“Missionários da Luz” e a Glândula Pineal

Causou grande celeuma a publicação do artigo “Historical and cultural aspects of the pineal gland: comparison between the theories provided by Spiritism in the 1940s and the current scientific evidence” [“Aspectos históricos e culturais da glândula pineal: comparação entre as teorias fornecidas pelo Espiritismo na década de 1940 e as evidências científicas atuais”] na revista Neuroendocrinology Letters em 2013. O estudo buscava mostrar que algumas informações científicas foram adiantadas pelo “espírito” de André Luiz, a maior parte publicada no livro “Missionários da Luz”, de 1945. Iremos analisar em detalhes as afirmações dos autores e provar que tudo o que foi dito pelo “espírito” já era cogitado à época. Para ler mais, clique aqui.

Observação: Alexander-Moreira, em entrevista ao podcast abaixo, diz, entre 10 e 11 minutos do vídeo:

Outro aspecto do Chico chama atenção. Esse foi uma outra pesquisa que foi publicada por colegas nossos de Juiz de Fora numa revista internacional. Nos anos 50, quando  o Chico estava psicografando, ele falou sobre a glândula pineal, que é uma glândula que tem no nosso cérebro. Nos anos 50 se achava que a pineal não servia para nada. Nem o hormônio, a melatonina, se tinha descoberto ainda. Não se sabia de nada, a pineal não servia para nada. Mas neste livro, alegadamente por um médico, André Luiz (médico desencarnado), pelo Chico ele começa a falar que a pineal tem uma série de funções: uma função endócrina, uma função reprodutiva… começa a falar várias funções da pineal e como é que ela funciona. E aí esse artigo, que foi publicado há poucos anos, ele compara o que é que você sabia sobre pineal à época [com] o que foi o que Chico escreveu nos anos 50 – não sabia quase nada – e o que que se sabe hoje. Então aquilo que tá na psicografia fala o que se sabe da pineal hoje, mas não se sabia naquela época.

5 respostas a ““Missionários da Luz” e a Glândula Pineal”

  1. Alessandro Diz:

    Eu só acho que vcs deveriam mandar o documento elaborado para o próprio Alexander-Moreira.

  2. Carlos Diz:

    Considerando que haviam divergências quanto as funções da pineal ali pelos anos 40, não se pode negar que as obras psicografadas por CX adotaram uma posição clara e firme quanto a importância desta glândula.
    .
    Pode-se argumentar que as obras psicografadas apenas tomaram uma posição dentre as alternativas na época. Sim, é verdade; mas pelo menos tomaram a posição certa. E como pontuou Lucchetti, elas ainda criticaram os que achavam que a pineal perdia sua utilidade na puberdade.
    .
    O livro de Kahn de 1943 afirma que “ignora-se qual o efeito positivo da epífise”. As obras de CX em 1945-1950 vão por outro caminho, e realçam a sua importância.

  3. C. Diz:

    Carlos, no meio esotérico e místico a pineal já recebia um papel central. Isso já estava em textos da Rosacruz, teosofia, do próprio espiritismo antes de aparecer Chico Xavier e até de “cristianismos” mais clássicos. Na filosofia também, por influência de descartes etc.
    Não há mérito algum do Chico Xavier ter somente seguido a linha da cultura esotérica já bem presente no Brasil dos anos 40.
    Se os esotéricos já diziam todos, antes do Chico Xavier, que a pineal era a sede da alma e também o órgão que comunica com a espiritualidade, por óbvio um aspirante a místico, como era o moço de Pedro Leopoldo, iria escolher somente aquelas partes dos livros de ciência que hipotetizavam a importância da pineal.

  4. C. Diz:

    Outro ponto é que tudo que especulavam na época sobre a glândula foi repetido pelo Chico. Mas a principal função que hoje se sabe dela, como fornecedora de hormônio que regula o sono e o ciclo circadiano, quase não era mencionado antes e também em nenhum momento foi dito por Chico.
    Ele se deteve apenas num genérico “hormônio psíquico” que atua na mente e emoções da pessoa (o que os jornais e livros da época já falavam), mas se soubesse realmente a função específica diria que ajuda na regulação de estados entre sono-vigília.
    Os pesquisadores, na tentativa de validar o médium, dirão que se o sono ajuda na saúde mental, portanto nas emoções, então o Chico Xavier acertou! Quando na verdade ele só reproduziu ideias mais gerais que os jornais e livros dos anos 40 já aventavam.

