Investigando Médiuns Mentais: Sugestões de Pesquisa da Literatura Histórica (2010), por Carlos Alvarado
A mediunidade mental é um processo complexo que envolve uma variedade de fatores que precisam de maiores estudos antes que possamos aumentar a nossa compreensão do fenômeno. O propósito deste artigo é oferecer ideias e temas para pesquisas futuras — principalmente de uma perspectiva psicológica e com ênfase na antiga pesquisa psíquica. Os temas discutidos são o transe mediúnico (e.g., função, estágios, e profundidade), mentação mediúnica (e.g., imageria, símbolos), as dramáticas capacidades da mente subconsciente, a relação entre mente e psicopatologia, a variedade das experiências relatadas pelos médiuns além das suas performances (e.g., experiências dissociativas e PES), e a mudança dos aspectos mediúnicos ao longo do tempo. Argumenta-se que o estudo de casos isolados em profundidade de médiuns específicos e estudos interdisciplinares nos ajudarão a entender a mediunidade mais completamente.
Médiuns mentais são indivíduos que afirmam transmitir mensagens de espíritos desencarnados de maneiras tão variadas como impressões, visões e escrita automática. Historicamente, esse fenômeno foi importante devido à sua influência nos conceitos psicológicos de mente subconsciente e dissociação (Alvarado, Machado, Zangari, e Zingrone, 2007), ideias de patologia (Le Maléfan, 1999), e por apresentar fenômenos que proporcionaram temas de pesquisa e ideias para campos como o espiritualismo (Tromp, 2006), a pesquisa psíquica (Inglis, 1984), e a antropologia (Seligman, 2005). Estudos modernos dos fenômenos incluíram abordagens e questões concebidas de campos muito variados como antropologia, história, parapsicologia, psicologia e psiquiatria, para citar alguns. Para compreender a mediunidade, o ideal é que usemos uma abordagem abrangente que leve em conta diversas variáveis, ??e da contribuição de diferentes disciplinas. Embora considerações práticas limitem tal pesquisa a um único modelo, talvez possamos adotar abordagens mais gerais dentro de disciplinas específicas. Por exemplo, Frederic W. H. Myers (1903), não focou apenas nas comunicações mediúnicas verídicas em sua análise da mediunidade, ele teve um escopo bem mais amplo, considerando as manifestações não verídicas, os automatismos motores não mediúnicos e as personalidades secundárias.
O objetivo deste artigo é sugerir alguns temas para futuras pesquisas com médiuns mentais, pegando ideias principalmente da literatura antiga da pesquisa psíquica, e, até certo ponto, das literaturas espiritualista e psicológica. Devido ao tipo de literatura consultada, os exemplos citados são principalmente com médiuns de transe. Mas o estudo sistemático dos médiuns pode e deve incluir também os médiuns que não entram em transe, um tipo que parece ser mais frequente hoje. Embora eu não negligencie o tema completamente, meu foco não estará nos estudos da mediunidade verídica (e.g., Beischel & Schwartz, 2007, Hodgson, 1892), e sim em várias questões relacionadas aos transes mediúnicos, mentação, capacidades dramáticas do subconsciente, psicopatologia, em várias experiências cognitivas e psíquicas relatadas pelos médiuns em suas vidas, e em mudanças na mediunidade ao longo do tempo. Em vez de apresentar projetos de pesquisa detalhados ou revisões de estudos anteriores, minha intenção é levantar questões que possam informar testes de hipóteses atuais.
Transe
O termo transe[1] é problemático. Não só ele é usado para se referir a uma variedade de supostos estados de consciência, mas é preciso estar ciente que o transe pode se manifestar em graus, um tema que foi discutido tanto na literatura da pesquisa psíquica (Sidgwick, 1915) quanto na de possessão espiritual (Frigerio, 1989). Em seu influente estudo de música e transe, Rouget (1980/1985: 3) observou que alguns indivíduos que se referem ao transe não usam os mesmos termos para designar as manifestações e que certos autores usam termos diferentes para se referir aos mesmos fenômenos. Pekala e Kumar (2000) argumentaram em relação à hipnose que o conceito de transe é mal definido e que não foi operacionalizado de forma adequada. A situação é semelhante na literatura mediúnica. No entanto, embora tenhamos que manter esse problema em mente, usarei o termo transe aqui porque a palavra é usada para descrever as aparentes alterações nos estados de consciência na literatura que eu estou revendo.
O transe há muito tem sido considerado importante para a manifestação dos fenômenos. De acordo com James H. Hyslop (1918): “O transe do médium vivente mais ou menos exclui suas próprias ideias ou pensamentos de se misturar ou dominar as mensagens. . . .” (p. 218). Infelizmente, não houve nenhuma pesquisa sistemática sobre o assunto para testar essa ideia. Talvez um contraste das experiências do médium em transe vs. não transe, ou entre diferentes estágios do transe, pudesse produzir informações relevantes para o assunto.
A médium Leonora E. Piper ilustra possibilidades interessantes de pesquisa. Conforme descrito por Charles Richet, Piper começava no silêncio e na semi-escuridão e, após um intervalo de
Embora nem todos os médiuns exibam essas manifestações, valeria a pena determinar quão prevalentes elas são. Registros psicofisiológicos no momento em que os tremores ocorrem podem ser comparados com os períodos sem os tremores. Parece que estes fenômenos foram mais frequentes durante os primeiros anos de transe de Piper. Será que essas manifestações se desenvolvem? Isso é, elas aparecem durante os primeiros anos de prática do médium enquanto seu sistema nervoso se desenvolve ou o médium foi treinado (por assim dizer) para manifestar os fenômenos, desaparecendo quando os processos envolvidos ganham uma natureza secundária?
Eleanor Sidgwick (1915) documentou a existência de estágios de transe e a variedade de fenômenos que acompanham a mentação da Sra. Piper. Particularmente interessantes foram as observações de Hodgson (1898) de uma fase inicial em que ele acreditava que a mente subliminal da médium assumia o controle no início do transe. A médium estaria “sonhando consciente do consulente, e sonhando consciente dos ‘espíritos’” (Hodgson, 1898: 397). Isso levou a uma “consciência mais completa e mais clara — podemos chamá-la consciência subliminal — que está em relação direta. . . não tanto com o nosso mundo físico ordinário como com o ‘outro mundo’” (p. 397), e mais tarde a um estado em que acreditava que “a consciência subliminal não mais exerce controle sobre o corpo, levando a consciência supraliminal com ela” (p. 398). Hodgson escreveu ainda que no final havia indícios de um retorno à consciência da Sra. Piper na ordem inversa em que havia desaparecido. Ele escreveu:
A saída do transe geralmente possui estágios de maior duração do que a entrada. A médium muitas vezes repete declarações que lhe foram feitas aparentemente pelos “comunicadores” enquanto ela está na fase puramente “subliminal”, como se ela fosse um “espírito” controlando seu corpo mas sem estar em plena posse dele e, depois de sua consciência supraliminal ter começado a crescer de forma nítida, ela parece ter visões dos “comunicadores” distantes ou indo embora frequentemente. (Hodgson, 1898: 400-401)
Infelizmente, muito pouco foi realizado desde os tempos antigos de forma a avaliar a existência e as características dos estágios do transe mediúnico. Muitas perguntas básicas precisam ser exploradas empiricamente. Além do mencionado acima — a função real do transe, sua psicofisiologia, suas características e fases — há a questão da mentação mediúnica verídica. Assim como os parapsicólogos modernos têm estudado PES voltada aos aspectos dos estados alterados de consciência (e.g., a profundidade, as mudanças no sentido do tempo e da imagem corporal (Alvarado, 1998)), podemos estudar a mentação verídica nos médiuns em relação à presença ou ausência do transe e sua profundidade.
Embora os médiuns em transe não pareçam ser tão comuns hoje em dia como costumavam ser, as observações de tais estados sugerem que as técnicas de gravação psicofisiológicas poderiam ser aproveitadas em novos estudos, como foi feito de forma esporádica no passado (Evans & Osborn, 1952, Solfvin, Roll & Kelly, 1977). Em um nível mais básico, podemos documentar melhor hoje os vários estados de consciência exibidos por alguns médiuns, como foi o caso da Sra. Willett (pseudônimo de Winifred Coombe-Tenannt (Balfour, 1935)).
Mentação Mediúnica
Há discussões na literatura sobre as características e dificuldades tanto da mentação mediúnica quanto do aparente processo de comunicação que assume a ação de espíritos (e.g., Hodgson, 1898, Hyslop, 1919). Por exemplo, Hyslop (1919) referiu-se ao “processo pictográfico”, em que “o comunicador consegue provocar no sujeito vivo um fantasma sensorial de seus pensamentos, o que representa, mas não necessariamente correspondente diretamente, à realidade” (Hyslop, 1919:111). Algumas mensagens foram expressas por meio visual, ou em outras modalidades, de acordo com a sensibilidade do médium. As expressões motoras da mediunidade, como a escrita automática, “não representam nada pictográfico, embora processos pictográficos possam precedê-las” (Hyslop, 1919:111). Independentemente da ênfase de Hyslop no agente desencarnado, em sua opinião poderia haver confusões e distorções na mentação devido à interpretação de imagens envolvendo a mente subconsciente do médium. Tal ideia abre possibilidades para que as pesquisas explorem os fatores intrapsíquicos envolvidos na mentação mediúnica. Entre outros aspectos, tais estudos podem usar as várias formas desenvolvidas para estudar as imagens, as habilidades não-verbais e os modos preferenciais de mentação (Mammarella, Pazzaglia & Cornoldi, 2006, Richardson, 2006, Riding, 2006).
Da mesma forma, novos estudos poderão considerar as dificuldades em expressar mensagens que podem ser causadas ??por problemas de recuperação de memória e outros fatores. Uma linha de pesquisa que pode ser relevante é a relativa aos estados ponta-da-língua em que algo que uma pessoa sabe não pode ser recuperado (Schwartz, 2002).
