AS FRAUDES DO MÉDIUM MIRABELLI (PARTE 32)

Dando prosseguimento à série de reportagens do Correio Paulistano.

Correio Paulistano – Terça-feira, 4 de julho de 1916, página 2 

No mundo das maravilhas

Fez-se luz em a noite do mistério 

O sr. Carlos Mirabelli é realmente um hábil prestidigitador

Fala-nos o brilhante jornalista Joaquim Morse

O que pensa o ilustrado médico dr. Deodato Wertheimeer

Os fenômenos fisiológicos que, segundo disse alguém, o intrujão apresenta após as suas experiências, não têm a mínima importância e são cabalmente explicados por aquele cientista 

Hoje tem a palavra Joaquim Morse, brilhante jornalista, a quem muito deve a imprensa paulistana, e o sr. dr. Deodato Wertheimer, nosso brilhante colaborador e médico distinto residente em Mogy das Cruzes. Este ilustre homem de ciência, como os leitores vão ter oportunidade de apreciar, emite a sua valiosa opinião sobre um dos pontos que, nesta questão, tem sido comentado pelos profanos nos segredos da fisiologia e mesmo por alguns cientistas que emitiram, pela imprensa, o seu juízo sobre o “homem misterioso”. 

Antes, porém, de relatarmos o que pensa o ilustre facultativo sobre os trivialíssimos fenômenos fisiológicos que, segundo dizem, o intrujão apresenta após as suas experiências, permitam-se-nos algumas ligeiras reflexões sobre eles. Tais fenômenos, ao que nos consta, não passam de uma palidez ou de uma vermelhidão que em certas circunstâncias afloram ao semblante do adivinho, o qual, nesses momentos, em esgares enigmáticos, ausculta continuamente o pulso, que, segundo diz, tem acelerações violentas. 

É só isso. À nossa profissão não compete, com detalhes sutis e intricada terminologia, estudar cientificamente as causas de tais fenômenos. No entanto, para nós e para todos aqueles que não se deixaram intrujar pelo audaz pelotiqueiro, nada é mais natural que ele, ao perpetrar o delito que, descoberto, arruinaria a avantajada arrecadação pecuniária da sua mina, apresente os tais sintomas que, não sendo absolutamente precursores de manifestações transcendentes, segundo os seus adeptos, são muito pelo contrário a revelação do pavor de um fiasco iminente. Há situações difíceis em que é comum indivíduos, mesmo dotados de admirável sistema nervoso, apresentarem o desequilíbrio fisiológico que o arrojado mágico dá como uma das desfrutáveis provas da sua teórica mediunidade. Os estudantes em véspera de exame, uma pessoa briosa ao sofrer uma repressão, um buliçoso pilhado em flagrante, geralmente ficam nesse estado anormal que é uma das pilhéricas componentes da desacreditada teatralidade do falso médium. 

Poderíamos insistir neste ponto, lembrando que pessoas há que, por coisas de somenos, vão além desses simples suores frios – tendo vertigens e até síncopes. Mas não o fazemos. O dr. Deodato Wertneimer, com a alta competência que o exorna, exporá claramente o assunto. Todavia, vem à [pêlo?] referir aqui uma reprodução dos fenômenos fisiológicos experimentados pelo espertalhão. Ouçam-nos. Quando um nosso companheiro realizou para o sr. dr. Carlos de Niemeyer uma experiência a fim de demonstrar a intrujice do “homem misterioso”, foram constatados na pessoa do jornalista, por aquele ilustre facultativo e pelas pessoas presentes, os mesmos aludidos fenômenos, quando o nosso colega, lembrando-se de uma entrevista que aquele profissional concedera, e na qual se referia à agitação do sr. Mirabelli, lhes estendera o pulso, pedindo-lhes que o auscultassem. 

Por que estava agitado o operador, que apresentava um estado febril? Explica-se. Fazia-se uma demonstração a homens eminentes, que defendiam o pelotiqueiro, e naturalmente temia um insucesso. Ademais ele não contava com os favores com que conta o ex-sapateiro de Botucatu – pois este, quando os seus truques rebentam, tem a deslavada desculpa de que “os espíritos não se manifestaram, naturalmente por haver na roda pessoas de maus fluidos”… 

Essa é a verdade.

