o caso antônia: evidência extraordinária de reencarnação?

Mais uma vez saindo um pouco da linha do blog, ofereço aqui um estudo de caso que aparentemente é um verdadeiro desafio às explicações normais. Gostaria muito que um historiador especializado no período pudesse avaliá-lo, seja para demonstrar inconsistências, seja para confirmar a existência de personagens ainda não localizadas pela pesquisa.

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THE JOURNAL OF THE AMERICAN SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH

 

VOLUME 84

OUTUBRO DE 1990

NÚMERO 4

 

Um Caso Raro de Regressão Hipnótica com Algum Conteúdo Inexplicado 

LINDA TARAZI[1]           

RESUMO: Uma paciente (L.D.) foi submetida a regressões hipnóticas a “vidas passadas” em um grupo de hipnotizadores amadores. Uma “vida”, a de uma espanhola do século XVI chamada Antônia, a deixou obcecada seriamente, a ponto de interferir na sua vida presente. Esperava-se que apontando erros, imprecisões e discrepâncias seria possível convencê-la de que estas “lembranças” eram produtos fictícios de sua imaginação fértil. Centenas de horas de pesquisa ao longo de três anos, em duas dúzias de bibliotecas e universidades, viagens para a Espanha, Norte da África e Caribe, e correspondência com historiadores e arquivistas tornaram possível verificar mais de 100 fatos, mas descobriu-se que não há erros. Grande parte das informações de LD pôde ser localizada apenas em fontes espanholas antigas, obscuras (L.D. nunca estudou espanhol ou visitou a Espanha), e algumas só foram encontradas nos arquivos espanhóis. Outra forma de terapia livrou L.D. de sua obsessão, mas a questão intrigante quanto à fonte das informações de L.D. permanece. Quatorze possíveis teorias para explicar o caso são discutidas: fatores psicodinâmicos, fraude, criptomnésia, personificação, dissociação ou múltipla personalidade, memória genética, memória racial, clarividência, precognição, retrocognição, telepatia, mediunidade, possessão e reencarnação. 

Alegações de regressão hipnótica a eventos na infância de uma pessoa têm sido criticadas como não-substanciais. Os resultados são atribuídos à evocação dos poderes criativos da mente do sujeito liberados durante a hipnose sob as instruções para “voltar” a uma idade anterior (O’Connell, Shor & Orne, 1970; Orne, 1951, 1979; Reiff & Scheerer, 1959). As alegações de que a regressão hipnótica pode levar à recuperação de memórias de uma vida anterior possuem ainda menos motivos substanciais (Baker, 1982). A maioria do que surge durante tais experiências não é verificável, e provavelmente deriva de informações que o sujeito obteve através da leitura ou assistindo a filmes ou à televisão. A imaginação, em seguida, constrói uma “personalidade anterior” plausível. Em alguns casos, foi possível demonstrar a correspondência estreita entre um livro que o sujeito possa ter lido ou algum aspecto de sua própria vida e a história desenvolvida pela “personalidade prévia” suscitada durante a regressão hipnótica (Kampman, 1973, 1976; Kampman & Hirvenoia, 1976; Wilson, 1982; Zolik, 1958).

No entanto, um pequeno resíduo de casos de regressão hipnótica inclui detalhes que, até onde a investigação pôde mostrar, o sujeito não poderia ter aprendido por meios normais, por exemplo, o caso Bridey Murphy (Bernstein, 1956) e dois casos estudados por Stevenson (1974, 1976, 1984; para discussões adicionais, ver Stevenson, 1961, 1977).

Durante alguns anos, tenho praticado a regressão hipnótica, na esperança de aliviar o sofrimento de pessoas neuróticas ou fóbicas para as quais nenhum outro tratamento pareceu benéfico. Se o material de sua infância não era pertinente, e elas queriam tentar uma regressão a vidas passadas, assim era feito. Em minha própria experiência, quase todas as “personalidades anteriores” evocadas durante estas sessões são inverificáveis e quase certamente derivam de fantasias por parte do sujeito. Que muitos dos pacientes se beneficiam desse procedimento em nada confirma a autenticidade das “personalidades anteriores”, cujas vidas os pacientes afirmam se lembrar. Ainda assim, em um pequeno número de casos, as informações descobertas em uma ou mais dessas sessões não pode ser facilmente explicada.

O caso Bridey Murphy (Bernstein, 1956) ilustra o problema que estes, reconhecidamente raros casos, possuem. Na época em que foi publicado, alguns jornais e revistas populares sugeriram que a paciente havia adquirido as informações corretas sobre a Irlanda do século XIX quando criança, conversando com os vizinhos irlandeses, e lendo sobre o assunto. Estas alegações foram amplamente aceitas na época e posteriormente, apesar do fato de que inúmeros detalhes só poderiam ser verificados em fontes bastante obscuras, como o diretório da cidade de Belfast para 1864-1865. Dizer que a paciente soube de tais detalhes pouco conhecidos através de simples leitura é um absurdo, dizer que ela deliberadamente pesquisou sobre o assunto acrescenta uma acusação de fraude para a qual não há provas. Ducasse (1960) analisou cuidadosamente as provas de aprendizado normal por parte da paciente do caso Bridey Murphy e expôs sua inadequação. O caso apresentado no presente relatório inclui um número igualmente considerável de detalhes que, como tentarei demonstrar, não poderiam ter derivado da simples leitura sobre o período da vida descrita. Poucos exemplos de regressão hipnótica a possíveis “vidas passadas” utilizaram um grande número de sessões e receberam investigação no que diz respeito às fontes para as informações inclusas na aparente vida pregressa; Venn (1986) publicou recentemente um exemplo deste tipo de exame em um caso que ele estudou. O meu caso foi igualmente pesquisado entre 1981 e 1984. 

HISTÓRIA DO CASO 

Laurel Dilmen (L.D.) nasceu e cresceu na área de Chicago durante a Grande Depressão. Ela viveu lá toda a sua vida, freqüentava escolas públicas, e se formou em educação na Northwestern University. Após graduar-se, ela trabalhou no show business por alguns anos antes de se estabelecer como professora, a sua atual ocupação. Sua ascendência é alemã e seu passado religioso é luterano, mas aos 20 anos converteu-se ao metodismo. É casada e tem dois filhos.

            Em meados da década de 1970, ela passou a se interessar por hipnose para controlar o peso e dores de cabeça. Juntou-se a dois clubes de hipnotizadores amadores nos quais eu também era um membro. A regressão a vidas passadas estava sendo estudada por alguns dos membros, e ela se ofereceu como paciente. Em algumas sessões, ela revelou “vidas” na África tribal, Esparta, Egito antigo, na Espanha do século XVI e início e final do século XVII na Inglaterra. À medida que as sessões prosseguiam, a maioria das “vidas” parecia pouco interessá-la, mas ela insistia em voltar para a “vida” de uma mulher chamada Antônia, na Espanha. (A razão para isso ficará evidente na próxima seção).

Primeiro ela foi hipnotizada por um holandês que era um hipnotizador profissional com um curso de mestrado, mas que não tinha a formação em medicina ou psicologia para ser membro da Sociedade Americana de Hipnose Clínica e da Sociedade de Hipnose Clínica e Experimental. Ele perguntou-lhe detalhes da história holandesa que não seriam conhecidos pela maioria dos americanos. Ela respondeu com uma precisão surpreendente os fatos que na época ligavam os Países Baixos à Espanha. (Eles pertenciam à Espanha.)

Ela não falava espanhol de forma espontânea, e pouco responsivamente, mas as pessoas de língua espanhola do grupo, que, entretanto, não eram lingüistas, disseram que ela pronunciou palavras e nomes em espanhol muito bem. Isso levou muitas pessoas no grupo de amadores a acreditar que ela estava tendo lembranças reais de uma vida passada. Eu não estava nem um pouco convencida, especialmente por eu ser capaz de encontrar a maioria dos fatos que ela forneceu nos livros de história e enciclopédias, embora muitas vezes com dificuldade. Os inúmeros nomes que ela mencionou não puderam ser confirmados nem desmentidos no momento. Como a história era um misto de romance, erotismo e muita aventura, pareceu provável ser uma junção de fantasia com criptomnésia trazida pelas perguntas características do experimento.

Após cerca de oito regressões ela pareceu ter chegado ao limite do que podia ou escolheu revelar. Os episódios estavam incompletos e não seguiam uma ordem cronológica, mas ela continuou a divulgar fatos detalhados que só puderam ser encontrados em fontes obscuras. Então, possivelmente para evitar revelar aquilo que ela sentiu que não devia, ou talvez pelo motivo que ela citouir atrás de outros interesses que exigiam sua atençãoela se afastou do grupo. (Razões externas também me impediram de investigar o caso naquela época).

Três anos depois ela voltou a me procurar com um pedido que eu retomasse as investigações. Ela explicou que tinha começado a ter alguns sonhos e flashbacks do cotidiano da “vida de Antônia”. Ela não queria ser observada por um grupo mais uma vez por medo de revelar alguns detalhes íntimos que poderiam ser constrangedores. Este pedido foi consistente com o seu comportamento anterior, quando, mesmo sob hipnose, ela revelou os fatos sem hesitação, mas em caso de assuntos mais delicados muitas vezes respondeu com: “É proibido discutir isso”, ou “Eu fiz um juramento de não revelar o que ocorreu”, ou “Isso você deve perguntar a El Reverendissima Senoria” (a quem ela chamava o Inquisidor).

Havia a possibilidade de que L.D. pudesse ter buscado informações adicionais no intervalo de 3 anos, mas isto foi considerado pouco provável por várias razões. Em primeiro lugar, nesse período em que ela esteve tão envolvida com sua profissão, mais estudos, e uma nova vocação, ela dormia apenas cerca de 5 horas por noite. (Eu verifiquei esta informação com os seus amigos e familiares.) Não sobrava tempo para algo tão demorado como encontrar novos dados para encaixar na história de Antônia. Em segundo lugar, grande parte do material factual exposto já tinha sido revelado nas primeiras sessões, muito do qual ainda não havia sido verificado, por exemplo, os nomes do bispo, corregedor, e inquisidores de Cuenca, uma cidade na Espanha que figura em destaque na história. Os detalhes mais íntimos, especialmente aqueles com forte conteúdo emocional, foram a principal revelação na nova série de regressões. Terceiro, mesmo no início, L.D. parecia pouco preocupada com fatos, revelando-os apenas quando eles eram uma parte essencial de sua história. Ela nunca recitou listas de fatos, tais como valores monetários, commodities, artefatos, etc, como vemos em alguns relatos de “vidas passadas”. Foi possível saber que ela estava bem familiarizada com esta informação graças à intensa contestação por parte do hipnotizador. Nestas sessões, muitas vezes tornou-se óbvio que ela provavelmente sabia tantos fatos que se tornava incômodo para ela ter que narrá-los. Ela parecia entediada por ter que desviar de suas aventuras e se debruçar sobre esses detalhesesse não é o comportamento esperado de alguém que buscava fatos para impressionar os outros.

A sua principal preocupação não era que a sua história fosse acreditada, mas que o amor que ela tinha experimentado fosse compreendido. De alguma forma, ela parecia sentir que se um número suficiente de almas simpatizasse com a sua situação, isto poderia influenciar as “autoridades” a reduzir sua sentença de ser mantida eternamente distante daquele que ela amava tão desesperadamente.

L.D. obviamente precisava de ajuda para livrar-se de sua obsessão com este estranho amor, e o caso parecia intrigante, então eu aceitei e nosso trabalho começou para valer. Além do trabalho terapêutico para L.D. se livrar de sua obsessão pela vida de Antônia, também se incluiu uma extensa pesquisa feita por mim para verificar um grande número de declarações factuais que Antônia fez. Estas surgiram em pelo menos 36 sessões de hipnose formais, bem como nos sonhos, flashbacks, e em algumas incursões na auto-hipnose por parte de L.D. As sessões foram gravadas e a maioria das afirmações de Antônia sobre a vida anterior foi posteriormente transcrita. As citações diretas presentes no apêndice foram tiradas destas transcrições.

A minha investigação se estendeu por três anos, sendo que boa parte dela foi realizada em bibliotecas. No entanto, eu também consultei historiadores bem informados sobre o período da vida de Antônia. Além disso, fiz uma viagem para a Espanha com o objetivo de verificar as informações fornecidas por L.D. 

A HISTÓRIA DE ANTÔNIA 

Antônia Michaela Maria Ruiz de Prado nasceu em 15 de novembro de 1555 em uma pequena fazenda, isolada, a meio dia de viagem de Santo Domingo, na ilha de Hispaniola. Ela era filha de um oficial espanhol, Antônio, e de sua esposa alemã, Erika. Antônio estava ausente, em campanhas militares, a maior parte do tempo, e Erika, que estava com a saúde frágil, ficou deprimida durante a sua ausência prolongada. Isso fez com que a vigorosa e inteligente criança ficasse sob os cuidados de uma criada-companheira alemã de sua mãe e de servos e escravos analfabetos. Por ser muito teimosa ela não pôde ser controlada por eles e cresceu selvagem e livre para seguir seus caprichos, vagando pelos campos, explorando florestas e montanhas, cavalgando sem sela, em roupas de camponês ou de calças, subindo em árvores ou nadando nua no rio ou no mar.

Erika lhe ensinou noções básicas de leitura, escrita e de boas maneiras, mas geralmente falava com ela em alemão, seu idioma nativo. Quando estava em casa, Antônio, um fidalgo orgulhoso, austero, exigia que ela usasse trajes e mostrasse comportamentos apropriados, e falasse a língua espanhola. Ele estava consciente de que ele nunca teria um filho e, por causa da fragilidade de Erika, sabia também que a defesa e o futuro de sua casa estavam reservados para sua capaz e corajosa filha, que o adorava. Ele a ensinou a montar e atirar, e um pouco de táticas militares caso, na sua ausência, sua casa fosse atacada por piratas, índios, escravos rebeldes ou bandidos. Em 1569, após uma ausência prolongada do marido, Erika levou Antônia para visitar seu irmão Karl, na Alemanha.

Logo após a sua chegada na Alemanha, Erika morreu, deixando Antônia com o seu tio Karl, um professor universitário que tinha deixado o sacerdócio para se casar. Um viúvo solitário, que viu em sua bela sobrinha o renascimento combinado de sua irmã querida e de sua filha morta, e resolveu desenvolver plenamente todo o potencial que viu sob o seu exterior indisciplinado. No início, ela se ressentiu com a autoridade deste professor enfadonho sobre ela. Ele não era nada parecido com o seu pai, bonito e arrojado. Mas logo ela viu mais força em sua firmeza constante, temperada pela paciência e compreensão, do que em todo o autoritarismo de seu pai. A completa confiança de Karl deu-lhe uma estabilidade e segurança que ela nunca havia conhecido.