Outro estudo que merece tópico, e discutido desde os primeiros dias do espiritualismo, é a influência do médium nas comunicações. Um pesquisador americano pioneiro e médium, John W. Edmonds, escreveu: “Não sei de nenhum modo de relação espiritual que esteja isento de uma mácula mortal — nenhum tipo de mediunidade em que a comunicação não possa ser afetada pela mente do instrumento” (Edmonds & Dexter, 1855(2):39). Da mesma forma, outro autor afirmou: “Todas as comunicações de certa forma compartilham do caráter dos médiuns pelos quais elas passam” (Barkas, 1862: 102).
Anos depois, Myers (1902) escreveu sobre a mediunidade de Rosina Thompson e sugeriu que confusões e erros podem vir “principalmente do próprio eu subliminar da Sra. Thompson” (Myers, 1902:72). Myers (1903), que discutiu ambas as influências — a influência desencarnada e a influência do médium —, também se referiu à mistura de ambas as fontes. Ele também comentou sobre “a influência do eu supraliminal do sensitivo. . . cujos hábitos de pensamento e alterações de discurso necessariamente aparecem sempre que é feito uso dos centros cerebrais que o eu supraliminal controla habitualmente” (Myers, 1903 (2):249).[3] Análises do conteúdo da mentação mediúnica podem ser úteis na identificação de memórias de vigília do médium, mudanças de expressão, e outras idiossincrasias em sua mentação.
Da mesma forma, a análise de conteúdo pode ajudar-nos a identificar e classificar os símbolos nas produções mediúnicas. Vários autores apresentaram exemplos de símbolos em comunicações mediúnicas (Bozzano, 1907:253-254, Emmons & Emmons, 2003, Capítulo 69). De acordo com Hereward Carrington (1920): “É na interpretação destes símbolos que grande parte da verdadeira arte da mediunidade e do desenvolvimento psíquico estarão. . .” (p. 109), mas acrescentou que cada médium “deve aprender. . . , pela experiência repetida, o que os vários símbolos significam. . . e, assim, formar um “código” ou método de interpretação. . . .” (p. 109). Coerente com isso, e com base em suas análises sobre as experiências de muitos médiuns, Emmons e Emmons (2003) afirmaram que “em grande medida os médiuns separaram ‘dicionários psíquicos’” (p. 258).
Sapal (1929) explorou símbolos em seu estudo da Sra. Warren Elliott. A médium recebia mensagens de um controle chamado Topsy, tal qual a seguinte: “‘Você quase se casou, mas não era para ser. Mostram a Topsy um vestido de casamento, só que ele cai em seguida’. (O símbolo é óbvio aqui.)” (p. 121). Saltmarsh escreveu:
Nota-se que os símbolos são todos de um determinado tipo. Eles são o que poderiam ser chamados de símbolos naturais, e se baseiam em analogias habituais, ou literais, como, por exemplo, quando a figura alucinatória se aproxima do consulente, entende-se um relacionamento próximo; ou formas comuns de expressão, de modo que todo preto simboliza preocupação ou tristeza; ou ainda podem ser pantomimas naturais, em que o gesto de se afastar significa que o comunicador ostensivo não estava ligado à relíquia. (p. 123)
Um estudo poderia ser feito em que os símbolos que aparecem na mentação de determinados médiuns sejam classificados por tipo e então comparados tanto entre como intra médiuns.[4] Embora possamos encontrar algumas semelhanças ou consistências, é provável que haja muito simbolismo que seja particular a médiuns específicos. A questão, claro, é empírica, e deve ser estudada levando-se em conta as variáveis ??que podem afetar os símbolos. Isso inclui as crenças espiritualistas gerais e os interesses específicos aos círculos em que o médium foi treinado ou trabalhou durante a sua vida. Há também muito a investigar sobre os fatores que podem afetar tanto a formação quanto a manifestação dos símbolos.
Apesar dos padrões comuns, provavelmente há muitas diferenças individuais no conteúdo das comunicações mediúnicas. Mas, ainda que esse não seja o caso, podemos aprender muito sobre os aspectos da mentação, como o fluxo de imageria, e características marcantes tais como o uso repetido de imagens específicas em relação a temas e comunicadores, bem como mensagens verídicas.
O último tipo foi documentado por Charles Drayton Thomas (1928, 1939) em seu estudo sobre Gladys Osborne Leonard. O controle da médium, Feda, frequentemente aludia ver letras em vez de perceber nomes ou lugares. Os exemplos seguintes das declarações de Feda, publicados por Thomas (1939), são acompanhados de explicações sobre o possível significado das letras em parênteses. “Um lugar que começa com a letra ‘S’, muito ligado a ele e ao seu trabalho. Um lugar com um bom número de letras em seu nome. (Quando ele chegou em casa das Índias Ocidentais, ele e sua família viveram em Southampton por muitos anos)” (Thomas, 1939: 261). Outro exemplo: “Este Sr. Macaulay foi algum tipo de pesquisador? . . . Ele sempre queria informações mais completas. Ele lia muito sobre isso e foi para algum lugar onde pudesse estudar este assunto “M”. (“M” é possivelmente uma referência à Meteorologia)” (Thomas, 1939: 273).
Obviamente nem todos os médiuns têm este tipo de mentação com letras. Uma comparação entre os médiuns com este estilo de imageria com quem tem outros estilos pode nos ajudar a avaliar, por exemplo, se essas manifestações estão relacionadas com diferenças cognitivas ou de formação.
Há outros exemplos com a Sra. Leonard das características da recepção de mensagens, e das dificuldades
Isto é evidente em um incidente relatado por Radclyffe-Hall e Troubridge (1919). Um dos comunicadores, quando vivo, usou a palavra “spork” e “sporkish” para se referir a pessoas desagradáveis. Em uma sessão realizada em 17 de janeiro de 1917, Feda, espírito-controle de Leonard, estava tendo problemas para obter uma palavra. Ela disse: “Feda não pode obtê-la. Mas é só uma palavra curta” (Radclyffe-Hall & Troubridge, 1919: 445). Ela desenhou a letra “S” na palma da mão de um consulente. Em uma sessão de 2 de maio, ainda não tinha sido possível obter a palavra “além de fazer a consoante sibilante no começo” (Radclyffe-Hall & Troubridge, 1919: 446). Feda disse em voz baixa: “É o quê, Ladye? O que você está tentando dizer S-ss-Sss-S-ss. . . . Qual é a palavra, Ladye? É Spor-Spor-Spor!” (Radclyffe-Hall & Troubridge, 1919: 446). Mais tentativas vacilantes se seguiram, e ela disse “Sporti” e “Sporbi”. O relato continuou assim:
Após esta letrinha vem uma curvada, e então parece a Feda que há outra letra comprida. . . É S. . . P. . . O. . . depois, uma letra pequena e, em seguida, uma letra assim; (ela desenha um “k”…). É um traço que desce assim, com um pedacinho espetando nela um pouco; Sporki. . . Sporkif? . . . . Essa letra é assim. . . (aqui Feda desenha um “S”…). E depois há outra letra assim (aqui Feda desenha um “H”). . . . Bem, Feda não pode ver mais nada, (de repente e muito alto) SPORKISH! SPORKISH! Mas isso não é sequer uma palavra! . . . “Sporkish”, ela diz isso de uma forma tão engraçada. . . ela diz que você e ela costumavam chamar as pessoas disso. . . . (Radclyffe-Hall & Troubridge, 1919: 447)
Além da imageria e do caráter fragmentário de muitas comunicações, poderíamos concentrar novos estudos sobre a variedade de formas que os médiuns manifestam suas comunicações. Por exemplo, a mediunidade da Sra. Willett consistia em impressões de presenças, imagens mentais, sentimentos e emoções, impulsos e inibições, e imagens verbais (Balfour, 1935). A pesquisa moderna poderia tentar avaliar quantos médiuns combinam essas e outras formas de expressão, bem como o modo como eles podem se especializar quase completamente em formas particulares de expressão.
Alguns pesquisadores modernos analisaram aspectos do conteúdo da mentação mediúnica (K. W. Barrett, 1996, Emmons & Emmons, 2003, Rock, Beischel, & Schwartz, 2008). Por exemplo, Rock et al. (2008) estudaram um pequeno número de médiuns em termos de aspectos como as modalidades sensoriais que eles vivenciam, sentimentos sobre doenças ou causa da morte, e mudanças de afeto. Espero que o trabalho nessa linha continue acompanhando as observações acima mencionadas, para que sejamos capazes de replicar e estender os resultados anteriores. Talvez algumas das escalas utilizadas por Pekala (1991) — incluindo questões sobre aspectos tão variados como mudanças na percepção e no sentido de tempo, bem como imageria vívida e afeto positivo e negativo — possam ser usadas com médiuns, ou adaptadas para esse tipo de trabalho mesmo considerando os problemas do uso de tais instrumentos para quantificar experiências (Stevens, 2000).
As Capacidades Dramáticas do Subconsciente
Desde os primeiros dias do espiritualismo, alguns autores mencionaram que os médiuns teriam o potencial de dramatizar mudanças de personalidade. Um escreveu que em algumas circunstâncias as funções cerebrais automáticas do médium poderiam “assumir qualquer personalidade, desde a de uma divindade até a de um sapo. . .” (Rogers, 1853: 171). Outro sugeriu que algumas comunicações mediúnicas sobre a natureza do outro mundo poderiam “proceder dos cérebros poéticos dos escritores, e não ser o produto de qualquer inteligência espiritual desencarnada” (Barkas, 1862: 134).
Myers (1884, 1885) no princípio argumentou pela interpretação de certas mediunidades como criações subconscientes da mente viva do médium, às vezes transcendendo os processos intrapsíquicos através do recurso da telepatia. Eduard von Hartmann (1885) escreveu sobre uma consciência sonambúlica em médiuns que “se dispõe a simbolizar e personificar”, revelando um “talento metamorfoseador” dramático (p. 453, ambas citações) para produzir comunicações fictícias. Ele postulou que essa consciência pode obter informações pela consciência desperta e pelas memórias do médium, bem como através de telepatia e clarividência.
