As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 8)

Dando prosseguimento às reportagens do Correio Paulistano.

Correio Paulistano – Sábado, 3 de junho de 1916, página 3 

No mundo das maravilhas

É mister que se faça luz na noite do mistério 

O sr. Carlos Mirabelli, a nosso ver, não passa de um hábil prestidigitador 

Realizar-se-á hoje, às 20 horas, no escritório do sr. Numa de Oliveira, à rua 15 de Novembro, 6t, a sessão para a “grande prova” a que o sr. Mirabelli se vai sujeitar, como uma resposta ao nosso repto. A sala referida presta-se admiravelmente para as experiências, visto como nela já foram, por mais de uma vez e, segundo nos informaram, com “verdadeiro êxito”, realizadas várias sessões em que esse prestidigitador provocou os “maravilhosos fenômenos transcendentais”. 

Conquanto já tivéssemos, pelas nossas colunas de ontem, convidado de um modo geral as conceituadas pessoas escolhidas pelo contestado médium, e que são os srs. drs. Washington Luis, Reynaldo Porthat, Alcântara Machado, Synesio Pestana, monsenhor Sentroul, Eduardo Guimarães, Candido Rodrigues, Guilherme Álvaro, Jorge Tibiriçá, Nestor Pestana, Brant de Carvalho, Vicente de Carvalho, Carlos de Castro, Nogueira Martins, Diogo de Faria, monsenhor Benedicto, Luiz Pira, Alberto Seabra, Horácio de Carvalho e Herculano de Freitas, achamos de bom alvitre, considerando a “local” da “Gazeta”, de ontem, REITERAR PESSOALMENTE esse convite. Na impossibilidade de o fazermos a todos aqueles cavalheiros, por escassez de tempo, fizemo-lo todavia com respeito aos srs.: 

            Dr. Candido Rodrigues,

            dr. Jorge Tibiriçá,

dr. Washington Luis,

dr. Reynaldo Porchat,

monsenhor dr. Benedicto de Souza,

dr. Vicente de Carvalho,

dr. Alcântara Machado,

dr. Luiz Piza,

dr. Eduardo Guimarães,

dr. Alberto Seabra,

dr. Synesio Pestana,

Horácio de Carvalho,

Nestor Pestana, secretário do “Estado”,

Joaquim Morse, secretário do “Commercio”. 

O sr. dr. Diogo de Faria não foi por nós encontrado, em sua residência. Esperamos, no entanto, que o distinto facultativo comparecerá à sessão. 

Como não soubéssemos a moradia do sr. dr. Carlos de Castro, pedimos ao sr. dr. Alberto Seabra a gentileza de o convidar em nosso nome.  

Convidaremos, hoje, monsenhor Sentroul e os srs. drs. Guilherme Álvaro e Nogueira Martins. 

*          * 

A “Gazeta” estampou ontem uma carta do “misterioso ilusionista”. Esse curioso documento, recebido anteontem, só ontem foi inserto na seção que, naquele vespertino, é consagrada à notícias de última hora. Conclui-se daí, logicamente, que a missiva do mágico, que se vai revelando também jornalista, é anterior à notícia de que marcamos para hoje a tão desejada experiência; em vista disso, com certeza, o sr. Mirabelli terá mudado de idéia, não protelando por mais tempo a tão “difícil demonstração” – mesmo porque é excelente o momento que se lhe oferece para provar a veracidade dos celebrados fenômenos de levitação. 

*          * 

Deve ser motivo de honra para o sr. Mirabelli o seu comparecimento à reunião de hoje. Tanto mais que há o seguinte trecho na primeira carta que nos dirigiu: 

“V. exc. terá a bondade, sr. dr. Carlos de Campos (trata-se de uma questão muito séria, muito delicada), de escolher entre os homens mais eminentes de S. Paulo, por seu saber, por seu caráter e por seu reconhecido critério, oito ou dez, não mais – porque perturbariam o desenvolvimento dos fenômenos nas péssimas condições do desafio que me foi feito, – oito ou dez homens insuspeitos, homens desse valor, para, em LUGAR E DIA OU DIAS MARCADOS POR V. EXC., tirarem a limpo os embustes ou a veracidade dos fatos de que sou humilde condição de manifestação.” 

Depois disso, é de esperar que ele não mais capitule com evasivas que em nada o abonam. Ainda que seja precário o seu estado de saúde, boato esse com certeza infundado, pois que ainda ontem o “homem misterioso” foi visto na cidade, a passear o seu frack chibante, supomos que, em respeito à seriedade da convocação, ninguém terá, no “momento solene”, que esperar pela sua pessoa. 

Muito embora não tivéssemos desde logo aceito o “oferecimento” sugerido pelo missivista, por desejarmos que tudo fosse predisposto pelo próprio “médium”, agora dele lançamos mão, tão somente porque vai sendo por demais adiada essa prova. Assim, consoante o período acima transcrito, resolvemos convidar as pessoas por ele indicadas, marcando o LOCAL e o DIA para a prometida experiência. 

Esperamos, pois, que o sr. Couto de Magalhães envide os seus bons ofícios para que o sr. Mirabelli compareça à assembléia, prontificando-se a realizar tão decantada demonstração.

Uma resposta a “As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 8)”

  1. William Diz:

    Crítica: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 8)

    O pessoal do jornal admite que a sala da experiência presta-se para o determinado fim. Podemos intuir que se trata de condições favoráveis a experiências, portanto, eles irão achar a fraude não porque o ambiente é ruim, mas porque são mais espertos que todas as pessoas que já observaram Mirabelli, provavelmente o maior mágico de todos os tempos (ou seriam os observadores os maiores tolos de todos os tempos?).

    Há pressão para a realização das sessões, em minha opinião, de forma muito deselegante e apaixonada.

    O médium pede para escolherem as pessoas mais competentes para analisá-lo e o lugar da sessão, ou seja, demonstra-se confiante. Estranhe leitor, pois será Mirabelli um tolo suicida de sua arte de enganar?

    O fracasso será proporcional aos alardes que o jornal está fazendo.

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