Uma vez apresentada às alegrias do aprendizado, perseguiu-o com paixão. Aos 17 anos ela estava tão bem educada como qualquer jovem de sua época. Estava acostumada às habilidades domésticas, tinha maneiras impecáveis, podia discutir de forma inteligente, embora superficialmente, a maioria dos tópicos, era fluente em alemão e latim, e tentou praticar o seu espanhol para que pudesse se corresponder com seu pai, cujas cartas ela estimava.

Nos anos seguintes, nas universidades de Praga, Leipzig e Heidelberg, ela primeiramente lia os livros que Karl trazia para ela, depois ela própria adentrava furtivamente nas bibliotecas, disfarçada de menino. Em seguida, ela se aventurou em salas de aula e, finalmente, se matriculou como um estudante e se engajou em todas as atividades, incluindo luta e esgrima.

Em 1580, Karl a levou para Oxford. Àquela altura ele tinha abandonado a Igreja Católica, incorporando em seu sistema de crenças idéias dos humanistas católicos, dos reformadores protestantes, e das disciplinas científicas emergentes. Ele nunca tentou impor suas crenças a Antônia, sustentando firmemente que cada pessoa fosse guiada por sua própria consciência. Ao insistir que Antônia estudasse todos os aspectos de uma questão e tomasse suas próprias decisões, ele a influenciou muito mais do que qualquer um percebeu.

Antônia permanecia uma católica devota, oferecendo-se aos jesuítas para ajudar a propagar a fé, e se juntou a um grupo rebelde de estudantes católicos que estavam engajados em atos que seriam considerados traição pelos ingleses, mas ela própria se via como uma espanhola a ajudar a causa do seu país. Em algumas ocasiões, ela também serviu ao embaixador espanhol Don Bernardino de Mendoza como um mensageiro em seu conluio com Maria, Rainha dos Escoceses. A facilidade com que ela podia assumir papéis de ambos os sexos em diversas nacionalidades e condições sociais serviu a ela e aos seus aliados também.

Depois que muitos de seus amigos foram presos, torturados e executados, ela pediu a Karl para deixá-la ir à Espanha. Ele advertiu-a fortemente contra isso, dizendo que ela estaria em perigo mortal de ser vítima da Inquisição espanhola, que nunca aceitaria a sua liberdade de pensamento, por mais devota que ela se considerasse. Pouco tempo depois ela recebeu uma carta do pai pedindo-lhe para se juntar a ele em Cuenca, Espanha, onde agora ele era o dono e administrador de uma estalagem. Em janeiro de 1584, Karl morreu, as relações diplomáticas entre a Inglaterra e a Espanha foram quebradas, e Antônia foi presa. Ela fugiu para a França e, em seguida, voltou para a Espanha.

Ao chegar, em maio de 1584, ela soube pelo advogado de seu pai, Ramon, que o seu pai havia morrido 10 dias antes; a estalagem ia mal, afundada em uma dívida que deveria ser para a um inescrupuloso converso, Francisco de Mora, e todas as suas garçonetes trabalhavam como prostitutas. A sua única esperança era o fato de que seu pai tinha um amigo muito poderoso que poderia ajudá-la se ele julgasse que valeria a pena, mas até lá ele iria permanecer no anonimato. Apesar da tristeza e solidão devastadoras, ela lutou para superar os seus problemas, melhorar o seu espanhol, construiu o seu próprio negócio, e fez muitos novos amigos entre os quais alunos e professores do colégio local, outros intelectuais, alguns contrabandistas, um padre jesuíta, Fernando Mendoza, e um casal que tinha interesse em feitiçaria, Andres e Maria de Burgos. (Esses nomes são mencionados para que o leitor já esteja familiarizado quando chegar à seção de verificação. Os três últimos, assim como o de Mora, estão nos registros da Inquisição).

Durante todo esse tempo todas as suas palavras e ações estavam sendo cuidadosamente analisadas pela Inquisição, que já tinha informações consideráveis sobre ela já que o seu pai fora um amigo íntimo e próximo do Inquisidor Arganda. Antônio sabia que a sua morte iminente iria deixá-la sozinha em um país que nunca tinha visitado, cujos costumes e língua eram estranhos para ela, e onde os seus caminhos e idéias estrangeiras despertariam suspeita e antagonismo. Em seu leito de morte, ele pediu ao Inquisidor para vigiá-la e ajudá-la. Arganda prometeu guiá-la e protegê-la como se fosse sua própria filha, desde que isso não entrasse em conflito com o seu dever.

Em uma demonstração final de confiança, Antônio entregou todas as cartas dela para Arganda. Ele estava ciente do perigoelas continham provas de que Karl tinha sido um herege, e detalhavam muitas das idéias proibidas às quais Antônia tinha sido expostamas sabendo que ela era uma católica devota, e não ciente do terror que ela sentia pela Inquisição, ele acreditava que ela iria fazer uma confissão inquisitorial, após sua chegada, de acordo com a lei (a qual ela desconhecia). Ele implorou para Arganda considerar que ela havia sido submetida às idéias como uma criança indefesa, sem culpa própria, e acreditava que até mesmo o Inquisidor não poderia deixar de sentir a sua profunda devoção à Igreja e à Espanha que se fazia presente em cada uma de suas cartas.

Ambos os inquisidores ficaram positivamente impressionados pela sua piedade e devoção à Igreja e ao Estado, bem como pela sua beleza sensual. Cada um gostou dela de uma maneira diferente. Ainda assim, eles estavam perturbados por seu histórico estrangeiro, as muitas heresias a que ela havia sido exposta, sua incapacidade de confessar voluntariamente, sua tendência para associar-se com indivíduos suspeitos e, especialmente, seu fracasso em obedecer a certas leis do Santo Ofício, as quais eles sabiam que ela estava ciente porque Arganda enviou certas pessoas para favorecê-la, aconselhá-la e ajudá-labem como espioná-la.

Eles decidiram que os ideais do livre pensamento de seu tio, aos quais ela ainda aderia, e o seu espírito rebelde e desafiador teriam de ser corrigidos. Por três vezes ela foi convocada para um interrogatório e uma das vezes foi presa, sofrendo todos os rigores do julgamento pela Inquisição. (Por causa da genuína afeição dos inquisidores por ela, bem como a sua forte preferência pela persuasão racional ao invés da coerçãoà qual recorriam quando necessárioAntônia alternou várias vezes o seu ponto de vista sobre a Inquisição oscilando entre o papel de vítima aterrorizada e o de forte defensora, apresentando uma visão fascinante que eu nunca encontrei em outro lugar.) No final, confessou tudo e se submeteu completamente a quaisquer que fossem as exigências dos inquisidores, mas as sementes da liberdade plantadas pelo seu tio permaneceram enterradas profundamente em sua alma por baixo de todas das instruções aplicadas pelos inquisidores. Eles apareceram aqui e ali e lhe causaram problemas por todo o resto de sua vida.

Alguns meses após a sua libertação, depois de ter pagado uma multa pesada e cumprido outras penitências, por causa de seu relacionamento especial com um dos inquisidores e um favor pessoal importante que ela fez para um outro, eles lhe asseguraram de que ela não precisaria preocupar-se com a terrível desgraça que a sua prisão normalmente representaria para ela e todos os seus descendentes. Um frasco de tinta “acidentalmente” foi derramado sobre o seu fólio e o tornou ilegível. Portanto, não haveria qualquer rastro do seu nome nos registros da Inquisição. (Isto não foi pura generosidade. Parte da transcrição era embaraçosa para um dos inquisidores e perigosa para um parente próximo).

Enquanto passava por essa estranha relação de amor e ódio com o Santo Ofício, com exceção dos três a quatro meses de prisão, ela cuidava dos negócios, ampliava suas parcerias e, alternadamente, tentava proteger ou alertar seus amigos. Aos 29 anos ela ainda era virgem, apesar das tentativas de vários homens através da persuasão, suborno, chantagem e até uso da força para alterar essa situação. Finalmente, um homem a tomou à força furiosamente na câmara de tortura em uma cena erótica que despertou toda a sua paixão e revelou suas tendências masoquistas. Há tempos ela o adorava secretamente e agora se apaixonou loucamente por ele, tornou-se sua amante, e lhe deu um filho. Seu amor completamente abnegado mudou gradualmente os sentimentos dele, de auto-indulgência sensual transformou-se em um amor que tudo consome e para o qual nenhum sacrifício era grande demais. Eles compartilhavam todas as faculdades da mente, alma e corpo em um amor que era ao mesmo tempo profundamente espiritual e apaixonadamente erótico. (Este foi o motivo da fixação de L.D. pela “vida” de Antônia. Ela não relatou nada parecido sobre qualquer outra “vida passada”.)

Juntos, eles experimentaram inúmeras aventuras perigosas e emocionantes: com um culto de satanistas, uma missão para Argel, uma viagem à Nova Espanha, com escala nas Canárias, piratas do Caribe, e, finalmente, uma visita a Lima, no Peru, onde Antônia conheceu o seu tio desconhecido, o Inquisidor Juan Ruiz de Prado. Na viagem de regresso, ela se afogou perto de uma pequena ilha desconhecida no Caribe. O seu amante quase morreu em uma vã tentativa de salvá-la. Ela estava tão completamente absorvida no bem-estar dele que não tomou conhecimento de sua própria morte, até que percebeu que não sentia os braços dele em volta dela ou as lágrimas dele caindo em seu rosto. 

MEDIDAS TOMADAS PARA VERIFICAR AS AFIRMAÇÕES DA VIDA DE ANTÔNIA 

Neste artigo não é possível revelar mais do que uma pequena fração dos fatos que L.D. relatou, nem os mínimos detalhes do porquê e de como ela sabia certas coisas e desconhecia outras, ou porque informações que deveriam ser encontradas não são. Páginas de explicação são necessárias para fazer com que o relatório seja totalmente plausível. Ainda assim, até onde fui capaz de investigar, todas as centenas de fatos detalhados que formavam uma parte tão íntima da “vida passada” de Antônia estão corretos. Seria de se esperar que muitas das pessoas mencionadas fossem conhecidas por qualquer pessoa bem instruída: a rainha Elizabeth da Inglaterra, o rei Filipe II da Espanha, Maria, a Rainha dos Escoceses. É de se esperar que cerca de 50 a 60 detalhes não fossem conhecidos por pessoas comuns, mas eram facilmente encontrados em livros de história e enciclopédias, detalhes sobre pessoas como Guilherme de Orange (sucedido por seu filho Maurice, em 1584), Alexander Farnese (duque de Parma só em 1586), Filipe II de Espanha (sucedeu ao trono de Portugal em 1580), informações sobre os papas Gregório XIII e Sextus V, Dom Bernardino de Mendoza (embaixador espanhol na Inglaterra, expulso em 1584), e outros.

Outros 25 a 30 fatos altamente especializados foram localizados com dificuldade muito maior. Muito embora eles estejam disponíveis em versões em inglês, foi necessário verificar a Chicago Public Library, a Newberry Library, e várias bibliotecas universitárias (Northwestern, Northeastern, Loyola, DePaul, University of Illinois, e University of Chicago) para verificar todos eles. Exemplos incluem: a data da primeira publicação do Édito da Fé, na ilha de Hispaniola; leis espanholas que regem o transporte para as Índias; tipos de embarcações utilizadas no Mediterrâneo e no Atlântico, e detalhes sobre elas, as datas e os conteúdos dos índices espanhóis de livros proibidos e como eles diferem do Índex romano; os nomes dos sacerdotes executados na Inglaterra em 1581 e 1582, e o método de execução; e informações sobre uma faculdade em Cuenca. Mais de uma dúzia de fatos não parecem ter sido publicados em inglês em absoluto, mas apenas em espanhol. Alguns só poderiam ser encontrados nos Arquivos Municipais, enquanto outros foram encontrados nos Arquivos Diocesanos em Cuenca, Espanha.

Como História não é a minha área de especialização, eu acreditava que a minha ignorância pudesse ter feito as informações parecerem mais obscuras do que realmente eram. Para descobrir se isso poderia ter acontecido eu entrei em contato com todos os professores nas seis maiores universidades na área de Chicago, que ministram cursos sobre a história da Espanha ou história da Europa do século XVI. Um total de nove receberam um questionário perguntando suas opiniões sobre a probabilidade de um não historiador saber ou ser capaz de encontrar informações corretas. A coluna 1 do questionário continha 60 fatos, todos foram escritos em forma de questão (como teria sido se L.D. estivesse buscando e me fornecendo respostas, como um professor sugeriu). A coluna 2 perguntou a probabilidade de uma pessoa saber esta informação em uma escala de 1 (muito provavelmente) a 5 (quase impossível). A coluna 3 questionou sobre a facilidade com que a resposta poderia ser encontrada, também em uma escala de 1 a 5, como segue: (1) encontrada na maioria dos livros de história e enciclopédias (2), encontrada nos livros de história especializados em uma grande biblioteca (3), somente em livros raros encontrados em bibliotecas de pesquisa especializada (4), provavelmente não publicado em inglês em absoluto, e (5), provavelmente não na forma de publicação; arquivos locais teriam que ser verificados. Na coluna 4 foi solicitado o nome de uma fonte para as informações caso eles viessem a conhecer uma fonte de fato ou conseguissem pensar em uma fonte provável. Eles foram orientados a não fazerem nenhum esforço especial para encontrar respostas. Naturalmente, este não é um método infalível para determinar a disponibilidade da informação, mas eu não consegui pensar em pessoas mais qualificadas para dar um parecer do que aquelas que ministram cursos nas principais universidades na área que abrange o tempo e os locais envolvidos.

Sete dos nove professores responderam. As respostas à coluna 4 são de especial interesse quando comparadas às outras pontuações. Aqueles que deram as menores notas não podiam sugerir uma única fonte para qualquer uma das respostas, respondendo com: “Eu estou certo que esta informação está disponível em qualquer boa fonte de história da Espanha e da América espanhola”, ou “Esta informação está, certamente, disponível em volumes universitários.” Ambas as afirmações estão erradas. Pontuações mais elevadas foram dadas por aqueles que admitiram francamente que não sabiam de fontes para as respostas, e por aqueles que sinceramente tentaram sugerir fontes válidas. Um dos entrevistados foi notavelmente preciso para muitas respostas. Mas até mesmo ele cometeu o erro de acreditar que os nomes dos oficiais estariam nos mesmos registros que os dos prisioneiros.