Muitos se referiram ao potencial do subconsciente para dramatizar comunicações espíritas. Myers (1903(2):130) escreveu sobre um “fabricação estranha de romances internos”. Théodore Flournoy (1900:425) estudou o que ele descreveu como uma “tendência da imaginação subliminar para reconstruir o falecido e simular sua presença” em algumas comunicações mediúnicas, bem como a um processo de “imitação de espírito” existente dentro de nós (Flournoy, 1911: 202).
Um conceito importante para compreender essas tendências é a visão de que a produção de comunicadores fictícios e de histórias na mentação mediúnica pode ser fruto de sugestão involuntária, expectativas e crenças nos arredores sociais e psicológicos do médium. A ideia foi aplicada durante o século XIX e mais tarde às manifestações hipnóticas e a fenômenos dissociativos tais como personalidades secundárias (Alvarado, 1991). Alguns fenômenos hipnóticos, Delboeuf (1886) sugeriu, deviam-se à influência da imitação e da educação. Referindo-se à sugestão, Pierre Janet em L’Automatisme Psychologique (1889) comentou sobre as personalidades secundárias em pacientes da hipnose: uma vez nomeado, “o personagem inconsciente é mais determinado e mais distinto, mostrando melhor as suas características psicológicas” (p. 318).
Os espiritualistas também se referiram a ideias semelhantes ao discutir as comunicações mediúnicas. Alguns desses indivíduos eram céticos sobre a validade das comunicações sobre a reencarnação com base nos ensinamentos dos “espíritos” apresentados por Allan Kardec (e.g., 1867, parte 2, capítulos 4-5). Um desses críticos foi Alexandre Aksakof (1875). Em sua crítica a Kardec, ele se referiu aos médiuns escreventes que “mudam tão facilmente sob a influência psicológica de ideias preconcebidas. . . .” (Aksakof, 1875: 75). Um autor anônimo enfatizou que as poucas discussões mediúnicas inglesas de reencarnação tinham sido “fortemente coloridas pelas opiniões do médium, ou do consulente. . . .” (Allan Kardec’s “Spirits” book, 1875: 170). Em sua opinião, se a reencarnação fosse propagada na Inglaterra, “massas de espíritos passariam a ensiná-la, porque as mentes de vários médiuns seriam marteladas pelos argumentos do tema discutido pelas pessoas ao seu redor. . . .” (Allan Kardec’s “Spirits” book, 175: 170).[6]
Uma coisa curiosa sobre o transe vocal é sua semelhança genérica em indivíduos diferentes. O “controle” aqui nos Estados Unidos é ou um personagem grotesco, coloquial e irreverente (controles “índios”, que chamam as mulheres de “índias”, os homens de “guerreiros”, a casa de uma “tenda”, etc., são excessivamente comuns); ou, caso ele se aventure em maiores voos intelectuais, ele é rico em uma vaga e curiosa filosofia-e-água-fresca otimista, em que frases sobre o espírito, harmonia, beleza, lei, progressão, desenvolvimento, etc., são recorrentes. Parece exatamente como se um autor compusesse mais da metade das mensagens de transe, não importa por quem elas sejam proferidas. Se todos os seres subconscientes são particularmente suscetíveis a um determinado estrato do Zeitgeist, e obtém sua inspiração a partir dele, eu não sei; mas esse é obviamente o caso dos eus secundários que se “desenvolvem” nos círculos espiritualistas. Lá os primórdios do médium de transe são indistinguíveis dos efeitos da sugestão hipnótica. O sujeito assume o papel de um médium simplesmente porque a opinião espera isso dele sob as condições presentes; e o faz com uma fraqueza ou uma vivacidade proporcional aos seus dons histriônicos. (James, 1890(1): 394)[7]
Os escritos e estudos de Théodore Flournoy (1900, 1901, 1911) são de fundamental importância para o assunto. Ele estudou as comunicações em que a médium Hélène Smith descreveu existências anteriores na Índia, França e a vida no planeta Marte, incluindo a criação de uma língua marciana. Como ele escreveu:
Devemos. . . levar em consideração a enorme sugestionabilidade e a auto-sugestão dos médiuns, que os tornam tão sensíveis a todas as influências das reuniões espíritas, e ficam assim favoráveis à composição dramática daquelas brilhantes criações subliminares em que, às vezes, as ideias doutrinárias do ambiente circundante são refletidas em conjunto com as tendências emocionais latentes do próprio médium. (Flournoy, 1900: 443)
Além de sugestionabilidade, podemos considerar o conceito de contágio emocional, que tem uma longa tradição em psicologia (Levy & Nail, 1993). O conceito tem sido relacionado à experiência hipnótica (Cardeña, Terhume, Lööf, e Buratti, 2009).
Maxwell (1903/1905) usou o termo personificação para se referir à inteligência por trás dos fenômenos mediúnicos, uma inteligência que acreditava vir do médium. A identidade da personificação mudava de acordo com os indivíduos no círculo mediúnico:
Tenho notado que o papel desempenhado pela personificação varia de acordo com a composição do círculo. Será sempre o espírito de uma pessoa morta ou viva com espíritas. Mas os papéis variam mais se o círculo for composto por pessoas que não sejam espíritas; às vezes acontece de as comunicações afirmarem emanar dos próprios assistentes. (Maxwell, 1903/1905: 65)
A personificação, Maxwell acreditava, era muito sugestionável.
Muitos autores discutiram a importância de sugestões e crenças sobre o desenvolvimento das personalidades de transe e as histórias dos comunicadores, entre eles Pierre Lebiedzinski (1924), Amy Tanner (1910), e René Sudre (1926). O último discutiu o que ele chamou de “prosopopesia”, ou “mudanças psicológicas bruscas, espontâneas ou provocadas da personalidade” (Sudre, 1926: 85), desenvolvidas pela mente subconsciente na mediunidade, bem como na possessão, na personalidade múltipla, e sob a influência da hipnose.[8] Eleanor Sidgwick (1915) comentou sobre esse assunto:
Que os assistentes devem influenciar as comunicações de transe, até certo ponto é. . . óbvio. Por um lado, eles próprios são personagens no drama, e o papel que desempenham nele e a maneira como agem deve afetar a forma com que as personalidades de transe fazem seu papel. . . . E no transe os dramas dos assistentes não só determinam em grande parte os temas da conversa, mas os personagens que tomam parte nela. Eles explícita ou tacitamente exigem que seus próprios amigos se manifestem e apresentem provas de identidade, ou deem informações sobre pontos específicos. (Sidgwick, 1915: 294)
O ponto de Sidgwick é bem feito. Essa influência pode ser vista nas análises das interações verbais entre os médiuns e seus assistentes (Wooffitt, 2006).
Comunicações sobre a vida em outros planetas, como as discutidas por Flournoy (1900, 1901) são bons exemplos de possíveis criações iatrogênicas. Mas existem vários outros exemplos na literatura sobre as comunicações interplanetárias (e.g., Hyslop, 1906, Jung, 1902/1983:34-35, Sardou, 1858, Weiss, 1905). O astrônomo Camille Flammarion (1907) explicou um caso concreto em que houve desenhos mediúnicos de casas em Júpiter (Sardou, 1858) como “o reflexo das ideias gerais no ar” (p. 26). Novos casos desse tipo poderiam ser estudados para tentar determinar as influências específicas que levam a tais produções.
Curiosamente, alguns médiuns conhecidos por produzir mentação verídica também apresentaram material não verídico que pode ser o resultado das demandas e sugestões fornecidas por pesquisadores e assistentes. Um caso em questão foi a Sra. Leonard. No livro de Thomas Life Beyond Death with Evidence (1928), há capítulos sobre comunicações evidenciais e não-evidenciais. Estas últimas incluem descrições da vida no mundo espiritual, e ideias sobre o processo de comunicação mediúnica.[9]
A impressão que eu tive ao longo do livro é que a Sra. Leonard tinha a capacidade de produzir material sobre quase todos os tópicos.[10] Embora isso possa ser consistente com a ideia de que as manifestações mediúnicas podem ser moldadas pelos interesses dos indivíduos ao redor dos médiuns, isso não é prova de que o médium estava sugestionado. Em qualquer caso, é preciso ser mais ativo em explorar a plasticidade dos recursos psicológicos do médium, e os limites de tais processos.
Uma maneira de testar a influência de ideias sobre a mentação mediúnica é induzir ideias particulares através de sugestões diretas, como Richet (1883) e Harriman (1942) fizeram na criação de personalidades secundárias com os participantes de pesquisa que não eram médiuns. Isto traz à mente o caso famoso
Entretanto, os métodos indiretos, tais como a criação de um contexto com conversas e informações sobre o que se deseja, também podem ser bem sucedidos. A mediunidade é provavelmente afetada de alguma forma pelo ambiente intelectual e psicológico em torno do médium, para não falar pelas demandas dos assistentes (e.g., Lebiedzinski, 1924). O desejo dos membros nos círculos mediúnicos, ou dos indivíduos que consultam os médiuns, para obter comunicações filosóficas sobre a vida ou sobre o pós-vida pode não apenas moldar, mas também instruir o médium para produzir tais manifestações. Da mesma forma, o interesse em aspectos tais como comunicações evidenciais pode levar os fenômenos nessa direção. Embora, em teoria, alguns médiuns possam ser “constantes” nos fenômenos ou nos temas das comunicações, eles também podem mudar de acordo com o círculo. Um estudo interessante seria aquele em que os médiuns conhecidos pela produção de fenômenos não evidenciais são influenciados de tanto direta quanto indiretamente a produzir comunicações verídicas.
