Estudo da sobrevivência: considerações metodológicas e epistemológicas (2010)
Este artigo foi publicado em 2010 no VI Encontro Psi, e escrito por cientistas da USP. Tenho o prazer de dizer que este blog foi citado como referência para críticas relativas a Chico Xavier. Para quem quiser baixar o artigo em pdf, basta clicar aqui.
Estudo da sobrevivência: considerações metodológicas e epistemológicas
Prof. Dr. Wellington Zangari¹
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IP-USP
Everton de Oliveira Maraldi¹
Mestrando
Profa. Dra. Fatima Regina Machado¹
Laboratório de Estudos
¹Inter Psi – Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais do Instituto de Psicologia/USP
Resumo: Alguns pesquisadores persistem, atualmente, no propósito de verificar a hipótese da sobrevivência, seja por meio de experimentos, seja por estudos de caso. Pelo que se depreende dessas investigações mais recentes, a pesquisa da sobrevivência tenta agora adentrar igualmente os laboratórios. Por sua vez, diversos critérios de confiabilidade na coleta de dados têm sido sugeridos e aplicados nas investigações de relatos espontâneos, na busca por maior rigor. Advoga-se a importância da pesquisa da sobrevivência para a compreensão da consciência e da relação mente-corpo. Todavia, acreditamos que esses estudos, mesmo os mais bem conduzidos, estão ainda longe de alcançar aquilo que propõem, isto é, a confirmação científica para a hipótese da sobrevivência. Conquanto não neguemos que parte da evidencia encontrada é significativa e merece atenção, entendemos, outro tanto, que muitos são os desafios metodológicos e conceituais a serem enfrentados ainda pelos pesquisadores da sobrevivência para bem cumprirem, cientificamente, com seu intento. Sendo assim, propomos, de nossa parte, algumas recomendações metodológicas para futuras investigações, sem a pretensão de esgotar o tema.
Palavras-chave: pesquisa da sobrevivência, metodologia, vida após a morte, hipótese de super-psi.
INTRODUÇÃO
Ao contrário do que se tende a conceber, o surgimento da Psicologia científica, por volta da segunda metade do século XIX, esteve fortemente ligado ao estudo de experiências alegadamente paranormais, sobretudo, experiências mediúnicas (Alvarado, Machado, Zingrone e Zangari, 2007). Parte dos pesquisadores mantinha, diante dessas manifestações, uma aproximação extremamente crítica, enquanto outros, de extrema aceitação; a maioria, porém, enxergava nas práticas espiritualistas apenas fraude – algo que, de fato, ocorria com certa frequência nas sessões mediúnicas de então – doença mental ou até mesmo uma perigosa ameaça à sociedade. Dentre esses autores, encontravam-se alguns dos grandes nomes da Psiquiatria, como Cesare Lombroso (1836-1910), que inicialmente disposto a atestar a verossimilhança entre as manifestações mediúnicas e histéricas como evidência de uma origem patológica da mediunidade, viria mais tarde aderir à causa espiritualista, em razão de uma suposta comunicação de sua mãe pela famosa médium Eusápia Palladino (Lombroso, 1909/1999). Outros exemplos de cientistas da época convertidos ao Espiritismo incluem o biólogo Alfred Russel Wallace, o físico William Crookes e o astrônomo Camille Flammarion, todos os quais abordaram temas espíritas e paranormais em algumas de suas obras (Crookes, 1874/1971; Flammarion, 1900/1980; Wallace, 1866/2003).
Em 1882, fundou-se em Londres, a chamada Society for Psychical Research, primeira instituição científica voltada ao estudo de alegações paranormais. Constituída inicialmente por um grupo de intelectuais formados pela Universidade de Cambridge, essa sociedade agregou posicionamentos e perspectivas diversas sobre a mediunidade, indo desde aqueles pensadores que efetivamente acreditavam numa vida após a morte, passando por aqueles que, cientes da complexidade que o tema envolvia, preferiam aguardar a emergência de um maior número de dados de modo a formular seu próprio julgamento, até aqueles que, por fim, permaneciam ceticamente refratários quanto à chamada “hipótese da sobrevivência” (Gauld, 1982/1995; Zangari e Maraldi, 2009). Com a expansão das ideias espiritualistas e o interesse cada vez maior nas manifestações mediúnicas, os pesquisadores da Society encontravam-se em meio a condições sociais grandemente propícias ao objetivo que pretendiam alcançar. Pelos seus trabalhos, foram considerados pioneiros nos estudos sobre os fenômenos dissociativos e os estados alterados de consciência (Alvarado, 2002a).
As investigações da mediunidade entre o fim do século XIX e começo do século passado sofreram, evidentemente, uma forte influência do momento histórico e social em que foram conduzidas. Muitos dos pioneiros da Society mantinham uma postura parcialmente religiosa frente aos seus objetos de estudo e tendiam assim a atrelar suas pesquisas a crenças ou visões de mundo advindas de suas religiões. Dentre os assuntos filosófico-religiosos que geralmente preocupavam a mente desses homens e mulheres de ciência, encontravam-se perguntas um tanto românticas – e possivelmente ingênuas para alguns dos padrões culturais de hoje – como: “[…] poderia o amor sobreviver ao túmulo?” (Shamdasani, 1994, p. xv). Essas investigações mantiveram ainda um relativo interesse científico nos anos posteriores à primeira guerra mundial, em decorrência da grande tensão social e emocional dela resultante. Exemplos disso podem ser encontrados em artigos publicados no início do século, nos Annales de Sciences Psychiques (Vesme, 1915) e na famosa obra de Sir Oliver Lodge, “Raymond”, tratando especificamente sobre alegadas comunicações mediúnicas com seu filho morto na guerra (Lodge, 1916/2008).
Acompanhando a ascensão da Psicanálise nas duas primeiras décadas do século XX, bem como significativas transformações no zeitgeist predominante, o interesse pela sobrevivência vai, aos poucos, diminuindo drasticamente (Zangari e Maraldi, 2009). Na Parapsicologia, a substituição dos estudos de caso e sessões com médiuns pela pesquisa experimental sobre ESP e PK, na chamada era Rhine, contribuíra também para um arrefecimento do interesse científico na sobrevivência, ainda que o próprio Joseph Rhine houvesse sugerido alguma sustentação para essa hipótese em função das supostas implicações metafísicas da existência de psi (Rhine, 1965). Parte do desinteresse subsequente pelo tema se explicaria ainda pela tentativa dos parapsicólogos em alcançarem apoio e legitimidade científico-acadêmica para o campo, desvencilhando-se de assuntos ou áreas de pesquisa potencialmente prejudiciais à sua imagem. Assim, em um artigo recente, Krippner e Hövelmann (2005) afirmaram que parece muito pouco provável que a pesquisa da sobrevivência possa contribuir para solucionar empiricamente o problema da vida após a morte. Os resultados desses estudos, por outro lado, podem nos dizer muito sobre o processo de morrer e sobre a condição humana, em geral – aquilo a que nos referimos outrora como uma abordagem psicossocial (Zangari & Maraldi, 2009). Também Irwin (2002, p. 25) defende que “a hipótese da sobrevivência precisa ser colocada à parte substancialmente como uma provocativa, porém, no final das contas, improdutiva faceta da história da Pesquisa Psi”. Alvarado (2003) argumenta, contudo, em favor da importância histórica do conceito de sobrevivência para o desenvolvimento da parapsicologia, sem adentrar discussões de ordem ontológica.
Não obstante tais críticas e recomendações, alguns pesquisadores persistem no propósito de verificar a hipótese da sobrevivência, seja por meio de experimentos, seja por estudos de caso (Beischel, 2007; Braude, 2003; Kelly et al, 2007; O’Keffe & Wiseman, 2005; Parnia, 2008; Schwartz & Simon, 2002; Storm & Thalbourne, 2006). Pelo que se depreende dessas investigações mais recentes, a pesquisa da sobrevivência tenta agora adentrar igualmente os laboratórios. Por sua vez, diversos critérios de confiabilidade na coleta de dados têm sido sugeridos e aplicados nas investigações de relatos espontâneos, na busca por maior rigor. Advoga-se a importância da pesquisa da sobrevivência para a compreensão da consciência e da relação mente-corpo. Todavia, acreditamos que esses estudos, mesmo os mais bem conduzidos, estão ainda longe de alcançar aquilo que propõem, isto é, a confirmação científica para a hipótese da sobrevivência. Conquanto não neguemos que parte da evidencia encontrada é significativa e merece atenção, entendemos outrotanto, que muitos são os desafios metodológicos e conceituais a serem enfrentados ainda pelos pesquisadores da sobrevivência para bem cumprirem, cientificamente, com seu intento. Sendo assim, propomos de nossa parte, algumas recomendações metodológicas para futuras investigações, sem a pretensão de esgotar o tema.
Cumpre lembrar que a hipótese da sobrevivência não se resume a estudos com médiuns, mas abrange toda uma série de investigações sobre experiências as mais diversas, como experiências de quase-morte (Greyson, 2000; Parnia, 2008), experiências fora do corpo (Alvarado, 2000; Blackmore, 1988), relatos espontâneos de memórias de vidas passadas (Mills & Lynn, 2000; Stevenson, 1974), relatos de aparições dos mortos (Hart, 1967), dentre outras alegações. Neste artigo, abordaremos, sobretudo, as chamadas experiências mediúnicas, por estarmos particularmente mais familiarizados com esse campo, embora muitos de nossos argumentos sejam facilmente ampliáveis a outras categorias de experiências associadas à sobrevivência. Salientamos ainda que nossa discussão não se limita a considerar apenas os procedimentos técnicos envolvidos nessas investigações, mas, de igual modo, questões conceituais e epistemológicas. Adotamos assim a definição de Demo (2007) para o qual “metodologia” implicaria não somente a avaliação de processos operacionais, mas uma reflexão articulada sobre o método e o fazer científicos.
1) A QUESTÃO DA METAFÍSICA
Entendemos por metafísica uma “Inquirição especulativa a respeito de problemas filosóficos que se situam para além da investigação empírica” (Cabral e Nick, 2003, p. 194). A especulação filosófica constitui, sem dúvida, uma parte importante da própria empresa científica, na medida em que lhe serve de fundamento lógico e conceitual. Especialmente no campo das anomalias científicas, em que determinadas teorias ou paradigmas presentemente aceitos pela comunidade científica podem ter suas fronteiras contestadas, relativizadas ou ampliadas, as questões epistemológicas – e, portanto, em certo sentido, metafísicas – desempenham função essencial. O problema se inicia, contudo, quando nessa inquirição inserimos conceitos ou crenças religiosas e passamos a buscar um meio de sustentá-las cientificamente. Uma coisa é verificar a possibilidade de que algo no ser humano sobreviva de algum modo, após sua morte física; outra, bem diferente, é a busca por “demonstrar”, cientificamente, uma determinada versão religiosa acerca do além-túmulo, quer intencionalmente ou não.