Para a tabela a seguir, 24 dos 60 itens originais foram selecionadas: (1) aqueles que foram julgados por especialistas como menos prováveis de serem conhecidos ou encontrados (2) os encontrados por mim com maior dificuldade, para os quais nenhum perito pôde sugerir uma fonte mais fácil e (3) aqueles em que a informação de L.D. corretamente contradisse as autoridades. A coluna 1 contém o item em forma de pergunta, como no questionário original. A coluna 2 dá o número da sessão em que a informação foi obtida. As primeiras oito sessões entre junho de 1977 e janeiro 1978 são designadas como A1-A8. O segundo conjunto de sessões entre junho de 1981 e março de 1983 é designado B1-B36. A coluna 3 nomeia a fonte em que a informação foi finalmente verificada. Colunas 4 e 5 são as classificações médias dos peritos da (4) probabilidade de o material ser conhecido, e (5) da facilidade de encontrar as informaçõeslembrando que a classificação 4 descreveria um “livro raro em uma língua estrangeira” e 5 significa “somente encontrado nos arquivos locais.” O Apêndice I fornece citações diretas das declarações de Antônia e informações explicativas adicionais pertinentes aos itens da tabela. 

Tabela

SUMÁRIO DE ALGUNS DETALHES SIGNIFICANTES E SEUS NÍVEIS DE VERIFICAÇÃO E OBSCURIDADE

ITEM

SESSÃO

FONTE DE VERIFICAÇÃO

PONTUAÇÃO: FÁCIL DE

SABER

ACHAR

1. Havia uma faculdade em Cuenca?

A1

Astrain

(1912-1925)

3.25

3.50

2. Que informação específica era exigida dos prisioneiros da Inquisição?

A3, A5

B7, B12

Lea (1906-1907)

4.00

3.50

3. Data da primeira publicação do Édito da Fé em Hispaniola?

A6

Llorente (1843)

4.00

3.25

4. Primeiro ano em que nenhuma frota viajou para o Novo Mundo?

A2

Marx (1968)

             4.25          

3.50

5. Quais eram algumas das exportações proibidas da Espanha?

A7

Lynch (1984)

             4.25          

3.50

6. Nomes dos padres jesuítas executados na Inglaterra; datas e métodos de execução?

A4

New Catholic Encyclopaedia (1967)

4.50

3.50

7. Atividades cotidianas, dieta, arte culinária etc. nos navios mercantes espanhóis?

B21-25

Marx (1968)

4.50

3.75

8. Nome do Inquisidor do Peru?

A2

Medina (1887)

3.75

4.00

9. Nome do visitador ao Tribunal de Lima?

B36

 

Medina (1887)

4.75

4.50

10. Data e razão para a visita (investigação oficial)?

A5

Medina (1887)

4.75

4.50

11. Data do Auto-da-Fé de Lima?

B34

Medina (1887)

4.50

4.25

12. Quem, se alguém, foi relaxado[2] (queimado)?

B35

Medina (1887)

4.75

4.25

13. Nacionalidade de Bey de Algiers?

B16

Bono (1964), Valenti (1960)

4.25

4.25

14. Data do Auto-da-Fé em Las Palmas, Grande Canária?

B20

Lea (1908)

4.75

4.25

15. Alguém foi relaxado, se sim, quem?

B23

Lea (1908)

5.00

4.50

16. Nome do bispo de Cuenca?

A3

Arquivos Municipais, Cuenca, Espanha

4.75

4.50

 

Tabela (Continuação)

SUMÁRIO DE ALGUNS DETALHES SIGNIFICANTES E SEUS NÍVEIS DE VERIFICAÇÃO E OBSCURIDADE

ITEM

SESSÃO

FONTE DE VERIFICAÇÃO

PONTUAÇÃO: FÁCIL DE

SABER

ACHAR

17. Nome do Corregedor de Cuenca?

A3

Arquivos Municipais, Cuenca, Espanha

4.75

4.50

18. Nome de ambos os Inquisidores de Cuenca?

A3

Arquivos Diocesanos de Cuenca, Espanha

5.00

4.50

19. Dados biográficos sobre os Inquisidores?

A3, B5, B19, B36

Arquivos Diocesanos de Cuenca, Espanha

5.00

4.50

20. Nome da primeira pessoa relaxada por Judaísmo por Inquisidores da época?

A7

Cirac Estopanan (1965)

4.75

4.50

21. Nome do casal preso por feitiçaria em 1585-86?

A5

Cirac Estopanan (1965)

5.00

4.75

22. Nome do padre jesuíta preso pela Inquisição em Cuenca?

A4-8

Cirac Estopanan (1965)

5.00

4.75

23. Local e descrição da construção da casa do tribunal da Inquisição de Cuenca?

A4, B1, B2, B27-30

Lopez (1944)

5.00

5.00

24. Quando os Inquisidores subitamente passaram a ter uma visão muito mais branda da fornicação?

A8, B3, B27

Cirac Estopanan (1965)

5.00

5.00

As questões da coluna 1 são respondidas no apêndice através das citações da personalidade Antônia. As sessões da coluna 2 são numerados A1-A8 para aquelas realizadas entre junho de 1977 e janeiro de 1978 e B1-B36 para aquelas realizadas entre junho de 1981 e março de 1983. Informação bibliográfica completa para as fontes na coluna 3 é indicada na lista de referência. Colunas 4 e 5 são as médias das classificações dadas pelos historiadores em uma escala de 1 a 5, sendo 1 provavelmente bem conhecidos ou fácil de encontrar, enquanto 4 é muito difícil, e 5 é quase impossível de ser conhecido ou provavelmente de não ser encontrado em fontes publicadas. 

COMO DETALHES PARTICULARES EMERGIRAM E FORAM VERIFICADOS

A tabela acima indica a obscuridade de muitas das informações que L.D. relatou para a “vida” de Antônia, mas muito mais do que isso chama a atenção. O que foi bastante marcante desde o início foi a especificidade das informações e a forma com que foram reveladas. Exceto pelos primeiros 20 minutos da sessão Al, não houve a qualidade nebulosa de outras regressões no grupo. Antônia veio através de uma mulher muito orgulhosa, independente, que sabia exatamente quem e o quê ela era e onde estava.

O hipnotizador, mencionado anteriormente, nasceu, cresceu e estudou na Holanda e de certa forma conhecia bem a história holandesa, e imediatamente começou a questioná-la. Ela foi notavelmente precisa sobre os fatos que diziam respeito à Espanha e à sua própria situação, mas pouco sabia sobre a história holandesa. Por exemplo, ela deu um relato detalhado do assassinato de Guilherme de Orange, em julho de 1584, e da sucessão de seu filho Maurice, porque é isso que os intelectuais locais estavam discutindo na sua hospedaria em setembro de 1584. Ela também expressou satisfação ao falar que Don Alejandro Farnesio (usando a pronúncia espanhola para o Governador dos Países Baixos) desfrutaria de um período tranqüilo e manteria o novo governante de 17 anos de idade na linha suprimindo os amigos rebeldes e hereges de seu pai. A sua hostilidade violenta contra os hereges e qualquer um que se rebelasse contra o governo legítimo da Espanha surpreendeu os observadores.

A maioria das pessoas que conhece a história do período holandês teria dito, assim como muitos livros de história o fazem, que o governador na época era o duque de Parma. Questionada sobre isso, Antônia disse que ele era o filho de Margarida de Parma, mas não o Duque. Ela estava correta sobre essa data. Alexander Farnese não obteve esse título até 1586. Ela sabia sobre o cerco de Antuérpia em 1584, mas tinha pouco conhecimento sobre outras batalhas que aconteceram antes ou depois. A exceção foi o conhecimento sobre algumas batalhas nas quais o seu pai tinha alegadamente participado em 1567-1569, sob o comando de D. Fernando de Toledo, que ela afirmou ser o governador espanhol na época. O hipnotizador disse-lhe que ela estava errada: o duque de Alva era o governador. Ela respondeu: “Naturalmente. Esse é o título dele. Eu lhe disse o nome dele”. O título é muito mais conhecido. Mesmo alguns livros de história negligenciam a menção ao seu nome. Foi a extrema precisão dos inúmeros detalhes que afetam a “vida” de Antônia, juntamente com a relativa ignorância sobre os acontecimentos contemporâneos alheios a ela que apresentaram um contraste tão intrigante na primeira sessão.

Na segunda sessão, ela regrediu até o momento da sua morte e revelou que havia se afogado no Caribe em seu caminho de volta à Espanha depois de visitar o seu tio, Juan Ruiz de Prado, um importante oficial em Lima. 

Ela não disse qual era a posição dele, mas tornou-se defensiva e desconfiada quando questionada sobre isso, perguntando por que o hipnotizador queria saber. Ninguém foi capaz de encontrar nenhum registro dele na época. Em sessões posteriores, ela revelou que, em uma disputa entre o Inquisidor Ulloa e o vice-rei Villar, de Prado apoiou Ulloa. O nome Villar foi encontrado com alguma dificuldade em uma fonte inglesa, mas Ulloa e de Prado não foram encontrados senão muitos anos depois em um livro espanhol antigo muito obscuro (Medina 1887; ver Tabela, item 8). Todos os detalhes de seu encontro com seu tio, um evento traumático, aparentemente, não foram revelados até as sessões B34-B36. Muitos outros incidentes seguem esse padrão: foram apresentados os fatos iniciais; material emocional relacionado a eles foi extraído com maior dificuldade em um momento posterior.

Foram nas sessões A3-A5 que ela revelou os nomes de seus amigos e funcionários da província de Cuenca. Durante as sessões A ninguém acreditava que estes nomes poderiam ser encontrados, por isso pouco esforço foi despendido na tentativa de verificá-los. Muito mais tarde eu encontrei oito deles nos registros da Inquisição, e nos Arquivos Municipais e Diocesanos, na cidade de Cuenca (ver Tabela, itens 16-22 e 24).

Dois dos fatos que L.D. relatou contradisseram as autoridades na Espanha. Em ambos os casos, pesquisas adicionais mostraram que L.D. estava certa e as autoridades erradas. Um deles foi a descrição do prédio que abrigou o tribunal da Inquisição. O Departamento de Turismo do Governo em Cuenca relatou-o como sendo o prédio n.58 na Calle de San Pedro. Este prédio não era nada semelhante ao recordado por L.D (ver Tabela, item 23). Mais tarde, em um livro espanhol obscuro em Cuenca (Lopez, 1944), descobri que o Tribunal tinha sido transferido em dezembro de 1583 de um determinado endereço para um antigo castelo com vista para a cidade, que se encaixa perfeitamente na descrição de Antônia. Descobriu-se mais sobre isto no Arquivo Episcopal de Cuenca em 1989. Antônia alegou ter chegado a Cuenca em maio de 1584, cinco meses após a mudança.

O outro fato foi a sua referência a uma faculdade em Cuenca. Pensei que essa informação seria fácil de verificar, e assim pensaram os professores de história (ver Tabela, item 1), mas não foi. Não havia nenhuma faculdade em Cuenca, e eu não consegui encontrar qualquer referência de que tenha existido uma em enciclopédias, livros de história ou de viagens. Quando eu visitei Cuenca, interroguei o arquivista no Arquivo Municipal, que disse que nunca tinha ouvido falar de uma faculdade local. Ainda assim, L.D. insistiu que os alunos e professores da faculdade reuniam-se regularmente na pousada de Antônia. O meu consultor da Northwestern University disse que era bem possível que pudesse ter havido uma faculdade naquela época e sugeriu que eu entrasse em contato com a Loyola University. Eu fiz isso, e me disseram que se tivesse havido uma faculdade em Cuenca poderia haver uma referência a ela em uma antiga obra de sete volumes em espanhol (Astrain, 1.912-1.925). Eu verifiquei e descobri que o vol. II (pp. 131, 595) mencionava a fundação de uma faculdade em Cuenca, em meados do século XVI. Mesmo uma pessoa que lê espanhol não conseguirá dar conta da leitura deste tomo a menos que esteja envolvida em uma pesquisa histórica.

Uma coisa que contradisse uma autoridade de certa forma me incomodou. Antônia relatou dois inquisidores para Cuenca durante o período que ela esteve lá (1584-1587), fornecendo seus nomes e dados biográficos. Então escrevi ao Arquivista Episcopal e pedi os nomes e dados biográficos de ambos os inquisidores de Cuenca para os anos 1584-1588. (Ele estava de férias quando estive lá em 1983 e, de acordo com o arquivista Municipal, era o único que tinha essa informação). Ele enviou as informações numa folha de papel em que a superfície inferior havia sido cortada. Isso pareceu estranho. Mais tarde, entrei em contato com os professores, e os mais conhecedores deles insistiram que havia sempre três inquisidores em um tribunal. Quando confrontada com isto, LD, como sempre, manteve-se fiel à sua história. Então comecei a me perguntar: e se o arquivista originalmente tivesse fornecido três nomes, e, em seguida, removido um, por eu só ter perguntado por dois? Felizmente, em abril de 1989 eu tive a oportunidade de retornar à Espanha, onde verifiquei o Arquivo Episcopal. Durante todo o período em que Antônia viveu em Cuenca, houve apenas dois inquisidores que ela nomeou. Houve três brevemente em 1582 e novamente em 1583, mas em 1584-1588 havia apenas Ximines de Reynoso e de Arganda.

As informações sobre o Peru (ver Tabela, itens 8-12) também exigem alguma discussão. O volume datado de mais de um século (Medina, 1887) encontrado na Northwestern University nunca havia sido manuseado; citava principalmente fontes do século XVI, e era de difícil leitura, mesmo para professores de espanhol, e, o que era mais significativo: as páginas nunca tinham sido separadas. Elas ainda estavam juntas em suas margens exteriores, de modo que o livro nunca poderia ter sido lido!

O leitor pode se perguntar por que o item 6 foi incluído na tabela. A New Catholic Encyclopaedia dificilmente pode ser considerada uma fonte obscura, e quando obtive os nomes que L.D. relatou, a informação foi fácil de verificar. Mas quão fácil teria sido fazer essa verificação caso o pesquisador não tivesse os nomes, apenas a pergunta?