Mas, independentemente do que alguns têm sugerido (e.g., Tanner, 1910), a situação não é tão simples. Um médium não é um papagaio ao nosso comando que pode ser moldado sem limites. Primeiro de tudo, como na sugestão hipnótica, há barreiras que constituem diferenças individuais na sugestionabilidade dos médiuns. Em segundo lugar, podemos descobrir que, independentemente das discussões anteriores (e.g., Flournoy, 1900, Tanner, 1910), esses efeitos são mais difíceis de produzir do que se pensava. No entanto, a investigação sobre o tema pode nos permitir avaliar empiricamente as ideias sobre a plasticidade da mente do médium.
Embora, em teoria, faça sentido estudar este tema através de algum tipo de manipulação, na prática, existem problemas éticos. Tal indução de fenômenos envolveria fraude e poderia ir contra as crenças do médium. Considerando tais acusações, talvez fizéssemos bem ver se os estudos semelhantes aos de Flournoy (1900), em que numa manipulação foi realizada, podem ser feitos com os médiuns atuais.
Psicopatologia
Outro tema de pesquisa é a questão bastante discutida de uma relação entre mediunidade e psicopatologia, um tema discutido com frequência durante o século XIX. Por exemplo, em 1860 um anônimo na revista médica Lancet argumentou que a “contraparte do médium infeliz encontramos no paciente histérico semi-iludido e semiartificioso” (The delusion of spiritualism, 1860:466). Pensamentos semelhantes foram expressos por muitos médicos que acreditavam que a mediunidade era patológica (para uma visão geral, ver Alvarado et al., 2007:. 48-50, Le Maléfan, 1999, Moreira-Almeida, Almeida, & Lotufo Neto, 2005).
Os franceses ficaram particularmente interessados ??nestas questões. Pierre Janet (1889) disse que os médiuns tiveram frequentes “acidentes” nervosos que incluíam convulsões, movimentos coreicos* e crises nervosas. Em sua opinião, a mediunidade “depende de um estado mórbido em particular” (Janet, 1889:406), semelhante ao que mais tarde pode se desenvolver como histeria ou insanidade. Mas ele argumentou que “a mediunidade é um sintoma e não uma causa” (Janet, 1889:406). Anos mais tarde, Janet (1909) apresentou um caso de uma mulher de 37 anos que produzia mensagens por meio da escrita automática. A maior parte dos escritos foi dita vir de seu falecido pai e eram sobre a roupa e a higiene da mulher. Janet acredita que as comunicações constantes da mulher representavam um caso de ilusão “sistemática”.
“De tempos em tempos”, escreveu Alfred Binet, em seu livro Les Altérations de
Um problema com muitas destas observações é que elas parecem ter sido feitas com pacientes clínicos, em vez de com os médiuns praticantes. Qualquer pessoa que conheça as carreiras de médiuns tais como Piper, Leonard, ou Eileen J. Garrett, entre outros, percebe que tais observações não se aplicam a eles, ou a muitos outros médiuns. Joseph Maxwell (1903/1905), por exemplo, criticou Janet ao longo destas linhas: “Até hoje Janet parece ter operado apenas com inválidos, e eu não estou surpreso, portanto, que ele assimile os fenômenos automáticos de sensitivos com os de seus pacientes histéricos” (p. 261). Ele escreveu ainda: “As pessoas histéricas nem sempre dão fenômenos claros, decisivos; minhas melhores experiências foram feitas com aqueles que não eram de forma alguma histéricos” (Maxwell, 1903/1905:44).
Outros também eram céticos de patologia
Uma possível linha de pesquisa é seguir a sugestão de Maxwell (1903/1905) que o sistema nervoso dos médiuns é passível de muitas mudanças e flutuações que não necessariamente se tornam patológicas: “Parece-me que certa impressionabilidade — ou instabilidade nervosa — é uma condição favorável para a efervescência da mediunidade. Eu uso o termo instabilidade nervosa por falta de um melhor, mas eu não o uso em um mal sentido” (p. 44). Por instabilidade nervosa Maxwell disse que ele não quer dizer patologia como a encontrada na histeria, neurastenia, ou outras aflições. Como ele escreveu:
É um estado do sistema nervoso, tal como aparece na hipertensão. Uma impressionabilidade vívida, uma susceptibilidade delicada, uma inconstância de temperamento estabelecem uma analogia entre médiuns e determinados pacientes neuróticos; mas eles devem ser distinguidos dos últimos pela integridade de suas sensibilidades, de seus movimentos reflexos, e de seu alcance visual. Como regra geral, eles têm uma inteligência vívida, são suscetíveis a atenção, e não lhes falta energia; seus sentimentos artísticos são relativamente desenvolvidos; eles confiam e não mostram reservas com aqueles que lhes demonstram simpatia; são desconfiados e irritadiços se não forem tratados com cuidado. Eles passam facilmente da tristeza para a alegria, e experimentam uma necessidade irresistível de agitação física: essas duas características justamente aquelas que me fizeram escolher a expressão da instabilidade nervosa. Digo instabilidade, não digo falta de equilíbrio. Muitos médiuns que conheci possuem uma mente extremamente equilibrada, do ponto de vista mental e nervoso. A minha impressão é que o seu sistema nervoso é mesmo superior ao da média. (Maxwell, 1903/1905: 44-45)
Embora as descrições de Maxwell não me pareçam caracterizar os comportamentos de muitos médiuns, a ideia de um sistema nervoso lábil mediúnico merece ser explorada. Na verdade, o conceito é consistente com algumas ideias contemporâneas de esquizotipia que postulam que algumas pessoas são mais criativas ou alucinatórias do que outras, devido a diferenças nos mecanismos inibitórios do sistema nervoso (McCreery, 1997). A falta de inibição é postulada causar excitação — que por sua vez é afetada pelas variáveis situacionais — ??que conduz a uma variedade de experiências, tais como alucinações. Embora improvável que este seja o quadro inteiro para a mediunidade, a ideia merece ser explorada através da experimentação psicofisiológica. Mais especificamente, e em relação aos médiuns do candomblé brasileiro, Seligman (2004) tem a hipótese de que os médiuns têm uma incapacidade de regular a excitação fisiológica.
O estudo da relação entre mediunidade e psicopatologia precisa de atenção mais empírica. Exemplos do que pode ser feito podem ser encontrados em uma pesquisa recente que não apoia a relação entre patologia e mediunidade (uma pesquisa recente inclui Moreira-Almeida, Lotufo Neto, e Greyson, 2007, Moreira-Almeida, Lotufo Neto, e Cardeña, 2008).
Outros esforços poderiam incidir nas velhas discussões sobre as semelhanças entre as alterações vistas nos transtorno de identidade dissociativos e os espíritos controles (Hyslop, 1917: 12-29, Troubridge, 1922, ver também Braude, 1988). Além disso, o tema pode ser explorado seguindo as ideias de Janet (1889) que uma patologia pode estar relacionada à mediunidade através de uma predisposição comum compartilhada por ambas, e não necessariamente como uma simples relação de causa e efeito.[13] Semelhante a outras áreas de pesquisa sobre as relações de processos ou fenômenos psicológicos com a psicopatologia (e.g., Barrantes-Vidal, 2003, Pickles & Hill, 2006), esta predisposição compartilhada hipotética pode ter vias diferentes afetadas por ambas as variáveis ??situacionais e desenvolvimentistas que podem levar a um ajuste ou desajuste.
Independentemente de comparações entre médiuns e não médiuns, poderia haver explorações sobre a possível existência de subgrupos de médiuns que mostram tendências patológicas. Isso é, enquanto a mediunidade não está geralmente relacionada à psicopatologia, pode haver exceções à regra. Isso é talvez semelhante à pesquisa realizada com os indivíduos tidos como normais que apresentam propensão à fantasia, o que não é, por si só, patológico, mas pode, contudo, estar positivamente relacionado com os resultados sobre as medidas de patologia (Rhue & Lynn, 1987). Além disso, podemos também tentar achar evidências para a visão de Myers (1903) de que os normais podem usar caminhos de expressão semelhantes aos dos anormais.[14]
Flournoy (1900) nos lembrou que Hélène Smith mostrou “distúrbios da motilidade e sensibilidade, dos quais ela parece totalmente livre em seu estado normal” (p. 441). Embora nem todos os médiuns tenham mostrado tais distúrbios, e eu duvido que muitos médiuns atuais exibissem-nos, isso nos leva ao estudo das disfunções neuropsicológicas. Possíveis tópicos de pesquisa podem incluir, entre outros, problemas com a orientação, atenção, percepção, memória, habilidades de linguagem, raciocínio e desempenho motor (Lezak, Horwieson, Loring, Hannay, & Fischer, 2004).
Outra possibilidade de pesquisa é aquela apontada por autores como Lombroso (1909) e Morselli (1908) sobre a mediunidade de efeitos físicos. Na visão deles, poderia haver indivíduos que apresentassem patologia e fenômenos verídicos simultaneamente. A ideia também é consistente com os escritos de psicoterapeutas como Ehrenwald (1948).
Experiências Psicológicas e Parapsicológicas
Desde os dias de William B. Carpenter (1853), até épocas posteriores (Flournoy, 1900, Lebiedzinski de 1924, Sudre, 1946), o médium tem sido visto como uma pessoa com grande potencial imaginário.[15] No entanto, tem havido pouca pesquisa para colocar tais suposições à prova.
Muito poderia ser feito hoje enfocando os constructos de absorção, espessura de fronteira, dissociação, propensão à fantasia, susceptibilidade hipnótica e transliminalidade, entre outros. Tais constructos mostraram relações positivas com as experiências parapsicológicas em vários estudos do questionário, o que sugere a existência de uma predisposição ou uma característica associada a essas experiências que podem estar relacionadas à mediunidade (Glicksohn, 1990, Hartmann, 1991, Myers, Austrin, Grisso, & Nickeson, 1983, Pekala, Kumar, & Marcano 1995, Richards, 1991; ver também a discussão por Cardeña & Terhune, 2008).
