os seis primeiros livros dos “Anais” sobrevivem num único manuscrito, atualmente na Biblioteca Medicéia Laurenciana de Florença (esse manuscrito é denominado MS Plut. 68.1), escrito por volta do ano 850 dC na Alemanha; a caligrafia, segundo os entendidos, sugere especificamente o scriptorium da abadia beneditina de Fulda[18].  Originariamente, constavam do mesmo manuscrito as “Cartas” de Plínio o Moço, que foram destacadas e que atualmente são consideradas como um manuscrito à parte, denominado Laurenciano Plut. 47.36. 

Algum tempo após ter sido confeccionado, o manuscrito foi transferido para o mosteiro de Corvey, na Saxônia, onde permaneceu, provavelmente sem ter sido nunca recopiado, até ao início do séc. XVI.  Em 1508, foi removido da biblioteca do referido mosteiro; uma carta do Papa Leão X (Giovanni de’ Médici, Papa de 1513 a 1521), datada de 1o de dezembro de 1517, informa que ele teria sido roubado, e que ele, o Papa, o teria recuperado, mediante uma enorme soma de dinheiro.  De qualquer modo, passou às mãos de Leão; foi cedido a Filipe Beraldo, o Moço, que o utilizou para produzir a primeira edição impressa, em 1515 – à abadia de Corvey foi devolvida apenas uma cópia, não o original, que, via Leão X (um membro da família Médici, a casa governante de Florença), alcançou então o lugar onde ainda hoje se encontra.  Esse manuscrito é denominado “Primeiro Manuscrito Mediceu”, ou simplesmente “Mediceu” (símbolo “M”). 

Os livros 11 a 16 dos “Anais”, juntamente com o que restou das “Histórias”, sobreviveram numa série de manuscritos tardios (pelo menos 31, no total); mas todos eles foram copiados de um único manuscrito medieval, também na Biblioteca Medicéia Laurenciana de Florença (esse manuscrito é denominado M-II 68.2), confeccionado (pelo tipo de caligrafia “beneventana” utilizada) no scriptorium da famosa abadia de Monte Cassino, e datável caligraficamente, segundo os entendidos, quase certamente do abaciado de Richer (1038-1055 dC).  Há evidências (a partir de certos erros de transcrição peculiares) de que teria sido copiado dum original (em maiúsculas) do séc. V dC, ou mesmo anterior.  Originariamente, constavam desse manuscrito de Monte Cassino uma série de obras do escritor Lúcio Apuleio[19], copiadas um pouco depois de Tácito, mas no mesmo scriptorium.  Esse manuscrito de Tácito é denominado “Segundo Manuscrito Mediceu” (símbolo “M-II”, ou “M2”), justamente para diferenciá-lo do “Mediceu”, “M”, citado acima, que conservou os seis primeiros livros dos “Anais”. 

Nesse M2 há evidências inequívocas de que as duas obras históricas de Tácito, quando ainda completas, circulavam juntas, em 30 “livros” (16 dos “Anais” e 14 das “Histórias”, nessa ordem), no estilo duma coletânea de biografias de Imperadores, justificando o modo como são citadas por São Jerônimo, conforme já visto.  De fato, p.ex., no final do segundo livro das “Histórias”, o colofão de M2 lê (em 3 linhas): [1a linha] Cornelij tacitj [2a linha] Líber octauus decim; expljcit [3a linha] Incipit nonus decimus.  Ou seja, na edição (consolidada) original, tinham-se os dezesseis primeiros livros dos “Anais”; depois, o 1o livro das “Histórias” (17o “livro” da edição consolidada); o 2o livro das “Histórias” (18o “livro” da edição consolidada), etc.  Isso, aliás, é evidência de que, originariamente, o manuscrito M2 compreendia tanto os “Anais” quanto as “Histórias”. 

Não se sabe ainda como o manuscrito deixou a abadia de Monte Cassino.  Ainda encontrava-se lá entre os anos 1331 e 1344, já que, nessa época, foi utilizado por Paulo Vêneto, bispo de Putéolos (Pozzuoli).  Mas o fato é que, desde c. 1371, pelo menos, encontrava-se já na posse de Giovanni Boccaccio (1313-1375), o famoso escritor e poeta, autor do “Decameron”.  Em seu testamento, Boccaccio o deixou (como todo o restante de seus livros) para o Mosteiro do Espírito Santo, em Florença.  Depois sumiu, em circunstâncias ainda não esclarecidas, reaparecendo em 1427, nas mãos do colecionador Nicolau de’ Niccoli (que havia fornecido estantes para a coleção dos livros de Boccaccio albergados no mosteiro do Espírito Santo – talvez tenha aproveitado a ocasião para simplesmente surrupiar o livro, embora isso não possa ser admitido com certeza absoluta)[20].  Com a morte de Nicolau, em 1437, o manuscrito passou, bem como todos os seus livros, para o mosteiro de São Marcos, em Florença, sendo os príncipes Médici nomeados executores do testamento do falecido de’ Nicoli – provavelmente a partir daí M2 encontrou seu caminho para a Biblioteca Medicéia Laurenciana.

—(X)— 

De tudo o que vem sendo demonstrado até aqui, percebe-se que uma eventual “comparação” entre o caso das obras de Tácito e a “Carta de Lêntulo”, que o prof. Pinheiro Martins tenta fazer, é totalmente descabida: embora tendo chegado à nossa época em manuscritos únicos (que não são do séc. XIV, como assevera o ilustre professor, mas sim dos séculos IX e XI), tanto para o conhecimento e o uso das obras históricas quanto para a própria existência efetiva de seu autor existe toda uma cadeia de testemunhos, que vão de contemporâneos (cartas de Plínio o Moço) até à Alta Idade Média (alusão nos Anais de Fulda para o ano 852 dC): 

  • Tácito é citado como pessoa (e como historiador) por um contemporâneo seu, Plínio o Moço, em vários pontos de suas “Cartas”;

     

  • As mais importantes obras históricas de Tácito (os “Anais” e as “Histórias”) circulavam juntas, nessa ordem, numa edição consolidada de 30 “livros” (testemunho de São Jerônimo; colofões no manuscrito M2), sendo conhecidas e utilizadas;

     

  • O Imperador Tácito (275-276 dC) considerava-se (embora provavelmente sem base alguma para isso) como um descendente do historiador, tendo zelado para que suas obras fossem conservadas (testemunho da “História Augusta”[21]);

     

  • Sua obra histórica, ainda completa, era conhecida, manuseada e bastante utilizada entre os finais do séc. IV e os inícios do séc. V dC (testemunho de São Jerônimo; citação do gramático Sérvio; principalmente, extensiva utilização de Tácito nas “Histórias Contra os Pagãos”, do presbítero Paulo Orósio);

     

  • Essa mesma obra ainda estava disponível para uso e manuseio na primeira metade do séc. VI dC (uso da mesma para, juntamente com várias outras fontes, “compor” uma história épica dos godos, por Cassiodoro); na 2a metade do séc. VI dC, talvez sua disponibilidade tenha diminuído (Jordanes simplesmente compendiou Cassiodoro, não realizando pesquisas próprias)[22];

     

  • Mesmo ao longo da Alta Idade Média ocidental, pelo menos até meados do séc. XI dC, a obra de Tácito era conhecida completa, ainda que apenas por poucos (cópia do manuscrito “M”, meados do séc. IX dC; cópia do manuscrito “M2”, meados do séc. XI dC), e sua memória permaneceu (citação nos Anais de Fulda para 852 dC; principalmente, uso contínuo das “Histórias Contra os Pagãos” de Paulo Orósio como texto básico de História na Europa Ocidental medieval).

     

Diante disso tudo, o que se pode dizer de “Públio Lêntulo”? Basicamente: a) que não há NENHUM testemunho contemporâneo acerca de sua existência, NEM MESMO EPIGRÁFICO; e b) que não há NENHUMA citação, ou alusão, direta ou indireta, de sua “carta”, por pagãos ou cristãos, por leigos ou eclesiásticos, até ao séc. XIV. 

Sobre Lêntulo, serão tecidas considerações mais detalhadas noutro ponto deste trabalho; a partir de agora, examinar-se-á o outro exemplo que o prof. Pinheiro Martins fornece para ilustrar a fragilidade das fontes históricas, bem como a relatividade de suas conclusões: Cássio Dião.

Estudo de Caso II – Cássio Dião: 

O senador Lúcio Cláudio Cássio Dião Coceiano (c.155/60 – depois de 229 dC)[23], duas vezes cônsul (cônsul sufeta c. 205 dC, sob o império de Septímio Severo; cônsul ordinário 229 dC, tendo o próprio Imperador, Severo Alexandre, então em seu terceiro consulado, como colega), legado da Dalmácia e Panônia[24], e procônsul da Ásia[25], era um aristocrata oriental de cultura grega, natural da Nicéia bitiniana (atual Iznik, na Turquia asiática)[26].  Escreveu, ao longo de 22 anos, em grego, uma “História Romana”[27] (Rhômaika) em oitenta “livros”, cobrindo todo o período compreendido entre a chegada mítica de Enéias à Itália, fugindo de Tróia, passando pela fundação de Roma, a realeza, a época republicana e o Império, até ao ano de seu segundo consulado (229 dC). 

Como bem nota o prof. Pinheiro Martins, a “História Romana” de Cássio Dião nos chegou fragmentada; mas essa declaração (como a que fez sobre Tácito) tem de ser bastante matizada.  Porque, diferentemente de Tácito, a obra histórica de Cássio Dião não nos chegou num único manuscrito e, além disso, partes substanciais dela (especialmente as que mais nos interessam aqui, ou seja, as referentes à época de Cristo e à dos últimos tempos do Segundo Templo, correspondendo, em termos romanos, ao período de Augusto e dos Júlio-Cláudios, 31 aC a 68 dC) nos chegaram completas. 

A “História Romana” de Cássio Dião é uma obra de fôlego, detalhada e extensa; seu autor era um senador, com acesso a documentos oficiais e a outras fontes históricas anteriores.  No Oriente de língua grega, e também ao longo de todo o período bizantino, constituiu-se inclusive no “livro padrão” de história romana; portanto, merece ser analisada com muito cuidado.  Inicialmente, será esboçado o escopo da obra; depois, serão elencadas as partes que chegaram até aos nossos dias, quer integralmente, quer via resumos ou fragmentos; depois, analisar-se-á a natureza desses resumos; ao fim, far-se-á um levantamento (resumido) das fontes históricas existentes (não se levando em conta dados arqueológicos, numismáticos ou epigráficos) para o estudo do período de Augusto e dos Júlio-Cláudios (31 aC – 68 dC), que é o período que mais nos interessa. 

Escopo da “História Romana” de Cássio Dião

Mesmo levando-se em conta que partes da obra não chegaram até aos nossos tempos, ou que nos chegaram via resumos ou fragmentos, conhece-se o escopo geral da Rhômaika, o qual é resumido a seguir:

  • Livros 1o e 2o: chegada de Enéias de Tróia à Itália; fundações de Lanúvio e de Alba Longa; fundação de Roma por Rômulo; o governo dos Sete Reis, até à expulsão de Tarquínio o Soberbo (c.1200 aC – 509 aC);
  • Livros 3o a 10o: a República; progressiva conquista da Itália, até à derrota de Tarento e ao início da Primeira Guerra Púnica (509 – 264 aC);
  • Livros 11 a 17: Primeira e Segunda Guerras Púnicas (264 – 201 aC);
  • Livros 18 a 21: guerras no Oriente; Terceira Guerra Púnica (201 – 146 aC);
  • Livros 22 a 29: a questão social; os Gracos; primeira fase da Guerra Civil (146 – 102 aC);

·         Livros 30 a 35: a segunda fase da Guerra Civil – Mário e Sila (102 – 79 aC);

  • Livros 36 a 44: a terceira fase da Guerra Civil – Pompeu e César (79 – 44 aC);
  • Livros 45 a 51: a quarta fase da Guerra Civil – Otaviano e Antônio, até à conquista de Alexandria e ao suicídio de Antônio e de Cleópatra (44 – 30 aC);
  • Livros 52 a 56: o principado de Augusto (30 aC – 14 dC);
  • Livros 57 a 64: os Júlio-Cláudios e o Ano dos Quatro Imperadores (14-69 dC);
  • Livros 65 a 67: os Flávios (69-96 dC);
  • Livros 68 a 73: os “Antoninos” – de Nerva ao assassinato de Cômodo (96-192 dC);
  • Livros 74 a 80: do início do reinado de Pertinaz até aos primeiros tempos do reinado de Severo Alexandre (193-229 dC).

     

A Transmissão da “História Romana”

Como a transmissão da “História Romana” de Cássio Dião é bem mais complexa do que a das obras de Tácito, terá de ser dividida, para fins didáticos, nos seguintes itens: a) as partes que chegaram completas, ou virtualmente completas; b) as partes que chegaram a partir de resumos (epítomes); c) as partes que chegaram de modo fragmentário, principalmente a partir de citações noutros autores. 

Partes Completas, ou Virtualmente Completas[28]

  • Livros 37 a 54: cobrindo o período de 65 aC a 10 aC (ou seja, da campanha oriental de Pompeu o Grande até à época das campanhas de Druso na Germânia e de Tibério, o futuro Imperador, na Panônia, após a morte de Agripa); texto completo;
  • Livro 55: cobrindo o período de 9 aC a 8 dC (do término da campanha de Druso, com a sua morte repentina, até antes da campanha e da derrota de Quintílio Varo na Germânia): texto quase completo, mas apresentando uma lacuna razoável no meio;
  • Livros 56 a 60: cobrindo o período de 9 dC a 46 dC (da campanha de Varo, e de sua derrota pelos germanos, liderados por Armínio, na batalha da floresta de Teutoburgo, até ao 6o ano do império de Cláudio): texto virtualmente completo, com algumas pequenas lacunas;
  • Livros 78 e 79: o livro 78, praticamente por inteiro, e parte inicial do livro 79, cobrindo os governos de Caracala (211-217 dC) e de Macrino (217-218 dC) sobreviveram, num único manuscrito.

     

Portanto (é importante frisar este ponto), para uma boa parte do período de Augusto e dos Júlio-Cláudios (de 31 a C a 46 dC), pode-se contar com o texto de Cássio Dião completo, ou quase totalmente completo. 

Partes que chegaram a partir de Resumos

Dois grandes resumos da época bizantina, da autoria de João Xifilino e de João Zonaras, preservaram, em forma resumida, muitas partes da “História Romana” de Cássio Dião. 

João Xifilino (2a metade do séc. XI dC), monge em Constantinopla, era sobrinho do patriarca João VIII (pontífice 1064-1075).  A pedido do Imperador Miguel VII Ducas Parapinaces (reinou 1071-1078), escreveu um resumo (“epítome”) dos livros 36 a 80 da “História Romana” de Cássio Dião, cobrindo, assim, o período de Pompeu o Grande até Severo Alexandre (79 aC a 229 dC)[29].  Esse resumo nos chegou completo, mas, na parte que se refere aos livros 70 (cobrindo o reinado de Antonino Pio, 138-161 dC) e 71 (que trata do início do reinado de Marco Aurélio, de sua ascensão até à campanha contra Vologeso, rei dos Partas, na Armênia, i.e, 161-166 dC), o estado original do resumo é bastante fragmentário, o que leva a crer que, na época de Xifilino, essa parte, pelo menos, já não se encontrava disponível no texto original de Dião.  Igualmente, na parte do resumo referente aos livros 78 e 79 de Dião, cobrindo os reinados de Caracala e de Macrino (211-218 dC), o texto encontra-se mutilado, traindo o uso dum original já corrompido (o que leva a crer, igualmente, que essa parte da obra original de Cássio Dião já não se encontrava disponível)[30]

João Zonaras (c.1060 – c.1130 dC) foi um funcionário civil da administração imperial, tendo chegado ao posto de secretário particular (prôtoasêkrêtês) do Imperador Aleixo I Comneno (reinou 1081-1118 dC).  Após a morte do Imperador (1118 dC), abandonou o serviço público, tornando-se monge no mosteiro de Santa Glicéria, na ilha de Neandros, uma das Ilhas dos Príncipes[31], dedicando-se ao estudo e à composição de livros.  Sua mais conhecida obra é o “Resumo de Fatos Históricos” (Epitomê Historiôn), em 18 “livros”, cobrindo a História Universal desde a Criação até à morte de Aleixo I (1118 dC)[32].  O estudo dessa obra é bastante interessante, já que lança luz sobre o quanto da “História Romana” (bem como de inúmeras outras obras clássicas) ainda era conhecido em sua forma original no séc. XII dC em Bizâncio; por causa disso, far-se-á uma apresentação um tanto mais detalhada do epítome histórico de Zonaras: 

  • Os 16 “livros” do “Resumo de Fatos Históricos” podem ser nitidamente separados em três partes, cada uma compondo-se de 6 “livros”: a) a 1a parte (livros 1o a 6o), pesadamente baseada no relato bíblico, narra os eventos da Criação até à tomada de Jerusalém pelos romanos em 70 dC (centrando-se na história judaica); b) a 2a parte (livros 7o a 12) concentra-se na história “profana” (servindo a história romana como fio condutor), basicamente da chegada de Enéias à Itália até ao início do reinado de Constantino o Grande e à “Paz da Igreja”; c) a 3a parte (livros 13 a 18) centra-se na história romana (e bizantina) a partir da “Paz da Igreja”, até à morte de Aleixo I Comneno (1118 dC).  Para cada terço da obra, as fontes utilizadas foram basicamente distintas;

     

  • Os livros 1o a 6o, conforme dito, cobrem o período compreendido desde a Criação do mundo até à tomada de Jerusalém pelos romanos comandados por Tito em 70 dC, com a destruição do Segundo Templo e a cessação do culto sacrificial baseado no sacerdócio levítico; o ponto-de-vista utilizado é especificamente bíblico e judaico, e as fontes utilizadas são (além da Bíblia), principalmente, as obras de Flávio José (“As Antiguidades Judaicas” e “A Guerra Judaica”).  A campanha romana na Judéia, e a tomada de Jerusalém, servem para Zonaras realizar então a transição da história bíblico-judaica para a história romana, que será iniciada no livro 7o;

     

  • Com o 7o livro, inicia-se a história romana, de cunho mais “secular”; os dez primeiros capítulos cobrem o período da chegada de Enéias de Tróia na Itália até à expulsão de Tarquínio o Soberbo, o último dos sete reis de Roma (c.1200 aC a 509 aC); a narrativa continua pelo período republicano romano adentro, até ao final do livro 9o, detendo-se em 146 aC, data da destruição simultânea pelos romanos de Corinto e de Cartago, com a conseqüente subjugação da África e da Grécia.  Para esse período, Zonaras passou a utilizar a “História Romana” de Cássio Dião (livros 1o a 21, quer na forma original, quer a partir dum resumo hoje perdido), suplementando-a com informações obtidas das “Vidas Paralelas” de Plutarco de Queronéia, bem como com umas poucas alusões à obra histórica de Heródoto de Halicarnasso;

     

  • Após narrar a destruição de Cartago e de Corinto, no final do livro 9o (livro IX, cap. 31), Zonaras lamenta o fato de não ter conseguido encontrar fontes antigas (i.e., narrativas históricas corridas) para todo o restante do período republicano romano, até à época final das guerras civis, justificando desse modo o lapso verificado entre o final do livro 9o e o início do livro 10o de seu “Resumo de Fatos Históricos”; nas próprias palavras do compendiador:

     

Narrei os feitos dos Romanos até ao presente ponto, tendo consultado as obras escritas pelos antigos referentes a tais assuntos e as abreviado, mostrando [desse modo] todas as proezas levadas a cabo quer pelos cônsules, quer pelos ditadores – pois eram esses os ofícios daqueles que, em Roma, na época, exerciam autoridade.  Contudo, que ninguém me venha acusar de [a partir de agora] deixar passar em branco fatos históricos [importantes]; de fato, as omissões [que ora ocorrerão] não me passaram em absoluto despercebidas, e nem tenho prazer algum em, por assim dizer, deixar esta composição incompleta – porque não foi por descuido, nem por falta de zelo, que tal veio a ocorrer, mas sim por carência de livros que narrem tais eventos.  Com efeito, apesar de diligentemente buscar tal material, não me foi possível obtê-lo, quer por não terem sobrevivido [tais livros] ao passar do tempo, quer por aqueles que encarreguei de tal busca não terem sido suficientemente cuidadosos na empresa, não podendo eu mesmo desincumbir-me de tal tarefa, estando distante da Cidade [i.e., de Constantinopla], numa pequena ilha [com monge, em Neandros].  Por conseguinte, não tendo sido eu agraciado com a possibilidade de consultar as fontes apropriadas, esta história terá de quedar-se incompleta [por um intervalo], não se podendo narrar os feitos nem dos cônsules e nem dos ditadores [nesse período].  Assim, ainda que relutantemente, terei de passar, a partir de agora, a narrar os feitos dos Imperadores [i.e., Zonaras terá de deixar a história republicana, e passar à história imperial], não obstante esclarecendo antes certos detalhes acerca da transição ocorrida entre os Romanos, qual seja, do governo do povo [dêmokratia] e dos aristocratas [aristokratia] para o governo de um só [autokratia], esclarecimentos esses que considero proveitosos não apenas para a compreensão daqueles que vierem a ler esta obra, mas também para manter a própria continuidade do texto.  (João Zonaras, “Resumo de Fatos Históricos”, livro 9o, cap. 31, final)

 

  • O livro 10o, com efeito, a fim de ilustrar a “transição de governo” (da república aristocrática para o governo imperial), trata inicialmente dos “senhores-da-guerra” Mário, Sila, Pompeu e César, e da dissolução do governo republicano; para isso, Zonaras utiliza quase exclusivamente como fontes a “Vida de Pompeu” (para os capítulos 1o a 5o, e partes do 10o e 11) e a “Vida de César” (para os capítulos 6o a 11), de Plutarco de Queronéia.  Começando com o capítulo 12, Zonaras passa novamente a utilizar Cássio Dião (mais especificamente, a partir do livro 44, cap. 3o da Rhômaika, referente aos últimos tempos de César, já como Ditador, à sua morte e aos seus funerais), seguindo assim até ao final do livro, que coincide com a época do nascimento de Cristo e com a morte de Augusto (14 dC);
  • O livro 11 cobre o período compreendido entre a morte de Augusto e a de Adriano (14-138 dC).  Zonaras continua seguindo Cássio Dião, em sua forma completa, até à morte de Domiciano (cap. 19, inclusive)[33], mas, a partir desse ponto, seu uso da “História Romana” passa a ser nitidamente indireto, ou seja, Zonaras não mais utiliza o texto original, mas sim, justamente, o epítome de João Xifilino, até à época de Severo Alexandre (livro 12, cap. 15);

     

  • Com o livro 12, Zonaras completa a parte relativa à história romana; o livro cobre o período da ascensão de Antonino Pio à consolidação do governo de Constantino o Grande no Ocidente, após sua vitória sobre Maxêncio (138-312 dC), com a cessação das perseguições aos cristãos e o início da “Paz da Igreja”; segue-se, ao final do livro, um excurso com a lista dos bispos de Roma até São Gregório I, o Grande (590-604 dC), e dos bispos de Antióquia da Síria até Efrém (ou Efraim) de Amida (528-546 dC).  Para o período que se estende até à época de Severo Alexandre (cap. 15), Zonaras segue ainda indiretamente Cássio Dião, a partir do epítome de Xifilino (e também, até à mesma época, a obra histórica de Herodiano); a partir daí (e mesmo desde o cap. 11), passa a utilizar, até ao final do livro, a “História Eclesiástica” de Eusébio de Cesaréia;

     

  • Os livros 13 a 18 compreendem a narrativa do “Império Cristão” – do ponto de vista bizantino, era já a “sua” história – e cobrem o período que se estende da vitória de Constantino sobre Maxêncio, com a consolidação de seu governo no Ocidente, e com a “Paz da Igreja”, até à morte de Aleixo I Comneno (312-1118 dC).  Muda o tom, e também mudam as fontes; a narrativa concentra-se, cada vez mais, nos assuntos diretamente relacionados ao Império Oriental: a) à corte de Constantinopla, seus Imperadores e Patriarcas; e b) à história eclesiástica, apresentada como o triunfo da Ortodoxia (na versão grega oriental) sobre uma série de heresias.  Todos os demais assuntos são negligenciados e considerados irrelevantes, a não ser que, de algum modo, se encaixem em tais temas;

     

  • Nesse último terço da obra, as fontes utilizadas por João Zonaras já são, principalmente, as referentes aos historiadores e aos próprios compendiadores bizantinos passados; segundo os especialistas, pode-se discernir no texto de Zonaras o uso das obras (ou de partes das obras) de Pedro o Patrício[34], de Procópio de Cesaréia[35], dos dois historiadores e cronistas da “renascença” do início do séc. IX dC, o patriarca Nicéforo I[36] e Teófanes o Confessor[37], que incorporaram várias fontes idênticas, algumas hoje desaparecidas[38], dos continuadores de Teófanes[39], de Jorge o Monge[40], de João Skylitzes[41] e até do próprio Miguel Pselos[42].  Apesar de se constituir numa autêntica “colcha de retalhos”, pôde, ainda assim, conservar, numa narrativa contínua, uma condensação dos principais fatos políticos do período.

     

Partes que chegaram fragmentariamente, a partir de citações: 

Retornando ao fio da narrativa, foram examinadas anteriormente as partes da obra histórica de Cássio Dião que chegaram até nós completas, bem como as que chegaram a partir de resumos (os de João Xifilino e de João Zonaras).  Agora, apresentar-se-ão as partes que sobreviveram de modo fragmentário, a partir de citações noutras obras – essas fontes fragmentárias são muito importantes, principalmente, para os primeiros 36 livros da obra, cobrindo principalmente a história republicana.  Os principais (embora não únicos!) testemunhos são os seguintes: a) os Fragmentos de Paris; b) os Florilégios de São Máximo o Confessor; c) os Fragmentos Constantinianos (a principal fonte); d) o léxico publicado nas “Anecdota Graeca” de Bekker; e) as Quilíadas de João Tzetzes.  Analisando-os: 

Fragmentos de Paris: foram descobertos em cinco fólios de pergaminho que anteriormente haviam sido reutilizados para uma cópia da “Geografia” de Estrabão de Amásia (manuscrito Parisiense 1397-A); originalmente, esses fólios pertenciam a um manuscrito da Rhômaika de Cássio Dião do séc. XI dC, e cobrem os eventos dos anos 208/7 a 201/0 aC; 

Florilégios de São Máximo o Confessor: os “Florilégios”, atribuídos, com razoável grau de probabilidade, a São Máximo o Confessor[43], são uma coletânea de citações de várias fontes (da Bíblia, dos Padres da Igreja, de Flávio José, de antigos filósofos, historiadores, poetas, oradores, etc.), que são identificadas e arranjadas, por assunto, em 72 grupos, ou categorias (p.ex., “virtudes e vícios”, etc.); há nesse apanhado várias citações de Cássio Dião; 

Fragmentos Constantinianos: são a principal fonte para citações esparsas de Cássio Dião, e compreendem três das várias obras que foram compiladas sob o patrocínio (e o financiamento) do Imperador Constantino VII Porfirogênito (reinou 913-959 dC): 

  • Sobre as Virtudes e os Vícios[44]: do modo como chegou até aos nossos dias, consiste numa coletânea de citações de 14 historiadores, desde Heródoto de Halicarnasso[45] até João Malalas[46]; de Cássio Dião há nada menos que 415 citações, e talvez, originariamente, houvesse mais;

     

  • Sobre Ditos Memoráveis[47]: essa coletânea de sentenças pôde fornecer um conjunto de fragmentos de Cássio Dião, referente à história romana antiga, das origens até 216 aC.  Um outro conjunto de citações, que se estendia de c.40 aC até à época de Constantino o Grande, inicialmente considerado também como provindo de Cássio Dião (ao menos até à época de Severo Alexandre), é hoje tido como sendo de outro autor, provavelmente de Pedro o Patrício, aqui já citado (que, talvez, tenha parafraseado Cássio Dião até Severo Alexandre);

     

  • Sobre as Embaixadas[48]: coletânea de narrativas de vários autores sobre embaixadas, quer enviadas pelos romanos a nações estrangeiras, quer enviadas por nações estrangeiras aos romanos.  Já foi referida no presente texto, por conter extratos das embaixadas de Pedro o Patrício; nessa coletânea também existem trechos da obra histórica de Cássio Dião;

     

O léxico das “Anecdota Graeca” de Bekker: o curto léxico (Peri Syntakseôn) publicado nas “Anecdota Graeca” de Bekker (vol. I, págs. 117-180)[49] contém cerca de 140 citações de Cássio Dião, de diversos livros; 

As “Quilíadas” de João Tzetzes: na sua miscelânea histórico-mitológica, denominada “Quilíadas”, João Tzetzes[50] cita várias vezes Cássio Dião, embora trate seus extratos de maneira bastante livre.  Tzetzes também cita Cássio Dião umas poucas vezes no seu comentário ao poema “Alexandra”, de Licofronte de Cálcis. 

—(X)— 

A situação do texto da “História Romana” de Cássio Dião, do modo como chegou aos nossos dias, é, assim, a esboçada a seguir: 

  • Livros 1o a 21 (das origens de Roma até ao final da 2a guerra púnica, 146 aC): resumos podem ser obtidos a partir dos livros 7o a 9o do “Resumo de Fatos Históricos” de João Zonaras; fragmentos adicionais podem ser eventualmente obtidos a partir de citações a Cássio Dião nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livros 22 a 35 (de 146 aC a 79 aC): constituem-se na parte da obra de Cássio Dião que nos chegou mais incompleta – somente se obtêm fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente; da parte final (livro 35?), referente às proscrições de Sila, há uma quantidade maior de fragmentos;
  • Livro 36 (de 79 a 65 aC): pode-se utilizar o epítome de João Xifilino, suplementando-o com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livros 37 a 54 (de 65 a 10 aC): tem-se o texto completo de Cássio Dião;
  • Livro 55 (de 9 aC a 8 dC): tem-se o texto completo de Cássio Dião, mas com falhas, as quais podem ser, até certo ponto, supridas a partir do epítome de João Xifilino e do “Resumo de Fatos Históricos” de João Zonaras, que aqui segue o texto completo de Cássio Dião, bem como com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livros 56 a 60 (de 9 a 46 dC): tem-se o texto completo de Cássio Dião, com pequenas lacunas, que podem ser supridas a partir do epítome de João Xifilino e do “Resumo de Fatos Históricos” de João Zonaras, que aqui segue o texto completo de Cássio Dião, bem como com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livros 61 a 67 (de 46 a 96 dC): tem-se o epítome de João Xifilino, podendo-se suplementá-lo com o “Resumo de Fatos Históricos” de João Zonaras, que aqui ainda segue o texto completo de Cássio Dião, bem como com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livros 68 a 78 (de 96 a 211 dC): tem-se o epítome de João Xifilino, podendo-se suplementá-lo, em parte, com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente; João Zonaras deixa de ser útil, já que, a partir do livro 68 de Cássio Dião, passa a utilizar o epítome de Xifilino;
  • Livros 78 e 79 (de 211 a 218 dC): tem-se quase todo o texto completo de Cássio Dião, podendo-se suplementá-lo com o epítome de João Xifilino, bem como com fragmentos, a partir de citações nos vários trabalhos examinados anteriormente;
  • Livro 80 (de 218 a 229 dC): tem-se o epítome de João Xifilino.

     

Nota-se, mais uma vez, que, para o período que mais nos interessa na presente discussão, e referente à época de Augusto (31 aC – 14 dC), aos Júlio-Cláudios (14-68 dC) e, mesmo, aos Três Imperadores e aos Flávios (68-96 dC), o grau de preservação do texto é de razoável a muito bom.  Dá-se aqui por terminada a apresentação desse item, referente à transmissão da “História Romana” de Cássio Dião. 

Dois outros testemunhos independentes acerca de Cássio Dião

Do mesmo modo que Tácito, há todo um conjunto de evidências históricas para a existência de Cássio Dião, bem como para o conhecimento de sua obra.  Algumas dessas evidências, inclusive, já foram aqui apresentadas: os dois testemunhos epigráficos contemporâneos; os Fastos, que citam Cássio Dião como cônsul pela 2a vez, em 229 dC (dessa vez, como cônsul ordinário), tendo por colega o Imperador Severo Alexandre, no seu 3o consulado; e o próprio resumo (epítome) dos livros 36 a 80 da Rhômaika feito por João Xifilino na 2a metade do séc. XI dC.  Há, contudo, dois outros testemunhos, cronologicamente anteriores ao resumo de Xifilino: uma citação a Cássio Dião no “Sobre os Dragões”, atribuído a São João de Damasco (primeira metade do séc. VIII dC), e a anotação de leitura de sua obra histórica, constante na “Biblioteca” (Bibliothêkê, ou Myriobiblon) do patriarca Fócio (meados do séc. IX dC). 

No opúsculo “Sobre os Dragões”, atribuído a São João de Damasco: 

O opúsculo “Sobre os Dragões” tem tradicionalmente como autor São João de Damasco, embora muitos duvidem de tal atribuição[51].  Trata-se dum texto bastante curto[52], defendendo o fato de que os “dragões” não eram criaturas míticas ou dotadas de poderes especiais, mas sim animais como os outros, embora com características peculiares[53]; é quase certo que o autor tinha em vista a memória de casos reais de grandes serpentes (pítons?), cuja descrição já então tendia para a lenda e o exagero[54].  Numa passagem do referido “Sobre os Dragões”, o autor (provavelmente São João de Damasco, apesar das dúvidas modernas)[55] cita um trecho (do livro 11) de Dião: 

Dião, o romano, que escreveu a história tanto da República quanto do Império de Roma, na parte em que narra a tão conhecida guerra cartaginesa, menciona que, quando o cônsul Régulo lutava contra Cartago, um dragão (drakôn) inesperadamente ultrapassou a paliçada e adentrou no próprio acampamento do exército romano.  Por sua ordem, os soldados o mataram, esfolando-o em seguida e enviando o couro ao Senado, em Roma.  Quando seu comprimento foi medido, por ordem do Senado, ainda conforme Dião, verificou-se que o mesmo alcançava assombrosos cento e vinte pés[56], sendo a largura [do animal, i.e., a medida de sua espessura] proporcional a tal comprimento[57].

Esse incidente encontra-se, igualmente, narrado por João Zonaras no seu “Resumo de Fatos Históricos”, livro 8o, cap. 13, tendo por fonte, igualmente, Dião: 

Estando Régulo acampado às margens do rio Bágradas[58], repentinamente apareceu um enorme dragão (stratopedeuomenôi drakôn epephanê hypermeghethês), cujo comprimento era, ao que se diz, de cento e vinte pés (pois seu couro foi posteriormente enviado a Roma e lá exibido), sendo sua espessura proporcional a tal tamanho.  Ele matou muitos dos soldados que dele se aproximaram [para enfrentá-lo], bem como vários outros que [inadvertidamente] bebiam água no rio.  Régulo por fim o destruiu, tendo que usar para tal uma multidão de soldados, bem como catapultas[59].

De qualquer modo, é irônico que uma obra como a “Sobre os Dragões”, escrita com a finalidade de combater idéias infundadas e supersticiosas referentes a determinados animais, idéias essas que, já na época (1a metade do séc. VIII dC), estavam ganhando vida própria e moldando mais uma criatura fantástica para os bestiários – enfim, que justamente esse opúsculo seja hoje em dia utilizado, por certos círculos, para demonstrar (ou, diga-se de forma mais correta, tentar demonstrar) que os antigos “dragões” nada mais eram do que répteis antediluvianos, dinossauros, os quais, assim, teriam sido contemporâneos dos seres humanos (em apoio a uma determinada hipótese cronológica); uma teoria enfim absolutamente insustentável diante do conhecimento técnico-científico hoje disponível, já detalhada e largamente refutada, quer técnica, quer teologicamente, e que, na melhor das hipóteses, e por piedade, deveria ser deixada levar inexoravelmente pelas águas do rio do esquecimento. 

Na “Biblioteca” do patriarca Fócio: 

Seguindo adiante acerca dos testemunhos independentes sobre Cássio Dião e sua obra histórica, um dos trabalhos manuseados por Fócio[60], e que consta em suas anotações de leitura, denominadas “Biblioteca”[61], é justamente a “História Romana” de Cássio Dião, que ele ainda pôde encontrar completa, e que leu por inteiro.  Da obra, e do autor, ele fornece informações interessantes: 

Lida a “História” de Cassiano Cocciano, ou Cóccio, Dião, em 80 livros.  Ele inicia [sua obra] com a chegada de Enéias à Itália, vindo de Tróia; prossegue então com a fundação de Alba e de Roma, e depois faz seguir ininterruptamente sua narrativa até ao assassinato de Antonino, dito Elagábalo, também conhecido como Tiberino, Sardanapalo, Pseudantonino e Assírio, por causa de seus muitos vícios [reinou 218-222 dC][62].  Além disso, ele também faz menção ao reinado de [Severo] Alexandre [222-235 dC], que, após a morte de Antonino [Elagábalo], o qual o tinha posto como colega no exercício do poder imperial, escapou ao perigo que o ameaçava e o sucedeu no trono.  O historiador nos narra que esse Alexandre foi cônsul pela segunda vez com ele próprio[63], e que esse Imperador, desejoso de honrar seu colega, custeou-lhe todas as despesas em que incorreu, devidas ao exercício dessa magistratura.  O autor foi nomeado governador de Pérgamo e Esmirna [i.e., procônsul da Ásia] por Macrino [reinou 217-218 dC], e depois governador [i.e., procônsul] da África.  Posteriormente, exerceu também o cargo de governador da Panônia.  Eleito cônsul pela segunda vez, foi-lhe permitido retornar a seu lar, devido a uma doença nos pés, terminando seus dias na Bitínia, como seu “gênio” havia outrora predito, “além do alcance do massacre, do derramamento de sangue, e da anarquia”[64].  Ele nasceu em Nicéia, na Bitínia, cidade que se situa às margens do lago chamado Ascânio[65].  Seu estilo é grandiloqüente e bombástico, refletindo a consciência que tinha da grandiosidade dos eventos que narra.  Sua linguagem é cheia de construções arcaicas, com palavras cuidadosamente escolhidas, a fim de se harmonizarem com o grau de importância do que especificamente descreve.  Não obstante, abundam em suas frases longos apostos, bem como inversões inoportunas.  Mesmo assim, a narrativa rítmica e as interrupções abruptas, sendo ambas empregadas com cuidado, e não interferindo na clareza do conjunto, escapam ao leitor casual.  Os discursos, modelados naqueles de Tucídides, mas dotados de maior grau de clareza, são excelentes.  Aliás, em praticamente tudo o mais, Tucídides é seu modelo.  (Fócio, “Biblioteca”, códice 71)

Portanto, a evidência histórica para a existência de Cássio Dião, bem como para o conhecimento e o uso de sua obra, é incontestável: 

  • Cássio Dião é atestado, como pessoa, por dois testemunhos epigráficos contemporâneos, já citados neste trabalho em nota de rodapé, os quais, inclusive, serviram para reconstituir, na integridade, seu nome (Lúcio Cláudio Cássio Dião Coceiano): l’Année Épigraphique 1971, inscrição 430 (encontrada na Macedônia), e Roman Military Diplomas, Roxan, item 133;

     

  • Os Fastos Consulares são outra evidência, atestando Cássio Dião como cônsul pela 2ª vez (agora ordinário) em 229 dC, tendo por colega o Imperador Severo Alexandre (então em seu 3º consulado) – informação corroborada tanto pelo próprio historiador quanto por Fócio (“Biblioteca”, códice 71);

     

  • Há, inclusive, evidências seguras acerca do avô do historiador (o famoso orador Cássio Dião Coceiano, dito “Crisóstomo”, i.e., “da boca de ouro”), de seu pai (Marco?) Cássio Aproniano, que exerceu inúmeros cargos importantes, chegando inclusive a cônsul sufeta em 183 ou 184 dC, e dum filho (ou neto) de Cássio Dião, também chamado Cássio Dião, que foi cônsul ordinário 291 dC, procônsul da África 295 dC e Prefeito Urbano de Roma 296-297 dC;

     

  • Igualmente, tanto sua existência como pessoa (“Dião, o romano”) quanto o fato de ser um historiador, e de ter escrito obras históricas sobre a República e o Império de Roma, são confirmadas pelo opúsculo “Sobre os Dragões”, que, apesar das reservas atualmente expressas, deve ser considerado como de autoria de São João de Damasco (1a metade do séc. VIII dC);

     

  • Mais uma vez, ele, bem como sua obra, são objeto de uma das entradas (“códice 71”) da “Biblioteca” de Fócio (meados do séc. IX dC); tendo Fócio asseverado que a obra histórica de Cássio Dião se constituía numa narrativa ininterrupta de Enéias até à época de Severo Alexandre, depreende-se que, nessa época, a “História Romana” ainda sobrevivia integralmente, em seus 80 “livros”;
  • A obra histórica de Cássio Dião constituiu-se no “texto padrão” de história romana para o Oriente bizantino de língua grega; essa sua posição, inclusive, encorajou não apenas a preservação de partes razoáveis do texto original (deve-se levar em conta que a “História Romana” era uma obra longa, em 80 “livros”), quanto, principalmente, a confecção de resumos (epítomes) da mesma, bem como a sua própria utilização na confecção de outras obras históricas;

     

  • Nesse processo (de sobrevivência de partes do texto original, a par da confecção de epítomes ou a utilização noutras obras históricas), a chance maior de sobrevivência ligava-se à história dos últimos tempos da República e da época imperial, já que a narrativa acerca da República romana em si, com seus heróis aristocratas, seu governo oligárquico, a ausência duma corte “imperial” e a prevalência da política sobre uma administração centralizada e burocrática estavam bem distantes da realidade político-administrativa, tal como vivenciada pelos bizantinos; a história dos Imperadores, a partir de Augusto, por outro lado, já era, sob vários aspectos, uma história que podiam compreender melhor;

     

  • Vários fragmentos de Cássio Dião foram utilizados pelo círculo do Imperador Constantino VII Porfirogênito (reinou 913-959 dC) para a composição de inúmeras compilações; importantes são aqueles constantes no “Sobre as Virtudes e os Vícios”, “Sobre Ditos Memoráveis” e “Sobre as Embaixadas” – mais uma prova de seu conhecimento, ao menos nua forma mais completa, nos meados do séc. X: 

     

  • Diante da popularidade de sua história, ao menos para o período imperial, foi elaborado um resumo (epítome) por João Xifilino (2a metade do séc. XI dC), cobrindo os livros 36 a 80 da “História Romana”, que tratavam do período de Pompeu o Grande até Severo Alexandre (79 aC a 229 dC) – ou seja, da última fase das guerras civis republicanas e de todo o período imperial (a confecção de tal resumo é prova de que, nessa época, ao menos os referidos livros ainda sobreviviam no seu texto integral).  Não se sabe se algum resumo semelhante foi efetuado para os primeiros 35 livros, mas, tendo em vista a natureza bem mais fragmentária do texto dessa parte da obra de Dião que chegou até nós, é provável que não;

     

  • Pouco tempo depois do epítome de João Xifilino, João Zonaras (finais do séc. XI e inícios do séc. XII dC) lançou mão extensivamente de praticamente toda a obra de Cássio Dião quando teve que tratar da história romana no seu “Resumo de Fatos Históricos”.  Utilizou de Cássio Dião os livros 1o a 22 (de Enéias à destruição de Cartago e Corinto, 146 aC, não é possível dizer se o texto integral, ou se um resumo hoje perdido), e 44 a 67 (dos últimos tempos de Júlio César, 45/44 aC, até ao final do reinado de Domiciano, 96 dC – nesse caso, o texto integral), bem como o resumo de Xifilino para a época posterior, até Severo Alexandre.  Tal esquema de uso mostra que, pela sua época, ao menos uma parte do texto da “História Romana” já se encontrava perdida, não tendo sido provavelmente sequer resumida (isso diz respeito, com um razoável grau de certeza, aos livros 22 a 35; a partir do livro 36, Zonaras poderia já se ter servido do resumo de Xifilino, mas preferiu seguir as biografias de Plutarco);

     

  • Enfim, sua obra (ou, ao menos, resumos dela) foi ainda utilizada por João Tzetzes (meados séc. XII dC).

Mais uma vez, comparem-se todas essas evidências, inclusive pessoais, inclusive contemporâneas, com aquela fantasmagoria que se denomina “Públio Lêntulo”. 

Dá-se assim por terminado este segundo estudo de caso, referente à “História Romana” de Cássio Dião; espera-se ter sido possível demonstrar que, apesar das muitas peripécias ocorridas na transmissão da referida obra, o período de Augusto e dos Júlio-Cláudios é coberto com um razoável grau de detalhe.  Também se crê ter sido possível demonstrar (do mesmo modo que para Tácito) que, ao contrário do fantasmagórico “Públio Lêntulo”, Cássio Dião foi uma personagem histórica efetivamente existente, sendo sua obra conhecida e utilizada ao longo de todo o período bizantino. 

Elenco das (Principais) Fontes Históricas para Augusto, os Júlio-Cláudios e os Flávios: 

O período dos Júlio-Cláudios, ou seja, aquele compreendido pelos sucessores imediatos de Augusto, originários (quer por sangue, quer por adoção) das famílias patrícias dos Júlios e dos Cláudios, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero (14 a 68 dC) é, sob todos os aspectos, o mais importante no que diz respeito a investigações históricas acerca da existência (e suficiência) de dados para a eventual confirmação de “Públio Lêntulo”, nos moldes colocados por Francisco Cândido Xavier em seu “ciclo de Emanuel”.  No entanto, esticando-se um pouco mais esse período, quer para trás (incluindo-se a época de Augusto), quer para a frente (incluindo-se o Ano dos Quatro Imperadores, bem como o reinado dos três Imperadores da família dos Flávios, Vespasiano, Tito e Domiciano), cobre-se o período de 30 aC a 96 dC, mais de cem anos.  Esse período de tempo inclui, em sua totalidade, a vida terrena de “Públio Lêntulo”, que, por força das próprias informações que fornece na psicografia “Há Dois Mil Anos”, nasceu nos inícios da era cristã (era já adulto, embora jovem, por volta dos anos 30-33 dC, morrendo em Pompéia, por ocasião da erupção do Vesúvio, em 81 dC, sob Tito). 

Justamente para esse período mais estendido (e que inclui toda a vida de “Públio Lêntulo”) elencar-se-ão a partir de agora as principais fontes históricas disponíveis, justamente com o intuito de reafirmar o fato de se poder, sim, reconstituí-lo com um enorme grau de detalhe e uma razoável certeza – detalhes e certeza que tornam, cumulativamente, as afirmações acerca da existência de “Públio Lêntulo” claramente insustentáveis.  Para fins meramente didáticos, aqui as fontes históricas serão divididas em três tipos: a) literárias históricas; b) literárias outras; c) não literárias. 

Fontes Históricas Literárias

Incluem as obras históricas propriamente ditas, bem como biografias de personagens importantes (basicamente, Imperadores), que nos chegaram intactas, ou quase.  Foram aqui consideradas apenas as principais: a) Tito Lívio, ou o que restou de sua obra; b) o epitomista Floro; c) Veleio Patérculo; d) Tácito, que aqui já foi exaustivamente apresentado; e) Cássio Dião, idem; f) Flávio José, o historiador judeu, cujas obras, obviamente, concentram-se nos eventos palestinenses; g) Suetônio, o biógrafo dos Imperadores; h) Plutarco de Queronéia, o biógrafo de ilustres gregos e romanos; i) Eutrópio e seu compêndio “Breviário de História Romana”; j) Paulo Orósio e sua obra “Histórias Contra os Pagãos”. 

Tito Lívio (59 aC – 17 dC) foi o grande e famoso historiador da época de Augusto, romano leal e “patriota”, natural de Patávio, na Cisalpina (hoje Pádua, no norte da Itália).  Pretendia, com sua obra histórica, mostrar como as “antigas virtudes” haviam feito Roma evoluir duma pequena cidade a um grande Império; o seu monumental “A Partir da Fundação da Cidade” (Ab Urbe Condita), em 142 “livros”[66], era uma obra extensa, detalhada e cuidadosa, e que se transformou inclusive na “narrativa-padrão” para a história da Roma republicana.  O período coberto abrangia toda a história romana; ia da fundação lendária da Cidade (753 aC), pelos gêmeos Rômulo e Remo, descendentes de Enéias de Tróia, até à época de Augusto.  Mas o próprio tamanho da obra impediu que nos chegasse inteira.  Restaram completos os livros 1º a 10º (cobrindo o período da fundação da Cidade até à vitória romana na batalha de Sentino, em 293 aC), e 21 a 45 (do início da 2ª guerra púnica até à derrota da Macedônia na batalha de Pidna e à ordem dada ao rei selêucida Antíoco IV Epífanes de evacuar o Egito, i.e., de 218 a 167 aC).  Não obstante, uma boa parte do material faltante pode ser encontrado quer no resumo de Floro (que será citado a seguir), quer num “resumo” bastante condensado dos 142 “livros”, efetuado no séc. IV dC, denominado “Períoque”.  Nessa “Períoque” de Tito Lívio, os resumos dos livros 132 a 142 referem-se à época de Augusto, da guerra contra Antônio e Cleópatra até c.8 aC. 

Públio Ânio Floro (c.70 – c.140 dC), que floresceu sob o império de Adriano (reinou 117-138 dC), escreveu um “Resumo das Guerras Romanas”, em 2 “livros”, num estilo grandiloqüente.  Baseou-se principalmente em Tito Lívio, mas também utilizou outras fontes (de nós agora desconhecidas) para as guerras danubianas e germânicas da época de Augusto, fontes essas que tinham sido completadas sob Tibério (14-37 dC) ou, no mais tardar, Calígula (37-41 dC), já que Floro informa que uma das águias perdidas na derrota de Varo na batalha da floresta de Teutoburgo ainda não havia sido recuperada, o que ocorreu no ano 41 dC, sob Aulo Gabínio Segundo Cáucio, o então governador da Germânia Inferior.  O 1º “livro” de Floro cobre todas as guerras “internacionais” de Roma, de Rômulo até às guerras partas de Licínio Crasso, e sua derrota em Carras.  O 2º “livro” trata das guerras intestinas (civis), da época dos Gracos até à guerra de Otaviano (Augusto) contra Antônio e Cleópatra, seguindo-se as guerras augustanas (incluindo as campanhas na Panônia e na Germânia, as guerras contra os gétulos na África, contra os cântabros e ástures no extremo norte da Espanha, etc.), mencionando, como fecho, a devolução por parte dos partos dos estandartes capturados outrora a Crasso em Carras, dando início, assim, à pax romana de Augusto.

Marco (ou Gaio) Veleio Patérculo (c.19 aC – c.31 dC), historiador que floresceu sob o império de Tibério (14-37 dC), escreveu um “Compêndio de História Romana”, em dois “livros”, cobrindo o período da fuga de Enéias para a Itália, após a destruição de Tróia, até à morte de Lívia (29 dC), esposa de Augusto e mãe de Tibério.  O 1º livro leva a narrativa até à destruição de Corinto e de Cartago (146 aC); no 2º, o período compreendido entre a morte de César e a de Augusto (44 aC a 14 dC) é narrado com um nível maior de detalhe (embora o tratamento dado a César, a Augusto e a Tibério beire, muitas vezes, a simples bajulação).

Tácito e Cássio Dião: já foram exaustivamente apresentados neste trabalho. 

Flávio José (37 – c.100 dC), nascido Iosef ben-Matathiahu (“José, filho de Matias”, ou Matatias), era membro da aristocracia sacerdotal judaica.  Participou da revolta contra os romanos, que estourou em 66 dC, tendo sido encarregado de organizar a defesa da Galiléia; cercado em Jotapata (Yodfat), foi aprisionado por ocasião da queda dessa cidade (junho 67 dC).  Prisioneiro de guerra, foi libertado posteriormente por Tito (69 dC), tomando então, como era o costume, o prenome e o nome gentílico de seu antigo senhor, “Titus Flavius”, adicionando-lhes como cognome seu próprio nome hebraico em forma latina, “Iosephus”; passou a ser, portanto, o liberto, e “novo” cidadão romano, “Titus Flavius Iosephus”, “Flávio José”.  Mesmo antes de ser libertado (e mais ainda depois), tornou-se útil para os romanos como intermediário entre as forças romanas e os setores mais influentes da população local, desempenhando-se bem nesse papel de intermediário, de negociador e, mesmo, de conselheiro, fornecendo informações valiosas acerca de seus compatriotas, de seu modo de agir e pensar, etc.  Acabou ganhando, como já se mencionou, a liberdade, e associou-se à “entourage” de Tito, o filho de Vespasiano, a partir do instante em que este assumiu a liderança da luta judaica.  Após a queda de Jerusalém, seguiu com seu patrono Tito a Roma (71 dC), onde aparentemente permaneceu até à sua morte, como apadrinhado dos sucessivos Imperadores da família dos Flávios, Vespasiano (69-79 dC), depois Tito (79-81 dC), enfim Domiciano (81-96 dC), o irmão mais novo de Tito, e onde escreveu suas obras, que chegaram até nós: “A Guerra Judaica” (em 7 “livros”, c. 75 dC), “As Antiguidades Judaicas” (em 20 “livros”, c. 94 dC), “Contra Apião” (em dois “livros”, c. 97 dC) e “Autobiografia” (em um “livro”, c.99 dC).  As duas obras históricas que aqui interessam são “A Guerra Judaica” e “As Antiguidades Judaicas”; o seu foco, deve-se lembrar, é a narrativa dos eventos palestinenses, mas fornecem também algumas informações interessantes sobre a história romana em geral (p.ex., a narrativa pormenorizada da conspiração que culminou no assassinato de Calígula, bem como no importante papel de intermediário desempenhado por Herodes Agripa I entre o Senado romano e o novo Imperador, Cláudio, proclamado pelos pretorianos após o fim de Calígula).  Em “As Antiguidades Judaicas”, a época de Augusto é tratada do livro XV, cap. 6o ao livro XVIII, cap. 2º, par. 2o(com ênfase,claro, no reinado de Herodes o Grande); seguem-se os períodos de Tibério (livro XVIII, cap. 2º, par. 2º a cap. 6º, par. 9º), Calígula (livro XVIII, cap. 6º, par. 10º a livro XIX, cap. 1º), Cláudio (livro XIX, cap. 2º a livro XX, cap. 7º) e Nero, até ao início da eclosão da revolta, em 66 dC (livro XX, caps. 8º a 11).  Em “A Guerra Judaica” (onde a narrativa se concentra na descrição da revolta judaica contra Roma, de 66 a c.72 dC), a época de Augusto é tratada do livro I, cap. 20 ao livro II, cap. 8º; seguem-se os períodos de Tibério (livro II, cap. 9º, pars. 1º a 5º), Calígula (livro II, cap. 9º, par. 5º ao livro II, cap. 10º), Cláudio (livro II, caps. 10º a 12), Nero (livro II, cap. 13 a livro IV, cap. 9º, par. 1º, sendo que, a partir do livro II, cap. 16, narra-se a revolta), Galba, Otão e Vitélio, até à proclamação de Vespasiano (livro IV, cap. 9º, par. 2º até ao final do livro), e Vespasiano, até à queda de Masada, c. 72 dC (livros V a VII, mas focados na campanha judaica de Tito). 