Os itens 4 e 7 também parecem vir de uma fonte moderna e fácil, mas que está esgotada, e que eu não pude encontrar em uma biblioteca. Em vez disso me deparei com a obra há dois anos em uma loja de livros de segunda mão. Isso foi depois que publiquei um relatório sobre este caso para o público em geral. O item 13 merece menção por eu não ter encontrado os livros citados por mim. Foi um leitor do meu artigo popular da ilha de Malta que me enviou os dois títulos, confirmando o fato de que existiu um Bey de Argel contemporâneo de Antônia que era italiano.

O item 24 é particularmente interessante. Os registros da Inquisição de Cuenca revelam que um percentual muito menor de pessoas detidas por causa de fornicação foram punidas, sendo libertadas por falta de provas ou tendo a pena suspensa, quando um dos inquisidores estava supostamente apaixonado por Antônia. Os números são: Punidos por fornicação 158273%, 158375%, 1584 (antes da chegada de Antônia)60%, cinco meses seguintes10%, final do ano (quando ela estava sob suspeita)100% , 1585 (quando ela trabalhava para os Inquisidores e mais tarde teve um caso com um deles)11%, 1586—35%, 158750%.

O registro se encaixa perfeitamente à história de Antônia. A razão pela qual o outro Inquisidor acompanhou esta tendência também é explicada de maneira bastante razoável por Antônia, mas eu não tenho espaço para apresentar os muitos detalhes relacionados aqui. 

ALGUNS DETALHES SUSPEITOS NA APARENTE MEMÓRIA DE ANTÔNIA 

Embora seus fatos confiram com notável precisão, certas coisas em sua história são suspeitas. Sua história soa como um romance de aventuras ao invés de uma biografia. Além disso, algumas cenas parecem mais ser fantasias sadomasoquistas altamente eróticas do que realidade. Sabe-se que calabouços, câmaras de tortura, e mesmo a Inquisição são incorporados a essas fantasias. L.D. não apresenta nenhuma das tendências masoquistas de Antônia, ainda assim ela poderia secretamente fantasiar tais coisas, sem qualquer desejo de colocá-las em prática.

Outro problema é o fato de eu não ter encontrado qualquer registro de que Antônia Ruiz de Prado tivesse existido. Eu acreditava que certos registros de sua vida seriam tão improváveis de serem encontrados que não procurei por eles. O seu nascimento aconteceu em uma fazenda isolada em Hispaniola. Ela foi batizada em uma pequena igreja local que ela não sabia o nome. Se esses fatos foram registrados, esses registros provavelmente desapareceram há muito tempo. O seu casamento realizado por um padre não-ordenado na casa de seu marido e sua morte por afogamento em uma ilha sem nome do Caribe também são improváveis de terem sido registrados.

Mas a Inquisição mantinha registros meticulosamente precisos, assim a sua explicação para o nome dela ter sido apagado, apesar de perfeitamente plausível, parece um pouco conveniente. Quando eu olhei os registros da Inquisição, não encontrei nenhum número perdido que correspondesse ao seu fólio, e perguntei a ela sobre isso. Ela disse que os inquisidores tinham provavelmente antevisto o desejo de eliminar o seu arquivo e provavelmente deram-lhe um número idêntico a outro, mas com um “A” depois, de modo a não haver nenhuma lacuna no registro. Uma averiguação mostrou que essa prática era de fato seguida algumas vezes, embora provavelmente não de forma costumeira por este motivo.

Para aqueles que acreditam que a xenoglossia responsiva pode ser usada como critério para determinar a validade de um caso de regressão a “vidas passadas”: não no caso de Antônia. Ela pronunciou nomes espanhóis muito bem, recitou as orações exigidas pela Inquisição em latim, se referiu a métodos especiais de fazer o sinal da cruz, o signo e o santiguado, desconhecido para a maioria dos padres de língua espanhola hoje, e compôs a letra e a música para uma canção em latim, e a música para o Pai Nosso em latim, os quais a gravei cantando (L.D. nunca havia estudado música). L.D. apresentou pouca xenoglossia responsiva em espanhol ou latim.

Alguns considerariam a sua capacidade de se vestir em roupas masculinas e seus conhecimentos de artes marciais como indicativos de fantasia em vez de realidade, mas a forma como a sua história se desenrolou fez isso tudo parecer perfeitamente natural. O seu caso é incomum, mas não sem precedentes. Em casos raros, soube-se mesmo de mulheres que se juntaram a um exército de homens em sua época, e a princesa de Eboli, uma espanhola contemporânea dela, perdeu um olho enquanto praticava esgrima. Nem era tão raro se passar por um homem entre as mulheres espanholas do século XVI como se poderia supor. Marx (1968) afirma: “A terceira visita geralmente revelava vários clandestinos, em alguns casos mulheres que se disfarçavam com roupas de homem” (p. 40). 

INDAGAÇÕES SOBRE A POSSÍVEL AQUISIÇÃO NORMAL DE INFORMAÇÕES DE ANTÔNIA 

Nem L.D. nem qualquer um de seus parentes ou ancestrais é espanhol ou católico, e ela jamais freqüentou uma escola ou igreja católica, exceto algumas vezes como convidada de casamento. Onde, então, ela adquiriu o conhecimento detalhado e os sentimentos intensos de práticas católicas da Espanha do século XVI? Passei muito tempo tentando descobrir se quando criança L.D. foi exposta a fontes de informação sobre o período e locais que figuram na vida de Antônia. Infelizmente, ela e sua mãe eram as únicas pessoas vivas em condições de comentar esse assunto. Seu pai tinha morrido, e ela não tinha irmãos mais velhos, apenas uma irmã 11 anos mais jovem. Durante os primeiros 20 anos de sua vida, L.D. havia se mudado nada menos do que 16 vezes, e não consegui saber de outros parentes ou amigos de infância que poderiam ter auxiliado em minha investigação.

L.D. e sua mãe lembram que nos anos pré-escolares ela era precoce e se ressentia de ser tratada como criança, alegando ter experimentado a vida como um adulto. Neste momento alusões de personalidades mencionadas anteriormente surgiram, mas seus pais atribuíram isto a uma imaginação fértil, e ela aceitou essa explicação. Por volta dos seis anos ela mostrou um interesse excessivo por roupas, armas, construções e artefatos do século XVI. Seu presente favorito de todos os tempos foi um que ela tinha procurado por dois anos e recebeu em seu sétimo natal: um par de floretes de esgrima.

Ela não gostava de história na escola, porque “os professores a contavam de um jeito sem graça, nada parecido com o que realmente aconteceu.” Esse preconceito continuou no colégio e na faculdade, onde ela não fez nenhum curso de história, exceto a história dos EUA que era um requisito, e não estudou espanhol, como os registros de sua escola e da faculdade mostram. Na faculdade o diploma obtido foi em educação, com cursos de inglês, alemão, e várias ciências.

Além das entrevistas mencionadas, pedi a L.D., sob hipnose (sem regredi-la à vida de Antônia), que procurasse em sua memória e me dissesse os nomes de todos os livros que ela tinha lido fora da escola sobre assuntos relacionados à história. Sua memória sob hipnose era boa, mas dificilmente fotográfica. Ela relatou que, quando trabalhava como designer de figurino teatral, tinha lido vários livros sobre figurinos históricos obtidos a partir da principal biblioteca pública de Chicago. Vários desses livros tinham esboços biográficos dos personagens históricos retratados. Mais tarde, ela tinha lido alguns livros sobre Lutero e a Reforma Protestante, que obteve na Biblioteca Pública Evanston, quando estava escrevendo a peça Reformation Day para o Conselho de Igrejas Evanston. Ela descreveu os livros e seus conteúdos, nomeou alguns, forneceu os autores de alguns, mas não pôde dizer os editores ou as datas de publicação dos livros. 

Eu chequei todos os livros com as datas de publicação anteriores a 1955, tanto na Biblioteca Pública de Chicago quanto na de Evanston (a leitura havia sido feito entre 1948 e 1955), mas fui capaz de verificar apenas oito livros com certeza. (Para o leitor interessado, cinco estão na lista de referências: Davenport, 1948; Fosdick, 1952; Grevel, 1907; Lea, 1954; Norris, 1924-1940) Nem estes nem os outros livros que poderiam ter sido lidos nessas bibliotecas continham quaisquer dos obscuros fatos pertinentes relatados. Alguns livros descreveram bem o período de 50 anos antes da vida de Antônia, e os conflitos da época, mas todos eles apresentavam os pontos de vista protestantes da Inquisição e as controvérsias.

A partir da adolescência, ela afirma não ter lido romances, históricos ou não, limitando a sua leitura a não-ficção. Ela confessou uma predileção por filmes históricos e admitiu ver tudo o que podia e observar tais peças e filmes na televisão. Não tenho conhecimento de nenhum filme produzido por Hollywood, filmes britânicos ou especiais de televisão que forneçam quaisquer dos fatos obscuros da vida de Antônia. Consciente de que experiências de “vidas passadas” muitas vezes podem ser rastreadas até levarem a algo que o sujeito tenha lido, visto ou ouvido e posteriormente esquecido, eu não confiava na memória de L.D. completamente, então verifiquei seis índices de ficção histórica dedicados ao período (Baker, 1914; Hotchkiss, 1972; Husband, 1982; Logasa, 1964; McGarry & White, 1973; Yaakov & Bogart, 1981). Todos os livros listados não estavam relacionados à época ou lugar, mas fiz o registro de 24 que soavam como se pudessem ter algumas das informações fornecidas por Antônia. Apenas seis deles estavam disponíveis em qualquer biblioteca da área de Chicago. Eu li esses seis, mas novamente não encontrei nada que se assemelhasse à história de Antônia, ou quaisquer dos obscuros fatos significantes relatados por ela. Como L.D. nunca tinha usado uma biblioteca fora da área de Chicago, eu não busquei outros livros, já que as chances deles revelarem alguma coisa era muita pequena.

Eu também consultei um autor que é particularmente bem informado sobre ficção histórica obscura, mas ele não me indicou nada que pudesse ter servido de base para a vida de Antônia narrada por L.D.

Seguindo o método de Dickinson (1911), no caso Poynings Blanche, perguntei a L.D., sob hipnose, se ela se lembrava de qualquer fonte possível para o material relatado sobre a vida de Antônia e se havia algum lugar que ela poderia pensar em verificar a informação. Ela negou com a cabeça. Quanto a se ela já tinha lido, visto ou ouvido alguma história que lembrasse ou fornecesse algum dos fatos relatados, ela respondeu: “Não, eu realmente não lembro.” Pressionei ainda mais e perguntei quando foi a primeira vez que ela tinha se interessado pelo conflito do século XVI entre a Espanha e a Inglaterra. Ela respondeu imediatamente: “Quando eu tinha oito ou nove anos eu vi o filme The Sea Hawk, que começava em 1584, justamente quando Antônia foi para a Espanha. Mas o filme não se passava na Espanha absolutamente, toda a ação ocorreu no mar, na Inglaterra… e, nas selvas do Panamá. O herói era um corsário inglês, e a heroína era uma sobrinha meio-inglesa, meio-espanhola do embaixador da Espanha na Inglaterra. Seu nome era Alvarez de Córdoba. Ninguém no filme e nada do que aconteceu tinham qualquer coisa a ver com a vida de Antônia. Antônia teria desprezado Dona Maria (a heroína), porque ela virou as costas para o seu próprio país (Espanha) em favor da Inglaterra.” Ela sorriu com a lembrança. “Eu tinha uma queda pelo capitão Thorp, mas Antônia o teria odiado porque ele era um inimigo da Espanha.”

Eu vi as reprises do filme na televisão, e L.D. estava certa, não há semelhança entre a história de Antônia e The Sea Hawk. Mesmo o nome do embaixador espanhol era diferente. O do filme era fictício, Antônia estava correta.

Eu também perguntei a L.D., sob hipnose, quando foi a primeira vez que ela ouviu falar sobre a Inquisição espanhola. Ela respondeu que quando ela tinha cerca de 20 anos viu o filme Captain from Castile. A Inquisição desempenhou um papel importante na história do filme, mas o tribunal foi em Jaen. Cuenca nunca foi sequer mencionada. Além disso, ocorreu no início do século XVI, muito antes de Antônia ter nascido, portanto nenhum fato poderia ter sido tirado deste filme. De acordo com Antônia, não houve sequer um tribunal do Santo Ofício em Jaen. Para o período de Antônia isso estava correto, mas tinha havido um lá na época em que o filme se passava. Na primeira vez que ela viu o filme, teve a vaga impressão de que a representação da Inquisição estava errada, mas ela não sabia o porquê. Muitos anos mais tarde, após o surgimento da personalidade de Antônia, ela viu as reprises na televisão e sabia o que estava errado. Ela enumerou alguns fatos básicos. Obviamente, também não foi dessa história que ela obteve suas idéias. Não eram apenas os fatos em todas as histórias que ela relatou que estavam errados, mas também os personagens e os sentimentos. Todas as histórias sobre a Espanha e Inglaterra do século XVI que ela nomeou, e que eu encontrei, retratavam os espanhóis como os vilões e a inquisição espanhola na luz mais odiosa. A própria Antônia sofreu com isso.  Ainda assim, ela a descreve com respeito e reverência, mostrando ter compreensão sobre a posição da Inquisição na sua época. Por quê? Por que uma mulher sem um passado espanhol ou católico exibe tão intenso patriotismo e fervor religioso para com eles? Como foi destacado, as minhas conclusões e o parecer dos historiadores qualificados indicam que pelo menos metade dos detalhes de Antônia se encontram apenas em fontes antigas publicadas em espanhol, e alguns só podem ser encontrados nos arquivos espanhóis. Como é que alguém com o passado de L.D., que não fala espanhol, que nunca foi à Espanha ou se correspondeu com arquivistas, obtém estas informações?

Restava uma possibilidade remota. Quando nem a não-ficção ou a ficção em quaisquer de suas formas podem ser apontadas como as possíveis fontes das informações reveladas nos relatos de vidas passadas, muitos insistem que o sujeito deve tê-las obtido através da comunicação com outra pessoa viva—talvez há muito tempo—talvez alguém que já foi esquecido. Para o século XX—ou mesmo o século XIX—essa explicação seria razoável, mas para o século XVI, parece altamente improvável. Quantas pessoas sabem quem eram os seus antepassados há 400 anos se eles não eram pessoas famosas? Mesmo aqueles raros indivíduos que podem saber os nomes de seus antepassados de árvores genealógicas antigas não são suscetíveis de saber quem são os amigos e inimigos desses ancestrais, ou indicar o nome de cidades e funcionários da igreja naquele tempo.

