Investigação de carta mediúnica: Um filho falecido supostamente escreve aos pais (2025)
A mediunidade é uma prática espiritual amplamente aceita no Brasil, relacionada ao processo de luto e às crenças na vida após a morte. Por isso, há grande interesse entre os brasileiros em determinar se médiuns podem obter informações além dos meios convencionais (Recepção de Informação Anômala – RIA). No entanto, há escassez de estudos qualitativos aprofundados sobre o tema. Este estudo teve como objetivo investigar relatos de RIA em transe mediúnico e o significado dessas informações para a família do falecido. Em um estudo observacional controlado, após 43 segundos de interação filmada com os pais, o médium escreveu uma carta atribuída ao filho falecido. Informações obtidas ou dedutíveis da interação médium–consulentes foram excluídas dos itens verificáveis da carta. O grau de precisão e especificidade dos demais itens foi investigado em três entrevistas com os pais e por meio de documentos e objetos do falecido. Um especialista realizou análise grafotécnica da assinatura da carta. O médium produziu 19 itens de informação, dos quais um não pôde ser avaliado, um foi não reconhecido, dois dedutíveis, nove genéricos e seis específicos. As informações descreviam hábitos presentes e passados do falecido, planos e características físicas marcantes, percebidas pelos pais como improváveis de serem obtidas por meios rotineiros ou por acaso. A comparação de assinaturas é comum na prática mediúnica; neste caso, a assinatura apresentou algumas semelhanças gerais com a do falecido, mas muitas diferenças em aspectos sutis. A produção de seis itens verificáveis que não haviam sido previamente comunicados ao médium por meios convencionais ilustra o que muitos brasileiros acreditam ser fenômenos de RIA. Estudos qualitativos sobre RIA podem lançar luz sobre a prática da mediunidade e suas implicações para a saúde mental, especialmente no contexto do luto e da perda no Brasil. Este artigo foi publicado na Transcultural Psychiatry, um jornal do mainstream. Para ler minha tradução em português, clique aqui. Para ler o original em inglês, clique aqui.
setembro 17th, 2025 às 9:47 AM
Olá Vitor,
O artigo coloca como conhecimento específico a informação que o rapaz tinha um “sorriso bonito e dentes largos”. Ora, a geração selfie de hoje sabe muito bem que para aparecer bem na foto a regra é “mostrar os dentes”. Praticamente todo mundo com menos de 30 anos vai ter algum tipo de imagem com “dentes largos”. Classificar a informação como “específica” e não “genérica”, mostra as limitações deste tipo de estudo.
setembro 17th, 2025 às 3:01 PM
Não entendo por que ficha + contato médium – consulente(s).
Doutrinariamente pra evocar o Espírito só precisa do nome (???)
outubro 7th, 2025 às 5:13 PM
Interessante a iniciativa, porém não achei o resultado muito animador. Penso que apenas 2 afirmações poderiam ser consideradas específicas, a do balcão e talvez o da brincadeira de dar susto.
No segundo apenas se era um costume ainda corriqueiro quando vivo e não lembranças de hábitos quando mais novo. Pois é mesmo bem comum na infância ter a fase de brincar de dar susto nos outros.
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Achei outras consideradas específicas muito forçadas, tipo a de chamar atenção da pessoa por causa de toalha molhada em cima da cama, algo muuuito comum…
A frase aceita pelos pesquisadores como singular, na verdade é bem genérica nesse tipo de bronca entre pais e filhos…
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O sonho de ter um carro sempre foi forte entre jovens nessa faixa etária. Ainda o é, segundo outras tantas pesquisas. \/
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“Uma pesquisa realizada pela HSR – Specialist Researchers, em 2022, mostra que nove entre cada dez jovens de 18 a 25 anos compraria um carro, caso tivesse condições. A pesquisa revela que, para os jovens, o carro próprio ainda é a escolha principal para o meio de transporte.” – ver em https://www.portaldotransito.com.br/noticias/conscientizacao/comportamento/os-jovens-continuam-sonhando-com-o-carro-proprio/
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“A pesquisa (2025), que entrevistou 1.600 brasileiros acima de 18 anos, revelou que 92% dos jovens da Geração Z pretendem comprar um carro ou trocar o veículo que já possuem, mesmo que ainda não tenham definido um prazo. Dentro desse grupo, mais da metade afirmou que deseja concretizar esse objetivo nos próximos três anos. Apenas 7% indicaram não ter interesse em adquirir ou trocar um automóvel.” – ver em https://ange360.com.br/geracao-z-tem-mais-interesse-em-carro-proprio-do-que-os-millennials/
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“Ter um carro ainda é um desejo de grande parcela dos brasileiros. A constatação foi de uma pesquisa (2019) sobre a relação das diferentes gerações com a mobilidade realizada pela Spry e encomendada pela associação de fabricantes, a Anfavea. Dos que não possuem veículos, o estudo quis saber sobre o desejo de comprar um nos próximos cinco anos: 70% da geração Z afirmaram que desejam adquirir um modelo enquanto 69% dos entrevistados das gerações X e Y têm a mesma intenção. Ou seja, o desejo de ter um veículo próprio no País é alto.” – ver em https://www.fiepr.org.br/boletins-setoriais/10/especial/cultura-do-carro-proprio-ainda-e-forte-no-brasil-2-32026-392607.shtml
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Somente aqui foram 3 estudos diferentes (2019, 2022 e 2025) mostrando resultado oposto daquele apontado pelos autores sobre a relação geração Z x sonho de consumo de automóveis.