Gaio Suetônio Tranqüilo foi secretário para correspondências em latim do Imperador Adriano, e biógrafo dos Imperadores; já foi aqui citado.  Dele sobreviveram, integralmente, as biografias dos Imperadores de Augusto a Domiciano, inclusive. 

Plutarco de Queronéia (46 – c.122 dC), duma rica e influente família da aristocracia municipal de Queronéia da Beócia, na Grécia continental, foi o famoso biógrafo de gregos e de romanos ilustres – embora tenha escrito sobre muitos outros assuntos (principalmente filosofia, religião e moral), além de biografias.  Essas últimas são as tão conhecidas “Vidas Paralelas”, porque comparam, duas a duas, as vidas de um grego e de um romano célebres, de carreiras e feitos semelhantes (p.ex., Teseu [fundador lendário de Atenas] e Rômulo [fundador lendário de Roma]; Alexandre o Grande e Júlio César [ambos grandes generais e conquistadores]; Licurgo [o lendário legislador de Esparta] e Numa Pompílio [o 2º, e também lendário, rei de Roma, igualmente um legislador]; Demóstenes [o mais famoso orador grego] e Cícero [o mais famoso orador romano]; os reis espartanos Ágis e Cleômenes e os dois irmãos Gracos [todos eles reformadores sociais]; etc.), comparando depois seus respectivos feitos e caracteres, procurando sempre (e isso é uma constante em toda a sua obra) tirar disso alguma lição moral aplicável à vida do dia-a-dia.  Além de todas essas vidas paralelas, Plutarco também deixou duas biografias “soltas”, de dois imperadores romanos sucessivos, da época do Ano dos Quatro Imperadores (69 dC): Galba e Otão. 

Flávio Eutrópio, também aqui já citado, autor do “Breviário de História Romana”, em 10 “livros”, cobrindo a história da fundação de Roma até ao início do reinado do Imperador Valente (753 aC a 364 dC).  A época de Augusto é tratada no livro VII, caps. 8º a 10º; seguem-se Tibério (cap. 11), Calígula (cap. 12), Cláudio (cap. 13, parte), Nero (final do cap. 13 ao cap. 15), Galba (cap. 16), Otão (cap. 17), Vitélio (cap. 18), Vespasiano (caps. 19 e 20), Tito (caps. 21 e 22) e Domiciano (cap. 23). 

Paulo Orósio (c.383 – c.420 dC), igualmente já citado neste trabalho, presbítero natural de Brácara Augusta, na província da Galícia (hoje Braga, no norte de Portugal), escreveu sua “História Contra os Pagãos”, em 7 “livros”, a pedido de Santo Agostinho; a obra narra a história universal da Criação até ao ano 417/18 dC.  A época de Augusto é narrada no livro VI, caps. 19 a 22, e no livro VII, cap. 3º; seguem-se, no livro VII, as narrativas acerca de Tibério (cap. 4º), Calígula (cap. 5º), Cláudio (cap. 6º), Nero (cap. 7º), Galba, Otão e Vitélio (todos no cap. 8º), Vespasiano e Tito (cap. 9º), e enfim Domiciano (cap. 10º). 

Outras Fontes Literárias:  

Incluem outras peças de literatura que não sejam obras históricas ou biografias, que tenham chegado até aos nossos dias inteiras ou quase, e nas quais seja possível obter alusões e referências à história do período em apreço.  Dentro dessa rubrica, a lista seria enorme, pois dezenas de obras literárias, incluindo-se poesias, possuem referências históricas, implícitas ou explícitas, como aliás já se teve ocasião de mostrar neste mesmo trabalho.  Assim, aqui são citadas aquelas que, de um modo geral, possuem um conjunto razoavelmente grande de tais referências, sempre se lembrando que não são, em hipótese alguma, as únicas: a) a “Geografia” de Estrabão de Amásia; b) as “Antiguidades Romanas” de Dionísio de Halicarnasso; c) os “Ditos e Feitos Memoráveis” de Valério Máximo; d) eventualmente as “Cartas” de Plínio o Moço. 

Estrabão (64/3aC – c.24 dC), duma família nobre de Amásia do Ponto, geógrafo, historiador e filósofo, escreveu uma “Descrição da Terra”, ou “Geografia” (Ghêographia), também chamada “Descrição dos Países” (Chôrographia)[67], em 17 “livros”.  No ano 44 aC mudou-se para Roma; viajou depois extensivamente por todo o mundo mediterrânico (29 aC a 17 dC), coletando material, retornando uma vez a Roma c. 7 aC para a 1ª publicação de sua obra, e depois, definitivamente, em 17 dC, para a edição definitiva da mesma, a qual deve ter ocorrido por volta de 23 dC[68].  A “Geografia” não inclui apenas a descrição física das terras então conhecidas (a “geografia” propriamente dita, ou seja, a geografia física), mas também uma série de considerações e informações envolvendo aspectos tanto etnográficos quanto históricos desses lugares (a “corografia”, ou seja, a geografia política). 

Dionísio de Halicarnasso (c.60aC – depois de 7aC), historiador e especialista em retórica, mudou-se para Roma e estudou latim e literatura latina por 22 anos, a fim de ter acesso ao melhor material possível para escrever uma investigação pormenorizada e fundamentada sobre as origens romanas.  O resultado de toda essa preparação foi a obra “Antiguidades Romanas” (Rhômaikê Archaiologhia), em 20 “livros”, que cobria tudo o que dizia respeito à história romana, das “origens troianas” até ao início da Primeira Guerra Púnica.  Os primeiros 9 “livros” sobreviveram (narrando os acontecimentos desde as origens de Roma até ao 48º ano da República, ou seja, até ao ano 462 aC, quando Lúcio Lucrécio Tricipitino e Tito Vetúrio Gêmino Cicurino foram cônsules)[69], bem como partes substanciais do 10º e do 11º[70].  Dos demais, restaram apenas fragmentos, num enorme número de manuscritos, mas principalmente em três das antologias históricas sobreviventes dos inúmeros tratados compilados por ordem do Imperador bizantino Constantino VII Porfirogênito (1ª metade do séc. X dC)[71], bem como num resumo (epítome) descoberto pelo Cardeal Ângelo Mai num palimpsesto em Milão (o Ambrosiano Q-13, do séc. XV) e editado em 1816.  Embora a obra se encerre muito antes do período aqui considerado, Dionísio eventualmente acrescenta observações sobre eventos posteriores, principalmente referentes à sua própria época (final do período das guerras civis, e governo de Augusto).

Valério Máximo (1ª metade do séc. I dC) foi um escritor e moralista ativo sob o império de Tibério, e escreveu (por volta do ano 31 dC), em 9 “livros”, uma coletânea de exempla denominada “Ditos e Feitos Memoráveis”, ordenada por temas, para facilitar seu uso pelos oradores, na composição de seus discursos.  A utilidade da obra para a ilustração de orações por meio de exempla, bem como a sua prática divisão por temas e o seu tamanho relativamente moderado, garantiram a sua sobrevivência integral.  Os “feitos exemplares” e ilustrativos de diversas qualidades e ações, boas ou más (exempla), foram retirados da história romana, até à época do autor, e receberam um esmerado tratamento retórico; sempre que havia um conflito entre as práticas tradicionais e as “novidades”, a tendência de Valério era defender vigorosamente a tradição.  O livro I ocupa-se de tópicos religiosos e sobrenaturais, incluindo presságios, sonhos, “milagres” e mitos.  O livro II refere-se ao comportamento social, incluindo práticas militares, tradições matrimoniais, detalhes de cerimônias públicas, etc.  O livro III ocupa-se com exemplos de bravura, constância e paciência; o livro IV concentra-se em exemplos de moderação, amizade, justiça e enfrentamento da pobreza e das privações.  O livro V discorre sobre o perdão, a piedade, a gratidão, o amor filial e a necessária severidade dos pais.  No livro VI há historietas sobre os caprichos da fortuna, sobre a fidelidade conjugal e sobre a lealdade à nação; no VII, observações sobre complôs e estratagemas militares, a par de várias narrativas de índole legal; no VIII, narram-se historietas várias, quer ilustrando a oposição entre o ócio e a diligência, quer mostrando exemplos de excepcional eloqüência oratória, quer, igualmente, tecendo considerações acerca da longevidade humana.  Enfim, no livro IX, Valério concentra-se nos vícios: há uma coletânea de descrições de caracteres relacionados à ganância, à luxúria, à crueldade e à vingança, culminando na narrativa dum conto referente a uma conspiração de parricídio (que, em geral, acredita-se estar relacionada à queda do prefeito pretoriano Élio Sejano em 31 dC, embora Valério não informe nenhuma das identidades pretensamente envolvidas). 

Plínio o Moço: já aqui citado; suas “Cartas” fazem ocasionalmente alusões a acontecimentos históricos a partir da época do império de Tito (76-81 dC) – um dos quais, a erupção do Vesúvio, foi aqui citado e comentado integralmente. 

Fontes Não-Literárias

Nessa rubrica inclui-se: a) a arqueologia, em geral; b) a numismática (i.e., o testemunho que se pode obter a partir do estudo das moedas emitidas pelos diferentes Imperadores e/ou autoridades); c) a epigrafia (i.e., o testemunho que se pode obter a partir do estudo das inscrições sobreviventes); d) os diplomas militares de “baixa honrosa”; enfim, e) a papirologia (i.e., o testemunho que se pode obter a partir do estudo de documentos sobreviventes, quase sempre em papiros, e quase sempre originários do Egito, cujo clima quente e seco permite a conservação, por longuíssimos períodos, desse material) 

Mostrar-se-ão agora alguns detalhes acerca da epigrafia, dos diplomas militares e da papirologia.

Epigrafia: 

A epigrafia lida com as inscrições antigas, especificamente com a sua leitura e interpretação; embora o processo de descoberta de muitas dessas inscrições envolva procedimentos arqueológicos, o estudo das inscrições em si é suficientemente individualizado para justificar a existência duma técnica (ou, como se costuma dizer, duma “ciência auxiliar da História”) específica – o mesmo, aliás, pode ser dito a respeito da Numismática. 

É virtualmente impossível estimar-se o número total de inscrições clássicas, tanto em língua grega quanto em latim; com certeza, montam a várias centenas de milhares, e o número continua crescendo – até mesmo com a incorporação de inscrições noutras línguas, como o etrusco, o aramaico (e sua variante, o siríaco), o copta, o palmireno, o sul-arábico, o persa, etc. (embora o número de inscrições nessas várias línguas seja muitíssimo menor do que o enorme “corpus” de inscrições gregas e latinas).  Toda essa massa de inscrições (das quais se destacam as inscrições tumulares, i.e., os epitáfios, e as inscrições públicas comemorativas, principalmente os decretos municipais) proporciona informações valiosas sobre a vida quotidiana no mundo greco-romano, mais especialmente no Império Romano dos dois primeiros séculos da era cristã, lançando luz numa série de aspectos políticos, sociais, religiosos e econômicos da época e dos lugares. 

As inscrições públicas gregas e romanas desenvolveram-se dentro da mesma tradição, e, na época imperial, caminharam lado a lado.  Embora o hábito epigráfico já estivesse estabelecido desde há muito entre os gregos, um aumento considerável no número das inscrições ocorreu na época romana imperial, mais especificamente a partir do governo de Augusto, e por todo o período do “Alto Império”, dentro duma tendência mais ampla, e que igualmente afetou as inscrições latinas. 

De fato, relativamente poucas inscrições romanas sobrevivem da época da República; a grande maioria dos espécimes data da época imperial, mais especificamente da época do “Alto Império”, ou “Principado” – o período que se estende do governo de Augusto até ao final da dinastia dos Severos (31 aC a 235 dC), crescimento esse que compartilhou com as inscrições em língua grega (as chamadas “inscrições gregas imperiais”).  O hábito epigráfico (tanto no Ocidente latino quanto no Oriente grego) diminuiu sensivelmente nos quase 50 anos seguintes (235-284 dC), o período de perturbações conhecido como a “Anarquia Militar”.  A restauração da ordem administrativa no Império, ocorrida sob Diocleciano (284-305) e Constantino (306-337), ensejou apenas uma recuperação parcial no número das inscrições – recuperação essa que chegou ao fim no Ocidente entre os sécs. V e VI dC, e no Oriente no séc. VII dC.  Embora o número de inscrições tardo-romanas (sécs. IV-VI dC) seja bem inferior ao “boom” do Alto Império, ainda assim é bem maior do que o das inscrições da Alta Idade Média. 

No que diz respeito a todos os aspectos esboçados nos parágrafos anteriores, são sumamente ilustrativas as considerações de Greg Woolf, no início dum trabalho sobre a epigrafia greco-romana da época imperial, reproduzidas a seguir.

The vast majority of surviving Roman inscriptions originated in a cultural phenomenon that is characteristic of, and in some senses defines, the early Roman Empire.  At the end of the last century bC – roughly coincident, then, with the transition to autocracy, the Roman cultural revolution, and the formative period of provincial cultures throughout the Empire – an epigraphic boom occurred, in Italy and in every province of the Empire.  That explosion of new inscriptions, and the subsequent rise and fall of an epigraphic culture, was experienced by eastern and western provinces alike, in Greek as well as in Latin epigraphy.  Many regional epigraphies remain to be characterized in terms of their chronology, but such local studies as have been done strongly suggest that, although there was certainly some inter-regional variation in the scale, rate, and timing of this phenomenon, in its broad outlines this pattern was very widespread.  Across the entire Empire, the number of inscriptions set up each year began to rise from the Augustan period and increased more and more steeply through the second century.  In every region that has been examined in detail, the majority of extant inscriptions were produced in the late second and early third centuries.  The peak or turning-point seems to have been reached at slightly different times in each area.   But everywhere the subsequent decline was much faster than the original rise, reaching a new low between the middle and the end of the third century AD.  Epigraphy does survive into the fourth century – in most areas of the Empire, if not in most cities – but late imperial inscriptions are very much rarer and differ markedly from early imperial examples in genre, form, and style. 

How can this cultural phenomenon be understood? The origins of Latin epigraphy are to be sought in the early Republic and probably in the uses to which archaic Etruscans and their neighbors put writing soon after adopting it from visitors from the eastern Mediterranean.  Its subsequent development, in the Republican period, needs to be set in the context of a range of parallel Italian epigraphies and of the impact on them of Greek styles of inscription and monumentality.  One approach to the epigraphic culture of the early Empire would be a genealogical investigation into successive revaluations of epigraphy, but the approach employed here is contextualist, examining the uses to which monumental inscriptions were put in the early imperial period, and the significances accorded them. 

“Monumental Writing and the Expansion of Roman Society in the Early Empire”, Greg Woolf, “The Journal of Roman Studies”, vol. 86 (1996), páginas 22-39 (início)

 

O período de 30 aC a 96 dC, portanto, é fertilíssimo em testemunhos epigráficos.  Seu estudo mostra-se como um campo especializado, mas que não pode em absoluto ser negligenciado quando se pesquisa sobre a sociedade greco-romana da época imperial.  E, quanto a isso, há boas ferramentas de pesquisa disponíveis na própria Internet. 

Uma boa ferramenta de procura de inscrições, na Internet, encontra-se no “Banco de Dados Epigráficos Clauss-Slaby” (Epigraphik-Datenbank Clauss-Slaby), neste endereço eletrônico: http://www.manfredclauss.de/

Acessando-se a página principal, e escolhendo-se, p.ex., a língua inglesa, descobre-se que o referido portal abriga (ou abrigava, no dia 4 de fevereiro de 2011) 397.072 inscrições latinas da época antiga, oriundas de 1.100 publicações diferentes, de mais de 19.300 lugares, com 42.830 ilustrações disponíveis. Embora o portal trate especificamente de inscrições latinas, há “links” para inscrições gregas (“Searchable Greek Inscriptions”), bem como para diversos outros bancos de dados. 

Na tela principal, em língua inglesa, na coluna à esquerda, ao se clicar em “Search Database”, uma nova tela é aberta, onde se podem realizar pesquisas no banco de dados de inscrições latinas.  Os que assim desejarem poderão, nessa nova tela, escrever, em “search text 1”, p.ex., a palavra “lentulus”, e depois clicar em “Go”.  Aparecerão 42 inscrições latinas onde a palavra “lentulus”, completa ou abreviada, ocorre.  Nenhuma delas se refere àquele “Públio Lêntulo”.  Mas os leitores estão convidados a continuar nessa pesquisa, quer tentando outras formas (declinadas) do nome, como, p.ex., “lentuli” ou “lentulo”, quer, mesmo, acessando outros bancos de dados “online”, o que pode ser feito rapidamente, a partir do próprio portal de Clauss-Slaby. 

Todos esses bancos de dados, de forma ora mais, ora menos completa, incorporam inscrições originariamente publicadas nalgumas das grandes coleções: CIL (“Corpus Inscriptionum Latinarum”), ILS (“Inscriptiones Latinae Selectae”), IG (“Inscriptiones Graecae”), AE (“l’Année Épigraphique”), etc. 

Há, igualmente, boas edições, em livros, e com traduções e comentários, das inscrições mais importantes; merece destaque a série “Translated Documents of Greece and Rome”, da Universidade de Cambridge, Reino Unido (Ernst Badian e Robert Kenneth Sherk, editores).  No que se refere ao período aqui considerado, o 4º volume tem como escopo “Rome and the Greek East to the Death of Augustus”, e o 6º volume, “The Roman Empire – Augustus to Hadrian”.  Nessa série, as mais importantes inscrições greco-romanas, traduzidas em língua inglesa, são analisadas; ao final de cada volume, há valiosos apêndices que esclarecem pontos específicos, p.ex., glossários, magistraturas e ofícios, antroponímia, etc. 

Especificamente para o caso de Augusto, um documento mostra um grau de importância ímpar: o assim denominado Res Gestae Divi Angusti, “Feitos do Divino Augusto”, espécie de “relatório-testamento” escrito pelo próprio Imperador, informando, num estilo sóbrio e resumido, sobre todos os seus feitos (ou todos os feitos que ele julgava dignos de serem lembrados)[72], desde sua vitória sobre Antônio e Cleópatra até ao ano anterior à sua morte (30 aC – 13 dC).  Tal relatório, em tábuas de bronze, foi fixado, para conhecimento público, no exterior de seu mausoléu, no Campo de Marte, em Roma.  Embora as ruínas do mausoléu ainda hoje sobrevivam[73], as tábuas originais há muito pereceram; mas várias cópias (tanto no original em latim quanto em traduções para o grego) foram gravadas, como inscrições comemorativas, em diversos templos dedicados a Roma e a Augusto, em várias cidades nas províncias – vários fragmentos dos quais (como, p.ex., os de Antióquia da Pisídia) chegaram até aos nossos dias.  Mas o mais importante testemunho, em versão bilíngüe (latim e grego), que virtualmente se completam e exibem o texto inteiro, é o oriundo do antigo templo de Roma e Augusto erigido em Ancira, na Galácia (a atual Ancara, a capital da Turquia), e por isso mesmo denominado Monumentum Ancyranum.  Obviamente tem-se, no caso, a “visão pessoal” de Augusto, aquilo que ele gostaria de tornar público (e na forma em que ele gostaria que as coisas fossem conhecidas), mas trata-se de testemunho extremamente valioso do ponto de vista factual, ainda que seja necessário cuidado na sua interpretação. 

Diplomas Militares: 

Uma outra fonte importante diz respeito aos “diplomas militares”, i.e., aos certificados de “baixa honrosa” (honesta missio) emitidos para veteranos das unidades auxiliares, que, após 25 anos de serviço (ou 26, se na marinha), recebiam, juntamente com seu desligamento, a cidadania romana.  Tais documentos, atestando esse novo privilégio, eram gravados em tabletes de bronze, muitos dos quais chegaram até aos nossos dias; o mais antigo até agora descoberto data do ano 52 dC, sob o império de Cláudio, que parece ter regularizado as práticas a respeito. 

Papirologia: 

A papirologia lida com a descoberta, a recuperação, a classificação e a leitura de documentos em papiro, um tipo de material de escrita semelhante ao papel, obtido a partir duma planta nativa do Egito (Cyperus papyrus), que foi extensivamente utilizado, na época antiga e também na medieval, até à expansão do uso do atual papel, bem mais barato.  O clima quente e seco do Egito favoreceu a preservação de milhares de documentos escritos em papiro, cobrindo um período de mais de três mil anos, até aos finais do séc. XI dC, quando foi então definitivamente substituído, quer no Oriente, quer no Ocidente, pelo papel (embora a diminuição de seu uso, devida à expansão da indústria papeleira, já se sentisse desde o séc. IX dC). 

Das épocas helenística e romana, basicamente entre os séc.s III aC e VI dC (com um pico entre os sécs. I a III dC), tem-se um grande número de espécimes sobreviventes provenientes do Egito, escritos principalmente em grego, incluindo desde cartas particulares e recibos de taxas até documentos oficiais.  Do mesmo modo que a epigrafia, a papirologia é importante para o conhecimento de inúmeros aspectos da vida diária na sociedade mediterrânica no Alto Império, embora, tendo em vista o fato de os achados se concentrarem pesadamente no Egito, as condições especificamente egípcias (e que, algumas vezes, não se aplicavam a outras províncias) estejam fortemente presentes[74].  Dos 54.312 textos documentais em língua grega encontrados no Egito e publicados até abril de 2004 (excetuam-se aqui as inscrições, domínio da epigrafia), segundo os dados de Adam Bülow-Jacobsen, a distribuição, para os vários tipos de material de escrita, encontra-se na tabela a seguir[75]

Material

Número de Documentos

Percentual

Papiro[76]

35.591

65,53%

Cacos cerâmicos (ostraka)

15.195

27,98%

Madeira[77]

2.500

4,60%

Pergaminho

349

0,64%

Graffiti

234

0,43%

Linho

84

0,15%

Tabuinhas de cera

73

0,13%

Outros

286

0,54%

Especificamente no que diz respeito à papirologia, existem inúmeros portais na Internet tratando desse tema; um dos mais interessantes, e que não se limita apenas a textos em papiro, mas analisa espécimes de obras antigas, entre os sécs. III aC e VIII dC, que nos chegaram total ou fragmentariamente, é o “Leuven Database of Ancient Books”, LDAB, atualmente alimentado com dados de aproximadamente 15.800 textos, a maioria em grego, mas também uns 2.000 em latim, mais de 1.700 em copta, 670 em demótico e 600 em siríaco.  O portal pode ser acessado no endereço a seguir: http://www.trismegistos.org/ldab/

Há uma opção muito interessante, bem útil, e de relativamente fácil manejo, para a construção de gráficos; basta clicar, na coluna à esquerda, na opção “create graphs”. 

Os gráficos podem seguir em linha do tempo (século a século), com várias opções para a disposição dos dados.  As principais são: a) provenance (origem, i.e., onde o documento foi encontrado – p.ex., “egypt”); b) material (material em que foi escrito o espécime – p.ex., “papyrus”, “parchment”); c) language (língua em que o espécime foi escrito – p.ex., “greek”, “latin”, “coptic”); d) bookform (formato do documento – p.ex., “roll”, “codex”); e) culture (“tipo” do documento, com três alternativas, “literature”, “science[78]” e “religion[79]”); f) genre (“gênero”, uma subdivisão do item anterior; assim, para literature há “poetry” e “prose”; para science, “astronomy”, “grammar”, “mathematics”, “medicine”, “philology”, “tachygraphy”, etc; para religion, “prayer”, “magic”, “theology”, etc.); g) religion (aqui significando “ambiência religiosa” – os textos que são classificados, em termos de culture, como “literature” ou “religion” podem ser especificados em termos de sua ambiência; as opções são “classical”, para textos que se referem à mitologia clássica tradicional, como Homero, ou então para textos históricos; “christian”; “jewish”; “gnostic”; ou “manichaean”) 

Construindo-se, então, alguns exemplos (todos os exemplos aqui citados são de “gráficos duplos” temporais, i.e., gráficos que mostram duas variáveis lado a lado, ao longo dos séculos; para isso, devem-se selecionar as opções correspondentes, de modo a se obter, na 1ª frase da tabela de opções, “make two graphs of date”). 

Com a opção “Filters for graph 1” sendo “Material contains papyrus” e “Provenance contais egypt”, e “Filters for graph 2” sendo “Material contains papyrus”, “Provenance contains egypt” e “Language contains greek”, clicando-se em “Make Graph”, aparecerá, em tela distinta, um gráfico como aquele a seguir; nele, ao longo dos séculos, século a século ( do III aC ao VIII dC), têm-se as quantidades de papiros egípcios conhecidos e publicados (colunas azuis), e, ao lado, desses, os que foram escritos em grego (colunas verdes); esse gráfico (como todos os demais) pode ser salvo e/ou copiado:

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Pode-se também, p.ex., investigar a proporção de textos de ambiência religiosa cristã dentro dos papiros provenientes do Egito (uso da opção “Religion contains christian”):

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Um outro exemplo: proporção entre papiros em forma de códices e o total de papiros encontrados no Egito (uso da opção “Bookform contains codex”):

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Os leitores estão convidados a tentar obter o gráfico da proporção de textos que, em códice, eram de “ambiência” cristã. 

Enfim, mais um exemplo (comparação entre os textos egípcios em geral, não apenas papiros, escritos em grego e os escritos em copta):

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Claro, muitas outras configurações de gráficos podem ser obtidas, para estudos diversos.  O que não se pode, em absoluto, alegar é que “não há dados”, ou que “pouquíssimos dados sobreviveram”, ou que “o que sobreviveu não permite conclusões”. 

A seguir, uma tabela sumarizando as principais fontes de conhecimento para a época que se estende de Augusto até Domiciano (31 aC a 96 dC), dividida pelos vários reinados dos diferentes Imperadores. 

Imperador

Fontes Históricas Literárias

Outras Fontes Literárias

Outras Fontes

Augusto (31aC – 14 dC)

·       “Períoque” de Tito Lívio (até c.8 aC)

·       Floro (“Resumo das Guerras Romanas”, para as guerras de Augusto)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana”; texto completo, ha­vendo lacunas para 9aC – 8dC, no geral sanáveis via re­sumos)

·       Veleio Patérculo (“Compên­dio de História Romana”)

·       Flávio José (“Antiguidades” e “Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida do Divino Augusto”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

· Dionísio de Hali­carnasso (“Anti­guida­des Roma­nas”)

· Estrabão (“Ge­o­grafia”)

· Valério Má­ximo (“Ditos e Feitos Memo­ráveis”)

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· “Monumentum Ancyranum”

Tibério (14-37)

·       Tácito (“Anais” – de 14 a 29 dC e de 31 a 37 dC)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto completo)

·       Veleio Patérculo (“Compên­dio de História Romana” – até ao ano 29 dC)

·       Flávio José (“Antiguidades” e “Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Tibério”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

· Estrabão (“Ge­o­grafia”)

· Valério Má­ximo (“Ditos e Feitos Memo­ráveis”)

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

Calígula (37-41)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto completo)

·       Flávio José (“Antiguidades” e “Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Gaio”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

Cláudio (41-54)

·       Tácito (“Anais” – 47 a 54 dC)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto completo até 46 dC; texto resumido a partir daí)

·       Flávio José (“Antiguidades” e “Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Cláudio”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares (a partir de 52 dC)

Nero (54-68)

·       Tácito (“Anais” – 54 a 66 dC)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Flávio José (“Antiguidades” até 66 dC, e “Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Nero”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Galba (68-69)

·       Tácito (“Histórias”)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Flávio José (“Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Galba”)

·       Biografia de Plutarco (“Vida de Galba”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Otão (69)

·       Tácito (“Histórias”)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Flávio José (“Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Otão”)

·       Biografia de Plutarco (“Vida de Otão”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Vitélio (69)

·       Tácito (“Histórias”)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Flávio José (“Guerra”)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Vitélio”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Vespasiano (69-79)

·       Tácito (“Histórias” – até ao outono de 70 dC)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Flávio José (“Guerra” até c. 72 dC)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Vespasiano”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

 

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Tito (79-81)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Tito”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

· Plínio o Moço (“Cartas”)

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

Domiciano (81-96)

·       Cássio Dião (“História Ro­mana” – texto resumido)

·       Biografia de Suetônio (“Vida de Domiciano”)

·       Eutrópio (“Breviário de Histó­ria Romana”)

·       Paulo Orósio (“Histórias Con­tra os Pagãos”)

· Plínio o Moço (“Cartas”)

· Testemunhos epi­gráficos

· Papirologia

· Moedas (nu­mismá­tica)

· Diplomas mili­tares

 

O período de Augusto e dos Júlio-Cláudios (e, de certa forma o dos Flávios e dos Antoninos), sempre é bom lembrar (e neste trabalho crê-se que isso foi, mais uma vez, confirmado), é um dos mais bem documentados, se não o mais bem documentado, da História romana, e não apenas em termos das obras históricas formais, e consideradas como tais, escritas por historiadores, mas também no que se refere aos testemunhos obteníveis a partir das “ciências auxiliares” – da numismática, da própria arqueologia, mas, principalmente, da epigrafia e da papirologia. 

Limites da “Certeza Histórica” – Graus de Certeza, e Acumulação de Evidências: 

Continuando a analisar a argumentação do prof. Pinheiro Martins: “Talvez um patrício (não digo nem senador…) romano chamado ‘Públio Lentulus’ tenha realmente existido, mas seus documentos se perderam na voragem dos séculos, quem sabe? E se ele (caso tenha mesmo existido) era realmente uma encarnação do Emmanuel, não podemos assegurar.  Nunca conseguiremos um ‘sim’ ou um ‘não’ definitivos sobre o assunto”. 

Até aqui, o prof. Pinheiro Martins. 

O argumento do ilustre professor faz uso do conceito de “certeza”, e de se poder responder com um “sim” ou um “não” definitivos a um determinado assunto. 

De fato, quando se analisa (como se vem fazendo ao longo de todo este trabalho) a existência e a suficiência dos testemunhos históricos, com a finalidade de se estabelecer se as fontes sobreviventes são de fato suficientes para o conhecimento (ao menos em linhas gerais) da sociedade da época imperial romana no primeiro século de nossa era, bem como, mais especificamente, para um pronunciamento acerca da viabilidade da existência histórica da personagem “Públio Lêntulo” (nos termos informados pelas psicografias de Francisco Cândido Xavier, principalmente a “Há Dois Mil Anos”), inevitavelmente o investigador esbarra na questão dos “graus de certeza” envolvidos. 

Com efeito, se o que se quer é uma “certeza absoluta”, isso é virtualmente impossível (se não totalmente impossível), e não apenas nos domínios históricos, mas talvez em qualquer um, e até mesmo naqueles referentes às ciências ditas “exatas”.  Por exemplo, diz-se que a água ferve a cem graus centígrados (ao nível do mar, etc.); e costuma-se tomar isso como uma certeza, já que há um número enorme, virtualmente incomensurável, de “experiências”, efetuadas em várias épocas e lugares, que, medindo o ponto de ebulição da água na escala centígrada, corrobora tal afirmação (aliás, a própria escala centígrada foi construída de modo que o seu ponto “100” correspondesse ao ponto de ebulição da água).  Não obstante, há, nessa aparente “certeza”, aquilo que se chama de “entimema”, ou seja, uma “premissa oculta” no raciocínio lógico (silogístico): o de que SEMPRE foi assim, e o de que SEMPRE será; ou seja, a premissa (oculta) em todo o pensamento dito científico é a de que a Natureza sempre se comportou da maneira como se comporta agora (leia-se: nos últimos séculos), e que sempre se há de comportar assim.  Mas será isso verdade? Ou melhor, será isso cabalmente demonstrável? Pode-se recuar no tempo para se realizarem experimentos? 

Como se pode ter certeza de que, milhões de anos atrás, a água efetivamente entrava em ebulição, ao nível do mar, etc., à temperatura que corresponde a 100oC? Igualmente, como afirmar categoricamente isso para um futuro de hoje a vários milhões de anos? Claro, não se está aqui negando a utilidade da experimentação na confirmação e/ou construção de teorias científicas quantitativas, ou seja, na “matematização” da Natureza (que é, ao fim e ao cabo, aquilo em que se transformou a “ciência” nos dias atuais); nem, muito menos, negando o valor de tais construções, que (para dizer tudo em poucas palavras) tornou, sob vários aspectos, a vida humana, em termos materiais, bem mais digna de ser vivida, mas tão-somente afirmando que mesmo tal tipo de afirmação, que, aparentemente, tem em si a qualidade da “certeza absoluta”, não pode, de fato, arvorar-se de tal característica. 

E, se isso é verdade para o que hoje pomposamente se denominam “as ciências exatas”, quanto mais não será para outros ramos do conhecimento, como a História? Simplesmente, temos que conviver com a incerteza (embora, no geral, não gostemos de admitir isso).  A questão crucial passa, assim, a ser a seguinte: o (inevitável) grau de incerteza é suficientemente pequeno para que se possa confortavelmente conviver com ele? 

Portanto, há, em História como em todos os demais ramos do conhecimento, “certezas” e “certezas” – ou melhor, “incertezas” e “incertezas”, em diferentes graus, que geram níveis maiores ou menores de conforto.  Basicamente, a questão funciona do seguinte modo: à medida que se acumulam as evidências (a favor ou contra algo), o grau de certeza sobre tal assunto aumenta ou diminui.  Pode-se, eventualmente, chegar a um “grau de certeza” considerado “confortável” para se admitir a hipótese, ou então pode-se atingir um (ou permanecer num) “grau de incerteza” tal que aconselhe a sua rejeição. 

Claro, os limites, muitas vezes, são fluidos.  E mais, não precisam ser, necessariamente, antimétricos.  Pode-se ser mais exigente para se aceitar e menos exigente para se negar, ou então, ao contrário, pode-se ser menos exigente para se aceitar, e mais exigente para se negar.  A fixação de tais “níveis de aceitação/rejeição” dependerá, obviamente, do grau de risco que se quer correr. 

O autor deste trabalho, claro, não pode falar por terceiros, e nem discorrer sobre suas motivações; mas, pronunciando-se apenas por si próprio, é de opinião que, no que tange às crenças (quer científicas, quer filosóficas, quer religiosas) que uma pessoa pretende seguir (e todos nós seguimos crenças nesses três quesitos, e sempre com um maior ou menor “grau de certeza” – embora, quase sempre, não admitamos isso), é algo razoável, e compreensível, o se querer correr o menor risco possível (sabendo-se que sempre se correrá algum risco).  Quanto a isso (ou seja, em se querendo diminuir os riscos), deve-se ser, normalmente, mais exigente para se aceitar algo como verdadeiro, e (relativamente) menos exigente para se rejeitar algo como potencialmente falso (ou, se se quiser utilizar adjetivos mais polidos, “duvidoso” ou “não confortável”). 

Ora, levando-se em conta tudo o que foi aqui exposto, torna-se evidente o fato de que se dispõe dum conjunto não negligenciável de fontes e fatos históricos sobreviventes acerca da sociedade romana (e mediterrânica) do período de Augusto, dos Júlio-Cláudios e dos Flávios, de modo a se poderem obter informações fidedignas sobre a época e o lugar.  Se o exame de todas essas fontes (das próprias obras históricas à evidenciação obtenível a partir das “ciências auxiliares”) teima em: a) não fornecer nenhuma evidência da existência de “Públio Lêntulo”; e mais, b) em fornecer evidências francamente diferentes de muitas das informações passadas por “Públio Lêntulo” acerca de fatos sociais e políticos, então – qual seria a conclusão lógica e óbvia a ser esposada?

Tal conclusão, que é a lógica e a óbvia, qual seja, a de que “Públio Lêntulo” não existiu, ao menos do modo como é informado por “Emanuel”, não pode, é claro, ser tomada como uma “certeza absoluta”, dentro de tudo aquilo que aqui se comentou; mas, tendo em vista o acúmulo de evidências, quer negativas, quer desfavoráveis, é, indubitavelmente, uma afirmação com um grau muito alto de certeza, ou seja, é fornece um grau de conforto bem acima do minimamente razoável a quem a esposa.  E tal grau de conforto aumenta mais ainda quando se leva em conta o necessário rigor que se deveria ter para com as crenças que se esposam, ou que se desejam esposar.  Porque, se as crenças nos querem moldar o comportamento (pois, no fundo, é isso que todas elas desejam, de uma forma ou de outra), devem, ao menos, e necessariamente, passar por um rigoroso escrutínio lógico; abandonar-se a regras de conduta que se baseiam em premissas insustentáveis e irracionais é, para se dizer o mínimo, arriscadíssimo e imprudente. 

Assim, malgrado não se possa conseguir um “sim” ou um “não” definitivos, pode-se obter (no caso) um “não” “muitíssimo provável”, abundantemente documentado e solidamente embasado, que, para ser revertido, requereria uma verdadeira reviravolta nas evidências ora disponíveis, e acumuladas já há séculos, acerca da sociedade romana do início da época imperial.  O elenco das principais evidências contrárias à existência da referida personagem já foram várias vezes listados, em mais de um texto deste “blog”.  Contra isso, que tipo de “sim” os defensores da existência de Lêntulo, nos termos apresentados por “Emanuel”, podem apresentar? Pois, para se deixar de considerar os argumentos favoráveis à negação, basta refutá-los – algo que, agora, convido o ilustre professor, como também qualquer outro, a realizar. 

Enfim, quanto à questão da “certeza histórica”, resumindo-se bem os fatos, há duas atitudes bem distintas, que não devem, em absoluto, ser confundidas – embora, muitas vezes, o sejam, quer por descuido, quer por conveniência.  A primeira dessas atitudes é o ter-se uma noção dos limites da investigação história, da extensão de suas fontes sobreviventes (que nunca são as fontes integrais), e do cuidado que se deve ter em interpretá-las, reconhecendo-se que uma “certeza absoluta”, nisso como, na prática, em qualquer outra atividade humana, é impossível; tal atitude é não apenas salutar, mas sim necessária.  A segunda é, por outro lado, usar como pretexto a incerteza (que sempre estará presente) ignorando suas gradações (como se todas as “incertezas” fossem iguais), a fim de não se enfrentarem situações embaraçosas, ou que vão ao encontro de crenças fincadas na alma sem o necessário estaqueamento da razão.  

“Públio Lêntulo” como Pseudônimo, e “Há Dois Mil Anos” como Obra de Ficção: 

Por fim, não seria possível se furtar a um último comentário à argumentação do prof. Pinheiro Martins.  Diz ele: “Para mim, o livro ‘Há Dois Mil Anos’, de Chico Xavier, é apenas um romance histórico, e como tal deve ser tratado.  Se há espíritas levando demasiadamente a sério as licenças poéticas nele contidas, isto não é razão para torturarmos a História, a Epigrafia, a Numismática ou mesmo a Genealogia, a fim de fazê-las dizer o que elas não podem ‘com 100% de certeza’”. 

Até aqui, o prof. Pinheiro Martins.

Sobre a questão dos “100% de certeza”, já foi comentado no item anterior.  Aqui, mais uma vez, ter-se-á que discordar dos argumentos do ilustre professor: pois, embora a psicografia “Há Dois Mil Anos” se apresente, formalmente, como um “romance histórico”, na prática ela reivindica para si o “status” de narrativa fidedigna de acontecimentos reais – ou seja, historicamente verificáveis, dado o nível de detalhamento fornecido. 

O uso da expressão “romance histórico”, provavelmente, trata-se dum subterfúgio para evitar possíveis problemas de ordem judicial.  Se se quiser entrar com uma ação na Justiça alegando que “Há Dois Mil Anos” é propaganda enganosa, sempre haverá recurso, por parte da defesa, em asseverar que se trata dum “romance histórico” (portanto, formalmente, duma peça de ficção).  Mesmo que haja inúmeras outras evidências de que a psicografia não se entende (e não espera ser considerada) assim, fica sempre a dúvida, o contraditório – e isso basta, em termos judiciais.

Mas quais são essas evidências “em contrário”? 

São as afirmações constantes da própria “Introdução” da psicografia.  Nela, fica claro que o que o espírito-guia “Emanuel” ditou a Xavier não foi, nem de longe, uma obra de ficção.  Selecionam-se, a seguir, os principais trechos da “Introdução” que corroboram tal entendimento. 

“Leitor, antes de penetrares o limiar desta história, é justo apresentemos à tua curiosidade algumas observações de Emmanuel, o ex-senador Públio Lentulus, descendente da orgulhosa ‘gens Cornelia’, recebidas desse generoso Espírito, na intimidade do grupo de estudos espiritualistas de Pedro Leopoldo, Estado de Minas Gerais”. 

“Em 7 de setembro de 1938, afirmava ele em pequena mensagem endereçada aos seus amigos encarnados: ‘Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata. Esperemos o tempo e a permissão de Jesus’”. 

“Emmanuel não esqueceu a promessa. Com efeito, em 21 de outubro do mesmo ano, voltava a recordar, noutro comunicado familiar: ‘Se a bondade de Jesus nos permitir, iniciaremos o nosso esforço, dentro de alguns dias, esperando eu a possibilidade de grafarmos as nossas lembranças do tempo em que se verificou a passagem do Divino Mestre [i.e., Jesus] sobre a face da Terra’”. 

“Durante todo o esforço de psicografia, o Autor deste livro [i.e., Emanuel] não perdeu ensejo de ensinar a humildade e a fé a quantos o acompanham. Em 30 de dezembro de 1938, comentava, em nova mensagem afetuosa: ‘Agradeço, meus filhos, o precioso concurso que me vindes prestando. Tenho-me esforçado, quanto possível, para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno, mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos. Para mim essas recordações têm sido muito suaves, mas também muito amargas. Suaves pela rememoração das lembranças amigas, mas profundamente dolorosas, considerando o meu coração empedernido, que não soube aproveitar o minuto radioso que soara no relógio da minha vida de Espírito, há dois mil anos. (…)’” 

“No dia 4 de janeiro de 1939, grafava ele [i.e., Emanuel] esta prece, ainda com respeito às memórias do passado remoto: (…) ‘Diante de meus pobres olhos, desenha-se a velha Roma dos meus pesares e das minhas quedas dolorosas… Sinto-me ainda envolto na miséria de minhas fraquezas e contemplo os monumentos das vaidades humanas… Expressões políticas, variando nas suas características de liberdade e de força, detentores da autoridade e do poder, senhores da fortuna e da inteligência, grandezas efêmeras que perduram apenas por um dia fugaz!… (…) Ante minh’alma surgem as reminiscências das construções elegantes das colinas célebres; vejo o Tibre que passa, recolhendo os detritos da grande Babilônia imperial, os aquedutos, os mármores preciosos, as termas que pareciam indestrutíveis… Vejo ainda as ruas movimentadas, onde uma plebe miserável espera as graças dos grandes senhores, as esmolas de trigo, os fragmentos de pano para resguardarem do frio a nudez da carne. Regurgitam os circos… Há uma aristocracia do patriciado observando as provas elegantes do Campo de Marte e, em tudo, das vias mais humildes até os palácios mais suntuosos, fala-se de César, o Augusto!… (…)’”

Portanto, a psicografia, na prática, não se apresenta em absoluto como obra de ficção (se assim fosse, nada do que diz respeito a este trabalho, e a outros da mesma espécie, faria sentido!!!), mas sim como recordação fiel das peripécias efetivamente vividas, no passado, por uma personagem histórica definida, “Públio Lêntulo” (não um pseudônimo, mas uma identificação real), bisneto em linha paterna de Lêntulo Sura, o conspirador catilinário, etc., etc., etc.  Foram justamente as informações fornecidas pelo próprio espírito-guia que foram objeto de investigação histórica, já que tal investigação era não apenas possível, mas também desejável.  Investigação essa que, ao contrário do que se quer fazer crer, pode dar, sim, com elevadíssimo grau de conforto, um pronunciamento acerca da efetiva existência de tal personagem – um pronunciamento que afirma a negação, ou, se se quiser ser mais polido, a extrema implausibilidade, de sua efetiva existência histórica.  Até aqui pode ir a História; a partir desse ponto, as atitudes ficam a cargo (e na consciência) de cada um. 

À Guisa de Conclusão: 

As observações do ilustre prof. Pinheiro Martins, embora (no meu entender) passíveis de sérias e profundas correções, abriram, de qualquer modo, um debate interessante – o referente aos limites efetivos da investigação histórica, mesmo nas ocasiões nas quais (como no caso do “affair” “Emanuel/Lêntulo”) tal tipo de investigação é possível.  É pensamento do autor deste trabalho que, quando se analisa tal questão com cuidado, três conjuntos distintos de questionamentos podem vir a ser levantados: a) o fato de que os dados historicamente disponíveis são insuficientes, e que, portanto, nada, ou quase nada, se pode afirmar com confiança; b) o fato de que, mesmo em havendo relativa abundância de testemunhos, deve-se sempre ter em mente que o que informam não é, de modo geral, confiável – já que a historiografia antiga não passaria dum amontoado de “peças de propaganda”, e que uma historiografia mais “confiável” e “racional” surgiria apenas na época moderna; e c) que, conseqüentemente, haveria relativa facilidade em se forjar documentos e testemunhos, tanto na época antiga quanto nas subseqüentes, de modo tal a construir, do nada, ou quase, doutrinas e/ou personagens (esse último item é, geralmente, invocado por aqueles que ou negam a historicidade de Cristo, ou então desconsideram as fontes sobre Ele como documentos historicamente válidos). 

Não compartilhamos, claro, de nenhuma das três assertivas anteriores – embora achemos salutar que sejam debatidas, e debatidas à exaustão.  Neste trabalho, especificamente, analisamos, com o grau de detalhe que julgamos adequado, o item “a”.  Foi mostrado que, ao contrário do que se diz, muita coisa sobreviveu do período em apreço – o suficiente para permitir uma avaliação com elevadíssimo grau de conforto  acerca da (in)viabilidade da existência de “Públio Lêntulo”, nos termos apresentados por “Emanuel”.  Analisamos o estado fragmentar de inúmeras fontes e, sem o negar, mostramos que muito foi preservado, se não nas obras, então por múltiplas vias indiretas; e que muito também pode ser obtido a partir das “ciências auxiliares” (principalmente a epigrafia e a papirologia).  Enfim, desmontamos o argumento (argumento esse que, sinceramente, a nós nos deixou surpresos) que procurava colocar no mesmo nível as evidências acerca das obras históricas de Tácito e aquelas referentes à “carta de Lêntulo”, mostrando que, ao contrário da espúria “carta”, as obras de Tácito, bem como a sua existência como pessoa e historiador, eram conhecidas, e utilizadas, desde a sua própria época. 

Com referência aos outros dois itens, “b” e “c”, se nos for possível, esperamos eventualmente nos debruçar sobre o assunto, e tecer considerações a respeito, do modo tão detalhado quanto for necessário – já que, em tais assuntos, deve-se ir a fundo, e até às últimas conseqüências.  Alguma coisa, de fato, já foi comentada neste “blog” acerca do item “b”, o que suscitou inclusive a oposição de alguns, que, ingenuamente, pensam que somente os modernos sabem escrever história, e têm espírito crítico para julgar as obras que lêem.  Mais uma das (inúmeras) pretensões duma sociedade que sequer se conhece a si própria, quanto mais as suas origens, e que, por conseguinte, acredita em praticamente qualquer fábula que lhe dê umas migalhas de consolo, não importando o quão plausível se apresente.  Quanto a nós, reafirmamos nossa firme convicção de que, mesmo que certas atitudes, ou crenças, possam ter tido como origem as melhores intenções possíveis (e Deus as julgará!), nada de bom, no longo prazo, pode resultar da ignorância e da ilusão. 

JCFF.


[1] A palavra latina liber, e a grega biblos, correspondiam originariamente a um rolo; aproximadamente cinco desses “livros” formariam um livro “moderno” de tamanho médio, algo como um “livro de bolso”.

[2] Cf. Suetônio, “Sobre as Vidas dos Césares”, “Vida de Cláudio”, parágrafo 42, item 2.

[3] Cf. Plínio o Velho, “História Natural”, livro VII, cap. 3o, parágrafo 35.

[4] Gaio Suetônio Tranqüilo (c.69 – c.130 dC), secretário particular para correspondências em latim (ab epistulis latinis) do Imperador Adriano (reinou 117-138 dC), e com acesso aos arquivos imperiais, escreveu, dentre outras, “Sobre as Vidas dos Césares”, conjunto de 12 biografias, de Júlio César e dos onze primeiros Imperadores, de Augusto a Domiciano, cobrindo o período de c. 70 aC até 96 dC; essa obra nos chegou completa, exceto pela introdução e pelo início da biografia de Júlio César.

[5] O documento atualmente conhecido como “História Augusta” é um apanhado de biografias de Imperadores e de pretendentes ao trono, cobrindo o período compreendido entre o início do império de Adriano e o final do governo de Carino (117-285 dC), com uma lacuna para os anos 244 a 253 dC, que não são cobertos pela obra.  Parece datar dos finais do séc. IV dC (apesar de se dizer obra de seis diferentes historiadores, escrita nos reinados de Diocleciano e de Constantino), e inclui inúmeras incorreções, e até mesmo falsificações.  Deve ser manipulada com bastante cuidado, e suas informações, sempre que possível, devem ser confrontadas com as de outras fontes.

[6] Herodiano (talvez c.170 – depois de 240 dC), funcionário do serviço público imperial de médio escalão, escreveu, em grego, uma “História Romana” (Rhômaika) cobrindo o período 180-238 dC (do reinado de Cômodo até ao início do reinado de Gordiano III); a obra, em oito “livros”, chegou-nos completa.

[7] Aurélio Vítor (c.320 – c.380 dC) foi o autor dum resumo, em um “livro”, “Sobre os Césares”, cobrindo a história imperial de Augusto até ao ano 360 dC.

[8] Flávio Eutrópio, cônsul 387 dC, e que floresceu na 2a metade do séc. IV dC, foi o autor de um muito famoso compêndio de história romana, que nos chegou completo, o “Breviário de História Romana”, em 10 “livros”, que cobre todo o período desde a fundação (lendária) da Cidade até ao início do governo do Imperador Valente (753 aC a 364 dC).  Seu estilo simples e direto, embora elegante, fez com que essa obra fosse muito utilizada no aprendizado do latim.

[9] Cf. Justino, “Epítome das ‘Histórias Filípicas’ de Pompeu Trogo”, livro XXXVI, cap. 2o.

[10] Cf. Tácito, “Histórias”, livro V, cap. 3o.

[11] Cornélio Fusco, sob Domiciano, sofreu seriíssimo revés nas mãos dos Dácios (Suetônio, “Sobre as Vidas dos Césares”, “Vida de Domiciano”, par. 6o; Cássio Dião, “História Romana”, livro LXVII, cap. 6o).

[12] Flávio Magno Aurélio Cassiodoro Senador (c.485 – c.585 dC), senador romano, de distinta família, foi inicialmente um dos ministros do rei Teodorico, entre 506 e 511 dC; cônsul 514 dC, exerceu depois (c.523 a c.527 dC) as funções de principal ministro e conselheiro da realeza gótica italiana, inicialmente sob os últimos tempos de Teodorico, depois sob o início do governo de seu sucessor Atalarico; enfim, foi nomeado prefeito pretoriano da Itália (533-538 dC), sob o restante do governo de Atalarico (até 534), Amalasunta e Teodato (534-35), e Teodato (535-36), até aos primeiros tempos de Vitiges; a reconquista bizantina da Itália significou seu afastamento das lides políticas.  Seu “Sobre os Feitos dos Godos” foi escrito entre os anos 527 e 533 dC, ou seja, no intervalo entre o exercício de suas duas funções públicas.

[13] Jordanes escreveu sua obra em Constantinopla por volta do ano 551 dC (pois refere-se à grande epidemia de 542 como tendo ocorrido “nove anos atrás”, cf. “Sobre a Origem e os Feitos dos Godos”, cap. 19, parágrafo 104).

[14] Veja-se, principalmente, o excelente estudo de Arne Sby Christensen, “Cassiodorus, Jordanes and the History of the Goths: Studies in a Migration Myth”, Museum Tusculanum Press, University of Copenhagen, 2002.