Foi sugerido que L.D. pode ter conhecido algum espanhol ou judeu cujos antepassados sofreram com a Inquisição e sabiam essa informação. Isso pode ser verdade para alguns outros tribunais na Espanha, mas não para Cuenca, na época de Antônia. Os inquisidores que ela conheceu parecem ter sido bastante moderados. Durante a sua vida eles nunca enviaram uma pessoa viva para a fogueira, apenas queimaram duas que já estavam mortas. Mesmo a segunda mais severa sentença, a da prisão perpétua e o confisco de propriedade, raramente foi imposta. Antônia disse isso algumas vezes, e os registros da Inquisição confirmam. Sendo assim, mesmo a idéia de que alguém tenha nutrido um rancor de família por 400 anos contra a Inquisição em Cuenca a partir do período da vida de Antônia é altamente improvável. Após a morte de Antônia, o Tribunal de Cuenca se tornou muito mais severo.

Ao se investigar tal caso, nada deve ser negligenciado. Então, por mais improvável que eu considerasse a possibilidade de tal pessoa ter existido e de que L.D. tivesse conhecido essa pessoa, eu tive muitas sessões com ela, com e sem o uso da hipnose, recolhendo informações sobre todas as pessoas que ela havia conhecido em cada um dos 21 lugares onde ela viveu nos primeiros 45 anos de sua vida. Eu tenho 42 páginas de anotações sobre seus colegas, amigos, vizinhos e pessoas que ela conheceu nas instituições que freqüentou (escolas, clubes, igrejas, organizações sociais, recreativas e políticas). Eu tenho os nomes, fotos, nacionalidades, grau de instrução, e os interesses especiais que L.D. compartilhou com eles. Também há dados sobre as atividades de L.D., seus interesses, talentos especiais, hobbies, empregos (cerca de 24 antes dos 22 anos de idade), as escolas, os assuntos que estudou tanto dentro como fora da escola, e preferências em relação a livros, shows, músicas, filmes, rádio, televisão e todas as outras atividades nas quais ela esteve envolvida.

Depois de avaliar toda essa informação, eu estou convencida de que ela não conhecia nenhum espanhol, ninguém cujos antepassados sofreram com a Inquisição, e ninguém com quem ela alguma vez tenha falado espanhol. Em suma, ninguém pode ter contribuído para qualquer um dos fatos que L.D. relatou como Antônia. Para o leitor interessado eu tenho essa informação resumida em poucas páginas no Apêndice II. 

A OBSESSÃO DE L.D. PELA VIDA DE ANTÔNIA E OS ESFORÇOS TERAPÊUTICOS PARA MUDAR ESSE QUADRO

Dizer que L.D. estava fascinada pela “vida” de Antônia seria um eufemismo. Apesar das lembranças de “outras vidas”, algumas mais duradouras, mais felizes e mais bem-sucedidas, ela se tornou obcecada pelo loucamente erótico mas profundo amor espiritual de Antônia, cuja vida foi interrompida de forma tão trágica. A atração era compreensível, mas indesejável. Ela obrigou-se a uma busca inútil por este amor perdido, contra o qual todas as outras experiências perdiam importância. Ela começou a negligenciar as pessoas e as atividades de sua vida atual, e passou a considerá-las maçantes e inúteis. Ajudá-la a desenvolver uma atitude mais saudável foi a minha principal razão para aceitar o caso, mas devo admitir que fiquei intrigada com a história que ela me contou.

Uma maneira de convencê-la a abandonar a sua obsessão seria fazê-la acreditar que a história de Antônia era pura fantasia, que um amor como o que ela acreditava que Antônia tinha vivido era o produto dos sonhos, e não correspondia à realidade. Acreditei que apontando erros, imprecisões e discrepâncias no que Antônia relatou com certeza fariam com que ela percebesse o que estava acontecendo. Embora eu tenha passado centenas de horas pesquisando, não encontrei nenhum erro. Um outro método teria que ser encontrado para que ela pudesse se livrar da obsessão. Partindo do raciocínio lógico de que se Antônia tivesse vivido uma vida normal, o êxtase da excitação teria amadurecido e gerado um amor muito menos emocionante, procurei fazer L.D. viver a parte inacabada da “vida” de Antônia em sua imaginação, esperando que, em seguida, ela pudesse deixá-la ir embora.

Isto não somente serviria de terapia para L.D., mas também mostraria um contraste interessante entre os dois diferentes grupos de instruções em hipnose. No primeiro ela foi instruída a tentar recapturar impressões de uma possível “vida passada”. No segundo, foi instruída a tentar fantasiar uma vida da melhor maneira que pudesse. Isto foi explicado para ela e ela concordou. Em transe, ela foi informada que o filho de Antônia não tinha sido morto, mas apenas ferido. Mais tarde ele se recuperou completamente e agora estava feliz e saudável. Em segundo lugar, foi-lhe dito que, depois de quase ter-se afogado, o seu amante a havia ressuscitado e lhe dado uma filha saudável. Todos os três foram resgatados e retornaram à Espanha, onde viveram felizes até a morte de seu amante quase 20 anos depois. Em seguida ela foi instruída a terminar a sua vida em ótimas condições, criando os seus dois filhos até a idade adulta com sucesso. Ela não conseguiu aceitar a idéia de que todos eles tinham sobrevivido, mas lhe foi dito que era desnecessário imaginar como a sua vida teria sido se eles tivessem sobrevivido. Após algumas sessões, o objetivo foi alcançado.

A história fantasiada era de uma qualidade totalmente diferente da original. Nenhum fato novo podia ser produzido. Nenhuma aventura nova aconteceu. Embora ela e seu amante tenham se mantido fiéis até o fim, eles nunca se casaram, e se encontraram cada vez menos, já que ambos mantinham-se ocupados com suas próprias carreiras. A maioria das descrições era menos viva e faltava a emoção da narração original, exceto pela morte de seu amante. L.D. passou a ser capaz de deixar Antônia ir e renovou o interesse pela sua própria vida, a qual ela admitiu que na maioria dos aspectos era melhor do que a de Antônia. Ela não expressou o desejo de fazer novas regressões. Eu concordei que esta era uma decisão sábia. 

DISCUSSÃO 

Dos muitos fatos recônditos relatados por L.D. com tanta certeza sobre a vida de Antônia, como pode ser visto na Tabela, muitos foram quase unanimemente considerados pelos professores de história e por mim mesma estando disponíveis apenas em fontes antigas, obscuras, freqüentemente em espanhol, enquanto alguns parecem existir apenas em documentos manuscritos do século XVI encontrados em arquivos espanhóis. L.D. não lia em espanhol, e ela nunca tinha ido à Espanha ou se correspondido com os arquivistas. Portanto, é difícil entender como ela poderia ter adquirido todos os detalhes relatados para a “vida” de Antônia de fontes normais.

Mesmo alguns materiais de bibliotecas americanas teriam sido difíceis para ela obter. Os livros não eram apenas antigos, raros, altamente especializados, e em uma língua que L.D. não lia, mas também continham muitas citações espanholas do século XVI que representam um problema para o nativo espanhol comum e até mesmo para os professores de espanhol que consultei. Nem havia apenas alguns livros do tipo, mas sim cerca de 30, cada um contribuindo com alguns fatos. É preciso um grande esforço de imaginação para acreditar que uma pessoa que não fala nem lê espanhol iria para uma universidade à qual ela não era afiliada e estudaria atentamente sete grandes e antigos volumes em espanhol para encontrar algumas linhas sobre uma faculdade em Cuenca (Tabela, item 1).

É verdade que o livro de um século de idade, com as informações sobre o Peru (ver Tabela, itens 8-12) foi encontrado na biblioteca da Universidade Northwestern, alma mater de L.D., mas como foi apontado na seção anterior, este livro não poderia ter sido lido anteriormente já que quando o consultei as páginas nunca tinham sido separadas. 

Quando L.D. viu o prédio que foi erroneamente relatado na Espanha como sendo o local do tribunal da Inquisição, ela ficou surpresa. Todos os presentes observaram sua dramática mudança de humor de ansiosa antecipação a uma profunda depressão. Ela não fez nenhuma tentativa de conciliar a descrição de Antônia com este edifício. Nunca lhe ocorreu questionar as autoridades. Resignada, ela disse que toda a sua história deve ter sido imaginação, porque esta construção não era nada parecida com o edifício que havia desempenhado um papel tão importante na vida de Antônia. Como este foi o único ponto em que houve real divergência, eu continuei a minha investigação. Finalmente encontrei o obscuro livro espanhol (Lopez, 1944) (ver Tabela, item 23), que contém a informação correta no apêndice na Newberry Library, que não circula livros e mantém um registro de todos os que visitam. L.D. nunca tinha estado em Newberry, ainda assim o livro indicou que LD estava correta e as autoridades erradas.

Mesmo a informação que eu fui capaz de encontrar com relativa facilidade depois que L.D. me deu nomes e fatos (para exemplos, ver Tabela, item 6) seria muito difícil de encontrar sem os nomes, como alguém que estivesse inventando uma história teria que fazer. Finalmente, há os mínimos e íntimos detalhes sobre os inquisidores, aos quais se pode ter acesso através da leitura dos registros da Inquisição, mas, novamente, só é possível descobrir essas informações se alguém souber o que procurar com antecedência, como, por exemplo, a declaração sobre fornicação. Parece inconcebível que ao longo de vários anos alguém pudesse pesquisar os registros de julgamentos da Inquisição em um lugar obscuro como Cuenca para então poder inventar essa história, ainda sim a análise sustenta a história de Antônia perfeitamente.

Quando se considera o número e a obscuridade das fontes e a dificuldade de extrair informações pertinentes das mesmas, parece improvável que L.D. teria lido todas elas. Acrescente a isso os fatos que só poderiam ser obtidos através da leitura dos arquivos municipais e diocesanos, na cidade de Cuenca, e nos aproximamos do reino da impossibilidade de alguém que nunca tenha ido à Espanha e nada lê de espanhol.

Outro fator que torna improvável a busca por informações, e então relatá-las, é a ordem com que L.D. as apresentou. Não apenas alguns dos fatos mais obscuros foram relatados muito cedo, mas fatos sobre a mesma pessoa ou incidentes da mesma fonte foram relatados em momentos espaçados, às vezes separados por um intervalo de anos. Se as informações estivessem sendo consultadas em fontes muito difíceis que não podiam ser verificadas fora das bibliotecas que as abrigavam, parece mais provável que todas as informações de uma dessas fontes seriam fornecidas mais ou menos na mesma época. Em vez disso, cada fato de uma determinada fonte foi relatado, um de cada vez, misturado com fatos de outras fontes, com meses ou mesmo anos de intervalo. (Por isso o leitor deve consultar a tabela, os itens 2, 8-12, 18, 19, 23 e 24.) 

CONCLUSÕES 

Os leitores familiarizados com a literatura estão bem cientes das numerosas teorias já propostas para explicar os casos deste tipo. Correndo o risco de ser redundante, vou resumir 14 dessas teorias e acrescentar algumas palavras sobre o quão bem cada uma se encaixa neste caso.

1. Fatores psicodinâmicos sempre foram a minha primeira escolha de explicação para experiências de vidas passadas. Eu considero que elas sejam fantasias motivadas pelas necessidades inconscientes do sujeito. Duas coisas apoiavam esta teoria, no caso de L.D. Primeiro, ela tem uma imaginação muito ativa, com grande capacidade de fantasiar. Em segundo lugar, seu conto é extremamente aventureiro, romântico e erótico. Sua própria vida tinha bastante do segundo ponto (ver Apêndice II) com suas atividades de gangues de adolescente e do romance com um prisioneiro de guerra alemão aos catorze; saiu de casa aos 15 anos para viver sozinha a 2.000 milhas de casa e da família; o seu envolvimento no show business e amizade com pessoas que aspiravam ser artistas, boêmios na idade de 19 a 20 anos; a sua turnê pelo país para apresentar-se em shows dos 20 aos 21 anos. Ainda assim, é possível que ela não tenha conseguido suprir todas as suas necessidades através dessas experiências. A psicodinâmica poderia explicar o surgimento da personalidade Antônia, mas não a grande quantidade de material factual obscuro e preciso que ela relatou. Outra teoria é necessária para dar conta disso.

2. Fraude é a idéia defendida pela maioria das pessoas quando ouvem falar do caso, especialmente quando o sujeito tem a tendência de fantasiar romances e aventuras. Mas mesmo que L.D. quisesse perpetrar uma farsa, muitas das informações que ela informou ela simplesmente não poderia ter obtido. E por que ela desejaria fazê-lo? O que ela ganharia com isso? Fama? L.D. não quer nada disso. Ela se recusa a permitir que o seu nome verdadeiro seja publicado. Seria uma vergonha para ela, que seus amigos, vizinhos, empregadores e colegas de trabalho soubessem que a sua identidade está relacionada a este caso. Dinheiro? Seria muito mais lucrativo para ela escrever ficção. Nenhum dinheiro é pago aos autores, e certamente não para os sujeitos dos artigos publicados. Mesmo que o artigo fosse vendido para uma revista que pagasse muito bem e ela dividisse os lucros, ainda assim seria um pagamento muito escasso para a quantidade de trabalho envolvido. A minha própria experiência e os relatórios dos professores de história indicam que, se isso pudesse ser feito, o que é duvidoso, teria levado anos de tediosa pesquisa, além do aprendizado secreto de algumas línguas estrangeiras, e algumas viagens clandestinas ao exterior para reunir todos os fatos e unificá-los em uma só história. E se eu levei anos verificar os fatos, como mencionei anteriormente, levaria muito mais tempo para encontrar as centenas de fatos para criar a história em questão. Como a vida de L.D. parece ter sido bastante atarefada, quando ela teria tido tempo para fazer tudo isso? Fraude parece muito pouco provável neste caso.

3. Criptomnésia, em que o sujeito foi exposto às informações ou à história através da leitura, cinema, televisão, ou em conversas com outras pessoas, posteriormente, esquecendo-se disso, e muitos anos mais tarde se lembra da história como uma experiência de vida passada, de fato explica alguns casos semelhantes e foi oferecida como uma explicação para outros (ver Stevenson, 1983). Mas parece improvável que poderia explicar este caso. Ela não pode ser refutada decisivamente para cada fato relatado, mas considerando o grande número de fontes obscuras, a maioria em uma língua desconhecida para L.D., parece altamente improvável que ela poderia ter lido todas elas e posteriormente esquecido. Nenhuma obra de ficção parece ter sido a fonte. Tampouco há evidência de que ela conhecia alguém que poderia ter dado a informação a ela. De fato, como vimos anteriormente, é muito improvável que essa pessoa exista.