Cabe defendermos aqui um útil princípio metodológico desenvolvido e apresentado outrora pelo psicólogo Flournoy (1903), há mais de um século, cuja atualidade e importância permanecem amplamente endossadas por toda uma série de estudos contemporâneos da Psicologia da Religião (Khalili et al, 2002). De acordo com o autor, o estudo científico das crenças e experiências religiosas deveria sempre pautar por uma cautelosa exclusão de afirmações transcendentais. Não cabe ao psicólogo – e ao cientista, de modo geral – indagar-se, em termos técnicos, se Deus (ou outra forma de entidade sobrenatural) existe ou efetivamente intervém na experiência relatada por um fiel. Tais questões, de ordem metafísica, encontrar-se-iam – pela própria impossibilidade de se verificá-las empiricamente – muito além do escopo previsto à ciência. Não obstante, é perfeitamente exequível ao psicólogo, o esforço de entender como o comportamento religioso de um indivíduo interfere em sua vida emocional, social, intelectual e assim por diante, sem que necessariamente precise adentrar ou tomar partido na discussão em torno da veracidade ou não da alegação religiosa feita.
Isto não significa, contudo, que não se deva investigar a ocorrência de eventuais anomalias científicas; mas sim que as explicações levantadas, quer sejam ou não condizentes com o paradigma vigente, não deveriam se transformar num objeto de fé ou numa bandeira em defesa de uma determinada cosmovisão religiosa. Tal risco de sincretismo é particularmente perigoso no caso das pesquisas concernentes à sobrevivência, uma vez que espiritualistas ou outros religiosos acreditam frequentemente encontrar nelas um instrumento de legitimação de suas crenças (Alvarado, 1991; Machado, 2007).
Uma coisa são as evidências que determinados médiuns fornecem de pessoas falecidas, e que aparentemente não teriam como acessar segundo meios convencionais; outra bem diferente são as especulações em torno de uma vida espiritual, perispírito, colônias espirituais, fluido universal, espíritos puros, lei de ação e reação, etc. (Kardec, 1860/1999, 1861/2001; Xavier & Vieira, 2004) cuja ocorrência empírica não oferece, atualmente, nenhum indício satisfatório. Até mesmo pesquisadores mais avisados e experientes chegam a resvalar nesse tipo de especulações, como Gauld (1982/1995, p. 65): “[…] se há um outro mundo”, para o qual passam nossos espíritos depois da morte, talvez seja razoável que ele contenha alguma forma estabelecida de rede de comunicação à distância, ou um sistema de correios e telégrafos celestiais”. Dois autores de livros esotéricos chegaram a reconhecer certa vez que “[…] é duvidoso que o mundo-de-depois seja tão igual ao mundo físico tal como essas descrições sugerem” (Bendit e Bendit, 1977, p. 66). Além do mais, pode haver alguma tendência em se estender indefinidamente a possibilidade de formulação de tais inferências – sempre um tanto maleáveis e adaptáveis aos fatos – e assim jamais chegaríamos a uma conclusão satisfatória acerca dos dados apresentados – questão a que igualmente apontara Bishai (2000) ao discutir argumentos metafísicos em favor da reencarnação.
Certamente, o fato de um indivíduo fornecer informações mediante vias supostamente desconhecidas ou executar ações possivelmente anômalas frente ao que se conhece da percepção ou do comportamento humanos, constituem ambos incríveis objetos de estudo; mas muitas outras explicações se colocam diante desses fenômenos, boa parte delas nem sempre em apoio à sobrevivência. Tendo-se descartado, após minuciosa investigação, as hipóteses cientificamente disponíveis, como fraude, falhas metodológicas, pistas sensoriais, etc. – os assim chamados “suspeitos usuais” de Braude (2003) – bem como explicações mais exóticas, incluindo-se processos dissociativos, raros talentos mnemônicos, capacidades latentes, etc., temos de nos haver ainda com outras possibilidades, as quais, embora integrando um campo igualmente controverso, em termos científicos, possuem maior sustentação empírica e experimental que a sobrevivência, como é o caso dos fenômenos extra-sensório-motores. Exploraremos um pouco mais essa questão quando nos voltarmos para a hipótese de super-psi.
As dificuldades envolvendo o emprego da especulação metafísica não atingem, entretanto, apenas aos estudos de caso ou obras de cunho filosófico-religioso; elas estão presentes também nas pretendidas pesquisas laboratoriais da mediunidade. Exemplos disso podem ser encontrados num artigo de Beischel (2007) sobre os procedimentos de pesquisa empregados no Windbrigde Institute for Applied Research in Human Potential. De acordo com a autora, “de modo a otimizar o processo da mediunidade durante os experimentos” devemos considerar neles a participação em potencial de três pessoas: o(a) médium, o(a) consulente (sitter) e o(a) desencarnado(a). “Por exemplo, para honrar sua participação, nós escrevemos instruções para cada experimento direcionadas aos desencarnados” (p. 50). Acredita-se que, com isso, sejam evitadas falhas no fornecimento de informações acuradas, as quais pudessem ser potencialmente atribuídas ao médium “mais do que ao hipotético e ‘ingênuo’ desencarnado, não familiarizado com a comunicação com um médium” (p. 50). Esses pesquisadores parecem pressupor a interveniência de uma variável – o “desencarnado” – cuja ocorrência ainda não foi suficientemente demonstrada em termos científicos, e a qual não sabemos sequer como controlar de fato. Ora, o “espírito” não constitui um agente já identificado e do qual conhecemos o bastante para sobre ele exercer algum controle experimental; “ele” é justamente aquilo que desejamos saber se existe! Há inclusive controvérsias na literatura quanto ao “quê” realmente sobrevive: se a nossa “personalidade” cotidiana ou algum tipo vago e incerto de “campo” compartilhado de consciência (Storm & Thalbourne, 2006; Tart, 1992). Para Moreira-Almeida (2007) o falseacionismo popperiano poderia ser invertido de modo a se fazer a pergunta: “há evidências que falseiam a hipótese de que a consciência é gerada pelo cérebro e desaparece com a morte física?”. Mas é importante não se esquecer, também com Popper (1963), que só o que é falseável – e, portanto, empiricamente refutável – pode ser cientificamente acolhido.
Antes de finalizarmos o presente tópico, gostaríamos de salientar que não é nossa intenção desestimular por completo um possível diálogo entre ciência e religião. Devemos nos recordar, não obstante, da metáfora empregada por Machado (2009, p. 21) a respeito das relações entre ciência e espiritualidade:
Cada um desses tipos gerais de saberes são importantes para o ser humano. É possível estabelecer pontes entre esses saberes, no entanto, não se pode perder de vista que, ainda que ligados por pontes que possamos construir, esses saberes estão separados e delimitados pelas águas de um rio que os recorta como ilhas. Podem dialogar, mas não se misturam ao mesmo tempo em que fazem parte de uma única estrutura basal… o fundo desse rio é o ponto de comunicação entre as diferentes ilhas, constituindo a essência humana no que diz respeito à percepção e interpretação da realidade. […] Os diálogos entre eles podem ser feitos basicamente de dois modos: por meio de “saltos pessoais”, ou seja, conclusões subjetivas e particulares sobre suas articulações e complementaridade, ou por meio de investigação cuidadosa e empírica de suas possíveis correlações e similaridades.
Citamos aqui, de passagem, como um modelo de diálogo construtivo, o conhecido trabalho de Jung (1944/1990) sobre a alquimia. Conquanto tenha se inspirado nessa última para explicar ou formular determinados conceitos psicológicos, a exemplo do conceito de individuação, Jung em nenhum momento atesta a veracidade da empresa alquímica, como se acreditasse na possibilidade concreta de encontrar a “pedra filosofal”.
2) A SUPERFICIALIDADE PSICOLÓGICA
Se nas investigações mais recentes da mediunidade persiste o interesse em verificar a hipótese da sobrevivência, bem como outras eventuais habilidades paranormais dos médiuns, isto se dá em maior ou menor detrimento aos aspectos propriamente psicológicos do fenômeno, fato igualmente frisado por Roxburgh (2007). Aquilo que se denomina de ‘psicologia’ da mediunidade geralmente aparece, nessas investigações, ou como exploração de aspectos fenomenológicos e psicopatológicos dessas experiências, ou como um recurso de elucidação das possíveis distinções entre o que seria de base paranormal e o que seria de base individual. Como acertadamente assinalou Braude (2003, p. xiii): “[…] a maior parte da literatura sobre sobrevivência é indesculpavelmente superficial em termos psicológicos”. Isso inclui parcial desconsideração dos possíveis fatores, necessidades e motivações inconscientes por trás dessas experiências – independentemente ou não de antecedentes patológicos.
Sobre esse ponto, Gauld (1982/1995, p. 162) contra-argumenta que: “[…] estas proposições sobre acontecimentos no inconsciente são tão inverificáveis quanto histórias sobre o outro lado de nenhures, parecendo-me o tipo de especulação estéril com que […] deveríamos evitar nos enredar”. Mas se tomarmos como exemplos o caso Hélène Smith ou o caso S.W, estudados respectivamente por Flournoy (1900/2008) e Jung (1902/1993), veremos que não é tão difícil demonstrar os processos psicológicos subjacentes a algumas manifestações mediúnicas. Ademais, deve-se recordar que, desde Freud, não se estudam os processos inconscientes per se, mas suas repercussões na subjetividade e no comportamento; tais repercussões são efetivamente verificáveis, embora suas origens sejam frequentemente desconhecidas ao indivíduo. O real perigo não está na postulação de um inconsciente enquanto conceito hipotético, mas na sua antropomorfização. Afora essa última possibilidade, mesmo os psicólogos cognitivos aderem, hoje, à existência de processos inconscientes (cf, por exemplo, Epstein, 1994). Deveria ser dito, por outro lado, que ao negarem o inconsciente, os sobrevivencialistas agem mais ou menos como alguém que desavisadamente pisasse no próprio pé, visto que muitas das hipóteses que defendem recorrem a conceitos e associações semelhantes, tal como o self subliminar de Myers (1903/2001), os vários níveis e matrizes do inconsciente humano para Grof (2000), ou o conceito espírita de “animismo” (Bozanno, 1938/1982).