[15] Conforme a informação, citada acima, de São Jerônimo.

[16] Os livros 7o a 10o, mais o início faltante do 11, cobrem o período compreendido entre os anos 37 e 47 dC, ou seja, o reinado de Calígula (37-41 dC) e o início (41-47 dC) do reinado de Cláudio (41-54 dC).

[17] Para os Júlio-Cláudios (14 a 68 dC), i.e., para os “Anais”, os lapsos no texto de Tácito (29-31 dC; 37-47 dC; 66-68 dC) podem ser preenchidos pelo texto da “História Romana” de Cássio Dião, cujos livros 57 a 60 (cobrindo o período de 14 a 46 dC) nos chegaram completos; a partir daí, não mais se tem o texto completo de Dião, mas sim resumos.  O “Sobre as Vidas dos Césares”, de Suetônio, bem como as biografias de Galba (“Vida de Galba”) e de Otão (“Vida de Otão”), de Plutarco de Queronéia, permitem completar o quadro para o período.

[18] Essa suposição é reforçada por uma alusão explícita a Tácito nos Annales Fuldenses para o ano de 852 dC (Cornelius Tacitus, scriptor rerum a Romanis in ea gestarum).

[19] Lúcio Apuleio (c.125 – c.180 dC), africano natural de Madaura, na Numídia (atualmente M’daurouch, na Argélia), filósofo, escritor e iniciado em vários cultos de “mistérios”, foi o autor, entre outros, do famoso conto “As Metamorfoses, ou O Asno de Ouro”.

[20] Nicolau de’ Niccoli (1364-1437), humanista e colecionador, foi o inventor do tipo cursivo de letra que hoje é denominado itálico – o qual utilizou nas suas edições de manuscritos antigos.  Sua biblioteca, ao que se dizia, rivalizava com a da própria família Médici.

[21] Como dito, a “História Augusta” deve se manuseada com uma boa dose de prudência; sobre o patrocínio imperial de Tácito às obras de seu pretenso antepassado, é a única fonte que afirma isso – embora trate-se duma afirmação plausível.  Mesmo que se possa duvidar dela em si, é bastante provável que espelhe a situação tal como existia na época em que a “História Augusta” foi escrita, ou seja, a dos finais do séc. IV dC – a de que as obras de Tácito encontravam-se disponíveis nas bibliotecas romanas.

[22] A partir das guerras góticas (“reconquista” bizantina da Itália, 535-554 dC), com seu enorme rosário de destruições, seguindo-se as terríveis invasões dos lombardos, a 2a metade do séc. VI dC foi um período de grandes dificuldades na Itália – dificuldades essas que se prolongaram ao longo dos séculos VII e VIII dC.  Se se levar em conta que na Itália, especialmente em Roma, encontravam-se as maiores e mais bem supridas bibliotecas do mundo ocidental (tanto públicas quanto privadas, estas últimas da aristocracia senatorial, ainda rica e influente no início do séc. VI dC, mas arruinada a partir das guerras góticas), entende-se a progressiva escassez de livros a partir daí.  Cassiodoro e Jordanes ilustram perfeitamente isso (vivendo ambos justamente no período crítico de transição, da 1a para a 2a metade do séc. VI dC): Cassiodoro (que era senador, e foi cônsul) foi o último que, com certeza, consultou as obras de Tácito; Jordanes, um burocrata de médio escalão, já teve dificuldades em acessar as próprias obras de Cassiodoro (Jordanes informa, na Introdução, parágrafo 2o, do seu “Sobre a Origem e os Feitos dos Godos”, que teve permissão de acesso à obra original de Cassiodoro por três dias apenas, a fim de a reler).

[23] As evidências epigráficas para o nome completo de Cássio Dião são: a) l’Année Épigraphique 1971, inscrição 430: Kl. Kassios Diôn (i.e., “Cl[áudio] Cássio Dião”), de acordo com uma inscrição encontrada na Macedônia; b) Roman Military Diplomas, Roxan, item 133: L. Cassius Dio (i.e., “L[úcio] Cásssio Dião”).  Por outro lado, Plínio o Moço refere-se sempre ao avô de Dião, o orador Dião “Crisóstomo”, como Dião Coceiano (“Cartas”, livro X, cartas 81 e 82); e o patriarca Fócio (séc. IX dC), por outro lado, refere-se ao historiador como Kassianos Kokkianos hê Kokkios Diôn (“Biblioteca”, códice 71, que será citado e transcrito mais abaixo neste trabalho).  De todos esses dados restaura-se o seu nome completo: Lúcio Cláudio Cássio Dião Coceiano.

[24] Provavelmente (contrariando Fócio, op. cit.) também sob o império de Septímio Severo (193-211 dC).

[25] Segundo o testemunho de Fócio (op. cit.), sob Macrino (reinou 217-218 dC); o mesmo autor menciona que Cássio Dião também teria sido, depois, procônsul da África.

[26] A mesma Nicéia onde foram realizados dois concílios ecumênicos da Igreja: o Primeiro Concílio de Nicéia (primeiro ecumênico, sob Constantino o Grande, 325 dC) e o Segundo Concílio de Nicéia (sétimo ecumênico, sob Constantino V e Irene, 787 dC).  O avô de Cássio Dião, Cássio Dião Coceiano (c.40 – depois de 112 dC), chamado “Crisóstomo” (“o da boca de ouro”), da aristocracia de Nicéia, foi um famoso orador; o pai de Cássio Dião, (Marco?) Cássio Aproniano, foi procônsul da Lícia-e-Panfília (nalguma data entre 179-182 dC), legado da Cilícia (provavelmente 182-183 dC), cônsul sufeta (em 183 ou 184 dC) e enfim legado da Dalmácia (c. 185 dC); um neto (ou talvez mesmo bisneto) do nosso Cássio Dião, também chamado Cássio Dião, foi cônsul ordinário 291 dC, procônsul da África 295 dC e Prefeito Urbano de Roma 296-297 dC.  A família, como se vê, embora de origem provinciana oriental, e de cultura grega, pertencia aos altos círculos da aristocracia senatorial romana.

[27] A obra de Dião é mais comumente conhecida como “História Romana”: os manuscritos normalmente a denominam Diônos Rhômaikês Historias, “Sobre a História Romana, de Dião”, ou, no nominativo, Rhômaikê Historia (“História Romana”), ou simplesmente Rhômaika.

[28] Os livros 37 a 60 sobreviveram em 11 manuscritos (dos sécs. X a XVI); os mais importantes são o Mediceu Laurenciano 70,8 (símbolo “L”), do séc. XI dC, cobrindo o texto do livro 36, cap. 18, até ao livro 50, cap. 6o, e o Marciano Vêneto 395 (símbolo “M”), do séc. X ou XI dC, cobrindo o texto do livro 44, cap. 35 ao livro 60, cap. 28, mas com várias lacunas, especialmente após o livro 55.  O Vaticano Grego 144 (símbolo “V”), uma cópia de “L” com data de 1439, suplementa “M” até ao final do livro 54.  A maior parte das falhas pode ser suprida pelos outros 8 manuscritos.  O livro 78, e parte do 79, encontram-se num único manuscrito, o Vaticano Grego 1288 (símbolo “V’”), muito antigo (do séc.VII dC, ou mesmo anterior), cobrindo o texto  compreendido entre o livro 78, cap. 2o, e o livro 79, cap. 8o.

[29] O resumo de Xifilino sobreviveu em pelo menos 16 manuscritos gregos, embora todos tenham derivado de dois únicos espécimes, ambos do séc. XV, o Vaticano Grego 145 (símbolo “V”) e o Parisiense Coisliniano 320 (na Biblioteca Nacional de Paris, símbolo “C”).  Ao que parece, existe no mosteiro Ibérico (i.e., dos georgianos), no Monte Atos, um manuscrito de Xifilino em melhores condições do que os outros dois anteriormente citados, o denominado Iviron 812, ou Athous Iberorum, do séc. XIV, símbolo “A” (cf. The Mount Athos Epitome of Cassius Dio’s Roman History, B. C. Barmann, Phoenix, vol. 25, 1971, pags. 58-67), mas que, aparentemente, não foi ainda usado para melhorar o texto editado.

[30] O estado corrompido do resumo de Xifilino para os livros 78 e 79 pode ser em boa parte superado a partir do testemunho do manuscrito Vaticano Grego 1288, como citado anteriormente.

[31] As “Ilhas dos Príncipes” são um conjunto de nove ilhas, ao largo do litoral de Constantinopla, no mar de Mármara.  Na época bizantina, lá existiam vários mosteiros, utilizados como lugar de “exílio decente” para membros da família imperial caídos em desgraça (daí o nome do arquipélago), embora o local, de clima aprazível, ao mesmo tempo isolado e próximo da capital, também fizesse com que houvesse nas ilhas vários mosteiros que serviam de retiro para burocratas aposentados, ou para cortesãos que, por algum motivo, achavam mais prudente “esperar por tempos menos confusos”.  Durante o período otomano, todas essas funções do arquipélago permaneceram, sendo inclusive vários filhos secundogênitos dos sultões (suficientemente afortunados para não serem sumariamente mortos pelo padixá reinante) mandados para lá, em palácios-prisões, numa espécie de “exílio dourado”.  Das nove ilhas, quatro são de maior extensão: a Ilha do Príncipe propriamente dita (nome turco atual Büyükada), Cálcis (Heybeliada), Antígona (Burgazada) e Prote (Kinaliada); e 5 bem menores: Terebinto ou Antirrobito (Sedef Adasi), Platéia (Yassiada), Oxéia (Sivriada), Pita (Kashik Adasi) e Neandros (Tavshanadasi).

[32] Desde o início essa obra histórica de Zonaras foi bastante popular – fato confirmado pelo enorme número de manuscritos que dela chegaram até aos nossos dias (mais de 70!), tanto no original grego quanto em traduções noutras línguas.  Os 6 principais manuscritos (gregos) utilizados para as edições de Zonaras são o Parisiensis Regius 1715 (de 1289 dC), símbolo “A”, o Vindobonensis 16 (séc. XV), símbolo “B”, o Monacensis 324 (talvez do séc. XIII), símbolo “C”, o Monacensis 93 (séc. XVI), símbolo “D”, o Monacensis 325 (séc. XIV), símbolo “E”, e o Parisiensis 1717 (séc. XIII), dito “Colbertensis”.

[33] Ou seja, até ao livro 67 (inclusive) da obra original de Cássio Dião.

[34] Pedro o Patrício (c.500-565 dC) era um advogado instruído e de sucesso, tendo depois feito carreira na burocracia imperial na época do Imperador Justiniano I o Grande (reinou 527-565 dC).  Foi enviado duas vezes como embaixador de Justiniano à Itália, imediatamente antes da eclosão das guerras góticas: em 534, e logo depois, com um ultimato imperial, em 535 dC.  Preso pelos godos, foi depois liberado; pelos seus serviços, foi nomeado pelo Imperador magister officiorum, permanecendo nesse cargo ininterruptamente por 26 anos (539-565), até à sua morte (natural) – o mais longo período de detenção atestado para esse importante cargo (o magister officiorum, literalmente “mestre dos ofícios”, era o secretário-chefe do palácio imperial, controlando também a guarda palaciana, o serviço dos correios, ou seja, o cursus publicus, e os temidos agentes secretos, agentes in rebus, recrutados do pessoal do cursus publicus).  Gozando da total confiança do Imperador, como magister officiorum continuou a ser enviado em embaixadas importantes: inicialmente à corte da Pérsia (550), depois novamente à Itália (551-53), dessa vez em missão junto ao papa Vigílio, a fim de discutir a delicada questão dos Três Capítulos, enfim mais uma vez à Pérsia (561-62).  Escreveu três “livros”, que não sobreviveram, mas que foram utilizados por historiadores posteriores: um opúsculo sobre história romana (cobrindo o período da morte de Júlio César à de Constâncio II, i.e., de 44 aC a 361 dC), uma história do cargo de magister officiorum, desde a sua criação por Constantino I o Grande até à época de Justiniano, inclusive com a lista de seus detentores e a descrição das cerimônias correlatas (parte foi conservada no “Sobre as Cerimônias”, compilado pelo Imperador Constantino VII Porfirogênito no séc. X dC), e uma descrição de sua embaixada ao Império persa em 561-62 dC (que também sobreviveu, em parte, no “Sobre as Embaixadas”, igualmente compilado por Constantino VII Porfirogênito).

[35] Procópio (c.500-c.565), natural de Cesaréia da Palestina, contemporâneo de Pedro o Patrício e protegido do general Belisário, foi o famoso historiador da época de Justiniano, autor da “História das Guerras” de Justiniano, em 8 “livros” (narrando as campanhas na Pérsia, a conquista da África aos vândalos e as guerras góticas na Itália), do opúsculo (em um “livro”) “História Secreta”, um trabalho mais tardio, violento libelo contra Justiniano, Teodora e Belisário; e do “Sobre os Edifícios”, em 6 “livros”, elenco das construções e restaurações efetuadas (principalmente igrejas e fortificações) por Justiniano, arranjadas geograficamente.  Todas essas obras chegaram até nós.

[36] São Nicéforo I (c.758-828 dC), patriarca de Constantinopla (806-815 dC), pertencia a uma família distinta, ligada aos altos escalões do serviço público; foi, como o pai, Teodoro, secretário (asêkrêtês) imperial, sob os governos de Leão IV (reinou 775-780) e de Constantino V e Irene (780-797).  Com a deposição do Imperador, aprisionado e mandado cegar por sua mãe Irene, que então reinou sozinha de 797 a 802 dC, Nicéforo resignou a seu cargo e retirou-se para os subúrbios asiáticos de Constantinopla, dedicando-se ao estudo; deposta Irene, seu sucessor Nicéforo I (802-811) o chamou de volta, e acabou elevando-o ao patriarcado em 806 dC, após a morte do antigo patriarca, Tarásio.  Permaneceu no cargo sob seu homônimo, bem como sob Miguel I Rangabe (811-813); por opor-se à política pró-iconoclasta de Leão V o Armênio (813-820) foi deposto (815 dC), morrendo em 828 dC.  Nicéforo foi autor de dois trabalhos históricos: a) o “Breviário Cronográfico”, ou “Cronografia” (Chronographikon Syntomon), de fato um elenco de listas de reis, imperadores, patriarcas, bispos, etc., cobrindo o período da Criação até à própria morte de Nicéforo (828 dC), e b) o “Breviário Histórico” (Historia Syntomos), uma narrativa do período compreendido entre o início do reinado de Focas e o casamento de Constantino IV e Irene (602 a 769 dC).  À sua “Cronografia” Nicéforo acrescentou um catálogo de livros canônicos, conhecido como “Medição de Versos” (Stichometria), dividindo os livros em “aceitos” (i.e., canônicos), “duvidosos” (não aceitos por todas as igrejas) e “apócrifos” (definitivamente rejeitados pelo consenso eclesiástico).  Curiosamente, entre os “duvidosos” Nicéforo incluiu o Apocalipse de São João (os outros “duvidosos” são, para o Antigo Testamento, os três livros dos Macabeus, a Sabedoria de Salomão, o Eclesiástico, os Salmos e as Odes de Salomão, Ester, Judite, Susana e Tobias; para o Novo Testamento, o Apocalipse de João, como citado, o Apocalipse de Pedro, a Epístola de Barnabé e o Evangelho dos Hebreus).  Para cada livro (canônico, duvidoso ou apócrifo), Nicéforo acrescentou o número de “versos” (stichoi), i.e., de linhas constantes nos manuscritos, que constituíam cada obra.  No seu “Breviário Histórico”, por outro lado, o período referente ao reinado de Focas (602-610 dC) é tratado de modo muitíssimo resumido, e não há informações sobre o reinado de Constante II (641-668 dC), talvez por falha nos manuscritos sobreviventes.  Duas de suas fontes para a história mais recente, Trajano o Patrício e Teófilo de Amida, foram igualmente utilizadas por seu contemporâneo, Teófanes.

[37] São Teófanes o Confessor (c.758-c.818 dC), originário duma família nobre de Constantinopla, e que em 799 decidiu seguir a vida monástica, opôs-se depois à política iconoclasta do Imperador Leão V o Armênio (reinou 813-820).  Foi então preso e torturado, a fim de subscrever a política religiosa imperial contra o uso de imagens nas igrejas, mas sem sucesso; baniram-no então para a Samotrácia em 817, onde morreu logo depois, em virtude de constantes maus tratos.  Escreveu uma “Crônica”, continuando a de Jorge o Sincelo, e a pedido deste, cobrindo o período de 284 dC (ascensão de Diocleciano, onde Jorge tinha terminado sua obra) até ao reinado de Miguel I Rangabe (811-813 dC).  Utilizou como fontes principais o material já coletado por Teodoro o Leitor, e anotado por Jorge o Sincelo, referente aos três grandes historiadores do séc. V dC (Sócrates o Escolástico, Sozômeno e Teodoreto de Cirro), bem como as obras (hoje desaparecidas) de Trajano o Patrício e de Teófilo de Edessa.  Jorge o Sincelo (morto c.810/11 dC), por muitos anos monge na Antiga Laura de São Caritão, na Palestina, e depois um dos synkelloi (secretários) do Patriarca Tarásio, em Constantinopla (pontificou 784-806 dC), havia escrito uma “Crônica” (Ekloghê Chronographia), na realidade uma tábua cronográfica com anotações, cobrindo toda a História Universal desde a Criação até à ascensão de Diocleciano (284 dC).  Foi essa obra que Teófanes procurou continuar, a pedido do próprio Jorge, que era seu amigo, e que já havia coletado material para a tarefa, tendo sido impedido de a levar adiante por sua morte.

[38] Essas fontes são, basicamente, três: a “História Tripartite” de Teodoro o Leitor; a obra histórica de Trajano o Patrício; e a “Crônica Universal” de Teófilo de Edessa.  Teodoro o Leitor (anagnôstês, i.e., “leitor” das Escrituras na catedral de Santa Sofia, em Constantinopla), que viveu na época de Justiniano I o Grande (reinou 527-565 dC) escreveu duas obras históricas: a) uma “História Eclesiástica” que cobria o período compreendido entre a morte de Teodósio II (450 dC) e a ascensão de Justino I (518 dC), que não sobreviveu, exceto em breves citações e fragmentos; e b) as “Seleções de História Eclesiástica”, ou “História Tripartite”, em 4 “livros”, compreendendo o período de Constantino I o Grande a Teodósio II (305-450 dC).  A “História Tripartite” foi escrita a partir da combinação das obras dos três grandes historiadores bizantinos do séc. V dC, Sócrates o Escolástico, Sozômeno e Teodoreto de Cirro; Teodoro o Leitor apresentava os textos dos três historiadores, com comentários e anotações, explicando qual o que, para cada período, lhe parecia o melhor – essa obra chegou-nos completa.  O material havia sido coletado, e provavelmente já anotado, por Jorge o Sincelo, que o repassou a seu amigo Teófanes por ocasião de sua morte.  Trajano o Patrício, que viveu na época de Justiniano II (reinou 685-695 e 705-711 dC), escreveu uma obra história cobrindo (quase certamente) o período de 668 a 713 (ou 720) dC, obra essa que não chegou até nós, mas que, segundo os estudiosos, foi utilizada como fonte tanto por Nicéforo I quanto por Teófanes.  Enfim, Teófilo de Edessa (695-785 dC – isso, se é verdade a notícia segundo a qual teria morrido com a idade de 90 anos) foi uma figura singular: cristão maronita, viveu na Síria, sob o domínio muçulmano, sendo um dos últimos autores nessa região que escreveu em grego; era uma pessoa muito culta, fluente em grego, siríaco e árabe, tendo inclusive traduzido várias obras do grego para o siríaco; astrólogo, terminou seus dias, graças a seus conhecimentos nessa área, como um dos conselheiros do califa al-Madi (governou 775-785 dC).  Além de vários trabalhos astrológicos, Teófilo escreveu uma “Crônica Universal”, cobrindo o período da Criação até à queda da dinastia dos Omíadas e a ascensão dos Abássidas (750 dC).  Essa obra não nos chegou, mas foi utilizada, ao menos no que se refere ao período posterior às invasões árabes, tanto por Nicéforo e por Teófanes (em Bizâncio) quanto por Agápio de Hierápolis (meados do séc. X dC, nas terras sírias sob domínio muçulmano).  É bastante provável que a obra de Teófilo fosse conhecida em Constantinopla a partir de Jorge o Sincelo, que foi monge na Palestina por muitos anos (como já mencionado), e que teria levado uma cópia desse trabalho para Constantinopla.

[39] O conjunto dos continuadores da crônica de São Teófanes é denominado, em latim, Theophanes Continuatus, e, em grego, Hoi Meta Theophanên (“aqueles após Teófanes”).  Consiste num conjunto de quatro obras, as quais cobrem a história imperial para o período 813-961 dC, preservadas no manuscrito Vaticano Grego 167, do séc. XI dC.  A 1a obra, em 4 “livros”, compreende o período de 813 a 867 (i.e., de Leão V o Armênio a Miguel III); a 2a, num único “livro”, cobre especificamente o reinado de Basílio I (867-886 dC), sendo mais um panegírico do que propriamente um trabalho histórico; a 3a, também em um “livro”, estende-se pelo período de 886 a 949 dC, englobando assim os reinados de Leão VI o Sábio e de Alexandre, o governo conjunto de Constantino VII Porfirogênito e de Romano I Lecapeno e o início do governo pessoal de Constantino VII; a 4a, enfim, um adendo à anterior, estende-se pelos anos 949-961 dC, ou seja, inclui o restante do governo pessoal de Constantino VII e parte do de Romano II.

[40] Jorge Hamartolo (Gheôrghios Hamartôlos, i.e., “Jorge, o Pecador”, como ele se auto-denomina em sua obra histórica), mais conhecido como Jorge o Monge, e de cuja vida praticamente nada se conhece, salvo que professou ordens monásticas em Constantinopla, viveu na 2ª metade do séc. IX dC, e escreveu uma “Crônica” em 4 livros.  O 1o trata da história secular da Criação até Alexandre o Grande; o 2o, da história bíblica do Velho Testamento; o 3o, da história romana, de Júlio César a Constantino o Grande; o 4o, enfim, leva a narrativa de Constantino o Grande até à morte do imperador Teófilo (842 dC).  Inúmeros outros escreveram adendos e continuações à sua crônica, tendo chegado até ao ano 949 dC.

[41] João Scylitzes, ou Skylitzês (c.1040 – depois de 1101), burocrata com talentos jurídicos que alcançou altos postos no serviço civil imperial nos últimos anos do séc. XI dC, escreveu uma “Sinopse de Histórias” (Synopsis Historiôn), cobrindo o período da morte de Nicéforo I à deposição de Miguel VI Estraciótico (811 a 1057); há uma continuação cobrindo o período 1057-79, que, talvez, tenha sido acrescentada depois pelo próprio autor.

[42] Miguel Pselos (1017/18 – 1096), o famoso intelectual bizantino, filósofo, político e historiador, foi autor duma “Cronografia”, a qual nos chegou completa, que cobre os reinados de 14 imperadores e imperatrizes no período de 976 a 1078 dC – de Basílio II, o Massacrador de Búlgaros (976-1025), até Miguel VII Ducas Parapinaces (1071-1078).

[43] São Máximo o Confessor (c.580-662 dC) era um servidor civil sob o império de Heráclio (reinou 610-641 dC), que depois retirou-se para a vida monástica.  Defensor da doutrina calcedoniana contra o monotelismo de Heráclio e de seu sucessor Constante II (641-668), grande teólogo e orador, autor de muitas obras, foi julgado como herege em Constantinopla em 662, por não subscrever a teologia imperial; condenado, teve cortadas sua língua (a fim de não mais poder falar) e sua mão direita (a fim de não mais poder escrever), sendo então exilado para a Cólquida (a atual Geórgia, no Cáucaso), onde logo depois morreu (13 de agosto de 662 dC), em virtude de maus-tratos deliberados.  Sua memória, bem como a de outra vítima das perseguições monotelitas, o Papa São Martinho I (649-653 dC; diante de sua oposição ao monotelismo favorecido pela corte imperial, foi seqüestrado e levado para Constantinopla, onde, da mesma forma, foi condenado como herege, sendo então exilado para uma fortaleza no Quersoneso Táurio, atual Criméia, onde morreu em 655 dC, por maus-tratos e privações deliberadas), foi restaurada pelo Terceiro Concílio de Constantinopla (sexto ecumênico, 680-81 dC), convocado por Constantino IV (668-685), que condenou a heresia monotelita e restabeleceu a ortodoxia calcedoniana.

[44] Sobreviveu num único manuscrito, o Codex Peirescianus, do séc. X dC, atualmente na Biblioteca de Tours, na França, que originariamente pertencia (conforme seu nome) ao astrônomo e antiquário Nicolas-Claude Fabri de Peiresc (1580-1637).  Foi publicado pela primeira vez em 1634 por Henrique de Valois, daí também ser conhecido como Excerpta Valesiana.

[45] O famoso historiador grego, denominado “Pai da História”, viveu c. 484 a c.425 aC.

[46] João Malalas (c.491-578 dC), natural de Antióquia da Síria, o primeiro dos grandes cronistas bizantinos, escreveu uma “Cronografia” em 18 “livros”, que nos chegou substancialmente completa (faltam o início do 1o livro e o final do último), a qual, no estado atual, cobre o período da história primitiva do Egito até ao ano 563 dC (provavelmente, em sua forma integral, a obra cobria o período da Criação até ao final do reinado de Justiniano I, em 565 dC).

[47] Sobreviveu também num único manuscrito, aliás um palimpsesto, o Vaticano Grego 73, do séc. X ou XI dC.  O manuscrito encontra-se em péssimo estado, faltando-lhe vários fólios, e estando muitos outros danificados.  Foi publicado pela 1a vez em 1826-27, graças à ação do douto Cardeal Ângelo Mai, que inclusive utilizou reagentes químicos para realçar as letras da primeira escritura e assim possibilitar a cópia, daí ser também conhecido como Excerpta Maiana.

[48] Sobreviveu em 9 manuscritos, todos, contudo, derivados dum único arquétipo, de propriedade, no séc. XVI, de Juan Páez de Castro (c.1512-1570), jesuíta culto, confessor do rei Filipe II, latinista, helenista e antiquário, e fundador da Biblioteca do Escorial.  Esse arquétipo, um dos vários manuscritos que Castro depositou no Escorial, acabou perecendo no incêndio de 1621; não obstante, o texto já havia sido editado e publicado, a partir de cópias, em 1582, por Fúlvio Orsini (daí ser denominado Excerpta Ursiniana).

[49] Oriundo também dum único manuscrito, o Parisiense 345, do séc. XI dC.  O filólogo alemão August Immanuel Bekker (1785-1871), professor de Filosofia na Universidade de Berlim, viajou extensivamente pela França, pela Itália, pela Inglaterra e pela Alemanha (1810-21), localizando e examinando manuscritos antigos.  Publicou então os resultados dessa extensa pesquisa nas “Anectoda Graeca”, em 3 volumes (1814-21).

[50] João Tzetzes (c.1110-1180 dC), poeta e gramático constantinopolitano, foi o autor do “Livro de Histórias”, também conhecido como “Quilíadas”, por causa da divisão da obra, efetuada posteriormente por seu editor, em grupos de mil versos (esse trabalho contém 12.674 “versos metropolitanos”, politikoi stichoi, ou seja, decapentassílabos, jâmbicos).  Trata-se duma portentosa coleção, em versos, de miscelâneas literárias, históricas e teológicas, a par de inúmeras “curiosidades” antiquárias, tudo pesadamente recheado de citações de inúmeros autores antigos.  Tzetzes também foi o autor dum comentário ao poema “Alexandra”, atribuído ao poeta trágico e gramático Licofronte, natural da Cálcis eubéia, e que viveu no séc. III aC.  

[51] São João de Damasco (c.676 – c.749 dC), o último dos grandes Padres Gregos, viveu na Síria, sob o domínio muçulmano.  Era oriundo duma proeminente família cristã calcedoniana com tradição de exercício de cargos públicos na área financeira, em Damasco e região, desde a época bizantina.  De fato, seu avô, Mansur, era o encarregado da administração financeira de Damasco na época de Heráclio (reinou 610-641 dC), tendo depois servido, nas mesmas funções, aos novos senhores muçulmanos (a partir de 635 dC); seu pai, Sérgio (Sardjun) ibn-Mansur, o sucedeu nesse ofício; e João, nascido Mansur ibn-Sardjun, por sua vez, o seguiu.  O estabelecimento da sede do califado em Damasco, sob Moaviá, em 661 dC, fez com que a influência (e as responsabilidades) de Sérgio, e depois de Mansur, como administradores financeiros, aumentasse.  Após alcançar altas posições no serviço público, Mansur retirou-se da vida pública, tornou-se monge (adotando o nome monástico de “João”, pelo qual é conhecido) e retirou-se para o mosteiro de São Sabas, próximo a Jerusalém; lá seria ordenado sacerdote (735 dC), e lá permaneceria, escrevendo boa parte de suas obras, até à sua morte.  Opôs-se resolutamente à política “iconoclasta” (i.e., de destruição das imagens nas igrejas) levada a cabo após 726 dC pelos Imperadores bizantinos Leão III o Isauriano (reinou 717-741 dC) e Constantino V, dito Coprônimo (reinou 741-775 dC).  As principais obras de João encontram-se reunidas na coletânea denominada “Fonte do Conhecimento” (Pêghê Gnôseôs), compreendendo três partes: a) tratados filosóficos de lógica e dialética (“Capítulos Filosóficos”, Kephalaia Philosophika), objetivando apresentar os fundamentos filosóficos e lógicos para a exegese das Escrituras e dos Santos Padres; b) elenco das heresias, com suas refutações (“Sobre as Heresias”, Peri Haireseôn), uma continuação e atualização do Panarion de Santo Epifânio, arcebispo da Salamina cípria (final do séc. IV/início do séc. V dC); e c) uma apresentação circunstanciada e ordenada da fé cristã (“Exata Exposição da Verdadeira Fé”, Ekdosis Akribês tês Orthodoksou Pisteôs).

[52] Migne, Patrologia Graeca, vol. 94, págs. 1600-1601.

[53] Eis como se expressa o autor, no início do opúsculo: “Há os que asseguram que os dragões podem tanto tomar a forma humana quanto retornarem [depois] à [sua forma original] de serpentes, pequenas ou grandes, diferindo tanto em tamanho quanto em formato.  E que, tendo tomado a forma humana, podem se consorciar com os seres humanos, chegando até mesmo a raptar mulheres, com elas tendo relações físicas.  Àqueles que assim pensam perguntaríamos apenas: quantos tipos de seres inteligentes foram criados por Deus? E, se não nos souberem responder,  nós então os haveremos de esclarecer: dois, quais sejam, os anjos e os seres humanos; porque o diabo era da mesma espécie dos anjos, embora, sendo criado na luz, tenha [depois] caído às trevas; e [apenas] ambas essas espécies [inteligentes] foram criadas por Deus.  Mas se um dragão, que é de fato uma espécie distinta [em si mesma], pode se transformar num ser humano, convivendo com seres humanos, e até se relacionando com mulheres; se pode mudar sua forma, ora apresentando-se como uma serpente, ora como uma pessoa – então, concluir-se-ia que dragões são igualmente criaturas racionais, e, quanto a isso, muito mais [poderosas nessa qualidade] do que os seres humanos, algo que nunca foi verdadeiro, e que nunca o será.  Então, o que se pode afirmar, quanto a isso? Que devemos confiar nos ensinamentos de Moisés [no Gênesis], ou melhor, no Espírito Santo, que o inspirou a escrever do seguinte modo: ‘E Deus levou-os [i.e., todos os animais] a Adão, para que os nomeasse; e, do modo como Adão os chamava a cada um, esse passou a ser o seu nome’ [cf. Gênesis, cap. 2o, vers. 19] .  Portanto, um dragão é apenas um dos animais [criados por Deus, e nomeados por Adão].  Não vos digo que os dragões não existem; eles de fato existem, mas são um tipo de serpente, e gerados por serpentes [de sua própria espécie].  Quando nascem, e ainda são jovens, são pequenos em tamanho; quando crescem e atingem a maturidade, tornam-se grandes, e volumosos, a ponto de exceder as demais serpentes em comprimento e em tamanho; diz-se que chegam a atingir mais de trinta cúbicos de longo,  podendo-se apresentar também tão volumosos quanto um tronco [ou trave]”.  Se o “cúbito” (côvado) a que se refere o texto for o romano, de 44,45 cm, o comprimento total desses “dragões” alcançaria 13,3 m; se, por outro lado, for o grego, de 46,48 cm, tal comprimento alcançaria 13,9 m.

[54] É provável que a lenda dos dragões se tenha originado (via sucessivos acréscimos e exageros) de encontros inusitados ocorridos entre europeus (no caso, gregos e romanos) e grandes cobras (nas regiões que se estendem do norte da África à Índia).  Ao que parece, dois eventos específicos foram importantes na primitiva gestação da lenda, ao menos no Ocidente: a) o primeiro refere-se à invasão da Índia (mais especificamente, do Punjab) por Alexandre o Grande (327-25 aC); segundo informa o geógrafo Estrabão de Amásia, um dos generais de Alexandre, Onesícrito, nos seus reconhecimentos, informou acerca da existência de duas serpentes, com 80 e 140 cúbitos de comprimento (se se trata, como é bastante plausível, do cúbito macedônico de 35,56 cm, os comprimentos eram de 28,4 m e de 50,0 m!), na corte do rei indiano Abisaro (“Geografia”, livro 15, cap. 1º, seção 28 – embora Estrabão, com razão, expresse o seu cepticismo quanto a isso); que outro general de Alexandre, Nearco, mencionou serpentes de 16 cúbitos (5,7 m); e que outro ainda, Aristóbulo, outras de 9 cúbitos (3,2 m) de comprimento (“Geografia”, livro 15, cap 1º, seção 45 – sempre o cúbito macedônico está sendo considerado); e b) o incidente com o cônsul romano Atílio Régulo no rio Bágradas, em território cartaginês, em 256 aC, que será narrado a seguir.  Trata-se, em todos esses casos, de animais assemelhados a serpentes; ainda não há os acréscimos (posteriores) de asas, de fogo pela boca, etc.  Quanto a isso, parecem bastante plausíveis as considerações constantes num artigo de Richard B. Stothers: “Zoological data and a growing mythology contributed to ancient Western knowledge about large serpents.  Yet little modern attention has been paid to the sources, transmission, and receipt in the early Middle Ages of the ancients’ information concerning ‘dragons’ and ‘sea serpents’.  Real animals – primarily pythons and whales – lie behind the ancient stories.  Other animals, conflations of different animals, simple misunderstandings, and willful exaggerations are found to account for the fanciful embellishments, but primitive myths played no significant role in this process during classical times.  The expedition of Alexander the Great into India (327-325 bC) and the Bagradas River incident in North Africa (256 bC) had enormous repercussions on the development of serpent lore.  Credible evidence is found for the presence of ancient populations of pythons living along the North African coast west of Egypt and along the coast of the Arabian Sea between the Indus River and the Strait of Hormuz – places where they no longer exist today.  The maximum sizes of ancient pythons may have been greater than those of today’s specimens”.  (“Ancient Scientific Basis of the ‘Great Serpent’ from Historical Evidence”, Richard B. Stothers, Isis, vol. 95, no. 2, junho 2004, páginas 220-238).

[55] O estilo da composição, bem como sua ênfase na aplicação de argumentação lógica e racional aos dados existentes, são características presentes nas obras de São João de Damasco.

[56] O cúbito (côvado) romano, equivalente a 44,45 cm, valia 1½ pé; assim, o pé romano equivalia a 29,63 cm, e então o comprimento do couro do “dragão” era de 35,6 m!

[57] O episódio ocorreu na época da Segunda Guerra Púnica (264-241 aC), da república romana contra Cartago.  Os dois cônsules de 256 aC, Marco Atílio Régulo (que já havia antes sido cônsul, em 267 aC) e Lúcio Mânlio Vulsão Longo, realizaram com sucesso um desembarque em território cartaginês (africano); a invasão foi tão bem sucedida que Vulsão logo retornou a Roma, tendo-se decidido deixar Régulo terminar a campanha.  Inicialmente vitorioso na batalha de Ádis, ele acabou por ser derrotado no ano seguinte (255 aC), em batalha próxima à atual Tunis, pelo mercenário espartano Xantipo, contratado por Cartago, sendo então capturado, juntamente com 500 de seus homens.

[58] O atual uade Medjerda, que corta territórios na Argélia e na Tunísia.

[59] Há ainda muito a se conseguir explicar, mesmo com a hipótese (esposada, p.ex., pelo já citado Stothers) de que a lenda dos “dragões” originou-se a partir de encontros de europeus com grandes serpentes (pítons?), na África do Norte, no Médio Oriente, e no Punjab.  Tanto quanto se conhece atualmente, as grandes cobras podem alcançar, no máximo, de 6 a 9 metros de comprimento; e os próprios especialistas, p.ex., Murphy e Henderson, asseguram que tais grandes espécimes já teriam que superar uma série de problemas, nomeadamente o bombeamento do sangue para as extremidades do corpo, bem como o acúmulo de sangue na cauda (cf. John C. Murphy e Robert W. Henderson, “Tales of Giant Snakes: a Historical Natural History of Anacondas and Pythons”, Krieger Publishing Co., 1997; o livro analisa minuciosamente quatro tipos de cobras que podem ultrapassar os 6 metros de comprimento – a anaconda, a píton indiana, a píton reticulada e a píton africana).  Portanto, tendo em vista o conhecimento técnico atual, tudo indica que serpentes com comprimento superior a c. 10 m seriam biológica e mecanicamente inviáveis, ou seja, para comprimentos maiores, ter-se-ia que procurar cobras totalmente aquáticas, se é que as há assim.  Tais considerações tornam impossível a existência real de serpentes do tamanho daquela enfrentada por Régulo (c. 35 m), ou daquelas informadas por Onesícrito (28 m e 50 m!), embora não as mencionadas por Nearco (6 m) e por Aristóbulo (3 m).  O tamanho máximo informado em “Sobre os Dragões”, de 13 a 14 m, estaria ainda dentro do “exagero aceitável”; e totalmente aceitável seria a narrativa pormenorizada do historiador Diodoro o Siciliano (c.90 – 21 aC), tendo por provável fonte o perdido “Sobre o Mar Vermelho” de Agatárquides de Cnido (séc. III aC), da expedição de captura, nas profundezas “etíopes” (talvez na região do Atbara, no Sudão), duma serpente de 30 cúbitos (10,67 m, supondo-se o cúbito macedônico), por ordem do rei egípcio Ptolomeu II Filadelfo (reinou 282-246 aC), para a sua coleção particular de animais exóticos (cf. “Biblioteca Histórica”, livro III, caps. 36 e 37).  Os comprimentos incríveis são, assim, fruto do exagero, e talvez, em parte, do fato de o couro da cobra ter esticado após retirado (até 140% do comprimento original, cf. Murphy & Henderson, op.cit., pág. 25).

[60] Fócio (c.810 – c.893 dC), em duas ocasiões patriarca de Constantinopla (858-67 e 877-86 dC), nascido numa família nobre e influente da cidade (seu tio Tarásio foi patriarca 784-806 dC), seguiu carreira no serviço público imperial, chegando ao posto de secretário particular (prôtoasêkrêtês) do Imperador Miguel III (reinou 842-867 dC), por influência do tio de Miguel, Bardas, sendo enviado inclusive em embaixada ao califa de Bagdá.  Tendo em vista as suspeitas de que Bardas teria como amante a sua própria nora, viúva, o patriarca Inácio (847-858) recusou a comunhão a Bardas, em plena Santa Sofia; este, então, mancomunado com o seu sobrinho, o Imperador Miguel, tramou a deposição de Inácio, instalando logo depois o protegido de Bardas, Fócio, como patriarca.  O escândalo da situação levou a um conflito demorado com o Papa, que declarou a eleição de Fócio inválida (863 dC), mas ele permaneceu no cargo enquanto viveram seus protetores.  Porém, o assassinato de Bardas (866 dC), seguido pelo do Imperador (867 dC), com a ascensão de Basílio I (reinou 867-886 dC) ao trono, abriu caminho para a deposição de Fócio, e para a reinstalação de Inácio, que tornou-se novamente patriarca de 867 até à sua morte, em 877 dC.  Mas a cultura e a experiência administrativa de Fócio provaram-se necessárias, e ele, reabilitado, tornou-se tutor do filho e herdeiro de Basílio, Leão (o futuro Leão VI o Sábio), sendo inclusive readmitido como patriarca após a morte de Inácio.  Não obstante, quando Leão sucedeu ao trono (provavelmente através duma conspiração contra o próprio pai), demitiu seu antigo tutor Fócio mais uma vez, mandando-o exilado, como monge, ao mosteiro de Bordi, na Armênia, onde permaneceu até à morte.

[61] A obra “Descrição e Elenco dos Livros que Lemos”, mais conhecida como “Biblioteca” (Bibliothêkê, ou Myriobiblon), é uma lista de anotações, comentários e avaliações críticas de 280 entradas, denominadas “códices”, cada uma dizendo respeito, usualmente, a um trabalho específico (embora várias entradas incluam mais de uma obra), de autores de língua grega de vários períodos (do séc. V aC ao séc. IX dC), que Fócio havia lido.  Dessas entradas, 158 tratavam de trabalhos de índole eclesiástica, e 122 de obras de índole secular; são trabalhos em prosa, referentes a temas históricos, geográficos, retóricos, filosóficos e religiosos, mostrando a vasta curiosidade e erudição do anotador, comentador e erudito Fócio.  Nalgumas das anotações, há informações não apenas sobre as obras em si (incluindo-se resumos, ora mais, ora menos extensos), mas também notícias biográficas de seus autores.  De todas as obras citadas, cerca de 60 seculares e 100 eclesiásticas encontram-se atualmente perdidas, no todo ou em parte.  Além da sua importância óbvia, por conservar informações sobre inúmeros trabalhos hoje perdidos, ou incompletos, bem como notícias biográficas de vários autores que, de outro modo, não nos seriam conhecidos, a “Biblioteca” é também extremamente útil pelo fato de Fócio ter tido acesso, em geral, a manuscritos melhores, ou mais completos, do que os atualmente disponíveis, e de ele, algumas vezes, se ter dado ao trabalho de fornecer informações acerca da idade dos manuscritos que utilizou em suas leituras, bem como do  número de manuscritos duma determinada obra que havia encontrado.

[62] Elagábalo é considerado pela historiografia romana tradicional como um Imperador cheio dos piores vícios – das piores depravações e imoralidades individuais, incluindo-se a homossexualidade, à crueldade pura e simples e à covardia.  Os vários epítetos dizem respeito a tal fama: “Tiberino” liga-se a Tibério (reinou 14-37 dC), um Imperador também tido como cruel e depravado; “Sardanapalo” é a forma grega (e romana) do nome do rei assírio Assurbanipal (reinou 668-c.627 aC), mais um arquétipo da depravação, da crueldade e dos vícios; “Pseudantonino” (i.e., “o falso Antonino”) porque, apesar do nome que adotou (“Marco Aurélio Antonino Elagábalo”), em nada lembrava as virtudes de Antonino Pio (reinou 138-161 dC) e de Marco Aurélio (161-180 dC); enfim, “Assírio” igualmente fazia referência a seus costumes alegadamente depravados, já que, na historiografia grega (e romana) tradicional, os antigos Assírios eram tidos como viciados e cruéis (veja-se a imagem associada a Assurbanipal-Sardanapalo).

[63] Se é esse o sentido da frase, como parece provável, há aqui um erro: Severo Alexandre estava em seu terceiro (e não segundo) consulado em 229 dC; era Cássio Dião que exercia então, pela segunda vez, o ofício consular – agora como cônsul ordinário, e não como um simples sufeta.

[64] Citação da “Ilíada”, livro XI, verso 164.

[65] Hoje Iznik, na Turquia asiática, no extremo noroeste da Anatólia, próxima ao mar de Mármara; o lago chama-se atualmente “lago de Iznik”.

[66] Cada “livro” (liber em latim, biblos em grego), como aqui já foi citado, não é um “livro” no sentido moderno do termo, ou seja, um códice, mas sim um “rolo”.  Segundo as estimativas de Jona Lendering, cada “livro” (rolo) antigo seria o equivalente a cerca de 65 páginas numa moderna edição “de bolso”.  Assim, a obra total de Tito Lívio, se nos tivesse chegado inteira, teria umas 9.230 páginas, ou cerca de 31 livros “de bolso” (supondo-se 300 páginas para cada livro de bolso).  Esses números, quando aplicados a Tácito (30 “livros” dos “Anais” e das “Histórias” em conjunto) e a Cássio Dião (os 80 livros da “História Romana”) fornecem uns 6 ou 7 livros “de bolso” para Tácito, e uns 17 livros “de bolso” para Cássio Dião.

[67] Ele não fornece um título único para sua obra; não obstante, ela passou a ser conhecida pelos antigos, e por nós, como “Geografia”; contudo, não se trata apenas duma descrição física de terras e lugares.

[68] Já que a sua última menção datável refere-se à morte do rei Juba II da Mauritânia, em 23 dC (“Geografia”, livro XVII, cap. 7º), como tendo ocorrido “muito recentemente”.

[69] Sendo que os 4 primeiros “livros” tratam especificamente do período que vai das origens de Roma até à expulsão de Tarquínio o Soberbo, o último dos reis (509 aC), com a criação da República aristocrática.

[70] O livro 10º vai do 49º ano consular da República até ao 2º ano dos decênviros (461 a 450 aC); o livro 11, do assim chamado 3º ano dos decênviros ao consulado de Marco Gegânio Macerino, pela 2ª vez, e Tito Quíncio Capitolino Barbato, pela 5ª vez (449 a 443 aC).

[71] Constantino VII, dito “Porfirogênito”, i.e., “nascido na púrpura” (905-959 dC), governou, como Imperador, de 913 a 959 dC.  Não obstante, até 944 dC foi mantido na obscuridade por regentes poderosos, destacando-se o almirante Romano I Lecapeno (co-imperador 919-944 dC), que, de fato, governou o Império de acordo com sua própria vontade e conseguiu casar sua filha Helena com Constantino.  Somente com o afastamento de Romano, em 944 dC, tramado por seus próprios filhos, Estêvão e Constantino, Porfirogênito conseguiu exercer efetivamente o poder – livrando-se primeiro de seus dois cunhados, com a ajuda de Helena.  Seria então Imperador “de fato” até à sua morte (novembro de 959 dC), sendo sucedido por seu filho Romano II.  Tímido e reservado, mas dotado de grande inteligência, colecionador de manuscritos e de obras de arte, nos anos em que se viu afastado do exercício do poder dedicou-se aos estudos, transformando-se num patrono das letras.  Além de compor ele próprio vários tratados sobre temas político-administrativos (talvez para minorar sua solidão e sua nostalgia do poder), como o “Sobre as Cerimônias”, o “Sobre os Temas” [i.e., sobre as províncias em que se dividia o Império] e o “Sobre a Administração e o Império”, ordenou que trechos de autores antigos (principalmente historiadores) considerados úteis para a instrução e o uso da administração imperial fossem reunidos e coligidos numa série de antologias, de acordo com os respectivos assuntos.  Das 53 coleções assim compostas, apenas 4 sobreviveram, às vezes em manuscritos únicos: a) “Sobre as Embaixadas” (Peri Presbeiôn); b) “Sobre as Virtudes e os Vícios” (Peri Aretês kai Kakias); c) “Sobre as Conspirações contra os Imperadores” (Peri Epiboulôn kata Basileôn Ghegonyiôn); e d) “Sobre Ditos Memoráveis” (Peri Gnômikôn Apostomiasmatôn).  Já foi citado neste trabalho que fragmentos da obra de Cássio Dião foram obtidos nas coleções “a”, “b” e “d”; e muitos fragmentos de Dionísio de Halicarnasso (cerca de metade dos existentes para os livros 10 a 20) foram obtidos das coleções “a”, “b” e “c”.

[72] O Imperador denominou esse “relatório” como Index Rerum a Se Gestarum, algo como “Relação de seus Feitos”.

[73] Mas não tão bem conservados como o Mausoléu de Adriano, o atual Castelo do Santo Anjo (Sant’Angelo).

[74] A melhor obra de referência continua sendo o “The Oxford Handbook of Papyrology”, editado por Roger S. Bagnall.

[75] “The Oxford Handbook of Papyrology”, Oxford University Press, 2009, tabela à pág. 4, simplificada.

[76] A esmagadora maioria dos papiros é de proveniência egípcia; a única grande exceção diz respeito à biblioteca de textos filosóficos (principalmente da escola epicurista) descoberta em Herculano, na assim chamada “Villa dei Papiri”, uma aprazível mansão suburbana de propriedade de Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino, o sogro de Júlio César, e que depois passou aos seus descendentes.  Nessa propriedade, soterrada por ocasião da erupção do Vesúvio, foram encontrados 1.785 rolos carbonizados de papiro, muitos dos quais puderam ser total ou parcialmente recuperados, ainda que com bastante esforço.

[77] Principalmente etiquetas identificadoras de múmias.  Se se considerarem outras regiões, além do Egito, seria necessário acrescentar os achados do posto fronteiriço de Vindolanda, na muralha de Adriano, na Britânia, que incluem diversos documentos (cartas, contratos, etc.) escritos em madeira (853 itens), bem como os achados de mesma natureza provenientes do também posto fronteiriço de Vindonissa, a atual Windisch, na Suíça (90 itens).

[78] Aqui considerando documentos relativos a medicina, filologia, matemática (incluindo-se exercícios escolares), astronomia, geografia, etc.

[79] Aqui considerando os documentos utilizados nas cerimônias religiosas, p.ex., textos litúrgicos ou mágicos, ou livros de orações.  Textos bíblicos, quando em forma de livros (bem como gramáticas, ou livros de medicina), são classificados automaticamente como “literature”.  Apenas se tais livros se destinem ao uso litúrgico, ou ao ensino, passam então a ser classificados como “religion” ou “science”.  No geral, o LDAB classifica as obras como “literature”, a não ser que haja sinais inequívocos em contrário.

120 respostas a “Limites da História”

  1. Roberto Scur Diz:

    32.090 palavras para refutar uma afirmação lógica e racional do citado professor. O JCFF, como de costume, tenta vencer a pobreza de seus argumentos com infindáveis textos e mais textos que enchem telas do computador sem provar nada além da disposição de um homem que tenta distorcer a realidade com idéias megalomaníacas e desonestas.

  2. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur,

    A) Qual a afirmação “lógica e racional” que não deveria, ou não poderia, ser refutada?

    B) Quais são, exatamente, as minhas idéias “megalomaníacas” e “desonestas”, e por que são megalomaníacas e desonestas?

    JCFF.

  3. Roberto Scur Diz:

    Sr. JCFF,

    A) Será preciso te responder àquilo que tu já sabes? Não foste tu quem escreveste o artigo?
    Os registros históricos se perdem e às vezes não são nem criados pelos coevos dos eventos. É tão difícil entender isto? Não, não é, e aí chegamos à tua segunda letra.

    B) Megalomaníaco acreditares que o tamanho do texto ou a quantidade de letras será suficiente para te dar razão, e desonesto porque você sabe que não têm elementos para provar o que pretende, mas insiste em iludir com tuas falácias. O que você têm é “uma opinião” somente, não passa disso.

    Já te disse alhures que você deveria tentar provar a existência história de Jesus Cristo, primeiramente, para depois se arvorar na comprovação da existência de Públio. Lança teu livro, te exponha mais do que em blogs, faça como o Pedro de Campos que escreveu o livro recente sobre a historicidade de Emmanuel/Públio (espero que estejas lendo o livro e nos traga uma nova bíblia de umas 5000 palavras para refutá-lo), e que também escreve sobre os contatos alienígenas que você está longe de entender e por ignorar, ridiculariza.

    A sociedade brasileira é quem paga pelo teu tempo de trabalho e tu o consome nesta obra inglória e, como eu disse, megalomaníaca.

  4. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur:

    1) Mostre exatamente onde eu afirmo que não existem perdas nos registros históricos, ou que os registros históricos não devam ser manuseados com o necessário cuidado.

    2) Mostre exatamente onde estão minhas “falácias”, ou, então, demonstre o sr. mesmo, historicamente, que “Públio Lêntulo” existiu, tal como apresentado por “Emanuel”.

    3) Mais importante: prove que utilizo meu tempo de trabalho para realizar minhas pesquisas. E, se não o puder fazer, e levando-se em conta que a admissão de um erro, ou um simples pedido de desculpas, são coisas impensáveis em alguém como o sr., então cale-se, pois o sr. está entrando no campo da calúnia e da difamação, documentalmente demonstráveis.

    4) Adiante-se a mim, sr. Scur, e mostre, enfim, algum talento que conte: faça uma resenha decente do livro do sr. Campos, mostrando, ainda que resumidamente, como ele demonstra a existência histórica de Públio Lêntulo, bem como a historicidade (e o valor probante) de sua “carta”. Só para sua informação, já o encomendei. E sim, eu o lerei, e o analisarei. Mostre que o sr. também é capaz de fazer isso.

    5) E, aproveitando o ensejo, responda enfim aos quesitos que o sr. me deve, e sobre os quais até agora não se manifestou:

    A) Onde eu escarneço da ação caritativa de Xavier, ou dos espíritas, ou de qualquer um, ou onde ponho em dúvida o caráter de Xavier?

    B) Por que as evidências levantadas até aqui acerca da extrema implausibilidade da existência de “Lêntulo”, e de sua identificação com o (suposto) espírito-guia Emanuel, não são consideradas suficientes?