A “desagregação da percepção pessoal” foi descrita por Janet (1889: 413) como uma característica tanto da hipnose quanto da mediunidade. De fato, as experiências dissociativas separadas das performances mediúnicas foram exploradas em alguns estudos modernos com médiuns (e.g., Hughes, 1992, Laria, 1998, Moreira-Almeida, Lotufo Neto, & Greyson, 2007, Negro, Palladino-Negro, Rodrigues Louzã, 2002, Reinsel, 2003, Roxburgh, 2008). Enquanto não há dúvida de que os médiuns tenham experiências dissociativas, como medidas por instrumentos padronizados, mais poderia ser feito sobre as experiências dissociativas específicas que eles têm e como elas se comparam com as experiências dissociativas de outros indivíduos. Uma linha possível de exploração, entre muitas, é a relação da mediunidade com os diferentes tipos de dissociação (sobre o último, ver Brown, 2006, Cardeña, 1994). Além das medidas de absorção, despersonalização e amnésia, isso também pode incluir a dissociação somatoforme (Nijenhuis, 2004).
Roll (1982) sugeriu que alguns médiuns têm experiências sugestivas de propensão à fantasia. Essas experiências incluem visões na infância e dificuldades em distinguir fantasia da realidade.
Alguns dos constructos acima mencionados — espessura de fronteira e transliminalidade — estão teoricamente relacionados a ideias sobre os vários graus de comunicação entre o consciente e o subconsciente. Essa noção foi fundamental para a concepção de Myers (1903) de fenômenos como a hipnose, criatividade, alucinações e mediunidade. De acordo com Flournoy (1901): “Toda a diferença entre os médiuns e as pessoas comuns é que nessas últimas há uma lacuna muito pronunciada. . . entre a vigília e os devaneios. É o oposto dos médiuns. . . .” (p. 127). Em consonância com essa ideia, De Sermyn (1910) acreditava que uma das características a definir os médiuns era “a facilidade com que são realizadas as comunicações entre as suas vontades consciente e inconsciente” (p. 133). Escalas para medir a espessura de fronteira (Hartmann, 1991) e a transliminalidade (Lange, Thalbourne, Houran, e Storm, 2000) podem ser empregadas em novas pesquisas para testar essas ideias. Roxburgh (2008) não encontrou diferenças significativas entre médiuns e não médiuns na espessura de fronteira. Além disso, é possível realizar testes de percepção para medir os limiares subliminares dos médiuns, a fim de avaliar diretamente se eles têm mais percepção de estímulos subliminares, talvez indicando uma barreira mais permeável entre o consciente e o subconsciente do que os controles.
Há também uma necessidade de investigar outras experiências que os médiuns podem ter fora de suas performances mediúnicas. O exame de Charles Emmons das autobiografias de médiuns, e entrevistas com médiuns, mostrou que suas vidas apresentam muitas experiências parapsicológicas espontâneas (Emmons & Emmons, 2003). Em suas autobiografias, Gladys Osborne Leonard (1931) e Eileen J. Garrett (1939) mencionam que elas tinham uma variedade de fenômenos em suas vidas cotidianas, como experiências fora-do-corpo e aparições. A Sra. Thompson via espíritos, ouvia vozes e percebia imagens em bolas de cristal (Myers, 1902: 70). Hélène Smith teve muitas experiências fora do quarto da sessão. Nas palavras de Flournoy:
Os automatismos espontâneos de Hélène, muitas vezes a ajudaram, sem nunca ter interferido, nas suas ocupações diárias. Há, felizmente para ela, uma grande diferença de intensidade entre os fenômenos de suas sessões e aqueles que incidem na sua existência habitual, os últimos nunca tendo perturbado sua personalidade como os primeiros.
Em sua vida diária, suas alucinações se limitam a um ou dois dos sentidos, hemi-sonambulismos superficiais, compatíveis com certa dose de auto-possessão — em resumo, perturbações efêmeras sem importância, do ponto de vista prático. Tomadas em conjunto, as intervenções do subliminar em sua existência comum são mais benéficas para ela do que o contrário, já que muitas vezes têm o selo de utilidade e adequação, o que as faz muito prestativas.
Fenômenos de hipermnésia, adivinhação, objetos perdidos misteriosamente recuperados, inspirações felizes, pressentimentos verdadeiros, intuições corretas. . . ela os possui em tão alto grau que isso é mais do que suficiente para compensar os inconvenientes resultantes da distração e da falta de compreensão momentânea que acompanha a visão. (Flournoy, 1900: 47)
Novos estudos que solicitem as informações dos médiuns poderiam comparar tanto a prevalência, a frequência e a variedade dos fenômenos em suas vidas diárias (e.g., imagens hipnagógicas, PES, e experiências de aparições), avaliadas contra os grupos de controle. Além de esperar mais experiências com médiuns, devido à sua suposta abertura a uma variedade de influências, uma possível previsão é que os médiuns teriam mais fenômenos sugestivos de um agente desencarnado (e.g., percepções visuais e auditivas sobre os mortos) do que os não-médiuns. Além disso, talvez os médiuns experientes exibam tanto uma frequência maior e um maior nível de controle dessas experiências do que os médiuns menos experientes, e do que os não-médiuns.
Outra área negligenciada é o estudo das possíveis variáveis ??de personalidade relacionadas à mediunidade. Schmeidler (1958) relatou análises de respostas Rorschach geradas pela médium Caroline Chapman. A médium demonstrava “pouca necessidade de envolvimento pessoal íntimo com os outros” (Schmeidler, 1958:153), bem como “significado interno de eventos, valores simbólicos, [e] a valorização da natureza. . . .” (p. 153). Alguns anos mais tarde, Trick (1966) relatou a descoberta de uma tendência à dependência de campo em dois médiuns. Roxburgh (2008) encontrou associações positivas entre a mediunidade e a extroversão, o neuroticismo, e a abertura à experiência, mas nenhuma associação significativa com afabilidade ou consciência.[16]
Outras possibilidades para pesquisas futuras podem vir a partir da afirmação de que os médiuns exibem um “emocionalismo excessivo” (Morselli, 1908(1):97), e são caracterizados principalmente por “sua tendência à distração, a devaneios. . .” (De Sermyn, 1910: 133). O trabalho sobre esses temas poderia ser feito por meio de medidas de emoções (Plutchik, 1989), devaneios (Singer & McCraven, 1961) e distração (Broadbent, Cooper, FitzGerald, e Parkes, 1982).
Finalmente, podemos concentrar-nos em estudos cognitivos de médiuns, que poderiam incluir testes de inibição de memória, facilitação e interferência cognitiva, tais como aqueles realizados com pacientes com DID (Dorahy & Irwin, 2004). Outros testes de desempenho incluiriam aqueles utilizados para avaliar a capacidade verbal e espacial, e a de resolução de problemas, entre outros.
A Mediunidade Sofre Mudanças com o Tempo?
Existem muitas observações que sugerem que a mediunidade é um processo
No início, ela ficou muito agitada, logo passando a escrever mecanicamente; isto é, sem qualquer vontade de sua parte, e sem qualquer consciência do que escrevia. . . . Em seguida, ela virou uma médium fônica. Ela não estava em transe. . . estava plenamente ciente de tudo o que dizia e de tudo o que acontecia ao seu redor. Ela. . . viu, através de sua própria mente, todas as informações sobre o naufrágio do navio San Francisco. . . . Tudo isso foi vários dias antes de qualquer notícia do acidente desse navio ter chegado à terra. . . . Em poucos dias chegou uma confirmação precisa de todos os incidentes que foram divulgados por ela. . . .
Em seguida, ela passou a falar línguas diferentes. Ela não conhece outra língua exceto a sua própria, e um pouco de francês adquirido no colégio interno. No entanto, ela falou em nove ou dez línguas diferentes, às vezes por uma hora de cada vez, com a facilidade e a fluência de um nativo. . . .
Por volta da mesma época seus poderes musicais se desenvolveram. Ela já cantou várias vezes em línguas estrangeiras, como em italiano, indiano, alemão e polonês, e agora não é infrequente que ela cante em sua própria língua, improvisando as palavras e a melodia enquanto ela realiza seu ato — a melodia sendo muito original e perfeita, e os sentimentos nos mais altos graus de elevação e de nobreza.
O próximo passo foi ver espíritos e cenas espirituais, e agora mal passa um dia sem que ela descreva os espíritos que estão presentes, todos estranhos para ela, mas muito facilmente reconhecidos e identificados por seus amigos inquisidores. . . .
Ao mesmo tempo, ela foi usada como instrumento para a entrega de discursos longos e didáticos sobre os princípios da nossa fé. Agora, ela é usada principalmente para dar provas morais e mentais, que para muitos são bastante satisfatórias. Houve um período em que ela via principalmente imagens alegóricas; agora ela vê a realidade da vida espiritual. Uma época ela escrevia mecanicamente, mas agora por impressão, conhecendo os pensamentos que ela redige. Antigamente era difícil aos espíritos conversar através dela; mas agora conversar, com qualquer um, por mais estranho que seja a ela, se dá com a liberdade e a facilidade mais gratificantes ao investigador. (Edmonds & Dexter, 1855(2): 44-45.
A mediunidade da Sra. Piper mostrou mudanças ao longo do tempo, tanto na variedade dos controles espirituais, quanto no modo de expressão. Por exemplo, o controle Phinuit, que esteve ativo desde os anos 1880 até 1892 baseava-se principalmente na voz da Sra. Piper para se comunicar enquanto o controle GP (1892-1897) agia mais sobre a escrita (Sidgwick, 1915). No caso de Hélène Smith, a médium produziu fenômenos diferentes em diferentes períodos de tempo. Após Flournoy ter publicado seu famoso estudo (Flournoy, 1900), um período durante o qual ele não tem acesso à médium mais, ela passou a produzir mais comunicações marcianas, e acrescentou novas variantes relacionadas a Urano e à Lua (Flournoy, 1901). Mais tarde, ela apresentou o que Lemaitre (1908) chamou de “novo ciclo de sonambulismo” consistindo em pinturas religiosas. Embora Smith tenha realizado pinturas antes, tais como as relacionadas com Marte (Flournoy, 1900), ela começou a ter visões de Cristo em 1900, e as primeiras pinturas religiosas apareceram em 1903 e continuaram por vários anos.[17]
Evidências de que os médiuns tiveram experiências psíquicas na infância (Emmons & Emmons, 2003, Capítulo 52) sugerem que eles podem ter tido uma predisposição a tê-las desde o início. Mas há uma necessidade de estudos sobre os múltiplos fatores —tais como parentalidade, educação, apoio e treinamento — que podem ter interagido com tal predisposição hipotética por toda a vida útil do médium. Esse trabalho pode nos permitir identificar vias comuns de desenvolvimento da mediunidade.
