AS FRAUDES DO MÉDIUM MIRABELLI (PARTE 39)

Dando prosseguimento à série de reportagens do Correio Paulistano.

Correio Paulistano – Terça-feira, 11 de julho de 1916, páginas 2 e 3 

No mundo das maravilhas

Fez-se luz em a noite do mistério

O sr. Carlos Mirabelli é realmente um hábil prestidigitador

Os “truques” do pseudo-médium

Como é que o lápis sai da garrafa – A caixa que gira e cai – A bengala magnetizada – O chapéu do “espírito 

[FIGURA Nº 2] 

Dando hoje a minuciosa explicação dos “truques” empregados por Mirabelli e atribuídos por um grupo de adeptos das teorias de Allan Kardec a manifestações mediúnicas, temos em vista simplesmente: 

1º – ORIENTAR aos que por acaso venham a assistir à reprodução desses “fenômenos”, pelo pseudo-médium, pondo-os em condição de surpreenderem o embusteiro em flagrante de velhacaria; 

2º – HABILITAR a qualquer mortal, por menos esperto que seja, a EXECUTAR AS MESMAS SORTES, de modo que elas deixem de ter o sabor da originalidade e o “homem misterioso” se veja compelido a procurar ocupação honesta. 

No primeiro dos casos, o interessado nada mais tem a fazer do que APURAR A VISTA NO MOMENTO da exibição, colocando-se à distância mínima de UM METRO do operador, seguindo-lhe com o máximo interesse todos os gestos, sem se preocupar com os chamados “FENÔMENOS” OBJETIVOS, ou DE VIDÊNCIA, que têm um único fim; – o de PERTURBAR o ASSISTENTE, de modo a BURLHAR-LHE a VIGILÂNCIA. 

Quando o “fenômeno” começar a produzir-se – o que não será provável nesse caso – o assistente CONVERGIRÁ AS SUAS VISTAS de preferência para as mãos do operador e nunca para o objeto, como sucedeu a todos quanto se deixaram ludibriar pelo intrujão.

No “fenômeno” de levitação do lápis, se porventura o manhoso pelotiqueiro permitir ao circunstante que passe a mão por cima do gargalo da garrafa, para demonstrar que não usa de fio, aquele deve de preferência PASSAR O BRAÇO NO ESPAÇO compreendido entre a GARRAFA e o OPERADOR, tendo sempre em mira caçar o cabelo, que deve fatalmente existir. 

[FIGURA Nº 3] 

Do mesmo modo e com a mesma habilidade deve proceder no caso em que o prestidigitador, tendo colocado um papel num copo para retirá-lo, mandar que o assistente corte com uma tesoura a extremidade que ficou fora do recipiente para demonstrar a não existência de “truque”. O espectador, de posse da tesoura, deve procurar o fio, e não se deixar levar pelo intrujão, pois o CABELO ESTÁ LIGADO AO PAPEL PELA EXTREMIDADE QUE JAZ NO FUNDO DO COPO.  

No chamado fenômeno da lâmpada, que acende ou apaga a um gesto do ilusionista, e que este só produz quando tenha podido anteriormente tocar na lâmpada para DESPARAFUSÁ—LA, o assistente, se não tiver tido oportunidade de caçar o fio estendido entre as mãos de Mirabelli, deve em seguida verificar se a lâmpada ESTÁ ou NÃO DESENROSCADA, de modo que até com um sopro possa apagar ou incandescer.  

O assistente não deve, outrossim, impressionar-se com a LÁBIA do operador que às vezes MANDA COLOCAR um PESADO objeto sobre o gargalo da garrafa, pretendendo desse modo convencê-lo de que não usa de “truques”, pois “um simples fio de cabelo, que só pode resistir à pressão de algumas gramas, jamais teria a consistência possível para acionar uma gaveta ou uma barra de ferro de quatro ou cinco quilos”. 

É preciso pensar na lei de equilíbrio e convencer-se de que se Mirabelli, com a sua força prodigiosa, CONSEGUISSE EQUILIBRAR O MUNDO NO GARGALO DE UMA GARRAFA, ACIONÁ-LO-IA IGUALMENTE a uma simples PRESSÃO DE UM CABELO DE MULHER, mormente se este fosse inteiriço, pois muito maior seriam a sua consistência e elasticidade.  