    C) Caso não sejam: a) onde estão, exatamente, os pontos fracos e os equívocos de tais evidências, e b) o que, então, seria considerado suficiente para que se passasse a duvidar da plausibilidade da existência de “Lêntulo”, e de sua identificação com “Emanuel”?

    D) Quais as razões que o sr. tem para aceitar a plausibilidade (ou a certeza) da existência histórica efetiva de “Lêntulo”?

    E) As razões pelas quais o sr. aceita a identificação de “Lêntulo” com o (pretenso) espírito-guia “Emanuel”?

    O sr. diz que escrevo demais; mas quem se recusa a enfrentar as questões, escondendo-se numa covarde e nojenta série de ataques pessoais, e de manobras diversionistas, é o sr., sr. Scur. Mostre que vale o sal que come; responda às questões que aqui formulei.

    JCFF.

  5. Juliano Diz:

    JCFF

    Ontem fui na Livraria Curitiba, e por coincidência me deparei com este livro do Pedro de Campos, “Lentulus”.
    Não comprei o livro, mas li o capítulo que no meu entender é o que interessa no debate entre vocês. O que fala sobre Públio Lêntulo.
    Minhas conclusões.
    1º Pedro de Campos baseia a existência de Públio Lêntulo na chamada “Epístola Lentuli”, em tese escrita por ele e reconhecida como documento autêntico.
    2º Sobre a ligação entre Públio Lêntulo e Lêntulo Sura, Pedro de Campos coloca que este de fato no seu velório foi representado por Marco Antônio, seu enteado, mas que é bem plausível que Lêntura Sura tivesse tido um primeiro casamento antes de se unir com a mãe de Marco
    Antônio, e deste primeiro casamento tivesse descendentes, que quando da sua morte provavelmente estariam servindo ao exército romano. Disto a não menção histórica dos mesmos quando do episódio da morte de Lêntulo Sura. Pedro de Campos coloca que era normal se casar cedo e que Lêntulo Sura provavelmente tivesse tido um primeiro casamento, com herdeiros, e desta união Públio Lêntulo descenderia, e disto a ligação entre ambos colocado por Emmanuel, na visão de Pedro de Campos e dos espíritas encarnação de ambos. Mais ou menos é isto, creio ter contribuído.
    Da leitura do livro esta é conclusão da argumentação de Pedro de Campos. Que inclusive disse numa entrevista que foi um espírito que sugeriu a feitura do livro que teria um cunho biográfico do Emmanuel. Já que há a tese, hoje aceita pelos espíritas, que ele (Emmanuel) tenha nascido já numa cidade no interior de São Paulo. Inclusive o Waldo Vieira numa de suas tertúlias “meteu a colher” estes dias dizendo que de fato Emmanuel nasceu e é uma criança vivendo no interior de São Paulo, e que ele está acompanhando o crescimento desta criança, pois ela será religiosa católica e veio para mexer com as bases da religião, da igreja. Acredite quem quiser. É isto.

  6. Juliano Diz:

    Do ítem 1º – (…) reconhecida como documento autêntico, na visão de Pedro de Campos e dos espíritas.
    Só um complemento para ficar bem claro o argumento.

  7. Roberto Scur Diz:

    JCFF,
    Agora não estou com vontade de responder-te, ítem a ítem, “exaustivamente”, “ad nauseun” como você gosta de dizer.
    Nossa, que meda me deu de você!?! Estou apavorado, não vou mais dormir depois das tuas ameaças.
    A propósito, na repartição pública que você trabalha o expediente é de quantas horas por dia? Como se vê “exaustivamente” neste blog o senhor utiliza qualquer hora do dia para responder. És um consultor público? És um funcionário fantasma?
    O sal que eu como eu pago com meus recursos oriundos do meu trabalho. O sal que tu comes é que está em questão neste caso, não o meu pois como proprietário de um pequeno negócio se eu não trabalhar e ficar respondendo em blogs o prejuízo será meu e de minha família, enquanto que o senhor pode utilizar seu tempo sem risco de demissão – não lhe faltará o sal no seu prato porque haverão muitos robertos pagando o imposto que lhe sustenta.

    Você se atribui uma importância descomunal, desproporcional ao seu real valor senhor JCFF, mas vou ler o livro do Pedro de Campos e depois te respondo ítem à ítem, afinal, tenho que ir atrás do sal e do leite das crianças.
    Será minha a covardia que alegas? Serei eu quem “calunio”? Será o senhor a vítima de tamanha injustiça ou será que é Chico Xavier que não está presente reencarnado neste momento? Porque o senhor e seus pares não criaram seus blogs detratores enquanto ele estava vivo? Eras muito criança ainda? O que houve?
    Pobrezinho do senhor, senhor JCFF. Que dó, que pena! Como pode um homem de sua envergadura sofrer tantas injustiças por defender inocentes idéias?
    Este mundo está de pernas pro ar mesmo.

  8. Roberto Scur Diz:

    Olá Juliano,

    Puxa vida, este Waldo não toma jeito. Está sempre querendo aparecer. Dizer que está “acompanhando” Emmanuel em sua reencarnação atual? Quem ele acha que é, por Deus!

    Se acha um “tutor” de um espírito que está muito acima das capacidades morais e intelectuais de Waldo é uma lástima, uma vergonha até para ele.

    Pobre Waldo, pobre homem.

    Um abraço Jujuba.

  9. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur,

    O sr. pode continuar “ad infinitum” com as suas calúnias e as suas manobras diversionistas, se for essa a sua escolha Parafraseando suas próprias palavras, “pobre Scur, pobre homem”… Do sr., sinceramente, apenas espero aquilo que (ao que parece) o sr. é absolutamente incapaz de oferecer: respostas às minhas indagações. Use o tempo que for necessário. Se quiser comentar (civilizadamente) tópicos específicos, ao longo de suas análises, estou (como sempre) à disposição.

    JCFF.

  10. Flávio Josefo Diz:

    Scur,
    Eu pensei que o Banco Central abria de segunda à sexta e funcionava durante o dia.
    Mas acho que me enganei…

  11. Flávio Josefo Diz:

    Juliano,
    Você que está a caminho de se tornar um grande psicólogo, você é capaz de diagnosticar o problema do Sr. JCFF?
    O cara está mal, olha os textos que ele coloca aí.
    Isto é TOC, só pode ser!

  12. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Juliano:

    Obrigado pelas informações. Creio que ainda é cedo para se poder discutir o assunto; é mais razoável esperar a chegada do livro, lê-lo com cuidado e depois me pronunciar. Devo confessar que a resenha não me animou muito, mas pode ser um problema da resenha em si, e não do livro.

    Uma investigação sobre a existência de “Públio Lêntulo”, a meu ver, tem duas vertentes distintas, que se complementam: a) a evidenciação da existência da pessoa, bem como o fato de ser descendente de Lêntulo Sutra, e b) o estudo de sua “carta”, de modo a considerá-la como possuindo (ou não) chances de autenticidade. Claro, não sei quais os caminhos que o sr. Campos tomou, mas esse que delineei acima me parece bem razoável.

    Para a carta, creio que não baste apelar para a autoridade dos espíritas, já que o consenso dos historiadores é inequívoco no sentido de considerar o documento como apócrifo; e esse consenso não surgiu por acaso – é conseqüência da análise dos fatos, ou melhor, das evidências dos manuscritos sobreviventes. Esse documento não foi citado por ninguém por quatorze séculos desde sua (pretensa) confecção; surgiu inicialmente no “prólogo” da “Vida de Cristo”, sem ser atribuída a um “Lêntulo” (o que somente ocorreu depois), bem como em várias versões (para o dialeto toscano) de “harmonias” evangélicas no estilo do “Diatessaron” – tudo na 2ª metade do séc. XIV; e, além de tudo, a descrição do rosto de Jesus constante na “carta” somente se consolidou na iconografia cristã a partir do séc. IX dC. Portanto, quanto a isso, a situação somente se modificaria substancialmente se se pudesse obter testemunhos inequívocos da carta bem anteriores ao séc. XIV – de fato, bem anteriores ao séc. IX dC, quer a partir de (novos) manuscritos, quer a partir de (também novas) citações, em documentos até aqui ignorados.

    Isso quanto à carta. Quanto à existência do “missivista”, “Lêntulo”, o estado atual da questão somente poderia se modificar substancialmente se: a) se puder demonstrar que existiu, ativo na época de Tibério, um “Públio Lêntulo” que tenha ido em missão à Judéia; e b) que esse Lêntulo, especificamente, era descendente de Lêntulo Sura. Não é uma tarefa simples, já que nenhum dos Lêntulos atestados na época imperial pode ser ligado, por ascendência, a Sura; haveria necessidade de se descobrirem testemunhos (manuscritos, ou epigráficos) novos a respeito.

    Não basta, portanto, se repousar na (pretensa) autenticidade da própria “carta”, já que é justamente essa carta (bem como a identidade de seu “missivista”) que está sob escrutínio. Especificamente sobre a informação que o sr. me citou, de que Sura poderia ter se casado antes, e ter tido um filho, que estaria em guerra, etc., tudo isso não passa (do modo como informado) de hipótese de trabalho. Tem que ser demonstrada, e não suposta. Estava em guerra no ano 63 aC, quando Sura morreu, por participar da conspiração catilinária? Onde? Sob que comando? Quais as evidências disso?

    Claro, Sura poderia ter se casado antes de se casar com Júlia. Ou não. Poderia ter tido filhos dum (possível) primeiro casamento. Ou não. Esse filho, ou filhos, poderiam ter sobrevivido à idade adulta. Ou não. Tudo isso não passa duma série de hipóteses de trabalho, perfeitamente legítimas em si como meras hipóteses, mas que, para serem levadas a sério, têm de ser demonstradas, evidenciadas. Porque tudo aquilo que é gratuitamente afirmado também pode ser gratuitamente negado.

    Senão, vejamos: era usual que os casamentos ocorressem cedo. Sim, até certo ponto – o cidadão romano era “adulto” aos 14 anos, e, a partir daí, poderiam pensar em se casar; e, quanto às moças, podiam ser “prometidas” a seus futuros noivos ainda meninas, e, lá pelos 12/13 anos, já eram consideradas aptas para o matrimônio. Tudo isso é verdade. Mas seria verdade, especificamente, no caso de Sura? Estudos recentes acerca da idade dos primeiros casamentos mostram, ao contrário, que os homens costumavam se casar por volta dos trinta anos, e as mulheres, por volta dos vinte:

    “In 1987, Richard Saller and Brent Shaw put the study of the age at 1st marriage in the Roman empire on a new footing [refere-se à obra de R.P.Saller, “Men’s Age at Marriage and its Consequences for the Roman Family”, Classical Philology, vol. 82, 1987, páginas 21-34; e também à de B. D. Shaw, “The Age of Roman Girls at Marriage: Some Reconsiderations”, Journal of Roman Studies 77, 1987, 30-46]. Drawing on large samples of Latin epitaphs from the western half of the empire, they interpreted age-specific shifts in the identity of commemorators as proxy evidence for changes in marital status: thus, the age at which spouses replaced parents as commemorators for young adults is taken to denote the usual age of marriage. In most epigraphic samples, these shifts occur around age 30 for deceased men and around age 20 for women. Saller and Shaw concluded that men and women had commonly married in their late 20s and their late teens, respectively, a pattern that broadly resembles the so-called Mediterranean marriage pattern found in later periods of southern European history. In 1994, Saller defended the underlying methodology against criticism, adduced new evidence (from the city of Rome) to strengthen the case for moderately early female and late male marriage, and provided a computer simulation of the age-specification likelihood of marriage that matches the observed shifts in commemorative identity”. (“Roman Funerary Commemoration and the Age at First Marriage”, Walter Scheidel, Classical Philology, vol. 102, No. 4, October 2007, páginas 389-402)

    Evidentemente, os dados referem-se principalmente à época imperial (pelo fato de ser dessa época a grande maioria das inscrições funerárias); e notou-se uma variação bastante grande entre os civis e os militares – com a idade para o primeiro casamento tender a ser bem menor (especialmente entre os homens) no caso da população civil. Mas, levando-se em conta que o “padrão republicano”, mesmo para os aristocratas, estava mais próximo do padrão militar do Alto Império do que do civil, dizer que, no seio dos jovens aristocratas, o primeiro casamento ocorria muito cedo é algo a ser demonstrado, e não suposto – tanto em termos gerais quanto, principalmente, no caso específico de Lêntulo Sura.

    De Sura conhecemos muito bem (ao contrário de “Públio Lêntulo”) seu “cursus honorum”: questor 81 aC, pretor pela 1ª vez (“de repetundis”) 74 aC, cônsul 71 aC, expulso do Senado em 70 aC, pretor pela 2ª vez (e readmitido no Senado) 63 aC – ano em que foi morto, por sua participação na conspiração catilinária (veja-se, p.ex., Broughton, “Magistrates of the Roman Empire”, vol. II – anuário, sob os anos 81 aC, 74 aC, 71 aC, 70 aC e 63 aC, e vol. II – suplementar, índice alfabético, pág. 553). As fontes são muitas: a “Conspiração de Catilina” de Salústio, as “Catilinárias” de Cícero, as biografias de Cícero e de Marco Antônio, de Plutarco, além de várias menções na “História Romana” de Cássio Dião. Quanto a Sura, estamos bem fornidos.

    Ora, Cícero, no seu “Bruto”, informa (parágrafo 235) que Sura era um “aequalis” de Hortênsio (ou seja, que tinham, basicamente, a mesma idade). No mesmo trabalho, Cícero adicionalmente informa (par. 229) que Quinto Hortênsio Hórtalo tinha 19 anos quando pronunciou, no Fórum, seu primeiro discurso, em 95 aC; e também (par. 230) que era 8 anos mais velho que Cícero, que nasceu em janeiro de 106 aC. Portanto, Sura nasceu (como Hortênsio) em 114 aC. (cf. G. V. Sumner, “The Orators in Cicero’s Btutus – Prosopography and Commentary”, G. V., University of Toronto Press, 1973, página 127). Pela legislação romana (“Lex Villia Annalis” até 81 aC, complementada pela legislação de Sila após essa data), a idade mínima para alguém se candidatar à questura era, no mínimo, de 27 anos; de 36 anos para a edilidade curul; de 39 para a pretura; e de 42 para o consulado (após 81 aC, sob a legislação de Sila, a idade para a candidatura à questura subiu para o mínimo de 30 anos). As idades batem: Sura teria que ter, no mínimo, 42 anos em 72 aC, quando concorreu ao consulado de 71 aC (e, de fato, tinha 42 anos); tinha que ter, no mínimo, 39 anos em 75 aC, quando concorreu à pretura de 74 aC (e, mais uma vez, tinha 39); e teria de ter, no mínimo, 27 anos em 82 aC, para concorrer à questura de 81 aC (ainda sob as prescrições da “Lex Villia Annalis”); mas tinha 32 anos em 82 aC; e isso não foi por acaso – seu “cursus” iniciou-se mais tarde (i.e., foi protelado) porque, de 87 a 82 aC (i.e., desde os 27 anos), permaneceu em serviço militar, sob as ordens de Sila, nas suas campanhas no Oriente, somente depois retornando a Roma e dando início à sua carreira pública.

    É plausível supor que somente após sua questura, i.e., após o início de seu “cursus”, Sura, já com experiência em guerras e na vida pública, teria começado a pensar em se casar. Estaria com uns 33, 34 anos; uma boa idade para pensar em constituir família. Portanto, claro, Sura poderia ter se casado entre os mais ou menos dez anos compreendido de c.81 aC a c.71 aC (já que Marco Antônio Crético, o 1º marido de Júlia, morreu por volta de 72/71 aC em Creta). Mas, será que se casou? O fato é que não estava casado, ou, pelo menos, não estava comprometido, por volta de 71/70 aC, quando, no auge de sua carreira (foi cônsul em 71 aC), casou-se com Júlia. Mas não há nenhuma menção, quer a esposa, quer a filhos, dum relacionamento anterior; e mais: Júlia, a viúva de Crético, com seus três filhos, Marco (o famoso Marco Antônio), Gaio e Lúcio, escolheu justamente Sura para ser seu novo marido, e garantir a criação (e o futuro) de seus três rebentos. Por quê? Não seria mais plausível que escolhesse Sura porque ele, justamente, não tinha filhos (ou não os tivera antes, ou então os tivera, mas eles não haviam sobrevivido), podendo-se dedicar totalmente aos três filhos dela, Júlia? E Sura, se tivesse filhos homens, que incentivo teria em se casar com uma matrona, por mais virtuosa que fosse, com três homens dum casamento anterior?

    Essa é uma situação bastante plausível, e que (diante da total falta de menção quer a um casamento anterior, quer a filhos vivos sobreviventes dum casamento anterior) se pode opor, com relativa facilidade, à “hipótese de trabalho” dum filho “ausente”, porque “em guerra” – claro, a não ser que se possam mostrar evidências da existência desse tal filho, nessa tal guerra, e, por isso, ausente em 63 aC. Mais uma vez, não basta supor, é necessário demonstrar.

    Essas, sr. Juliano, são as considerações que podem ser feitas no momento. Creio que a leitura, a qual há de ocorrer em breve, do livro do sr. Campos, considerações mais detalhadas, e, claro, mais consistentes, poderão ser enunciadas. Tudo será visto com detalhe. Sds,

    JCFF.

  13. Roberto Scur Diz:

    JCFF,
    Você vai ter bastante trabalho para refutar o livro do Pedro de Campos que fez um belo trabalho de pesquisa histórica.
    Muitas das tuas “opiniões” pessoais, tuas deduções tendenciosas estão a perigo ali, e não bastará despejar títulos e mais títulos de livros como se eles atestassem as “tuas opiniões pessoais” pois bibliografia por bibliografia Pedro de Campos consultou com qualidade mais de 50 obras.
    A leitura não se faz carregada, o que se é de imaginar de textos históricos, ao menos assim o são os teus textos pois eu não houvera lido este tipo de tema antes de conhecê-lo neste blog. Desde que capturei as tuas inconsitências lógicas ou os teus sofismas procurando afirmar fatos inexistentes em cima de verdades que não conduziam obrigatoriamente ao tipo de conclusão que tu chegastes eu confesso que declinei da leitura completa dos teus textos subsequentes. Bastou um para mim e os demais se tornaram cansativos. Talvez o mesmo ocorra contigo quando tentastes ler as obras de Chico Xavier, não te interessam, não te tocam, és adversário delas e as combate.
    Tenho alguma vocação às ciências exatas, por formação acadêmica, e busco a síntese e sistematização das ideias. Depois que eu formular um sistema mais resumido de contrapontos às tuas opiniões eu exporei aqui, pois agora eu tenho material que não conseguiria angariar antes por falta de tempo e por necessidade de pagar o sal maldito que sustenta o meu corpo e o dos meus 5 filhos, do qual você afirma que eu não valha o quanto ele custe mas que entretanto sou eu quem o conquisto sem a malfadada estabilidade do funcionalismo público e da qual o senhor é um ilustre beneficiário.
    Se o senhor fosse meu funcionário eu não o manteria empregado por não retribuir suas horas em trabalho para o qual é pago, mas procuraria talvez pessoas com o caráter de Chico Xavier que sendo funcionário público e tendo se aposentado como tal não conheço notícias de ter psicografado na repartição durante o expediente.

    Até breve, ilustre.

  14. Roberto Scur Diz:

    E JCFF,
    Aproveitando o título deste teu artigo aqui, limites da História, posso dizer que na minha opinião o Pedro de Campos, médium, espírita, ufólogo, te superou sobremaneira amigo, pois em seu livro de 443 página apresentou fotocópias de epístolas, da árvore geneológica dos Lêntulus, a cronologia da morte de Lentulus Sura, enfim, tanta coisa que não vejo hora de me inteirar de tudo, com cuidado e critério, mas a princípio, muito na medida de quem toma os teus próprios argumentos como definitivos, te digo que você está num mato sem cachorro, complicou tua missão deveras e não vai ser num rompante, em mais um texto kilométrico como este último que você vai se salvar de um intenso trabalho para evitar o naufrágio das tuas “teorias pessoais”.

    Está fazendo água na canoa do teu blá-blá-blá. Avante capitão!

  15. Vitor Diz:

    Eu vou usar minha intuição e dizer que o Roberto Scur está confundindo o bisavô (que efetivamente existiu) com o bisneto (que efetivamente não existiu). Alguém quer apostar comigo? 🙂

  16. Roberto Scur Diz:

    Vitor,
    Deixa de ser preguiçoso e vai comprar o livro e ler.
    Se a tua convicção já é desacreditada, que se dirá da tua intuição.
    Você ridicularizou o autor sem ter lido nenhum livro dele, fez piada – este é o teu critérioso e exigente saber científico. Parabéns. Leia e se envergonhe da precipitação costumeira.

  17. Juliano Diz:

    JCFF

    Leia o livro e você vai atestar que o Pedro de
    Campos trabalha em cima da suposição, e apenas suposição, com os argumentos que inclusive você bem coloca no teu comentário a respeito da idade para se casarem na Roma antiga, de um possível casamento anterior de Lêntulo Sura, antes de Julia, onde seus descendentes do primeiro casamento estariam na época de sua morte em guerra. Disto a atuação direta de Marco Antonio no “velório” (não sei se é este o termo correto para aquele ato).
    Eu não li o capítulo que faz referência a “Epístola Lentuli”, mas no correr do olho o Pedro de Campos defende a sua autenticidade, e por óbvio a de Públio Lêntulo, suposto escritor da mesma.
    Por fim, ele deixa claro que muitas informações históricas se perderam, possivelmente para defender a tese de que Públio Lentulo de fato não tem uma existência real, comprovada documentalmente. Muito menos do mesmo ser descendente de Lentulo Sura.
    Mas leia o livro, e você ler, é óbvio, e depois me informe se a coisa toda não vai por aí. Um abraço.

  18. Eduardo José Biasetto Diz:

    Scur,
    O livro é bom, mas vai com calma!
    Os céticos vão achar um monte de argumentos para descaracterizar o trabalho do Pedro de Campos.
    Não se iluda não meu amigo!
    Esta turma aí, é irredutível.
    Um abraço!

  19. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Qual sua opinião sobre a história envolvendo os jornalistas David Nasser e Jean Manzon, da revista “O Cruzeiro”, que em 1944 foram sacanear o Chico, fizeram lá umas fotos bobas e se passaram por norte-americanos, se eu não me engano.
    Então, voltaram ao Rio de Janeiro, rindo do bobo do Chico. Só que quando foram abrir o livro que o Chico havia lhes dado, se depararam com uma dedicatória citando o nome deles, com saudações de Emmanuel.

  20. Vitor Diz:

    Eduardo,

    essa história possui contradições, e mesmo explicações normais. Tratei sobre o caso aqui:

    http://obraspsicografadas.haaan.com/2009/a-esperteza-de-chico-xavier-david-nasser-e-jean-manzon/

    Note que há divergências entre os biógrafos sobre o que estaria escrito na dedicatória. Um diz:

    “Ao irmão David Nasser, oferece Emmanuel”.

    Já outro diz:

    “Ao meu caro David Nasser, com o abraço do Chico Xavier”.

  21. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Já dei uma olhada no que você me informou.
    Obrigado!

  22. Roberto Scur Diz:

    Eduardo,
    Olha o absurdo do absurdo. O cara quer distorcer tudo, assim, sem cerimônia, e acha que criando confusões consegue fazer valer suas palavras, diz que “tratou do caso”.
    O Nasser não precisou de biógrafo nenhum para falar o que ele leu no livro pois ELE MESMO FALOU em entrevista o que estava escrito, e não foi esta história de “abraço do Chico Xavier”, mas se você olhar o que o Vitor disse quando foi apresentado para esta verdadeira confissão, que não trazia nenhuma glória para o picareta do Nasser, pessoa sem escrúpulos algum, sugeriu a possibilidade de “espíritas terem pago para ele falar àquilo”, ou que teria que confirmar o que o Manzon diria pois o Nasser poderia ter se enganado, ou seja, nada jamais satisfará uma criatura assim.
    O Vitor está doente da razão e deixa claro que não está nem aí com a honestidade pois não critica em nenhum momento o comportamento dos repórteres.

    Ele não se interessa pelo fato real, mas quer difamar Chico Xavier à todo custo, independendo se em algum momento ele ficar sem chão, independendo se seus argumentos são frágeis, pois ele inventará um senão, uma possibilidade das mais inacreditáveis para continuar sustentando suas teses difamatórias.

    Triste sina.

  23. Eduardo José Biasetto Diz:

    Scur,
    Eu só lembrei desta história e então perguntei pro Vítor, mas já esperava como resposta algo parecido ao que ele me passou.
    É por isso que te falei, que o Vítor e “seus colaboradores” vão achar uma série de argumentos para desacreditar o Pedro de Campos. Pode esperar por isso!
    Aproveitando o comentário, quero fazer uma outra pergunta pro Vítor:
    Vítor você pode me explicar por que 666 é considerado como o “número da besta”? Só por uma curiosidade minha, depois explico o porquê desta colocação.
    Até…

  24. Vitor Diz:

    Eduardo,
    Que eu saiba descobriu-se que o número da besta é 616. Alguns dizem que é um código que tem a ver com Nero.

  25. Eduardo Diz:

    Será que agora vai?
    Tentei mandar alguns comentários, em umas 5 oportunidades, mas não foi. O problema está no meu pc ou conexão Vitor e não no blog.

    Já escrevi isso para o Roberto por e-mail e concordo com vc Biasetto. Tem muita coisa, mesmo sem ler o livro, que será criticada por não conter a “fé” da ciência. Digo isso pq acho que aqui temos “crentes” na ciência e, talvez (opinião minha), só nela.

    Eu acredito em algumas coisas que não vi e não tem provas “cabais” e “irrefutáveis”. Quem já teve algumas experiências dificilmente duvida, eu acho. Seria duvidar de mim mesmo. Mas, eu posso ser doido, como dizem que foi Chico.

    Veja que a Enciclopédia Católica considera o Publio Lentulus um personagem da ficção e a carta apócrifa. Logo, eu acho que o estado da arte da história vai nessa direção, o que nos remete à idéia (é uma opinão minha) de que não teremos eventos históricos documentados e aceitos pela academia, para mudar o que foi descrito no blog pelo JCFF. Tudo o que surgir será considerado “duvidoso” e as suposições espíritas, que podem ter base no livro Há 2000 Anos, serão criticadas e até ridicularizadas.

    Sds

  26. Roberto Scur Diz:

    Não Eduardo,
    Não acreditam na própria Ciência que dizem se apoiar, mas acreditam que têm uma missão importantíssima em suas vidas de difamar os que ousaram a serem melhores do que eles, e que acumularam tesouros nos céus e não na Terra, onde o ladrão rouba, a traça come e a ferrugem corrói, e que terão sua passagem pelo planeta pontilhada em caminhos de estrelas rutilando à cada gesto de caridade e amor ao próximo.
    Isto estes senhores não admitem, não toleram, não engolem, e o orgulho os fazem se consumirem em perseguições insanas, irracionais, ilógicas, além de, quem sabe, permitir contruam algum patrimônio perecível mas que encantará os seus sentidos embriagados de materialismo.
    Onde alguém acender uma luz na escuridão estarão eles, ávidos, ferozes, incontroláveis à tentar apagá-la.

    Os fins ignóbeis justificam os meios mais ignóbeis ainda. Testemunhos inumeráveis não lhes bastam, quererão minúcias que lhes amparem na dúvida permanente, não só nos fatos mas principalmente na integridade moral de pessoas que lhes despertam os mais primitivos instintos metamorfoseados em palavreado trabalhado, em pseudo intelectualidade, em afirmações tão absolutas quão falhas.

    Veremos as ginásticas mentais que farão para atacar a obra de Pedro de Campos, e como as suas teses estavam expostas utilizando o pano de fundo de livros de historiadores que as pessoas comuns não teriam acesso facilmente, dando ares de afirmações definitivas, a obra de Pedro de Campos trará o contraponto utilizando as mesmas obras e várias outras mais que eles não chegaram a consultar, e assim, comparando-se o que estava escrito e as conclusões que chegaram uns e outros, os que leem terão mais dados para compararar as intenções de cada qual.

    Ao final os ilustres poderão consultar o próprio autor do livro para contradizê-lo, sem precisar covardemente instigar as pessoas comuns à fazê-lo como se todos fossem funcionários públicos bem remunerados em repartições que não fiscalizam o que os marajás e parasitas sociais estão fazendo de seu tempo durante o expediente de trabalho, e que têm a petulância e arrogância de afirmar que “farão a resenha do livro de Pedro de Campos de graça!” – um insulto à população que morre sem serviços de saúde, sem educação, sem perspectivas, iludidas nos campeonatos da insensatez vendidos pelas elites como o éden para os miseráveis que chafurdam em carnavais, big brothers, futebol e cervejas geladas.

    Continuem explorando o sangue e o suor de seus irmãos com ares de importância, apanágios de superioridade fria e falsa, e abominem àqueles que pensaram no próximo primeiramente antes de se locupletarem nos licores e prazeres embriagadores das paixões humanas.

  27. Alvaro Diz:

    Comentários como os de “Roberto Scur” e outros leitores deste blog são um retrato da condição intelectual dos brasileiros: Descaso e desrespeito total pela cultura, pelo estudo, pela pesquisa. Professor Jose Carlos, não perca seu tempo respondendo a esse idiota. Deixe-o acreditar nas asneiras que quiser. Cada um tem o que merece… Prossiga com seus excelentes estudos.

  28. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Tradicionalmente, afirma-se que o 666 é o “número da besta”. Tem um álbum do Iron Maiden – The Number of the Beast (1982), que faz referências ao tal número. Os metaleiros adoram!
    Bem, só por curiosidade, pesquisei na internet sobre o tal número e não encontrei uma boa explicação.
    No livro “A Caminho da Luz”, Emmanuel/Chico Xavier, obra de 1938, na página 128, consta:

    “Reza o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias por 42 meses, acrescentando que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e 18). Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo 30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260 anos comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, como o imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX, em 1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano, em face da evolução científica, filosófica e religiosa da Humanidade.
    Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos romanos, em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos, explicando os títulos de ‘VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS’ , ‘VICARIVS FILII DEI’ E ‘DVX CLERI’ que significam ‘Vigário-Geral de Deus na Terra’ , ‘Vigário do Filho de Deus’ e ‘Príncipe do Clero’.
    [agora vem o mais interessante] – Bastará ao estudioso um pequeno jogo de paciência, somando os algarismos romanos encontrados em cada título papal, a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles.
    Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para os destinos da Humanidade terrestre.”

    Assim, Vítor, o que me chamou a atenção é tal equação, que de fato resulta em 666, e a curiosidade de saber como o “danadinho” do Chico, o mineirinho de Pedro Leopoldo, sabia disso.
    Posso estar falando bobagem, não encontrei esta informação em nenhum outro livro e nem na internet.
    O Chico era danado mesmo!!!

  29. Juliano Diz:

    Roberto

    Com todo respeito, mas é lamentável o teu último comentário. É a crítica pela crítica. Só reforça quem pensa contrário as tuas opiniões.

  30. Carlos Diz:

    Eduardo,
    .
    A associação do número 666 ao “vigário-geral de Deus na Terra” data do século 15 (ver maiores detalhes na Wikipedia procurando “number of the beast” e depois “papacy”). Não era, portanto, nenhuma novidade quando o Chico Xavier/Emanuel escreveram A Caminho da Luz.

  31. Eduardo José Biasetto Diz:

    Valeu pela informação Carlos. De qualquer forma achei muito interessante esta informação do livro. Na verdade, o livro é muito interessante!
    Hoje em dia, com a internet qualquer tipo de pesquisa ficou bastante facilitada. Naquele tempo!

  32. Roberto Scur Diz:

    Juliano,

    Qual parte você considerou crítica pela crítica?
    Por acaso achas que devo aceitar que este senhor me peça mostrar-lhe se eu valho o sal que eu como sem cobrar-lhe satisfações sobre o emprego público que ele arrumou para pagar o seu rico sal e também suas intermináveis horas escrevendo artigos e resenhas que não têm nada a ver com sua função?

    Tenho direito a ficar indignado com este senhor. Se ele seguisse o exemplo de Chico Xavier, à quem combate e detesta, iria trabalhar em prol daquilo que ele acredita varando as madrugadas como fazia Chico em suas psicografias ou no atendimento aos necessitados que lhe procuravam pedindo notícias de entes queridos, assistências social de todo tipo, comiseração e fraternidade ao longo de toda a sua vida.

    Este mau cidadão teria muito o que explicar se fossem copiados deste blog as suas muitas participações em horário inapropriado e alguém cobrasse satisfações dos órgãos competentes. Talvez lhe coubesse uma demissão por justa causa e ele teria de comprar seus sal de outra maneira, talvez até tivesse que trabalhar mais.

    E o Vitor Moura, tão ávido de buscar falhas no caráter dos seus inimigos, é complacente e brando com os erros de seus pares. Os problemas se avulta em uma sociedade quando as pessoas se tornam lenientes com a corrupção, a desonestidade, a hipocrisia, e se locupletam com os que estão no poder apodrecendo as instituições e sufocando as massas, lhes conferem altos índices de popularidade, os reelegem, se submetem à devassidão como se não houvesse outra via, outra saída.

    Quem está sendo atacado por estas pessoas estiveram e estão aí para testemunhar que existem outros caminhos e que deve haver esperança em um mundo melhor, enquanto estes senhores estão servindo à quê, à quem? Que benefício trazem à sociedade?

    Só percebi esta realidade ontem, senão teria reclamado há muito tempo atrás. Como para se auto revelarem demoram muito tempo, se ocultam e só por descuido deixam vazar dados como este. Se fossem bem intencionados fariam uma apresentação de si próprios para que quem lesse o que eles escrevem soubessem de onde vinham as ideias.

  33. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur:

    Faça o seguinte: ao invés de ficar ladrando essas suas ameaças vazias e falsas (já que argumentos para debate, mesmo, o sr. não tem nenhum), me processe. Vá adiante. Levante todos esses dados, e me processe.

    JCFF

  34. Roberto Scur Diz:

    Quando um cão late o outro levanta as orelhas e late também.
    Foi o senhor quem latiu primeiro dizendo “… então cale-se, pois o sr. está entrando no campo da calúnia e da difamação, documentalmente demonstráveis.”
    Eu lhe apontei que está documentalmente demonstrável que fazem 3 anos que o senhor está no mínimo com um horário prá lá de flexível em sua repartição do Banco Central.
    Bom, quanto à processar-te, não é meu perfil. Jamais processei ninguém na minha vida e não iria debutar contigo neste tipo de pendenga jurídica. Se a tua consciência te absolve é isto que importa para quem têm fé na justiça de Deus.
    Me parece que se o senhor não der alguma explicação “plausível”, como gostas de usar, ficará nú.
    Mas isso é contigo.
    Boa Noite.

  35. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur:

    Quem lançou, e continua lançando mão, de calúnias e de ataques pessoais (já que, repito, não tem capacidade de articular uma única frase racionalmente inteligível, ou de montar um único argumento razoável) foi o sr. Portanto, se o sr. tem, de fato, confiança nas acusações que me faz (as quais, verdadeiramente, como o sr. próprio confessa, não passam de latidos), então reúna todas as informãções que diz ter, ou que diz ser possível obter, e me denuncie ao Ministério Público, ou então me processe. Faça isso, se for homem.

    JCFF.

  36. Roberto Scur Diz:

    JCFF,

    És afeito à duelos? Não era esta uma prática de séculos atrás nas sociedades mais primitivas?

    Que soberba! O senhor está nú, senhor JCFF, e pelado passa a dar ordens: faça isso, faça aquilo, cale-se, me obedeça senão não brinco mais, fim de amigo!

  37. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur:

    A soberba, e a nudez (além, claro, da covardia e da desfaçatez) é daquele que rosna e acusa, mas não tem como provar nada; que justamente rosna, acusa e calunia porque não tem nada, absolutamente nada, de sólido a oferecer. Olhe-se no espelho, e veja quem, de fato, é um pobre miserável, cego, surdo, nu, fanático e soberbo. Repito o meu desafio: se é homem, me processe. Mostre que, ao menos no que diz respeito ao sal que come, o sr. vale algo.

    JCFF.

  38. moizes montalvao Diz:

    Sr. Roberto Scur,

    Entrei hoje a ler as postagens nesse tema e surpreendeu-me deveras a sua técnica debatetiva. O Sr. Afirma que só leu um texto do Sr. José Carlos e deu por encerrada a avaliação. Ora, isso não é forma produtiva, nem adequada, de cotejar o trabalho de ninguém.

    Talvez por isso que esteja continuamente recorrendo a ataques ad hominem, em vez de questionar construtivamente o conteúdo do material em apreço.

    Com isso perdemos todos, pois em vez de depararmos análises sadias do estudo do Sr. José Carlos, o qual, em princípio pareceu-me inatacável, vislumbramos apenas ofensas, sem qualquer valor elucidativo.

    Creio que os que visitamos espaços quais o desse blog, desejamos ampliar nossos conhecimentos e acompanhar discussões profícuas e construtivas; e, sinceramente, acredito que sua pessoa, com sua afirmada “vocação para ciências exatas”, poderá nos brindar com explanações muito mais brilhantes do que as que atualmente vem prolatando.

    Aguardamos pois.

    Cordiais saudações.

  39. Carlos Diz:

    Moisés,
    .
    Permita-me fazer meu os teus comentários.

  40. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vou repetir um comentário que já fiz aqui. Debater possibilidades não envolve orgulho, ego e disputas pessoais.
    Acusações, muito menos!
    É lamentável o que se vê neste blog.
    Você Vítor, como criador do mesmo, deveria agir como mediador e não como um apaixonado, enlouquecido em provar suas ideias e teorias.

    Você diz:
    “O objetivo deste site é analisar cientificamente livros ou mensagens ditos “psicografados”, ou seja, escritos ou ditados por um suposto espírito através de um “médium”, apontando erros e acertos à luz da Ciência atual. Também busca analisar possíveis fontes de informação em que o médium teria se baseado para escrever a obra, possibilidades de plágio (fraude), de “plágio inconsciente” (também conhecido como criptomnésia), e mesmo a possível ocorrência de um genuíno fenômeno paranormal. Serão analisadas obras de médiuns famosos e menos conhecidos.”
    – Tal objetivo já se foi há muito tempo, pois o que se vê é uma discussão do tipo “quem pode mais”, algo que não acrescenta nada de interessante, nenhum conhecimento.
    – Já me despedi algumas vezes, mas agora que minhas férias acabaram e tenho mais de 1000 alunos sob minha responsabilidade, quero ver se crio vergonha na cara, e paro de perder tempo.
    Abraços a todos, que Deus nos abençoe e que a paz reine entre nós, porque brigar por crenças é uma grande bobagem.
    Saudações…

  41. Vitor Diz:

    Eduardo,

    deixei chegar ao ponto que chegou porque eu queria ver o Scur tecer a própria forca. Foi o que aconteceu. Eu sabia que não seria nada agradável, mas as manifestações de repúdio ao comportamento do Scur não tardaram. Muitos já perceberam que ele é ótimo em acusações, e péssimo em argumentos.

    Garanto que serei bem menos tolerante com ele daqui pra frente.

  42. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Scur:
    .
    Venho tentando de todos os modos chamá-lo à discussão produtiva, no que diz respeito aos meus textos relativos a pesquisas históricas sobre a existência de “Públio Lêntulo”, bem como à sua “carta”, no modo como é retratado na psicografia “Há Dois Mil Anos”, de Francisco Cândido Xavier. Sem sucesso.
    .
    Não vejo mais razões para prosseguir com essa troca de recados, que não está servindo em nada para o nosso mútuo esclarecimento, bem como o de todos os demais interessados no assunto. Portanto, esta será minha última mensagem endereçada ao sr., e eu a estou postando tanto no “Obras Psicografadas” quanto no “Ceticismo Aberto”, que são os dois campos em que o sr. despeja não os seus argumentos, mas os seus infundados ataques “ad hominem”. Nisso tudo, vejo apenas para o sr., sr. Scur (bem como para qualquer outro que pense como o sr.) apenas quatro possibilidades.
    .
    A primeira é simplesmente me pedir desculpas (coloco-a aqui apenas como possibilidade teórica, já que sei que o sr. não fará isso – fanáticos de mente embotada, como o sr., não costumam argumentar, muito menos pedir desculpas, já que estão sempre certos, e são os donos da razão – faculdade, aliás, que não usam…).
    .
    A segunda é simplesmente calar-se, e cessar suas acusações. Infelizmente, tenho também a impressão de que esta será também outra possibilidade meramente teórica…
    .
    A terceira é me processar. O sr. me vem fazendo uma série de acusações sobre o (suposto) uso que faço de meu tempo de trabalho. Muito bem. Ou elas são verdadeiras, ou são falsas. Se o sr. tem confiança na veracidade daquilo que me acusa, e se acha que a sociedade ficará melhor servida se isso for trazido à luz, e eu punido, então, sr. Scur, vá em frente: me processe. Não é difícil. Eu não uso apelidos; meu nome é esse mesmo, e o sr. sabe onde trabalho – pois, ao invés de usar sem tempo (livre?) para investigar “Lêntulo”, creio que o deve ter usado para investigar “JCFF”. Vá, pois, adiante; me processe, se o sr. for homem. Mas, se o fizer, agüente as conseqüências; uma vez iniciada essa via, eu a levarei até às últimas conseqüências, sem acordo de espécie alguma. Porque, ao contrário do sr., eu já tenho material explícito o bastante para EU processá-lo por calúnia e difamação. Mas não se preocupe; isso eu não farei, já que não quero transformá-lo num “mártir” – o sr. nem isso merece. Repetindo: se acha que estou blefando, então vá em frente: me processe.
    .
    A quarta, enfim, é o sr. tornar públicos seus argumentos (ARGUMENTOS) a respeito dos textos que escrevi, e referentes ao assunto já mencionado (AO ASSUNTO). Prontifico-me a examinar réplica, de sua parte ou de qualquer outro; feita somente pelo sr., ou pelo sr. em conjunto com quantos mais quiser; da extensão que for, que aborde especificamente o CONTEÚDO de meus trabalhos, réplica à qual responderei com satisfação, visando tão-somente o aprimoramento intelectual de todos nós – inclusive do meu, certamente. Mais ainda: se uma única réplica lhe parecer algo por demais trabalhoso, ou mesmo muito demorado, e se o sr. (sozinho, ou com outros) quiser analisar todos os meus textos, um a um, por partes, faça-o; leve o tempo que julgar necessário. Leia-os (ou releia-os, já que o sr. disse que os leu) e, à medida que, no texto, for encontrando dúvidas, ou for anotando incongruências, coloque-as em público, e discutiremos (de novo: em termos de pesquisa histórica, e ligadas ao CONTEÚDO dos trabalhos). Eu creio que o Vítor não se furtaria a abrir um tópico específico para isso no “Obras Psicografadas”; se ele não puder, achamos outro meio, público ou privado, preferencialmente público, a fim de que terceiros possam ter acesso a nosso debate, e a igualmente contribuir. Nesse espaço, nesse nicho, o sr. (sozinho, ou com outros, desde que os nomeie) poderia ir postando suas dúvidas, seus comentários, suas observações, seus arrazoados, suas contra-agurmentações, na medida do seu possível; e eu, também na medida do meu possível, as iria esclarecendo, ou respondendo, ou refutando – ou aceitando e concordando. Porque, se o sr. leu de fato meus trabalhos, bem como meus muitos comentários no “Obras Psicografadas”, sabe perfeitamente que eu reconheço meus erros; mais, os deixo explícitos, não os apago (caso, p.ex., apenas para lembrá-lo, já que o sr. sem dúvida leu, no caso da questão acerca de “Sulpício Tarquínio”, referente ao sr. Paulo Dias). Do mesmo modo, outros poderiam acompanhar, ou participar, dessa discussão (que eu não encararia, em absoluto, como uma “batalha”, mas sim como uma “troca de informações”). Mas, para haver “troca de informações”, é preciso que o sr. apresente as suas, coisa que, infelizmente, até ao momento, o sr. não fez.
    .
    Portanto, sr. Scur, o sr. tem quatro opções, e apenas quatro; uma delas o sr. terá que seguir. Eu, sinceramente, torço para que o sr. escolha uma específica dentre elas, uma determinada, que, creio, as pessoas já podem adivinhar qual seja. Não as decepcione, sr. Scur. Nem a mim. E, principalmente, nem ao sr. mesmo. Mostre que o sr. vale o sal que come.
    .
    Esta é minha última mensagem dirigida ao sr.; se houver próximas, serão especificamente centradas à análise do CONTEÚDO de meus textos.
    .
    JCFF.

  43. Flávio Josefo Diz:

    JCFF,
    O senhor diz:
    “Não vejo mais razões para prosseguir com essa troca de recados, que não está servindo em nada para o nosso mútuo esclarecimento, bem como o de todos os demais interessados no assunto.”
    Só que depois, o senhor mesmo desafia o Scur, diz pra ele ser homem!
    Então, JCFF, minha sugestão é que ambos deixem dessa “guerrinha” particular, com acusações e desafios bobos.
    A existência de um blog como este, sinceramente, não sei se tem alguma importância, algum significado produtivo. De qualquer forma, somos todos aprendizes. Poderemos estar certos em alguns conceitos ou até errados em todos eles.
    Não vale a pena gastar energia, tempo e emoção com uma “briguinha” estilo “adolescente rebelde”.
    De minha parte, respeito seus estudos e pesquisas, respeito também sua opinião, apesar de não concordar com elas. Como sugestão, só como sugestão mesmo, porque o senhor pode não dar a mínima por aquilo que penso, mas sugiro apenas, que o senhor quando passar seus textos, que o senhor seja mais humilde, ou escolha melhor certas palavras, porque, repito, se o senhor me permite dizer, em alguns textos, o senhor fez uso de uma certa arrogância e um certo menosprezo. Não estou falando isto como crítica maldosa, mas apenas indicando, de repente, uma postura que o senhor pode, se quiser, é claro, corrigir ou melhorar.
    É só uma sugestão, porque o senhor não me deve nada e a sua liberdade de expressão é sagrada, incontestável.
    Ok!

  44. Roberto Scur Diz:

    Sr. JCFF,
    À par de seus jornais mostrando tanta indignação, não lhe mando recados. Quando quero lhe dirigir um comentário inicio dizendo “JCFF” ou algo que o designe diretamente.
    As suas tentativas de me chamar a discussão não me obrigam a querer discutir consigo.
    Diante da minha inquirição sobre seu horário de expediente na repartição pública em que trabalhas, uma vez que observei recentemente que o senhor responde à qualquer hora do dia, ao longo dos anos, sem embargo, e que em seus comentários geralmente longos haverão de consumir boa dose de tempo, e também considerando que uma simples resposta sua dando conta de sua carga horária como funcionário do Banco Central teria encerrado a questão ou alguma explicação qualquer, o senhor optou por atacar-me ostensivamente me designando como alguém que não tem capacidade de articular uma única frase racionalmente inteligível, de ser covarde, de ficar ladrando (portanto, um cão), como alguém que não vale o sal que come e de ser um caluniador, bem, diante disto não há de se admitir que estejas tentando dialogar senhor JCFF, mas está querendo ameaçar, incutir temor, humilhar de alguma forma.
    Já lhe disse que o senhor se atribui demasiado valor à si mesmo, e pelas suas ameaças e vitupérios também demonstra crer que tenha grande poder sobre teus semelhantes, mas uma coisa é o que a pessoa acha de si mesmo e outra é o que ela realmente é. O senhor não têm poder nenhum sobre mim e não me dá ordens. Ponha-se no seu lugar e se controle, já que não pretendes esclarecer á questão do seu cartão ponto, e é um direito seu não querer revelar, mas convivendo em sociedade deveria saber que é também um direito meu questioná-lo sobre isso.
    Se isto o esta ofendendo sobremaneira pare de me dar ordens para processá-lo e faça o seu processo contra mim, à vontade, pois afirmas ter dados de sobra para isto. O senhor não me assusta e também tem meu nome e sobrenome para iniciar o trabalho, e não é este arremedo de comiseração para me privar de um martírio que o tornará uma vítima indulgente.
    Sobre meus argumentos quanto aos teus textos eu já os apresentei vários no blog onde travei contato com suas ideias. Agradeço a sua lhaneza de me oferecer generosamente opções a, b ou c como se eu estivesse num vestibular de múltipla escolha para me enquadrar nas suas definições do que seja certo ou errado. Cumpra com sua promessa de dirigir-me esta última mensagem sobre o assunto ou então simplifique tudo e mostre o quão injusto eu tenha sido dando conta da seu cartão ponto, senão, parafraseando-lhe, cale-se.

  45. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    .
    Sr. Flávio Josefo:
    .
    Eu sempre me ative a argumentos. Essa “guerrinha” não foi iniciada por mim; o sr. sabe muito bem disso, e o sr. próprio contribuiu para ela.
    .
    Mostre exatamente onde, em meus escritos, uso de “arrogância” e “menosprezo”. É fácil apelar para isso, quando não se têm argumentos.
    .
    Tudo o que disse para o sr. Scur serve igualmente para o sr.
    .
    JCFF.

  46. Roberto Scur Diz:

    E JCFF,
    Dentre suas acusações à única que não me referi ainda são estas em que o senhor tenta, sei lá o que exatamente, mexer com meus brios duvidando da minha masculinidade?!?
    Meu nome e Roberto Scur mesmo e não Massaranduba. Se eu fosse ele iria me acertar contigo na base da “porrada, porrada”.
    Esta, sinceramente, é atitude de moleque. Ouvia isto quando estava no primário

  47. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    .
    A todos:
    .
    A inversão do ônus da prova é uma velha tática diversionista de quem não tem argumentos. Quem afirma, deve demonstrar.
    .
    Quem acusa é que deve provar a acusação; se não, fica automaticamente caracterizada, se não judicialmente, então moralmente, a intenção de caluniar, de difamar e de retirar a discussão do seu foco.
    .
    Do mesmo modo,quem acredita na existência histórica de “Públio Lêntulo”, e a utiliza como suporte doutrinário (quer pessoal, quer dum grupo), dela extraindo ou derivando autoridade e exemplo, para si ou para os demais, é que deve provar que ele, de fato, historicamente, existiu. O resto é diversionismo.
    .
    JCFF.

  48. Roberto Scur Diz:

    Seu conhecimento jurídico está condenando à si próprio JCFF, pois o senhor deveria demonstrar que Publio não existiu e sabe que isto é impossível de ser confirmado “de facto” pois baseia suas afirmações em teses e documentos imcompletos da história, que dão algumas pistas, indícios inconclusivos.
    Bom, basta, chega desta lenga lenga. Não quero mais tratar deste assunto com o senhor.

  49. Flávio Josefo Diz:

    JCFF,
    Já que o senhor não demonstra um mínimo de humildade mesmo e se acha o tal, inclusive me desafiou como fez com o Scur, vou dar minha opinião sobre o semhor. Na verdade, nem é minha, pois é uma cola de um email que recebe de um amigo que já “frequentou” bastante o blog do Vítor, mas, por ser mais inteligente do que nós, caiu fora. Ele tem mais o que fazer! Isto é o que ele disse, e eu acho que ele está certo:
    “Estive refletindo sobre o jcff. Acho que ele é um barrigudo aposentado, licenciado, tem boa vida no trabalho ou é desempregado. O que ele faz é preparar todos os assuntos, cercando todas as possibilidades de questionamentos com dados e detalhes minuciosos, deixando tudo nos “meus arquivos”, pois a gente vê que ele é organizado e rápido nos contra-argumentos. Quando questionado ele faz a colagem do que já estava pronto, tira rapidinho o que não deve e manda aquela verborragia enjoada e capciosa, envolvente e cheia de registros históricos, de cujas fontes ninguém vai mesmo checar. Ele sabe disso. Ninguém, por mais genial que seja é tão rápido, fluente e excelentemente organizado se já não estiver pronto. Esperteza pura. Quando reclama de ataques ou xingamentos ele é muitíssimo menos acurado nas respostas, é breve – porque foi pego no contra pé – usa um português mais pobre na pressa de responder, fugindo do estilo rebuscado, esdrúxulo e verborrágico.

    Em outras palavras, está determinado e com idéia fixa, a derrotar o espiritismo através da história usando todas as artimanhas que conhece, mas peca por não conhecer nada em matéria de mediunismo, psicografia etc. Isso ele deixa para o Vitor, assim se complementam no plano macabro, que também rende-lhes alguns trocados.”
    E pra completar: JCFF, vai pentear macaco!

  50. Mozart Diz:

    Honestamente, se alguns aqui( leia-se Scur e F. Josefo) não são capazes de debater sem agredir seus interlocutores, deveria se abster de fazê-lo. Não se trata de defender ou difamar Chico ou o Movimento Espírita, mas de argumentar e contra-argumentar. Não vi aqui críticas satisfatórias ao trabalho apresentado. Além disso, supondo que o Chico de fato tenha sido uma fraude, que argumento teriam para torná-lo verídico? Uma inverdade não muda condição qualquer que seja a força do argumento.
    Sendo assim, caso as conclusões dos estudos aqui postados não agrade a alguns, seria minimamente prudente respeitar as horas de pesquisas empreendidas por aqueles que se dedicaram a realizá-las, ao invés de disparar infâmias de todo o gênero.

    Abraços a todos.