De qualquer modo, independentemente da querela sobre processos inconscientes, o mais importante a se considerar é que os estudos da sobrevivência geralmente negligenciam uma análise aprofundada da história de vida dos médiuns, sua vida familiar, seus relacionamentos amorosos e sexuais, suas relações sociais, sua vida íntima etc. E as informações levantadas, quando disponíveis, são, com frequência, insuficientes para uma avaliação psicológica mais acurada. Ainda de acordo com Braude (2003, p. 25): “nós precisamos reconhecer que essas pessoas são seres humanos típicos, apesar da singularidade de suas experiências”. Praticamente o mesmo poderia ser dito das investigações com crianças que afirmam se lembrar de vidas passadas. A maioria desses estudos, conduzidos pelo grande parapsicólogo Ian Stevenson ou seus colaboradores na Universidade de Virginia, voltaram-se muito mais para os aspectos ontológicos dos casos. Com isso, acabamos perdendo de vista uma elucidação mais sensível à psicodinâmica familiar e, consequentemente, a determinadas facetas da vida psíquica da criança. Schouten & Stevenson (1998) acreditavam que determinados argumentos geográficos e sócio-culturais não dariam conta da evidência obtida em alguns casos, especialmente aqueles ocorridos em países onde a crença na reencarnação não é tão difundida. Mas há muitos outros aspectos a serem analisados antes de se descartar fatores de ordem psicossocial. É preciso investigar com profundidade quais as potenciais motivações infantis, parentais, familiares ou comunitárias – manifestas ou latentes – envolvidas na deflagração desses relatos, independentemente do grau de aceitação dessas crenças. Isso talvez não invalidasse o caráter paranormal de certas informações, comportamentos ou marcas de nascença apresentados pelas crianças; mas poderia eventualmente sustentar a hipótese de super-psi ou diminuir o peso de parte da evidência encontrada. Ademais, um argumento meramente geográfico já não se sustenta sozinho para casos mais recentes, considerando-se o processo de globalização como um intenso difusor de crenças e práticas culturais em praticamente todo o mundo.
O fato é que, ao nos aprofundarmos na dimensão psicodinâmica e psicossocial desses casos, podemos encontrar associações entre os nossos achados e as manifestações mediúnicas e reencarnacionista que desabonem ou diminuam consideravelmente a inteligibilidade da sobrevivência. Nas palavras de Alvarado (2002b, p. 119), por nós compartilhadas: Minha impressão é que alguns [pesquisadores] interessaram-se em sobrevivência da morte ou em conceitualizar fenômenos psíquicos como manifestações que apontam para aspectos não-físicos ou espirituais dos seres humanos; não estão geralmente interessados em demonstrar como os casos se relacionam aos aspectos do mundo natural. Sentem que é mais importante sustentar a sobrevivência, a espiritualidade, ou coisa semelhante, por causa das implicações desses conceitos sobre a natureza dos seres humanos. Talvez aqueles que vêem o estudo dos fenômenos espontâneos, dessa forma, não querem o tema associado a correlações mundanas físicas, biológicas, e psicológicas, porque tais correlações enfraquecem as visões mais espirituais que eles preferem.
3) O DESAFIO DA SUPER-PSI
De há muito são conhecidos na literatura mediúnica os relatos de comunicações dos vivos, ao invés dos mortos, como o famoso caso Gordon Davis (Soal, 1925) – em Flournoy (1911/2007) também é possível encontrar vários exemplos. Em alguns desses casos, as informações transmitidas e os comportamentos representados pelo(a) médium correspondiam adequadamente à pessoa em questão, apesar de, na verdade, ela se encontrar viva. Também há ‘sensitivos’ – como os investigados por Osty (1923) – os quais, embora não se considerem médiuns, no sentido de intermediarem algum tipo de comunicação dos mortos, teriam sido capazes, não obstante, de relatarem dados verídicos sobre pessoas falecidas, semelhantemente ao que alguns médiuns fazem. Por sua vez, alguns dos mais surpreendentes casos de mediunidade registrados na pesquisa psíquica, como os das senhoras Leonora Piper e Gladys Osborne Leonard, apresentaram também evidências que seriam mais consistentes com a hipótese de percepção extra-sensorial do que com a hipótese da sobrevivência (Gauld, 1982/1995). Tais achados são exemplificativos da ideia de que as experiências mediúnicas, quando bem sucedidas, poderiam ser explicadas mais como resultantes de processos telepáticos, clarividentes ou precognitivos, do que pela suposta intervenção de um espírito. Essa hipótese é tão mais tentadora quanto mais se avolumam as evidências em favor dos fenômenos extra-sensoriais. A manifestação de uma personalidade “desencarnada”, mais ou menos realista e duradoura, dependeria não tanto da sua efetiva presença, mas da maior ou menor capacidade do médium em inconscientemente personificar alguém a partir das informações paranormais que obteve e das fontes de sua própria fantasia e criatividade latentes. Algo nesse sentido é sugerido pela literatura sobre a psicogênese dos ‘espíritos guias’ ou ‘controles’ – como são geralmente chamados nessas pesquisas (Carrington, 1934, 1935, 1936; Leshan, 1994; Williams & Roll, 2007). Alguns autores, no entanto, acreditam que essa hipótese parece requerer um funcionamento psi muito acima do que as pesquisas experimentais têm demonstrado ser possível, daí o emprego da expressão “super-psi” (Gauld, 1982/1995; Hart, 1959). Braude (2003) sustenta, no entanto, que não seria imprescindível assumir uma ESP de elevadas magnitudes se considerarmos que grandes efeitos podem ter por origem ações ou causas significativamente menores. Ele menciona o hipotético exemplo de um avião derrubado mediante ação psicocinética; talvez a única coisa necessária fosse direcionar a atenção para uma pequena peça chave de seu funcionamento, para daí provocar um enorme estrago. Além disso, não parece haver um consenso estabelecido quanto ao sentido do termo super: “Obviamente, não há escala modelo para determinar quando alguma coisa, muitos menos um evento psi, conta como super. O que é super para uma pessoa, pode não ser para outra” (p. 12). Braude acredita que, embora as evidências experimentais nem sempre corroborem um funcionamento psi da mesma constância e intensidade que em certas demonstrações de mediunidade, as evidências provenientes de casos espontâneos de ESP poderia ocasionalmente sustentar um funcionamento psi maior do que o observado no laboratório – cf, por exemplo, Rhine (1966). Sudduth (2009) menciona ainda que a hipótese da sobrevivência talvez requeira algum tipo de ESP ou PK pelos supostos desencarnados de modo a atuarem mediunicamente; refutar a super-psi equivaleria, nesse sentido, a refutar, em parte, a própria sobrevivência. Acreditamos também que os recentes experimentos de consciência global revisados por Radin (2008) fornecem algum suporte para a hipótese de super-psi. Se o entrelaçamento quântico for uma teoria viável, e se todos estivermos então entrelaçados uns aos outros e ao resto do universo, parece razoável supor que, tendo acesso a essa consciência mais ampla, pudéssemos obter informações sobre pessoas ou eventos distantes, no tempo ou no espaço; e, nesse caso, quer de pessoas vivas ou mortas – incluindo-se mesmo os chamados comunicadores “drop-in”. Se for certo que esses experimentos nem sempre sugerem uma ilimitada ação espacial para psi, eles sustentam outrotanto, uma ação muito maior do que a observada no laboratório. Lembramos aqui que se trata de mera especulação, e que tal argumento merece uma crítica não menos rigorosa à que fizemos das divagações sobre um mundo espiritual; fora isso, ele possui algum embasamento empírico e conceitual.
De qualquer maneira, se psi existe, o fato é que ainda não sabemos muito sobre como funciona, qual a sua natureza ou o papel que desempenha na vida. Os pesquisadores da sobrevivência tendem a supor que a evidência disponível sobre psi é suficiente para diferenciá-la dos dados que conseguiram, quando este não parece ser o caso. Conhecemos alguns fatores psi-condutivos, algumas variáveis de personalidade associadas a melhores desempenhos
4) O DECLÍNIO DOS FENÔMENOS PARANORMAIS MAIORES
Para o seu discurso presidencial à Sociedade de Pesquisas Psíquicas, em 1989, Ian Stevenson preparou um interessante artigo intitulado Thoughts on the decline of major paranormal phenomena. Nesse texto, ele expressava sua preocupação com a dificuldade de um reconhecimento mais amplo da Parapsicologia por parte da comunidade científico-acadêmica. Stevenson levanta a suposição de que um dos principais motivos disso talvez fosse o fato de os parapsicólogos terem deixado de estudar fenômenos paranormais maiores, isto é, “fenômenos detectáveis pelos sentidos apenas, sem a necessidade de estatística” para sua demonstração, a exemplo da mediunidade de efeitos físicos ou da materialização de espíritos. Stevenson parecia acreditar que um retorno a esse tipo de investigações poderia conduzir, ao contrário do que geralmente se pensa, a uma mais ampla resposta por parte de cientistas advindos de outras áreas, dadas as potenciais repercussões de alguns desses fenômenos na vida humana.
Independentemente da plausibilidade desse argumento, o artigo de Stevenson nos é interessante sob outro aspecto: por que determinados fenômenos que, na aurora da pesquisa psíquica, desempenharam um papel tão significativo na pesquisa da sobrevivência, parecem ter desaparecido, ou, no mínimo, declinado a tão ínfima frequência? – cf., por exemplo, Krippner et al. (1996). Seriam esses fenômenos fraudulentos, e por isso, facilmente reproduzíveis num período em que a tecnologia não havia desenvolvido tanto quanto hoje? Há evidências de que muitos dos fenômenos paranormais maiores decorriam de fraudes (Carrington, 1920), embora não se possa dizer isso de todos eles. Muitos dos controles experimentais utilizados estavam também longe de corresponder, minimamente, às exigências metodológicas atuais (Ferreira, 2004). Alguns desses fenômenos, não obstante, poderiam parecer inexplicáveis mesmo para os padrões científicos e tecnológicos mais recentes, caso viéssemos a admitir alguma veracidade nas alegações feitas. O fato é que não mais podemos nos valer apenas dos relatos retrospectivos de eventos que se deram há mais de um século. Se esses fenômenos existem e são parte da natureza, por que não se consegue mais encontrá-los ou replicá-los do mesmo modo? Essa inegável constatação, na história da Pesquisa Psíquica, pesara contra a hipótese da sobrevivência.