O nosso distinto colega Joaquim Morse já conhecia há algum tempo Mirabelli e vem acompanhando as suas façanhas. 

Disse-nos ele: 

– Nunca aceitei como absolutos os prodígios atribuídos a esse homem. Ao contrário, tive dele desconfianças desde a primeira vez que o vi.

– E quando foi isso?

– Explico. Certa noite um revisor do “Commercio” apareceu em meu gabinete de trabalho, trêmulo, arfante, olhos esbugalhados e pedindo-me recebesse daí a algumas horas “o espantoso fenômeno da mediunidade”. Acedi.

– E o homem apareceu?

– Pontualmente. Vinha trajado de preto. Confesso que a sua longa barba à [ilegível] e os seus olhos [ilegível], muito abertos e penetrantes, lhe davam um aspecto estranho, impressionante.

– E então?

– Fi-lo sentar-se [5 palavras ilegíveis] pus-me a ouvi-lo: “[3 palavras ilegíveis] – disse-me ele – e sabendo que o sr. se interessa pelos fenômenos psíquicos e esotéricos, resolvi exibir em sua presença alguns que hão de causar-lhe maravilha”.  

[FIGURA] 

JOAQUIM MORSE 

– Terei muito gosto nisso – respondi e indiquei-lhe o salão contíguo, amplamente iluminado, onde poderia, à vontade, exibir-se.

– E que fez ele?

– Espere um pouco. Antes de mais nada referiu-me as suas proezas: “Sou um grande médium espírita e, por isso mesmo, sou um infeliz na vida. Imagine o sr. que acabo de perder o emprego por causa dos meus fluidos… Era caixeiro da casa Villaça. Entrava um freguês e pedia um par de borzeguins nº 40. EU FIXAVA A PRATELEIRA E A CAIXA DESEJADA DESCIA PARA O BALCÃO, COMO POR ENCANTO. Toda a gente estremecia, assombrada, e não voltava lá. O patrão despediu-me.” Sabe se ele foi efetivamente empregado naquela casa?

– Sei, mas tudo isso que ele contou é ABSOLUTAMENTE FALSO, como verificamos na própria casa Villaça.

– Pois bem. Relato apenas. O apresentante do sr. Mirabelli me havia dito que ele quebrava um copo com um simples olhar, que tirava um lápis de uma garrafa sem tocar naquele, que fazia vários objetos se moverem, por si…

– E o colega viu isso?

– Não. Continuando a conversar com o sr. Mirabelli, dei-lhe a entender que conhecia alguma coisa de ciência oculta, que lera várias obras sobre transmissão de pensamento, hipnotismo, magnetismo, faquirismo, espiritismo. E o homem começou a empalidecer diante dos meus conhecimentos (aliás quase nulos) sobre tais assuntos, mas que aos olhos dele assumiam proporções apavorantes.

– Mas, exibiu os “prodígios”?

– Não. Sentou-se numa cadeira, deixou pender a cabeça, tirou um lenço do bolso, passou-o pela fronte suarenta e declarou: “Hoje não posso. Acabo de sofrer um extravasamento de fluidos.” Disse-lhe eu: “Não importa. Voltará qualquer outro dia, quando se sentir mais disposto.”

– E voltou?

– Nunca mais. Soube, porém, que se exibira na redação do “Correio Paulistano” e, mais tarde, tive ocasião de ver o meu dileto amigo Antonio Fonseca reproduzir com a máxima perfeição todos os truques que eram atribuídos à força mediúnica do sr. Mirabelli.

– Também estalar um copo com o olhar?

– Isso não. Mas devo dizer que muita coisa, até mais extravagante, se afirmou por aí que o sr. Mirabelli fazia, sendo verdade que nenhum testemunho respeitável veio confirmá-lo.

– Então, está convencido de que tudo é truque?

– Perfeitamente convencido, tanto assim que me desinteressei de todo do caso desde que assisti, realizadas por aquele meu colega, todas as hábeis manobras que centenas de pessoas já me haviam relatado, com pormenores, como sendo fatos sobrenaturais. Acho, entretanto, o Mirabelli precioso.

– Por quê?