Um velho e conhecido prestidigitador, com quem conversamos sobre os “fenômenos” mirabellicos, disse-nos que costuma usar, para “magnetizar” uma cadeira, uma pequena mesa ou outro objeto pesado, QUE NÃO ESTEJA EM EQUILÍBRIO, um FIO DE AÇO dos que existem dentro das lâmpadas elétricas, o qual, PINTADO DE PRETO, é perfeitamente invisível como o FIO DE CABELO.  

Para as experiências de levitação do lápis ou de objetos leves, o fio pode ser emendado, de maneira quase imperceptível. 

Com esses elementos, isto é, com um extenso fio de cabelo de mulher, de preferência CASTANHO, e um minúsculo pedacinho de cera preta, chamada cera virgem, que se descola sem deixar vestígio, e uma boa dose de caradurismo, fica qualquer humilde habitante destas paragens terrenas habilitado a pôr-se em contato com os seus irmãos de Além-túmulo, com os aplausos da ciência e a simpatia dos homens estudiosos.  

Passemos, porém, à explicação dos “truques”. 

SUGESTÃO DA ASSISTÊNCIA 

O tipo físico de Mirabelli, os seus gestos de agitado, os seus olhos desvairados, prestam-se, de modo admirável à sugestão: esta se produz definitivamente em seguida a uma série de tentativas infrutíferas que o prestímano finge realizar para obter a ação do “espírito”; este não se fixa, circula pela sala, pousa um momento no objeto que deve mover, desaparece e volta de novo, roça apenas pelo objeto, some-se. Enquanto isso se dá, Mirabelli esfalfa-se em súplicas, gritos de desespero, apelos fervorosos ao “espírito” – para que toque o objeto. A assistência, empolgada, acompanha, vibrando, essa luta entre a vontade do “médium” e a do “espírito”; “torce”, desesperadamente, para que o médium vença e o objeto se desloque. No fim de duas ou três horas, o trabalho da sugestão dos assistentes está completo, e o pelotiqueiro realiza, quantas vezes quiser, os “fenômenos”, sem a mínima fiscalização da assistência. Tem-se observado que nem uma só vez ainda o sr. Mirabelli produziu fato algum logo no início de qualquer sessão ou experiência. 

* *

Para que o leitor se habilite a reproduzir, com exatidão, os “fenômenos” do “pseudo-médium” e se coloque, portanto, em condições de oportunamente surpreender os truques do espertíssimo intrujão, basta que se detenha ante as figuras que abaixo publicamos e que as estude minuciosamente. 

* *

É por meio da figura nº 2 que explicaremos o fenômeno da rotação da caixa, letra C, sustendo um copo BB em cada uma das suas extremidades e equilibrada sobre o gargalo de uma garrafa (letra D).  

No primeiro plano superior, vêm-se as mãos de Mirabelli espalmadas, CC, no seu gesto peculiar para a produção desse “fenômeno”. O tenuíssimo fio de cabelo de mulher é indicado pela letra A e está ligado aos dois dedos médios do prestidigitador, provindo possivelmente daí a denominação de “mediunidade” que deram ao ordinaríssimo “truque”. 

Mirabelli, munido por essa forma do “fluido” indicado pela letra A, aproxima-se do ângulo da mesa em que foi colocada a garrafa e os seus acessórios e declara-se logo “iluminado” pelo espírito complacente de “papá”, pois está em condições de produzir com êxito o seu “fenômeno”. 

Tendo tido antes a precaução de afastar o quanto possível o seu espectador e depois de ter procurado tirar o melhor partido dos efeitos de luz, o emérito trapaceiro aproxima-se do ângulo da caixa voltado para ele e, fazendo com o centro do cabelo, assinalado com a letra A, uma leve pressão sobre a caixa, esta gira na direção do espectador, enchendo-o de pasmo.

Se, do contrário, o famoso “médium” ou o seu circunstante deseja que a coisa tome uma direção contrária à da já explicada, ele nada mais tem a fazer do que tocar com o “fluido” o ângulo indicado pela letra E. Desse modo, é racional que gire a caixa na direção do operador.  

Se ainda ele quiser derrubá-la, espatifando os copos, indicados pelas letras BB, dará apenas um leve impulso com as mãos elevadas para o ar, desde que o ponto A do fio apanhe, por baixo, o ponto E da caixa. 

* * 

A figura nº 3 trata, como o leitor já compreendeu, do “fenômeno” de levitação do lápis, aliás, o mais impressionante de quantos produz o embusteiro nos seus momentos de “inspiração”.  

O lápis, sem que primeiro tenha passado, embora rapidamente, pelas mãos de Mirabelli, jamais sairá do fundo da garrafa, conservando a eterna imobilidade das coisas inanimadas. Aliás, é este o único objeto em que Mirabelli tem necessidade de tocar para que o “fenômeno” se produza. 