Stevenson (1989) levantou aquelas que considerava como algumas das possíveis causas desse declínio: a) o fato de os experimentos com fenômenos maiores terem sido financeiramente mais custosos, na época, do que os testes com cartões de múltipla escolha; b) o medo de psi; c) o desinteresse nesses fenômenos. Mas Stevenson não parecia acreditar muito em nenhuma dessas explicações isoladas, e por isso, sugerira algumas outras: d) mudanças nas nossas atitudes e maneiras de viver e e) a expansão do materialismo monista. Ele acreditava que a nossa sociedade contemporânea tinha se tornado mais “egoísta”, decorrendo daí um menor interesse das pessoas em se comunicarem com parentes ou amigos falecidos, já que os laços afetivos seriam menos estreitos e, consequentemente, mais difícil o processo de comunicação. Stevenson também pensava que a visão de mundo materialista serviria de empecilho à ocorrência dessas anomalias, uma vez que, na sua concepção, o binômio crença-descrença constituiria fator preponderante na deflagração de fenômenos desse porte. Conquanto o autor tenha apresentado estudos e evidências em favor de suas hipóteses, não temos conhecimento de pesquisas posteriores dispostas a testar e investigar mais aprofundadamente essas idéias. Utilizar-se do termo “egoísta” para definir complexas interações sociais não nos parece muito adequado de um ponto de vista sociológico ou psicossocial. De qualquer forma, acreditamos que as idéias de Stevenson merecem algum estudo, e caberá aos pesquisadores da sobrevivência lidarem com a questão primordial do declínio dos fenômenos paranormais maiores, tão essenciais nos primeiros idos da Society. Afinal, caso fosse possível novamente reproduzi-los, isso talvez desse novo fôlego à pesquisa da sobrevivência… ou ao menos servisse na elucidação de uma faceta relevante da condição e da história humanas.
5) O CONCEITO DE IDENTIDADE
Como bem observou Braude (2003, 2005) a pesquisa da sobrevivência está profundamente relacionada, em última instância, com a maneira pela qual avaliamos as pessoas. Como seria possível identificar alguém depois da morte, por meio de um(a) médium? Braude acredita que o nosso “critério cotidiano e pré-analítico para identificar pessoas” (2003, p.4) bastaria por si só; se somos capazes de reconhecer familiares, amigos ou colegas, muitas vezes após anos, mesmo sem contato físico direto – como pelo telefone – então é porque nossos critérios cotidianos são suficientes, apesar de todos os problemas metafísicos implicados na questão da identidade. Alguns sobrevivencialistas são apenas um pouco mais rigorosos como Gauld (1982/1995, p. 40):
[…] se, por exemplo, fosse necessário identificar uma pessoa, cujo corpo não fosse possível ver, conversando com ela numa linha telefônica ruidosa, não se poderia identificá-la, a menos que sua conversação exibisse características distintas – a menos que, por exemplo, pudesse lembrar de certas coisas que ela devia ser capaz de lembrar se fosse a pessoa que alega ser (as memórias individuais devem ser ainda mais específicas que as impressões digitais); e a menos que exibisse certos motivos e propósitos, habilidades e características de personalidade sabidamente dela, e assim por diante. Analogamente, evidência desta espécie é, no mínimo, uma evidência sem a qual alguém não teria base nenhuma para supor que alguns seres humanos, de algum modo, podem sobreviver à dissolução de seus corpos.
Muito embora os critérios elencados acima sejam, do ponto de vista do senso-comum, úteis e razoáveis em nossas tentativas diárias de reconhecimento das identidades alheias – e, muito provavelmente, de nossas próprias identidades – não nos parecem suficientes, contudo, em um contexto científico. Trata-se de um problema circular, o qual remete à pergunta “o quê sobrevive?” e ao mesmo tempo à questão “o que é, de fato, uma pessoa?”. A hipótese da sobrevivência parece supor (ou exigir) uma significativa consistência e estabilidade para a identidade pessoal, caracteres esses nem sempre confirmados pelas investigações psicológicas. Nesse sentido, é ingênua a noção de identidade contida nesses estudos, porque, segundo os dados das pesquisas sobre identidade:
a) a identidade parece ser mais um processo do que uma coisa. Sabemos que a identidade modifica-se ao longo do tempo, por vezes drasticamente, e de modo irreconhecível frente a circunstâncias anteriores, inclusive valores, crenças e estilos de comportamento – ainda que determinadas facetas ou características possam permanecer atuantes num nível estrutural. A identidade, porém, não se explicaria apenas por essa estrutura; ela parece depender da inter-relação entre suas várias dimensões. Mesmo certos testes de personalidade, como o famoso teste das manchas (Rorschach) pode apresentar resultados diferentes, para uma mesma pessoa, em diferentes épocas da vida. Ainda que certas tendências ou padrões apareçam de forma mais ou menos recorrente, de um modo geral, não podemos dizer que se trata da mesma pessoa que havia anteriormente.
b) Tart (1992) nos lembra que uma parte importante das funções psicológicas implicadas na formação da identidade e de nossas experiências conscientes é alimentada por processos de estabilização neurofisiológica que se perderiam com a dissolução do corpo. A menos que se deseje conferir alguma inteligibilidade à crença num segundo “veículo” corpóreo para a mente – um “corpo astral” ou coisa que o valha – não se saberia como dar conta desses processos perdidos. O fato, no entanto, é que as evidências para esse segundo corpo são altamente questionáveis (Alvarado, 2000; Blackmore, 1988) e sua consideração, no atual momento das pesquisas, talvez levasse a um novo enredamento em especulações metafísicas inverificáveis.
c) a identidade é complexa e dinâmica, sendo determinada tanto por fatores conscientes quanto inconscientes, os mais variados. Geralmente, o que se considera nas pesquisas da sobrevivência, são alguns traços, características ou lembranças da personalidade consciente, e não de possíveis tendências desconhecidas do indivíduo e dos outros à sua volta, as quais igualmente comporiam sua personalidade total;
d) disso decorre que essas pesquisas parecem confiar muito na capacidade que parentes e outros conhecidos tem de reconhecer aquele indivíduo, ou em documentos e anotações do próprio indivíduo, o que é algo relativamente questionável em termos psicológicos, pois sabemos o quanto as pessoas podem se surpreender e se enganar umas com as outras e consigo próprias;
e) sabemos que a personalidade pode se dissociar em várias personalidades diferentes – como é o caso do Transtorno Dissociativo de Identidade – e que em circunstâncias como os sonhos, frequentemente visualizamos atitudes ou sentimentos que não imaginaríamos apresentar em estado ordinário. Esses exemplos contestam a consistência identitária exigida pela sobrevivência, e contestam ainda a capacidade de identificarmos um indivíduo com base apenas em lembranças ou traços corriqueiros, conscientemente disponíveis;
f) os indivíduos podem diferir quanto ao grau de estabilidade identitária. Uns podem ser mais rígidos, e outros mais abertos à experiência; alguns teriam personalidades mais consistentes, outros, mais frágeis, pouco integradas. Certos doentes mentais padecem inclusive de grave fragmentação identitária. Sabemos também que algumas pessoas são mais susceptíveis a sugestões externas ou ao estado hipnótico, ocasião em que podem apresentar comportamentos ou atitudes destoantes com seu padrão usual de identidade.
g) as teorias psicossociais da identidade sugerem que ela se forma a partir das relações com os outros, num processo de aceitação e recusa de referenciais coletivos. A identidade parece depender fundamentalmente dessas relações para a sua constante manutenção e desenvolvimento. O indivíduo não existe isoladamente à semelhança de uma mônada. A identidade depende de um contexto. (Cf., por exemplo, Bauman, 2005, 2007; Ciampa, 1987, 1994; Goffman, 1959/1990; 1963/1986; Mead, 1934/1967; Sarbin, 1954; Scheibe, 1995).
O que se percebe é que há uma incoerência entre a noção mais ingênua e estável de identidade, comumente empregada na pesquisa da sobrevivência, e aquilo que os psicólogos em geral conhecem sobre a formação da identidade. Talvez, a pesquisa da sobrevivência precise refinar sua noção de pessoa. Ainda que as evidências continuem apontando a possibilidade de que alguns médiuns adequadamente reproduzam, de forma anômala, comportamentos ou lembranças aparentemente pertencentes a uma pessoa falecida, sem que as contradições apontadas acima sejam resolvidas, a pesquisa da sobrevivência não conseguirá dar o passo seguinte para desvendar o quê realmente sobrevive e como. E isso implica que nós venhamos a conhecer mais sobre como avaliar e definir pessoas; ou, quem sabe, rever completamente a noção cotidiana e usual que fazemos de nossas identidades. Trata-se de um problema delicado, difícil, que novamente toca as raias da metafísica. Lembramos que essa é uma questão que nos parece ir muito além até mesmo da querela sobre a relação mente-corpo, visto que ela depende da resposta para a pergunta: “seja a consciência independente do cérebro ou não, o que é ser um indivíduo?”.
6) OS POTENCIAIS HUMANOS
A vasta literatura psicológica sobre os estados alterados de consciência atesta que, sob determinadas condições, algumas pessoas podem apresentar capacidades latentes que em muito ultrapassam seu estado habitual de consciência (Braude, 2002, 2003; Facioli, 2006; Flournoy, 1900/2008; Krippner, 1988; Tart, 2000). Nesses momentos, elas tendem a produzir ou realizar coisas que se consideram incapazes de fazer habitualmente, podendo ocorrer a emergência de talentos e outras faculdades anteriormente desconhecidas (ou mesmo um incremento de capacidades já desenvolvidas). A irrupção de tais conteúdos latentes seria uma expressão de aspectos da própria vida inconsciente do indivíduo, não acessados previamente em decorrência de diversos imprevistos biográficos e determinações pessoais, familiares, sociais, etc. Sendo assim, é bem possível que um médium psicógrafo, em estado de transe, reproduza assinaturas ou imite estilos de autores já falecidos com uma grande fluência, embora sinceramente não o faça de modo premeditado. Desde os primórdios da pesquisa psíquica que a mediunidade, bem como outras experiências dissociativas em que estão presentes elementos de criatividade, são estudadas como potencialmente relevantes à sobrevivência. Myers (1903/2001), em sua monumental obra Human Personality and Its Survival of Bodily Death, já preconizava essa associação, ao incluir, dentre as experiências revisadas em seu livro, a da genialidade.