4. Encenação é tida por muitos como sendo coerente com a hipnose, que desencadeou a “vida” de Antônia. A imaginação é um dos principais fatores utilizados por muitos hipnotizadores, inclusive por mim, para induzir o sujeito a um transe hipnótico. L.D., que tem uma imaginação muito boa, poderia facilmente ter agido sob sugestões hipnóticas para criar a personalidade imaginária Antônia. Mas imaginação e fantasia não poderiam produzir a grande quantidade de material factual correto que L.D. relatou como Antônia. Se ela não procurou pelo material de forma deliberada, o que, como vimos, é pouco provável, então uma grande quantidade de criptomnésia deve estar envolvida, o que é igualmente improvável para todos os fatos em questão. Portanto, embora a encenação possa estar envolvida neste caso, ela não pode ser usada como resposta para todos os aspectos do mesmo. Ela explica o personagem, mas não explica os fatos.

5. Dissociação ou personalidade múltipla, patológica quando levada ao extremo, é considerada por alguns como sendo latente em um grau menor em muitos, senão na maioria dos indivíduos normais. Em alguns casos, um transe hipnótico parece liberar essas personalidades alternativas que podem então assumir o papel de uma vida anterior ou encarnação do sujeito. No caso típico, a personalidade alternativa é completamente diferente daquela manifestada pelo sujeito normalmente, e costuma apresentar-se de forma inconsciente ou antagônica em relação à outra personalidade. L.D. e Antônia são essencialmente a mesma pessoa, com as mesmas características e gostos, interesses, habilidades e talentos. O caráter de L.D. é basicamente idêntico ao de Antônia antes de ela ser influenciada pelo seu amante poderoso e dominante. Depois disso, a personalidade e atitudes de Antônia foram fortemente alteradas por ele. Mas quem pode dizer que se L.D. estivesse sob a influência de um homem, ela não teria sido alterada da mesma forma? L.D. está perfeitamente ciente da personalidade Antônia, ela gosta e se sente confortável com ela. Não há nenhuma indicação de que Antônia está ciente de L.D. É improvável que a dissociação possa ser usada para explicar o caráter de Antônia, e impossível que possa explicar o aspecto factual deste caso.

6. Memória genética é por vezes proposta como uma forma de explicar a aquisição de conhecimentos históricos não aprendidos por meios normais. Isto pode não ser tão impossível quanto parece. Sabe-se que a estrutura e composição química do cérebro são alteradas pela aprendizagem e a memória desse aprendizado pode ser transferida para outro organismo, pelo menos em planárias, via transferências químicas; originalmente pensou-se nos DNA ou RNA (material genético), mas posteriormente proteínas relacionadas pareceram estar implícitas no processo. Infelizmente, as experiências não parecem ser aplicáveis a outras espécies e, a julgar pela literatura, as experiências parecem ter sido encerradas logo depois de terem sido relatadas. Mas mesmo que a transferência genética de memória fosse possível, ela não seria aplicável neste caso porque Antônia não tinha descendentes sobreviventes. A morte de seu filho precedeu a morte dela, e a sua filha bebê sobreviveu apenas por algumas horas. L.D. não poderia sequer ser um descendente de um parente próximo dela porque ela era filha única, e os únicos irmãos de ambos os pais não tinham filhos.

7. Memória racial é um fenômeno relacionado usado pelos seus defensores para explicar o conhecimento, atitudes e sentimentos sobre os acontecimentos históricos que foram tão influentes e penetrantes que parecem ter sido impressos em populações inteiras ou culturas, tornando-se “memórias populares”, ou parte do “desejo inconsciente coletivo” de Jung. Isto não parece se aplicar a fatos específicos sobre um indivíduo.

8. Clarividência, a capacidade de sentir ou perceber de algum modo informações que existem em outro lugar, mas que não podem ser percebidas pelos sentidos comuns, às vezes é proposta como um meio através do qual indivíduos em casos como este poderiam obter suas informações. Isso implicaria o aspecto paranormal do caso, mas não tem nada a ver com a preexistência. Para a clarividência explicar o conhecimento de L.D. isso exigiria que ela fosse capaz de acessar informações de livros fechados e mesmo lacrados em línguas que ela não sabia, em estantes de bibliotecas e arquivos, alguns em terras estrangeiras. Dos cerca de mil estudantes de parapsicologia que tenho ensinado e testado, alguns tinham a capacidade de clarividência, mas nenhuma chegou perto desta. Na verdade, eu nunca sequer li sobre alguém que pudesse fazer uma coisa dessas. Destaca-se que a clarividência de L.D. foi testada de várias maneiras e ela não mostrou qualquer habilidade.

9. Precognição também tem sido proposta como uma explicação para o conhecimento de eventos passados. Esta é, em minha opinião, uma das teorias menos prováveis. Ela sugere que o sujeito pode antever a verificação do material e assim perceber a informação antes de ela ser fornecida. Isso também exigiria que o sujeito obtivesse informações em línguas que ele não entende, e parece ser uma hipótese mais remota do que a clarividência.

10. Retrocognição é um método proposto que possibilita que alguns indivíduos recebam informações particulares sobre os acontecimentos passados. Que seja de meu conhecimento, tais episódios somente dizem respeito a um breve e específico incidente, e não a uma longa série de eventos que inclui muitos anos na vida de um indivíduo. Além disso, esses episódios são geralmente relatados por médiuns ou sensitivos, e L.D. não é nenhum dos dois. Se ela tivesse apresentado qualquer habilidade desse tipo, por causa da maneira que a sua história se desenvolveu, em uma série de episódios sem qualquer ordem cronológica, eu poderia dar algum crédito a essa teoria como uma possível explicação para este caso. Como ela não apresentou, eu não acredito que a retrocognição seja uma resposta provável.

11. Telepatia também tem sido proposta como uma explicação. Isso requer que o sujeito leia a mente, pensamentos, sentimentos, etc. de uma outra pessoa que tenha conhecimento das informações relatadas. Isto significa que uma pessoa deve ter as informações. Por razões já discutidas (p. 326), duvido que tal pessoa viva exista. Mas mesmo que isso seja verdade, não descarta totalmente a telepatia. Há ainda a possibilidade de que uma personalidade desencarnada de 400 anos atrás tenha comunicado as informações a L.D. Esta poderia ter sido Antônia ou possivelmente o seu amante, que foi um personagem histórico real. Embora longe de ser famoso, há registros de sua existência, e ele poderia possuir todas as informações que Antônia relatou. Embora L.D. não tenha mostrado nenhuma outra habilidade telepática, pode ser que ela fosse receptiva a uma personalidade tão forte como a dele, de acordo com a descrição de Antônia. Combinada com fatores psicodinâmicos mais a capacidade de fantasiar de LD, esta poderia ser a explicação para a personalidade de Antônia, que, por sua vez, poderia ser uma resposta totalmente fictícia a esta comunicação telepática, assim como explicaria todas as informações, idéias e atitudes expressas.

12. Mediunidade é comparada à telepatia entre uma pessoa viva e uma personalidade desencarnada, mas este fenômeno geralmente é mais do que apenas comunicação entre tal par. A personalidade desencarnada realmente fala através do médium. L.D. não é médiumcertamente não no sentido que é aceito de modo geral. Também não tenho conhecimento de nenhum médium que estabelecesse contato apenas com personalidades desencarnadas de uma época muito limitada e apresentasse apenas itens referentes à vida de um indivíduo. Devo admitir que houve momentos em que as atitudes e os sentimentos transmitidos foram mais os do amante de Antônia do que os dela própria. Ela admitiu que ele poderia dominá-la completamente e incutir-lhe todas as idéias dele. Ele poderia possuí-la não só fisicamente, mas mentalmente e espiritualmente também, e ela sente prazer dos três modos. Assim, Antônia poderia ter comunicado as idéias dele, ou ele poderia ter comunicado as informações diretamente a L.D. Segundo a história de Antônia, ambas as possibilidades não seriam possíveis, porque eles foram proibidos de existirem juntos no mesmo plano para todo o sempre. Nunca, em nenhuma das sessões, a personalidade dele chegou a aparecer.

13. Possessão é um outro método através do qual um indivíduo pode trazer à tona uma personalidade sobrevivente do passado. Neste caso, a personalidade sobrevivente não só se comunica por meio de, mas na verdade possui e controla a pessoa viva por diferentes períodos de tempo durante os quais a pessoa perde o controle de sua própria vida. A maioria das pessoas tem medo dessa situação. L.D. não. Para ela ser possuída pela personalidade Antônia não representa nenhum problema. Elas são totalmente compatíveis, se não idênticas. L.D. considera e fala de Antônia tanto quanto fala de fases anteriores de sua própria vida. Ela não concebe ter sido possuída por Antônia mais do que concebe ter sido ela própria bebê, criança, adolescente. Ao passo que ela admite que pode ter sido possuída pelo amante de Antônia. Ele era um homem muito forte, assertivo, poderoso, com uma consumada habilidade de manipular os pensamentos, crenças, sentimentos e comportamentos dos outros. Houve momentos na vida de L.D. que ela sentiu que seria vantajoso ser capaz de possuir essas características. Nesses momentos, ela convidaria o espírito dele a se apossar dela, geralmente com sucesso. Ela disse que isso a ajudou em diversas ocasiões, por exemplo, ajudou a controlar o comportamento de certos desafiantes e indisciplinados alunos do interior da cidade. Isto não é o que geralmente seria considerado como possessão. Não segue o padrão usual. Era sempre a pedido de L.D., servia apenas para ajudá-la, e acabava quando ela desejava, exatamente como o amante de Antônia teria feito para agradar Antônia. Uma explicação mais lógica para o que foi dito acima é a possibilidade de que L.D. estivesse tão familiarizada com o personagem dele, de forma real ou fictícia, que ela poderia desempenhar esse papel sempre que lhe for conveniente. Se a possessão está envolvida neste caso, provavelmente é um tipo peculiar e seletivo de possessão que envolve o amante de Antônia. Pelo menos temos a certeza de que ele existiu, e na história de Antônia foi interposto várias vezes que mesmo antes de ela tê-lo conhecido, ele conhecia cada detalhe da sua vida, até mesmo alguns que ela própria não conhecia, por exemplo, que seu tio era o Inquisidor Juan Ruiz de Prado.

14. Reencarnação é a teoria que L.D. aceita. Ela realmente acredita e sente que a sua alma existia na terra entre novembro de 1555 e março de 1588 no corpo de uma mulher chamada Antônia Michaela Maria Ruiz de Prado. Antes do surgimento de Antônia, ela teve sentimentos vagos de que ela pode ter vivido antes, mas nunca levou a sério. Este caso a convenceu. Para ela, isso definitivamente é a reencarnação (direta) de uma pessoa em outra, não uma mistura de idéias de Antônia com sua própria personalidade. Ela tem as mesmas características, talentos e interesses de Antônia porque ela é a reencarnação de Antônia. O seu corpo contém a alma de Antônia, modificada pelo acréscimo de experiências. Naturalmente, a crença de L.D. nada contribui para validar esta teoria. Ainda assim, é a única que, por si só, pode explicar a personalidade, sentimentos e atitudes de Antônia, bem como todos os obscuros fatos históricos relatados, de forma simples e razoável. Portanto, a minha tendência é concordar com L.D. 

CONCLUSÕES 

Admito que a “vida” de Antônia soa como uma novela romântica tórrida e aventureira. Partes dela podem ser apenas isso, derivadas de uma imaginação vívida. Mas não parece razoável descartar toda a narrativa como sendo somente isso, em virtude da grande quantidade de informações recônditas e precisas reveladas. Se todas as informações e explicações possíveis forem consideradas, parece coerente com o princípio da parcimônia sugerir que L.D. mostrou conhecimento de detalhes obscuros sobre a Europa e América do século XVI que ela não aprendeu por meios normais. 

Embora a reencarnação pareça explicar esse caso melhor do que as teorias concorrentes, a explicação mais simples nem sempre é a correta. Outra teoria plausível é a de comunicação telepática com uma personalidade desencarnada somada a fatores psicodinâmicos. Uma terceira teoria menos provável que se aplica a este caso é o tipo peculiar de possessão descrito acima. Para este caso, eu acredito que as outras teorias discutidas podem ser descartadas. Isso não significa que para outros casos semelhantes elas não possam ser válidas. 

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2527 Bel-Air Drive

Glenview, Illinois 60025 

Apêndice I 

ELABORAÇÃO DA COLUNA 1 DA TABELA: ALGUMAS CITAÇÕES DA PERSONALIDADE DE ANTÔNIA COM BREVES EXPLICAÇÕES 

1.         L.D. regrediu a agosto de 1584: “De tempos em tempos muitos dos professores e alunos do colégio se juntavam ao nosso jantar e grupos de discussão nas noites de quarta-feira.”

2.         As citações da primeira convocação de Antônia pela Inquisição no início de dezembro de 1584 são muito numerosas para serem listadas aqui. Ela mencionou o esboço autobiográfico, as perguntas feitas pelo notário, os métodos de interrogatório, o conteúdo das admoestações, orações que ela era obrigada a recitar, e o jeito que ela deveria fazer o sinal da cruz.

3.         Um ponto contra ela era o seu desconhecimento do conteúdo do Édito da Fé que todos eram obrigados a ouvir uma vez por ano para que eles pudessem saber quais palavras e ações evitar e o que denunciar sobre o comportamento de outras pessoas. “O Inquisidor Arganda explicou ao seu colega que não foi por minha culpa que eu não tinha ouvido falar do Édito da Fé; deixei Hispaniola em 1569 e este só foi publicado em 1571.” 

4.         “Sabíamos que seria difícil conseguir passagem para a Tierra Firma, porque nenhuma frota viaja este ano (1587). Somente alguns navios têm permissão para ir, o resto está sendo preparado para a Armada.”

5.         “Eu sabia que era ilegal, mas não vi mal em evitar os impostos que eu não podia pagar devido às minhas dívidas. Nunca tendo estado na Espanha ou na França antes, eu não tinha conhecimento das hostilidades com os huguenotes na fronteira e, certamente, não tinha idéia que o comércio de alguns cavalos e um pouco de aço de Toledo poderia ser considerado traição e heresia!”

6.         “A maioria foi executada em dezembro [de 1581]. Ainda tínhamos esperança de que o Pe. Cottam seria poupado, mas em maio ele foi arrastado e esquartejado após ter sido terrivelmente torturado.”