  5. Vitor Diz:

    Carlos,
    deixo abaixo as considerações (um tanto antigas já, não são de agora) de um amigo meu que é cientista, G.R.:
     
    Os autores tentam demonstrar que a psicografia de FCX continha informações sobre a Pineal que somente seriam descobertas pela ciência alguns anos/décadas depois.
     
    Algumas afirmações das psicografias de FCX citadas no artigo:
     
    1) A pineal é a glândula da vida mental
    2) A pineal comanda os fenômenos neurais das emoções
    3) A pineal controla todo o sistema endócrino
     
    O que a ciência diz a respeito:
     
    1) A pineal não desempenha qualquer papel relevante na vida mental, nas emoções e no sistema endócrino. A grande prova disso (primeira questão crucial) são os estudos que avaliam os pacientes submetidos a ressecção de pineal por tumores (pinealomas, germinomas, etc) e que, afora distúrbios do sono em alguns casos, não apresentam qualquer sequela (p. ex. Murata et al. J Pineal Res 1998; 25: 159-166; Cho et al., Child´s Nerv Syst 1998;14: 53-58)
     
    2) O papel da pineal é: a) dessupressão de hormonios sexuais (p.ex. Silman and Preece. Nature 1979: 282) e b) cronobiológica: Luz inibe produção de melatonina, escuridade aumenta a liberação de melatonina. Melatonina induz ao sono. Logo, a pineal nos deixa sonolentos no escurecer e nos deixa despertos no amanhecer pela flutuação nos níveis de melatonina.
     
    O primeiro efeito (a) foi falado nas obras de FCX, porém já era conhecido anteriormente aos livros. O segundo (b) não é mencionado nas obras de FCX
     
    Senti falta no artigo:
     
    1) Uma referência ao trabalho pioneiro neste campo da Sra. Helen Blavatsky, em sua obra ” A doutrina secreta (1888)” , no capítulo ” As raças com o terceiro olho”.
     
    2) Responderem à segunda questão crucial neste tema: Por que uma glândula com características tão importantes do ponto de vista espiritual, nas palavras dos autores do artigo como responsável pela “connection with the spiritual world”, está involuindo na espécie humana? (p. ex.: Guyton & Hall. Tratado de FISIOLOGIA MÉDICA. Edit. Guanabara Koogan S.A., Rio de Janeiro, 1997, p. 922)
     
    3) Dos autores terem notado a mudança de abordagem do tema no decorrer do tempo. Em 1945 (Missionários da Luz) a Pineal era “a glândula da vida mental”. Em 1958 (Evolução em dois mundos), no capítulo 2, ao se referir ao ” centro coronário” não há qualquer citação sobre a Pineal e, no capítulo 9, o grande comandante passava a ser o “Córtex Cerebral”. O mesmo se repete em 1959, no livro Mecanismos da Mediunidade, todos do mesmo autor espiritual e médium. No capítulo XVIII, “Efeitos intelectuais”, há inclusive uma descrição da comunicação espírito/cérebro do médium e simplesmente não se fala nada da Pineal, veja: “Atuando sobre os raios mentais do medianeiro, o desencarnado transmite- lhe quadros e imagens, valendo-se dos centros autônomos da Visão profunda, localizados no diencéfalo, ou lhe comunica vozes e sons, utilizando-se da cóclea (…)”
     
    Supondo que meus apontamentos não estejam profundamente equivocados e que a pineal realmente não tenha qualquer papel relevante do ponto de vista espiritual, acredito que vale o questionamento:
     
    1) Por que André Luiz/Chico Xavier erraram? Seria animismo de FCX? Ignorância de AL?
     
    2) E por que houve uma correção de rumos, justamente no ano em que a descoberta da Melatonina (Lerner et al. Journal of the American Chemical Society 1958; 80: 2587–2587) abriria caminho para se supor que realmente havia alguma importância na Pineal? Teria Waldo Vieira alguma influência nisto?

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