As desculpas esfarrapadas de Chico e Waldo – por Míssel Crítico

Míssel Crítico analisa as materializações de Otília Diogo e a participação dos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira, bem como da “alta espiritualidade” nisso tudo. Para ler, clique aqui.

12 respostas a “As desculpas esfarrapadas de Chico e Waldo – por Míssel Crítico”

  1. Carlos Diz:

    Olá Vitor,
    Este tema já foi extensivamente debatido no blog anos atrás como podemos verificar no link fornecido no próprio documento do míssil crítico. Vou tecer alguns comentários com base no texto atual e nos debates anteriores do blog, que inclusive conta com um depoimento gravado sobre os eventos pelo próprio Waldo Vieira (WV).

    É claro que Otília Diogo ao ser flagrada fraudando, “fajutice” como diz WV, coloca uma dúvida definitiva sobre tudo o que a médium, ou outras pessoas, afirmaram ter conseguido com os fenômenos de materialização em Uberaba. No entanto, diferentemente do míssil crítico, vou dar aqui aos dois (WV e Chico Xavier, CX) um crédito de confiança e assumir que eles foram ingênuos e enganados pela Otília.

    Na entrevista disponível no documento “desculpas esfarrapadas”, CX assume que Otília, apesar de fraudar, poderia em algum momento ter produzido fenômenos genuínos. CX, portanto, tende a minimizar o episódio e considerar que Otília fez o que fez (fraudar) por carência, necessidade, etc. Este é um comportamento característico da personalidade CX, que em vida procurou não ver maldade em nada e em ninguém. Um ingênuo, portanto, cujas opiniões eram destinadas a agradar o maior número de pessoas possível. Como comenta WV em uma de suas tertúlias, o que CX mais desejava era ser um “santo” na Terra.

    Já WV ficou claramente incomodado com o que aconteceu nas sessões de materialização com Otília, como podemos deduzir da entrevista disponível no blog e no Youtube. WV foi um cara articulado, com as ideias próprias, organizadas e, ao seu modo, lógicas e claras. O evidente desconforto e desordem mental do Waldo ao ser questionado sobre Otília não significaria cumplicidade, mas o fato dele se descobrir miseravelmente enganado pela médium, mesmo com todo o seu alegado conhecimento e precauções que diz ter tomado nas sessões de Uberaba. Sendo alguém que sempre teve em alta conta o seu ego (basta assistir as entrevistas nas tertúlias para conferir), admitir que teria sido ludibriado todo o tempo pela Otília constituiria uma mancha na sua biografia que, de alguma forma, contaminaria mais na frente o movimento (projeciologia) que ele fundou. Nota-se na entrevista que WV avança e recua ao dizer que a médium era “fajuta”, porém relembrando casos de outros médiuns famosos que também fraudaram, mas que possivelmente em algum momento da vida foram autênticos. Alias, o mesmo argumento usado por CX.

    O desconforto de WV torna-se ainda evidente quando faz acusação semelhante a CX nos episódios de materialização da Irmã Sheila. Nitidamente há uma incoerência quando ele relata como descobriu a fraude nas sessões da Irmã Sheila e, ao mesmo tempo, admite que CX foi um médium autêntico. Ele cita ainda Kardec que afirmava ser melhor rejeitar 99 verdades do que acatar 1 mentira; ou seja, WV percebia o quanto estava sendo incoerente ou enganado na sua fé. Provavelmente WV faleceu na dúvida sobre o que realmente aconteceu nas sessões de materialização com Otília Diogo, mas não nas sessões de materialização da Irmã Sheila sob responsabilidade de CX (seu protegido à época) quando faz questão de tomar distância.

    Em suma, há elementos para considerar que WV e CX não foram cúmplices de Otília Diogo como supõe míssil crítico. Me parece que os dois médiuns, então já consagrados no meio espírita, pensavam estar protegidos e imunes à fraude. Na verdade mostraram-se, no mínimo, totalmente despreparados para lidar com Otília Diogo.

  2. Vitor Diz:

    Oi, Carlos

    alguns pontos sobre o que você disse…

    1- “CX em vida procurou não ver maldade em nada e em ninguém.”

    Não creio que seja assim. É bem conhecido o episódio em que ele acusou o Divaldo Franco de plágio (com razão). Note que ele nem considerou a hipótese de criptomnésia.

    2 – “Me parece que os dois médiuns, então já consagrados no meio espírita, pensavam estar protegidos e imunes à fraude. ”

    Mas e os guias, nenhum alerta para eles? Deixaram eles passar esse constrangimento como aprendizado? Mas se a intenção deles era espalhar a doutrina espírita, deixar esse episódio acontecer foi no sentido contrário, abalou a credibilidade da doutrina e dos médiuns.