– Por que conseguiu por espaço de um mês distrair a atenção geral das vicissitudes da crise, porque deu à imprensa um pratinho inédito e rendoso, e, finalmente, demonstrou que é bem maior do que se pensa a ingenuidade de muita gente… 

Os fenômenos fisiológicos explicados por um cientista 

Damos a seguir a opinião do nosso distinto colaborador, e ilustre médico, Dr. Deodato Wertheiner, sobre os decantados “fenômenos fisiológicos” que o pseudo “médium”, segundo dizem, apresenta após as experiências. 

Esse senhor Mirabelli prendeu por tal forma a atenção pública que não se fala [ilegível] senão na sua pessoa, nem outra coisa se discute senão os seus extraordinários feitos.  

É já uma grande conquista, e ninguém poderá, sem cometer uma [falsa?] [2 palavras ilegíveis] e por ele acorrentado [ao, do?] seu nome, durante certo tempo, a imprensa, a arte e a ciência, pondo em atividade meio mundo, desde as chapas bisbilhoteiras até os apaixonados, dispostos em campos diversos, glória esta, não pequena, para um pobre mortal, como ele, que nunca sonhara, talvez, sair de uma ligeira mediocridade em que se sentia, com toda a certeza, muito mais a gosto.  

De tudo, porém, quanto se tem dito e escrito do sr. Mirabelli; das provas que o submeteram impiedosamente e das contra-provas mais impiedosas ainda, com que se tem procurado desmoralizá-lo, fixou-se-nos na mente, não sabemos se por força e graça de algum fluido malévolo e extraviado, a idéia de que em tudo isto há muito exagero, a ponto de se esquecerem, os defensores do homem misterioso, de princípios rudimentares de certas ciências chamadas para depor na explicação de semelhante fenômenos. 

[FIGURA]

DR. DEODATO WERTHEIMER                                   

Houve quem desse excessiva importância a certos FENÔMENOS FISIOLÓGICOS, observados no sr. Mirabelli, quando este se achava em seus trabalhos mediúnicos, e, para fortalecer melhor a sua tese, negou a existência destes mesmos fenômenos na pessoa do ilustre e simpático redator-secretário desta folha, quando reproduziu, por meio de truques, trabalhos idênticos ao do sr. Mirabelli. 

Achamos naquilo um quase repto ao distinto jornalista e interessante desafiá-lo para produzir fenômenos puramente fisiológicos, que se manifestam sob uma infinita variedade de motivos.  

Não discutimos e, muito menos, pretendemos provar aqui se o sr. Mirabelli é de fato um homem em plena posse de virtudes excepcionais, ou se é um hábil e extraordinário prestidigitador. – A mais competentes do que nós incumbe descobrir a verdade; – desejamos, somente, fazer alguns ligeiros reparos sobre as perturbações psíquicas e funcionais assinaladas em um e negadas no outro, provando que não possuem aquela importância que lhe querem dar na demonstração positiva e sólida da existência de fenômenos prodigiosos colocados acima do natural. 

Não é do nosso conhecimento se, como se fez com o sr. Mirabelli, alguém se lembrou de examinar minuciosamente o sr. redator-secretário do “Correio”, na ocasião em que o mesmo executava os seus “truques”, a fim de se comparar os resultados das observações de um e de outro. 

Os fenômenos fisiológicos que foram constatados no sr. Mirabelli, são todos de ordem nervosa, reflexos produzidos por impressões externas mais ou menos violentas, repercutindo intimamente com uma tensão particular dos centros psíquicos; estes mesmos fenômenos, porém, se verificam nos mínimos detalhes da nossa existência com maior ou menor intensidade, e cujo valor científico é quase nulo para explicarem, e só por si demonstrarem, fenômenos sobrenaturais. 

Perturbações vaso-motoras, respiratórias e circulatórias, eis o cortejo que sempre sucede a estados EMOTIVOS, à SUPEREXCITAÇÃO ou DEPRESSÃO NERVOSA. 

Que se deram estas perturbações, não duvidamos nem podemos duvidar: SÃO CONHECIMENTOS RUDIMENTARES PARA QUEM ESTUDA FISIOLOGIA NERVOSA; – mas que sejam elas uma PROVA INAPELÁVEL DE CAUSAS SOBRENATURAIS, NEGAMOS EM ABSOLUTO, pois tais perturbações sóe verificam desde o alienado, desde o epilético, até ao pobre estudante que vai prestar seus exames. 