Mas as diversas pesquisas sobre os potenciais humanos relacionados a estados dissociativos, mostram-nos ainda que, quanto mais desvendamos essas capacidades, mais elas parecem aumentar o arsenal de possibilidades adaptativas disponíveis ao ser humano. A partir daí, torna-se muitas vezes difícil distinguir o que poderia ser tido como “paranormal”, no sentido de ultrapassar o que se conhece cientificamente sobre os nossos potenciais, e o que poderia ser tido como “normal”, ou correspondendo às fronteiras já estabelecidas. Citando uma vez mais o eminente filósofo Stephen Braude (2003, p. 18): “tais casos nos recordam primariamente do quão pouco sabemos sobre vários aspectos da natureza humana”. Nesse processo, aquilo que é definido como “normal” ou como “paranormal” dependerá de categorias, por vezes, hesitantes, envoltas em crenças ou concepções populares sobre os alegados limites do humano.
Um exemplo mais próximo dos leitores brasileiros é o do médium Chico Xavier. Considerado popularmente como o maior médium brasileiro – e, para alguns, talvez, o maior do mundo – Xavier foi marcado por uma trajetória de caridade e devoção à doutrina espírita. Em torno dele, ergueu-se toda uma aura de mito e adoração. Autor de diversas obras psicografadas, atribuídas a grandes poetas e pensadores mortos, Xavier foi tido, por muitos anos, como exímio paranormal. Caroli (2001, 2008) parece ter conseguido mostrar que o talento do médium não se devia a mero pastiche, chamando assim atenção para certas similitudes observadas entre suas psicografias e o estilo literário dos autores a quem o médium dizia intermediar. Evidências mais recentes, no entanto, tendem a questionar, em parte, suas alegadas habilidades mediúnicas. Limitar-nos-emos aqui a alguns dos achados etnográficos de Fernandes (2008). A autora nos traz em seu livro uma série de indícios de que, contrariamente à imagem propalada pelo público, Xavier era homem bastante estudioso e inteligente e, portanto, capaz, em muitos aspectos, de elaborar por si só boa parte das produções que atribuíra aos espíritos. Ao consultar um dos vendedores de um sebo frequentado por Chico, Fernandes descobre que dentre as preferências de leitura do médium estavam “aforismos, pensamentos, biografias, antologias. De sua última aquisição na livraria, lembrou-se de uma obra em francês a respeito de George Sand, cujo título não lhe veio à memória para me dizer” (p. 21). Um médium amigo de Chico também relatara que “Chico, ao contrário dele, era um grande estudioso” (p. 23). A biblioteca do médium, quando ainda morava na cidade de Pedro Leopoldo, teria em torno de uns “quatrocentos volumes” (p. 59), incluindo almanaques, livros de história, literatura, e revistas em idioma estrangeiro. O próprio Chico admitira que “sempre tive o mais pronunciado pendor para a literatura; constantemente a melhor boa vontade animou-me para o estudo” (p. 145). Embora na escola tenha aprendido apenas alguns esparsos rudimentos de ciência, “é verdade que, em casa, sempre estudei o que pude” (p. 146). Além dos livros que eventualmente conseguia, o médium gostava de confeccionar cadernos com colagens a partir de recortes de jornais e revistas. Num antigo caderno encontrado pela pesquisadora, ele reuniu “cerca de 200 nomes; entre eles, jornalistas, poetas, escritores de literatura […] artistas plásticos e ilustradores […] tanto escritores brasileiros como também de outras nacionalidades: franceses, alemães, portugueses, ingleses, etc.” (p. 151).
Não esperamos que essa rápida revisão de algumas poucas evidências seja suficiente para desconsiderar uma possível explicação paranormal das obras de Chico – cf. também os achados mais informais de Moura (2010). Contudo, ela serve ao menos como exemplificação preliminar – e como incentivo para mais pesquisas – de que muitas habilidades consideradas condizentes com a hipótese da sobrevivência, porventura sejam melhor explicadas como decorrentes de talentos e capacidades oriundas do próprio indivíduo. O caso do médium pintor Jaques Andrade (Maraldi, 2010) dá-nos também algum suporte para essa visão. Em Braude (1992) é possível obter uma mais extensa análise da questão sobre a psi e a natureza das habilidades humanas. Tais considerações implicam, novamente, que antes de atribuirmos a um médium a capacidade de se comunicar com (ou sevir de instrumento a) um mundo transcendente, devemos investigar melhor suas próprias potencialidades e talentos. À pergunta levantada anteriormente: “o que é ser um indivíduo?” adicionamos outra: “e do que somos capazes?”. Certamente que uma resposta definitiva para essas questões pode ser científicamente imperscrutável, até certo ponto, mas elas nos colocam alertas quanto à apressada tendência a buscar num mundo invisível aquilo que pertenceria a nós mesmos.
CONCLUSÃO
Segundo uma pesquisa de opinião norte-americana, mais de 30% da população afirmou acreditar na existência de habilidades mediúnicas genuínas (Newport & Strausberg, 2001). Lewgoy (2008) também aponta, nesse sentido, para a grande expansão recente do Espiritismo kardecista em território estadunidense. Em outro estudo, constatou-se que aproximadamente 10% dos britânicos visitam médiuns regularmente, seja em busca de mensagens de familiares ou amigos falecidos, seja para obter algum tipo de aconselhamento quanto a questões de sua vida pessoal (Roe, 1998). Essas pesquisas nos sugerem que o interesse pelo tema da sobrevivência continua a desempenhar um significativo papel na vida de muitas pessoas.
A procura de uma resposta para a dúvida existencial quanto à efetiva sobrevivência do ser humano após a morte tem guiado, ao longo dos séculos, importantes realizações em dimensões da cultura as mais diversificadas: religiosas, filosóficas, artísticas e científicas. Isto não é diferente para o campo da Parapsicologia (Alvarado, 2003). É não só possível como bastante provável que essa temática continuará inquietando o ser humano rumo a realizações futuras, por um período de tempo ainda impossível de se prever. Longe estamos nós, portanto, de acreditar que nossas breves elucubrações poderiam diminuir, de algum modo, a força e importância dessa crença na vida de tantas pessoas. Desejamos tão somente que nossas críticas e recomendações sirvam, de algum modo, aos pesquisadores da sobrevivência, como reflexões metodológicas possivelmente úteis na tentativa heroica de solucionar, cientificamente, um complexo problema humano, talvez o maior dentre eles, qual seja, o de saber quem somos e se continuaremos existindo além túmulo.
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outubro 7th, 2012 às 7:36 PM
Estou começando a realmente acreditar que a ciência está mudando seus paradigmas. E o fim do materialismo também é visível. Espero nao estar falando bobagem.
outubro 8th, 2012 às 10:57 AM
Marcos, não se apresse muito… Antes de entusiasmar-se, dê uma olhada no perfil dos autores deste artigo. São estudiosos de assuntos místicos (parapsicologia, espiritismo, mediunidade, fenômenos poltergeist, transcomunicação instrumental, etc). Acho recomendável uma certa cautela antes de classificá-los como cientistas stricto sensu.
outubro 8th, 2012 às 11:24 AM
Oi, Antonio
na minha opinião, dizer que tais pesquisadores não são cientistas por se dedicarem ao estudo de fenômenos anômalos é o mesmo que dizer que Richard Wiseman ou Susan Blackmore não são cientistas também. Tais pesquisadores usam de metodologia científica e possuem diversos artigos publicados em revistas científicas.
outubro 8th, 2012 às 11:54 AM
Não vou entrar no mérito das pesquisas, mesmo porque não tenho gabarito para isso. Mas pelo que pude notar, a ciência está pretendendo dar um enfoque sobre essa questão diferente do que se conhece, como as especulações espíritas. Isso para mim é um avanço, porque tira do espiritismo a pretensão de científico. Mas como bom cético, vou aguardar os acontecimentos. Bom texto.
outubro 8th, 2012 às 12:50 PM
Mantenho o que disse, alertando que é recomendável um pouco de cautela. Eu tampouco tenho gabarito para discutir o teor das pesquisas e também não conheço as publicações em revistas científicas dos autores do artigo. Então, não seria honesto fazer qualquer afirmação sobre elas. Mas tenho “um pé atrás” com estes temas. Não soam ao meu ouvido como ciência. Parecem-se mais com crença. O Emerson Maraldi, por exemplo, é palestrante espírita. E eu acho que espiritismo e ciência são coisas muito incompatíveis. Só isso.
.
Sds.
outubro 8th, 2012 às 12:55 PM
Errei. O nome é Everton Maraldi, e não Emerson.
outubro 8th, 2012 às 1:14 PM
Antônio, numa boa, isso é preconceito. O que define uma área de estudo como científica é o grau de aplicação do método científico: formulação de hipóteses, experimento, resultados. Além disso, o que é de domínio científico poderá ser replicado por outros grupos e sujeito à análise de pares. Bem simples e sem maiores complicações.
.
É importante ainda lembrar que o processo é dinâmico: algumas vezes algo que não pode ser submetido ao crivo em uma época poderá ser em outra com o avanço da tecnologia. Concordo com você quando diz que o espiritismo não é ciência, porém duvidar do mérito dos que procuram checar as alegações mediúnicas utilizando o método é desconhecer como a ciência funciona e, portanto, emitir um julgamento que podererá ser injusto.
outubro 8th, 2012 às 1:16 PM
Antonio,
onde você viu que o Everton é palestrante espírita? Posso garantir-lhe que o Everton não é espírita, embora já tenha sido.
outubro 8th, 2012 às 2:02 PM
Carlos e Vitor,
Eu não duvido do mérito da pesquisa. Toda investigação, bem feita, é válida. E não estou julgando o mérito nem o resultado. Apenas acho que é preciso ter cautela quanto a estes temas. “Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça”. rsrsrs
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Falando do Everton Maraldi (que não conheço pessoalmente), parece que deixou mesmo de fazer palestras espíritas, mas seu trabalho orbita bastante nesta temática. Se não é mais espírita, é um interessado no assunto. Isto parece muito claro.
Encontrei na internet a Dissertação de Mestrado na USP do Everton. É um trabalho extenso. Confesso que ainda não li com o devido cuidado. Apenas “corri os olhos”, numa tentativa de leitura dinâmica. Mas destaquei as palavras finais no tópico Conclusões, que são estas: “Terminamos este estudo, convictos de que cavoucamos apenas uns poucos e quase
insignificantes centímetros da imensa quantidade de terra que ainda há de ser retirada para
esclarecer os complexos problemas sugeridos pela temática das crenças e experiências paranormais.
Nossa pesquisa permitiu aprofundar onze casos de médiuns espíritas, e nos deu uma visão detalhada
dos processos biográficos e psicossociais por trás da assunção de suas crenças. Mas não pensamos
ter resolvido a gama de caminhos possíveis para a conversão dos participantes ao Espiritismo.