Observações Finais
O objetivo deste trabalho foi o de sugerir linhas para futuras pesquisas com médiuns mentais, utilizando principalmente a antiga literatura da pesquisa psíquica como inspiração para tais ideias, com ênfase em abordagens psicológicas. Mas um fenômeno tão complexo como a mediunidade precisa ser estudado de várias maneiras, tais como médica e antropologicamente, entre outras perspectivas que não foram enfatizadas neste trabalho (para uma discussão sobre as funções psicossociais da mediunidade, consulte Maraldi, 2009).
Estes estudos enfrentam muitos problemas. Entre eles está a dificuldade de dar sentido à mediunidade através de relações com outras variáveis ??e processos que não são completamente compreendidos, como a dissociação e a maneira como a mente lida com a imageria. A falta de conhecimento mais detalhado sobre os processos que dificultam a mentação em geral — associação de idéias, confusão de imagens, decodificação de símbolos — também impede o nosso progresso na compreensão da mediunidade.
Além disso, a nossa compreensão destas manifestações pode ser complicada pela possibilidade de podermos estar lidando com diferentes tipos de mediunidade. Embora alguns casos de mediunidade possam ser explicados pela capacidade do médium em produzir mentação com base unicamente em processos psicológicos e influências sociais, outros casos como os de Piper e Leonard apresentaram características verídicas e parecem exigir explicações além das convencionais. Assumindo que estes constituem diferentes tipos de médiuns, eu me pergunto se eles diferem em sua relação com as variáveis ??discutidas neste artigo.[18] Esse pode não ser o caso, se postulamos, seguindo Myers (1903), que a mediunidade verídica e não-verídica compartilham os mesmos processos subconscientes de uso dos automatismos sensoriais e motores para transmitir as mensagens. Consequentemente, se muitas das variáveis ??discutidas neste artigo — dissociação, susceptibilidade hipnótica, ou uma abertura a todos os tipos de experiências — manifestam-se através da mente subconsciente do médium, elas estariam relacionadas à mediunidade caso puderem produzir conteúdo verídico ou não.
Depois, há a questão da interação de muitas variáveis. Talvez um modelo possa ser desenvolvido considerando a interação das experiências da primeira infância, as influências situacionais posteriores, incluindo a formação mediúnica, a personalidade e variáveis ??cognitivas.[19]
Enquanto eu acredito que essas variáveis ??são importantes, também é importante avaliar as diferenças culturais. Por exemplo, como é que a mediunidade em países com diferentes origens culturais, como o Brasil e os Estados Unidos, se comporta em relação às variáveis ??estudadas neste capítulo? Afinal de contas, os fatores sociais e religiosos que moldam a mediunidade no Brasil — cultos afro-brasileiros e espiritismo kardecista — geralmente são diferentes da maior parte da mediunidade desenvolvida nos Estados Unidos.
Não há, naturalmente, soluções simples. Além de continuar a investigação nas áreas acima mencionadas, e em outras não cobertas aqui, podemos fazer avanços significativos se projetássemos estudos de médiuns que coletassem informações de diferentes perspectivas no mesmo projeto. Tal espécime de modelo encontra um exemplo no relatório publicado sobre a médium italiana Eusápia Palladino, que foi estudada a partir das perspectivas físicas, fisiológicas, psicológicas e parapsicológicas (Courtier, 1908). Talvez pudéssemos hoje realizar pesquisas com um médium mental em que houvesse um monitoramento psicofisiológico durante a performance, análises de possíveis padrões na mentação (e.g., imagens recorrentes e simbólicas, modalidades sensoriais predominantes, distorções), avaliação ??da personalidade e das variáveis cognitivas, mentação verídica, e coleta de informações sobre a infância, a família do médium, o ambiente social, a formação mediúnica, experiências psíquicas, saúde e possíveis mudanças nos fenômenos ao longo do tempo. Embora tal programa de pesquisa possa não ser prático ou viável do ponto de vista financeiro, em teoria poderia fornecer muitas informações úteis sobre vários aspectos da mediunidade.
Outras literaturas sobre as investigações de determinados indivíduos que podem inspirar os nossos estudos de médiuns incluem as realizadas com indivíduos com transtorno de identidade dissociativo (e.g., Jeans,
“A natureza exata da mediunidade”, escreveu Horace Leaf (1919:125), “promete permanecer um mistério por muito tempo”. No entanto, as dificuldades inerentes ao estudo do tema não devem parar a pesquisa. Estou convicto que a literatura passada, usada em conjunto com as ideias, metodologia e criatividade modernas, pode ajudar os pesquisadores a concentrar seus esforços no intuito de aumentar a nossa compreensão da mediunidade mental.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a Nancy L. Zingrone pelas sugestões úteis de redação.
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Artigo original: Alvarado, C. S. (2010) Investigating mental mediums: research suggestions from the historical literature. J Scientific Exploration, 24 (2):197-224.
Artigo traduzido por Vitor Moura Visoni.
[1] Há também muitas observações interessantes sobre o transe na literatura de médiuns de efeitos físicos (e.g., Lombroso, 1909, Morselli, 1908).
[2] Embora o foco deste trabalho não seja psicofisiologia, é interessante notar que William James (1886: 105) mencionou que as pupilas de Piper se contraíam durante o transe. Hodgson (1892: 5) simplesmente declarou que as pupilas de Piper reagiam à luz durante o transe. Espera-se que futuros estudos sobre essas questões sejam mais sistemáticos e relatados com mais detalhes.
[3] Capron (1855: 381) referiu-se às dificuldades em separar a influência do espírito da influência da mente do médium. Kardec (1862, capítulo 19) acredita que o médium pode influenciar as comunicações e que o conteúdo de seu cérebro foi usado para formar as mensagens. Myers (1903 (2): 250) se refere a uma possível mistura nas comunicações de transe, uma “mistura de telepatia entre o consulente, o espírito do sensitivo, e o espírito estranho.” Em sua opinião, para separar as possíveis influências deve-se estar familiarizado com o médium
[4] Símbolos não estão necessariamente limitados à mentação, como visto na produção de desenhos simbólicos, tais como cenas e emblemas religiosos descritos por Crosland (1857).
[5] Muitos autores abordaram a natureza fragmentária das comunicações mediúnicas, em termos de coerência e conteúdo verídico. Referindo-se à Sra. Piper, Oliver Lodge (1890) escreveu: “No meio da. . . lucidez uma série de declarações erradas e confusas são frequentemente feitas, tendo pouco ou nenhum significado ou aplicação aparente” (p. 443).
[6] Seguindo os escritores mencionados anteriormente, Myers (1900: 402) insinuou que Kardec sugestionava seus médiuns.
[7] James (1890), sempre justo para o ponto de vista oposto, comentou da seguinte forma após a citação acima: “Mas o curioso é que as pessoas não expostas às tradições espiritualistas muitas vezes agem da mesma forma quando elas entram em transe, falando em nome do falecido, fazendo os gestos de suas várias agonias na morte, enviando mensagens sobre o seu lar feliz na terra do verão, e descrevendo as doenças das pessoas presentes” (James, 1890(1): 394).
[8] Vinte anos depois, Sudre (1946) publicou um livro discutindo os fenômenos de personificação na mediunidade e em outros fenômenos. Infelizmente, o livro não parece ser conhecido hoje.
[9] Esses tópicos, e os filosóficos, foram discutidos com frequência por comunicadores mediúnicos (e.g., Kelway-Bamber, 1920, Linton, 1855, Moses, 1883, Thoughts, 1886). Kardec (1862, 1867) desenvolveu um sistema de comunicações que ele usou para fornecer uma base filosófica para o espiritismo e explicações para os fenômenos psíquicos. Bayless (1971) e Fontana (2009) discutem muitos exemplos dos “ensinamentos” dos espíritos recebidos através de médiuns, com ênfase sobre a natureza da vida após a morte.
[10] Outro exemplo de comunicações verídicas e não-verídicas provenientes de Leonard pode ser encontrado na famosa discussão de Oliver Lodge (1916) de mensagens oriundas presumivelmente do seu filho.
[11] A interpretação disso é complicada, pois Hall admitiu que havia uma pessoa viva com esse nome a quem ele pode ter sabido a respeito (Tanner, 1910: 181).
* Movimentos rápidos e de grande amplitude que lembram uma dança (N. T.).
[12] Muitos outros se opuseram à patologização de médiuns (e.g., Kardec, 1862: 263, Sprague, 1912: 44-45).
[13] Le Maléfan (1999) discute diferentes modelos da postulada relação patologia-mediunidade, como visto na literatura psiquiátrica francesa passada.
[14] De acordo com a Myers (1903):
Pode-se esperar que os fenômenos vitais supranormais se manifestem tanto quanto possível pelos mesmos canais que os fenômenos vitais anormais ou mórbidos, quando os mesmos centros ou as mesmas sinergias estejam envolvidos (Myers, 1903(2): 84, itálicos no original).
Ele ainda escreveu sobre as manifestações de um eu secundário que
parece provável que o seu caminho de externalização mais imediato — sua saída mais imediata da ação visível — muitas vezes se situa ao longo de uma trilha que já se mostrou de menor resistência pelos processos de desintegração da doença. . . . Se a epilepsia, loucura, & c., tendem a dividir as nossas faculdades de certas maneiras, o automatismo é provável de separá-las de maneiras que de algum modo se assemelham a elas. (Myers, 1903(2): 84)
[15] Discutirei sonhos e mediunidade em outro artigo. Aqui eu só vou mencionar como uma hipótese que os médiuns, em comparação aos controles, podem mostrar uma maior frequência de recordação dos sonhos, e mais relatos de sonhos lúcidos, vívidos e incomuns.