  51. Flávio Josefo Diz:

    Mozart,
    Se não é possível provar a mediunidade do Chico, também não é possível provar o contrário.
    Pra mim, o Chico foi médium, um dos melhores. Eu tenho provas, mas elas são particulares e é assim que funciona pra todos os crentes – “eis o mistério da fé”.
    O problema é que o JCFF é que começou, e o Vítor faz o mesmo, a ridicularizar com as crenças alheias e a ridicularizar com o Chico e o espiritismo em geral.
    O JCFF é católico, por que ele não se preocupa com a pedofilia que existe aos montes na história do catolicismo? Por que ele não se preocupa em pesquisar sobre as atrocidades cometidas pela Inquisição?
    Por que ele não se preocupa em pesquisar sobre as histórias bíblicas?
    Por que isto não interessa a ele né?
    Então, você diz de argumentos. Oras os argumentos são:
    O Chico era quase analfabeto e escreveu 400 livros.
    “Há Dois Mil Anos” e “Paulo e Estevão” são obras-primas.
    Os livros da série André Luiz contêm inúmeras informações sobre medicina e outras áreas do conhecimento humano, de significado destaque.
    O Chico passou a vida afirmando que recebeu estas informações dos espíritos. Passou a vida procurando fazer o melhor ao próximo e fez muito neste campo.
    Quem o conheceu afirma que sentiu uma paz, um conforto incomparável.
    Os centros espíritas ajudam muitas pessoas, as Casas André Luiz cuidam de crianças com inúmeras dificuldades.
    Há várias pessoas sérias, honestas, de caráter, profissionais competentes, que frequentam centros, afirmam conhecer a doutrina, experienciar sua veracidade.
    Mas aí, vem gente como o Vítor, o JCFF e outros dizendo que tudo isto é mentira. Menosprezando o espiritismo e o trabalho do Chico.
    Querem provas. Que provas?
    Aonde está a prova dos Dez Mandamentos, da Arca de Noé, do próprio Jesus Cristo?
    Por que rir das pessoas que acreditam na escrava Anastácia?
    Por que rir das pessoas que acreditam nas colônias espirituais? Na reencarnação?
    Se a Igreja critica a ideia de reencarnação e faço só uma pergunta: o que acontece com uma criança recém-nascida que morre. Ela vai pro céu e passará a eternidade sendo um bebê?

  52. Vitor Diz:

    Flávio Josefo,
    seus argumentos já foram rebatidos há eras.

    01. Chico não era quase analfabeto. Ele lia bastante, e há diversas cartas – escritas por ele próprio! – que o comprovam.

    02. “Há Dois Mil Anos” é uma fraude histórica completa e é um livro anti-semita que em parte plagia o livro “A Vida de Jesus” de Ernest Renan. O livro “Paulo e Estevão” ainda não li.

    03 – Nos livros de André Luiz pululam informações erradas. (Ver http://www.criticandokardec.com.br/erros1.htm)

    04. As provas da existência de Jesus já foram exaustivamente debatidas neste blog, no post “RESPOSTA AOS ARGUMENTOS MAIS COMUNS DOS ESPÍRITAS SOBRE O LIVRO HÁ DOIS MIL ANOS DE CHICO XAVIER”

    05. Ninguém aqui riu da reencarnação, das colônias espirituais ou da escrava Anastácia, nem menosprezamos o trabalho do Chico. Simplesmente estamos analisando os supostos fenômenos que ele apresentou. Essas acusações são apenas delírios de sua parte, invenções, nada que o senhor seja capaz de provar.

  53. Flávio Josefo Diz:

    Vítor,
    Tudo bem, o Chico não era quase analfabeto! Então, qual era a formação dele? Você acha, sinceramente, que uma pessoa que só faz até a 4ª série do primário, seria capaz de escrever tudo que ele escreveu?
    Os alunos, hoje em dia, com todos os recursos que as escolas oferecem, terminam o ensino médio e mal sabem fazer uma redação.
    O Chico lia, o Chico plagiava, o Chico trabalhava, o Chico dava assistência nos centros espíritas, o Chico escreveu mais de 100 mil páginas, o Chico tinha problemas de saúde, o Chico recebia pessoas em sua casa. Quantas horas tinha o dia do Chico?
    Vítor, você não é bobo. Uma pessoa pra escrever um livro precisa consultar, no mínimo dez, quinze bibliografia.
    Então, vamos supor que o Chico tenha consultado quatro, apenas quatro bibliografias pra cada livro que escreveu.
    Então, o Chico leu 1600 livros e escreveu 400 livros.
    Isto com tudo o que fez, paralelamente, é algo notável não é?

  54. Mozart Diz:

    Flávio Josefo

    Em primeiro lugar, Chico pode ter sido legítimo, claro. O problema é que Chico nunca foi realmente escopado de forma controlada. daí, em minha humilde opinião, se ele é legítimo ou não jamais saberemos objetivamente, uma vez que ele já é falecido. Assim concedo o benefício da dúvida.

    Segundo, se suas provas são particulares então elas não nos dizem respeito. Afinal, se apenas você experimentou uma situação e ela foi capaz de convencê-lo então que seja. Mas saiba que para critérios empíricos isso não suficiente. Caso contrário, as teorias e hipóteses científicas não teriam o mesmo valor caso não pudessem ser apreciadas e replicadas.

    Terceiro, se Chico foi um médium legítimo isso não quer dizer que ele não possa ter plagiado, ainda que inconscientemente, outras obras. Isso não implica má fé, pois pode ser inconsciente. Isso não diminui sua obra filantrópica, mas se queremos validar um fenômeno acho insuficiente.
    Quarto, para mim está bastante claro que Chico não era um semi-analfabeto. Muito pelo contrário, ele era um exímio autodidata. Conforme os livros publicados por marcel Souto Maior, ele era sim um devorador de livros. Que fique implícito aqui que não estou diminuindo o Chico, mas corrigindo algumas impressões errôneas.
    Quinto, relembrando o primeiro e o segundo argumento, se as pessoas sentem conforto com sua presença ou suas cartas para critérios empíricos isso não tem valor algum.

    Sexto, não estou me referindo ao Chico, mas pessoas da melhor índole, indôneas, não estão imunes à golpes e fraudes. A prova disso é que todo dia, milhares são lesados por toda a sorte de ilícitos.

    Sétimo, o papo aqui é sobre o Chico e não sobre religião x ou y. Acho que tanto Espiritismo, Protestantismo e Catolicismo oferecem consolo e sentido aos seus crentes. Eu, enquanto ateu, não busco conforto em credos, mas sim em fatos.

    Oitavo, honestamente não vi em nenhum lugar nos posts anteriores críticas contra a mediunidade e a reencarnação. A crítica feita foi unicamente em relalçao a uma obra. Somente. Eu, particularmente, acho que sejam fenõmenos possíveis, mas não me baseio por Chico. Existiram médiuns bem mais escopados, que forneceram evidências formidáveis de fenômenos, bem como observações controadas de casos sugestivos de reencarnação. Esses realizados sob critérios rígidos e controle experimental.

    Por fim, acho que o Movimento Espírita precisa se redescobrir. Chico pode ter sido legítimo, mas jamais saberemos. De forma similar, houve outros médiuns que foram muito bem avaliados, onde podemos fiar solidez e confiabilidade na obtenção de infomações por vias anômalas( sim, porque afirmar que a fonte das informações são espíritos não quer dizer que de fato sejam.).
    Abraços.

  55. Kirk Hammett Diz:

    Prezado Sr. Flávio Josefo,

    Não pretendo polemizar por meio deste blog, haja vista que a temperatura aqui já até subiu bastante, mas acho importante o trabalho do Vítor de divulgar evidências (toneladas e mais toneladas) de fraudes e erros nos livros de Chico Xavier e outros.
    O Sr. afirma: “Os livros da série André Luiz contêm inúmeras informações sobre medicina “. Quase tudo errado!!! Pelo menos o que li, Evolução em Dois Mundos, que, aliás, é um livro que fala de nada sobre coisa alguma, demonstra um conhecimento de biologia precário, rudimentar, com coisas totalmente sem sentido, misturado com misticismo barato, falando coisas como glândula pineal e mediunidade, sem comprovação alguma, e ainda por cima achar que isso é ciência. Não, ciência é bem outra coisa, ali não tem nada de ciência.
    Eu posso formular uma teoria de que a menstruação da baleia jubarte é a principal causadora do aquecimento global. Entretanto, se não tenho como testar a minha hipótese, se não tenho como apresentar evidências estatísticas, então o que eu tenho não é ciência, não é nada, é puro “achismo” ou especulação de minha parte. Essa é que é a questão !!! Ciência tem método !!! Existe uma metodologia científica que precisa ser seguida e respeitada, senão vira bagunça !! (Vale a pena ler os Textos Selecionados de Karl Popper, o grande pai do método científico).
    Desculpe-me, não quero ofender nem atacar a fé dos outros. Cada um pode acreditar no que quiser, é um direito constitucional. Este país tem isso de bom. Apenas quero fazer a distinção entre conhecimento científico e religião, entre ciência e espiritismo. Quer acredite-se ou não em psicografia, Emmanuel, etc., o que pode-se afirmar é que, no tocante ao conhecimento de biologia e medicina, os livros da série André Luiz são, para dizer o mínimo, muito fracos !!! Ali você não vai aprender nada sobre biologia ou medicina, absolutamente nada !!!

  56. Flávio Josefo Diz:

    Mozart e Kirk,
    Respeito e reflito sobre a opinião de vocês dois.
    Gostaria que vocês me apontassem todos os erros presentes nas obras citadas, inclusive corrigindo-os.
    Mozart, você diz:
    “Existiram médiuns bem mais escopados, que forneceram evidências formidáveis de fenômenos…”
    Gostaria que você me indicasse tais médiuns, pois me interesso.
    Até…

  57. Mozart Diz:

    Flavio Josefo

    Os médiuns em questão são: a norte americana Leonora Piper, a britânica Gladys osborne Leonard, o islandês Hafstein Bjornsson, dentre outros. Também recomendaria ler sobre o médium suíço Robert Rollans, que protagonizou um caso muito curioso, onde o indivíduo supostamente incorporado era um grão-mestre enxadrista.
    Além disso, os casos sugestivos de reencarnação foram muito bem estudados por Stevenson e cols., fornencendo boa evidência de fenômeno anômalo.

    Recomendo o livro Mediunidade e Sobrevivência de Alan Gauld, PhD. Ele reúne a melhor evidência sobre os fenômenos e faz uma análise crítica dos dados. Além disso, ele faz críticas pertinentes às crenças sem respaldo científico. Você poderá encontrá-lo facilmente no site http://www.estantevirtual.com.br.
    Recomendo também as obras de Ian Stevenson. Recentemente foram relançadas no Brasil.

    Visite também um site nosso:
    http://www.parapsi.blogspot.com

    Abraços e boa leitura.

  58. Eduardo Diz:

    Prezados,

    Para uma pessoa católica não existe a reencarnação e a mediunidade à maneira que acreditamos no espiritismo. Só isso me basta para saber que os estudos conduzidos com essa base religiosa visam encontrar evidências para comprovar que tudo (sobre reencarnação e mediunidade) ou é uma farsa ou tem uma explicação que passa longe do que diz a Doutrina Espírita.

    O criador do blog e seus colaboradores, pelo que vejo, só aceitam argumentos a luz do método científico. Oras, se a reencarnação não é uma teoria cientifica, nos moldes aceitos aqui, não há o que discutir, já que muito do que traz a Doutrina Espírita é feito com essa base. Não há como, penso eu, debater nesse blog da maneira como “desafiam” os espíritas. O espiritismo aqui é no máximo uma pseudociência.

    Pra mim, não sou o dono da verdade, a questão está fechada. Do ponto de vista da história documentada e aceita (existem muitos textos considerados apócrifos que não são aceitos, a exemplo da Epistola Lentuli) o Senador Publio Lentulus não existiu. Quando li na Enciclopédia Católica que ele é considerado uma ficção logo raciocinei que estando ali, a história documentada aceita é essa e pronto. Tenho a opinião de que se um dia for de interesse da Igreja Católica, isso poderia mudar, mas é só uma divagação de minha mente e não tenho nada documentado sobre isso. Antes que pensem que sou anti-católico saibam que fui educado a luz dessa religião e tenho grande respeito pela Igreja, pela pessoa que foi João Paulo II e pela força que sinto quando entro em muitas Igrejas. Só que muitos preceitos espíritas batem com o que penso e o que já “vi” e creio que, para o meu processo de vida, foi um grande acerto me aproximar de autores como Chico Xavier e Divaldo Franco (esse eu já tive o privilégio de assistir palestras ao vivo).

    Por isso que eu acho que um debate entre o JCFF e o Scur não tem como avançar. Não vejo o Scur “obedecendo” o JCFF para pesquisar. Acho que ele, o Scur, iria perder tempo, pois os livros aceitos pelos historiadores devem seguir na mesma linha da Enciclopédia Católica e pregam a não existência do senador romano, ou não devem fazer nenhuma referência, como mostra o JCFF no estudo. E, se o Scur achar algum documento, texto, ou quaisquer evidencias, estas serão logo refutadas por não fazer parte do Estado da Arte da história documentada.

    Como eu sou espírita, e sei de alguns “detalhes” que fazem o Scur crer na existência do Senador (que tb é minha crença, VEJAM que escrevi CRENÇA – logo não tenho documentos para provar) ele irá sempre escrever com essa tônica e, para quem é Espírita praticante ou não, será fácil até de entender a lógica e frases muito bem articuladas no tocante aos estudos deste blog.

    A briga entre o Scur e o JCFF talvez seja por esse motivo. O JCFF exigindo um estudo na linha do estado da arte da histórica e o Scur na linha de que a ciência é um conhecimento falível. Alia-se a isso a idéia de que para nós espíritas muito do que a Igreja considera apócrifo tem motivação mais política do que cientifica – não tenho tb documentos sobre isso, sendo esse um pensamento que sempre é destacado nas conversas no nosso meio, que é o meio espírita.

    Mesmo que haja bons documentos e muito material aceito, EU CONSIDERO, seguindo a linha do Scur, que a ciência está mais para as falhas do que acertos. Logo, para refutar os preceitos espíritas é preciso que tal discordância ultrapasse os limites da ciência, que por ser humana, já demonstra sua fragilidade e limitação. PARA NÓS ESPÍRITAS, me corrija Roberto se estiver escrevendo bobagens sobre a Doutrina, o espiritismo não pode ser refutado pela ciência atual justamente pq considera que a evolução da ciência irá se encontrar com a Doutrina e não refutá-la, mas isso é para o futuro e não para agora. Diga-se tb que a Doutrina seguirá essa linha de evolução, ajustando suas arestas. O Vitor poderá dizer “…isso mesmo, estou aqui mostrando onde devem corrigir as arestas, pois Chixo Xavier nunca foi medium..” ..rs.

    É por isso que esse tipo embate (Espiritismo X ciência atual aceita na história documentada – Scur X JCFF) me faz relembrar essa passagem do grande físico alemão Werner Heisenberg

    “Na história do pensamento humano os desenvolvimentos mais fecundos ocorrem, de um modo geral, quando duas correntes totalmente distintas se encontram. Estas correntes podem radicar em zonas bastante diferentes da cultura humana, em tempos ou meios culturais diferentes, ou até em diferentes tradições religiosas; assim, se de fato se chegam a encontrar, ou seja, se de fato são pelo menos tão aparentadas que uma verdadeira relação possa ter lugar, só se pode esperar que novos e estimulantes progressos se sigam.”

    Ainda é cedo para conceder grau de certeza para quaisquer estudos e pensamentos. Ainda temos muito que trilhar tanto no que concerne ao Espiritismo quando à ciência humana.

    Sds

    Eduardo

  59. Eduardo Diz:

    JCFF,

    Em coversas com vc a um tempo atras vc escreveu que iria pesaquisar mais sobre a Epistola Lentuli. Vc fez ou está fazendo?

    Vc tb cita bastante o Santo Sudário, que me parece vc não tem muita crença que seja uma peça legítima. Haverá um estudo tb sobre isso?

    Tenho tido pouco tempo para acompanhar o blog e devo ter menos tempo ainda, mas vou ler sua resenha sobre o livro do Pedro Campos. Acho que vc deverá ler com atenção e vai estudar, pelo menos é o que penso.

    Sds

  60. Flávio Josefo Diz:

    Vítor,
    Eu só queria que você me respondesse às seguintes perguntas:
    1º) Você não acredita em nada do que o Chico produziu, como algo relacionado a mediunidade?
    2º) Você faz uso de seus conhecimentos e estudos para postar diversas matérias em sites e blogs, muitos deles espíritas. Isto não é contraditório?
    3º) Você acredita no Stenvenson ou nos “médiuns holandeses”? Porque também vejo contradição nisto!
    4º) Você postou um comentário [“comkardec.com”] – “Por muito tempo os céticos buscam apoio no famoso desafio do mágico James Randi como uma prova de que o paranormal não existe. Esse desafio dará 1 milhão de dólares a quem demonstrar um fenômeno paranormal em situações controladas. Como ninguém até hoje passou no desafio, então o paranormal não existe. Correto?
    Errado. Em primeiro lugar, não é todo tipo de alegação paranormal que o Randi testa, e isso é admitido na cláusula 16 do seu Desafio …”
    — Agora não entendi mais nada! Você está criticando os céticos. Mas você não é cético???
    Saudações!

  61. Vitor Diz:

    Flávio Josefo,

    1º) Exato.

    2º) Não. São casos e estudos diferentes.

    3º) Acredito em Stevenson. Embora concorde com os médiuns holandeses que Deus não exista, muito do que eles dizem vejo como equivocado ou não comprovado.

    4º) Sou um crítico.

  62. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:


    Sr. Eduardo:

    Seguem comentários sobre sua mensagem (após o “###”

    Para uma pessoa católica não existe a reencarnação e a mediunidade à maneira que acreditamos no espiritismo. Só isso me basta para saber que os estudos conduzidos com essa base religiosa visam encontrar evidências para comprovar que tudo (sobre reencarnação e mediunidade) ou é uma farsa ou tem uma explicação que passa longe do que diz a Doutrina Espírita.

    ### Pode-se dizer que sim, para uma pesquisa de base religiosa, ou apologética. Mas não, necessariamente, para uma pesquisa referente à evidenciação histórica.

    O criador do blog e seus colaboradores, pelo que vejo, só aceitam argumentos a luz do método científico. Oras, se a reencarnação não é uma teoria cientifica, nos moldes aceitos aqui, não há o que discutir, já que muito do que traz a Doutrina Espírita é feito com essa base. Não há como, penso eu, debater nesse blog da maneira como “desafiam” os espíritas. O espiritismo aqui é no máximo uma pseudociência.

    ### Não posso responder pelo sr. Vítor Moura; quanto a mim, eu não aceito argumentos apenas “à luz do método científico” (aliás, qual método científico? A replicação popperiana? Mas, então, qualquer pronunciamento sobre como as coisas foram “no passado” passa a ser “não científico”, porque não é replicável…). Mas eu respeito (ou, ao menos, faço os maiores esforços para respeitar), dentro de suas áreas de competência, os diferentes métodos para os diferentes “ramos de conhecimento”. Se se está querendo demonstrar o Teorema de Pitágoras, então devem ser utilizadas metodologias próprias da Matemática; se se está realizando uma investigação histórica acerca dos pitagóricos, então os métodos históricos é que deverão ser utilizados. Simples assim. Se se está pesquisando sobre a existência histórica de “Públio Lêntulo”, bem como sobre a autenticidade de sua “carta”, tratam-se de fatos históricos (ou reputados como tais), e devem ser estudados mediante a metodologia de evidenciação histórica. Mais uma vez, simples assim.

    Pra mim, não sou o dono da verdade, a questão está fechada. Do ponto de vista da história documentada e aceita (existem muitos textos considerados apócrifos que não são aceitos, a exemplo da Epistola Lentuli) o Senador Publio Lentulus não existiu. Quando li na Enciclopédia Católica que ele é considerado uma ficção logo raciocinei que estando ali, a história documentada aceita é essa e pronto. Tenho a opinião de que se um dia for de interesse da Igreja Católica, isso poderia mudar, mas é só uma divagação de minha mente e não tenho nada documentado sobre isso. Antes que pensem que sou anti-católico saibam que fui educado a luz dessa religião e tenho grande respeito pela Igreja, pela pessoa que foi João Paulo II e pela força que sinto quando entro em muitas Igrejas. Só que muitos preceitos espíritas batem com o que penso e o que já “vi” e creio que, para o meu processo de vida, foi um grande acerto me aproximar de autores como Chico Xavier e Divaldo Franco (esse eu já tive o privilégio de assistir palestras ao vivo).

    ### A não existência (ou, melhor dizendo, a extrema implausibilidade da existência) de “Públio Lêntulo”, bem como o caráter “apócrifo” (aqui no caso como sinônimo de “falso”) de sua “carta”, não são conclusões “católicas”; são conclusões históricas, oriundas do consenso entre os historiadores (sejam eles católicos ou não, crentes ou não), mediante a aplicação da metodologia da investigação histórica. Quanto a isso, a “Catholic Encyclopaedia” simplesmente segue tal consenso – como, aliás, tem que seguir. O conteúdo da “carta”, em si, não fere nenhum dogma católico, antes pelo contrário: “confirmaria” a “physiognomia Christi” canônica. Mas, do ponto de vista da investigação histórica, tanto a autenticidade da “carta” quanto a existência de seu “autor” encontram, no mínimo, e sendo bem piedoso, dificuldades insuperáveis. Note bem, sr. Eduardo: não existe “metodologia de evidenciação histórica católica”, ou “atéia”, ou “espírita”. Existe “metodologia de evidenciação histórica”, e só. Não adianta inventar uma “jabuticaba”, sob medida, para tentar “enquadrar” o que queremos. Diante da investigação histórica, “Públio Lêntulo” é uma personagem de ficção, sua “carta” é apócrifa (= falsa); diante da mesma metodologia, o Sudário de Turim é apócrifo (= falso); diante da mesma metodologia, as alegações de que Constantino o Grande e o concílio de Nicéia é que “divinizaram” Jesus e “estabeleceram o cânone” bíblico são flagrante e demonstravelmente falsas, etc. Essa é a realidade. Se o sr., ou eu, a aceitamos ou não, isso pouco importa – ela continuará sendo a realidade; ela NÃO SE CURVARÁ às nossas expectativas. Estudar a realidade, sr. Eduardo, é, no fundo, uma longa, grande e proveitosa lição de humildade.

    Por isso que eu acho que um debate entre o JCFF e o Scur não tem como avançar. Não vejo o Scur “obedecendo” o JCFF para pesquisar. Acho que ele, o Scur, iria perder tempo, pois os livros aceitos pelos historiadores devem seguir na mesma linha da Enciclopédia Católica e pregam a não existência do senador romano, ou não devem fazer nenhuma referência, como mostra o JCFF no estudo. E, se o Scur achar algum documento, texto, ou quaisquer evidencias, estas serão logo refutadas por não fazer parte do Estado da Arte da história documentada.

    ### Em primeiro lugar, deixe-se claro que não houve nenhum tipo de “debate” entre mim e essa pessoa. Especificamente sobre os “livros aceitos”, volto ao que antes comentei: pode haver uma “história espírita” no sentido de que seu tema seja o Espiritismo, sua origem e evolução (e isso também para o Catolicismo, para o ateísmo, ou para qualquer corrente filosófico-religiosa, como aliás para tudo); mas NÃO EXISTE uma metodologia de evidenciação histórica “espírita”, ou “católica”, ou “atéia”, etc. Se forem encontrados documentos confirmando a existência de “Lêntulo”, então eles serão levados em consideração, ou não, dentro da metodologia de evidenciação histórica. O mesmo para o Sudário de Turim. O mesmo para tudo. Essas são as regras do jogo.

    Como eu sou espírita, e sei de alguns “detalhes” que fazem o Scur crer na existência do Senador (que tb é minha crença, VEJAM que escrevi CRENÇA – logo não tenho documentos para provar) ele irá sempre escrever com essa tônica e, para quem é Espírita praticante ou não, será fácil até de entender a lógica e frases muito bem articuladas no tocante aos estudos deste blog.

    ### O sr. pode acreditar no que quiser; só não pode dizer que isso é histórico quando não é, e nem inventar uma “metodologia histórica espírita” para dizer que, à sua luz, isso esteja “evidenciado”. Se, de acordo com os “detalhes” aos quais o sr. alude, o sr. preferir acreditar na existência de “Lêntulo”, bem como na de sua identidade com “Emanuel”, mesmo que todo o consenso histórico aponte não apenas para a sua extrema implausibilidade (no caso de “Lêntulo” considerado sozinho) mas mesmo total impossibilidade (no caso de “Emanuel” – dados os erros que ele comete ao descrever a sociedade romana), isso é um problema de foro íntimo seu. Eu, nessa situação, simplesmente não conseguiria manter essa crença, já que, para mim, uma crença, por mais bela, consoladora e mesmo útil que venha a ser, não pode ter esse tipo de fundamento, esses “pés de barro” (e estou sendo bem otimista, e piedoso, quando uso essa expressão, “pés de barro”…). No mínimo, eu “suspenderia o juízo” quanto a essa questão, e procuraria me lançar em pesquisas adicionais. Nem que isso demorasse anos. A verdade (a meu ver) vale esse esforço. Note bem, sr. Eduardo: suspenderia o juízo QUANTO A ESSA QUESTÃO, não, necessariamente, no que dissesse respeito às minhas outras crenças. Eu, pessoalmente, creio que nem “Públio Lêntulo”, e nem mesmo “Chico Xavier”, resumem o Espiritismo. Rever os posicionamentos no que diz respeito a esses itens não seria algo (a meu ver) que, necessariamente, enfraqueceria o Espiritismo; poderia até mesmo fortalecê-lo – enfraqueceria, é claro, UM CERTO TIPO de Espiritismo, que, talvez, não mereça mesmo continuar existindo. Mas isso tudo, é claro, trata-se apenas duma opinião pessoal.

    A briga entre o Scur e o JCFF talvez seja por esse motivo. O JCFF exigindo um estudo na linha do estado da arte da histórica e o Scur na linha de que a ciência é um conhecimento falível. Alia-se a isso a idéia de que para nós espíritas muito do que a Igreja considera apócrifo tem motivação mais política do que cientifica – não tenho tb documentos sobre isso, sendo esse um pensamento que sempre é destacado nas conversas no nosso meio, que é o meio espírita.

    ### Nenhum conhecimento é infalível; mas cada área de conhecimento tem suas metodologias próprias, que devem ser utilizadas. Não se pode demonstrar o Teorema de Pitágoras apelando exclusivamente para métodos históricos; e nem estudar os pitagóricos mediante a demonstração matemática do citado Teorema. A evidenciação histórica já acumulou, ao longo dos últimos 400 anos, evidências tais, cumulativamente, que tornam a aceitação de “Públio Lêntulo” e de sua “carta” impensável – goste-se ou não. Simples assim. O problema é que Xavier não sabia disso, já que tinha acesso limitado a informações. Paciência. Ou o movimento espírita aceita isso (e lida com isso), ou continua tentando “tapar o sol com uma peneira”, distanciando-se, mais e mais, da “fé raciocinada” que diz esposar. Especificamente acerca da palavra “apócrifo”, ela pode ter muitos sentidos, e isso talvez esteja causando alguma confusão. Muito simplificadamente, pode-se dizer que “apócrifo” pode significar tanto aquilo que é rejeitado num cânone, por motivos religiosos e teológicos, quanto um documento “falso”, forjado. No caso específico da “carta de Lêntulo”, ela é considerada, pela Igreja Católica, “apócrifa” nos dois sentidos. Para a historiografia, ela (obviamente) é considerada “apócrifa” apenas no segundo sentido. E é nesse segundo sentido que ela é tomada em meus escritos. Eu não escrevo (ao menos, não escrevo aqui) acerca de assuntos filosófico-religiosos, e não utilizo, portanto, metodologias de índole filosófica e religiosa. Todos os meus trabalhos dizem respeito à evidenciação histórica para a existência duma personagem específica, e dum documento específico. Só isso. Por causa disso, utilizo as metodologias apropriadas, de evidenciação histórica que devem ser utilizadas por QUALQUER UM, católico ou espírita, crente ou ateu, que queira se aventurar nessa seara. Se eu não fizesse isso, se não utilizasse tal metodologia, meus trabalhos não poderiam ser classificados como “pesquisa histórica”. Seriam filosóficos, teológicos, apologéticos, ou algo do gênero – o que eles não são. Aqui, não me interessam as crenças, minhas ou de outros. Estamos no campo histórico, não doutrinal.

    Mesmo que haja bons documentos e muito material aceito, EU CONSIDERO, seguindo a linha do Scur, que a ciência está mais para as falhas do que acertos. Logo, para refutar os preceitos espíritas é preciso que tal discordância ultrapasse os limites da ciência, que por ser humana, já demonstra sua fragilidade e limitação. PARA NÓS ESPÍRITAS, me corrija Roberto se estiver escrevendo bobagens sobre a Doutrina, o espiritismo não pode ser refutado pela ciência atual justamente pq considera que a evolução da ciência irá se encontrar com a Doutrina e não refutá-la, mas isso é para o futuro e não para agora. Diga-se tb que a Doutrina seguirá essa linha de evolução, ajustando suas arestas. O Vitor poderá dizer “…isso mesmo, estou aqui mostrando onde devem corrigir as arestas, pois Chixo Xavier nunca foi medium..” ..rs.

    ### De novo, a questão da “jabuticaba” histórica espírita…

    É por isso que esse tipo embate (Espiritismo X ciência atual aceita na história documentada – Scur X JCFF) me faz relembrar essa passagem do grande físico alemão Werner Heisenberg

    “Na história do pensamento humano os desenvolvimentos mais fecundos ocorrem, de um modo geral, quando duas correntes totalmente distintas se encontram. Estas correntes podem radicar em zonas bastante diferentes da cultura humana, em tempos ou meios culturais diferentes, ou até em diferentes tradições religiosas; assim, se de fato se chegam a encontrar, ou seja, se de fato são pelo menos tão aparentadas que uma verdadeira relação possa ter lugar, só se pode esperar que novos e estimulantes progressos se sigam.”


    ### Muito interessante, e bonito, mas não consigo ver relação direta disso com o que se está aqui estudando. O “espírito-guia” alegou FATOS acerca duma de suas encarnações passadas, fatos esses que usou para estabelecer sua autoridade, e fatos esses que, POR SEREM FATOS, por terem (pretensamente) ocorrido efetivamente no passado, podiam (e podem, e poderão sempre) ser investigados historicamente. Só isso. O problema, a meu ver, é que, na ocasião, os espíritas não realizaram qualquer tipo de investigação minimamente decente sobre o assunto (e poderiam tê-lo feito, como já demonstrei aqui), aceitando acriticamente, como carneiros, as alegações (algo aliás já esperado, dada a atmosfera cultural desse nosso país); isso criou, ao longo de décadas, uma situação tal que admitir a verdade, agora, é algo extremamente embaraçoso, para se dizer o mínimo. Daí todo o ódio, toda a vilania, todos os ataques “ad hominem” e todas as manobras diversionistas que se despejam quando a situação passa a ser investigada nos termos em que deveria ter sido, desde o início, e pelos próprios espíritas (que, mais uma vez isso seja lembrado, é que têm que demonstrar que Lêntulo existiu, e que era “Emanuel”). Mais uma vez – simples assim.

    Ainda é cedo para conceder grau de certeza para quaisquer estudos e pensamentos. Ainda temos muito que trilhar tanto no que concerne ao Espiritismo quando à ciência humana.

    ### Concordo.

    ### Sobre pesquisas adicionais acerca da “Epistula Lentuli”, tenho muitíssimo material, mas que ainda está sendo organizado, checado e rechecado. As coisas são assim. Eu ainda não terminei o que tinha que escrever sobre isso. De qualquer modo, a necessidade de responder a algumas questões interessantes colocadas aqui no “Obras Psicografadas” me desviaram um pouco dessa organização, e agora temos o caso do livro do sr. Campos (eu o recebi na 6ª feira última, por encomenda na “Cultura”); já lhe passei os olhos “em diagonal”, anotei os capítulos e temas, bem como as linhas gerais de argumentação utilizadas e as fontes que as embasam, e, ao longo das próximas semanas, no meu tempo livre (embora alguns não acreditem nisso!…), iniciarei a leitura detalhada, a checagem das fontes, a avaliação do escopo dos argumentos, os possíveis contra-argumentos, a rechecagem da situação tal como se encontra atualmente (se houve alguma novidade no campo da epigrafia, da papirologia, ou de quaisquer das ciências auxiliares), etc. Já tenho uma impressão geral da obra, mas seria prematuro discutir isso agora. Quanto ao Santo Sudário, tenho muitíssimo material acerca daquele trapo de linho. Não há nem necessidade de testes de carbono-14, basta apenas um estudo profundo das evidências históricas para descartá-lo como “apócrifo”… Eu pretendo incluir uma boa parte desse material na continuação de minha pesquisa sobre a Carta de Lêntulo, a qual, como o sr. deve se lembrar, parou na análise da origem da “physiognomia Christi”. Mas isso terá que esperar. Sds,

    JCFF

  63. Roberto Scur Diz:

    Eduardo,
    Aguarde a posição que terá de externar o JCFF em relação à obra de Pedro de Campos pois tratará, suponho, de manifestar todo a sua pretensão de criar um sincretismo histórico como se ele detivesse todo o poder e material para assim o fazê-lo.
    Como ele terá obrigatoriamente de ler o livro para poder refutá-lo, primeiramente não poderá mais dizer que os espíritas não fizeram um trabalho de pesquisa histórica, visto que Pedro de Campos é espírita, e em consequência se verá obrigado a constatar que a honestidade dos argumentos apresentados por ele deixá-lo-ão na desconfortável posição de ter feito afirmações categóricas, taxativas, sem ter consultado os mesmos registros históricos, e que, segundo a sua retórica exegese, eram mais do que suficientes para atestar a completa implausibilidade (sic! seria melhor ele usasse implausível) da existência de Publio, mas que através desta obra se revelam incompletos e muitas vezes totalmente dispensáveis para o estudo do tema em questão.

    Por exemplo, qual a real necessidade da exposição de todos estes argumentos detalhados sobre as cartas de Plínio o Moço? A princípio a ideia seria, ao meu entender, refutar argumentos do professor de história que aponta a fragmentária recuperação de registros em se tratando de história, mas em meio a proliferação de parágrafos muito interessantes sobre os personagens citados ele faz um misto de “bate e assopra” na comparação com o personagem Publio Lentulus.

    Ele afirma várias vezes que Publio é “fantasmagórico” mas não pode se omitir de esclarecer que “não pode dar absoluta certeza sobre isto”, mas embora faça uma ginástica mental para acomodar esta realidade insofismável, de que não pode dizer que Publio não existiu, em absoluto, faz no correr dos parágrafos uma condução do leitor para a confirmação desta inexistência.

    A obrigação que terá de ler o livro, que ele não leu, ou leu “diametralmente”, e não gostou, fará com que ele divise um trabalho de inquirição histórica muito mais profundo e principalmente, muito mais honesto do que o que ele empreendeu até agora, e a conclusão dependerá não desta alegada precisão científica histórica, mas do foro íntimo de cada um, pois não há dados definitivos que concluam pela existência de Publio assim como não há fatos de mesmo teor sobre a existência do próprio cristianismo, haja visto que não há na história registrada meios de aceitar como cabais, definitivos e portanto, científicos, a existência dos próprio evangelhos canônicos pois “ninguém viu os originais” destes escritos e além do mais eles “não foram escritos pelos apóstolos que conviveram com Jesus”, mas por futuros discípulos que ouviram as história sobre o Mestre e as transcreveram nos papiros que foram posteriormente copiados, recopiados, traduzidos, retraduzidos, e adulterado em muito pelos interesses escusos da Igreja Católica ao longo dos séculos, e principalmente durante o período negro da Inquisição que durou 7 séculos. Viesse esta mesma Igreja, hoje em dia, apresentar os documentos mais originais que deram origem as suas traduções, e poderíamos encontrar novas importantes informações, mas talvez isto viesse a trazer à baila a desonestidade desta instituição milenar que os adulterou à soldo destes mesmos interesses de hegemonia e poder mundano.

    Copio aqui, pedindo perdão ou arcando com as consequências se instado for, de copiar um pequeno parágrafo do livro de Pedro de Campos no final do belíssimo capítulo em que trata da Epístola Lentuli:
    “Não há como mudar a situação atual de que Públio Lentulus existiu e foi autor da Epístola Lentuli, pois a prova substancial de sua existência é a carta. Corroborando a carta, estão os testemunhos que remontam ao primeiro século da Era Cristã, conforme mostramos. E, finalmente, a psicografia de Chico Xavier, pois a comunicação dos espíritos é tida hoje no Brasil como fato prático, constatável nas sessões espíritas, independente da crença adversária e da opinião cética sem o fundamento científico capaz de explorar a mente interagindo com outras inteligências imponderáveis além do cérebro humano”.

    Quem desejar se aprofundar bastará ler o livro estudando-o, pois os registros que o JCFF teima por considerar como suficientes na verdade não o são e estão incompletos, mas, fazer o quê né? No livro apresenta argumentos à favor e contra a aceitação da existência de Publio, baseado em maior parte nos registros históricos e não, como poder-se-ia pensar, nos ditados mediúnicos. Como disse a decisão será sempre de foro íntimo, à favor ou contra, assim como é de foro íntimo crer em Jesus Cristo ou não, apenas, de minha parte, folgo em saber que Publio está muito bem acompanhado nesta opção de escolha ou de dúvida.

  64. Eduardo Diz:

    JCFF,

    “Quanto a isso, a “Catholic Encyclopaedia” simplesmente segue tal consenso”

    Eu sei, por isso que não duvidei quando li seus estudos.
    ——————————————
    “…ela continuará sendo a realidade; ela NÃO SE CURVARÁ às nossas expectativas.”

    Eu não disse que a ciência deveria se curvar às minhas crenças, apenas disse que tenho esse lado da crença.
    ——————————————–
    “sr. pode acreditar no que quiser; só não pode dizer que isso é histórico quando não é, e nem inventar uma “metodologia histórica espírita” para dizer que, à sua luz, isso esteja “evidenciado”.”

    Eu disse isso? Inventei uma “metodologia espírita”? Errei se disse. Não tenho essa pretensão.
    ————————————————-
    “Eu, nessa situação, simplesmente não conseguiria manter essa crença, já que, para mim, uma crença, por mais bela, consoladora e mesmo útil que venha a ser, não pode ter esse tipo de fundamento, esses “pés de barro” (e estou sendo bem otimista, e piedoso, quando uso essa expressão, “pés de barro”…

    Não dá para falar com uma pessoa que não é Espírita sobre a crença na Doutrina. Entendo seu posicionamento, mas essa não é a sua praia, acredito.
    ——————————————————
    “No mínimo, eu “suspenderia o juízo” quanto a essa questão, e procuraria me lançar em pesquisas adicionais. Nem que isso demorasse anos. A verdade (a meu ver) vale esse esforço.”

    Em alguns campos do conhecimento claro que sim. Agora mesmo estou me preparando para mais uma empreitada forte nesse sentido. Se o bom Deus me permitir em breve estarei “ralando”, pois não haverá dispensa do trabalho e vou conciliar minhas noites e finais de semana com o estudo aprofundado de um tema. Já estou realizando leituras sobre uma teoria para fundamentar meu trabalho. Mas, sobre Chico Xavier, eu não penso em fazer quaisquer estudos. Não vejo necessidade.
    ——————————————————
    “Todos os meus trabalhos dizem respeito à evidenciação histórica para a existência duma personagem específica, e dum documento específico.”

    Eu sei disso. Está bem claro nos seus escritos.
    ——————————————————–
    “Muito interessante, e bonito, mas não consigo ver relação direta disso com o que se está aqui estudando.”

    Se vc tivesse identificado alguma relação já teria ocorrido a convergência de pensamentos. A passagem foi só um pensamento que tive, nada mais.
    ———————————————————–
    “De novo, a questão da “jabuticaba” histórica espírita…”

    Não vejo vc como aquele que pode emitir opiniões acerca da Doutrina. Falta-lhe a vivência Espírita para tal intuito.
    ———————————————————-
    Depois volto para ler sobre o livro do Pedro Campos.
    ————————————————————-
    Por fim repito que não tenho evidencias históricas sobre o tema. Seu estudo foi um guia para que eu conhecer o pq da Enciclopédia Católica considerar Publiu Lentulus um personagem fictício. Eu li por curiosidade e não como fonte de estudos. Minha linha de estudo é outra.
    ————————————————————-
    Boa sorte e parabéns pela pesquisa histórica.

  65. Eduardo Diz:

    Roberto,

    É uma tarefa difícil convencer um não espírita sobre algumas crenças que temos. Eles nunca aceitam. Querem que aceitemos todos os argumentos deles, mas os nossos não valem muito, se é que valem. Eu tenho bastante contato com pessoas católicas e protestantes e sempre encontro essa dificuldade. Mas eu percebo uma curiosidade forte sobre os pontos da Doutrina, mesmo com o ceticismo. Veja que eles lêem alguma coisa sobre Chico Xavier e até Kardec.

    Acho que vc já vivenciou alguns fenômenos e entende o que falo. Mas tem alguns pontos que os céticos tocam que devem ser levados em consideração. Eu concordo com a crítica que o JCFF faz sobre a FEB aceitar tudo sem investigar. Não acho que deveriam investigar. Essa “ordem” não tem um pq para ser acatada. Mas poderiam indicar logo nas primeiras páginas que os livros não foram estudados do ponto de vista da ciência formal e que os leitores devem ter em mente essa questão. De certo modo eu sempre leio a literatura espírita sabendo disso, mas não há iniciativa do movimento nesse sentido. Vejo muitos tomando como verdades tudo o que lê ou escuta nas palestras. Não concordo com essa postura.

    Veja como o estudo do JCFF despertou em nós um interesse maior por questões espíritas. Eu mesmo fiquei curioso, qdo tive o primeiro contato com o blog, em saber de onde foram retiradas as fontes históricas aqui trazidas. Queria conhecer um pouco da fonte que deu base a Enciclopédica Católica e aqui encontrei.

    “Como disse a decisão será sempre de foro íntimo, à favor ou contra, assim como é de foro íntimo crer em Jesus Cristo ou não, apenas, de minha parte, folgo em saber que Publio está muito bem acompanhado nesta opção de escolha ou de dúvida.”

    Esse seu escrito bate com o que penso. Estamos juntos nesse pensamento que o “insano” Chico nos presenteou.

    A cada leitura que faço a favor ou contra eu fico mais impressionado com Chico Xavier. Que ser humano foi esse? Que exemplo de vida que tivemos.

    Abraços

    Eduardo

  66. Eduardo José Biasetto Diz:

    Olá a todos,
    Já me despedi algumas vezes do blog, mas acabei voltando, pois achei que poderia ser uma voz a mais na defesa do Chico e dos crentes em geral.
    Mas agora estou bem à vontade pra ir pra valer.
    Tem o Scur, esse guerreiro, alguém elogiável, no mínimo, por sua fé e sinceridade.
    E que gratificação: surgiu o Eduardo aí, um xará, muito dez, que não só me substitui, como me supera, tranquilamente!!!
    Ele escreveu:
    “A cada leitura que faço a favor ou contra eu fico mais impressionado com Chico Xavier. Que ser humano foi esse? Que exemplo de vida que tivemos.”
    – Acertou em cheio! É exatamente aí, que me pego em acreditar na honestidade da mediunidade dele.
    – Agora o Vítor eu não entendo mesmo. Analisando as respostas que ele deu ao Flávio Josefo, ainda não consegui chegar a uma conclusão sobre ele. Vejamos:
    1º) Ele não acredita no Chico, mas faz comentários em blogs espíritas, onde a primeira figura que aparece lá, é exatamente uma foto do Chico. Não entendo também, como os criadores de um blog assim, dão espaço a uma pessoa que só quer arrasar com o Chico.
    2º) O Vítor acredita em reencarnação, obviamente acredita em espírito, mas não acredita em Deus. A questão é: quem criou os espíritos? Porque dá até pra entender, dentro de um contexto biológico, químico, o surgimento da vida. Agora dos espíritos!!!
    3º) O Vítor acredita nos estudos sobre reencarnação, mas também quer dar crédito àqueles “médiuns holandeses” completamente doidos! Oras Vítor, não tem essa de algumas coisas que dizem são válidas. Ou eles merecem crédito ou não!
    4º) O que esse blog só sabe fazer é falar do Chico. E olha que o Vítor já se diz convencido que o Chico foi uma fraude total. Então, por que ele continua pesquisando, pesquisando e pesquisando o Chico. No fundo Vítor, tenho certeza que você gostaria muito é que alguém lhe provasse que o Chico não foi uma fraude, porque você o admira demais. Freud explica.
    5º) Vítor você tem ótimos atributos: é tradutor, passou em vários concursos públicos. Não sei se você já foi chamado em algum, porque tem o problema da colocação né. Estou falando isto, porque vivo uma situação bem parecida. Nos últimos anos, passei em três concursos, numa disputa pra valer, mas aguardo ser chamado, em razão da colocação. Não se trata de menosprezar minha profissão não, inclusive agora estou com um cargo no Estado e outro em uma prefeitura. O problema é a grana né?
    Bem, justamente em razão de ter de trabalhar em duas frentes e, entendendo também, que meus argumentos se esgotaram, acho que dessa vez deixo o blog.
    Abraço a todos: Juliano, Vítor, Carlos, JCFF, Carlos Magno, M&M, Gilberto – estes são os que me lembro de ter mantido “diálogos”.
    Quanto ao Scur, nem preciso falar, pois é um grande amigo!
    É isto aí, Scur e Eduardo sapequem os céticos, estou torcendo por vocês.
    Abraços!!!

  67. Vitor Diz:

    Biasetto,

    1) Qual blog espírita você fala? E por que não me dariam espaço? Você é a favor da censura?

    2) Na nossa ignorância do que criou os espíritos, dizer que foi Deus é dar uma explicação que não explica nada. Da mesma forma posso perguntar: o que criou Deus? Se disser que Deus existe desde sempre, não tendo sido criado por nada, por que o mesmo não vale para os espíritos? ou para o próprio universo?

    3) Não dou crédito algum aos médiuns holandeses, tanto quanto não dou crédito alguma Chico Xavier. Qualquer verdade que eles tenham dito foi por puro acaso.

    4) Continuo pesquisando porque eu quero descobrir todas as fraudes, todos os livros que o Chico plagiou etc… ajudaria se alguém forçasse o Luciano dos Anjos a revelar o que ele sabe sobre o assunto… se ele dissesse isso minha pesquisa teria terminado há muito!

  68. Roberto Scur Diz:

    Eduardo,
    Claro, é bastante improvável pois ele não precisam deste entendimento por já estarem confortáveis com o que sabem. Por isso que Jesus não veio para os “doutos e sábios” mas para os humildes, simples e dispostos à receberem a Boa Nova.
    Jesus assevera que o médico é para os doentes, não para os sãos. Céticos ou adeptos de outros ramos da religiosidade se consideram sãos.
    Sabemos que teríamos, caso quizéssemos, muito o que fazer por nosso próximo, mas dar os passos rumo à fraternidade é algo difícil para nós, e por isso que a obra de Chico Xavier se torna mais impressionantes – fez o que poucos conseguem.
    Parabéns e glória aos verdadeiros missionários ou obreiros do bem, da luz e da verdade.

  69. Vitor Diz:

    Jesus assevera que o médico é para os doentes, não para os sãos.

    Ele dizia isso porque não conhecia a medicina preventiva 😀

  70. Carlos Diz:

    Eduardo Biasetto,
    .
    Retribuo o abraço com sinceros votos de sucesso profissional.

  71. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:


    Sr. Eduardo:

    Sobre suas mensagens anteriores, seguem duas considerações e um pedido de esclarecimento (se, claro, o sr. mo permitir).

    Sobre as duas considerações:

    1) O sr. escreveu: “Eu não disse que a ciência deveria se curvar às minhas crenças, apenas disse que tenho esse lado da crença”.

    Nem eu afirmei que a ciência deveria ser curvar às crenças. O que afirmei (e continuo afirmando) é que a REALIDADE não se curva diante de nossas crenças, ou de nossas expectativas, sejam elas quais forem, e independentemente de quaisquer “experiências” que tivemos, ou que pensamos ter tido. Não estava (como não estou) entrando no mérito das “crenças”, sejam elas quais forem (católicas, espíritas, atéias, etc.). Estava (e estou) falando da REALIDADE, daquilo que É, ou, ao menos, daquilo que se pode deduzir racionalmente que SEJA – independentemente de pressupostos filosófico-religiosos. Fazendo uma “reductio ad absurdum”, alguém pode “ver”, ou “sentir”, ou “experimentar”, elefantes cor-de-rosa voando no sótão, mas isso, por si só, não significa que eles existam – aliás, é bem provável, à luz da dedução racional diante dos dados sensíveis, e do exame cuidadoso da situação tal como ela DE FATO É, que eles NÃO existam (mesmo que eu pudesse “querer” que existissem, e “sentir” que existissem)…

    2) O sr. também escreveu: “Não vejo você como aquele que pode emitir opiniões acerca da Doutrina. Falta-lhe a vivência Espírita para tal intuito”.

    Tal frase apresenta, a meu ver, uma série de problemas, e o primeiro é justamente a definição do que vem a ser a tal da “vivência”. Estou tomando aqui “vivência” como sinônimo de “conhecimento”, e de conhecimento geral (i.e., versando sobre os tópicos mais importantes, e que pode ser ganho num intervalo de tempo viável), obtido da forma mais isenta possível, acerca duma corrente filosófica ou religiosa. Esse “conhecimento geral isento” abrangeria tanto um conhecimento acerca dos fundamentos teórico-doutrinários dessa corrente (“eis o que nós dizemos”), quanto um conhecimento acerca da prática efetiva da mesma corrente (“eis o que nós fazemos”). Noutras palavras, “vivência” seria uma “visão geral”, que tentaria ser a mais isenta possível, e que poderia ser obtida em relativamente pouco tempo (mas uma visão bem fundamentada), acerca da “teoria” e da “prática” duma corrente religiosa, ou filosófica. As fontes para tal conhecimento (estou aqui supondo) poderiam ser leituras diversas, entrevistas, debates, descrições de cerimônias ou ritos, se oriundas de fontes razoavelmente fidedignas, e até mesmo (embora não necessariamente) a participação pessoal, ativa ou passiva, em tais cerimônias ou ritos; essas fontes poderiam (aliás, deveriam) abranger tanto “adeptos” quanto “adversários” da referida corrente, a fim de possibilitar uma análise a mais próxima possível da REALIDADE. É nesse contexto que tomarei, aqui, a palavra “vivência”. Mas se por “vivência” o sr. quis dizer “efetiva participação”, sua frase, logo de início, cai na simples impossibilidade prática, já que, para emitir opiniões sobre qualquer corrente religiosa, dentro dessa óptica, ter-se-ia que “passar por um estágio” nela – e um “estágio” de molde a fornecer a tal da “vivência” não seria, obviamente, algo que se pudesse fazer, creio, apenas nalguns poucos meses; no mínimo, um ou dois anos de dedicação exclusiva seriam necessários para se “captar a essência” e se obter a “vivência” duma religião, ou filosofia, sem grandes riscos de se cometerem injustiças ou interpretações equivocadas; e, se o sr. multiplicar esse tempo pelo número de religiões oferecidas nesse nosso moderno e abençoado supermercado ideológico, ter-se-ia como conseqüência que todos os seres humanos teriam que passar boa parte de suas vidas produtivas “estagiando” sucessivamente numa religião, depois noutra, e em mais outra, e assim por diante, a fim de adquirir a tal “vivência”, e só então poder “emitir opiniões acerca da doutrina”. Como isso (creio que o sr. concordará comigo) é simplesmente inviável, tomarei “vivência” (e isso é simplesmente um posicionamento lógico-operacional primário), no sentido que antes apresentei: conhecimento teórico-prático de índole geral, obtido em tempo viável, e da maneira mais isenta possível.

    Tendo isso em mente (i.e., a “vivência” tal como definida anteriormente), em minha opinião, essa sua frase, além de injusta, é extremamente pretensiosa, por (pelo menos) duas razões: A) leva à paralisia do debate, e B) pressupõe que uma pessoa, mesmo não esposando determinada crença, ou corrente filosófica, ou religiosa, não a conhece (quando, nalguns casos, a conhece bem, e até profundamente, e até mais do que muitos dos “adeptos”).

    A) Com efeito, generalizada, essa frase, quando aplicada, impede qualquer um de emitir opiniões sobre qualquer corrente religiosa, ou filosófica, que não seja a sua. Por exemplo, eu poderia simplesmente lhe responder, sr. Eduardo, usando seus próprios termos: “e não vejo você como aquele que pode emitir opiniões acerca da religião católica, pois falta-lhe a ‘vivência católica’ para tal intuito”. E um, diga-se, muçulmano, poderia também responder-lhe nos mesmos termos, e assim sucessivamente. Armados com essa frase, podemos simplesmente ignorar o que quer que os “não-iniciados” digam acerca daquilo em que acreditamos. Sem dúvida, é algo bem confortável para mantermos intactas as nossas ilusões, mas a conseqüência prática de sua frase, sr., seria, portanto, paralisar os debates, isolando cada ser humano em sua pequena “ilha ideológica”, na qual pontificaria como um tiranete orgulhoso e auto-suficiente, mas sem direito a “emitir opiniões” acerca de outras “doutrinas” – já que lhe faltaria a tal da “vivência”. E essa situação deplorável, que nos reduziria, nós seres humanos, a um enorme arquipélago de ilhas isoladas (não importando quão próximas estivessem), sem pontes e sem comunicação entre si, mutuamente se ignorando e ao mesmo tempo se desprezando, seria ainda mais verdadeira se por “vivência” se assumisse “efetiva participação”, nos moldes já anteriormente descritos.

