Parnaso de Além-Túmulo sob o método da análise do discurso – por Elias Moraes
Neste vídeo Elias Moraes reúne vários estudos sobre o livro “Parnaso de Além-Túmulo” de Chico Xavier. Sua conclusão – a meu ver, equivocada – é que, embora tenha muito material do Chico na composição da obra, houve uma influência espiritual, ou então ele mereceria ganhar o Nobel de Literatura. Não é para tanto. Elias se esquece que a obra na sua versão atual não chegou pronta, erros de métrica foram consertados, e muitos poemas foram acrescentados ao longo das edições – e outros retirados -, com anos de diferença. Também se esquece que Chico tinha cadernos com diversas colagens dos poemas e até assinaturas dos autores retratados. E o sobrinho de Chico, Amauri Pena, demonstrava o mesmo talento que o Chico para fazer versos, e de fato chegou a ser cogitado como seu sucessor antes de admitir que nunca foi médium.
março 25th, 2025 às 10:00 AM
Em linhas gerais eu concordo com os comentários de Elias Moraes. Se houve participação de espíritos no parnaso, trata-se da opinião do Moraes que certamente deve ter os seus motivos para pensar assim.
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Vamos admitir que Parnaso de Além Túmulo seja uma obra inteiramente anímica.
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Ainda assim, impossível não deixar de reconhecer a habilidade de CX em produzir versos com diferentes estilos. Aprendi um pouco nas minhas aulas de literatura no ensino médio qual a estrutura do soneto; dois quartetos, dois tercetos, rima, ritmo e métrica. Dá para perceber que CX dominava de forma surpreendente a arte do soneto, notadamente para alguém que cursou apenas o ensino fundamental. Se alguém acha que é fácil, vai lá fazer igual…
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Isso me faz pensar que CX tinha qualidades literárias incomuns considerando o meio social/familiar totalmente desfavorável do qual ele veio. Possivelmente era alguém com memória eidética (fotográfica) e surpreendente habilidade com o vernáculo.
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Certo que no Parnaso alguma coisa foi corrigida, outras posteriormente acrescentadas, mas isso não invalida a qualidade da produção. Se ele tivesse continuado os estudos, ampliado os horizontes e seguido em frente, teria tudo para ter sido um talentoso escritor da lingua portuguesa. Foi lhe dado a opção do Espiritismo, uma vida simples e sem luxo, “camisa” esta que ele vestiu até o final de seus dias.
março 25th, 2025 às 10:53 AM
Oi, Carlos
a família do Chico tinha um dom para escrever versos e imitar estilos. Veja o que o sobrinho Amauri disse:
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“Sempre encontrei muita facilidade em imitar estilos. Por isso os espíritas diziam que tudo quanto saía do meu lápis eram mensagens ditadas pelos espíritos desencarnados. Revoltava-me contra essas afirmativas, porque nada ouvia e sentia de estranho, quando escrevia. Os espíritas, entretanto, procuravam convencer-me de que era médium. Levado a meu tio, um dia, assegurou-me ele, depois de ler o que eu escrevera, que deveria ser seu substituto. Isso animou bastante os espíritas. Insistiam para que fosse médium”.
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O jovem e improvisado médium Amauri continua na descrição de sua estranha aventura:
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“Passei a viver pressionado pelos adeptos da chamada terceira revelação. A situação torturava-me e, várias vezes, procurando fugir àquele inferno interior, entreguei-me a perigosas aventuras. Diversas vezes, saí de casa, fugindo à convivência de espíritas. Cansado, enfim, cedi, dando os primeiros passos no caminho da farsa constante. Teria 17 anos. Ainda assim, não me vi com forças para continuar o roteiro. Perseguido pelo remorso e atormentado pelo desespero, cometi desatinos (…) Não desmascaro meu tio como homem, mas como médium. Chico Xavier ficou famoso pelo seu livro Parnaso de além túmulo. Tenho uma obra idêntica e, para fazê-la, não recorri a nenhuma psicografia.”
março 25th, 2025 às 1:03 PM
Oi Vitor,
Sabe dizer se Amauri Pena chegou a publicar alguma coisa desta época?
março 25th, 2025 às 1:08 PM
Oi, Carlos
o Marcel Souto Maior diz:
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“Os espíritas próximos a Amauri levaram um susto. O rapaz prometia. Escrevia num caderno, desde criança, poemas impressionantes. Seu trabalho foi acompanhado de perto, durante muito tempo, pelo professor Rubens Costa Romanelli, um dos fundadores da União da Juventude Espiritual de Minas Gerais, secretário do jornal O Espírita Mineiro. Espíritas experientes ficavam surpresos com o poema épico intitulado Os Cruzílidas.Os versos, escritos por Amauri e assinados por Camões, contavam a história espiritual do descobrimento do Brasil, a epopéia no outro mundo durante o descobrimento do país. Cabral teria sido acompanhado de perto pelos espíritos. Amauri exibiu as oitavas lusitanas aos jornalistas, renegou os espíritos, atribuiu a autoria dos versos a si mesmo e levantou novas suspeitas contra o tio. A imprensa ignorou a qualidade de seus textos e explorou ao máximo a chance de transformar Chico Xavier em escândalo.”