Daí a razão por que o “Correio Paulistano” , desprezando a série colossal de “curiosíssimos fenômenos”, criados pela fútil imaginação do povo, escolheu dentre todos o mais simples e também o mais impressionante, para constituir objeto do repto que lançou ao explorador, obrigando-o à figura tristíssima de que estão lembrados todos quanto constituem o júri, durante as nossas cinco sessões. 

O lápis, colocado no fundo da garrafa por um dos três redatores do “Correio”, comissionados para a fiscalização do embusteiro, jamais sairia, impelido pelos fluidos mirabellicos, e disso tínhamos a mais absoluta convicção. 

Passemos, porém, à explicação do “fenômeno”. 

Mirabelli, depois de ter sugestionado a “vítima” com os seus pilhéricos fenômenos de vidência, lobrigando almas aladas por todos os cantos, pede-lhe um lápis, cola rapidamente na extremidade oposta à da ponta um minúsculo pelo de cera virgem (letra B), tal como se vê no plano superior da figura nº 3, e, conforme a impressão que causou no espírito da vítima, determina que esta mesma deixe cair o lápis no interior da garrafa. 

[FIGURA Nº 4] 

Depois, segue-se a preparação psicológica da assistência. É o “espírito” que está presente. 

– Não o vê? Pois está tão perto!  

E o espectador, que é sempre uma pessoa da mais admirável boa fé, confessa que nada está vendo, acentuando desse modo no espírito de Mirabelli a certeza de que o seu “truque” não está sendo observado. 

– Então, nada vê? Pois olhe, está aqui, aqui ao lado da garrafa, atenção! Vai pegar o lápis.

E, a isso, segue-se a invocação: 

– Que tire o lápis da garrafa, para convencer este irmão da sua presença… Vá! Vá! 

E o lápis tremelica no fundo da garrafa, com grande surpresa do circunstante, que esbugalha desmesuradamente os olhos, mas terá toda a sua atenção presa simplesmente do lápis, deixando livre e sem fiscalização os movimentos do operador. 

E sai o lápis, indo depois a vítima afirmar que é absurda a hipótese de um fio de cabelo, pois o movimento das mãos do “grande médium” não correspondem com a ação, isto é, com a levitação do lápis.  

[FIGURA Nº 6] 

Um outro processo existe ainda e é empregado pelo “médium” quando o seu espectador não lhe merece toda a confiança desejável.

O fio de cabelo, ao invés de ser ligado ao dedo, é enlaçado no último botão do colete e a operação se executa do mesmo modo que a já demonstrada, com a circunstância de que o operador tem livres as duas mãos e pode até mandar amarrá-las, se isso der prazer ao espectador.

Assim preparado, o operador nada mais tem a fazer do que ir se afastando lentamente, de costas, de modo que o fio se distenda, induzindo a elevação do lápis. 

* *

A figura nº 4 representa um dos modos de conduzir o fio de cabelo para o fenômeno da rotação de objetos. 

No plano superior vê-se o fio pendente, que jamais será percebido a uma distância mínima de dois metros, desde que o operador se apresente trajado de preto ou de marrom. As duas extremidades do cabelo (BB) estão presas nos botões dos bolsos laterais das calças (AA).  

Produzindo o “fenômeno” o operador, num simples gesto desembaraça-se do fio, que volta à posição anterior, como se vê na figura do primeiro plano. 

O operador, por um “excesso de escrúpulo”, pode, antes das suas proezas, despir o paletó e o colete, como faz Mirabelli, e submetê-los aos exames da assistência, sem que esta nada venha a descobrir. 

Passemos à figura nº 6, que representa o fenômeno de rotação da caixa, já explicado quando tratamos da figura nº 2. A sua clareza dispensa qualquer elucidação teórica. 

Aproveitemos, entretanto, a oportunidade para explicar alguns pontos de suma relevância e que constituem um repisado argumento dos que acreditam na força mediúnica do intrujão. Afirmam eles que Mirabelli não toca nos objetos com que vai trabalhar. Como se vê na figura nº 6, o operador não tem de fato necessidade de que esses objetos lhe passem pelas mãos antes ou durante a produção do “fenômeno”, porque é o fio, esticado entre as duas mãos do operador, que imprime o movimento, resvalando pelo ângulo da caixa.  