A simples leitura do parágrafo “[ilegível]”, completadas com algumas páginas sobre superexcitação nervosa, de QUALQUER COMPÊNDIO DE FISIOLOGIA, NOS DÁ [ILEGÍVEL] SUFICIENTE PARA EXPLICAR OS FENÔMENOS FISIOLÓGICOS OBSERVADOS no sr. Mirabelli. 

Não discutimos, e queremos que sobre este ponto não paire a menor dúvida, se o sr. Mirabelli é um médium poderosíssimo, ou, pelo contrário, se é um hábil prestímano; – em QUALQUER DAS DUAS HIPÓTESES, porém, os fenômenos fisiológicos SERIAM OS MESMOS, mais ou menos pronunciados; – no primeiro caso, a superexcitação nervosa é admitida; daí a aceleração do pulso, taquicardia, rubor, suores abundantes, não esquecendo, também, algumas vezes, a inconsciência e anestesia geral ou parcial; – na segunda hipótese, ESTES FENÔMENOS TÊM DE SE PRODUZIR, porque a SUPEREXCITAÇÃO PERSISTE NUM INDIVÍDUO, CUJO ESPÍRITO ESTÁ, POR ASSIM DIZER, SUSPENSO À ESPERA DOS BONS RESULTADOS, DAS SUAS ESPERTEZAS, que, num momento infeliz, PODEM FALAR E SER DESCOBERTAS.  

O sistema nervoso e suas funções mergulham, até hoje, em profundo mistério, pois o que dele sabemos é muito pouco relativamente ao que, mais tarde, a custo de muitos sacrifícios e pacientes estudos, poderemos saber; – é um verdadeiro labirinto, expressão esta que admitimos com sinceridade, embora os progressos da ciência, da histologia principalmente, e da microscopia, tenham desvendado ao nosso saber, a primeira com os seus ácidos e corantes, a segunda, com os seus belíssimos melhoramentos óticos, grande parte dos escaninhos de mais nobre e elevado sistema vital. 

Se o sr. Mirabelli é, de fato, um médium perfeitamente desenvolvido (conforme expressão espírita), nada mais natural que se verifiquem perturbações nervosas várias, adaptando-se com muitos a teoria de que a mediunidade é um verdadeiro estado segundo, ou, admitindo a opinião de outros, pela qual o médium influenciado se acha em estado crepuscular, isto é, um estado da mesma natureza que o sono, que é o protótipo deste estado de impressionabilidade cortical. 

Enfim, estado crepuscular, estado segundo, ou como o quiserem chamar os versados no espiritismo, o caso é que os indivíduos ditos mediunizados possuem o respectivo aparelho nervoso em estado de superexcitação, seguido logo de um período depressivo, donde a série de perturbações reflexas já conhecidas e observadas no sr. Mirabelli. Se, pelo contrário, SE TRATA DE UM PRESTIDIGITADOR, ENCONTRAREMOS IGUALMENTE AQUELES FENÔMENOS COMO CONSEQUÊNCIA POSITIVA DE MODIFICAÇÕES SENSORIAIS, MODIFICAÇÕES ESTAS QUE PRODUZEM INVARIAVELMENTE ALTERAÇÕES VASCULARES, RESPIRATÓRIAS E SECRETORAS. 

Quem não conhece e não tem experimentado os efeitos produzidos no seu Eu, em seguida a um choque moral, um susto ou emoção súbita? – ao recebermos um telegrama, cujo conteúdo ignoramos e que não era esperado; quando prestamos os nossos exames e assim mil outros incidentes observados todos os dias? Sentimos primeiro uma sensação de calor, o rosto afogueado, o ritmo cardíaco acelerado, dispnéia e outros sintomas que caracterizam um período de excitação, seguido pouco depois de um estado depressivo ou de calma, em que predominam os suares frios, arritmia cardíaca, aceleração do pulso, palidez, etc. 

De modo que o sr. Mirabelli, “médium”, apresentaria estas perturbações nervosas, tendo como ponto de partida uma influência exógena, sobrenatural; o sr. Mirabelli, prestidigitador, APRESENTARIA ESTAS MESMAS PERTURBAÇÕES, DERIVADAS DE UMA INFLUÊNCIA INTERNA, “a emoção”, O MEDO DE FALHAREM OS SEUS TRUQUES E DE SER DESCOBERTO. 

O tempo dirá qual dessas duas causas tem produzido os fenômenos fisiológicos. 