Muitas de nossas idéias nesse sentido são especulativas, e só tangencialmente recebem alguma
confirmação dos dados. Para melhor acessar tais questões, ser-nos-ia preciso, entre outras coisas,
comparar os padrões de conversão religiosa dos espíritas com adeptos de outras religiões, e mesmo
com grupos de não religiosos. De qualquer forma, nossa contribuição foi dada e poderá ser
aperfeiçoada e verificada com mais rigor pelos que desejarem investigar os mesmos problemas.
Nossos colegas de pesquisa do Inter Psi têm realizado estudos que poderão contribuir com o
suprimento dessas lacunas, expandindo muito mais o horizonte de nossa compreensão sobre essas
crenças. Caberá agora ao leitor avaliar a legitimidade de nossos resultados e conclusões neste trabalho. Afinal, a ciência é um empreendimento socialmente compartilhado, e só assim pode evoluir.”
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Concordo.
outubro 8th, 2012 às 5:10 PM
Ops! Desculpem. Faltou dizer que o tema da dissertação de mestrado referida no post anterior foi: “Metamorfoses do espírito: usos e sentidos das
crenças e experiências paranormais na construção
da identidade de médiuns espíritas”.
link: http://www.febnet.org.br/blog/geral/pesquisas/obras-raras/teste-dissertacoes-1/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=teste-dissertacoes-1
outubro 8th, 2012 às 9:30 PM
Caro Antonio,
Eu não sou espírita, embora já tenha sido. E a perspectiva de pesquisa que sigo, assim como os demais pesquisadores do Inter Psi USP, é uma perspectiva psicológica. Se você ler a minha dissertação com calma, poderá constatar isso. Sim, somos interessados nesses assuntos, mas isso não significa que nossa intenção seja comprovar qualquer coisa a respeito, muito pelo contrário. Tais crenças e experiências são um objeto de estudo científico válido como qualquer outro. O que caracteriza a ciência é o método.
Um abraço.
outubro 8th, 2012 às 11:22 PM
É Antonio, você realmente está sendo desonesto ao colocar a parapsicologia no mesmo patamar que espiritismo e misticismo. O artigo, assim como tantos outros do blog, não te pede pra acreditar em nada. Meu caro, você sabe ao mínimo o que significa fazer ciência? Investigar um fenômeno ou suas alegações não implica tratar-se de misticismo.
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E Everton, você disse tudo, mas parece que para o nosso caro amigo Antonio é mais importante a sua fé materialista do que a possibilidade de sair do enquadramento no qual se enfiou todos estes anos.
outubro 8th, 2012 às 11:27 PM
Vitor, por que não estou conseguindo comentar com links??
outubro 8th, 2012 às 11:29 PM
Vitor, dá uma olhada neste artigo, publicado pela APA:
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Feeling the Future: Experimental Evidence for Anomalous Retroactive Influences on Cognition and Affect
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Fiquei surpreso ao ver que o autor afirma ter encontrado evidências de percepção extrassensorial, e isso ser publicado em uma revista científica de peso, com revisão por pares, o Journal of Personality and Social Psychology, em 2010.
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Se tiver algum comentário a fazer sobre o estudo, ficarei grato.
outubro 9th, 2012 às 12:14 AM
Marcos,
1º . Pode ser menos agressivo? Não precisa chamar o Antonio de desonesto.
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2º. Sua mensagem com link tinha ido parar na pasta de spam.
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3º. Várias das replicações dos experimentos de Bem falharam. Veja essa matéria (em inglês): http://news.discovery.com/human/controversial-esp-study-fails-yet-again-120912.html
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Ou seja, a maior parte das replicações foi negativa. Um resumo do que aconteceu:
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Wiseman, Ritchie e French relatam 3 tentativas fracassadas que fizeram em replicar os estudos de precognição de Bem, além de uma (que também fracassou) por outro experimentador. Houve uma resposta de Bem e uma réplica dos céticos.
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Da minha leitura da discussão, penso que os céticos contra-argumentaram de forma muito satisfatória aos comentários de Bem.
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Na resposta de Bem, ele reclama que os céticos não comentaram que houve duas tentativas bem sucedidas de replicar seus experimentos, contra as 4 tentativas que falharam, e que essa foi uma omissão importante. Diz também que as tentativas de replicação, realizadas em menos de 1 ano depois que ele publicou seu artigo, são pouco para se tentar extrair conclusões sobre a realidade do fenômeno, e cita outro efeito da psicologia, o da “mera exposição”, que levou 20 anos até que fosse feita uma meta-análise que validasse sua existência. Além disso, como os autores eram todos céticos famosos, o “efeito do experimentador” pode ter entrado em jogo, e cita os experimentos de Wiseman com Schlitz em que comprovaram o efeito em 2 dos 3 experimentos.
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Os céticos respondem esses pontos da seguinte forma.
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Quanto à omissão das replicações positivas: tais replicações não foram publicadas em revistas revisadas por pares. Além disso, houve dois outros experimentos que fracassaram em replicar os testes de Bem, e que Bem não menciona também. O resultado desses experimentos foram publicados online. Os autores, assim, se restringiram apenas ao material que foi publicado em revistas revisadas por pares.
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Quanto ao efeito da mera exposição: há diferenças brutais. No efeito da “mera exposição”, os resultados mistos deviam-se a grandes diferenças metodológicas e diferenças no tamanho das amostras, enquanto que os experimentos realizados pelos céticos são réplicas exatas dos experimentos de Bem.
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Quanto ao efeito do experimentador: não está claro como o efeito do experimentador poderia ter entrado em jogo, já que a participação dos experimentadores foi muitíssimo reduzida, com o computador no controle de tudo. Além disso, das 3 replicações, duas foram realizadas pelos assistentes, e não pelos autores em si, assim os participantes nem viram os experimentadores céticos em 2 dos 3 experimentos fracassados. Por fim, sobre os experimentos de Wiseman com Schlitz que comprovariam o efeito do experimentador, o experimento que fracassou foi justamente o que tinha uma qualidade muitíssimo superior à dos outros dois que obtiveram resultados positivos, o que Bem não menciona.
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Cada vez me parece mais que Bem está em “maus lençóis”.
outubro 9th, 2012 às 2:08 AM
Antonio, estou contigo, sempre houve uma parcela de estudiosos de ciência que se interessam por esse tipo de pesquisa, daí a inferir-se que estamos no limiar de uma nova visão da ciência, pior ainda, comprovação científica de sobrevivência da consciência após a morte, vai uma distância muito grande.
Eu, humildemente, e HONESTAMENTE, acho um desperdício de tempo esse tipo de pesquisa.
outubro 9th, 2012 às 8:55 AM
Vitor, obrigado pela consideração.
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Marcos, realmente você não precisa me chamar de desonesto. Acho que não é um termo apropriado. Mas pode chamar-me de equivocado, se assim lhe agradar. De qualquer forma, fique à vontade.
Quanto ao fato de eu “colocar a parapsicologia no mesmo patamar do espiritismo e misticismo”, isso é verdadeiro, no sentido de que não as considero ciências, no sentido estrito. E não estou sozinho neste ponto de vista. Mas não pretendo alongar-me. É uma questão de opinião. E, como eu não sou cientista, a minha opinião está sujeita a todo erro.
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Everton, apreciei muito sua mensagem e a forma cavalheiresca de tratar-me. Entendi a questão da perpectiva psicológica sobre o tema da pesquisa. É bem interessante. E quero dizer-lhe que respeito todo o trabalho de pesquisa honesto, independente de eventuais ideias preconcebidas que eu tenha sobre este ou aquele assunto. Realmente, eu não creio em espíritos, sobrevivência de consciência após a morte, contatos mediúnicos, e coisas afins. Assim como você, eu já fui espírita (durante muitos anos), mas mudei de ideia. E hoje sou cético, com 99,99% de certeza da inexistência destes fenômenos. O que eu tenho dito aqui, e reitero, é que me bastaria uma única evidência concreta para que eu mude novamente de ideia. Sem problema. O que eu disse desde o início de minhas manifestações no post – e novamente reitero – é que acho recomendável um pouco de cautela antes de afirmar que “a ciência está mudando seus paradigmas, e o fim do materialismo também é visível”. Acho um pouco precipitado. E, pelo que eu li, você mesmo, estudioso da matéria, não parece cometer esta imprudência.
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Abraço.
outubro 9th, 2012 às 9:13 AM
Estou postando do celular, logo pode haver alguns erros de acentuação.
Antônio e Marciano.
Respeito a opinião, mas discordo na afirmamtiva de que tal pesquisa e uma perda de tempo. Quando se há alguma curiosidade sobre determinado tema, nada mais prolífico que investiga-lo de forma metodológica. Caso seja verídico, que se aprofundem as investigações. Caso não, que o tema seja sepultado. Para tal, necessita-se de um mínimo de observação controlada. Outra coisa, acho extremamente desconfortável essa institucionalização da ciência. Para temas exóticos a principio, invoca-se a D. Ciência para encerrar as discussões alegando que tal tema não e cientifico. Ora, a ciência, como todo empreendimento humano, e passível de falhas e auto revisão. O conhecimento de agora pode ser uma mentira outrora e vice versa. O que torna a ciência útil e adequada e a utilização do método para aquisição de conhecimento objetivo. Assim, não vejo ferramenta melhor para se averiguar tais temas como o enfoque cientifico.
Ainda, acho um brutal preconceito esse julgamento de que tais temas são ditos místicos. A PES tem sido pesquisada por mais de um século e as investigações sobre alegações de vida depois da morte tem artigos publicados em revistas de alto impacto como o JAMA e o Journal of Nervous and Mental Disease, com elogios as metodologias empregadas. Não defendo a veracidade nem sou espirita, mas julgo que tais pesquisas devem proceder para provar ou refutar em definitivo tais temas de grande interesse humano.
Abraços.
outubro 9th, 2012 às 9:44 AM
Mozart, de uma vez por todas: Eu defendo o direito individual de crença e a curiosidade e esforço em pesquisar o que quer que seja.
O termo “místicos” não é para ser entendido em um sentido pejorativo. Eu o empreguei no sentido de serem temas associados à transcendentalidade, além da lógica, do concreto e do palpável.
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Então, reiterando: Eu respeito qualquer estudo sério e bem intencionado. O que eu não respeito é a mentira e a desonestidade.
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Sds.
outubro 9th, 2012 às 10:55 AM
Ok, entendido.
Abraços.
outubro 9th, 2012 às 11:51 AM
Na ref. (Alvarado, 2003) – leitura obrigatória para quem se interesse pelo tema – encontro, negrito meu:
Rhine – and his colleague and wife Louisa E. Rhine – were deeply influenced by the idea of survival and the movement of Spiritualism, even if he later came to suggest that parapsychology could not deal with the concept scientifically in any meaningful way (e.g., J. B. Rhine, 1974).