Outra circunstância, que igualmente deve ser esclarecida, é a de ter Mirabelli permitido, algumas vezes, que o espectador atravessasse entre ele e o objeto antes de produzir-se o “fenômeno”. Na própria gravura o leitor encontrará, porém, a explicação, pois o fio, como já dissemos, e insistimos, não está preso no objeto, e sim nas mãos do operador.

Ilusionismo, “magnetismo” e “espiritismo” 

A título de curiosidade, vamos transcrever aqui, das páginas 143 e 184 do “Manual do Prestidigitador”, sexta edição de Arnaldo Bordalo, 1914, duas interessantes mágicas, as quais, realizadas com a habilidade do prestímano em foco, tanto sucesso alcançaram, alarmando os crédulos. Delas se salienta a levitação da bengala, “fenômeno” que muito impressionou, quando realizado pelo charlatão de Botucatu, o sr. Ganimedes Villaça e outros.

Neste livro de prestidigitação, no qual naturalmente apreendeu muito o hábil “pseudo-invocador de espíritos”, se vê bem o papel importante do cabelo nas sortes de salão, embora possa ser ele substituído, e às vezes com vantagem, por um fio de retroz, quando o operador trabalhar em palcos, ou a distância dos espectadores. Assim também o autor da curiosíssima brochura recomenda teatralidade, atitudes terríveis, voz lúgubre e sobretudo que se fale em espíritos, porque isso é de grande efeito para a sugestão da assembléia. 

Numa palavra, o histrião soube ser um discípulo de honrar o mestre. Agora, leiam os leitores as seguintes sortes, ilustradas com os próprios clichês do manual, e ajuizem: 

A BENGALA MAGNETIZADA 

[FIGURA] 

(O autor aconselha o prestímano a fazer crer à assistência que se trata de FORÇA MAGNÉTICA).

“Muitos sábios pretendem que só os seres vivos, os homens e os animais, podem ser submetidos à influência do magnetismo. Profundo erro, meus senhores! Como poderei provar, qualquer objeto pode ser magnetizado por um prestidigitador e pagar sucessivamente pelos estados de catalepsia, de letargia e de sonambulismo. Deseja v. exc. convencer-se? Empreste-me a sua bengala por um instante. Como vê, assento-me, ponho a bengala na minha frente, mantenho-a um instante nesta posição com a mão esquerda, enquanto que com a direita lhe lanço um pouco de fluido e os meus olhos a submetem à ação da sua potência facilitadora… Retiro a mão: a bengala fica imóvel! Em seguida, faço com que se incline para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás; com os braços estendidos à distância, atraio-a ou repudio-a… conforme me apraz… Agita-se e adormece como qualquer ser vivo magnetizado. 

Levanto-me, entrego-lhe a sua bengala, mostro-lhe as minhas mãos para que as examine e se quiser repito a experiência. Estando-me noutra cadeira, a bengala, depois de magnetizada, obedece-me sempre!…” 

Depois de ter lido todo este palavreado, perguntará o leitor: e o segredo? 

Simplíssimo! Mais uma vez os fios invisíveis têm lugar. Prendam-se às calças, à altura do joelho, numa e outra perna, as extremidades de um fio de seda preta de 60 centímetros de comprimento, pouco mais ou menos, disposição que não impedirá o andar e permitirá que o fio se estenda quando o prestidigitador se sentar e afastar as pernas.  

No momento de executar a sorte, levanta-se a bengala ao ar sob o pretexto de a examinar, e quando se pousa no chão faz-se de maneira que passa entre a cadeira e o fio estendido, ao qual se apóia, ligeiramente inclinada. Se se preferir fixar um pouco melhor a bengala ao fio, levanta-se pela extremidade inferior, sob qualquer pretexto, e dando-lhe uma volta, faz-se passar uma segunda vez entre o fio e a cadeira. Deste modo, ficará completamente rodeada e apertada pelo fio.  

De uma ou de outra maneira, os diversos movimentos da bengala são dirigidos pelos que o prestidigitador faz com os joelhos, ora aproximando-os, ora afastando-os, bruscamente ou com lentidão, conforme lhe convier. 

Muito charlatanismo, muita alegria, e ainda mais espírito são o auxílio indispensável para se tirar bom partido deste simples divertimento. 

O chapéu enfeitiçado 

[FIGURA] 

(ATENTEM BEM OS LEITORES: O AUTOR DO LIVRO RECOMENDA QUE O OPERADOR FAÇA PASSAR ESTA EXPERIÊNCIA COMO MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS, COMO ALIÁS PROCEDE O FALSO MÉDIUM).