O QUE NEGAMOS É O VALOR ABSOLUTO DESTES SINTOMAS, na demonstração de mediunidade do sr. Mirabelli, mediunidade esta cuja existência não afirmamos nem negamos. 

Desejaríamos, ao terminar, fazer uma ligeira pergunta, sem ironia nem malícia, aos espíritas convencidos. Dizem os adeptos de Allan Kardec (alguns dos quais muito prezo e admiro), que a maioria, se não a totalidade, dos habitantes dos manicômios são obcecados, atormentados por espíritos atrasados e cuja cura está nos domínios dessa sugestiva religião científica. 

Até hoje, porém, o espiritismo, que conta em seu seio uma falange de adeptos respeitados, pelo seu cultivo intelectual, nada tem feito em benefício desses desgraçados reclusos e entregues à ciência médica, que também pouco tem feito, porque mais não pode.  

Ora, dizei-nos: se em vez do sr. Mirabelli (considerado como médium extraordinário) andar por aí girando gavetas, acendendo lâmpadas, produzindo desastres nas instalações elétricas e OUTRAS FUTILIDADES SEM ALCANCE PRÁTICO para a humanidade sofredora, e ESTÉREIS, POR COMPLETO, EM ARGUMENTOS CONVINCENTES PARA PERSUADIR OS INCRÉDULOS, não seria melhor, muito melhor e mais vantajoso, que ele aplicasse toda a sua força e poder, com sacrifício mesmo da própria vida (porque a caridade não mede sacrifícios), para libertar um por um todos esses infelizes que se debatem furiosos nas grades dos hospitais; que restituísse à vida, à luz, à liberdade e a seus lares tantos chefes de família, honestos, tantas mães, outrora, meigas e carinhosas, tantas filhas que vivem eternamente descabeladas, com os olhos esgazeados e as feições desfeitas, gargarejando continuamente, num ritmo descompassado, a triste e arrepiante gargalhada sarcástica?… 

Como é triste, nobres filhos de Allan Kardec, enquanto o sr. Mirabelli anda cercado de CURIOSOS ÀS VOLTAS COM ESPÍRITOS TRUQUISTAS E DESORDEIROS, tantas jovens, delicadas e franzinas, mais belas ainda no seu desalinho inconsciente, jazem abandonadas, ferindo e cortando os nossos corações de médicos, que tanto estudamos, que tanto sacrifícios fizemos para, no fim, quedarmos impotentes e vencidos diante de um gargalhar de louca!… 

Se o louco é um obcecado e o espiritismo é a religião caridosa, possuidora do poder que tanto apregoam os seus adeptos oh! Não vale a pena trocar dos médicos com doses fluídicas fornecidas ao acaso; não vale a pena discutir – Res, non verbis, abri, de par em par, as portas dos hospícios e restitui aos órfãos esses pais, essas mães que fazem com o cérebro velado pelo negro sudário da loucura; enxugai essas lágrimas que, reunidas encheriam mundos, e se isso fizerdes, tereis estabelecido perene e perpétuo o domínio dos vossos princípios.  

* * 

OS FALSOS PROFETAS 

Como estava anunciada, realizou-se ontem, às 20 horas, no Teatro S. José, a segunda conferência do médium Antônio José Trindade, que veio estudar o caso Mirabelli. 

O conferencista discorreu largamente sobre o tema: ‘Os falsos profetas’ 

O desencanto de Mirabelli 

Eis, afinal, quebrado em mil pedaços,

O milagroso e extraordinário encanto

Do homem sensacional e quase santo,

Que foi herói no meio dos palhaços. 

Fazia maravilhas; no entretanto,

Embora a gente andasse de olhos baços

Foram do “truque” descobertos traços

Ante assembléias pálidas de espanto.

Prestou Fonseca um ótimo serviço,

A zero reduzindo o tal feitiço,

Tornando a falcatrua conhecida. 

E agora apenas pensa o Mirabelli

Em resguardar a sua amada pele

De uma sova de pau bem merecida. 

Carmine Miraberias 

Para amanhã: 

Impressões do eminente cientista dr. Franco da Rocha, diretor do Hospício de Alienados 

Espiritismo versus espiritismo 

O que pensa a maioria dos espíritas de S. Paulo em relação ao falso médium

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