Resgate Histórico: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 1)

Será dada início aqui uma série de reportagens sobre o alegado médium Mirabelli. As reportagens foram feitas pelo Correio Paulistano no ano de 1916, e revelam vários métodos fraudulentos usados por ele.

Correio Paulistano – Quinta-feira, 18 de maio de 1916, página 2 

No mundo das maravilhas

É mister que se faça luz na noite do mistério 

O sr. Carlos Mirabelli, a nosso ver, não passa de um hábil prestidigitador 

De meses a esta parte todo S. Paulo vem contemplando e admirando as maravilhas operadas pelo Sr. Carlos Mirabelli, que dizem possuir forças ocultas notáveis com as quais consegue mover objetos, quebrar copos, acender lâmpadas elétricas e muitas coisas mais. Levados pela curiosidade, assistimos a uma das famosas sessões do extraordinário médium e constatamos “de visu” que o público, em parte, tem razão de admirar os prodigiosos fenômenos por ele realizados.

 

E como assim não ser? Coisa muito menos assombrosa, que não vinha encapotada com espiritismo, conseguiu mistificar tudo o que havia de mais alto e seleto na sociedade e no mundo científico de Lisboa, Buenos Aires e Rio de Janeiro. Referimo-nos às famigeradas chinesas que, vai para alguns anos, abordaram à Capital Federal, às quais, graças á sua agilidade, conseguiam iludir a eterna boa fé humana. Não se lembram? Tiravam elas, com a ponta de alguns pauzinhos infectos, bichos dos olhos de toda a gente – de olhos são e de olhos doentes, isso lhes era a elas absolutamente indiferente. 

Essas intrujonas, que deixaram Pequim ou outra qualquer parte da jovem República, em demanda de mais prosperas plagas, senão de gente mais crédula, passaram incólumes por todas as provas. Ninguém atinou com o “truque”, pois que evidentemente era impossível que tivéssemos os olhos atulhados de larvas. Vai senão quando, um estudante de medicina, no Rio de Janeiro, descobriu a coisa e lá se foi todo o prestígio das espertíssimas filhas do imenso país de Yuan-Shi-Kai.  

Pois bem, em que pese aos seus prosélitos, temos para nós que o Sr. Carlos Mirabelli está agora fazendo de chinesa. As nossas investigações levam-nos a afirmar que o homem por quem se sentem fascinados tantos e tantos representantes de todas as nossas classes sociais, não é médium, nem espírita, nem senhor de nenhuma grande força magnética – simplesmente um hábil prestidigitador. Isto avançamos porque, sendo encontrado um dos instrumentos com que logrou ele gozar de alto prestígio, um simples mortal, profano em todas as coisas da bruxaria, da cabala e do ocultismo, conseguiu também, sem esforço, realizar os mesmos assombrosos fenômenos, que foram por alguns espectadores, tidos até como mais perfeitos e mais admiráveis! 

É o que podemos dizer. Agora, se de fato o sr. Carlos Mirabelli é um grande médium e se de fato realiza, sem “truque”, tão notáveis fenômenos, estamos prontos a ratificar esta notícia, basta para isso que o sr. em qualquer das suas sessões, apenas retire um lápis ou qualquer objeto (o que geralmente faz com grande facilidade) de dentro de uma garrafa, com a indispensável condição que aquele seja colocado no recipiente por um dos assistentes, sem que nem de leve lhe passe pelas mãos. Basta isso para que modifiquemos nossa opinião, comprometendo-nos mesmo a inserir a longa entrevista que nos concedeu, e que fornece excelente subsídio para os seus futuros biógrafos.  

Se, diante desta insinuação, que fazemos apenas com o intuito que se faça a luz nesse caso, que se apresenta a muitos tão escuro, o sr. Mirabelli não provar, em público, a veracidade da sua força mediúnica e dos fenômenos que provoca, voltaremos então, com mais detalhes, a narrar todos os motivos que nos aguçaram a desconfiança, até ao momento em que, depois de uma rigorosa pesquisa, foi descoberta a prova material dessas experiências de alta magia, que a tantos têm deslumbrado.