Não consegui ler essa ref. Rhine, J. B. (1974) Telepathy and other untestable hypotheses. JP 38, 137-153; para ver o que o Rhine disse efetivamente.
Por enquanto, acho mesmo que a hipótese da sobrevivência de almas, mantendo essas individualidade e consciência, ainda não é testável. A única forma de checar isso por enquanto me parece ser mesmo a alma do falecido dar informações muito particulares sobre fatos/coisas somente conhecidas na intimidade por parentes, colegas, amigos. E isso sempre será considerado pelos terceiros – i.e., as outras pessoas que não as sabedoras desses fatos “secretos” – como evidencia anedótica.
Agora, acho todo estudo válido. Como foi dito, ciência é método, não se devendo a priori excluir como eternamente impossível a investigação metodologicamente séria de nenhum tema.
outubro 9th, 2012 às 12:08 PM
Eu tenho comigo que esse assunto calha muito melhor à filosofia do que à ciência. Sob esse aspecto, lembro-me de uma leitura muito bonita que fiz já há anos, de um dos últimos livros de Norberto Bobbio chamado De Senectute (“da senectude”, ou seja, da velhice), que foge um pouco ao seu rigor metodológico para falar de si, da sua condição de velho (Bobbio morreu com 94 anos), da memória e da perspectiva de outra vida além dessa. Infelizmente li um livro emprestado e não fiquei com ele, portanto estou aqui apelando para a minha declinante memória. Mas o grande filósofo italiano especula que céu o esperaria após a sua morte, já que os homens não se entendem sobre ele. O céu dos cristãos não é o mesmo dos muçulmanos, nem o dos budistas, muito menos o dos céticos. Portanto, fica a grande dúvida sobre o que haveria “do lado de lá”, uma dúvida talvez insolúvel, uma dúvida talvez inexistente, se é que nada exista para além da vida. Por isso mesmo a ciência talvez não tenha uma palavra firme a dizer sobre isso. A filosofia, talvez, sim.
outubro 9th, 2012 às 12:56 PM
Antonio G. – POA Diz:
21 de Maio, 2012 às 17:13
“Ok, ok! Eu me rendo! Não tenho mais argumentos para defender que paranormalidade não existe (assim entendido o termo como evidência inequívoca de fenômenos sobrenaturais, poderes psíquicos ou telepáticos, mediunidade, etc).
Não tenho mesmo como provar que não existe. Mas ainda acho que não existe. rsrsrs”
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Desonesto, significado:
“Aquele(a) que não é íntegro; que mente a si próprio; que se auto-engana e que mente a si e à outrem.”
outubro 9th, 2012 às 1:01 PM
Pois é, Toffo. Penso que jamais teremos um resposta definitiva sobre os mistérios do além da vida. Acho que o ser humano – ou mesmo a forma inteligente que eventualmente venha a sucedê-lo – estará sempre dividido entre o crer e o constatar. E isto é justamente o que nos diferencia dos seres irracionais. Os cães, baratas, bromélias e ornitorrincos não estão nem aí para estas questões. rsrsrs
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Sds.
outubro 9th, 2012 às 1:04 PM
Me desculpem se fui agressivo, mas já expliquei o motivo no comentário acima. Pois é no mínimo estranho que Marciano e Antonio, pessoas que frequentemente estão nas discussões deste blog há tempos, até agora não se dobraram e continuam dando OS MESMOS argumentos do passado que já foram refutados.
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Considero, e já disse isso aqui, que vocês Antonio e Marciano, são pessoas inteligentíssimas, pelo menos têm demonstrado, no entanto, para algumas coisas, têm comportamentos inadequados que beiram ao fanatismo materialista.
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Dizer que este tipo de estudo é bobagem é uma enorme falta de respeito com pesquisadores que dedicam uma vida inteira e anos de pesquisa com estudos da parapsicologia e psicologia anomalística.
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Podem falar o que for, mas dizer que é bobagem é absurdo. Bobagem, meus caros?? É bobagem tentar compreender os fenômenos que intrigam e sempre intrigaram a espécie humana? É besteira investigar relações que podem influenciar na maneira que vemos o homem e como a nossa sociedade se organiza? Bobagem???? Tentar entender se somos meros mortais ou se a mente pode existir sem o cérebro, abrindo espaço para o dualismo como proposta filosófica aceitável? Vocês têm alguma noção de que como essas perguntas alteram profundamente a maneira como enxergamos e lidamos com o homem???
outubro 9th, 2012 às 1:09 PM
Marcos,
Sim, eu escrevi isto. E daí? Você crê que me flagrou sendo desonesto? Sinceramente, não entendi o seu post.
outubro 9th, 2012 às 1:11 PM
Antonio, te explico. O seu comportamento de dizer “não ter mais argumentos para provar que a paranormalidade não existe” no passado e vir agora com os mesmos argumentos é bem estranho…
outubro 9th, 2012 às 1:27 PM
Marcos, você está pessoalizando a coisa. Achei que já tinha esgotado esta discussão quando disse que respeito o direito individual de crença, a curiosidade e o esforço em pesquisar o que quer que seja, desde que de forma honesta.
Quanto à acusação de utilização de termos menos “nobres” como bobagem, besteira, absurdo sim, eu sei que eventualmente cometi esta indelicadeza. Mas foi apenas para dar ênfase a algum ponto de vista. Culpa de minha limitada capacidade de expressão. Mas, acredite, não é nada pessoal.
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Abraço.
outubro 9th, 2012 às 1:32 PM
Bem Marcos, duas coisas:
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1- Não sei a que mesmos argumentos você se refere.
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2- Você não percebeu que a frase que você resgatou de um comentário meu lá de maio era (ou pelo menos eu pretendia que fosse) uma ironia. Novamente, falha minha.
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Sds.
outubro 9th, 2012 às 4:01 PM
Talvez uma resposta possível esteja nisto que o próprio Marcos escreveu: Podem falar o que for, mas dizer que é bobagem é absurdo. Bobagem, meus caros?? É bobagem tentar compreender os fenômenos que intrigam e sempre intrigaram a espécie humana? É besteira investigar relações que podem influenciar na maneira que vemos o homem e como a nossa sociedade se organiza? Bobagem???? Tentar entender se somos meros mortais ou se a mente pode existir sem o cérebro, abrindo espaço para o dualismo como proposta filosófica aceitável? Vocês têm alguma noção de que como essas perguntas alteram profundamente a maneira como enxergamos e lidamos com o homem???
Essas indagações são muito mais da área da filosofia do que da ciência. Vocês poderiam argumentar se filosofia não seria equivalente à ciência, uma vez que ambas tratam de conhecimento objetivo. Mais uma vez a minha periclitante memória me leva às aulas do grande prof. José Arthur Giannotti, quando fiz meu (inconcluso, infelizmente, nunca me conformei) curso de Filosofia na USP. Ele dizia: no começo, a ciência era a filosofia. Os gregos, Sócrates, Aristóteles etc. Quando a ciência começou a dar seus primeiros passos como área do conhecimento independente, ambas caminhavam juntas, mas a relação entre ambas começou a patinar na medida em que a ciência se voltava para o conhecimento do mundo (o fazer) e a filosofia se concentrava no ser. Por isso é que eu acho que a questão da morte, da sobrevivência do espírito tem muito mais a ver com o ser do que com o mundo externo. A ciência poderá obter respostas, mas elas serão sempre incompletas, porque o objeto do estudo lhe escapa (ou não se encaixa completamente). O filósofo lidará com elas mais eficientemente. É como penso.
outubro 9th, 2012 às 4:57 PM
Marcos, obrigado pelo “inteligentíssimo”, assim vou acabar acreditando (rsrsrs). Melhor do que ser chamado de desonesto. Continue assim, fica muito melhor para outros discutirem com você. Mas também não precisa exagerar, por um momento fiquei pensando que você estivesse sendo irônico, logo depois passei a achar que quis apenas ser agradável e redimir-se da gratuita ofensa ao Antonio, pela qual você já se desculpou.
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Quanto ao que você diz sobre eu e Antonio sermos fronteiriços ao fanatismo materialista, acho que equivocou-se. Materialista fanático é necessariamente ignorante e pouco inteligente. Aliás, qualquer fanático. O que eu penso (posso ver que eu e Antonio estamos perfeitamente afinados) é que todas as “evidências” mostradas até agora só convencem quem quer ser convencido. Só isso.
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A ciência pode enganar-se sobre algo, de vez em quando o faz, mas procura sempre a correção. Podemos confiar com absoluta segurança na mecânica celeste newtoniana. Onde for necessário, podemos usar pequenos ajustes, apelando para a física einsteiniana. Podemos calcular rotas de espaçonaves, eclipses solares, ocultações de estrelas ou planetas, com a maior precisão. No dia em que houver evidências desse tipo quanto aos chamados fenômenos paranormais ou espirituais, ficarei convencido (portanto não sou fanático), mas até lá (e nisso discordo de Antonio, que é 99,99% cético), sou 100 menos 10 elevado a menos infinito por cento cético, quanto à hipótese da existência de espíritos e vida após a morte.
Se alguém não souber, 100 menos 10 elevado a menos infinito (não sei colocar os símbolos aqui), é igual a 99, 99999999999999 . . .
Discordo de Antonio por menos de um milésimo de certeza.
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Não fique achando que tenho qualquer tipo de desrespeito só porque acho perda de tempo pesquisar essas coisas. Também acho perda de tempo qualquer pesquisa relacionada a multiversos, universos paralelos, viagem no tempo, coisas que são objeto de pesquisa de muitos renomados físicos. Não há qualquer falta de respeito. Apenas o exercício do direito de ter uma opinião em contrário.
outubro 9th, 2012 às 5:02 PM
Ah, Marcos, não sei se é do seu conhecimento, mas já passou por este blog um indivíduo que afirmava alimentar-se apenas da luz solar. Eu acho perda de tempo qualquer cientista dedicar-se a estudo da possibilidade de tal hipótese (com todo o respeito, claro, é um direito meu ter opinião divergente).
outubro 9th, 2012 às 9:09 PM
Toffo,
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Pensando filosoficamente, ou cinicamente se preferir, a questão da sobrevivência também pode ser considerada completamente inútil… Vamos ser pragmáticos, ela será respondida (ou não!) a todos mais dia menos dia. E se não há nada depois, preocupar-se agora é um completo non sense visto que, nesse caso, jamais saberemos a resposta mesmo: mas isso também não terá a menor importância.
outubro 9th, 2012 às 9:46 PM
Se eu achasse inúteis os estudos sobre fenômenos tidos como “paranormais” com certeza não viria aqui dar uma lida.