  3. Carlos Diz:

    Olá Vitor,
    O sentido de “protegido” no texto é esse mesmo que você comentou, “protegido por mentores espirituais”.
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    Acredito mesmo que Waldo Vieira largou o Espiritismo justamente pela decepção com Otília Diogo, Irmã Sheila, e provavelmente por ter se sentido abandonado pela ausência de “proteção” nos dois casos. Nas tertúlias dá para notar que WV passa a tratar o Espiritismo como uma doutrina comum sob orientação de espíritos comuns. Ele passa a rejeitar Jesus e o cristianismo. De espírita convicto, como WV foi, ele assume posturas que afrontam o espírita hoje. Ou seja, típico comportamento de alguém que em algum momento se decepcionou fortemente com o espiritismo kardecista.

  4. C. Diz:

    Carlos, você disse: “Provavelmente WV faleceu na dúvida sobre o que realmente aconteceu nas sessões de materialização com Otília Diogo.”
    Fazendo coro com a resposta do Vitor também pergunto como alguém assistido diariamente por muitos mentores permaneceria em dúvida por décadas?
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    A frase por você comentada carrega em si a contradição que o Waldo queria evitar de ser exposta na frente dos seus seguidores. Talvez por essa razão notamos o incômodo e a resposta meio titubeante.
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    Você tambem disse que “CX assume que Otília, apesar de fraudar, poderia em algum momento ter produzido fenômenos genuínos”.
    Ele não assume que ela poderia ter materializado alguma vez. Ele afirma que ela materializou em todas as sessões de Uberaba, inclusive naquela presenciada pelos jornalistas.
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    Você também comentou que “Otília Diogo ao ser flagrada fraudando, fajutice como diz WV, coloca uma dúvida definitiva sobre tudo o que a médium, ou outras pessoas, afirmaram ter conseguido com os fenômenos de materialização em Uberaba”.
    Não sei se te compreendi no que quis dizer com “dúvida definitiva”. Seria que não há como saber se realmente houve fraude?
    Para você ainda haveria alguma possibilidade daquelas fotos serem a captação de um fenômeno verdadeiro?
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    Não sei se é o seu caso, mas para quem a resposta acima for “sim”, não há mais diálogo consequente. Todos os questionamentos que se desdobram se tornam caducos.
    Seria como dialogar as implicações sobre a doutrina da terra jovem, ao ter conhecimento de que a terra não tem 6 mil anos, com quem ainda acredita ou permanece em dúvida se as evidências modernas são confiáveis.
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    Mas se a resposta acima for obviamente “não”, que as fotos não são o registro de um fenômeno paranormal legítimo, torna-se válido os questionamentos como efeito.
    Somente a contar disso que surge, como um dos questionamentos, a possibilidade dos médiuns terem tido conhecimento da fraude ou não. Os indícios que trazem os relatos das reportagens fazem parte da recordação do ocorrido.
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    Sem embargo disso, as principais consequências revelam contradições insuperáveis entre alegações dos médiuns sobre si mesmos, seus discursos de poder simbólico e as justificativas dadas perante os fatos concretos.
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    Excediam de CX afirmações de como os guias ficavam todo tempo assessorando, revisando as coisas que psicografava ou corrigindo outras antes que fossem publicadas. O mesmo vale pro Waldo que auto proclamava semelhantes características de seus dons.
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    A possibilidade de terem sido enganados e mantidos assim por décadas é inconciliável com os discursos que costumavam empregar sobre seus poderes.
    Acredito serem essas incongruências o mote principal do artigo. A ciência ou não da fraude, com os possíveis indícios contidos nos relatos da época, é secundário e acessório ao desenrolar do questionamento. 

  5. Gorducho Diz:

    A possibilidade de terem sido enganados e mantidos assim por décadas é inconciliável com os discursos que costumavam empregar sobre seus poderes.

    👍
    Análogo aconteceu c/o P.-G. Leymarie e a SA nas fotos que redundaram no Procès des spirities. Não teve “guia espiritual” nenhum pra alertar.
    SE — claro que eu duvido mas só a título de argumentação abstrata…— “mediunidade”/comércio intermundos existir será along the lines cá propostas pelo Dr. mrh.
    A saber 2º interpreto a tese dele: algo imprevisível, sem controle e… completamente inútil pra finalidades práticas.