    B) Mais ainda (e isso, a meu ver, é o mais perturbador): sua frase pressupõe que somente os membros de determinada corrente filosófica, ou religiosa, é que a conhecem, e que todos os demais que não são membros do “grupo eleito” são, “ipso facto”, “ignorantes”, “não-iluminados”. O sr. não é católico; mas não é pelo fato de não ser católico que, ao menos potencialmente, não possa emitir opiniões acerca da Igreja Católica (sua história, suas doutrinas, seus dogmas, suas práticas, etc.). Essas opiniões podem ser bem fundamentadas ou não; podem ser acertadas ou equivocadas – mas é o CONTEÚDO de seus argumentos que haverá de decidir isso, não o fato de o sr. ser, ou não, católico. Claro, em princípio, um católico deveria conhecer mais sobre a Igreja do que um não católico; ou um espírita, mais sobre o Espiritismo do que um não espírita. Mas há exceções, e são muitas, e são notáveis. Uma pessoa pode ter “suspendido o juízo” acerca das crenças durante vários anos, e pesquisado tão cuidadosamente quanto possível várias dentre elas (ou as principais dentre elas), até ter se decidido por alguma (ou por nenhuma). Eu simplesmente não sei o grau de conhecimento (de “vivência”) que o sr. tem, especificamente, acerca da Igreja Católica, de sua História, de seus ensinamentos (e da fundamentação escriturística, filosófica e teológica deles), de sua dogmática (idem), e de suas práticas (e a razão que as embasa); mas não posso, “a priori”, considerar que, pelo simples fato de o sr. não ser católico, o sr. não possa se pronunciar a respeito – e, talvez, se pronunciar até mais acertadamente do que muitos católicos, por que não? Novamente: só o conteúdo de seus argumentos a respeito é que poderiam, eventualmente, embasar um julgamento meu sobre tal assunto – a argumentação e o debate é que mostrariam a sua “vivência”, por assim dizer. E o mesmo reivindico eu para mim: o sr. não me conhece, não sabe o quanto eu poderia ter estudado acerca do Espiritismo, o quão profundamente poderia ter ido nesse estudo, o tempo, a energia e a abrangência que poderia ter dispendido nisso até tomar uma decisão a respeito, de modo que o sr. não pode, absolutamente, “a priori”, dizer que não tenho “vivência” para “emitir opiniões” sobre a “doutrina”. Sinto muito, sr. Eduardo, mas sua frase, a meu ver, é a semente (se já não for o fruto) do orgulho, da auto-suficiência e do fanatismo.

    A nossa “praia”, sr. Eduardo, é tão larga quanto a construirmos com o nosso estudo, com o nosso esforço, com as nossas pesquisas, com o nosso raciocínio, com as nossas ponderações. Mesmo que nem toda a areia se nos afigure com o mesmo grau de atratividade. Eu reivindico para mim uma praia razoavelmente larga, e creio que o sr. também possa fazer o mesmo.

    Agora, sobre o pedido de esclarecimento: apenas para que eu consiga entender de modo completo e inequívoco sua posição a respeito do grau de importância da evidenciação histórica na construção de seu espectro pessoal de crenças, ficaria muito agradecido se o sr. pudesse me responder aos quesitos a seguir (ligados especificamente ao “affair” Emanuel/“Lêntulo”); e antecipadamente agradeço sua boa vontade.

    1) “Emanuel”, um dos mais famosos espíritos-guia de Francisco Cândido Xavier, informou ter sido, numa de suas encarnações passadas, o senador romano “Públio Lêntulo”, contemporâneo de Cristo, bisneto, por linha paterna, de Lêntulo Sura, o conspirador catilinário. Portanto, assumiu uma identidade (e uma existência) histórica REAL, efetiva, e bem específica. O sr. concorda com esta afirmação? Se não, por que?

    2) Tratando-se “Públio Lêntulo” duma personalidade histórica efetiva, tudo aquilo que é narrado pelo próprio “Lêntulo”/Emanuel em “Há Dois Mil Anos” acerca dele, sua vida, seus parentes, o meio em que viveu, etc., teria, a bem da verdade, de ter ocorrido historicamente, DE FATO, numa determinada época (séc. I dC) e lugar (mundo mediterrânico), para uma determinada pessoa de carne e osso (“Públio Lêntulo”). O sr. concorda com esta afirmação? Se não, por que?

    3) Assim, ou aquilo que é narrado pelo próprio “Lêntulo”/Emanuel acerca de si mesmo, sua família, meio social, etc., em “Há Dois Mil Anos” ou efetivamente ocorreu, ou então não ocorreu – isto é, ou é verdadeiro (caso tenha ocorrido), ou é falso (caso não tenha ocorrido). O sr. concorda com esta afirmação? Se não, por que?

    4) Sendo uma personagem histórica efetivamente existente, numa época e lugar determinados, a pesquisa para a comprovação de sua efetiva (REAL) existência (“pessoa-de-carne-e-osso”) pode ser levada a cabo pelos métodos usuais de investigação histórica, buscando-se, p.ex., evidências principalmente (embora não apenas) documentais e epigráficas para tanto. O sr. concorda com esta afirmação? Se não, por que?

    5) Além da pesquisa histórica, o sr. aceitaria como válidos outros métodos investigativos para a comprovação da efetiva (REAL) existência de “Públio Lêntulo”, bem como da autenticidade de sua “carta”? Caso afirmativo, quais métodos seriam esses, e por que eles seriam capazes de contribuir para a confirmação da efetiva (REAL) existência de “Públio Lêntulo”, bem como da autenticidade de sua “carta”?

    6) Caso aceite outros métodos investigativos como válidos, qual o peso relativo que daria a tais métodos, “vis-à-vis” a investigação histórica? Pondo a questão em termos bem específicos: caso a investigação histórica pudesse mostrar claramente, com um grau de conforto extremamente grande, quando não com virtual certeza, que “Públio Lêntulo”, do modo como descrito em “Há Dois Mil Anos”, não existiu, e que sua “carta” é apócrifa (=falsa), isso, para o sr., seria determinante para considerá-lo como não-existente como pessoa, e como falsa sua “carta”? Se não, por que?

    7) A autenticidade histórica de “Públio Lêntulo”, bem como de sua “carta”, são negadas pelo consenso histórico – isso é um FATO. Basicamente, não há nenhuma evidência da existência de “Lêntulo” (não sendo ele citado por nenhum escritor, cristão ou pagão, leigo ou eclesiástico, até ao aparecimento de sua “carta”, nem havendo nenhuma evidência epigráfica de sua existência, apesar de haver evidências, literárias e epigráficas, para vários outros Lêntulos contemporâneos), e nenhuma menção a sua “carta”, a não ser a partir dos finais do séc. XIV e inícios do XV dC, sendo que “carta”, adicionalmente, passa informações inconsistentes acerca da administração romana da Judéia e faz uma descrição do rosto de Jesus (“physiognomia Christi”) que somente se tornou canônica a partir do séc. IX dC. O sr. está ciente desses fatos, e os aceita tais como são, i.e., como fatos historicamente evidenciados? Se não, por que?

    8) Adicionalmente, uma série de informações específicas fornecidas pela psicografia “Há Dois Mil Anos” acerca de “Públio Lêntulo” e da época em que teria vivido são francamente desmentidas pela História. Alguns exemplos: a) o modo como as personagens romanas são nomeadas na psicografia, totalmente em desacordo com as regras da antroponímia romana então vigentes; b) a menção a legiões romanas estacionando na Judéia antes da revolta de 66-72 dC, quando, nesse período, lá não estacionaram legiões; c) a presença de “Públio Lêntulo” no conselho de guerra de Tito, quando se sabe inequivocamente que lá não havia nenhum “Lêntulo”; d) o suplício dos cristãos no Circo Máximo, em Roma, quando, por ocasião das perseguições de Nero, eles foram supliciados quer nos jardins de Nero, quer no circo de Calígula (depois de Nero), no Vaticano; e) a suposição acerca da população de Roma, que é francamente inconsistente com estudos demográficos; f) o fato de o único parente de “Lêntulo” mencionado na psicografia, “Sálvio Lêntulo”, não ter nenhuma evidenciação histórica, e, além disso, por ser um “Sálvio”, e não um “Cornélio”, não poder ser, pelas regras prosopográficas romanas, parente de “Públio Lêntulo”; g) o fato de, dentre os vários Lêntulos REAIS atestados historicamente para a época de “Públio Lêntulo”, nenhum descender de Lêntulo Sura. O sr. está ciente desses fatos, e os aceita tais como são, i.e., como fatos historicamente evidenciados? Se não, por que?

    9) A combinação dos itens “7” e “8” acima, à luz da evidenciação histórica, permite concluir, com um extremo grau de conforto, e mesmo com virtual certeza, que “Públio Lêntulo” (bem como sua carta) não existiram, ao menos no modo como retratados pelo espírito-guia “Emanuel” em “Há Dois Mil Anos” (ou seja, o “espírito-guia”, supondo-se que haja realmente um “espírito-guia”, ou mentiu, ou enganou-se). À luz da evidenciação histórica (e somente dela), o sr. aceita tal conclusão?

    10) Caso, no item anterior, o sr. não venha, à luz das evidências históricas disponíveis (resumidas nos itens “7” e “8”), a aceitar a conclusão esposada (qual seja, a não existência de “Públio Lêntulo” no modo como retratado em “Há Dois Mil Anos”, bem como a não autenticidade de sua “carta”, com um extremo grau de conforto, e mesmo com virtual certeza), que outras evidências históricas adicionais ser-lhe-iam necessárias para que, à luz da investigação histórica, e somente dela, o sr. viesse eventualmente a aceitar a inexistência de “Públio Lêntulo”, bem como a não autenticidade da sua “carta”, com extremo grau de conforto, e mesmo com virtual certeza?

    11) Caso essas outras evidências históricas (adicionais) que o sr. citou no item “10” fossem obtidas, o sr., a despeito de quaisquer outros critérios investigativos que julgasse aplicáveis, aceitaria, enfim, “Públio Lêntulo” como inexistente, e sua “carta” como apócrifa (=falsa), com um extremo grau de conforto, e mesmo com virtual certeza? Se não, por que?

    12) Diante de tudo o que anteriormente foi considerado (a resposta a este item dependerá das respostas aos itens anteriores): o que, exatamente, o faria aceitar “Públio Lêntulo” e sua “carta” como inexistentes, com um extremo grau de conforto, e mesmo com virtual certeza?

    13) E, para concluir: supondo-se que o sr. pudesse vir a aceitar “Públio Lêntulo” como inexistente, e sua “carta” como apócrifa (=falsa), à luz de quaisquer critérios que o sr. venha a considerar como válidos, históricos ou não, e de quaisquer evidências que o sr. venha a considerar como probantes, qual seria seu posicionamento diante de “Emanuel”? Que tipo de “espírito” o sr. o consideraria? O sr. o tomaria por modelo? Ou o sr. simplesmente não admite tal possibilidade?

    Sr. Eduardo, desde já agradeceria se pudesse dispor de suas respostas. Sds,

    JCFF.

  72. Roberto Scur Diz:

    Eduardo,
    Não se agaste tanto com o interrogatório. Espere o ilustre debatedor ler o livro de Pedro de Campos primeiro.
    Ele deve contraditar quem se deu a este tipo de trabalho de pesquisa histórica. O autor esta vivo, lúcido, trabalhando, e caso ele ache que deva, ou que não tenha ficado algo claro no seu livro, quem sabe ele não respondedira ao adversário de pesquisas?
    Perder tempo não é um bom investimento.
    Esteja certo que historicamente, numa análise honesta, Publio existiu tanto quando para o JCFF ele não existiu, ou seja, o grau de certeza de ambas afirmações depende do gosto do cliente.
    Se ele conseguir detratar os pais da igreja, os principais, logo no final do segundo século, classificando-os como historicamente inválidos, então ele ficará melhor na foto, mas isso ele não vai conseguir fazer, para o desconsolo dele.
    Esta ciência “opinativa” deste senhor não traz luz, mas engano.

  73. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Voltei, rapidamente, por uma questão nobre:
    Recebi um email do Senhor Luciano dos Anjos, no qual ele afirma que já foi procurado por ti, mas ele não endossa suas idéias, de maneira alguma!
    Ele me disse que se houve “plágios” em alguns livros [do Chico], o “plágio” foi do espírito e não do Chico.
    Nas palavras dele:
    “Chico Xavier, meu caro Eduardo, foi, no dizer do grande tribuno Newton Boechat, “a maior antena psíquica” reencarnada entre nós, o que eu endosso plenamente.”
    “Toda a história, a documentação existente e a melhor razão estão em favor de nossa posição: Chico Xavier é dos maiores médiuns que já existiram.”
    O Luciano também me disse que o livro sobre André Luiz/Faustino Esposel está prestes a ser lançado, e que haverá surpresas para os leitores. Ele me disse que já sabia do André Luiz/Faustino Esposel há 40 anos, mas por questões, que ele me explicou o livro não foi lançado antes.
    Não vou reproduzir o email dele, que traz muitas informações e conclusões interessantes, porque não o consultei a respeito. Tomo a liberdade, apenas de passar estas informações.
    Como ele me confirmou, categoricamente, o Chico foi um médium espetacular, íntegro e iluminado.
    Saudações!

  74. Juliano Diz:

    Eduardo

    Faustino Possel foi, antes de médico, um dirigente de futebol apaixonado pelo Flamengo. Tem até quadro dele na Gávea. Foi presidente do clube quatro vezes, e não duas, como havia dito anteriormente em um outro comentário e não teve filhos e não foi casado. Agora vem o Luciano dos Anjos e diz que a família do Faustino Possel descrita pelo André Luiz se refere a uma outra vida dele, anterior a última na qual ele não teve filhos (…). Pra mim isto aí ao só corrobora a tese que o espiritismo quanto mais quer se explicar, mais se complica. Mesma coisa serve sobre o livro “Há dois mil anos “. Sem entrar nos argumentos embasados do JCFF, fico num conhecimento que eu já tinha. Estou lendo de vagar pela internet o livro, e o personagem Pôncio Pilatos descrito no livro é o Pôncio Pilatos bíblico, sem tirar nem por. Dúbio, indeciso, com bons olhos aos cristãos, alguém que não viu a crucificação de cristo como algo correto e etc (…) Fatos estes que nada tem a ver com a descrição histórica de Pôncio Pilatos. Pra frente eu coloco o que se diz historicamente sobre Pilatos. Tal fato sendo reconhecido por um escritor cristão de renome, o John Dominic Grossan. Então fica difícil Eduardo. Provavelmente o Sr. Luciano dos Anjos é outro que agora resolveu por birra contraditar o Waldo Vieira. E só.

  75. Roberto Scur Diz:

    Juliano,
    Diga com quem andas e te direi quem és…!
    Se este senhor, Luciano dos Anjos, é fonte de informações para o Vitor Moura, creio que ele não está habilitado para falar pelo espiritismo.
    O título de sua obra, anti histórias, co-piadas, hummm, casa má impressão, o que deve ser o contrário em obras que possam ser enfileiradas como do movimento espírita.
    Se André Luiz achasse que deveria revelar quem foi em outra reencarnação recente ele teria feito por ele mesmo, e não precisaria desta questionável publicidade de ter sido A ou B hoje em dia.
    Não li o livro do Luciano do Anjos mas li seu site, e não gostei do personalismo e narrativas em primeira pessoa. Assim como outros livros ditos psicografados ou de espíritas, me interessei por seus livros nem um pouco.

  76. Juliano Diz:

    Roberto

    Aí eu concordo contigo Roberto. Ele no evidente personalismo de querer se arrazoar como possuidor da informação “privilegiada” que Faustino Possel é André Luiz, só demonstra a clara fragilidade de tal colocação. Como o Waldo Vieira estes dias afirmou categoricamente que o André Luiz foi Carlos Chagas, pra mim isto tem cara de uma birra pessoal pra ver quem “canta de galo” mais alto. Você sabe o que eu penso disto e da real existência do André Luiz. Mas, para o espiritismo, o teu enfoque é o correto. É o que vai na linha de que não se sabe quem ele foi na última encarnação, e não se tem idéia por “n” razões que caberia ao André Luiz deixar claro, e ele deixa parcialmente claro que não irá esclarecer tal tema, ao que parece no início da obra “Nosso Lar”, e é a vontade dele de não se tornar conhecido e ponto final para os espíritas sobre o tema. E vida que segue e vai-se trabalhar com a mensagem dele. É isto.

  77. Eduardo José Biasetto Diz:

    Vítor,
    Uma coisa tenho que admitir: é difícil deixar do seu blog.
    Estou tentando, mas não está fácil…
    Pro Scur e o Juliano:
    Amigos, o Luciano do Anjos é um espírita muito respeitado. Uma pessoa íntegra, bom escritor, pesquisa muito.
    Ele teve o privilégio da convivência com o Chico e o Divaldo. Então, ele conheceu na “íntimidade” estas pessoas.
    Eu li o livro dele, “A Anti-História”. Achei muito interessante, bem escrito. Não vi nele uma pessoa que só queira aparecer.
    Ele afirma que pesquisou mais de 200 médicos desencarnados entre o final dos anos 20 e início dos anos 30. Ele afirma que Faustino Esposel se encaixa no André Luiz. Já sabemos que há divergências na questão dos filhos, mas ele afirma que tem como explicar isto.
    Antes de julgar, espero pelo livro dele. Depois da leitura, tiro minhas conclusões.
    Estou saindo em defesa dele, porque ele foi muito gentil, tem sido muito gentil comigo, respondendo emails meus, me mandando informações interessantes. Ele não quer participar do blog, usou o termo – “Eduardo está uma brigalhada lá, não participo nem pra defender o Chico”. Então foi eu que tomei a iniciativa de colocar algumas opiniões dele aqui, porque dá forma como o Vítor disse, o Luciano tinha informações dos “plagios” do Chico, mas não queria revelar.
    O Luciano deixou muito claro pra mim, que ele tem pelo Chico um enorme respeito, seja na condição de pessoa ou de médium.
    O Luciano também me disse que não vê problema nas semelhanças entre obras espíritas psicografadas pelo Chico e obras terrenas, porque, inclusive ele lembra aquilo que já foi dito aqui, por mim mesmo, que o André Luiz citou que consultava obras terrenas.
    Nesse ponto eu concordo com ele, porque eu já disse isto várias vezes, até o Scur não concordou muito comigo, que os espíritos desencarnados não sabem muito além do que sabemos, que eles também falham e têm um conhecimento limitado. Pelo menos os espíritos que se encontram em colônias como Nosso Lar.
    Esta é minha opinião.
    Um abraço a todos!
    O Luciano é gente boa demais, ele não quer polemizar nada.
    Valeu…

  78. Juliano Diz:

    Já estava indo dormir, mas voltei. Mudando de assunto. Já viram no Yahoo de agora os vídeos de uma possível nave extraterreste em Jerusalém? Impressionante! Vocês podem achar que eu sou maluco, mas uma vez eu e um amigo meu vimos algo bem semelhante a nave do vídeo. Vão no yahoo e tirem as suas conclusões. Eu fiquei impressionado. Um abraço a todos.

  79. Vitor Diz:

    Eduardo,

    o Luciano também no livro dele “A Anti-História” também diz que o Chico e o Divaldo são médiuns infalíveis, quando os próprios já afirmaram – está documentado – que são falíveis. Ou seja, no fundo ele não acredita nem no que o próprio Chico e o Divaldo dizem sobre eles próprios. E ele também não acredita no Waldo no tocante ao Chico – de que ele fraudava, por exemplo – e no tocante ao André Luiz (de que foi Carlos Chagas), e ele não acredita nem no que o próprio André Luiz diz na sua biografia, usando uma desculpa pra lá de esfarrapada para resolver a questão dos filhos, em vez de concluir que André Luiz nunca existiu. Essa sim seria a conclusão correta. Enfim, ele só acredita no que lhe convém. Vai entender uma figura dessas…

    Ah, o Waldo também é muito gentil, responde todas as suas perguntas (ainda que algumas ele na verdade não responda, saindo pela tangente), já tentou falar com ele? Já diversas perguntas que fiz o Luciano deixou de responder, como as fontes dos plágios, ou sobre a desonesta da Otília. Bom, na verdade ele disse que ia responder depois, o problema é que esse depois não chega nunca! E ele já teve um derrame, daqui a pouco morre e ficamos sem as informações. E olha que me comprometi que se ele revelasse pra mim as fontes eu não as revelaria para ninguém até que ocorresse a morte dele, se ele não o fizesse antes. Bem, vamos ver se no livro que ele vai lançar ele revela alguma coisa.

  80. Roberto Scur Diz:

    Juliano,
    Vai saber se é real esta gravação específica, não é? O problema é que existem tantas pessoas imbecilizadas nos dias de hoje que se prestam para criar informações falsas, mentirosas, que o fenômeno UFO fica sempre sujeito à mais dúvidas do que confirmações.
    Se não houvessem tantas pessoas desonestas a confirmação deste tipo de contatos seriam simples.
    Eu, como já falei antes, vi algo semelhante, junto com um funcionário da empresa, durante 2 horas numa viagem costumeira que fazia à trabalho.
    A diferença, no meu caso, é que este mesmo tipo de luz, não tão grande quanto esta do vídeo, saiu de uma posição bem distante no céu onde estava alinhado com outras 6 luzes semelhantes, depois de trocar de posição com outra luz desceu ao solo, transitou pelo campo por diversos kilometros até se posicionar de 50 à 200 metros do carro em que estávamos, ficar parado ali por alguns minutos, emitir um ruído suave que ouvíamos perfeitamente, e que depois, assim como no vídeo, num rompante veloz se afastou para outra direção se afastando pelo solo. Não o encontramos mais, mas antes desta aproximação maior parou há talvez 1 km e da luz saíram 2 outras luzes menores que fizeram pequena excursão fora da suposta “nave”, como se fossem 2 pessoas explorando os arredores, e que depois foram “recolhidas” pela luz maior e só depois disso vieram para perto de nós.
    Quando a luz estava nesta posição dava para ouvir o barulho de vegetação, galhos, sendo ou quebrados, ou afastados.
    Não preciso, felizmente, do crédito de pessoas que apresentam os vídeos pois vi com meus olhos, com outra testemunha, mas achei este vídeo bastante interessante e bem podem ser verdadeiros, mas, vai saber né?
    E depois tenho que ouvir ridicularizações por parte de pessoas como o JCFF, que acha que “sabe tudo”, ou do Mori Quevedo que num embate que tivemos no passado usou isto para me desacreditar, e adulterou todos os comentários travados lá no blog dele, bagunçou tudo, só para que não houvessem informações contrárias à sua reputação já que havia se apresentado no Jô Soares e não queria que vissem que ele houvera pisado na bola depois de uma troca de críticas entre nós.
    Aqui, por enquanto, o Vitor nunca fez algo assim. Parabéns a ele pois não o tenho poupado, ele e o JCFF, de críticas, e o fato de ele não apagar dá uma réstia de esperança de que tenha algum caráter.
    O Vitor ridicularizou o Pedro de Campos porque olhou a bibliografia do autor, que é espirita e ufólogo e já escreveu livros sobre o tema, muito bom por sinal, mas, os zombadores de plantão não perdem a oportunidade de atacar a credibilidade de quem têm a coragem de dar seus testemunhos abertamente.

  81. Vitor Diz:

    Juliano,

    o vídeo do OVNI sobre Jerusalém é uma fraude. Explicações aqui:

    http://e-farsas.com/artigo.php?id=248

  82. Carlos Magno Diz:

    Prezado Eduardo,
    .
    Louvo publicamente seus honestos esforços bem como do amigo Scur em favor do espiritismo, tão tergiversado aqui nesse espaço, tão especialmente Vitoresco e Josécarlesco, cujos modelos de astronômicos argumentos inexoravelmente penderam e pendem ao exagêro do “desmascaramento” do todo o movimento espírita e de seus principais ícones.
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    De há muito cheguei à triste conclusão de que pouco adianta a discussão, o diálogo, pois é notória aqui a disposição ao ensurdecimento, ao monólogo dentro do diálogo desconsiderador, ao fingimento de que aquiescem e pelo menos refletem sobre o outro lado dos defensores espíritas, quando eles, os proponentes ao desmascaramento estão completamente blindados em si mesmos. Fingem, às vezes, aceitar réplicas, mas logo noutra página voltam exatamente como antes, com a insolência do eu sei por que li, pesquisei na infalível história ou alguém acusou ou falou.
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    Volto a repetir o que já dissera há tempos: “Desejar conhecer o espiritismo somente por teorias, pesquisas históricas e literárias como abusiva e torrencialmente fazem o VM e o jcff, é o mesmo que tentar aprender natação por correspondência”.
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    Em resumo: não sabem absolutamente nada do lado aprofundado do espiritismo, da realidade vivida e esclarecedora, pois lhes falta o principal que é a prática, a vivência nas lides, de cuja realidade o sólido conhecimento impreterivelmente emerge. De outro modo, tudo fica sendo uma imensa encenação, uma vivência entre altos muros num castelo de papelão, pois é sabido que a teoria decorre da prática e não o oposto.
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    O que me move nesse instante são as declarações dadas ao Eduardo. Não entendi bem, caro Eduardo, sobre o Faustino Esposel-André Luiz, mais o que eu sei, por outras fontes que não somente do cardecismo, e se é isso de que falam, que André Luis não deseja declarar ele mesmo sua encarnação, por ainda existir parentes encarnados. Mas sabe-se que seu espírito encarnou-se num dos dois, Carlos Chagas ou Osvaldo Cruz. Nada mais a declarar sobre o assunto e o Vitor não adianta questionar-me sobre a fonte.
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    E se não for esse o assunto desculpe-me Eduardo por não ter devidamente acompanhado, ando mesmo ocupado com outros afazeres.
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    Também desejo reafirmar que Francisco Cândido Xavier, não foi um médium na acepção comum do entendido, quer de “incorporação”, ou de psicografias, psicofônias, etc., pois é alma altamente evoluída, – um mestre no espaço onde é conhecido como Mestre Kay Wan – e desenvolveu de forma precisa a telepatia, além de usar outras habilidades que já trouxera, e possuindo extraordinária aura de energia e força, que atravessava planos e dimensões, jamais deixaria qualquer espírito embusteiro usar de plágio por sua mente, e nem seus mentores assim o permitiriam, não fosse para demonstrar intencionalmente o modo como as forças contrárias operam, se isso aconteceu um dia. Porém, espíritos reconfirmar teses, conhecimentos, utilizar-se aqui ou ali de mesmos vocábulos, metáforas, descrições pictóricas, citar mesmos nomes, locais datas, produzir coincidências em trechos, é somente corroborar humildemente com fatos em favor de uma verdade e não negá-los ou mistificar.
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    Os pesquisadores de detalhes inócuos que fiquem com suas verdades, com as vírgulas, pontos-e-vírgulas, etc. Para o espírita sincero, interessa-lhe o conteúdo, o cerne espiritual das mensagens, e não, principalmente, a história de um passado nebuloso, cheio de cortinas, politicagens, interesses espúrios, crueldades religiosas; de bibliotecas arrasadas e reconstruídas, de documentos originais destruídos e substituídos a bel prazer, e pela oficialidade “tapa-buracos” dos acadêmicos materialistas ou religiosos do contra, alguns caquéticos com títulos efêmeros e mantos tecidos com vaidades puras. Não que a história seja toda mentirosa e desnecessária; é somente saudável e profícua quando clara e insofismável, mas a mentira também grassa e sempre grassou… e muito!
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    Grande abraço, Eduardo e Scur.

  83. Vitor Diz:

    Carlos Magno,

    eu acho melhor tentar aprender natação por correspondência do que tentar aprender natação na areia movediça que o espiritismo se tornou… quem “entra de cabeça” aí é tragado para uma região onde a luz da razão é incapaz de entrar.

    Você diz que o André Luiz ou é Carlos Chagas ou é Oswaldo Cruz. Bem, isso é algo completamente desprovido de qualquer fundamento. A biografia de nenhum dos dois corresponde à do espírito. Não me interessa nem um pouco saber como você sabe disso, já que isso está errado. Comprovadamente errado. Basta pesquisar e comparar. O problema é que você não quer ter trabalho, não quer raciocinar. Você só quer acreditar. Nada mais.

  84. moizes montalvao Diz:

    Prezados,
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    Ao efetuar a leitura da singular conversação que se seguiu ao escrito intitulado “Até onde vai (ou pode ir) a História”, senti-me motivado a pinçar alguns trechos e comentá-los. E se bem pensei, melhor fiz: segue, pois, a resultante dessas reflexões.
    .
    SCUR: 32.090 palavras para refutar uma afirmação lógica e racional do citado professor. O JCFF, como de costume, tenta vencer a pobreza de seus argumentos com infindáveis textos e mais textos que enchem telas do computador sem provar nada além da disposição de um homem que tenta distorcer a realidade com idéias megalomaníacas e desonestas.

    COMENTÁRIO: O Sr. Scur abre a discussão com uma postura que manterá durante todo o decorrer da conversa: de não abordar nada da argumentação do Sr. José Carlos; esforçando-se apenas por desqualificar o autor. Não creio que seja boa maneira de conduzir debate saudável.

    SCUR: B) Megalomaníaco acreditares que o tamanho do texto ou a quantidade de letras será suficiente para te dar razão, e desonesto porque você sabe que não têm elementos para provar o que pretende, mas insiste em iludir com tuas falácias. O que você têm é “uma opinião” somente, não passa disso.

    COMENTÁRIO: A alegação do Sr. Scur é difícil de compreender, pois ao apreciar o estudo do Sr. José Carlos, tive a impressão de que apresentou elementos satisfatórios em comprovação à tese que defende.

    SCUR: A sociedade brasileira é quem paga pelo teu tempo de trabalho e tu o consome nesta obra inglória e, como eu disse, megalomaníaca.

    COMENTÁRIO: continua a criticar a pessoa, sem minimamente abordar o conteúdo do escrito.

    SCUR: Agora não estou com vontade de responder-te, ítem a ítem, “exaustivamente”, “ad nauseun” como você gosta de dizer.

    COMENTÁRIO: pelo que pude notar, a “vontade” de responder não se manifestou em momento algum…

    SCUR: Você se atribui uma importância descomunal, desproporcional ao seu real valor senhor JCFF, mas vou ler o livro do Pedro de Campos e depois te respondo ítem à ítem, afinal, tenho que ir atrás do sal e do leite das crianças.

    COMENTÁRIO: aqui a promessa de finalmente cotejar o estudo do Sr. José Carlos, porém necessitará do subsídio do livro de Pedro de Campos. O Sr. Scur demonstra grande apreço pela obra de Campos, acreditando nela encontrar o apoio necessário para refutar o arrazoado de José Carlos. Não li ainda tal escrito, portanto fico impossibilidade de opinar. De qualquer modo, deixo em aberto a questão: será que Pedro de Campos encontrou efetivas fontes, capazes de comprovar a existência do Públio Lêntulo chicoxaveriano?

    SCUR: Será minha a covardia que alegas? Serei eu quem “calunio”? Será o senhor a vítima de tamanha injustiça ou será que é Chico Xavier que não está presente reencarnado neste momento? Porque o senhor e seus pares não criaram seus blogs detratores enquanto ele estava vivo? Eras muito criança ainda? O que houve?

    COMENTÁRIO: em vida Chico recebeu questionamentos a existência de Lêntulo, entretanto, não é conhecida qualquer iniciativa do médium em defender-se: ao que tudo indica, optou pelo silêncio.

    SCUR: Você vai ter bastante trabalho para refutar o livro do Pedro de Campos que fez um belo trabalho de pesquisa histórica.

    COMENTÁRIO: pelo visto Scur já examinou partes do livro de Campos e possui visão geral da qualidade do conteúdo. Só falta dar o passo seguinte e presentear-nos com a reflexão prometida, independentemente de qualquer iniciativa do Sr. José Carlos em contestar o referido material.

    SCUR: Muitas das tuas “opiniões” pessoais, tuas deduções tendenciosas estão a perigo ali, e não bastará despejar títulos e mais títulos de livros como se eles atestassem as “tuas opiniões pessoais” pois bibliografia por bibliografia Pedro de Campos consultou com qualidade mais de 50 obras.

    COMENTÁRIO: Eu li o estudo do Sr. José Carlos e o achei muito bem fundamentado. Se o livro de Pedro de Campos contiver pesquisa capaz de desclassificar as assertivas contidas naquele estudo, então valerá a pena examinar a réplica que o Sr. Scur prometeu elaborar.

    SCUR: (…) Desde que capturei as tuas inconsitências lógicas ou os teus sofismas procurando afirmar fatos inexistentes em cima de verdades que não conduziam obrigatoriamente ao tipo de conclusão que tu chegastes eu confesso que declinei da leitura completa dos teus textos subsequentes. Bastou um para mim e os demais se tornaram cansativos. Talvez o mesmo ocorra contigo quando tentastes ler as obras de Chico Xavier, não te interessam, não te tocam, és adversário delas e as combate.

    COMENTÁRIO: Sr. Scur informa ter “capturado” inconsistências e sofismas no material produzido pelo Sr. José Carlos, entretanto, isso está apenas afirmado, não demonstrado. Seria ilustrativo que citasse trechos do artigo em apreciação onde os sofismas se fazem presente.

    A parte final da declaração do Sr. Scur, acima, ficou difícil de compreender:
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    “Talvez o mesmo ocorra contigo quando tentastes ler as obras de Chico Xavier, não te interessam, não te tocam, és adversário delas e as combate”.
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    O que teria pretendido dizer?

    SCUR: Tenho alguma vocação às ciências exatas, por formação acadêmica, e busco a síntese e sistematização das ideias. Depois que eu formular um sistema mais resumido de contrapontos às tuas opiniões eu exporei aqui, pois agora eu tenho material que não conseguiria angariar antes por falta de tempo e por necessidade de pagar o sal maldito que sustenta o meu corpo e o dos meus 5 filhos, do qual você afirma que eu não valha o quanto ele custe mas que entretanto sou eu quem o conquisto sem a malfadada estabilidade do funcionalismo público e da qual o senhor é um ilustre beneficiário.

    COMENTÁRIO: cuidado com excesso de “sal maldito”… Em termos discutitivos, estou acreditando que teremos uma explanação de primeira qualidade, elaborada pelo Sr. Scur, na qual demonstrará cabalmente a fraqueza argumentativa do Sr. José Carlos. De minha parte, reconheço que não seria capaz de objetar àquela explanação, por isso, não vejo hora de apreciar a réplica prometida.

    SCUR: Se o senhor fosse meu funcionário eu não o manteria empregado por não retribuir suas horas em trabalho para o qual é pago, mas procuraria talvez pessoas com o caráter de Chico Xavier que sendo funcionário público e tendo se aposentado como tal não conheço notícias de ter psicografado na repartição durante o expediente.

    COMENTÁRIO: Creio que só agora o Sr. José Carlos tomou conhecimento da sorte que teve em não ser funcionário do Sr. Scur…

    SCUR: Aproveitando o título deste teu artigo aqui, limites da História, posso dizer que na minha opinião o Pedro de Campos, médium, espírita, ufólogo, te superou sobremaneira amigo, pois em seu livro de 443 página apresentou fotocópias de epístolas, da árvore geneológica dos Lêntulus, a cronologia da morte de Lentulus Sura, enfim, tanta coisa que não vejo hora de me inteirar de tudo, com cuidado e critério, mas a princípio, muito na medida de quem toma os teus próprios argumentos como definitivos, te digo que você está num mato sem cachorro, complicou tua missão deveras e não vai ser num rompante, em mais um texto kilométrico como este último que você vai se salvar de um intenso trabalho para evitar o naufrágio das tuas “teorias pessoais”.
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    Está fazendo água na canoa do teu blá-blá-blá. Avante capitão!

    COMENTÁRIO: Scur, está nos deixando mui ansiosos por ler o estudo que garantiu elaborar. Por favor, não vá nos deixar na saudade, após ter prometido réplica que derribará por completo a afirmação da inexistência de Públio Lêntulo. Estamos no aguardo…

    BIASETTO: Os céticos vão achar um monte de argumentos para descaracterizar o trabalho do Pedro de Campos.

    COMENTÁRIO: Biasetto, não se preocupe com o “monte” de argumentos: o importante será avaliar a QUALIDADE deles; se forem suficientemente fortes para descaracterizar as alegações de Campos, significará que a idéia defendida por Pedro de Campos é fraca. Portanto, o melhor é esperar pelo contraditório, a fim de conferirmos o peso desse.

    EDUARDO: Eu acredito em algumas coisas que não vi e não tem provas “cabais” e “irrefutáveis”. Quem já teve algumas experiências dificilmente duvida, eu acho. Seria duvidar de mim mesmo. Mas, eu posso ser doido, como dizem que foi Chico.

    COMENTÁRIO: a “doidice” não entra necessariamente nesse contexto, o que está ocorrendo é a confusão entre crença (ou fé) e evidência objetiva. A Bíblia diz que a fé é o “firme fundamento das coisas que se esperam e a certeza das que não se vêem”. Pela fé pode-se acreditar em qualquer coisa, mas, quando essa qualquer coisa passa para o campo da avaliação concreta ela pode se mostrar insensata, possível, plausível ou mesmo provável. Por exemplo, eu creio na existência do anãozinho gigante de cinco pernas e três cabeças; inclusive converso com ele telepaticamente. Então, posso dizer que “já tive experiência” com o tal anãozinho e dela não posso duvidar. A questão que daí decorre é: e as outras pessoas, que não tiveram tal experiência, são obrigadas a aceitar meu discurso? Possivelmente algumas aceitariam e, em consequência, poder-se-ia criar a “sociedade dos amigos do anãozinho gigante”. Coisa semelhante ocorre com a crença na existência de Públio Lêntulo.

    EDUARDO: Veja que a Enciclopédia Católica considera o Publio Lentulus um personagem da ficção e a carta apócrifa. Logo, eu ACHO QUE O ESTADO DA ARTE DA HISTÓRIA VAI NESSA DIREÇÃO, o que nos remete à idéia (é uma opinão minha) de que não teremos eventos históricos documentados e aceitos pela academia, para mudar o que foi descrito no blog pelo JCFF. TUDO O QUE SURGIR SERÁ CONSIDERADO “DUVIDOSO” e as suposições espíritas, que podem ter base no livro Há 2000 Anos, serão criticadas e até ridicularizadas.

    COMENTÁRIO: o que está sendo dito no trecho acima é: considerar Lêntulo e sua carta obra de ficção é fruto de direcionamento dado pelo grupo mais influente; ou seja, não teria nada a ver com a existência de Públio e da missiva. É óbvio que essa alegação não tem fundamento: para se comprovar a incongruência de tal discurso, basta examinar o estudo do Sr. José Carlos, no qual se demonstra, com evidências sobejas, que a carta de Lêntulo e o próprio têm tudo para serem forjados. Não se trata de “questão de opinião”, faz-se imprescindível verificar o que nos oferecem os estudos (tanto os que intentam comprovar a realidade de Lêntulo, quanto os que a negam), e avaliar qual merece crédito.

    EDUARDO: Não acreditam na própria Ciência que dizem se apoiar, mas ACREDITAM QUE TÊM UMA MISSÃO IMPORTANTÍSSIMA EM SUAS VIDAS DE DIFAMAR OS QUE OUSARAM A SEREM MELHORES DO QUE ELES, e que acumularam tesouros nos céus e não na Terra, onde o ladrão rouba, a traça come e a ferrugem corrói, e que terão sua passagem pelo planeta pontilhada em caminhos de estrelas rutilando à cada gesto de caridade e amor ao próximo.

    COMENTÁRIO: difamar é fazer alegações sem comprovação. Quem põe em xeque a existência de Lêntulo (e, consequentemente a de Emmanuel) deve apresentar argumentos que corroborem o alegado. No caso em questão, temos disponível um bem elaborado estudo amparado por aprofundada pesquisa, que demonstra a inviabilidade do Públio Lêntulo adotado por Chico Xavier. Quem discordar da conclusão do estudo tem diante de si dois caminhos: ou continuar crendo na existência de Públio e na veracidade da epístola a ele atribuída, nada obstante haver firme demonstração em contrário; ou, contra-argumentar ao conteúdo da tese que denega a realidade do imaginado senador romano.

    EDUARDO: Veremos as ginásticas mentais que farão para atacar a obra de Pedro de Campos, e como as suas teses estavam expostas utilizando o pano de fundo de livros de historiadores que as pessoas comuns não teriam acesso facilmente, dando ares de afirmações definitivas, A OBRA DE PEDRO DE CAMPOS TRARÁ O CONTRAPONTO UTILIZANDO AS MESMAS OBRAS E VÁRIAS OUTRAS MAIS QUE ELES NÃO CHEGARAM A CONSULTAR, e assim, comparando-se o que estava escrito e as conclusões que chegaram uns e outros, os que leem terão mais dados para compararar as intenções de cada qual.

    COMENTÁRIO: ora, se o livro de Pedro de Campos efetivamente contiver demonstração irrefutável da existência de Lêntulo, teremos que, humildemente, aceitar que a conclusão do autor é firme e derriba a tese contrária, ou com ela concorre de igual para igual. Contudo, não basta dizer que o escrito de Campos possui esse apanágio, faz-se necessário demonstrar que é desse modo.
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    EDUARDO: Ao final OS ILUSTRES PODERÃO CONSULTAR O PRÓPRIO AUTOR DO LIVRO PARA CONTRADIZÊ-LO, SEM PRECISAR COVARDEMENTE INSTIGAR AS PESSOAS COMUNS À FAZÊ-LO COMO SE TODOS FOSSEM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS (…)

    COMENTÁRIO: suponho que a consulta se fará à “obra” de Pedro de Campos, em vez de ao “próprio autor”, conforme proposto pelo Sr. Eduardo. Por outro lado, instigar “pessoas comuns” a que façam suas réplicas não tem nada de covarde. Se a tal “pessoa comum” não se sentir habilitada para construir ela mesma sua opinião, deve buscar apoio em quem possa realizar a empreitada. O que não é bom para nenhuma das partes é desmerecer um trabalho bem elaborado unicamente porque a conclusão não agradou…
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    Biasetto: Tradicionalmente, afirma-se que o 666 é o “número da besta”.(…) pesquisei na internet sobre o tal número e não encontrei uma boa explicação.
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    No livro “A Caminho da Luz”, Emmanuel/Chico Xavier, obra de 1938, na página 128, consta:
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    “Reza o Apocalipse que a besta poderia dizer grandezas e blasfêmias por 42 meses, acrescentando que o seu número era o 666 (Apoc. XIII, 5 e 18). Examinando-se a importância dos símbolos naquela época e seguindo o rumo certo das interpretações, podemos tomar cada mês como sendo 30 anos, em vez de 30 dias, obtendo, desse modo, um período de 1260 anos comuns, justamente o período compreendido entre 610 e 1870, da nossa era, quando o Papado se consolidava, após o seu surgimento, como o imperador Focas, em 607, e o decreto da infalibilidade papal com Pio IX, em 1870, que assinalou a decadência e a ausência de autoridade do Vaticano, em face da evolução científica, filosófica e religiosa da Humanidade.
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    Quanto ao número 666, sem nos referirmos às interpretações com os números gregos, em seus valores, devemos recorrer aos algarismos romanos, em sua significação, por serem mais divulgados e conhecidos, explicando os títulos de ‘VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS’ , ‘VICARIVS FILII DEI’ E ‘DVX CLERI’ que significam ‘Vigário-Geral de Deus na Terra’ , ‘Vigário do Filho de Deus’ e ‘Príncipe do Clero’.
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    [agora vem o mais interessante] – Bastará ao estudioso um pequeno jogo de paciência, somando os algarismos romanos encontrados em cada título papal, a fim de encontrar a mesma equação de 666, em cada um deles.
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    Vê-se, pois, que o Apocalipse de João tem singular importância para os destinos da Humanidade terrestre.”
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    Assim, Vítor, O QUE ME CHAMOU A ATENÇÃO É TAL EQUAÇÃO, QUE DE FATO RESULTA EM 666, E A CURIOSIDADE DE SABER COMO O “DANADINHO” DO CHICO, O MINEIRINHO DE PEDRO LEOPOLDO, SABIA DISSO.
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    Posso estar falando bobagem, não encontrei esta informação em nenhum outro livro e nem na internet.
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    O CHICO ERA DANADO MESMO!!!
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    COMENTÁRIO: conquanto o Sr. Carlos tenha esclarecido a “danadice” de Chico Xavier, cabem mais alguns ponderamentos.
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    A empolgação do Sr. Biasetto quanto à capacidade de Xavier saber de coisas que “nem na internet se acham” é demonstrativo da alimentação contínua que se faz da lenda xaveriana. Quem não lembra da “luz” que entrou no quarto de Chico, que até hoje é divulgada como a visita de Emmanuel ao médium doente? Se o caso ocorresse com outra pessoa não tão misticamente exaltada quanto Xavier, a explicação seria tratar-se de simples reflexo luminoso na lente da filmadora (o que, de fato, ocorreu). Tratando-se de Chico, o foco de luz transformou-se em “sensacional” demonstração da presença de espíritos! Ocorrências miúdas são superexaltadas dando uma dimensão irreal dos “poderes” de Francisco.
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    É óbvio que o Sr. Biasetto não será desprestigiado por não conhecer informes a respeito do “número da besta” (ninguém é obrigado a saber de tudo), mas, se conhecesse, perceberia que Xavier adotou uma das interpretações mais tolas do “666”. A ligação entre a besta e o papa começou logo após a reforma protestante, quando os reformistas buscavam ávidamente evidências de que a Igreja era expressão do demônio. Como se trata de correlação numérica, é fácil, aplicando-se métodos específicos, chegar-se a diversos candidatos bestiais. Rapidamente, os católicos deram o troco, mostrando que o nome de Martinho Lutero também “fechava” com o 666.
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    Foi Ellen G. White, matriarca do Aventismo do Sétimo Dia, quem, em meados do século XIX, imprimiu forte ênfase a idéia de que o papa e a besta eram uma só entidade. Até o presente, alguns grupos protestantes mantém a idéia. Entretanto, demonstrou-se que o epíteto da acusadora, Ellen Gould White, se tranformado em números, somava 666…
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    Há “cálculos” que, em vez de incriminarem o papa, apontam para a própria igreja católica como a representante do número maldito, outros esquemas põe o foco sobre os Estados Unidos, etc.
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    A interpretação usualmente aceita é a de que esse número se referisse ao imperador Nero. Em alguns manuscritos antigos, o número da besta, em vez de 666, é 616, que fecha exatamente com o do sanguinário imperador romano. Entretanto, mesmo com o 666 também se chega a Nero, desde que se faça a adaptação adequada.
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    Admitindo-se que fora Emmanuel quem “segredara” a Chico a popularesca interpretação do 666, seremos constrangidos a concluir que o mentor espiritual do médium conhecia pouco do assunto. Ora, se em tema relativamente bem conhecido Emmanuel escorregou, em quantos outros não terá deslizado? O mais provável é que as lucubrações atribuídas a Emmanuel provinham de leituras do próprio Xavier.
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    SCUR: Seu conhecimento jurídico está condenando à si próprio JCFF, pois O SENHOR DEVERIA DEMONSTRAR QUE PUBLIO NÃO EXISTIU E SABE QUE ISTO É IMPOSSÍVEL DE SER CONFIRMADO “DE FACTO” POIS BASEIA SUAS AFIRMAÇÕES EM TESES E DOCUMENTOS IMCOMPLETOS DA HISTÓRIA, QUE DÃO ALGUMAS PISTAS, INDÍCIOS INCONCLUSIVOS.
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    COMENTÁRIO: Até demonstração em contrário (que se fará pelo estudo prometido pelo Sr. Scur), o arrazoado do Sr. José Carlos demonstra que o Públio Lêntulo propagandeado por Chico Xavier não existiu. Não há como fugir dessa constatação, a não ser de duas maneiras: 1) apresentando argumentos melhores embasados que os do Sr. José Carlos, ou, 2) apegando-se a uma fé fundamentalista, que rechaça toda e qualquer evidência que a contrarie.
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    FLÁVIO JOSEFO: Se não é possível provar a mediunidade do Chico, também não é possível provar o contrário.
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    COMENTÁRIO: é possível demonstrar que a mediunidade de Chico é coisa terrena: se se evidenciar que as manifestações ditas mediúnicas se circunscrevem ao âmbito dos fenômenos naturais, desnecessário se torna recorrer-se à espiritualidade para explicá-los. É óbvio que para quem cultiva a crença em mediunidade e coisas do gênero sempre a explicação mística terá maior importância. Isso é compreensível e merece respeito. O que não é aceitável é o apologista afirmar que a “única explicação” é a que apela para a ação de espíritos. Mesmo porque, existem diversas confissões religiosas, cada qual com sua lógica doutrinária, que rechaçam a idéia de que espíritos comuniquem, as quais devem ser igualmente respeitadas.
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    FLÁVIO JOSEFO: Pra mim, o Chico foi médium, um dos melhores. Eu tenho provas, mas elas são particulares e é assim que funciona pra todos os crentes – “eis o mistério da fé”.
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    COMENTÁRIO: certo, fé é fé, contudo não nos ajuda a contestar as assertivas contidas no estudo sob apreciação.
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    FLÁVIO JOSEFO: O problema é que o JCFF é que começou, e o Vítor faz o mesmo, a ridicularizar com as crenças alheias e a ridicularizar com o Chico e o espiritismo em geral.
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    COMENTÁRIO: ridicularizar equivale a proferir aleivosias contra algo ou alguém. O que tem sido realizado pelo Vitor, José Carlos e outros, são estudos que intentam demonstrar o ponto de vista dos autores. Esses estudos estão disponível para serem apreciados e, se desejado, contestados. Pode ser que o conteúdo desses explanativos não agrade a alguns leitores, contudo, não agradar é consequência, dificilmente uma dissertação é louvada generalizadamente; ou seja, o desagrado ante o escrito não torna a matéria automaticamente sem valor.
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    FLÁVIO JOSEFO: Então, você diz de argumentos. Oras os argumentos são:
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    O Chico era quase analfabeto e escreveu 400 livros.
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    COMENTÁRIO: Chico não era “quase analfabeto”, quase analfabeto é o Tiririca. Xavier era um autodidata, criativo, com talento para a escrita e dotado de boa memória. Não possuísse essas qualidades jamais teria produzido 412 livros.
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    FLÁVIO JOSEFO: “Há Dois Mil Anos” e “Paulo e Estevão” são obras-primas.
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    COMENTÁRIO: questão de opinião, e, mesmo que possam ser unanimemente consideradas “obras-primas” seria um atestado da habilidade redativa de Chico, nada mais.
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    FLÁVIO JOSEFO: Os livros da série André Luiz contêm inúmeras informações sobre medicina e outras áreas do conhecimento humano, de significado destaque.
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    COMENTÁRIO: altamente discutível, as informações técnicas contidas nos livros de “André Luiz” (outro que provavelmente não existiu) têm sido fortemente criticadas. Vou postar, ao final destes comentários, trecho de artigo ilustrativo, que comenta o livro “Evolução em Dois Mundos”. Aliás, sobre o “Evolução”, quando a obra foi publicada, o próprio meio espírita a recebeu mal: reclamaram que a espiritualidade havia enviado material de difícil leitura, confusamente redigido e, aparentemente sem objetivo. Sem dúvida, é uma das obras mais indigestas dentre as provindas da pena de Francisco.
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    FLÁVIO JOSEFO: O Chico passou a vida afirmando que recebeu estas informações dos espíritos. Passou a vida procurando fazer o melhor ao próximo e fez muito neste campo.
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    COMENTÁRIO: não devem ser misturadas as coisas: Chico foi um homem bom: exemplo de vida, despojado, trabalhador incansável; disso não há dúvida. O que está em questão são suas alegações mediúnicas, dentre as quais, no momento, a de que era assessorado por Emmanuel, que fora nos tempos de Cristo um senador romano. Alguém garantir que faz contato com espírito não torna esses contatos reais: mesmo que o declarante não esteja mal intencionado, pode estar equivocado.
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    FLÁVIO JOSEFO: Quem o conheceu afirma que sentiu uma paz, um conforto incomparável.
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    COMENTÁRIO: muitos líderes religiosos, de quaisquer confissões, também despertam essas sensações; até mesmo pessoas não vinculadas a religiões são capazes de despejar no ambiente onde se encontram eflúvios confortadores.
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    FLÁVIO JOSEFO: Os centros espíritas ajudam muitas pessoas, as Casas André Luiz cuidam de crianças com inúmeras dificuldades.
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    COMENTÁRIO: que se louvem essa obras beneméritas; outros grupos religiosos, do mesmo modo, esforçam-se por mitigar a dor dos menos afortunados. Nada disso, porém, esclarece as dúvidas que estão sendo abordadas nesse espaço.
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    FLÁVIO JOSEFO: Há várias pessoas sérias, honestas, de caráter, profissionais competentes, que frequentam centros, afirmam conhecer a doutrina, experienciar sua veracidade.
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    COMENTÁRIO: tudo bem: quando uma pessoa se identifica com a filosofia religiosa de determinado grupo essas “certezas” tomam forma. Novamente, isso não nos ajuda em nossas dúvidas.
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    FLÁVIO JOSEFO: Mas aí, vem gente como o Vítor, o JCFF e outros dizendo que tudo isto é mentira. Menosprezando o espiritismo e o trabalho do Chico.
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    COMENTÁRIO: Chico não era mentiroso, defendia uma realidade que está sob avaliação. Mesmo que estivesse, como alguns de nós supomos, equivocado em suas alegações mediúnicas, seu caráter bonançoso não se conspurcaria, pois esse aspecto não está em julgamento.
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    FLÁVIO JOSEFO: Se a Igreja critica a ideia de reencarnação e faço só uma pergunta: o que acontece com uma criança recém-nascida que morre. Ela vai pro céu e passará a eternidade sendo um bebê?
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    COMENTÁRIO: certamente a teologia católica responderia a essa questão. Ou, quem sabe?, informaria, a meu ver objetivamente, que, visto nada sabermos das circunstâncias que cercam o além, pois de lá só temos parcos vislumbres, nada de definitivo poderá ser dito desses assuntos. A reencarnação aparentemente esclarece questões atinentes à plena justiça e outra considerações; porém tratam-se de projeções de ideais terrenos de justiça e equidade, lançados na esfera transcendental. Ninguém está habilitado a afirmar taxativamente que “do lado de lá” as coisas são conforme alguns imaginam.
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    FLÁVIO JOSEFO: Tudo bem, o Chico não era quase analfabeto! Então, qual era a formação dele? Você acha, sinceramente, que uma pessoa que só faz até a 4ª série do primário, seria capaz de escrever tudo que ele escreveu?
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    COMENTÁRIO: muitos escritores famosos cursaram apenas o básico e, mesmo assim, por formação autodidata se tornaram grandes em seus trabalhos. Exemplo temos em Humberto de Campos, um dos personagens mais alegadamente psicografados por Chico.
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    FLÁVIO JOSEFO: O Chico lia, o Chico plagiava, o Chico trabalhava, o Chico dava assistência nos centros espíritas, o Chico escreveu mais de 100 mil páginas, o Chico tinha problemas de saúde, o Chico recebia pessoas em sua casa. Quantas horas tinha o dia do Chico?
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    COMENTÁRIO: certamente, Chico era dotado de energia de trabalho fora do comum. Realmente, é situação pouco trivial, porém não é única: muitas pessoas, em diversos campos de atividade, demonstram igual ou maior capacidade laborativa. Na biografia do médium, escrita por Marcel Souto Maior, encontramos comentários sobre o trabalho de Chico:
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    “O anúncio foi precipitado. Chico ouviu uma contra-ordem de seu guia e ficou perplexo:
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    – Estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram uma instrução: ela determina que sua atual reencarnação seja desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espírita-cristãos. Sua existência, do ponto de vista físico, fica à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto seu corpo se mostre apto para nossas atividades.
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    Chico não se conformou:

    – Devo trabalhar na recepção de mensagens e livros até o fim da minha vida atual?
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    – Sim, não temos outra alternativa.
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    O autor dos cem livros insistiu:
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    – E se eu não quiser? A doutrina espírita ensina que somos portadores do livre arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos.
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    Emmanuel sorriu e deu o veredito:
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    – A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao cristianismo redivivo terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico.
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    Assunto encerrado.
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    Chico manteve a conversa em segredo. (As vidas de Chico Xavier – Marcel Souto Maior)
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    FLÁVIO JOSEFO: Vítor, você não é bobo. Uma pessoa pra escrever um livro precisa consultar, no mínimo dez, quinze bibliografia.
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    COMENTÁRIO: vê-se que o dileto comentarista não escreve livros. É possível produzir escritos sem consultar uma única bibliografia. É fato que quanto mais se pesquisar melhor elaborado ficará o resultado; no entanto alguém com boa cultura geral, e boa memória, é capaz de redigir razoavelmente sem recorrer a fontes externas. Tratando-se de romances, poesia, nem se fala…
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    EDUARDO: Por isso que eu acho que um debate entre o JCFF e o Scur não tem como avançar. Não vejo o Scur “obedecendo” o JCFF para pesquisar. Acho que ele, O SCUR, IRIA PERDER TEMPO, POIS OS LIVROS ACEITOS PELOS HISTORIADORES DEVEM SEGUIR NA MESMA LINHA DA ENCICLOPÉDIA CATÓLICA E PREGAM A NÃO EXISTÊNCIA DO SENADOR ROMANO, OU NÃO DEVEM FAZER NENHUMA REFERÊNCIA, COMO MOSTRA O JCFF NO ESTUDO. E, se o Scur achar algum documento, texto, ou quaisquer evidencias, estas serão logo refutadas por não fazer parte do Estado da Arte da história documentada.

