“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”: espiritismo e política no Estado Novo (2024)

O presente artigo procura analisar a influência da obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografada por Chico Xavier, como capital simbólico que permitiu a Federação Espírita Brasileira se qualificar como porta-voz do espiritismo kardecista no Brasil junto ao governo de Getúlio Vargas em 1938 e marcar a presença da religião criada por Allan Kardec junto ao governo brasileiro. Em um momento de forte influência da Igreja Católica, representada na pessoa do Cardeal Leme, resgatando a influência e poder perdidos na Proclamação da República, espíritas se uniram a protestantes para defender a laicidade do Estado e garantir a liberdade de culto. O espiritismo no Brasil, diferentemente do que aconteceu na França, ganhou espaço nas primeiras décadas do século XX com curas espirituais. No início dos anos 1930, por conta de acusações de curandeirismo, os espíritas deixaram de lado as curas, investindo em obras assistenciais e literatura consoladora. Pode-se considerar o livro de Chico Xavier mais que uma teologia de narrativa espírita; o livro foi parte importante na construção do mito fundador da nação brasileira em um momento histórico de forte nacionalismo, e serviu de ferramenta essencial em uma disputa por espaço no campo religioso brasileiro no Estado Novo. Para ler o artigo, clique aqui.

Uma resposta a ““Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”: espiritismo e política no Estado Novo (2024)”

  1. Carlos Diz:

    “O livro torna-se para o órgão federativo kardecista uma ferramenta de aproximação com o governo de Vargas” (comentário do artigo)

    Já li o Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho (BCMPE); inclusive conheço uma música que explora o título do livro e até hoje é alegremente cantada nas datas comemorativas dos centros espíritas.

    Penso que a narrativa do BCMPE reflete o sentimento vigente na classe média brasileira nos anos 30. Este sentimento ufanista patriótico certamente era o do médium. Lá pelos anos 70-80, no auge do regime militar, os militares espíritas faziam comentários elogiosos e recomendavam fortemente a leitura do livro. Creio, portanto, que a narrativa do BCMPE seria útil para qualquer regime político instalado, exceto os de inspiração marxista, obviamente.

    Hoje há grupos espíritas de inspiração marxista-esquerdista. Não sei como eles encaram o conteúdo do referido livro.

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