“Meus senhores, vamos fazer aparecer aos olhos de vs. excs. Novas MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS. 

Tenham a bondade de emprestar-me um chapéu.  

Muito bem. Agora meto-lhe dentro, por minha conta… a cabeça de um Espírito (!) e coloco o chapéu com a cabeça nesta mesa.  

Podem interrogar o chapéu… perdão, eu queria dizer o Espírito.Responderá a todas as perguntas de vs. excs. e dirá mesmo aquilo que não se lhe perguntar!… (num tom lúgubre): Que os sujos de consciência tremam!

– Espírito, estás disposto a dar-nos dois dedos de palestra? 

O chapéu levanta-se, como para dizer: Sim, senhor! 

– Estás hoje de mau humor? 

O chapéu fez um movimento de balanço, da direita para a esquerda, para dizer não. 

– Vs. excs. sem dúvida supõem – continua o prestidigitador – que há mecanismo no chapéu, ou na mesa? Pois enganam-se: vejam! 

 E, sem mesmo tocar no chapéu, o operador pega na pequena mesa e leva-a para o meio dos espectadores, que podem examinar e apalpar o móvel, o pano da mesa e o chapéu. 

Quando todos têm suficientemente examinado os objetos citados, torna-se a levar a mesa para onde estava.

É inútil encarecer o partido que se pode tirar da situação.

Como facilmente se compreende a cabeça do espírito é um simples fio de seda preta que atravessa a cena em toda a largura: de um lado está fixo na parede, do outro pega-lhe um ajudante oculto no bastidor. O ajudante levanta o fio a pequena altura, quando o prestidigitador coloca o chapéu sobre a mesa e depois abaixa até a frente da mesa, de onde o faz passar para trás e por baixo da aba do chapéu, que assim pode facilmente ser levantado quando é preciso dizer sim. 

Quando tenha que dizer não, o fio é puxado até meio do chapéu e levantado por um puxão brusco que lhe imprime um movimento de balanço. 

Quando o prestidigitador se aproxima para pegar na mesa e mostrá-la aos espectadores, o fio é passado com precaução para a frente sobre a mesa, depois passado por cima do chapéu e, de novo, levantado à maior altura possível. 

Completa-se a experiência por uma sorte que produz muito efeito. 

Durante o tempo em que o chapéu se entrega a uma dança das mais agitadas, o mágico, conservando-se a distância, convida os espectadores a aproximar-se do chapéu, se não tiverem medo, para constatar que não está preso a coisa alguma. 

Neste momento o ajudante que faz mover o fio, deve estar o mais atento possível; continua a fazer dançar o chapéu até que qualquer espectador curioso se aproxime da mesa. Logo que note haver perigo de ser visto o fio, puxa-o com força, parte-o, e retira-se cauteloso, sem ser pressentido. 

Numa sala pequena o ruído produzido por um fio que se parte, poderá ser ouvido: para obstar este inconveniente é preciso empregar um fio duas vezes mais comprido, que se faz passar por detrás de uma pequena roldana fixa do lado oposto àquele em que se encontra o ajudante, nas mãos do qual vem juntar-se as extremidades. Desta maneira o fio está dobrado sob o chapéu: no momento oportuno, o ajudante solta uma das extremidades e puxa pela outra. 

Seja qual for o meio que se empregue, o fio desaparece da cena, e os curiosos ficam ignorando a razão por que o fio se movia. 

– Mas deixou de dançar logo que nos aproximamos! – dirão alguns mais espertos.

– Certamente! – responderá o prestidigitador. – Vs. excs. bem sabem que os espíritos têm um horror inveterado aos profanos, e fogem dos temerários que se lhes aproximam.

Se substituirmos o chapéu por um crânio feito em pasta, besuntado de qualquer preparação fosforescente, o efeito obtido será duplamente maravilhoso.” 

* *

EXPOMOS HOJE NO MOSTRUÁRIO DESTA FOLHA, PARA QUE O PÚBLICO POSSA DEVIDAMENTE APRECIÁ-LA, A CARTA CUJO FAC-SÍMILE ONTEM PUBLICAMOS, E DA QUAL MANDAMOS, AINDA, TIRAR UMA PUBLICA-FORMA. 

FIGURA TAMBÉM NA NOSSA VITRINA O “APARELHO” ENCONTRADO NO TAPETE DO NOSSO SALÃO NOBRE E QUE FOI A CHAVE DO MISTÉRIO MIRABELLICO. 

Para amanhã:

A sensação do frio

A razão de ser da “corrente fluídica”

RECAPITULANDO

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