4 respostas a “Resgate Histórico: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 1)”

  1. William Diz:

    Crítica: Resgate Histórico: As Fraudes do Médium Mirabelli (Parte 1)

    Não pretendo defender a todo custo o sr. Mirabelli, apenas irei analisar os argumentos contra ou a favor do médium, apesar de minhas limitações.

    O “Correio Paulistano” começa por acusar Sr. Carlos Mirabelli, afirmando que o mesmo mistificou o que havia de mais seleto no mundo científico de Lisboa, Buenos Aires e Rio de Janeiro, porém, não diz como foi realizada tal proeza.

    Adiante, continua com várias acusações em seu discurso e nada prova além de dizer que “isto avançamos porque, sendo encontrado um dos instrumentos com que logrou ele gozar de alto prestígio (…) conseguiu também, sem esforço, realizar os mesmos assombrosos fenômenos, que foram por alguns espectadores, tidos até como mais perfeitos e mais admiráveis”, ou seja, a velha artimanha de conseguir imitar fenômenos genuínos através de truques, ora, obviamente, esse procedimento torna-se leviano se considerado apenas fora de um experimento sério. James Randi é um exemplo dessa tática “cética” (ver como ele pretendeu refutar o caso “Nina Kulagina”).

    Há a exigência de que o médium retire um objeto de dentro de uma garrafa “com a indispensável condição que aquele seja colocado no recipiente por um dos assistentes, sem que nem de leve lhe passe pelas mãos”.

    Tenho a forte convicção, quando o objeto de estudo é paranormalidade, que apesar de ser dever o esforço em eliminar fraude, não se realiza alguma iniciativa científica simplesmente provocar condições “a priori”, uma vez que se desconhece a natureza de muitos fenômenos.

    Remetendo a postura de cientista leal, basta lembrar que sob experiências controladas de William Crookes, o médium Daniel Douglas Home muitas vezes tinha que tocar o objeto para renovar a força do movimento, apesar de frequentemente lograr êxito sem contato visível com o corpo da pessoa investigada.

    Como o leitor pode perceber quem escreveu o texto, falha, pelo menos no início, em se fazer ciência e desconhece totalmente a vasta literatura dos fenômenos de telecinese.

  2. Vitor Diz:

    O “Correio Paulistano” começa por acusar Sr. Carlos Mirabelli, afirmando que o mesmo mistificou o que havia de mais seleto no mundo científico de Lisboa, Buenos Aires e Rio de Janeiro, porém, não diz como foi realizada tal proeza.

    Não. Quem fez isso foram as chinesas. Leia com atenção.

    James Randi é um exemplo dessa tática “cética” (ver como ele pretendeu refutar o caso “Nina Kulagina”).

    Ele fez um trabalho muito bom nesse sentido. Mostrou falta de controle dos pesquisadores.

    Tenho a forte convicção, quando o objeto de estudo é paranormalidade, que apesar de ser dever o esforço em eliminar fraude, não se realiza alguma iniciativa científica simplesmente provocar condições “a priori”, uma vez que se desconhece a natureza de muitos fenômenos.

    O médium depois aceita as condições. Fracassa completamente.

  3. William Diz:

    Vitor,

    “Não. Quem fez isso foram as chinesas. Leia com atenção”.

    Verdade Vitor, essa parte eu errei. Em todo caso moralmente a observação moralmente persiste, pois estabelece um paralelo entre os casos.

    “Ele (J. Randi) fez um trabalho muito bom nesse sentido. Mostrou falta de controle dos pesquisadores”.

    Ele não fez nada. O dia que ele se imiscuir entre um monte de cientistas e fazer a mesma coisa ele ganha alguma moral.

    “O médium depois aceita as condições. Fracassa completamente”.

    Calma! Eu irei ler todos os artigos. Estou criticando na ordem que foi publicado.

  4. William Diz:

    Obs: Seja indulgente com os meus erros de português e de digitação, pois não tenho muito tempo e infelizmente muitas vezes escrevo correndo.

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