Ora, o só fato de vocês aparecerem aqui e comentarem é sinal mais do que evidente de que o tema é de interesse, sim.
outubro 10th, 2012 às 1:50 AM
Tem razão, Carlos, além do mais, o cinismo foi uma corrente filosófica.
outubro 10th, 2012 às 2:24 AM
Aliás, o pragmatismo também.
Viva Antístenes e Diógenes.
Outro viva para Peirce.
outubro 10th, 2012 às 2:59 AM
André, eu venho aqui aprender com os outros, aprendi muitas verdades sobre cx que eu ignorava completamente, ajudou muito a entender o (mau) caráter do mineirinho.
outubro 10th, 2012 às 10:15 AM
Bem, na verdade pode-se perguntar: que utilidade tem saber se a alma sobrevive ao corpo ou não? Isso torna a vida presente melhor? Torna as pessoas melhores? Torna a sociedade melhor? Saber-se que existem espíritos não muda um milímetro o curso da vida humana, porque é aqui na Terra que as coisas se decidem. Não é no além-túmulo.
outubro 10th, 2012 às 10:42 AM
Oi, Toffo
o que não faltam são exemplos de médiuns e psíquicos ajudando a polícia a solucionar crimes. No próprio artigo passado da psíquica/médium talentosa chamada Lina ela acertou 5 vezes seguidas o que tinha acontecido com as vítimas. Aceitando-se a existência de vida após a morte, buscar ajuda através de tais pessoas dotadas poderia se espalhar e aumentar o percentual de crimes solucionados.
outubro 10th, 2012 às 11:11 AM
Comentando:
“Aceitando-se a existência de vida após a morte, buscar ajuda através de tais pessoas dotadas poderia se espalhar e aumentar o percentual de crimes solucionados.”
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Ou não! Lembro o absurdo de um juiz que aceitou como prova uma mensagem psicografada inocentando o réu. A justiça é cega, e nesses casos talvez fosse melhor deixar que ela continue cega!
outubro 10th, 2012 às 12:14 PM
Não sei…
outubro 10th, 2012 às 3:07 PM
Estou indo viajar, volto domingo. Comportem-se… 😀
outubro 10th, 2012 às 3:24 PM
Vitor, com a incompetência da polícia brasileira, especialmente a polícia técnica, seria uma boa opção apelarmos para os videntes, psychics, etc. Pior não poderiam fazer. Imagine, por comparação, um remédio inócuo para o tratamento de determinada enfermidade, cheio de efeitos colaterais terríveis.
Melhor apelar para a homeopatia, não tem efetividade nenhuma, mas pelo menos não tem efeitos colaterais.
outubro 10th, 2012 às 4:10 PM
Eu não conheço detalhes destes casos em que médiuns e afins ajudaram a solucionar mistérios policiais. Realmente, não sei o quanto existe de real e de fantasioso nestas histórias. E, também desconhecendo pormenores, sei de casos em que foram aceitos testemunhos de espíritos em julgamentos, inclusive inocentando acusados de assassinatos!
Sem entrar no mérito quanto a serem verdadeiros ou falsos tais fenômenos mediúnicos (sou suspeito para opinar), uma coisa pode-se afirmar sem receio de errar: Aceitar o testemunho de um espírito é um absurdo jurídico, uma ignonímia ao Direito Processual. E a sentença resultante de tal julgamento é perfeitamente passível de cassação ou rescisão. Um Juiz que admite uma aberração destas não pode exercer tal cargo. Pelo bem da segurança jurídica e social.
outubro 10th, 2012 às 5:39 PM
Ainda continuo achando que o mundo gira e A Lusitana roda, com ou sem a sobrevivência da alma.
outubro 10th, 2012 às 6:35 PM
Ops! Eu queria dizer “ignomínia”, e não como constou no post acima.
outubro 10th, 2012 às 11:20 PM
Oi Marciano, lembro muito bem de tal ser que veio ao blog dizendo se alimentar de luz. Concordo, neste caso, que é uma enorme bobagem estudar esse tipo de coisa, mas parapsicologia é completamente diferente. Não acho bobagem também pesquisas sobre teletransporte e universos paralelos. Na verdade, apenas consideramos que um determinado é inútil para ser estudado pela metologia experimental quando ele parece não afetar a NOSSA vida. Pelo que vejo Marciano, pra você e para o Antonio, não faz a mínima diferença se telepatia, precognição ou reencarnação existem.
outubro 10th, 2012 às 11:22 PM
Antonio, não creio que nossa discussão partiu pro lado pessoal, da mesma forma, nunca quis que chegasse a tal ponto. O está ocorrendo é o debate de ideias. E acredite, não tenho nada contra pessoas materialistas, rsrsrs.
outubro 10th, 2012 às 11:25 PM
É Vitor, parece mesmo que Bem estava errado… Agradeço o seu comentário, esclareceu a questao.
outubro 11th, 2012 às 1:22 AM
Marcos, vou falar por mim, eu acredito que telepatia, precognição e reencarnação não existem.
Se existissem, não fariam a mínima diferença, eu disse isso uma vez ao Vitor.
Não precisamos de telepatia, temos internet, celular, etc.
Precognição remete ao determinismo.
E se não serve para alterarmos o futuro, não serve pra nada.
Nostradamus previu um monte de coisas, mas ninguém sabe o que vai acontecer antes que aconteça. Só depois é que mostram as predições. Assim, fica fácil.
Sobre reencarnação, se a gente não lembra de nada das passadas, não vai lembrar de nada da atual, então não serve pra nada.
outubro 11th, 2012 às 1:29 AM
Eu conheço o que a DE fala sobre reencarnação, véu do esquecimento, na espiritualidade a gente lembra, etc.
Só que sei que é tudo fantasia.
Fica até estranho eu dizer que não acredito na DE, eu SEI que nada disso existe, é diferente.
outubro 11th, 2012 às 2:36 AM
Explicando melhor, quem diz que não acredita em algo, deixa uma espaço para que possa admitir a existência desse algo. Por isso não posso dizer que não acredito em reencarnação nem no homem que fazia fotossíntese e passou por aqui.
outubro 11th, 2012 às 7:20 AM
Marcos, eu até acho a ideia da telepatia, precognição e reencarnação interessantes. Mas, como disse o Marciano, para dizer-lhe se “fariam diferença” para mim, seria antes preciso compreeder qual a sua serventia, uma vez que os que acreditam nestes fenômenos divergem bastante entre si. Por ora, em virtude da falta de evidências, e por serem contrários à lógica e à razão, eu mantenho-me convicto de que são meras fantasias.
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Abraço,
outubro 11th, 2012 às 7:26 AM
Por obséquio, relevem sempre eventuais errinhos de concordância. Mais do que ignorância, é a pressa. E a preguiça de revisar antes de enviar. rsrsrs
outubro 11th, 2012 às 12:06 PM
1. Antonio G. – POA Diz:
outubro 10th, 2012 às 16:10
Eu não conheço detalhes destes casos em que médiuns e afins ajudaram a solucionar mistérios policiais. Realmente, não sei o quanto existe de real e de fantasioso nestas histórias.
.
Antonio, tem um documentário que passa na Sky em que são desmentidos esses casos de médiuns que descobrem fatos relevantes em investigações policiais.
O Csi também tem um artigo sobre o assunto (em inglês), o qual pode ser lido aqui:
http://www.csicop.org/si/show/case_of_the_psychic_detectives/
.
No artigo linkado são desmentidos vários “causos” de vários “mediuns” e mostrada a técnica psicológica usada por eles.
outubro 11th, 2012 às 1:57 PM
Marciano, eu já imaginava que deveria haver este “porém”…
É como eu digo sempre: Estes fatos nunca ocorrem tal e qual são contados. Nunca são “bem assim”.
.
Agora, a admissão de carta psicografada como prova em tribunal é acontecimento real, largamente noticiado. Felizmente, fato raro e extravagante. Ainda bem! Imagine o risco a que estaríamos sujeitos se nosso sistema jurídico passasse a considerar aceitáveis fenômenos mediúnicos como provas em processos judiciais… “Deus” nos livre !!!
outubro 11th, 2012 às 6:56 PM
Antonio, conheço de reportagem o caso das cartas psicografadas, como advogado, posso lhe dizer que, se esse foi o fundamento da sentença, ela é completamente nula.
Se não houve recurso do MP, houve prevaricação.
Tá vendo aonde pode chegar a loucura de se deixar crenças religiosas interferir em um trabalho que deveria ser sério?
outubro 11th, 2012 às 6:58 PM
É a pressa. Onde eu disse “conheço de reportagem”, eu quis dizer, “conheço através de reportagem”, significando que, sem ver os autos do processo, resta a dúvida se realmente o magistrado ao sentenciar teve como supedâneo as tais “cartas psicografadas”.
Queiram as “divindades” que não tenha sido isso, essa “anomalia” (peguei emprestado do outro post), queremos continuar confiando no Poder Judiciário.
outubro 11th, 2012 às 11:36 PM
Acessei o site CSI , pelo link indicado. Não gostei muito do que li. O autor assumiu uma posição negativa em relação a paranormalidade. Isso não é nada interessante.
outubro 12th, 2012 às 6:38 PM
Sobre a apuração de crimes mediante informações provenientes de fontes “paranormais” deve-se fazer a seguinte distinção: uma coisa é acolher como verdadeira uma informação proveniente de um fonte “paranormal” (uma carta psicografada, por exemplo); outra completamente diferente é utilizar tal informação para conduzir o apuratório e, por final, verificar mediante provas “normais” que a fonte paranormal estava correta.
Na primeira situação, a informação paranormal é utilizada como prova (o que, realmente, é absurdo); na segunda, a informação paranormal é levada em consideração durante a investigação e se chega, afinal, a colher provas “normais” que esclarecem a autoria e a materialidade do crime.
outubro 12th, 2012 às 6:51 PM
Foi o que eu disse, André. A fundamentação da sentença não pode ter fulcro nas provas não admitidas em direito, por isso tive o cuidado de dizer que não posso avaliar o caso baseado em informações de reportagem jornalística.
Só vendo os autos do processo.
outubro 15th, 2012 às 11:06 AM
Eu me recordo de ter lido, ou visto na TV, o depoimento do juiz que deu a sentença. Ele diz que seguiu sua convicção (dentro do princípio de livre convicção do juiz), e que a carta foi subsidiária à formação da sua convicção. O caso é antigo e já prescreveu, mas acredito que o MP não tenha se manifestado na época.