Os autores escolheram uma que servisse ao propósito de classificar a afirmação em específica e justificaram que “o desejo de comprar um carro é relativamente baixo entre os jovens da geração do falecido”, o que vemos ser inconsistente.
O ponto é que a vontade de ter um carro na faixa etária que tinha o falecido é comum tanto na geração dele quanto foi em muitas das gerações passadas. A menção disso na carta não deveria ter sido considerada específica.
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Passeios e brincadeira de mangueira no quintal… coisas bastante comuns de vivenciar na infância. Os próprios autores reconhecem, mas ainda assim classificam como informação específica.
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E por último, o mais curioso de todo o caso, o “sorriso marcante” como afirmativa específica. Como bem apontou o comentário do Carlos, é totalmente subjetivo e com isso pode ser genérico, embora pessoalmente concordaria com a descrição feita pelo médium.
Nos 4 dias que envolveram o estudo foram ao todo 140 familiares, que preencheram as fichas com seus nomes e do falecido. Os médiuns entrevistaram cada deles para só então iniciar as psicografias. De todas essas famílias apenas 4 cartas teriam informações específicas, um número muito baixo. Foram 4 cartas sem serem genéricas para ao todo 3 médiuns em 4 dias…
No presente caso, o médium comentou na entrevista algo que depois iria repetir como psicografia. Na entrevista menciona que o morto “tinha dentes marcantes” e mais tarde sai a mesma descrição como sendo o falecido falando de si, “eu ainda sou quem eu era antes, o sorriso bonito, os dentes marcantes”.
A maioria dos espíritas irão ver nisso apenas mais crença, talvez que “o mentor do médium soprou a informação ou que ele viu o menino ali junto da família e descreveu a aparência”.
Mas concorda que pode soar no mínimo estranho que o falecido venha a repetir a mesma coisa, nas mesmas palavras, que poderia ter sido soprada ou descrita espiritualmente pelo médium?
Para um cético isso pode levantar a suspeita que ele já trazia consigo as informações que iria escrever sobre o morto e deixou escapar alguma. Talvez alguém passou a descrição do garoto, ou ele mesmo chegou a acessar fotos em perfis de rede social. Isto nos remete ao último e mais importante ponto, o vazamento de informações.
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Em casos de cartas psicografadas aos familiares, uma das hipóteses dos céticos é que poderia existir uma rede de apoio de alguns “colaboradores” em alguns centros espíritas para a leitura quente. Assim, talvez poderiam comunicar uns com a outros, informar quem estaria indo em tal cidade para consulta a tal médium, bem como as informações sobre o falecido que poderiam ter.
O próprio Waldo Vieira revelou que práticas assim ocorriam, que pessoas enviavam carta com as informações do morto para os médiuns. Se enviavam carta, pode ser que essas informações vinham de longe…
O artigo descreve que as famílias enlutadas participantes “foram recrutadas em centros espíritas”, o que não me parece muito animador levando em conta essas hipóteses mais ordinárias.
Ao contrário dos médiuns que alegaram ser de diferentes estados, não especificaram o mesmo para os consulentes. Ao menos não nesse artigo. Se foram todos recrutados em centros da mesma cidade (talvez daquela que foi realizada o estudo) ou de cidades próximas entre si ou dos médiuns, seria ainda mais desanimador.
Lembrando que foram 140 familiares selecionados que estavam relacionados de alguma forma a esses locais, quem sabe conversando, contando que participariam de um estudo, revelando ou desabafando sem perceberem… Será mesmo difícil que mais pessoas em torno não soubessem quem seriam os participantes? Será tão difícil assim que essas pessoas também viessem a saber quem eram os médiuns selecionados?
Muito dos médiuns que atuam na psicografia para familiares costumam fazer turnês em diversos estados, estabelecendo conexões, contatos entre os centros.
Seria mesmo difícil que os médiuns selecionados para a pesquisa pudessem ter comentado a respeito com suas conexões, talvez em grupos virtuais, encontrando ou estabelecendo a ponte com quem mais poderia estar ciente dos consulentes?
Enfim, talvez a relação dos centros espíritas com a seleção dos participantes pode ter sido uma grave falha metodológica.