[16] Ver também Hearne (1989). Ideias para a pesquisa também podem ser encontrada na literatura sobre as características psicológicas dos médiuns (e.g., Schmeidler 1982, Tenhaeff, 1972). Há também a questão da criatividade em médiuns, um tema discutido por Braude (2000) e Grosso (1997), e pesquisado por Roxburgh (2008), com resultados nulos. Os escritos de Flournoy (1900, 1901) e Deonna (1932) se concentram nas criações de Hélène Smith. O último é um estudo muito negligenciado de pinturas mediúnicas, um tema com implicações para o relacionamento mediunidade-criatividade (ver também Osty, 1928).
[17] O estudo mais detalhado das pinturas de Smith, e um estudo único na literatura da mediunidade, foi o de Waldemar Deonna (1932). Ele argumentou que algumas das razões para as alterações nos fenômenos foram as reações da médium à análise psicológica de Flournoy (1900), e o fato de que, devido a um patrono, ela parou de trabalhar para ganhar a vida e dedicou sua vida apenas à sua mediunidade. Esta perda de suas atividades normais, Deonna especulou, levou sua mente subconsciente a prestar mais atenção aos comandos alucinatórios que “pareciam vir do além” (Deonna, 1932: 59).
[18] Na prática, não é tão simples separar os médiuns em termos de produção de mentação verídica e não-verídica. Como visto no caso da Senhora Leonard (Lodge, 1916, Thomas, 1928), os médiuns que produziram fenômenos verídicos produzem também os não-verídicos que podem ter como fonte apenas os processos intrapsíquicos do médium. O processo mediúnico, como Myers (1903) e Hyslop (1919) afirmam, é provavelmente uma mistura de diferentes influências.
[19] Sobre as interações de algumas destas variáveis ??na mediunidade brasileira, ver Krippner (1989) e Seligman (2005).
[20] Infelizmente, uma boa parte da moderna pesquisa psicológica e psiquiátrica afastou-se dos estudos aprofundados de indivíduos específicos (para discussões, ver Berkenkotter 2008, Danzinger, 1990).
setembro 12th, 2014 às 10:27 PM
Tomara que sejam feitas futuras pesquisas isentas e sérias com esses tais médiuns mentais. Até agora só discutimos passado.
Ainda não entendi o porquê de a mediunidade variar no tempo, não havendo mais tanta necessidade de transe mediúnico.
Myers, ao que me parece, considerava comunicações mediúnicas inverídicas aquelas em que ocorre dissociação da personalidade, sendo o “médium” honesto, acreditando mesmo que se comunica com espíritos, não se dando conta de que tem personalidade dissociativa e não mediunidade, a qual não existe, pois não pode existir meio entre o real e o imaginário, ou seja, os espíritos comunicantes.
O que ele considerava mediunidade verídica deviam ser os truques bem feitos, os engodos escolados, à la cx, divaldo, etc.
Gostei do sentido de “transe” como SUPOSTOS estados de consciência.
Disso eu não duvido. O sono nosso de cada dia (o meu alguém furtou) é um estado alterado de consciência, sem dúvida. Por isso só sonhamos coisas sem sentido.
O pequeno episódio epiléptico atribuído a Piper lembra as convulsões dos “cavalos” da umbanda.
Pelo que penso saber, não haverá espaço para falar-se de cx aqui, pois creio que ele não entrava em “transe”. Já divaldo, como podemos ver no youtube, quando ele “incorpora” Bezerra de Menezes, no finalzinho do vídeo, simula um transe.
Essa saída do transe em estágios lembra mesmo a epilepsia.
A influência do médium nas comunicações é uma excelente válvula de escape, pois podemos atribuir qualquer falha em testes à interferência do médium.
Marte é tema recorrente quando se fala de médiuns (refiro-me ao trecho que fala sobre Hélène Smith e outros), o que deveria, hoje em dia, provar de vez que mediunidade não existe.
No tempo dela até se poderia acreditar em vida passada em Marte, mas agora que sabemos que o planeta é completamente estéril, fica difícil.
Vida nos planetas vizinhos deveria fazer soar um alarme na cabeça de qualquer um, nos dias atuais.
Seriam os médiuns mutantes de quadrinhos ou cinema, daqueles em que mutações genéticas acontecem sem nenhum processo evolutivo e individualmente?
Se for o caso (claro que não estou falando seriamente), houve um retrocesso na mutação, pois como se disse no texto sob comento, os médiuns atuais são avessos a contorcionismos.
Lombroso, citado no texto, para quem não se lembra, foi o criador da pseudociência conhecida como frenologia, a qual não é mais levada a sério faz tempo.
Aguardo os comentários lúcidos de MONTALVÃO e de GRODUCHO.
setembro 12th, 2014 às 10:30 PM
GORDUCHO, não GRODUCHO (perdão, a pressa é inimiga da perfeição e eu estou longe de ser justo e perfeito).
setembro 13th, 2014 às 8:15 AM
Este é um artigo denso que pode gerar expressivo comentário. Aliás eu “simpatizo” com Carlos Alvarado – sem conhecê-lo, bien entendu.
Mas vejamos esse trecho, negritos meus:
Em The Principles of Psychology, William James (1890) enfatizou que o Zeitgeist influenciava as produções mediúnicas. Ele escreveu:
Uma coisa curiosa sobre o transe vocal é sua semelhança genérica em indivíduos diferentes. O “controle” aqui nos Estados Unidos é ou um personagem grotesco, coloquial e irreverente (controles “índios”, que chamam as mulheres de “índias”, os homens de “guerreiros”, a casa de uma “tenda”, etc., são excessivamente comuns); ou, caso ele se aventure em maiores voos intelectuais, ele é rico em uma vaga e curiosa filosofia-e-água-fresca otimista, em que frases sobre o espírito, harmonia, beleza, lei, progressão, desenvolvimento, etc., são recorrentes. Parece exatamente como se um autor compusesse mais da metade das mensagens de transe, não importa por quem elas sejam proferidas. Se todos os seres subconscientes são particularmente suscetíveis a um determinado estrato do Zeitgeist, e obtém sua inspiração a partir dele, eu não sei; mas esse é obviamente o caso dos eus secundários que se “desenvolvem” nos círculos espiritualistas. Lá os primórdios do médium de transe são indistinguíveis dos efeitos da sugestão hipnótica. O sujeito assume o papel de um médium simplesmente porque a opinião espera isso dele sob as condições presentes; e o faz com uma fraqueza ou uma vivacidade proporcional aos seus dons histriônicos. (James, 1890(1): 394)
Note-se que cá o WJ se comporta como um psicólogo de verdade. e resume toda a realidade do “mediunismo”. Mas the will to believe impede que ele dê o pequenino passo final e conclua que se trata tudo de fantasias e que “mediunidade” não existe.
setembro 13th, 2014 às 1:10 PM
Eu mesmo já dissera aqui, faz tempo:
.
“Marciano Diz:
janeiro 27th, 2014 às 19:17
MARCOS ARDUIN PERGUNTA:
.
Se os espíritos REVELASSEM que o racismo estava cientificamente errado, que deveria fazer Kardec? Pergunta aos foristas: se um médium passasse uma mensagem de algum espírito revelando algo que cientificamente consideraríamos um absurdo. Que fariam vocês?
Respondam a isso e depois coloquem-se na mesma posição de Kardec no seu tempo.
.
RESPOSTA A – O espírito de verdade só deveria dizer a verdade, mesmo que a ciência da época estivesse errada a respeito.
.
RESPOSTA B – Eu, no lugar de Rivail, se acreditasse nessas bobagens, faria o que o espírito de verdade mandasse, ou seja, diria a verdade.
Talvez fosse melhor ele ficar calado do que dizer uma mentira.
.
COMENTÁRIO: Na verdade, nunca existiram espíritos e médiuns, sendo assim, Rivail, em sua terceira revelação, disse aquilo que o zeitgeist pensava que fosse verdade. Resultado: quebrou a cara em muitas coisas, nisso e quase tudo o que disse sobre astronomia, biologia (geração espontânea), etc.”.
setembro 13th, 2014 às 1:14 PM
Esse pequeno passo final é o mais difícil.
Veja que Arduin confessa que não é chiquista, que a FEB é roustainguista, etc. e tal, mas não abre mão da crença.
Vitor deixou de ser espírita, mas guarda um resquício de crença em fantasmas e reencarnação, buscando apoio na surrada parapsicologia.
Montalvão é um dos mais céticos aqui, mas ainda tem esperança de existam espíritos, embora esteja certo de que eles, se existirem (na cabeça do Montalvão) não comunicam nada.
Biasetto deixou de ser espírita, mas ainda acredita em coisas fantásticas, como divindades não antropomórficas e espíritos.
setembro 13th, 2014 às 1:16 PM
Eu acho que crenças em coisas bizarras, religiões, personagens criados pela imaginação humana (jesus e cia.) deixam cicatrizes indeléveis naqueles que um dia conseguem ver que tudo não passa de engodo.
A crença estranha vai, a cicatriz fica.
setembro 13th, 2014 às 1:22 PM
Outra pérola antiga que encontrei vasculhando o baú:
.
“Marciano Diz:
julho 22nd, 2012 às 13:38
Arduin, cada dia você fica mais enigmático pra mim. Pelo que estou vendo, você não acredita no que ensina, aquilo que deve chamar de pataquadas de agora.
Quando termina a aula você diz para seus alunos:
– ASQ? Seria melhor se dissesse:
– QED (quod erat demonstrandum).
.