    COMENTÁRIO: a não-existência de Lêntulo não é “pregação”, trata-se ilação, baseada no material que amparou a pesquisa. Certamente que, se o Sr. Scur encontrar documentos de boa fonte que apontem para outra conclusão a respeito de Públio Lêntulo, que não sua demonstrada inexistência, esse material terá de ser levado em conta. Não existe essa de “complô” contra a “verdade” publiana, ao menos não nesse espaço…
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    EDUARDO: Mesmo que haja bons documentos e muito material aceito, EU CONSIDERO, seguindo a linha do Scur, que a ciência está mais para as falhas do que acertos. Logo, para refutar os preceitos espíritas é preciso que tal discordância ultrapasse os limites da ciência, que por ser humana, já demonstra sua fragilidade e limitação. PARA NÓS ESPÍRITAS, me corrija Roberto se estiver escrevendo bobagens sobre a Doutrina, o espiritismo não pode ser refutado pela ciência atual justamente pq considera que a evolução da ciência irá se encontrar com a Doutrina e não refutá-la, mas isso é para o futuro e não para agora. Diga-se tb que a Doutrina seguirá essa linha de evolução, ajustando suas arestas. O Vitor poderá dizer “…isso mesmo, estou aqui mostrando onde devem corrigir as arestas, pois Chixo Xavier nunca foi medium..” ..rs.

    COMENTÁRIO: A ciência realmente registra muitas “falhas”; o conhecimento científico, de certo modo, progride por tentativas, erros e acertos. Seja como for, a ciência é a melhor ferramenta ora disponível para que conheçamos a natureza. Se alguém apresenta conjectura que transcenda esse âmbito abrangido pela ciência, cabe a esse alguém demonstrar convincentemente o que apregoa. Não basta apelar para limitações do saber científico a fim de validadar crenças. No caso de Públio Lêntulo está em discussão a existência de evidências, ou mesmo indícios, de que tenha existido, coisa que não se encontrou, visto que os melhores estudos dão conta de que essa figura é tão-somente fruto da fantasia de inspirados.

    SCUR: Ele afirma várias vezes que Publio é “fantasmagórico” mas não pode se omitir de esclarecer que “não pode dar absoluta certeza sobre isto”, mas embora faça uma ginástica mental para acomodar esta realidade insofismável, de que não pode dizer que Publio não existiu, em absoluto, faz no correr dos parágrafos uma condução do leitor para a confirmação desta inexistência.

    COMENTÁRIO: “certeza absoluta” ninguém neste mundo pode dar a respeito de coisa alguma. Posso “ter certeza absoluta de que um dia morrerei”, mas sempre existirá a remotíssima hipótese de que eu não morra, o que espero que ocorra. É algo semelhante ao que os defensores de Lêntulo estão a realizar: escudam-se em possibilidades mínimas, pondo-as ao mesmo nível de pesquisas muito bem documentadas e suficientemente demonstrativas de que essa figura jamais existiu. Em decorrência, discussão esclarecedora fica impedida de ser realizada.
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    SCUR: A obrigação que terá de ler o livro, que ele não leu, ou leu “diametralmente”, e não gostou, fará com que ele divise um trabalho de inquirição histórica muito mais profundo e principalmente, muito mais honesto do que o que ele empreendeu até agora, e a conclusão dependerá não desta alegada precisão científica histórica, mas do foro íntimo de cada um(…)
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    COMENTÁRIO: Sinto dificuldade em definir se o Sr. José Carlos gostou ou não do livro de Pedro de Campos. Seja como for, caso ele apresentasse comentários calcados unicamente na reação emocional que a leitura lhe proporcionou, certamente essa apreciação dispensaria reconhecimento. O que esperamos da parte de Sr. José Carlos é uma avaliação criteriosa dos argumentos defendidos por Campos, de modo que sua conclusão, e as dos leitores, não fique restrita ao “foro íntimo”, o que equivaleria a “questão de opinião”. Almejamos, sim, reflexão que permita aos interessados formar idéias seguras a respeito do assunto.
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    E, também esperamos do Sr. Scur, seus prometidos contestamentos ao texto do Sr. José Carlos, nos quais, garante, refutará as reflexões que atestam a inexistência de Lêntulo. Certamente, esses trabalhos, tanto o do Sr. José Carlos, quanto o do Sr. Scur, nos ajudarão a formar melhor juízo desse assunto polêmico. Aguardamos pois.
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    SCUR: pois não há dados definitivos que concluam pela existência de Publio assim como não há fatos de mesmo teor sobre a existência do próprio cristianismo,
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    COMENTÁRIO: fiquei em sérias dúvidas a respeito do que o Sr. Scur entende por “cristianismo”. Se se referir a grupos religiosos que seguem (ou declaram seguir) os ensinamentos de Cristo, nesse caso, a existência do cristianismo é ponto pacífico. Quanto a não-existência de Públio, até aqui, estamos amparados por investigações que dão conta de que efetivamente não existiu ninguém com as características a ele atribuídas; a não ser que surjam, no estudo que o Sr. Scur elaborará, demonstrações bem firmadas, capazes de contestar a conclusão atual. Até lá, não podemos nos furtar às evidências, ou seja: Públio Lêntulo não é, ou foi, real, tampouco sua famigerada carta.
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    SCUR: Viesse esta mesma Igreja, hoje em dia, apresentar os documentos mais originais que deram origem as suas traduções, e poderíamos encontrar novas importantes informações, mas talvez isto viesse a trazer à baila a desonestidade desta instituição milenar que os adulterou à soldo destes mesmos interesses de hegemonia e poder mundano.

    COMENTÁRIO: não sabemos se a igreja dispõe desses reclamados documentos. Essa alegação lembra muito as queixas de ufologistas contra os governos, asseverando que as autoridades escomoteiam informes disponíveis, concernentes à presença de alienígenas do espaço entre nós. Quanto mais os governos neguem dispor de tais comprovações, mais os adeptos da ufologia afirmam existir. No caso da Igreja, ainda que tais documentos originais estivessem com ela, não poderíamos asseverar, sem examiná-los, que escondem procedimentos desonestos do parte da Instituição. Uma das apologias espíritas, por exemplo, é a de que o cristianismo primitivo era reencarnacionista. Trata-se de afirmação infundada, que a leitura dos evangelhos desmente peremptoriamente; diante disso, recorre-se ao argumento de que os escritos bíblicos foram adulterados, deles se retirando às referências reencarnatórias. Ora, se tal se deu, esperar-se-ia que a espiritualidade superior ajudasse a recompor o material danificado. Entretanto, nenhum espírito ainda se atreveu a tal feito…
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    SCUR: haja visto que não há na história registrada meios de aceitar como cabais, definitivos e portanto, científicos, a existência dos próprio evangelhos canônicos pois “ninguém viu os originais” destes escritos e além do mais ELES “NÃO FORAM ESCRITOS PELOS APÓSTOLOS QUE CONVIVERAM COM JESUS”, MAS POR FUTUROS DISCÍPULOS QUE OUVIRAM AS HISTÓRIA SOBRE O MESTRE E AS TRANSCREVERAM NOS PAPIROS QUE FORAM POSTERIORMENTE COPIADOS, recopiados, traduzidos, retraduzidos, e adulterado em muito pelos interesses escusos da Igreja Católica ao longo dos séculos, e principalmente durante o período negro da Inquisição que durou 7 séculos.
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    COMENTÁRIO: comparar a ausência dos escritos originais dos evangelhos com a documentação disponível a respeito de Lêntulo, só por brincadeira! De Públio Lêntulo, afora a missiva a ele atribuída e, para quem considere válido, o testemunho recente de Francisco, nada existe anterior ao século XIV; e o que existe após essa data é praticamente apologia à mensagem do escrito. Quanto aos evangelhos, destes acham-se escritos elaborados muito próximos à epoca dos acontecimentos. Relativamente às adulterações nos relatos, que não seriam propriamente adulterações, mas, provavelmente, interpolações, podem ter ocorrido: a moderna crítica textual procura elucidar essa questão. Entretanto, esse é um trabalho científico, mui diferente de alegações genéricas que nada esclarecem. Por exemplo, afirmar que durante o período da inquisição houve adulterações ao texto bíblico, é o mesmo que dizer nada. Se formos seguir a declaração do Sr. Scur, seremos induzidos a supor que, durante sete séculos, a igreja modificou ao seu bel-prazer os relatos evangélicos, tudo a fim de atender a interesses mesquinhos. Fosse assim, a Bíblia hoje seria um miscelânia de textos incoerentes e mesmo ilegíveis. Sem considerar que os textos modernos são harmoniosos com os mais antigos papiros e pergaminhos disponíveis, os quais, não estão “escondidos”, sim franqueados para exame de estudiosos.
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    Considere-se, ainda, que, a crítica interna à “carta de Públio” mostra-a não-sincrônica com parte dos eventos que relata. Por exemplo, conforme apontou o Sr. José Carlos, a descrição de Cristo, constante no escrito, remonta a conjecturas a respeito da imagem de Jesus, firmadas a partir do século IX.
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    Por fim, é equivocada a afirmação de que os evangelhos não foram elaborados por discípulos de Cristo: há boas indicações de que o livro de Mateus fora produzido pelo discípulo com esse nome (também chamado Levi); Marcos teria sido assistente de Pedro discípulo, portanto muito próximo de testemunha ocular dos acontecimentos; Lucas era médico e amigo do apóstolo Paulo; este autor era o que estaria mais distante do palco dos acontecimentos envolvendo o ministério de Cristo; entretanto, Lucas teve o cuidado de garantir que buscou fontes idôneas, as quais acompanharam o trabalho de Jesus, conforme se lê ao início de seu texto:
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    “Tendo, pois, muitos empreendido por em ordem a narraçäo dos fatos que entre nós se cumpriram,
    SEGUNDO NOS TRANSMITIRAM OS MESMOS QUE OS PRESENCIARAM DESDE O PRINCÍPIO, e foram ministros da palavra, Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, HAVENDO-ME JÁ INFORMADO MINUCIOSAMENTE DE TUDO DESDE O PRINCÍPIO;
    Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.” (Lucas 1:1-4)
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    Quanto ao Evangelho segundo João, discute-se se o autor fora o “discípulo amado”, ou um discípulo deste com o mesmo nome.
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    SCUR: Copio aqui, pedindo perdão ou arcando com as consequências se instado for, de copiar um pequeno parágrafo do livro de Pedro de Campos no final do belíssimo capítulo em que trata da Epístola Lentuli:
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    PEDRO DE CAMPOS: “Não há como mudar a situação atual de que Públio Lentulus existiu e foi autor da Epístola Lentuli, pois a prova substancial de sua existência é a carta.”
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    COMENTÁRIO: A seguir por essa proposição, pode-se dizer que o Santo Sudário é autêntico, pois a prova é o próprio Santo Sudário; pode-se alegar que duendes existem, pois a prova substancial é a existência de gente que afirma ter visto duendes. Trata-se de argumento falacioso: um raciocínio circular, que pode ser assim traduzido: “existe uma carta cuja autoria é atribuída a Públio Lêntulo, o que prova a existência de Públio Lêntulo”. Creio desnecessário dizer mais para evidenciar a inconsistência da alegação.
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    Tomara que os demais argumentos prolatados por Pedro de Campos sejam de melhor qualidade…
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    PEDRO DE CAMPOS: Corroborando a carta, estão os testemunhos que remontam ao primeiro século da Era Cristã, conforme mostramos.
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    COMENTÁRIO: Precisaríamos conhecer que “testemunhos” são esses, referidos por Campos, para avaliá-los…
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    PEDRO DE CAMPOS: E, finalmente, a psicografia de Chico Xavier, pois A COMUNICAÇÃO DOS ESPÍRITOS É TIDA HOJE NO BRASIL COMO FATO PRÁTICO, CONSTATÁVEL NAS SESSÕES ESPÍRITAS, independente da crença adversária e da opinião cética sem o fundamento científico capaz de explorar a mente interagindo com outras inteligências imponderáveis além do cérebro humano”.
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    COMENTÁRIO: Campos dá como provado o que está sob avaliação: é certo que a comunicação com espíritos é tida como “fato prático, constatável nas sessões espíritas”; o que significa que é fato para os espíritas, não para todos. Um espírita ao contemplar um médium psicografando, sem titubear, afiançará que o dito está recebendo comunicação de espíritos; outro, não ligado ao espiritismo, poderá inferir que o dito médium “psicografa” devido a uma dissociação de sua própria mente. Não basta, pois, testemunhar médiuns alegadamente psicografando para que a comunicação com espíritos se torne realidade. Pensando bem, começo a me preocupar com a qualidade dos argumentos constantes no livro de Pedro de Campos…

    SCUR: Esteja certo que historicamente, numa análise honesta, Publio existiu tanto quando para o JCFF ele não existiu, ou seja, o grau de certeza de ambas afirmações depende do gosto do cliente.
    Se ele conseguir detratar os pais da igreja, os principais, logo no final do segundo século, classificando-os como historicamente inválidos, então ele ficará melhor na foto, mas isso ele não vai conseguir fazer, para o desconsolo dele.
    Esta ciência “opinativa” deste senhor não traz luz, mas engano.
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    COMENTÁRIO: não posso falar pelos outros, mas de minha leitura do estudo do Sr. José Carlos, fiquei muito tranquilo em concluir pela inexistência de Públio Lêntulo. Se surgir reflexão que demonstre, com a mesma seriedade que o escrito do Sr. José Carlos, que Lêntulo existiu, então assinarei junto com o Sr. Scur a declaração acima, de que tudo “depende do gosto do cliente”. Até que isso aconteça, caso aconteça, fico com a constatação irreprochável: Públio Lêntulo não existiu, consequentemente Emmanuel também não, sendo mera elaboração mental do bondoso Francisco Cândido Xavier.

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    A seguir: texto comentando “Evolução em dois mundos”.
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    “(…)Também nesse campo os erros continuaram a se multiplicar toda vez que os médiuns consultaram os espíritos sobre fatos cientificamente verificáveis. Mais uma vez, pode-se tomar um exemplo de Chico Xavier: Evolução em Dois Mundos (1959), supostamente ditada por “André Luiz”, que supostamente foi médico sanitarista no Rio de Janeiro do início do século XX (claramente inspirado na figura de Carlos Chagas, mas sem se comprometer com detalhes).
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    Ao se referir à evolução da “mônada espiritual” através dos corpos materiais, afirma que “caminhou na direção dos ganóides e teleósteos, arquegossauros e labirintodontes para culminar nos grandes lacertinos e nas aves estranhas, descendentes dos pterossáurios, no jurássico superior, chegando à época supracretácea para entrar na classe dos primeiros mamíferos”.
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    Nesse caso, não se trata nem de afirmações cientificamente aceitáveis quando foram escritas, mas superadas mais tarde. Mesmo em 1959, não passavam de mal-entendidos típicos de leigos com conhecimento superficial de biologia e evolução. Os dinossauros não são “lacertinos” (lagartos) e mesmo no século XIX, quando a origem das aves ainda era controvertida, sabia-se que elas não descendiam dos pterossauros (seus ancestrais eram dinossauros carnívoros bípedes, da sub-ordem dos terópodes). Os primeiros mamíferos surgiram muito antes da época “supracretácea” (ou seja, o Cenozóico): são quase tão antigos quanto os primeiros dinossauros e isso é sabido desde fins do século XIX.
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    Estendemo-nos sobre o espiritismo por ser uma doutrina particularmente conhecida no Brasil, mas outras caíram na mesma armadilha. Ellen White, a profetisa fundadora dos Adventistas do Sétimo Dia, também disse (em 1846) ter sido transportada em espírito para Júpiter, “mundo com quatro luas”, onde a relva era de um verde vivo, os pássaros gorjeavam cânticos suaves e os habitantes se pareciam todos com Jesus, porque embora ali crescesse o fruto proibido, não o haviam comido. Depois foi a Saturno, “com sete luas” (as que os astrônomos conheciam na época – hoje são contadas pelo menos 60), onde encontrou o profeta Enoc, que estaria morando em uma de suas cidades.
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    Joseph Smith, fundador da Igreja dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon), afirmou, em 1837, disse que a lua era habitada por homens e mulheres como na terra, que viviam até quase mil anos, tinham aproximadamente dois metros de altura e vestiam-se quase uniformemente, num estilo próximo aos dos quakers. Também nessa doutrina a existência de mundos habitados é crucial, pois Deus seria um homem ressuscitado e exaltado, mas de carne e osso, que vive em um planeta chamado Kolob e os mórmons podem se tornar deuses se seguirem seus mandamentos.
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    A Teosofia, outro produto do século XIX, descreve também detalhes da vida em Vênus e Marte (embora reconheça que a Lua é um mundo morto), mas é mais característica pelas detalhadas narrativas sobre o passado da Terra e da humanidade, em boa parte baseada em uma mistura de mitos gregos, hindus e budistas com especulações científicas do século XIX.
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    Lemúria, por exemplo. Citada por Helena Blavatsky em Ísis sem Véu (1877), havia aparecido pela primeira vez em 1864, como hipótese científica para explicar semelhanças geológicas entre a Índia e Madagascar – seria um continente desaparecido ao qual essas duas terras haviam pertencido, mas que afundara, na maior parte. Alguns biólogos sugeriram que a espécie humana talvez houvesse evoluído nesse continente hipotético, supostamente a pátria original dos primatas, numa tentativa de explicar a dificuldade de encontrar fósseis do “elo perdido” entre os primatas avançados e os seres humanos.
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    Os teósofos fizeram dessa especulação da segunda metade do século XIX uma certeza doutrinária. Entretanto, a tese tornou-se obsoleta com a descoberta, a partir de 1891, de fósseis pré-humanos na Ásia (inicialmente, Java e China) e a partir de 1924, de outros ainda mais antigos na África.
    A própria idéia de continentes e pontes de terra desaparecidos por afundamento tornou-se obsoleta a partir dos anos 1960, com o mapeamento do fundo dos oceanos e a acumulação de evidências sobre o lento deslocamento dos continentes. Ficou então claro que a Índia e Madagascar estiveram de fato unidas em uma mesma massa de terra, o que explica as semelhanças geológicas, mas o movimento das placas tectônicas levou a Índia a separar-se há 88 milhões de anos e mover-se até sua atual localização no sul da Ásia.
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    Também a cronologia teosófica é um fóssil do século XIX. Em A Doutrina Secreta (1888), Blavatsky fornece uma “cronologia geológica esotérica”, combinando “dados científicos e ocultos”, para concluir que a Terra começou a se sedimentar há 320 milhões de anos (começando a vida a evoluir logo em seguida), o que hoje chamamos Mesozóico começou há 44 milhões e o Cenozóico há 7,87 milhões. Quanto ao Universo, começara a existir precisamente em 1.955.882.800 a.C., de acordo com sua interpretação da numerologia mítica das eras hindus.
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    Na época, essas estimativas eram compatíveis com o pensamento de muitos geólogos e da maioria dos biólogos evolucionistas. Podiam até ser consideradas arrojadas, pois a maioria dos físicos ainda se recusava a aceitar números tão grandes: antes que a energia nuclear fosse descoberta e compreendida, julgavam que o Sol e a Terra não podiam ter mais que umas poucas dezenas de milhões de anos, caso contrário já teriam esfriado completamente.
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    Entretanto, hoje essas concepções tornaram-se absurdamente acanhadas. Conforme a datação radioativa, a sedimentação começou há pelo menos 3,8 bilhões de anos (a própria Terra tem 4,6 bilhões), o Mesozóico há 251 milhões e o Cenozóico há 65,5 milhões. O início do Universo, o Big Bang, é hoje datado, de acordo com as melhores estimativas da velocidade e distância das galáxias, de há 13,7 bilhões de anos. Mas os teósofos remanescentes apegam-se às idéias de Blavatsky e seguidores com o mesmo fervor com que os evangélicos fundamentalistas dos EUA se apegam ao mito do Dilúvio e à criação do mundo há alguns milhares de anos.
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    Errar é próprio da ciência, mas apegar-se a erros do passado é característico do pensamento dogmático, seja religioso ou esotérico. Isso não quer dizer, bem entendido, que não possa haver valor espiritual ou ético nos ensinamentos espíritas, teosóficos ou cristãos de qualquer corrente. Apenas tais doutrinas não podem reivindicar validação científica para suas supostas revelações. Quem se identifica seus valores e tem fé neles, que esteja à vontade, mas saiba separá-los das alegações científicas e históricas que vêm no mesmo pacote.” (“Errar é científico, insistir no erro é esotérico” – Antonio Luiz M. C. Costa)

  85. Sérgio Diz:

    Senhor Roberto Scur, até quando ficará dando uma de troll nesse blog?
    É lamentável a sua falta de educação atacando a honra dos participantes. Que exemplo de espírito elevado o seu! ( parece que o misticismo lhe faz muito bem!)
    Ataque idéias e não pessoas! Aqui debatemos as possíveis fraudes de CX mediúnicas mas nunca atacamos seu trabalho beneficiente.

  86. moizes montalvao Diz:

    Seria coisa muito boa se Luciano dos Anjos desses o ar de sua presença para defender Chico Xavier, inclusive defender a existência de Lêntulo e de Emmanuel. Pena que não queira participar dessa “brigalhada”.
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    A pessoa de Luciano é o que se pode chamar de “polêmica”, vê-se que seu nome logo desperta animosidades. De minha parte, admiro a combatividade do jornalista e sua coragem em defender suas convicções, mesmo diante de forte oposição. Some-se a isso que dos Anjos é um autêntico intelectual espiritista e escreve bem pracaramba.
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    Porém, discordo da maior parte das concepções do autor. Luciano, juntamente com Jorge Rizzini, foi um dos poucos que defendeu Otília Diogo quando esta foi revelada fraudulenta pela O CRUZEIRO. Manteve-se ao lado da médium, mesmo perante fortes evidências de que simulava materializar espíritos. Coerência ou teimosia? Não sei dizer…
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    Outra peculiaridade do jornalista é o dom que a si mesmo atribui de identificar encarnações. Ele próprio descobriu-se sucessor reencarnativo de Camille Desmouliuns, jornalista e escritor guilhotinado durante a Revolução Francesa. Essa “identificação” deu origem ao livro “Eu Sou Camille Desmoulins”, no qual o autor, juntamente com Hermínio Miranda, conta suas aventuras regressionistas. Este que vos escreve preparou contestatório à referida obra, material que chegou ao conhecimento do douto jornalista. Porém, Luciano, até o momento, optou por não replicar.
    .
    Na eclética produção escrita de Luciano encontra-se a afirmação de que os milhões de mortos em Biafra (a maioria de fome) eram nazistas reencarnados, que purgavam os crimes cometidos na Segunda Guerra. Desse modo, a horrenda mortandade ocorrida naquela sofrida nação, que subsistiu parcos três anos (de 1967 a 1970), ficou devidamente “esclarecida”: os desesperados esqueletos ambulantes que morriam aos magotes, quais moscas atingidas por jatos de inseticida, estavam tendo o que mereciam…
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    É mesmo uma pena que ele não venha…

  87. Eduardo Diz:

    JCFF,

    “Tal frase apresenta, a meu ver, uma série de problemas…”

    Respeito sua opinião, mas mantenho a frase e o pensamento. Seu último texto só fez reforçar minha idéia nesse sentido.
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    “vivência” como sinônimo de “conhecimento”

    Conhecimento codificado vc dispõe de muito. Mas isso vem dos livros. Qualquer um que dedique tempo e se esforce pode chegar a tal. Sua disciplina pra mim é um exemplo, parabéns por esse lado. Não é o meu interesse ir nesse sentido e estudar Chico Xavier. A dimensão filosófica e a religiosa do espiritismo, EM MINHA OPINIÃO, passam longe dos seus escritos e, ainda uma opinião, de vc.
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    “fundamentos teórico-doutrinários”

    Tranqüilo se vc leu mais do que eu sobre Kardec ou Chico e sabe mais. Isso não me preocupa. Pode ser mesmo que saiba. Muito do que eu sei sobre o Espiritismo eu não aprendi nesta existência, mesmo que vc possa não acreditar nisso.

    Vc tentou contextualizar a palavra “vivência”. Achei interessante. Acho eu, leia bem EU ACHO, que vc só sabe sobre o Espiritismo, Kardec e Chico Xavier por livros e documentos.
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    “As fontes para tal conhecimento (estou aqui supondo) poderiam ser leituras diversas, entrevistas, debates, descrições de cerimônias ou ritos, se oriundas de fontes razoavelmente fidedignas, e até mesmo (embora não necessariamente) a participação pessoal, ativa ou passiva, em tais cerimônias ou ritos; essas fontes poderiam (aliás, deveriam) abranger tanto “adeptos” quanto “adversários” da referida corrente, a fim de possibilitar uma análise a mais próxima possível da REALIDADE.”

    Talvez isso fosse válido para um trabalho acadêmico e só. Para conhecer a Doutrina é necessário mais do que isso. É a minha opinião.
    ————————
    “…sua frase, logo de início, cai na simples impossibilidade prática, já que, para emitir opiniões sobre qualquer corrente religiosa, dentro dessa óptica, ter-se-ia que “passar por um estágio” nela – e um “estágio” de molde a fornecer a tal da “vivência” não seria, obviamente, algo que se pudesse fazer, creio, apenas nalguns poucos meses;”

    Achei interessante o “estágio” proposto. Só que EU ACHO que vc já tem muita antipatia pelo espiritismo para tentar algo assim. Seria necessário “limpar” seu coração antes e não tenho um método codificado para sugerir. ACHO que nessa vida, para vc, não dá mais para seguir essa cartilha.
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    “estagiando” sucessivamente numa religião, depois noutra, e em mais outra, e assim por diante, a fim de adquirir a tal “vivência”, e só então poder “emitir opiniões acerca da doutrina”

    Achei essa passagem totalmente voltada para um estudo descritivo e com o propósito apenas de relatar. Quanto a isso vc já está preparado, pelo que percebo.
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    “A) leva à paralisia do debate”

    Não estou aqui para debater. Entrei para ler e me informar. O blog é aberto ao público e acho que não estou ferindo nenhuma regra do jogo em seguir por essa linha.
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    “B) pressupõe que uma pessoa, mesmo não esposando determinada crença, ou corrente filosófica, ou religiosa, não a conhece (quando, nalguns casos, a conhece bem, e até profundamente, e até mais do que muitos dos “adeptos”).”

    Do ponto de vista teórico, por livros, pode até conhecer muito. Mas, EU CONSIDERO que na prática a teoria é bem diferente. No caso especifico da Doutrina Espírita é muito, mas muito mesmo diferente. Existem variáveis desconhecidas que a prática nos ensina que não tem como descrever. A mediunidade, conjunto de variáveis, é uma delas.
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    “e não vejo você como aquele que pode emitir opiniões acerca da religião católica, pois falta-lhe a ‘vivência católica’ para tal intuito”

    Eu posso falar um pouco, pois estive na Igreja por um período de tempo e fui educado em uma escola de base Católica, a qual eu tenho um profundo respeito. Procuro buscar o lado bom da Igreja. Minha bíblia é a Católica.

    Emitir uma opinião pode sim. Não vejo como não. Os livros ajudam nesse sentido. Porém um “iniciado”, como vc sugeriu, consegue passar melhor a essência de uma Doutrina do que um teórico. É mais uma opinião minha.
    ——————————————
    “Armados com essa frase, podemos simplesmente ignorar o que quer que os “não-iniciados” digam acerca daquilo em que acreditamos.”

    Eu não faço isso. Não ignoro ninguém. Tanto que li alguns dos seus escritos e estou lendo seus comentários. Guardo comigo uma frase que é: “dê ouvidos aos tolos, pois eles tb tem histórias para contar”. Já encontrei pessoas que pareciam ser “tolas” e que se mostraram muito superiores a minha pessoa. Tomei lições de humildade e cristandade e me calei. Eu era o “Doutor” naquele meio simplório, mas no meu íntimo eu fui convencido de que havia uma inversão de papéis e a ciência que eu sabia, decorada por livros, não valia nada. Cada “obrigado Doutor” que ouvia era um “tapa” de luva, pois eu que deveria agradecer o que aprendera.

    Não considero vc tolo, por favor, não interprete dessa maneira. Se vc assim interpretar eu retiro o que disse.
    ———————————————
    “E essa situação deplorável, que nos reduziria, nós seres humanos, a um enorme arquipélago de ilhas isoladas (não importando quão próximas estivessem), sem pontes e sem comunicação entre si, mutuamente se ignorando e ao mesmo tempo se desprezando, seria ainda mais verdadeira se por “vivência” se assumisse “efetiva participação”, nos moldes já anteriormente descritos.”

    Eu posso falar sobre assuntos que não tenho vivencia, mas, como tenho dois ouvidos e uma boca, EU ACHO, que devo ouvir muito mais do que falar quando não sei. O que vc escreveu acima é algo seu e não meu. Pra mim está claro isso. Não sou extremista assim.
    ——————–
    “B) Mais ainda (e isso, a meu ver, é o mais perturbador): sua frase pressupõe que somente os membros de determinada corrente filosófica, ou religiosa, é que a conhecem, e que todos os demais que não são membros do “grupo eleito” são, “ipso facto”, “ignorantes”, “não-iluminados”.”

    Eu disse que considero vc não apto a falar sobre aspectos além da ciência que acredito haver no espiritismo. Não apliquei a regra ao caso geral. Posso estar errado sobre vc, mas é o que penso sim, observando seus escritos e a forma como vc reage a algumas considerações de espíritas que manifestam opiniões no blog.
    ——————–
    “Mas há exceções, e são muitas, e são notáveis.”

    Eu sei, conheço alguns casos. Conheço crianças que falam coisas fantásticas e eu aprendo.
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    “a argumentação e o debate é que mostrariam a sua “vivência”, por assim dizer.”

    Será que é isso? Conheço muita gente que sabe muito, fala bem, mas na hora do “vamos ver”. No momento do aperto. Na hora da prática de fato. Naqueles momentos em que os livros não valem nada, simplesmente se rendem ao desespero.
    ————————–
    “E o mesmo reivindico eu para mim: o sr. não me conhece, não sabe o quanto eu poderia ter estudado acerca do Espiritismo, o quão profundamente poderia ter ido nesse estudo, o tempo, a energia e a abrangência que poderia ter dispendido nisso até tomar uma decisão a respeito, de modo que o sr. não pode, absolutamente, “a priori”, dizer que não tenho “vivência” para “emitir opiniões” sobre a “doutrina”.”

    Concordo. Porém eu disse que ACHO, não disse que vc não tem condições. Não afirmei e sentei nessa idéia. Só que esse seu texto reforçou essa idéia em mim. Sobre alguns pontos científicos da Doutrina vc poderá falar e talvez bem melhor do que eu. Só que o principal, EU ACHO, vc não conhece e não vejo como chegar a tal. Porém, considero que sou falível e posso estar errado.
    ————————
    “Eduardo, mas sua frase, a meu ver, é a semente (se já não for o fruto) do orgulho, da auto-suficiência e do fanatismo.”

    Eu te julguei e creio que vc tem o direito de me julgar. Eu posso até ser mesmo fanático ou orgulhoso. Às vezes somos ignorantes sobre nós mesmo e não sabemos. Porém um pouco de fanatismo, orgulho e auto-suficiência até faz bem. Desde que não ultrapasse os limites da tolerância. De qualquer forma me sinto muito tranqüilo quanto a isto.
    ————————————-
    Não entendi o pq das perguntas. Eu não tenho o mínimo de conhecimento da história que vc estudou para debater contigo. Vc está muita a frente de mim sobre a história documentada. Nesse aspecto vc tem sido muito competente e eu concordo que o “consenso histórico” não tem evidencias do Senador romano. Está ok pra mim essa questão. Sabia da Enciclopédia Católica, mas não sabia do consenso histórico documentado e aceito como estado da arte. Agradeço por me ensinar tal questão.

    Eu não vejo como debater com vc sobre o livro “Há 2000 Anos”, uma vez que a obra foi psicografada. A psicografia é um campo que eu não conheço comprovações cientificas. Logo, para vc não é válido, EU ACHO. A suposta reencarnação de Lentulus Sura como Publiu Lentulus, seu bisneto, é uma questão tratada no livro. Logo, se vc é Católico, não aceita a reencarnação. Assim, me parece que não tem sentido eu discorrer sobre uma obra mediúnica para um Católico, pois as bases do livro são negadas pela Igreja Romana. Assim sendo, eu acho que só haveria irritação e brigas desnecessárias entre eu e vc. Tb o debate transcorreria com vc me dando uma “surra” de conhecimento histórico e eu tentando te mostrar que vc já odeia demais o Espiritismo para falar sobre seus aspectos que estão além da ciência e dos livros, sendo que isso PODE estar interferindo na sua pesquisa.

    A pessoa que eu poderia travar esse debate é o Pedro Campos, que mesmo me dando um banho de historicidade, iria, com certo grau de certeza, concordar comigo em alguns pontos que estão imbuídos na Doutrina Espírita fora da ciência. O Pedro Campos não duvida da mediunidade de Chico Xavier, logo, a psicografia do livro “Há 2000 Anos” tem uma conotação diferente do que tem para vc.

    Por fim, eu não duvido da mediunidade de Chico Xavier, que não conheci. “Conheci” e já vi muito em palestras Divaldo Franco, que considero um Espírita próximo de Chico e não duvido tb da sua mediunidade.
    ———————–
    Sei que vc vai me criticar, dizer que estou fugindo do debate, etc. Porém, meu propósito no blog não é esse, pq sou muito fraco em conhecimento da história romana. Como considero que aqui só se publica nestes termos, ou seja, no que a ciência formal diz sobre os fenômenos que circundam os fatos, me torno inútil e sem importância para o aprimoramento do estudo sobre o livro “Há 2000 Anos” do Blog Obraspsicografadas.

    Já que vc me concedeu uma série de sugestões sobre como me portar diante dos fatos e da ciência formal, tomo a liberdade para esta: pq vc não completa seu estudo do romance “Há 2000 Anos” escrevendo sobre as lições cristãs ditadas pelo espírito Emmanuel. Tem muita coisa interessante no livro, é só ler com calma. Esse lado foi o mais importante do livro na leitura que fiz. Quem sabe vc até simpatiza com o Chico…rs.
    ————————
    O Vitor não vai me proibir de continuar a ler as colocações e estudos contidos no blog… he,he… Não trave o blog Vitor… he,he … Duvido, pois ele gosta da audiência. Malandro… kkkk.
    ————————
    Li todos seus comentário, pois considero que vc leu os meus e opinou da maneira como pensa ser o correto. Concordância de idéias? Não precisamos. O que precisamos é de respeito mutuo.
    Suas opiniões me parecem muito bem fundamentadas e escritas com rigor cientifico, o que demonstra dedicação e capacidade crítica. Porém, doravante, não garanto que vou ler os comentários e responder ponto a ponto.

    Abraços e obrigado pelos ensinamentos.

  88. Flávio Josefo Diz:

    O problema que vejo neste blog e em outros do gênero, é que seus idealizadores já partem da premissa da fraude, do engodo, são céticos em sua essência.
    Então, não fazem pesquisa. Muito pelo contrário, querem convencer de que estão certos.
    Veja o caso do Chico, por exemplo: “ela não era um semi-analfabeto.” Em termos de formação, era sim!!!
    Ele estudou só o primário, tinha pouquíssimos recursos!!!
    Levava uma vida difícil, quase miserável. Isto é fato, é incontestável!!!
    Agora, se ele era autodidata, se ele tinha uma memória impressionante, se ele entrava em transe… eu pergunto:

    – Será que tudo isto não fazia parte da mediunidade dele?
    – Será que ele já não veio a este mundo com este objetivo traçado no além? E, nesse caso, será que ele não veio aqui com uma grande bagagem intelectual de outras vidas? De forma que esta bagagem ajudasse ele nas “psicografias”?
    – Quem garante que outras pessoas com poucos estudos, que também escreveram obras fantásticas, quem garante que estas pessoas não foram também médiuns? Sim, porque a mediunidade pode se manifestar de várias formas. A pessoa pode nem saber de onde vem suas idéias, as histórias que conta. Quem garante que esta pessoa não foi “preparada” para ter estas aptidões? Como um músico nato, um esportista fantástico, um pintor extraordinário?
    É isto que critico no blog. Ao invés de se perguntar:
    – Como funciona a mediunidade? Caso ela exista! É possível, não é? Por que não? Parte-se pra idéia de desqualificar a pessoa, o que ela diz.
    Aqueles que criticam por paixão, também falham tanto como aqueles que não encontram formas de provar sua fé.
    Dá tudo no mesmo: perda de tempo, porque a discussão é pessoal, é egocêntrica. É disputa de poder – “eu sei mais que você”, “minha fé é melhor que a tua”.
    Só porque o Montalvão quer, aquela luz que entrou no quarto do Chico foi um reflexo na câmara. Pode não ter sido espírito algum! Pode! Mas, antes de falarmos que não aconteceu algo interessante ali, vamos refletir sobre várias possibilidades. O espírito do Emmanuel não foi mesmo, porque o Chico disse que foi a mãe dele.
    É preciso levar a sério os estudos, tem matérias que são mal-intencionadas. Esta da caligrafia, por exemplo: quem disse que as letras, as grafias psicografadas pelo Chico eram iguais às dos espíritos??? Foi o Chico que disse isto??? Não sei de ele ter dito isto. Então, alguém disse!!! E aí, se as semelhanças são duvidosas, não têm que desqualificar o Chico, mas quem disse isto, esta pessoa é que tem que ser desqualificada.
    Outra coisa, a religiosidade, a espiritualidade é algo íntimo. Quando uma pessoa diz ter tido uma experiência espiritual, uma prova divina, é algo dela, algo que ela sentiu. Não adianta exigir dela prova.
    Eu gostaria sim, gostaria muito que o foco fosse outro:
    – Vamos estudar o Chico, outros possíveis médiuns, sem paixão. Vamos analisar várias hipóteses. Será que ele recebia uma inspiração espiritual?
    – Como funciona o transe? Será que ele inventou todas estas histórias? Todos estes espíritos?
    – Por que será que ele contou que era mentira pro Waldo Vieira? Sim porque ele tem que ter contado pro Waldo Vieira que tudo era mentira. Então eles mentiam juntos!
    Se não é isto, se o Waldo também entrava em transe, por que este fenômeno acontecia com os dois?
    São tantas perguntas, poderíamos discutir sim todas elas, com elegância, sem paixão, sem ofensas, sem ridicularizações, mas, infleizmente, me parece impossível. Então estamos apenas perdendo tempo aqui.

  89. Flávio Josefo Diz:

    Ah! Só complementando meu comentário:
    Sr. JCFF,
    Se eu, movido também pela paixão, fiz comentários bobos sobre sua pessoa ou lhe ofendi, minhas sinceras desculpas!
    Um abraço!

  90. Carlos Diz:

    Montalvão,
    .
    Acompanhando o final de teu raciocínio podemos ainda incluir A Gênese, o último livro da codificação de Kardec. Todos, afirmo, todos os capítulos que tratam da Terra e Sistema solar é um apanhado, hoje completamente superado, do conhecimento até o final do século 19. O mais incrível é que a obra é estudada nos centros espíritas, no que eles chamam “estudo sistematizado”, e ensinada como uma referência no assunto. O que surpreende mais ainda é a completa ausência de autocrítica para, no mínimo, informar aos adeptos que aquilo lá é uma obra de homens, médiuns (e espíritos) que não sabiam mais do que a sociedade da época em que a obra foi concebida.
    .
    O mesmo padrão ocorre com o Chico Xavier. O seu comentário do livro “Evolução em Dois Mundos” é elucidativo nesse aspecto. Quem escreveu aquilo lá bebeu na fonte do conhecimento dos anos 30 ou 40. Pior, muitas informações são imprecisas, outras confusas e outras erradas! Só que alguns espíritas tomam isso como uma ofensa pessoal, quando o que se faz é apontar inconsistências que podem ser verificadas por qualquer um nos livros atuais de Ciências da Terra e da Vida. O lamentável é que, na falta de argumentos, alguns apelem para a ironia e ofensas desnecessárias e descabidas.

  91. Flávio Josefo Diz:

    Carlos,
    Dentro do contexto a que me referi em comentário anterior, é exatamente aí que quero chegar. É provável que os livros de Kardec estejam ultrapassados em muitas informações. Que seja fato!
    É provável que “Evolução Em Dois Mundos” tenha informações ultrapassadas. Que seja fato!
    Agora, isto prova que a mediunidade não existe, que Chico não psicografou? Na minha opinião, não prova!
    A questão, é que os espíritos nos dão informações, mais ou menos, dentro do momento, dentro do conhecimento de cada época.
    Eu acredito que TODAS AS OBRAS religiosas, espiritualistas deveriam ser revistas, começando pela Bíblia.
    Deve haver espíritos muito, mas muito iluminados, avançados, com um conhecimento espetacularmente acima de nosso tempo. Mas, é bem provável, que estes espíritos não tenham autorização ou se sintam bem em nos enviar estas informações. Em parte, porque a maioria das pessoas não iriam entendê-las, em parte porque eles devem achar que nós devemos descobrir por nós mesmos. Além disso, cada época tem sua própria realidade.

  92. Vitor Diz:

    Flávio Josefo,

    e o que provaria para você que Chico não psicografou? É essa a pergunta que nem você, nem o Scur, nem o Biasetto, nem o Carlos Magno respondem.

  93. Flávio Josefo Diz:

    Vítor,
    Pra mim ele psicografou. Pra mim ele foi inspirado por espíritos, como disse o Luciano dos Anjos, “uma antena ligado no mundo espiritual”. Ele não disse exatamente isto, mais ou menos por aí.
    Outra coisa:
    De acordo com a Bíblia, a Terra seria o centro do Universo.
    Copérnico, Galileu e Keppler foram até perseguidos por contestar idéias como esta.
    Alguém joga fora, estou falando dos crentes, a Bíblia, por causa disso?

  94. Vitor Diz:

    Flávio Josefo,
    tudo bem que para você ele psicografou. Isso eu já sei. A pergunta que te fiz foi outra: o que te faria mudar de opinião? Será que dá para você responder a essa simples pergunta?

  95. Flávio Josefo Diz:

    Não tem como Vítor!
    Só se eu pudesse voltar no tempo, estar escondido na casa dele, vendo-o pegar livros e livros, pesquisar e pesquisar, sentar à mesa, ficar pensando e pensando sobre o que iria escrever.
    Só se eu pudesse saber de quem e onde ele conseguia livros e livros para pesquisar.
    Só se eu pudesse saber e comprovar que ele leu Vida de Jesus, O Átomo, História Secreta (é isto?).
    Só se eu pudesse saber como ele gravava todas as informações que lia pra depois lembrar delas e criar novas histórias, muitas vezes à frente de muitas pessoas, escrevendo de forma rápida, automática.
    Só se eu pudesse saber quem fazia o “serviço sujo” pra ele, quem ficava buscando informações das pessoas que iam procurá-lo para receber mensagens.
    Só seu eu pudesse saber como uma pessoa poderia ser tão contraditória: pregar o tempo o amor, se dedicar o tempo todo pelo próximo, ser simples, humilde, caridoso, amoroso, calmo, resignado e, ao mesmo, passar a vida mentindo e mentindo e mentindo…
    Na minha cabeça não cabe!

  96. Vitor Diz:

    Flávio Josefo,

    se eu lhe disser de quem ele conseguia os livros, você pararia de acreditar no Chico então?

    E não é História Secreta, mas A Doutrina Secreta…

  97. Carlos Diz:

    Flávio Josefo,
    .
    Você tem razão no seguinte aspecto: o teor da mensagem e o fenômeno mediúnico são coisas diferentes. No tocante a Gênese e Evolução em Dois Mundos, podemos admitir que os espíritos que passaram as informações não sabiam mais que o médium. Kardec previu isso, é verdade.
    .
    A pergunta é: se os espíritos não sabem mais que os médiuns, o que garante que a mensagem não é uma elaboração do próprio médium? (note não estou chamando o médium de desonesto, pelo menos não todos). Antecipando uma possível resposta alguém diria, “mas há casos em que o conjunto de mensagens vai além do conhecimento do médium e do grupo que com ele trabalha”; são as chamadas “antecipações doutrinárias”. Pessoalmente não conheço e, honestamente, gostaria que me fossem dados exemplos dessas antecipações vinda dos espíritos e posteriormente confirmadas pela ciência.

  98. moizes montalvao Diz:

    PREZADOS,
    .
    Apresento considerações ao belo desabafo do Sr. Flávio:
    .
    FLÁVIO JOSEFO: O problema que vejo neste blog e em outros do gênero, é que seus idealizadores já partem da premissa da fraude, do engodo, são céticos em sua essência.
    .
    COMENTÁRIO: Não diria que se parta da premissa de fraude em todos os casos. Em alguns provavelmente. Exemplo encontramos nas materializações. Estas, para os crentes, são coisas triviais, que acontecem “naturalmente”. Não levam em conta a complicação que seria uma entidade espiritual revestir-se de osso e carne e passear pela área de exibição como um ser humano comum. Então, em casos de materialização, a premissa de engodo é sempre consistente, o que não elide o exame criterioso do evento. Já na comunicação com espíritos a perspectiva de fraude é pouco expressiva, embora não descartável; a análise de alegados contatos com o além deve verificar se existem explicações terrenas mais satisfatórias que a hipótese espiritista. O problema é que quando se intenta estudar a mediunidade considerando-se suposições distintas do apelo à espiritualidade, os espiritistas reagem com firmeza, pois a crença de que espíritos comuniquem é uma das bases da doutrina.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Então, não fazem pesquisa. Muito pelo contrário, querem convencer de que estão certos.
    .
    COMENTÁRIO: quem busca explicar a mediunidade sob outros aspectos que não o da efetiva comunicação com o além pesquisa, sim. E, certamente, almeja que os que examinem o resultado dessas investigações se convençam de que estão corretas. A partir daí pode-se inicar a discussão do estudo; discussão esta que será produtiva ou não, dependendo de como sejam as réplicas: se arrimadas em reflexões saudáveis ou simples repliques emocionais.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Veja o caso do Chico, por exemplo: “ela não era um semi-analfabeto.” Em termos de formação, era sim!!!
    .
    Ele estudou só o primário, tinha pouquíssimos recursos!!!
    .
    Levava uma vida difícil, quase miserável. Isto é fato, é incontestável!!!
    .
    COMENTÁRIO: nem em termos de “formação” poder-se-ia nominar Chico “semi-analfabeto” (em verdade, semi-alfabetizado), uma vez que ao tempo que o médium realizou seus estudos, o curso primário supria o estudante com formação básica de primeira linha. Minha avó era pobre de marré de si, estudou em cidade do interior de Minas, tinha somente o primário, mas conhecia termos em latim; falava um pouco de francês, lia e escrevia direitinho.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Agora, se ele era autodidata, se ele tinha uma memória impressionante, se ele entrava em transe… eu pergunto:
    .
    – Será que tudo isto não fazia parte da mediunidade dele?
    .
    COMENTÁRIO: a questão seria definir o que significa exatamente “mediunidade”. Para o espírita não há dúvida: mediunidade é a capacidade de contatar espíritos; porém, podem haver outras, e talvez melhores, explicações.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: – Será que ele já não veio a este mundo com este objetivo traçado no além? E, nesse caso, será que ele não veio aqui com uma grande bagagem intelectual de outras vidas? De forma que esta bagagem ajudasse ele nas “psicografias”?
    .
    COMENTÁRIO: aqui entra-se em seara mediúnica e reencarnacionista. É possível que tudo isso tenha acontecido: que a vida de Chico fora planejada desde o além; que ele trouxesse memória de outras vidas, etc. Mas, e se não for nada disso? E se Chico foi uma pessoa talentosa que, por motivações particulares, optou por atribuir os dons com que a natureza o supriu ao além? Para quem se propõe a estudar a mediunidade (e a reencarnação) em contexto amplo, ou seja, não considerando somente a interpretação espírita, as questões referidas precisam ser levadas em conta.
    .
    O espiritismo kardecista parte das premissas de que a mediunidade é especificamente a comunicação com espíritos e a reencarnação uma lei natural. No ambiente espírita essas considerações são tidas por inatacáveis, fato que se respeita. Porém, o estudo dessas propostas, desarticulado de concepções religiosas (quer sejam ou não favoráveis) não pode tomar como certo o que ainda não foi demonstrado.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: – Quem garante que outras pessoas com poucos estudos, que também escreveram obras fantásticas, quem garante que estas pessoas não foram também médiuns? Sim, porque a mediunidade pode se manifestar de várias formas. A pessoa pode nem saber de onde vem suas idéias, as histórias que conta. Quem garante que esta pessoa não foi “preparada” para ter estas aptidões? Como um músico nato, um esportista fantástico, um pintor extraordinário?
    .
    COMENTÁRIO: Ok. O que está dizendo é reflexo da convicção de que médiuns são pessoas diretamente inspiradas pela espiritualidade. É um dado a considerar em estudo que se pretenda abrangente. Por outro lado, se aptidões, mesmo as mais admiráveis, puderem se esclarecidas pela conjugação de fatores genéticos e ambientais, fica prejudica a hipótese espiritista.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: É isto que critico no blog. Ao invés de se perguntar:
    .
    – Como funciona a mediunidade? Caso ela exista! É possível, não é? Por que não? Parte-se pra idéia de desqualificar a pessoa, o que ela diz.
    .
    COMENTÁRIO: Taí, se puder nos dar respostas às questões que levantou já teremos material para avaliar. Acredito que a pretensão do pesquisador não seja desqualificar nem a pessoa, nem o seu discurso. Porém, “não desqualificar” não obriga ao estudante aceitar sem cotejamento o que o dito médium alega.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Aqueles que criticam por paixão, também falham tanto como aqueles que não encontram formas de provar sua fé.
    .
    COMENTÁRIO: correto.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Dá tudo no mesmo: perda de tempo, porque a discussão é pessoal, é egocêntrica. É disputa de poder – “eu sei mais que você”, “minha fé é melhor que a tua”.
    .
    COMENTÁRIO: não apoio que “dê tudo no mesmo”, se fosse assim ninguém estaria em espaços como esse expondo seus pontos de vista. Mesmo que ninguém se “converta” aprendemos alguma coisa.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Só porque o Montalvão quer, aquela luz que entrou no quarto do Chico foi um reflexo na câmara. Pode não ter sido espírito algum! Pode! Mas, antes de falarmos que não aconteceu algo interessante ali, vamos refletir sobre várias possibilidades. O espírito do Emmanuel não foi mesmo, porque o Chico disse que foi a mãe dele.
    .
    COMENTÁRIO: se as coisas fossem “só porque a gente quer”, o mundo seria uma maravilha, ou não… Se desejar, podemos, em oportunidade outra, visto que aqui seria desviar o rumo da conversa para tema diverso, analisar conjuntamente a “luz no quarto de Chico”. Só para constar, Chico declarou que foram Emmanuel e sua mãe que o visitaram naquela ocasião.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: É preciso levar a sério os estudos, tem matérias que são mal-intencionadas. Esta da caligrafia, por exemplo: quem disse que as letras, as grafias psicografadas pelo Chico eram iguais às dos espíritos??? Foi o Chico que disse isto??? Não sei de ele ter dito isto. Então, alguém disse!!! E aí, se as semelhanças são duvidosas, não têm que desqualificar o Chico, mas quem disse isto, esta pessoa é que tem que ser desqualificada.
    .
    COMENTÁRIO: começando por Kardec: o codificador afiançou que, em certos casos, a grafia mediúnica seria igual à letra que o espírito comunicante ostentava em vida. No caso de Chico, quem alegou que, em certa mensagem psicografada, o traço do comunicante era o mesmo do dito vivo, foi o técnico em grafoscopia Carlos Augusto Perandréa.
    .
    Pessoa alguma tem que ser “desqualificada”; as opiniões que emitem podem e devem ser cotejadas e mostradas insubsistentes, se for o caso. Relativamente a Perandréa, trata-se de técnico respeitado e experiente. O que foi avaliado foi a alegação por ele feita de que comprovara efetivo caso de comunicação espiritual, por meio da aplicação de análise grafotécnica. Nosso estudo objetivou demonstrar que essa afirmação era insustentável.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Outra coisa, a religiosidade, a espiritualidade é algo íntimo. Quando uma pessoa diz ter tido uma experiência espiritual, uma prova divina, é algo dela, algo que ela sentiu. Não adianta exigir dela prova.
    .
    COMENTÁRIO: correto: nossas experiências íntimas, espirituais ou não, são nossas e subjetivas e, se ficarem no âmbito pessoal não há que se falar em comprovação, opinião, concordância ou aceitação. O problema começa quando comunicamos nossas vivências internas ao mundo e almejamos que sejam acatadas conforme as interpretamos. Alguns podem aceitá-las sem questionamentos, outros não.
    .
    FLÁVIO JOSEFO: Eu gostaria sim, gostaria muito que o foco fosse outro:
    .
    – Vamos estudar o Chico, outros possíveis médiuns, sem paixão. Vamos analisar várias hipóteses. Será que ele recebia uma inspiração espiritual?
    .
    – Como funciona o transe? Será que ele inventou todas estas histórias? Todos estes espíritos?
    .
    – Por que será que ele contou que era mentira pro Waldo Vieira? Sim porque ele tem que ter contado pro Waldo Vieira que tudo era mentira. Então eles mentiam juntos!
    .
    Se não é isto, se o Waldo também entrava em transe, por que este fenômeno acontecia com os dois?
    .
    São tantas perguntas, poderíamos discutir sim todas elas, com elegância, sem paixão, sem ofensas, sem ridicularizações, mas, infleizmente, me parece impossível. Então estamos apenas perdendo tempo aqui.
    .
    COMENTÁRIO: de minha parte, considero boa a proposta. Sugiro o seguinte: elabore uma contra-argumentação às críticas aqui feitas a Chico Xavier e disponibilize para avaliação por parte dos interessados. Suponho que todos estamos buscando aprender mais a respeito dessas questões, portanto, trabalhos avaliativos ou responsivos contribuem para maior esclarecimento.
    .
    Felicidades.