7.         Apenas uma citação de um conteúdo de várias páginas é reproduzida aqui: “Para nossa consternação, descobrimos que o nosso dinheiro da passagem só nos dava direito a biscoitos e água. A tripulação teve uma alimentação muito melhor, incluindo carne seca, peixe, legumes e arroz. Diferentemente de nós, a maioria dos passageiros teve tempo para estocar suprimentos de muitos alimentos secos e conservados e até mesmo animais para carne fresca.”

8-10.    O amante dela está explicando por que eles deveriam ir para Lima: “Ele disse que tantas queixas foram apresentadas contra o Inquisidor Ulloa que a Suprema mandou um Visitador para investigá-lo, e esse não era outro senão o Inquisidor Juan Ruiz de Prado, o irmão mais jovem do meu pai! Finalmente eu poderia encontrá-lo.”

11, 12. “Tudo corria maravilhosamente bem até o final de novembro (1587), quando o Padre Antônio (Ulloa) e o tio Juan comemoraram um Auto-da-Fé. Eu estava decidida a encarar a situação de acordo com as minhas convicções e nesse aspecto eu fui bem até o fim. Então, quando eu vi que o flamengo[3] a ser relaxado [queimado] parecia o tio Karl, não só na aparência, mas nas idéias, bem, eu chorei copiosamente em público para a mortificação extrema do tio Juan”.

13.       “Depois de uma ineficaz e vacilante conversa em árabe, o Bey perguntou se ele [o amante] podia falar italiano melhor, dizendo que era a sua língua nativa.”

14, 15. “Adentramos Las Palmas em 20 de julho [de 1587]. Os inquisidores nos cumprimentaram muito cordialmente e insistiram que fôssemos os seus convidados por alguns dias para que pudéssemos desfrutar do Auto-da-Fé que iriam celebrar em dois dias. Eles disseram que deveria ser interessante para nós porque as heresias aqui eram diferentes daquelas prováveis de ser encontradas no centro da Espanha; mais parecido com o que veríamos no tribunal do meu tio, em Lima Eles estavam punindo uma dúzia de ingleses e um deles seria relaxado.”

16, 17. “Aquele marrano[4] maldito, de Mora, é poderoso demais para mim ou para qualquer um dos meus amigos. O Bispo Zapata está em dívida com ele e ele diz ser um bom amigo do Corregedor Jeronimo de la Batista.”

18, 19. Seguem cinco citações. É interessante notar que a primeira, nomeando um Inquisidor, e as três últimas, com dados biográficos sobre o

segundo, foi dada no início das sessões A, enquanto que a segunda citação, nomeando os outros Inquisidores, não foi apresentada até perto do fim das sessões B: “Eu perguntei ao meu benfeitor, hesitante: ‘Você conhece o Inquisidor?’ Ele pareceu se divertir com a minha ansiedade e respondeu: ‘Joguei xadrez muitas vezes com o Inquisidor Ximenes de Reinoso’” “Ele disse friamente: ‘A razão pela qual eu estou tão intimamente associado com o Inquisidor Reinoso é que ele é meu colega, eu sou o Dr. Francisco de Arganda, Inquisidor de Cuenca, e você está sob grave suspeita.’” As linhas a seguir se aplicam a Arganda muito antes de ela ter citado o nome dele: “Ele disse que quando era um cânone na Catedral em Alcala ele deu algumas palestras na universidade local.” “Ele não sabia de má conduta lasciva do meu pai com Isabela porque ele foi enviado para o Tribunal de Valência por dois anos e tinha acabado de voltar poucos meses antes de eu chegar.” “Os funcionários da Casa do Comércio foram muito corteses e diligentes, porque ele era conhecido deles, após ter atuado como Fiscal no Tribunal de Sevilha”.

20.       O Supremo Senhor Inquisidor me garantiu que ele já tinha provas mais do que suficientes para prender [Francisco] de Mora, mas, para garantir que o marrano asqueroso não iria escapar, ele não agiria até que o conjunto de provas fosse tão grande que impedisse qualquer sentença exceto a de relaxamento.

21.       “Àquela altura Andres e Maria de Burgos se tornaram meus melhores amigos… Depois que a maioria dos convidados tinha ido embora, sem saber que Ramon e Carlos eram familiares, Andres descreveu um de seus experimentos, condenando a si mesmo e na frente deles eu nada ousei dizer para avisá-lo. Ele foi preso no dia seguinte e Maria alguns meses depois.”

22.       Antônia nunca disse que o padre jesuíta Fernando Mendoza foi preso, mas ela disse que havia rivalidade entre ele e Arganda, mencionou os avisos que Arganda lhe deu sobre associar-se a Mendoza, e as informações fornecidas por seus servos de que a Inquisição estava coletando evidências contra ele. O nome dele está nos registros da Inquisição.

23.       Antônia, em Londres, antes de vir para a Espanha, lê a carta do pai de janeiro de 1584: “… Cuenca é a sede do Tribunal do Santo Ofício, que acabou de ser transferida, mais apropriadamente, ao castelo que fica acima e domina toda a região.” Mais detalhes sobre o assunto estão espalhados ao longo de sua carta.

24.       Depois que um dos inquisidores informa Antônia que ela será sua amante, ela oferece inúmeras objeções, sendo que nenhuma delas o faz mudar de idéia. “Finalmente eu decidi apelar para sua honra como um Inquisidor escrupuloso: ‘Você pode sinceramente acreditar que um pecado intencional e deliberado não irá alterar as suas decisões como Inquisidor?’ Eu perguntei friamente. Ele suspirou: “Eu suponho que de alguma forma já tenha alterado. Ao rever meus casos, recentemente, notei que eles indicam uma visão muito mais branda da fornicação desde que decidi eu próprio entregar-me a ela. Para mim, a liberalidade foi tão marcante, que eu temia que pudesse levantar suspeitas na Suprema. Suponho que eu terei que voltar aos meus julgamentos severos.” 

Apêndice II 

NOTAS SOBRE OS PRIMEIROS 45 ANOS NA VIDA DE L.D: RESIDÊNCIAS, CONHECIMENTOS, ESTUDOS, LEITURA, INTERESSES E FILIAÇÕES 

Durante os primeiros seis anos de sua vida, L.D. se mudou apenas uma vez. Seus amigos e vizinhos eram ou imigrantes ou americanos de primeira geração. Havia 12 diferentes nacionalidades: italianos, alemães, irlandeses, gregos, suíços, suecos, noruegueses, ingleses, judeus, polacos, chineses e uma família de Appalachia. Nenhum deles era espanhol ou latino-americano. A maioria tinha uma educação deficiente e não conhecia outra língua além da sua própria e inglês. Assim, L.D. nunca ouviu uma palavra em espanhol aqui.

Seu pai era o único no bairro com uma educação universitária. Só sabia falar inglês. Vivia com eles e lia para L.D. diariamente. Aos cinco anos de idade, ela já conhecia todos os contos de Anderson e Grimm, a maioria dos contos do livro Mil e Uma Noites, vários livros de mitologia grega e romana, Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, e os Contos da Cantuária.

Quando L.D. tinha seis anos, o seu avô morreu, e ela e a sua mãe viveram em Dresden, na Alemanha, durante seis meses. Elas não visitaram a cidade vizinha de Leipzig, onde supostamente Antônia havia passado alguns anos na sua adolescência. Foi lá que ela foi apresentada pela primeira vez aos edifícios e artefatos dos séculos XV ao XVIII graças aos muitos palácios e castelos transformados em museus. Eles a fascinavam. Ela não era uma criança para correr por um museu tentando tocar e mexer em tudo, mas ficava impressionada por horas, olhando e estudando os prédios, móveis, arte, armas, armaduras, roupas, jóias e utensílios de eras passadas.

Quando ela voltou para Chicago, ela falava alemão quase tão bem quanto o inglês, mas ela ficou para trás na escola primária. Dois meses de estudo extra colocaram-na tão à frente de seus colegas que ela pulou duas séries; isto aconteceu outras três vezes no ensino fundamental. No começo ela não gostava de ler, porque a sua capacidade estava muito abaixo de sua compreensão. Após as histórias que ela tinha ouvido antes do jardim de infância, “Dick e Jane” ou “The Little Train That Could” não conseguiam prender o seu interesse.

Ela raramente participava das brincadeiras das crianças normais, mas entretinha seus colegas com os contos de um passado distante e longínquo, deuses, monstros, magos e bruxas, príncipes e princesas, cavaleiros e dragões, e brincava de RPG. Ela muitas vezes sentia que tinha realmente experimentado as situações fingidas antes.

Com os adultos ela nunca expressou o seu interesse nessas coisas por medo de ser considerada uma “criança estranha”. Com eles ela só travava conversas “sensíveis” sobre a escola, trabalho doméstico, jardinagem, culinária, o preço de alimentos, transporte local, política, etc. Adultos sempre a consideraram sensível, inteligente, responsável e confiável, tanto que muitas vezes permitiram que seus próprios filhos, 2 a 3 anos mais velhos que L.D., fossem a certos lugares apenas quando L.D. os acompanhasse. Ela tinha certeza de que o elevado respeito dos adultos seria perdido se eles soubessem sobre suas fantasias ou experiências do tipo de vidas passadas. Este foi o resultado de suas tentativas pré-escolares de discutir essas lembranças com sua própria família.

Aos seis anos começou a ler livros de culinária simples, um interesse que persistiu ao longo de sua vida. (Cozinhar foi um dos grandes talentos de Antônia.) Por volta dos oito anos, ela começou a ler os livros da série Oz. Ela também amava os animais e leu algumas histórias de animais, muitas das quais, queixava-se, antropomorfizava os animais, o que considerou bobagem, então ela passou a ler os livros factuais sobre a vida selvagem e os cuidados com animais, que ela gostava. Após a série de Oz, ela parou de ler ficção de uma vez por todas.

Desde a infância ela freqüentava as aulas na escola dominical na igreja luterana local, e aos 11 teve aulas de crisma. Foi nessa época que ela pegou emprestado o cartão da biblioteca de seu pai para que ela pudesse ler livros adultos. Ela leu Darwin e Huxley e alguns livros sobre religião comparativa. Isso a levou a ter fervorosos debates com o seu pastor. Dominando tudo o que era necessário, ela se recusou a ser crismada, dizendo para toda a classe ouvir que o fundamentalismo dogmático a havia convertido ao ateísmo.

Sua mãe pertencia a um clube alemão e levou L.D. às reuniões, onde ela fez amizade com outras crianças germano-americanas, atuou em peças de teatro, e por três anos cantou músicas folclóricas alemãs em uma estação de rádio alemã. Quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial, a estação de rádio fechou.

Aos 12 anos ela se formou na oitava série e se mudou para cerca de dois quilômetros de sua antiga casa. Naquele verão, ela trabalhava como garçonete. (Ela aparentava 16 anos, mentiu sobre sua idade.) Agora, ela poderia ter seu próprio cartão de biblioteca para adultos, e usou-o com paixão, lendo Shakespeare, Milton, um grande volume de poesia, mas nenhuma outra ficção. A maior parte de sua leitura era de não-ficção: arte, arqueologia, antropologia, exploração, fauna, etc.

Embora ainda com 12 anos, ela começou a escola secundária, continuando a trabalhar meio período, e deu continuidade aos seus interesses solitários, sem ter ninguém com quem discuti-los. Este foi um momento solitário para L.D. Quanto mais ela estudava e aprendia, menos tinha em comum com seus colegas. Quanto mais tempo ela passava estudando e trabalhando, menos tempo ela tinha para socializar. Seus amigos liam histórias em quadrinhos; ela lia os clássicos. Eles gostavam de Frank Sinatra, ela gostava de ópera. Eles gostavam de jogar bola, ela gostava das palestras do museu. Nenhum de seus professores gostava muito dela. Ela estudava apenas o que lhe interessava, não o que eles achavam que ela deveria estudar. No trabalho, ela conheceu uma estudante universitária oito anos mais do que ela, com quem tinha algo em comum. A moça era uma estudante de sociologia de ascendência judaica russa e foi a sua única amiga por cerca de um ano. Ela nunca antes havia conhecido ninguém da Espanha, América Latina, ou com interesse em história, fosse na vizinhança, na escola ou no trabalho.

Após um ano e meio, ela mudou-se novamente por alguns meses, e mudou de escola por um semestre. Os verões dos seus 13 e 14 anos foram passados trabalhando em uma fazenda como voluntária do programa victory farm volunteer. Não havia nenhuma espanhola entre as meninas. Elas foram alojadas em uma escola católica para meninas supervisionada por freiras, mas ela se recusou a participar de todos os serviços religiosos enquanto permaneceu lá, imaginando que os católicos eram provavelmente piores do que os luteranos. Perto da escola havia uma prisão para prisioneiros de guerra alemães que trabalhavam nos campos adjacentes àqueles em que as meninas trabalhavam. Uma confraternização era estritamente proibida, mas essas proibições não são sempre eficazes quando meninas adolescentes e jovens rapazes estão em estreita proximidade. Neste caso elas foram eficazes na maior parte do tempo porque os homens não sabiam falar nada em inglês, e L.D. era a única menina que falava alemão. Enquanto as outras meninas tinham que competir em chances de cinco para um para alguns poucos meninos de fazenda locais, L.D. tinha os alemães basicamente só para ela. Ela teve um romance com um deles, e eles se encontravam clandestinamente entre as altas fileiras da plantação de milho. Houve uma conversa sobre fugir, mas nunca aconteceu. O final do verão foi a última vez que ela o viu.

Aos 14 anos, em seu terceiro ano do ensino médio, ela se mudou novamente, desta vez do bairro de classe média tranqüilo de moradias de famílias simples com lotes abandonados cheios de flores selvagens espalhadas para um apartamento transitório de um bairro de classe baixa com gangues de rua. Os vizinhos eram, principalmente, do tipo “lixo branco pobre” que tinham vindo do sul para Chicago em busca de empregos que pagassem mais em fábricas de armas e munições em tempos de guerra. Havia também muitos orientais, principalmente japoneses, que alegavam ser filipinos, mas que não tinham sobrenomes espanhóis nem falavam espanhol como a maioria das pessoas das Filipinas. Não havia espanhóis, e até mesmo os latino-americanos não vieram para este bairro até 10 anos depois, muito depois de L.D. ter partido. Ela odiava aquele lugar e as pessoas que viviam ali, mas logo decidiu que “se você não pode lutar contra eles, junte-se a eles”, então ela se juntou a uma gangue de rua. No início, a garota quieta e intelectual de um bairro “bom” não foi bem recebida, mas logo ela provou que poderia e iria lutar por seus próprios direitos contra qualquer pessoa, e ela tornou-se o “cérebro” da quadrilha, porque ela podia planejar os “trabalhos” com mais criatividade e mais sucesso do que qualquer outro membro da gangue. Ela aprendeu jiu-jítsu, e se tornou muito habilidosa com o longo canivete que ela sempre carregava, sem que seus colegas e professores soubessem. Eles a consideravam uma estudante modelo.