Qumran não é uma pessoa, é um local, onde foram encontrados os manuscritos do mar morto, dos essênios. Por essas e outras é que já achei que você fosse o alter ego do Scur. Certa vez eu mencionei zeitgeist e ele disse que não sabia quem era “esse cara”.
setembro 13th, 2014 às 3:07 PM
Para quem gosta de livros antigos e fala inglês, vai aqui uma recomendação de leitura, grátis (domínio público) e de agradável leitura:
http://www.jrbooksonline.com/PDF_Books/16CrucifiedSaviors.pdf
setembro 13th, 2014 às 3:13 PM
Se Forrest Gump nunca existiu, nem como uma pessoa comum, qualquer religião ou crença que se refira a ele como uma pessoa real (inclusive todas as obras espíritas) é falsa.
Outros livros recomendados:
Anacalypsis: An Attempt to Draw Aside the Veil of the Saitic Isis or an Inquiry into the Origin of Languages, Nations and Religions by Godfrey Higgins, 1836;
• The Christ Myth ( or Die Christusmythe) by Arthur Drews, 1909;
• The Denial of the Historicity of Jesus in Past and Present ( or Die Leugnung der Geschichtlichkeit Jesu in Vergangenheit und Gegenwart) by Arthur Drews, 1927;
• Did Jesus Exist? by George Albert Wells, 1975
• The Jesus Mysteries: Was the “Original Jesus” a Pagan God? by Timothy Freke and Peter Gandy, 1999;
• Incredible Shrinking Son of Man: How Reliable Is the Gospel Tradition? by Robert M Price, 2003;
• The Pagan Christ: Recovering the Lost Light (or The Pagan Christ: Is Blind Faith Killing Christianity?) by Tom Harpur, 2004;
• The Jesus Puzzle by Earl Doherty, 2005;
• The God Delusion by Richard Dawkins, 2006;
• God Is Not Great: How Religion Poisons Everything (or god Is Not Great: The Case Against Religion) by Christopher Hitchens, 2007;
• Proving History: Bayes’s Theorem and the Quest for the Historical Jesus by Richard Carrier, 2012
• On the Historicity of Jesus: Why We Might Have Reason for Doubt by Richard Carrier, 2014.
setembro 13th, 2014 às 4:08 PM
Esqueci-me deste:
Ten Beautiful Lies About Jesus – David Fitzgerald.
setembro 13th, 2014 às 4:09 PM
Este tenta sustentar o mito.
Para não dizerem que não falei dos favoráveis.
setembro 13th, 2014 às 4:12 PM
Se alguém se interessar e tiver dificuldades, tenho quase todos, inclusive o último mencionado.
Em pdf ou epub.
setembro 14th, 2014 às 1:49 AM
Especial para MONTALVÃO:
Not the Impossible Faith, Richard Carrier.
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Também:
EVIDENCE, MIRACLES AND THE EXISTENCE OF JESUS
(Published in Faith and Philosophy 2011. Volume 28, Issue 2, April 2011. Stephen Law. Pages 129-151)
EVIDENCE, MIRACLES AND THE EXISTENCE OF JESUS
Stephen Law
setembro 14th, 2014 às 7:37 PM
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Martiniano: cê acordou com a corda toda, concordo com sua bela peroração, só faço um miúdo retificamento:
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MARCIANO: Lombroso, citado no texto, para quem não se lembra, foi o criador da pseudociência conhecida como frenologia, a qual não é mais levada a sério faz tempo.
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COMENTÁRIO: Lombroso era frenologista, mas não foi o criador, o pai da frenologia foi Franz Joseph Gall, morto em 1828. Veja o que Kardec dele dizia na Revista Espírita de julho/1860:
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KARDEC: “A Frenologia e a Fisiognomonia
Revista Espírita, julho de 1860
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A frenologia é a ciência que trata das funções atribuídas a cada parte do cérebro. O doutor Gall, fundador desta ciência, pensou que, uma vez que o cérebro é o ponto onde chegam todas as sensações, e de onde partem todas as manifestações das faculdades intelectuais e morais, cada uma das faculdades primitivas deve ter aí seu órgão especial. Seu sistema consiste, pois, na localização das faculdades. O desenvolvimento de cada parte cerebral, compelindo ao desenvolvimento do envoltório ósseo, e aí produzindo protuberâncias, disso concluiu que, do exame dessas protuberâncias, poder-se-ia deduzir a predominância de tal ou tal faculdade, e daí o caráter ou as aptidões do indivíduo; daí, também, o nome de cranioscopia dado a esta ciência, com a diferença de que a frenologia tem por objeto tudo o que concerne às atribuições do cérebro, ao passo que a cranioscopia se limita às induções tiradas da inspeção do crânio; em uma palavra, Gall fez, a respeito do crânio e do cérebro, o que Laváter fez para os traços da fisionomia.
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Não temos a discutir aqui o mérito dessa ciência, nem examinar se ela é verdadeira ou exagerada em todas as suas conseqüências; ela é, porém, alternativamente defendida e criticada por homens de um alto valor científico; se certos detalhes são ainda hipotéticos, ela não repousa menos sobre um princípio incontestável, o das funções gerais do cérebro, e sobre as relações existentes entre o desenvolvimento e a atrofia desse órgão e as manifestações intelectuais. O que é de nossa alçada, é o estudo de suas conseqüências psicológicas.
Das relações que existem entre o desenvolvimento do cérebro e a manifestação de certas faculdades, alguns sábios concluíram que os órgãos cerebrais são a própria fonte das faculdades, doutrina que não é outra senão a do materialismo, porque tende à negação do princípio inteligente estranho à matéria; faz do homem, por conseqüência, uma máquina sem livre arbítrio e sem responsabilidade de seus atos, uma vez que poderia sempre atirar as suas faltas sobre a sua organização, e que haveria injustiça em punir faltas que não dependeu dele cometer. Pode-se abalar com as conseqüências de semelhante teoria, e ter-se-ia razão; seria necessário, por isso, proscrever a frenologia? Não, mas examinar o que ela poderia ter de verdadeiro ou de falso nessa maneira de encarar a coisa; ora, esse exame prova que as atribuições do cérebro em geral, e mesmo a localização das faculdades, podem perfeitamente se conciliar com o Espiritualismo, o mais severo, que nela encontra mesmo a explicação de certos fatos. Admitamos por um instante, a título de hipótese querendo-se, a existência de um órgão especial para o instinto musical; suponhamos, por outro lado, como nos ensina a Doutrina Espírita, que um Espírito, cuja existência é bem anterior ao seu corpo, e chega com a faculdade musical muito desenvolvida, essa faculdade se exercerá naturalmente, sobre o órgão correspondente, e impelirá para o seu desenvolvimento como o exercício de um membro aumenta o volume dos músculos. Na infância, o sistema ósseo oferecendo pouca resistência, o crânio sofre a influência do movimento expansivo da massa cerebral; assim, o desenvolvimento do crânio é produzido pelo desenvolvimento do cérebro, como o desenvolvimento do cérebro é produzido pelo da faculdade; a faculdade é a causa primeira; o estado do cérebro é um efeito consecutivo; sem a faculdade, o órgão não existiria, ou não seria senão rudimentar. Encarada sob este ponto, a frenologia não tem, como se vê, nada de contrário à moral, porque deixa ao homem toda a sua responsabilidade, e nós acrescentamos que essa teoria, ao mesmo tempo, está conforme a lógica e a observação dos fatos.” […]
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A respeito de Lombroso:
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“De acordo com os seus profundos conhecimentos das obras de frenologia e fisiognomia e das suas convicções, Lombroso utilizou-se de um método positivista para
classificar os criminosos, inspirando-se nesses precursores da Antropologia Criminal: Darwin, Lamarck, Despine entre outros pensadores que auxiliaram no curso da sua pesquisa, da qual enfatizou o estudo da evolução da espécie humana desenvolvida por Darwin. Lombroso teve a colaboração em seu labor científico e filosófico da época favorável em que viveu, pois aproveitou teorias que o antecederam, com a finalidade de encontrar as causas do crime nos estigmas do delinqüente.”
(CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS SEGUNDO: LOMBROSO, FERRI E GAROFÁLO – Deisiane de Jesus Mendes)
setembro 14th, 2014 às 7:51 PM
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DE MARTE: Montalvão é um dos mais céticos aqui, mas ainda tem esperança de existam espíritos, embora esteja certo de que eles, se existirem (na cabeça do Montalvão) não comunicam nada.
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COMENTÁRIO: Martiniano, usted, enquanto meu analista predileto, deve especificar claramente meu pensar. Não guardo esperança de que existam espíritos, guardo a esperança de que a existência continue, seja lá de modo for, almejando, tão somente, que transcorra um pouco melhor que a daqui. Espíritos podem bem existir, mas mesmo que existam, deles nada sabemos, portanto não sabemos se existem dos modos que conseguimos imaginá-los, por isso, escuso-me representá-los mentalmente.
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De qualquer modo, num ponto, no principal, está certíssimo: a tese do Montalvão, junto com a de outros que aqui transitam, é a de que espíritos, se existem, e existam da maneira que for, comprovadamente não comunicam.
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Este postulado pode ser modificado, desde que surja espírito disposto a dar provas de sua presença, ativa e comunicante, coisa que, em 150 anos de história da mediunidade, não foi obtido. Desse modo, a tese contrária à comunicação tem 150 anos de corroboração.
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Quer mais?
setembro 15th, 2014 às 12:20 AM
Traiçoeira memória!
Sempre que penso em frenologia, penso em Lombroso. Acho que ele está para a frenologia como Salvador Dali está para o surrealismo e Picasso para o cubismo. Foram os que mais chamaram a atenção para o movimento.
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Quanto ao mais, eu poderia dizer que MONTALVÃO acredita na possibilidade da persistência da memória (êpa, falei em memória e em Dali a acabei lembrando da persistência da memória, de 1931), digo, persistência da consciência após a morte.
Pena que ela não persista, senão MONTALVÃO perceberia, após sua própria morte, que esperou por nada. Por outro lado, se percebesse alguma coisa, seria porque sua consciência perdurou após a morte.
Papo de doido, sô.