  6. Carlos Diz:

    Olá C.
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    O que procurei enfatizar é que há elementos para acreditar que VW e CX não teriam sido parceiros da Otília e como eles ressignificaram os episódios no qual foram protagonistas. O espiritismo brasileiro aceitou a postura de CX, mas não de WV. CX aparentemente ficou com a consciência em paz. WV permaneceu atormentado a julgar pelas entrevistas que concedeu sobre o ocorrido.
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    CX resolveu o problema assumindo que errar é humano, e todos merecem perdão, inclusive ele. Os “mentores” não devem ter errado, mas se deixaram que a fraude ocorresse teria sido muito mais para dar uma lição a ele para o tornar mais humilde, etc. Ele queria ser santo, como disse WV. Nesta perspectiva, a fraude na Irmã Sheila teria sido “menor” uma vez que a intenção dele CX (totalmente equivocada na minha opinião) era fortalecer a fé nas crenças espíritas.
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    O Waldo não enxergou desta maneira e tomou outro caminho; se ele (WV) errou os “mentores” também erraram. A consequência disso tudo é o Waldo abandonando espiritismo kardecista.
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    Observe que WV não abandonou a crença na intervenção de espíritos. Vejo muito mais inconformismo no WV com os desdobramentos dos episódios em Uberaba do que propriamente uma eventual parceria dele com a Otília.
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    Respondendo a outra questão que você fez, não há base experimental para postular a realidade dos fenômenos de materialização conforme descrito nos livros espíritas. O que há neste aspecto são experiências pessoais cujo significado depende da fé/crença de cada um.

  7. C. Diz:

    Carlos, “grande lição de humildade” seria ao mínimo fazer com que ele reconhecesse publicamente a fraude sob seu aval. Manter-se no falso discurso de que os fenômenos foram autênticos, seria, pelo contrário, uma grande lição de vaidade, manipulação e mentira.
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    Deixar os seguidores acreditando ter sido real, portanto, que o dom de CX nunca cometeria tamanha arte falha (ou maliciosa), seria ato despido de qualquer humildade, mas exuberado em desonestidade.
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    Como você conciliaria com as dezenas de textos e sermões “mediúnicos” sobre se pautar pela verdade, probidade e honestidade com o próximo?
    Como você passaria a enxergar as psicografias que recriminam a hipocrisia no mundo dos vivos?
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    Uma ideia bastante repetida nos textos do CX é daquela máxima “como quer tirar o cisco dos olhos de outrem se não enxergar a trave nos seus?”. Como os guias, numa auto projeção de superioridade moral, escreveriam mensagens evangelizadoras repreendendo a mentira, a desonestidade e a hipocrisia da humanidade, quando também incidiriam nas mesmas práticas?
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    A sua justificativa parece uma tentativa de tornar ainda mais insólita a hipótese já extraordinária de que os envolvidos eram assessorados por espíritos. Pressuposto que se revelava vulnerável com o que aconteceu em Uberaba.

  8. C. Diz:

    Bem lembrado Gorducho, Leymarie foi o sucessor de Kardec, herdando toda a idiossincrasia de habituais reuniões com os guias espirituais que o grupo dizia manter.
    Reuniões em que o grupo se dizia auxiliado em todos os assuntos que publicavam na revista e em todos os passos tomados pela instituição.
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    A associação espírita contaria com diversos médiuns, entretanto nenhum recebeu a informação de que Leymarie se atolava em fraudes sob a chancela da organização.
    Aonde foi parar a assistência que recebiam nas reuniões? “Morreram” com Kardec?
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    Mesmo no tempo dele é flagrante a dissonância entre estar auxiliado por guias superiores e as opiniões formadas oficialmente pelo grupo através desse auxílio.
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    Entre as numerosas exemplificações, uma se encontra no artigo “A teoria da beleza”, um dos mais violentos em racismo.
    Nele Kardec diz ao final que “Lido que foi na Sociedade de Paris, este artigo se tornou objeto de grande número de comunicações, apresentando todas as mesmas conclusões”.
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    Contavam sempre com grande número de comunicações e nenhuma delas iluminou sobre as fraudes de Leymarie ou o racismo execrável contido nos livros, só para nos limitarmos nesses dois exemplos.
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    O grupo de Kardec nunca saiu dos limites do conhecimento médio daqueles tempos, nem reformaram qualquer erro encarcerado nessas divisas. Se eu tivesse que resumir a obra do grupo, seria “escritos por humanos, influenciados por humanos”.

  9. Carlos Diz:

    C. disse: “A sua justificativa parece uma tentativa de tornar ainda mais insólita a hipótese já extraordinária de que os envolvidos eram assessorados por espíritos.”
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    Não há o que replicar neste aspecto. O WV entendeu a mensagem e deu uma guinada. Para CX o problema não é com ele; afinal, como ele mesmo dizia, “o telefone toca de lá para cá”.

  10. Detetive Maurício Diz:

    AS DESCULPAS ESFARRAPADAS DE CHICO E WALDO é uma obra ao mesmo tempo intrigante e empolgante.

  11. Claudio Bersot Diz:

    O artigo ficou muito bom! Postei há algumas horas um vídeo no meu canal sobre o caso Waldo Vieira/Chico Xavier/Otília Diogo e o citei como umas das minhas fontes. Parabéns, Míssel crítico!

  12. Vitor Diz:

    Obrigado pela divulgação, Cláudio! Divulguei aqui também! Sempre bom te ver contando esses “causos”!

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