No entanto, isso não era vida para ela, e ainda com 15 anos, ela saiu de casa sozinha para ir para Los Angeles onde estudou na então afluente Holly High. Embora houvesse muitos mexicanos-americanos em Los Angeles, ela não conheceu nenhum deles. Vi fotos de seus amigos lá. Nenhum deles tinha nomes ou aparência que sugerisse ascendência espanhola. Todos eles eram do tipo “anglo” de pele clara com nomes condizentes. A escola em tempo integral e o trabalho quase em tempo integral não lhe deixavam tempo para a leitura extra-curricular ou lazer.

Para freqüentar a faculdade ela voltou para casa. Ela estudava, trabalhava e conseguia se sustentar, mas não ganhava o suficiente para a mensalidade e os livros da universidade. Seus pais pagariam por isso apenas se ela vivesse na casa deles. Naquele verão, ela trabalhou em uma fábrica em Chicago, onde conheceu e fez amizade com uma colega do México. Esta foi a primeira vez em sua vida que ela conheceu alguém que falava espanhol ou tinha um sobrenome espanhol. 

Esta menina havia abandonado a escola secundária e nada sabia sobre a Espanha ou história, exceto, possivelmente, um pouco da história do México. (O México não faz parte da história de Antônia.) Dois meses depois, L.D. pediu demissão e nunca mais viu a menina novamente. Ela nunca havia tentado falar espanhol com ela ou aprender o espanhol dela.

Quando L.D. tinha 16 anos, sua família mudou-se para Evanston, e ela entrou na Escola de Educação da Universidade Northwestern. Um ano depois, eles se mudaram para outra casa em Evanston. Ela não conheceu espanhóis ou pessoas de língua espanhola na escola ou no bairro, não fez cursos de história ou espanhol, e nunca conheceu um professor que ensinasse esses cursos. Seus melhores amigos eram dois colegas de ascendência polaca. Antes de sua formatura, sua família mudou-se para uma pequena cidade (população com menos de 300 habitantes) no Vale do Rio Grande, no Texas. Ela foi morar em um quarto na casa de uma família judaico-alemã em Evanston. Como ela fez o curso de quatro anos em três anos e continuou a trabalhar, ela teve pouco tempo para fazer amigos, lazer, ou ler. Seus esportes na N.U. eram esgrima, arco e flecha e tiro de fuzil.

Aos 19 anos ganhou seu B.S.[5] em educação e foi morar com uma família judaico-russa em Chicago. Como ela não conseguiu encontrar um emprego de professora em dois meses, ela acompanhou essa família ao Texas. Havia duas famílias coloniais mexicanas, que viviam no bosque do seu pai, mas eles eram analfabetos e não falavam inglês. Como ela não falava espanhol, nunca falou com eles. Nos três meses que ela esteve lá, não conheceu espanhóis ou mexicanos que soubessem qualquer coisa sobre a Espanha, e nada aprendeu em espanhol. Não havia nenhuma biblioteca na pequena cidade.

Ela retornou para Evanston, onde morou numa pensão que pertencia a uma mulher irlandês-canadense. Ela não socializou com os outros inquilinos. Ela se tornou uma professora substituta em Chicago, logo foi designada como substituta para uma escola, e se mudou para um quarto próximo à sua escola em um bairro judeu da cidade. Ninguém que ela soubesse era um judeu espanhol ou sabia qualquer coisa sobre a Espanha ou a Inquisição. Ela começou um programa de leitura independente, desta vez, principalmente sobre filosofia, religião e ocultismo. Sua família mudou-se para a área do Parque Lincoln de Chicago, e ela voltou a morar com eles.

Ela conseguiu um emprego como maquiadora e figurinista teatral. Isto a fascinou, e ela conheceu muitos tipos boêmios interessantes: atores esforçados, escritores, artistas, músicos, etc. e se relacionou quase exclusivamente com eles nessa época. Com o incentivo de seus novos amigos, ela também cantou em boates. (O canto foi outro talento de Antônia.) No ano seguinte ela se juntou a uma companhia de teatro ambulante com a qual fez uma turnê e se apresentou em diversos estados do sudeste. Em todas as suas associações e viagens ela ainda não tinha encontrado ninguém de ascendência espanhola ou qualquer pessoa que fosse uma boa conhecedora de história.

Aos 22 anos ela voltou a morar com a sua família, mais uma vez, em Evanston, conseguiu o seu primeiro emprego permanente, se tornou muito ativa na comunidade e em organizações sociais, e entrou para a Igreja Metodista. Em menos de um ano, sua família se mudou de volta para uma vizinhança transitória, em Chicago. Ela mudou-se com eles, mas três meses depois, ela comprou a sua própria casa, em Evanston, onde continuou a viver por 17 anos. Durante esse tempo ela se juntou ao coro da igreja, foi solista diversas vezes (ela tinha uma boa voz, mas nunca estudou música), produziu e dirigiu algumas peças para sua igreja e a maior Primeira Igreja Metodista, e escreveu e dirigiu uma peça para a Evanston Counsil of Churches. Ela também fundou uma companhia de teatro comunitário, em Evanston, e foi um membro ativo dos Young Republicans. Poucos anos depois de se mudar para cá, ela conheceu e se casou com seu marido e teve dois filhos. Quando seus filhos chegaram à idade escolar, tornou-se ativa no P.T.A. O tempo todo ela continuou a trabalhar.

De todas as organizações às quais pertenceu e pessoas que ela conheceu nesses 17 anos, nenhuma era de ascendência espanhola, nem particularmente interessada em história, embora ela de fato tenha acrescentado esse assunto a sua biblioteca, que contém livros sobre a vida animal, antropologia, arqueologia, arte, biografia, culinária, vestuário, artesanato, teatro, educação, jardinagem, geologia, alemão, história, joalharia, literatura, maquiagem, mitologia, história natural, ocultismo, ópera, filosofia, plantas, poesia, psicologia, religião, sociologia, esportes, viagens. As únicas obras de ficção que ela tem são alguns dos clássicos.

Em 1970, ela e sua família se mudaram para outro subúrbio de North Shore, que é onde ela vivia quando entrou para os clubes dos hipnotizadores. Ela ainda lecionava em Chicago, e continuou a acrescentar novos livros à sua biblioteca. Os únicos três livros sobre história da Espanha que ela possui foram adquiridos após o surgimento da personalidade Antônia. Apenas um deles contém alguns dos fatos relatados por Antônia. Nenhum contém qualquer coisa sobre Cuenca; nem mesmo os seus livros de viagens. Ela nunca havia conhecido um espanhol, até que ela passou uma semana nas Ilhas Canárias em 1978, depois de ter terminado a primeira série de regressões. Foi nessa viagem que ela tentou falar pela primeira vez na língua espanhola, quando ela usou um livro de frases em espanhol para turistas. Ela logo descobriu que o livro era desnecessário porque, além de alguns nativos da ilha falarem inglês, muitos falavam alemão, idiomas que ela usou para se comunicar por lá.

Considerando todos os detalhes que reuni sobre cada etapa da vida de L.D através de várias sessões de hipnose, estou convencida de que ela não conhecia ninguém de quem ela poderia ter obtido as informações reveladas pela personalidade Antônia, e de que ela nunca leu ou falou espanhol antes daquela experiência, e que ela não poderia ter obtido essas informações através da leitura.



[1] Eu gostaria de agradecer a Ian Stevenson, M. D., por seu encorajamento, e sou grata a ele e a seus assistentes de pesquisa, Emily William Cooks e Susan Adams, por sua ajuda e sugestões em esboços anteriores deste artigo.

[2] Relaxado ao braço secular significava que o réu havia sido condenado à morte pelos Inquisidores. Como a Igreja nunca “matava”, entregava o preso ao poder secular que executava a sentença. A pena era a morte na fogueira; se antes da execução da sentença o réu dissesse que desejava morrer pela Lei de Cristo, antes de ser queimado, era garroteado. Caso contrário, era queimado “em carne”, ou seja, vivo. (N. T.)

[3] Durante o período da Inquisição cristã, muitas famílias, principalmente as de origem judaica, precisaram esconder-se para escapar à perseguição do catolicismo. A princípio, os perseguidos obtiveram abrigo em Amsterdã, na Holanda, e muitos partiram para a região semidesabitada de Flandres, na Bélgica atual. Com o passar do tempo, as famílias que se estabeleceram em Flandres iniciaram uma comunidade quase que independente e passaram a ser denominados flamengos. (N. T.) 

[4] Significa porco em espanhol. (N. T.)

[5] Bacharel em Ciências. (N. T.)

8 respostas a “o caso antônia: evidência extraordinária de reencarnação?”

  1. Juliano Diz:

    Li todo o texto (…) impressionante. Bem diferente de “Há dois mil anos” do Chico Xavier. Será que é tão difícil se fazer estudos de consistência nesta área. Pelo trabalho resta provado que não.

    No meu entender, a única possibilidade de inconsistência é haver má-fé da Linda Tarazi. Ela ter acrescentado bem mais a história do que o real relato da L.D. (Antônia). Creio que se ela tem os mecanismos para provar o que escreveu, não vejo como estarmos diante de uma fraude.

    O único ponto que mereceria uma maior pesquisa, inclusive de campo em Cuenca, era descobrir alguma prova concreta da existência da Antônia. Creio que pelo seu sobrenome pelo menos é possível dizer se existiu, ou existe, pessoas em Cuenca com este sobrenome. Século XVI são nove/dez gerações. Acho que é possível uma varredura em Cuenca da família “Ruiz de Prado”, “de Prado” ou “Ruiz”, ver se são sobrenomes existentes de alguma forma na região, caso não tenha sito feito, ainda. É isto.

  2. Vitor Diz:

    Oi, Juliano
    na verdade não é só a Antônia o problema, o tio Karl dela também não tem o menor traço de existência. O pesquisador Alan Gauld tentou encontrar traços de ambos na Inglaterra, sem sucesso. E esses traços deveriam existir, dadas as filiações acadêmicas de Karl (ele era um professor universitário) e o ativismo político de Antônia. Karl é uma figura muito mais problemática de se explicar porque não se encontram traços dele do que a figura de Antônia. Nem sei se uma explicação é possível, na verdade.

  3. Juliano Diz:

    Pois é Vitor. Pensei numa resposta, mas (…) vamos lá. Nós se vamos contar uma história que vivemos de fato do nosso passado nesta vida, coisa de 15 anos atrás por exemplo. Provavelmente inventamos algumas coisas e omitimos outras. É algo humano. O que de fato ocorreu jamais será narrado como de fato ocorreu. A questão é ver se sob hipnose tal mecanismo de algumas verdades + algumas invenções, num relato passado concreto também se aplica quando hipnotizado, mesmo que de forma inconsciente. Outra coisa, alguns relatos de pessoas hipnotizadas que num primeiro momento relatam uma vida passada, mas no transcorrer das sessões de hipnose quando questionadas, em determinado momento dizem que na verdade tal relato se deve a um filme, um livro, uma experiência vivida nesta vida e fantasiada por ela. O inconsciente aflora e sai a mais pura verdade! Disto a minha dúvida acima, e sua também pare. Agora, neste caso, só posso imaginar que talvez se pudesse analisar mais detalhadamente o trabalho da Linda Tarazi. Se ela tem provas do que ela diz, gravações das sessões, relatos de outras pessoas ilibadas (…), provas documentais (…) aí realmente acho que se tem uma prova robusta do processo de renascimento/reencarnação. Intrigante mesmo o caso. Outra coisa, aproveitando, me manda via e-mail a tua conta e agência que eu vou depositar R$ 30,00 pra de dar uma mão na tradução feita. Gostaria de ajudar com mais, mas no momento é o que dá, mas acho que já dá uma mão. É isto.

  4. Rafael Diz:

    Estou impressionado com esse site.Muito bom. Estudo pra concurso da magistratura trabalhista e ate deixei meus estudos de lado pra ver isso. Afinal, essas pesquisas são muito importantes, pois talvez nos revele o verdadeiro sentido de uma vida.

    Bom, gostaria de dizer que os poucos casos que tenho visto aqui + os documentarios sobre vidas passadas(vide abaixo) mostram claramente que isso de fato existe.

    Uma pessoa que nunca viu latim ou espanhol fazer canções do seculo XVI e dar dados exatos de publicações
    de livros deste mesmo seculo,em outro continente, isso pra mim é prova suficiente de que existe algo sobrenatural.

    O caso mostrado no documentario é ´de uma crianca que diz e fornece dadpos impossiveis para uma criança daquela idade,confirmados com precisao, ter sido um piloto da segunda guerra mundial.

  5. Rafael Diz:

    Só pra dizer. Meu teclado esta quebrado, entao desculpe-me pelos erros de portugues, mas ta dificil escrever aqui 🙂

  6. mrh Diz:

    Muito bom, muito bom…

  7. mrh Diz:

    Karo Vitor, akabei d receber 1 email d 1 amigo, q pesquisou a autora, e supostamente trata-se d fraude muito bem elaborada. 1 romancista, e este é 1 resumo d 1 livro de 600 pgs. vendido no exterior. Parece q vive disso, e o kaso seria todo falso, romanesco e as fontes citadas inexistentes. Precisamos muito conferir, pois ao menos 1 especialista em inquisição teria reprovado duramente as alegações. Procurar contatos no exterior p/ saber se trata-se d + 1 pilantragem no assunto… Remeti o email p/ vc.

  8. mrh Diz:

    Alarme falso. Volto ao estágio anterior. Nenhuma prova. Fiz c/ amigos 1 reunião sobre o texto, buscamos evidências na net e nada relevante. A autora escreveu 1 livro d 600fls. ou + sobre o tema, mas junto c/ outro livro mal vendido são os 2 únicos q publicou. Ptto, ela ñ vive disso, d escrever romances (o livro do caso seria romanceado). As fontes da inquisição existem, mas são d difícil acesso. Precisa d autorização do bispo local, preencher ficha etc. Talvez, quem sabe, até informar a razão da pesquisa. Meu primeiro levantamento sobre o assunto, ptto, foi inconclusivo, nem a favor nem contra.

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