  99. Eduardo Diz:

    Vitor,

    Vc tem conhecimento desse livro?

    http://valintim.blogspot.com/2009/03/novas-utopias-dom-helder-camara.html

  100. Vitor Diz:

    Eduardo,
    só tinha ouvido falar, mas nunca me interessei em lê-lo.

  101. Flávio Josefo Diz:

    Moltalvão,
    Acho que estamos caminhando num sentido, no mínimo aceitável, para se realizar um debate.
    No momento, não posso falar sobre o assunto e comentar os teus comentários.
    No final da noite, volto ao blog.
    Até…

  102. Flávio Josefo Diz:

    Eduardo,
    Valeu pela dica! Com calma, podendo, vou dar uma olhada lá.

  103. Flávio Josefo Diz:

    Nota: eu fiz as duas colocações acima, na hora do almoço e disse que voltaria no final da noite. Tive um tempinho agora, por volta das 6 da tarde – entrei aqui no blog e ninguém escreveu nada. Então segue abaixo, meu comentário:

    Primeiramente,
    Você diz Vítor: “se eu lhe disser de quem ele conseguia os livros, você pararia de acreditar no Chico então?”
    Então me diga de quem ele conseguia os livros. Você já disse algo assim, acho que você disse que ACHA que foi o padre… Não é isto?
    Obs.: É eu errei o nome do livro: (História Secreta) = A Doutrina Secreta.

    Montalvão:
    Eu errei ao dizer que o Chico era “semi-analfabeto”, o correto é mesmo “semi-alfabetizado”.
    Sua colocação é que ele recebeu uma boa educação. Até posso concordar, porque é perfeitamente possível que tenha tido ótimos professores, dedicados e tudo mais. Talvez ele fosse também muito aplicado nos estudos. Porém, quem estuda só o curso primário não está, por exemplo, qualificado pra identificar, pelo que recebeu na escola, autores literários, saber reconhecer as escolas literárias e dominar um amplo vocabulário para produzir poesias. Obviamente, que admito que não seja impossível, através dos estudos e persistência obter tal domínio, ainda que me pareça pouco provável para a maioria das pessoas, nas condições em que se encontrava o Chico.
    Em uma de suas colocações foi dito que os atributos de uma pessoa podem ser genéticos, o que eu concordo, só que em um dos livros do André Luiz, não me lembro qual, ele afirma que os espíritos superiores responsáveis pelas reencarnações também influem na genética daqueles que vão reencarnar. É algo mais ou menos assim, porque como disse não me lembro exatamente em qual livro li isto.
    Em outra colocação tua, foi dito que nos centros espíritas continuam lendo as obras de Kardec e do Chico, como se fossem “verdades absolutas” e atualizadas. Acho que foi o Carlos que disse isto, ou algo assim. Pois bem, neste ponto concordo. Há muitas pessoas em todas as religiões, inclusive no espiritismo, que pararam no tempo, não aceitam que as “verdades” reveladas em uma época, podem ser mudadas ou modificadas em tempos depois. Veja, que ainda há muitos que afirmam que não se deve trabalhar aos sábados, porque a Bíblia diz isto.
    Agora, eu li uma vez que o Chico falou que a forma como ele psicografava variava. As vezes, ele se via num transe total, outras vezes tinha os braços totalmente fora de controle, em outras situações, era como os se os espíritos ditassem pra ele, o que ele deveria escrever.
    Estou falando tudo meio por cima, porque no momento não tenho tempo pra pesquisar melhor estas fontes, então estou falando daquilo que lembro ter lido.
    Sendo assim, as perguntas que faço são exatamente estas:
    1º) Até que ponto tudo que o Chico escreveu foi obra exclusivamente de autoria espiritual?
    2º) Será que em algumas circunstâncias não houve interferência daquilo que ele pensava ou sabia ou havia lido, sobre aquilo que ele estava recebendo do plano espiritual?
    Fazendo uma comparação tola, mas que serve para aquilo que quero exemplificar, muitas vezes a gente acessa a internet e, sem qualquer motivo aparente, a conexão está um desastre, está falha. Então,
    3º) Por que não imaginar que muitas vezes a comunicação do espírito com o médium não sofre interferência também?
    4º) O médium é um ser humano, pode estar num dia ruim, pode estar com dor de cabeça, estressado, será que a comunicação será a mesma?
    5º) Será que seria besteira eu afirmar, por exemplo, que muitas vezes o médium pode ter lido, estudado determinados assuntos e ter recebido uma ajuda do plano espiritual para elaborar melhor os textos e selecionar o que deveria ser dito?
    São apenas colocações, estou falando de hipóteses! Não estou afirmando certeza de nada.
    No momento é isto.
    Até mais…

  104. moizes montalvao Diz:

    Senhores,
    .
    Dando seguimento à conversa com o Sr. Flávio Josefo, faço apreciações aos seus últimos comentários:
    .
    JOSEFO: Sua colocação é que ele recebeu uma boa educação. Até posso concordar, porque é perfeitamente possível que tenha tido ótimos professores, dedicados e tudo mais. Talvez ele fosse também muito aplicado nos estudos. Porém, quem estuda só o curso primário não está, por exemplo, qualificado pra identificar, pelo que recebeu na escola, autores literários, saber reconhecer as escolas literárias e dominar um amplo vocabulário para produzir poesias. Obviamente, que admito que não seja impossível, através dos estudos e persistência obter tal domínio, ainda que me pareça pouco provável para a maioria das pessoas, nas condições em que se encontrava o Chico.
    .
    COMENTÁRIO: Acredito que, neste quesito, estamos mais próximos de um consenso de opiniões que o contrário. O que defendi, ou tentei, é que as pessoas que se destacam por seus talentos pessoais, buscam por si próprias os rumos que trilharão. A escola, no máximo, consegue supri-los com a capacitação básica, daí pra frente depende de cada um caminhar com suas próprias pernas. Citei o exemplo de Humberto de Campos que, à semelhança de Chico Xavier, nunca teve “colher de chá” na vida. Mesmo assim, tornou-se um dos maiores cronistas da primeira metade do Século XX. Então, Chico Xavier, tendo sido agraciado pela natura com talento acima da média, encontrou formas de aprimorar suas habilidades e produziu os numerosos frutos literários que brotaram sua verve criativa. Se continuarmos com a anologia entre Chico e Humberto de Campos, notaremos que Humberto não se sentiu inclinado a atribuir suas qualidades redativas a qualquer poder trancendental; enquanto Chico optou por assim fazê-lo.
    .
    JOSEFO: Em uma de suas colocações foi dito que os atributos de uma pessoa podem ser genéticos, o que eu concordo, só que em um dos livros do André Luiz, não me lembro qual, ele afirma que os espíritos superiores responsáveis pelas reencarnações também influem na genética daqueles que vão reencarnar. É algo mais ou menos assim, porque como disse não me lembro exatamente em qual livro li isto.
    .
    COMENTÁRIO: A hipótese espiritista é semelhante ao arroz: acompanha qualquer prato (sem ironias). Mesmo que a genética fosse uma ciência amadurecida (o que não é), capaz de explicar tintim por tintim todas as peculiaridades do ser humano, ainda assim, poder-se-ia inserir a idéia de que a espiritualidade interfere no processo. Em outras palavras: com ou sem as suposições espiritualistas, a genética funciona; e, as suposições espiritualistas podem sem agregadas à teoria genética sem qualquer problema, uma vez que não são variáveis necessárias à compreensão da matéria. As conjecturas místicas sobre a formação da personalidade, embora possam ser criativas, são irrelevantes para esclarecer como o caráter das pessoas é construído. André Luiz noticiou que espíritos superiores fazem manipulações genéticas, tudo bem, essa idealização pode ser satisfatória para alguns; mas, há quem afirme que essas experimentações são realizadas por alienígenas ultradesenvolvidos, que cuidam dos rumos de nosso planeta. Poder-se-ia, ainda, imaginar que fadas, especialmente treinadas em engenharia genética, fossem responsáveis pelo processo. Eu tenho forte desconfiança que seja o anãozinho gigante de cinco pernas e três cabeças, juntamente com seus assessores, os responsáveis por trabalhos tais. Agora, se retirarmos desse quadro os espíritos, as fadas, os extraterrenos e o anãozinho gigante, a ciência genética prosseguirá seu caminho sem qualquer abalo…
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    JOSEFO: Em outra colocação tua, foi dito que nos centros espíritas continuam lendo as obras de Kardec e do Chico, como se fossem “verdades absolutas” e atualizadas. Acho que foi o Carlos que disse isto, ou algo assim. Pois bem, neste ponto concordo. Há muitas pessoas em todas as religiões, inclusive no espiritismo, que pararam no tempo, não aceitam que as “verdades” reveladas em uma época, podem ser mudadas ou modificadas em tempos depois. Veja, que ainda há muitos que afirmam que não se deve trabalhar aos sábados, porque a Bíblia diz isto.
    .
    COMENTÁRIO: Bem, se foi o Carlos que disse isso, então não foi colocação minha, apesar de com ela concordar até onde posso imaginar que seja a rotina dos centros espíritas, área onde não transito confortavelmente. De qualquer modo, defendo que se deve fazer distinção bem precisa entre as obras de Kardec e as de Chico. Chico não apenas “ampliou” o ensino de Kardec, conforme defendem alguns espíritas, mas modificou substancialmente esse ensino. Situação exemplificativa encontrará na postulação chicoxaveriana sobre as “cidades espirituais”, idéia que vai de encontro ao discurso de Kardec. Outra grande discrepância encontra-se nas postulações sobre a vida extraterrena, notadamente a respeito dos viventes no planeta Marte que, para Kardec, eram trogloditas; para Chico eram avançados.
    .
    JOSEFO: Agora, eu li uma vez que o Chico falou que a forma como ele psicografava variava. As vezes, ele se via num transe total, outras vezes tinha os braços totalmente fora de controle, em outras situações, era como os se os espíritos ditassem pra ele, o que ele deveria escrever.
    .
    COMENTÁRIO: mesmo que seja da maneira que noticia, isso não altera a conjectura defendida por Perandréa. Para ele, quando Chico estivesse em “transe total” a escrita ficaria sob inteiro controle do espírito comunicante, ocasião em que a letra do referido seria a mesma que registrara em vida.
    .
    JOSEFO: Estou falando tudo meio por cima, porque no momento não tenho tempo pra pesquisar melhor estas fontes, então estou falando daquilo que lembro ter lido.
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    Sendo assim, as perguntas que faço são exatamente estas:
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    1º) Até que ponto tudo que o Chico escreveu foi obra exclusivamente de autoria espiritual?
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    COMENTÁRIO: responder a esta questão é um tanto complicado, pois depende da hipótese defendida pelo respondedor. De minha parte, não comungo com a idéia de que a obra de Chico tenha sido um pouco espiritual e outro tanto material: tudo o que Xavier produziu foi fruto de suas habilidades. Entretanto, para o espiritismo esta proposição é inaceitável, pois acatá-la significaria pôr de lado a suposição de que espíritos comuniquem. Se o maior médium brasileiro, e um dos maiores do mundo, for revelado apenas uma pessoa talentosa a crença na existência de um canal de contato entre as dimensões material e espiritual arrisca-se a desabar. Por isso, é difícil esclarecer as dúvidas suscitadas pela alegada capacidade de Chico comunicar os mortos com abordagem superficial ou restrita; é preciso a elaboração de estudos aprofundados, como o que ora nos presenteou o Sr. José Carlos.
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    JOSEFO: 2º) Será que em algumas circunstâncias não houve interferência daquilo que ele pensava ou sabia ou havia lido, sobre aquilo que ele estava recebendo do plano espiritual?
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    Fazendo uma comparação tola, mas que serve para aquilo que quero exemplificar, muitas vezes a gente acessa a internet e, sem qualquer motivo aparente, a conexão está um desastre, está falha. Então,
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    3º) Por que não imaginar que muitas vezes a comunicação do espírito com o médium não sofre interferência também?
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    4º) O médium é um ser humano, pode estar num dia ruim, pode estar com dor de cabeça, estressado, será que a comunicação será a mesma?
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    COMENTÁRIO: as questões que apresenta são interessantes, porém passam ao largo da essência do assunto: essas possibilidades que aventou se originam da convicção de que o contato com espíritos seja realidade. Se for, então, nada a obstar, pois realmente o médium pode estar num dia ruim, ou pode estar com suas anteninhas captadoras mal posicionadas; muita coisa poderia ocorrer.
    .
    O caso é que a discussão deve se iniciar em ponto distinto, a partir do qual a investigação teria início. Desse modo, tomando como princípio a existência de uma dimensão espiritual, as indagações poderiam ser:
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    1) qual é a condição das almas naquela dimensão? Estão conscientes, ou em sono místico?;
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    2) admitindo-se que estejam conscientes, em que nível de consciência estarão? (podem se encontrar em patamar consciencial completamente distinto daqueles por nós vivenciados);
    .
    3) haveria possibilidade de contato entre essas duas esferas existenciais?;
    .
    4) supondo-se que haja condição de contato, de que maneira esses contatos se processariam?;
    .
    5) concedendo-se que as comunicações interdimensionais se façam por meio dos chamados médiuns, novas questões precisam ser respondidas, quais:
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    a) o que significa ser “médium”?;
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    b) como se processa o contato entre espíritos e vivos? (telepatia? Microfonia mística? Conexão cósmica?);
    .
    c) onde se concentra no cérebro a capacidade mediúnica?,
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    e por aí seguiriam as múltiplas indagações que carecem de respostas.
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    JOSEFO: 5º) Será que seria besteira eu afirmar, por exemplo, que muitas vezes o médium pode ter lido, estudado determinados assuntos e ter recebido uma ajuda do plano espiritual para elaborar melhor os textos e selecionar o que deveria ser dito?
    .
    COMENTÁRIO: não seria besteira o que afirmou; porém se a criatividade do médium puder ser explicada dentro das peculiaridades desta existência, desnecessário será buscar explicamentos noutro patamar de realidade.
    .

    É o que me ocorre no momento.
    .
    Cordiais saudações.

  105. moizes montalvao Diz:

    EDUARDO: Vitor, Vc tem conhecimento desse livro?

    http://valintim.blogspot.com/2009/03/novas-utopias-dom-helder-camara.html
    .
    Prezado Eduardo
    .
    Não tive oportunidade de ler o livro que referiu, porém acompanhei várias conversas a respeito. Posso dizer que “Novas Utopias” é uma fabulação insólita, apresentada pelo médium Carlos Pereira, que acarreta mais confusão que esclarecimento. Se efetivamente o clérico católico houvera retornado mediunicamente para falar coisas que em vida não falaria, com certeza, sua intenção seria não a de esclarecer mas provocar muitas dúvidas.
    .
    Dizem os editores do livro que o próprio D. Helder, após a publicação, concedeu-lhes, do além, entrevista apresentando esclarecimentos adicionais. A “entrevista” reproduzo após estes comentários.
    .
    O que mais chama a atenção nessa pretensa “descida” de D. Hélder é que tenha procurado um médium espírita para falar de espiritismo. Seria de esperar que o dito buscasse alguém no meio católico (um bispo, cardeal, ou o próprio papa) a fim de repassar seu recado. D. Helder saberia que, tratando com um médium espírita, seu discurso não seria bem recebido.
    .
    O alegado D. Hélder não deu provas de sua identidade, a respeito da identificação tem-se apenas a declaração do médium de que o contatante era realmente quem dizia ser…
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    Considere ainda, que o recado de D. Hélder não acrescentou nada ao conhecimento humano. Uma mensagem até que bonitinha, mas polêmica e plenamente concorde com a crença espiritista. Parece coisa feita de encomenda…
    .
    Um ponto crucial que não estou certo se o livro comenta: D. Helder em vida era adepto da crença na ressurreição; depois de morto se tornou reencarnacionista, e isso aparentemente sem explicações adequadas…
    .
    A “entrevista” que o finado concedeu, do além, em primeira leitura parece arrumadinha, mas, examinado-se com vagar notam-se diversas alegações confusas e mesmo suspeitas, conforme este trecho:
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    ENTREVISTADOR: “Espíritas no futuro?”
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    D. HELDER: “Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.”
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    Vê-se que o sacerdote não apenas se converteu ao espiritismo, também profetissa que a igreja se tornará futuramente adepta do kardecismo…
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    Vê-se, pois, que nosso amigo “D. Helder” e seu médium vieram trazer incertezas e suspeitas, em vez de luzes.
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    A seguir, a “entrevista”,
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    Saudações.
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    Entrevista
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    Na entrevista com Dom Helder Câmara, realizada pelos editores, o Espírito comunicante respondeu as seguintes perguntas sobre a vida espiritual:
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    Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente um padre?
    .
    Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo físico, continuo como padre porque penso e ajo como padre. Minha convicção à Igreja Católica permanece a mesma, ampliada, é claro, com os ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível, para o bem da humanidade.
    .
    Do outro lado da vida, o senhor tem alguma facilidade a mais para realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento ou ainda encontra muitas barreiras com o preconceito religioso?
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    Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades de relacionamento, porque os pensamentos continuam firmados, cristalizados em determinados pontos que não levam a nada. Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma sintonia.
    .
    Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição de desencarnado?
    .
    Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles que passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo sistema que subtrai liberdades, enriquece a poucos e colocam na pobreza e na miséria muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam semelhantemente a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento da humanidade.
    .
    Como é sua rotina de trabalho?
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    A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me, porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver atividades para as quais nos colocamos à disposição. Há grupos que trabalham e que são organizados para o meio católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração. Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço com muito prazer.
    .
    Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual foi a sua maior alegria?
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    Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que não deixaria de existir. Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos quais devotamos o máximo de nosso apreço e consideração e continuar a trabalhar, é uma grande alegria. A alegria do trabalho para o Nosso Senhor Jesus Cristo.
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    O senhor, depois de desencarnado. Tem estado com freqüência nos centros espíritas?
    .
    Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os hospitais; as casas de saúde; são lugares onde o sofrimento humano se faz presente. Naturalmente vou à igreja, a conventos, a seminários, reencontro com amigos, principalmente em sonhos, mas minha permanência mais freqüente não é na casa espírita.
    .
    O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
    .
    Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre este ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no livro. O que posso dizer é que Deus age conforme a sua sabedoria sobre as nossas vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas experiências, isso será um processo natural.
    .
    Mediunidade – Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?
    .
    Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas têm da vida, para que elas percebam que continuamos a existir e que essa nova visão possa mudar profundamente a nossa maneira de viver.
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    Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?
    .
    Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente como me adaptar ao médium para poder escrever. É necessário que haja uma aproximação muito grande entre o pensamento que nós temos com o pensamento do médium. É esse o grande de todos nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos intuindo a ele. No início foi difícil, mas aos poucos começamos a criar uma mesma forma de expressão e de pensamento, aí as coisas melhoraram. Outros (médiuns) pelos quais tento me comunicar enfrentam problemas semelhantes.
    .
    Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escrita mediúnica?
    .
    Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse tempo e oportunidade.
    .
    Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever mediunicamente, relatarem suas impressões da vida espiritual. Por que Dom Helder é quem está escrevendo?
    .
    Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus irmãos da Terra que a vida continua e que não paramos simplesmente quando nos colocam dentro de um caixão e nos dizem “acabou-se”. Eu já pensava que continuaria a existir, sabia que haveria algo depois da vida física. Falei isso muitas vezes. Então, sentir a necessidade de me expressar por um médium, quando estivesse em condições e me fossem dadas as possibilidades. É isto que eu estou fazendo.
    .
    Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso país?
    .
    Sim. E não poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida física. Não o fazem por puro preconceito de serem ridicularizados, de não serem aceitos, e resguardam as suas sensibilidades espirituais para não serem colocados numa situação de desconforto. Muitos padres, cardeais até, sentem a proteção espiritual nas suas reflexões, nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo, que na verdade são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e colaboram nas suas atividades.
    .
    Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?
    .
    Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele por conta de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar foi muito fácil, até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar sobre a minha última vida física. Então ficou mais fácil transmitir-lhe as informações que fizeram o livro.
    .
    O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras pela mediunidade?
    .
    Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as comunicações. Este é o nosso propósito.
    .
    É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos espíritas quando na vida física?
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    Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa Igreja, por si só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo, fazermos contato com o plano físico depois da morte seria uma conseqüência natural. Pensamentos espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo de constrangimento em ter negado alguns pensamentos espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências íntimas espirituais.
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    Igreja – Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
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    Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente tem um grau evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se reconhecem rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez, pela sua moralidade. Não quero dizer que na Terra isto não ocorra, mas do lado de cá da vida isto é tudo mais transparente; nós captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se faz somente com um cargo transitório que se teve na vida terrena, mas, sobretudo, pelo avanço moral.
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    Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
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    Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro, representando o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma responsabilidade enorme para qualquer ser humano. Então fica muito fácil, para nós que estamos de fora, atribuirmos para quem está ali sentado, algum tipo de consideração..
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    Não é fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas materiais, mas descobri que as espirituais ainda em maior grau. Eu posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização da Igreja; defendi isso durante minha vida. Mas tenho que admitir, embora acredite nesta visão ideal da Santa Igreja, que as transformações pelas quais devemos passar merecem cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução. Queira Deus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI) possa ter a lucidez necessária para poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.
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    O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu papel?
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    Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço. Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida, possuímos uma visão mais ampliada das coisas. Determinados posicionamentos que tomamos, podem não estar em seu melhor momento de implantação, principalmente por uma conjuntura de fatores que daqui percebemos. Isto não quer dizer que não devamos ter como referência os nossos principais ideais e, sempre que possível, colocá-los em prática.
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    Espíritas no futuro?
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    Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais. Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.
    .
    Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão cooperando com o progresso do Brasil no mundo espiritual?
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    Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as localidades.
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    Então, dizer um nome ou de outro seria uma referência pontual porque há muitos, que são poucos conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.
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    Amor – Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos agora depois da morte?
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    Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.
    .
    Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
    .
    Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e católicos ou qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é feita por nós não pelo Criador. São aceitáveis porque demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto, a convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois devemos unir os nossos esforços.
    .
    Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira geral?
    .
    Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor. Ela é a única e principal mensagem que se pode deixar.”

  106. Roberto Scur Diz:

    Embora os chamados, ou desafios, para que eu contraponha alegações dos céticos quanto á Chico Xavier e ao Espiritismo, eu não pretendo gastar mais tempo com isso pois, em relação ao caso de Públio, graças à leitura do livro de Pedro de Campos, acredito que os que sustentam sua inexistência e estão preocupados em embasar estas alegações com ditas pesquisas históricas é que devem consultar por si mesmos o livro e as fontes ali apresentadas.

    Não vou contar o final do filme, não vou fazer resenha pois não teria a qualidade do próprio livro. Quem desejar pode comprar, ler e julgar por si mesmos, e se permanecerem na mesma crença defendida por este blog e estas pessoas céticas que então tentem desarticular as várias fontes que ali encontrarão e que não foram citadas pelos criadores autores deste blog.

    Ouvi-los dizerem-se aberto para novas informações, mas no meu entender isto é uma falácia pois na medida que alegaram peremptoriamente que seus trabalhos eram conclusivos e completos, e que à partir deles criaram a “grande margem de segurança para afirmar que Públio jamais existiu” e que pensar ao contrário seria uma questão de fé e não de racionalidade, etc., etc., então que agora apresentem suas elucubrações que possam convencer, emparelhadas com as que foram lucidamente apresentadas por Pedro de Campos, de que suas fontes e seus argumentos têm supremacia sobre os dele.

    Eu não precisava de nenhuma pesquisa histórica para compreender a grandiosidade da obra que Chico Xavier foi o porta-voz e a sua veracidade, mesmo porque verdade histórica não é verdade plena haja visto a imensa lacuna, aliás, melhor dizendo, a breve cobertura dos fatos que ocorreram e que ocorrem diariamente aos quais ela consegue abarcar, mormente nos tempos de Jesus e do cristianismo nascente .
    Não haviam motivos para duvidar de uma pessoa pelo resultado de suas obras (“conhece-se a árvore pelos frutos) pelo conteúdo dos livros, e por ter confundido a sua trajetória no mundo com o verbo “amar”. O amor assim praticado é um sentimento tão magnífico, tão belo que não se emparelharia com fraudes, mentiras e imoralidades.

    Entendo que esta é a maior dificuldade, o maior óbice para que os céticos, principalmente àqueles que estão afastados do significado da palavra AMOR. Os perseguidores do Espiritismo precisariam compreender a essência de pessoas como Chico Xavier e isto não é fácil quando se vive a duvidar da virtude espiritual, talvez por não possuírem-na dentro de si mesmos, e a enxergar o cisco no olho dos outros sem enxergar a trave do seu próprio.

    O que se dirá então do Mestre incomparável, Jesus Cristo, à quem eu aprendi, graças ao espiritismo, à amar profundamente, à admirar com suprema gratidão. Antes de conhecer os ensinamentos espíritas eu não o compreendia naquelas cruzes sustentando cadáveres sangrentos talhados em objetos cobertos de ouro e púrpura, e tive uma espantosa surpresa quando, ao ensaiar minha primeira prece que não fossem as rezas da Igreja Católica que eu repetia na infância no colégio, nas missas, nos casamentos ou nas raras vezes que ia em alguma igreja na idade adulta, tive imenso desconforto e vergonha para conseguir pronunciar o Seu nome em atitude de reverência e humildade: eu não sabia dizer “Jesus”.

    Eu não devo querer convencê-los de qualquer coisa. Quem sou eu para fazê-lo? E além do mais você não querem saber disso, não está na vossa alçada comungar da fé de qualquer credo ou de qualquer filosofia contra as quais os seus raciocínios plenos de materialismo combatem e não conseguem abarcar.

    Cito Kardec no texto “Missão dos espíritas” do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 20, item 4:

    “Ide pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão […]

    Há muito o que fazer, em verdade, para os que pretendem ser considerados espíritas. Seguir o exemplo de médiuns abnegados como foi Chico Xavier é algo a ser pensado pois ele não perdia seu tempo com discussões para provar sua honestidade e a verdade das mensagens que vinham através de suas abençoadas mãos de psicografias. O resultado de sua vida foi uma existência rica de amor, de serviço ao semelhante, de exemplos cristãos e de paz. Bendito sejam estes irmãos que conseguiram sair do lugar comum e inspirados pelo Cristo foram guindados à condição de benfeitores da humanidade.

    Aos materialistas que não os compreendem, luz e paz para todos.

  107. Carlos Diz:

    Montalvão,
    .
    O que me soa incoerente é Dom Helder enviar uma mensagem através de alguém que se diz em contato com espíritos. Isso vai frontalmente de encontro a ortodoxia católica. Note que na mensagem ele se diz fundamentalmente um padre fiel a igreja católica. Será que ele não percebe que está em rota de colisão com os seus pares (bispos, cardeais e o próprio papa!)? Será que ele perdeu totalmente a noção de obediência, tão cara à igreja no tocante à doutrina, avançando deliberadamente o “sinal vermelho” ao se comunicar através de um médium?

  108. Flávio Josefo Diz:

    Carlos,
    Sempre respeito muito suas colocações, mas esta aí em cima, discordo.
    Nem sei se o tal livro merece crédito.
    Mas não vejo problema algum, caso seja verdade, o Dom Helder fazer uso de um médium pra se comunicar. Como ele iria se comunicar através de um padre católico, se os padres, a maioria deles, eu acho, não aceitam o espiritismo e a mediuinidade?
    Um abraço!

  109. Flávio Josefo Diz:

    Montalvão,
    Quero me apegar à parte final de meu comentário e de seu comentário:
    .
    JOSEFO: 5º) Será que seria besteira eu afirmar, por exemplo, que muitas vezes o médium pode ter lido, estudado determinados assuntos e ter recebido uma ajuda do plano espiritual para elaborar melhor os textos e selecionar o que deveria ser dito?
    .
    COMENTÁRIO (Montalvão): não seria besteira o que afirmou; porém se a criatividade do médium puder ser explicada dentro das peculiaridades desta existência, desnecessário será buscar explicamentos noutro patamar de realidade. É o que me ocorre no momento.
    …..
    – A questão aí, pra mim é a seguinte: você acredita que seria possível a pessoa (o “médium”) estar recebendo uma inspiração espiritual, sem ser exatamente como ele diz, do espírito estar ali com ele, mas, de qualquer forma, estar recebendo uma inspiração espiritual e estar, de fato, passando uma mensagem verdadeira ou próxima da verdade, mesmo que a natureza dela não seja exatamente a que ele afirma ser?
    Não sei se você está me entendo. Só estou falando em possibilidades, hipóteses. Já que estamos debatendo assuntos, situações – eu vou além e faço uma indagação mais polêmica ainda: seria possível que o Chico tenha criado muitas coisas de sua cabeça mesmo, mas, na essência, muito do que ele disse e escreveu, seja verdade?

  110. Carlos Diz:

    Flávio Josefo,
    .
    Evidentemente ele teria que se comunicar com um médium. Até aí não há problema. A incoerência da mensagem, na minha opinião, é Dom Helder espírito assumir uma postura de confronto com a própria igreja que ele diz inda seguir.
    .
    Quanto em vida, Dom Helder Câmara pode ter assumido posições polêmicas, notadamente na política. Porém no tocante à obediência aos ensinos e dogmas da igreja, ele foi exemplar. O que me surpreende é ele adotar uma postura de confrontação com a própria doutrina católica (o que ele jamais fez em vida!) ao se comunicar por um médium. Sob a ótica do espírita não há problema algum; porém na visão do alto clero zeloso de sua história e dos ensinamentos da igreja é uma afronta. Será que Dom Helder espírito não teria percebido isso?
    .

  111. moizes montalvao Diz:

    Prezados,

    ROBERTO SCUR, disse: “Embora os chamados, ou desafios, para que eu contraponha alegações dos céticos quanto á Chico Xavier e ao Espiritismo, eu não pretendo gastar mais tempo com isso pois, em relação ao caso de Públio, graças à leitura do livro de Pedro de Campos, acredito que os que sustentam sua inexistência e estão preocupados em embasar estas alegações com ditas pesquisas históricas é que devem consultar por si mesmos o livro e as fontes ali apresentadas.”

    COMENTÁRIO: Creio que devo entender de seu recado e, lindo discurso, que não vai replicar aos argumentos do Sr. José Carlos, conforme fora prometido?
    .
    Se for assim, ficaremos meio que um tanto acéfalos de argumentos, pois esperávamos que apresentasse considerações capazes de nos fazer rever a idéia conclusiva que o estudo do Sr. José Carlos nos proporcionou.
    .
    Diante de sua atitude desistitiva, ficamos com as finalizações constantes do referido estudo, considerando-as argumentações, e, mesmo demonstrações, inequívocas de que Públio Lêntulo não teve existência real.
    .
    É lamentável, visto que estávamos aguardando reflexões que nos fizessem rever a conclusão que nos pareceu incontestável, a de que Públio Lêntulo é uma fantasia.
    .
    Diante de sua desistência, infelizmente, somos obrigados a considerar que a análise feita pelo Sr. José Carlos continua sendo a melhor avaliação até então publicada a respeito dessa insólita figura que foi Lêntulo. Em outras palavras, permanecemos convictos que o senador romano, nominado Públio Lêntulo, jamais existiu.
    .
    Se não surgir novidade, esta será a assertiva inconstestável.
    .
    Saudações.

  112. Roberto Scur Diz:

    Moizes Montalvão

    Obrigado pelo elogio ao meu discurso.
    Vocês não estão acéfalos de argumentos; o livro de Pedro de Campos gera muitas reflexões e fortes argumentos que demonstram que as ideias conclusivas do JCFF precisam ser revistas e que seu estudo histórico está incompleto. Não desistam de pesquisar. Bom trabalho!

  113. moizes montalvao Diz:

    Prezado Flávio Josefo:

    JOSEFO, Não sei se você está me entendo. Só estou falando em possibilidades, hipóteses. Já que estamos debatendo assuntos, situações – eu vou além e faço uma indagação mais polêmica ainda: seria possível que o Chico tenha criado muitas coisas de sua cabeça mesmo, mas, na essência, muito do que ele disse e escreveu, seja verdade?
    .
    COMENTÁRIO: Certamente, muito do que Chico disse fora verdade, provavelmente a maior parte de seu discurso era “verdadeiro”. A questão preliminar é estabelecer de qual contexto de “verdade” falamos. Por exemplo, quando Chico psicografava mensagens que advogavam a reencarnação, supostamente enviadas por seus guias espirituais, podemos dizer que eram mensagens verdadeiras: desde que circunscritas ao ambiente espiritista. Por outro lado, não podemos esquecer que boa parcela do discurso xaveriano contém incorreções, algumas delas bem sérias.
    .
    O caso é que a existência de comunicações verdadeiras e falsas não se relaciona necessariamente com a validação da hipótese de que espíritos comuniquem. A própria doutrina explica esses casos sem maior dificuldade: as boas comunicações viriam de espíritos evoluídos; as más dos pouco desenvolvidos…
    .
    A meu ver, no cotejamento da realidade mediúnica, se se demonstrar que toda e qualquer comunicação dada como de origem mediúnica puder ser explicada em termos psicológicos, então poderemos estar convictos de que a mediunidade é somente crença religiosa.
    .
    É lógico que se for comprovado que as comunicações são oriundas da própria mente do médium, tal não significará o “fim do espiritismo”; talvez seja o fim da idéia de que o espiritismo possui uma face científica, talvez. De qualquer modo, a fé nas comunicações continuará firme e forte…
    .
    Saudações,

  114. Adriano Diz:

    Estas discussões são muito interessantes, gostaria de perguntar uma coisa a um dos debatedores.

    Sr. Scur:
    Caso Pedro Campos refaça suas análises e conclua que o Senador não existiu, isso mudaria algo?

  115. Vitor Diz:

    Adriano,
    excelente pergunta. Mas já sei a resposta: o Scur vai dizer que o Pedro de Campos sucumbiu aos espíritos das trevas, especialmente um chamado JCFF…

  116. Marcos Diz:

    Mas quem é mesmo JCFF?

  117. Sebastião Pinheiro Martins Diz:

    Antes de mais nada, quero agradecer ao Prof. José Carlos Ferreira Fernandes por ter se dignado em responder a um “post” meu, datado de 1º de janeiro. Para mim foi uma honra que ele tivesse se dado ao trabalho de escrever um texto tão extenso e minucioso (alem de estar repleto de anexos e citações interessantíssimas, mesmo quando seus respectivos temas não parecem pertinentes à polêmica tratada). De qualquer forma, é muito enriquecedor, mesmo quando não concordamos com um ou outro detalhe.
    Em segundo lugar, quero pedir desculpas pela demora em me dar conta de sua resposta. Na verdade, sequer imaginava que meus modestos arrazoados fossem merecedores de sua atenção. Por outro lado, minha falta de tempo, quer por motivos profissionais (parei de contribuir para o blog justamente após o fim do recesso escolar, repararam?) e pessoais (nem vou entrar em detalhes… é desnecessário, claro) dificultou que verificasse o efeito do que escrevera.
    A bem da verdade, eu acessei agora o texto do professor José Carlos Ferreira Fernandes por puro acaso: buscava ler aqui no blog, em primeiro lugar, um texto sobre livre-arbítrio que me chamara a atenção, pois este problema filosófico foi um dos principais motivos de meu afastamento do Espiritismo, e, só depois, ao ver disponível um texto sobre História (a palavra, em si me chamou atenção) é que descobri se tratar de resposta a considerações minhas. Fiquei muito surpreso!
    Bem, agora devo fazer alguns esclarecimentos a respeito de minhas “posições teóricas”.
    I – Para começar, devo enfatizar que não sou mais “espírita”. Minha postura, a respeito de vários preceitos espíritas é hoje mais agnóstica do que crente. Mas também não sou um arquicético, quando se trata de temas de natureza “metafísica”. Por isso, eu quis dar o benefício da dúvida a meus ex-correligionários espíritas. Daí a minha defesa de uma postura mais prudente antes de classificar categoricamente a problemática “Epístola de Lêntulo” na lata de lixo dos “escritos apócrifos”. Mas é importante para mim também deixar claro que não mudaria muita coisa para mim a descoberta de provas cabais da falsidade do texto em questão. E também não lamento o fato de que “Públio Lêntulo” não existiu. Já deixei bem claro aqui, em outras ocasiões, que o tal Públio é, para mim, apenas uma personagem literária (assim como o próprio nome de fantasia “Emmanuel”, seja lá quem for que o utilize, encarnado ou desencarnado: pode ser tomado como um simples pseudônimo, ou mais uma personagem criada pelo Chico, vá lá…). Neste caso, “Públio Lêntulo” faria companhia a Ben-Hur na galeria de personagens literárias de romances históricos ambientados na Palestina dos tempos de Jesus. Quanto à qualidade propriamente literária dos referidos textos mediúnicos, bem, eu não vou me posicionar sobre isso, não sou crítico literário. Podemos até achar que “Há 2000 anos” é uma obra de segunda categoria, mas caiu no gosto popular e virou “best-seller”; gosto não se discute, lamenta-se…
    II – Agradeço ao Prof. José Carlos por ter me corrigido quanto às datas das mais antigas cópias de Tácito disponíveis. Minha fonte de referência (o historiador italiano Ambrogio Donini, que, a própósito, era marxista e também muito cético quanto à autenticidade de “Epístola de Lêntulo”) parece estar desatualizada.
    Só que, de qualquer forma, a mudança de datas não faz muita diferença aqui: oitocentos anos são muito tempo de distância entre os autógrafos originais (um pleonasmo, eu sei…) e suas mais antigas cópias disponíveis. Devemos levar em consideração que bastou, por exemplo, apenas um século, até menos, na verdade, para que textos do Novo Testamento fossem adulterados ou mesmo totalmente falsificados. Exemplo? As epístolas A Timóteo, a Tito, e aos Efésios, atribuídas a Paulo de Tarso. Praticamente quase todos os teólogos sérios, desde o século XIX, admitem que elas são apócrifas. (Referência bibliográfica: leiam “Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?”, do teólogo norte-americano Bart Ehrman, disponível nas melhores livrarias e bancas de revista, inclusive em versão pocket).
    III – O fato de partes da obra de Tácito terem sido citadas por outros autores, quer de forma literal, quer de forma resumida, como paráfrases, não compensa a perda do texto integral. É uma situação diferente da de outros textos, como, por, exemplo o “Discurso Verdadeiro”, de Celso, amplamente citado (e refutado) por Orígenes de Alexandria em seu “Contra Celso”. O Prof. José Carlos Ferreira Fernandes sabe muito bem que, se hoje dispomos de quase todo o texto do “Discurso Verdadeiro”, isto se deve apenas à iniciativa de Orígenes em copiar literalmente longos trechos da obra refutada. Mas foi um caso raro. Eusébio de Cesaréia também citou vários fragmentos de documentos dos primordios do Cristianismo em sua História Eclesiástica, salvando-os do esquecimento. Só que, entre alguns desses textos salvos por Eusébio, constam alguns apócrifos também, como é caso da suposta correspondência trocada entre Jesus e o rei Abgar de Edessa. É uma pena que sejam cartas falsas… talvez tanto quanto a de Públio Lêntulo, não?
    Mas o caso de Tácito, assim como a de Claúdio, é diferente: tratam-se de amplas obras historiográficas (de cujo valor não duvidamos: eu mesmo compulsei os “Anais” e a “Germânia”, desde meus tempos de estudante universitário), cuja perda de vários volumes não pode ser totalmente compensada por resumos ou paráfrases. Em termos proporcionais, o que se perdeu de Tácito é relativamente maior do que o que se perdeu do supracitado opúsculo de Celso. Idem para a obra de Dion Cássio. E reitero aqui o fato de que as cópias dos textos sobreviventes dos “Anais” e da “História” de Tácito serem muito tardias em relação aos originais.
    IV – Ah! E quero agradecer também pelo professor José Carlos ter acrescentado, em favor de minha argumentação, o fato de que também a História de Tácito nos chegou fragmentada.
    V – A preservação de parte da obra de Tácito e de Cássio Dion (prefiro escrever o nome desta forma) deve ser saudada como alvissareira, é claro, mas não substitui a perda das fontes originais, ou seja, dos arquivos romanos e dos depoimentos de testemunhas de primeira mão (as cartas de Plínio, o Moço, são uma preciosa excessão). E a perda das obras de Cláudio foi pior ainda: não sobrou sequer um décimo do equivalente ao que nos chegou das obras de Tácito.
    VI – Jamais duvidei da existência história, factual, de Públio Cornélio Tácito (embora admita dúvidas na existência do outro Públio em questão…). Se alguém pensou que eu pretendia chegar a esse ponto, enganou-se muito feio. Mas admito que parte da culpa é minha, por não me fazer entender direito. Peço perdão, se foi esse caso.
    VII – Também concordo que documentos epigráficos são fontes valiosas. Mas também são, infelizmente, fragmentários. Excessão gloriosa é o das “Res Gestae Divi Augusti”, ou o de algumas leis gregas e romanas gravadas em pedra ou bronze. Mas falta-nos muita coisa. Não temos, por exemplo, o texto completo das leis de Atenas ou Esparta. Se não fosse por Aristóteles, saberíamos menos ainda, é claro, mas não é a mesma coisa. Epítomes não substituem a perda de arquivos e bibliotecas inteiros.
    VIII – Sobre a conservação de escritos de Pitágoras: é controverso que ele (e sua esposa Tea, também filósofa) tenha escrito alguma coisa, pois há quem afirme que o seu ensino era puramente verbal. Platão, grande admirador de Pitágoras, que desejava ardentemente uma cópia de supostos escritos dele, jamais o conseguiu (talvez, pelo simples fato deles não existirem). Tudo o que ele pôde obter foi um livro escrito por um discípulo de Pitágoras, Filolau de Crotona, resumindo a doutrina pitagórica. Desse livro, só nos restaram fragmentos, incluindo partes dele conservados (plagiados?) no “Timeu” de Platão. Isto não supre a perda do texto integral, é claro.
    Aliás, outro mestre de Platão, Sócrates, também não escreveu nada. O que temos de Sócrates são registros (aparentemente muito romanceados) de seus debates coligidos nos diálogos de Platão. Mas já Kierkegaard notara, no século XIX (no livro “O Conceito de Ironia”), que o que Platão escrevera sobre Sócrates não batia inteiramente com os registros de outro discípulo socrático, Xenofonte (nos seus “Memorabilia”).
    IX – Não lembro de ter afirmado que a historiografia antiga “não era digna de confiança”. Quanto à validade de textos de propaganda como fontes de pesquisa, admito que também podem (e devem) ser analisados, contribuindo para nosso conhecimento histórico. O problema é separar, deles, o que é dado factual confiável do que é, propriamente, propaganda. E é aí que muitos historiadores se atrapalharam, no passado…
    X – Quanto a eu afirmar que nunca se poderá assegurar, “com 100% de certeza”, que certos eventos históricos realmente ocorreram, e dessa ou daquela maneira, e não de outra, creio que também não me fiz entender direito. Eu não quis afirmar que seria impossível saber alguma coisa sobre o passado, mas que seria impossível saber tudo, ou, pelo menos, todos os seus detalhes.
    Exemplos? Há certas datas da História que podemos assegurar com certeza, como a destruição do Templo de Jerusalém pelas tropas de Tito, em 70 d.C. Mas há outros eventos que não podemos localizar com precisão no tempo e no espaço, como o nascimento de Jesus. Até hoje, ninguém sabe com certeza se ele nasceu no ano 7, ou no 6, no ano 5, ou no 4 a.C. A própria Igreja Católica Romana parece não ter posição oficial sobre isso. E, além do “quando”, temos a questão do “onde”: em Belém ou Nazaré? Bom, pelo menos temos certeza de que Jesus viveu em Nazaré, não?
    Não, não é o que dizem os arqueólogos, que asseguram não ter existido uma cidade ou vila chamada “Nazaré”, na época de Jesus. (A propósito: e como fica, aqui, a suposta contribuição da Arqueologia para a “confirmação” de dados históricos, contidos em documentos escritos? Nem sempre isso se dá.)
    E quanto à Crucificação de Jesus? Sabemos que ocorreu, e onde, mas não quando: a maioria dos estudiosos católicos prefere a data de 30 d.C., enquanto protestantes e “testemunhas de Jeová” preferem o ano 33. O historiador britânico Robin Lane Fox, em seu livro “Bíblia, Verdade e Ficção” (Companhia das Letras), defende a data de 36 d.C. Durma-se com um barulho desses!
    E quanto à crucificação do apóstolo Pedro, em Roma? Também não há certeza se ela ocorreu no ano 64 ou no ano 67. Na verdade, não há sequer a certeza de que ele esteve em Roma, quanto mais que tenha morrido lá. Somente a tradição católica (vista com desconfiança por historiadores protestantes, agnósticos e ateus) o assegura. E também, é claro, o livro “Paulo e Estevâo”, psicografado por Chico Xavier, que, neste, como em outros pontos da História do Cristianismo Primitivo, defende as mesmas balizas factuais e cronológicas dos escritores católicos. Mas… é uma pena! Trata-se apenas de um romance espírita, que NÃO pode ser usado como fonte histórica.
    XI – E não nos esqueçamos que ainda existem pessoas (trata-se de ateus empedernidos, em sua maioria), nos dias de hoje, assegurando que Jesus nunca existiu, pois não dispomos de documentos irrefutáveis assegurando sua existência. Consulte-se na Internet, a esse respeito, o site “Nova Era”, que disponibiliza alguns textos defendendo essa teoria. (E citar Suetônio, Tácito e Plínio o Moço não serviria a esses arquicéticos: eles alegam que esses romanos só conheceram o nome “Chresto” ou “Jesus” de ouvir falar.) Como convencê-los de que Jesus existiu mesmo? Diante de tal polêmica, discutir se um tal Públio Lêntulo existiu mesmo ou não é irrelevante.

    Bem, por aqui eu fico. Espero ter esclarecido melhor minhas posições, que, afinal, nem são tão distantes assim das defendidas pelo Prof. José Carlos Ferreira Fernandes. Eu apenas queria dar uma pequena margem de credibilidade à hipótese espírita da existência real de um presumido “senador Públio Lêntulo”. Por outro lado, também queria chamar a atenção do professor José Carlos para a necessecidade de aplicar uma metologia popperiana à sua afirmação de que o tal senador jamais existiu, ou seja: a hipótese científica de que Públio Lêntulo não existiu precisaria ser “falseada”, da mesma forma que o foi a dos espíritas, de que o tal personagem era real. “Falsear”, aqui, significa submeter uma teoria à prova de sua contestação por uma hipótese contrária, por uma análise crítica da origem e validade dos dados coligidos para confirmá-la. Eu avisei para termos cuidado com eles, devido à incompletude dos registros, cheios de lacunas. Afinal, a falta de evidência não é evidência de falta…
    Mas, de uma coisa o professor José Carlos pode ter certeza de que concordo com ele: acho um absurdo os espíritas quererem impor aos historiadores a aceitação de romances psicografados como “fonte histórica”. E esta foi mais uma das razões pelas quais abandonei o movimento espírita.

    Saudações de

    Sebastião Pinheiro Martins

  118. Sebastião Pinheiro Martins Diz:

    Pós-escrito:
    Soube do lançamento do livro de Pedro de Campos sobre Públio Lêntulo, e estou curioso para lê-lo. Mas falta-me tempo, em primeiro lugar, para procurá-los nas livraria, e, em segundo, para fazer a leitura (mais de 440 páginas!); até porque eu tenho outros livros na fila de espera, para terminar. E nem falo dos limites monetários para adquiri-lo… Como é livro espírita, suponho que não chegue a cinquenta reais. Quarenta já seria muito.
    E peço desculpas a todos por meus erros de Português, que escaparam à minha revisão. Certas coisas só descobrimos depois que colocamos o texto à disposição do público.
    Agradeço ao Vítor pelo espaço concedido.

  119. Marcos Lopes Diz:

    Bom pessoal gastei umas boas horas lendo com calma esse assunto, bom primeiro gostaria de dizer que foi com imensa alegria e agrado meu descobrir esse site, gostaria de esclarecer que sou espirita e a verdadeira espiritualidade jamais impoe nada apenas coloca na mesa segue quem quer, a verdadeira espiritualidade nunca vai impor nada a ninguem, eu não sigo espiritas nenhum, sou um espirito que penso por mim e pelo que vejo e leio não importando ser obra espirita ou terrena, meu Pai e minha Mãe sempre ensinaram a mim e ao meus irmãos a seguirmos nosso caminho e nunca impor nada a ninguem, dito isso acredito que os dois lados tem razões e que se estudarmos com calma chegaremos a uma conclusão sem ver nem um lado ou o outro e sim um todo, por exemplo sabemos muito bem que a Igreja Catolica ficou com um acervo fabuloso e está guardado até hoje a sete chaves não deixando ninguem ver, sabemos tambem que o Imperio Romano era bem organizado sempre detalhando tudo em documentos, sabemos tambem que muita coisa foi perdida tanto no incendio de Roma provocado por Nero como no incendio da famosa biblioteca de Alexandria, então senhores acredito que não é hora de discussões e sim de chamamento ao conhecimento de ambos os lados e quem sabe poderemos chegar a um ponto. A da verdade.
    Abraços
    Marcos Lopes
    Curitiba

  120. Phelippe Diz:

    A parte do artigo que fala sobre os judeus no Egito, ao tempo de Moisés, e as pragas que se abateram sobre os egípcios, é interessantíssima. Gostaria de ver algum outro trabalho do Sr. José Carlos explorando esse ponto.
    De resto, muito, mas muito bom.

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