Resgate Histórico: Revista O Cruzeiro de 07/03/1964

Mais uma edição da revista O Cruzeiro disponível, graças ao trabalho de Vital Cruvinel. Vital possui um blog chamado Rede de Pesquisas Espíritas em que convida as pessoas a colaborarem em seu estudo sobre o caso. Abaixo segue a revista disponibilizada e a reportagem transcrita.

A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA  

Mário de Moraes 

MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (II) 

            O Dr. Waldo Vieira, que é o dono da bola, prometera que  teríamos tantas sessões quantas fôssem necessárias para fazermos uma boa reportagem e voltarmos certos da existência do fenômeno. Baseados na palavra dêsse médico, combinamos, ainda no hotel, que a primeira experiência seria para observações. Nela toparíamos tudo. Na segunda, se não estivéssemos convencidos, desmascararíamos o embuste. O Dr. Waldo nos recebeu na casa de Chico Xavier e deu-nos uma série de explicações: a) não poderíamos, de maneira nenhuma, agarrar na materialização, pois isto ocasionaria a morte da médium. Falei-lhe no meu desejo de dar um apêrto de mão na Irmã Josefa. Disse que isso só poderia ser resolvido na hora da sessão; b) não era possível retirar a cabina, de cortinas pretas, atrás da qual ficaria a manietada médium Otília. Atingida pela luz do "flash", a pobre mulher poderia sofrer algum mal. Um outro médium ficara paralítico de uma perna; c) seria permitido o uso de um "flash" e, mesmo assim, êste só seria usado quando a "entidade" o ordenasse. Porque a sua luz, acesa sem permissão, "dissolveria" o "ectoplasma", causando a morte de Otília; d) nas 29 cadeiras, dispostas em semicírculo dentro da sala de experimentação cinco haviam sido reservadas para O Cruzeiro. Foi-nos apresentado um croquis do local, com os nossos assentos já assinalados; e) não era possível colocar talco em redor da cadeira da médium como pedi porque esta tinha uma idiossincrasia ao mesmo. Depois, o Dr. Waldo deu uma segunda explicação: um espectador havia se levantado, numa das sessões anteriores, e colocado o pé no talco, para desmoralizar a experiência; f) a única luz que existiria dentro da sala (tôdas as outras haviam sido retiradas), uma pequena lâmpada branca, pintada de vermelho, permaneceria acesa, durante todo o tempo da experiência; g) ninguém poderia dirigir a palavra à "entidade materializada". Isto seria feito através do Dr. Sebastião de Melo, que controlaria a sessão. Êle faria o papel de censor da Irmã Josefa; h) talvez sentíssemos vontade de vomitar. Não deveríamos ter mêdo, pois estaríamos "fornecendo" ectoplasma; 1) seríamos revistados dos pés à cabeça, não podendo entrar de paletó ou com qualquer objeto nos bolsos; j) ninguém poderia levantar-se da cadeira, sem prévia autorização do Dr. Sebastião. 

            Êstes os dez principais itens que regeriam os trabalhos. Examinarei um por um. E através dêles responderei a muitas perguntas, bem como rebaterei as tôlas acusações que me fizeram num programa de televisão: a) quando quis cumprimentar a "Irmã Josefa", eu tinha um objetivo: pedir-lhe para desmaterializar a sua na minha mão. Isso é comum em experiências dêsse tipo, segundo explicam os livros especializados. Na hora da sessão, porém, a "Irmã Josefa" disse que não podia cumprimentar-me, pois havia materializado apenas um dedo da mão direita. Faltara ectoplasma para os demais. Poderia, isto sim, tirar um retrato ao meu lado. Mas não deveria, de maneira nenhuma, tocá-la. Quando ela ordenou, fui levado, na escuridão (minhas mãos seguras pelo Dr. Waldo), até o lado esquerdo da "Irmã Josefa". Tanto o médico quanto a "freira" avisando, sem parar: __ "Não toque na Irmã! Poderá matar Otília! Fique sempre de braços para a frente!" Colocado ao lado da "materialização", aguardei o momento da foto. Abri bem os olhos para que a luz não me cegasse e pudesse distinguir as feições da "madre". Da primeira vez foi impossível. O "flash" pegou-me de cheio e não vi quase nada. Na segunda porém, mais prevenido, consegui ver claramente o nariz inconfundível e abatatado de Otília Diogo. Um dos tais sujeitos da TV disse, mostrando uma das minhas fotos, a primeira, que eu ficara com mêdo da "Irmã Josefa". Infelizmente, apesar de jornalista, é leigo em fotografia. Êle que me deixe acender um "flash" na sua cara numa sala às escuras, e verá como seus olhos aparecerão arregalados. Isso é primário. Como exemplo, reparem na foto publicada em O Cruzeiro de 1-2-64, pág. 80, aquela em que Jorge Audi aparece ao lado do Dr. Waldo. O pobre (?) médico parece assustadíssimo, êle que é íntimo amigo da "Irmã Josefa", com ela convive há muitos meses, segundo suas próprias declarações. 

            Continuarei nesse item, na próxima semana. 

            Aos espíritas realmente puros, uma advertência: a fraude de Uberaba só serve para desmoralizar e desprestigiar o, espiritismo. 

COCHICHOS 

José de Anchieta 

* Duas frases de um espírita sério quando assistia à entrevista do Sr. Jorge Rizzini na TV Continental defendendo os mistificadores de Uberaba: "Com êsse rosto queimadinho do sol, êsse cabelo bem penteado, êsse ar próspero e irresponsável, o Rizzini não deve ser espírita, mas "playboy" de Guarujá". __ Não conheço o Rizzini espírita ou entendido em ectoplasmia. Portanto, acho que êle é o secretário de finanças da Companhia Nacional de Materializações S/A com sede em Uberaba, Minas Gerais.

2 respostas a “Resgate Histórico: Revista O Cruzeiro de 07/03/1964”

  1. Albino A. C. de Novaes Diz:

    Em relação à materialização, questiono a existência do ectoplasma, que nunca foi objeto de estudo por parte de Kardec. Por que? Os Espíritos não precisam de ectoplasma para produzir materialização, quando simples aglutinção de “fotons” poderia apresentar o mesmo efeito. As fotos apresentadas de materialização não resistem à verificação atenta de laboratórios especializados. Invariavelmente tem-se constadado fraudes. Por que não existe nenhuma foto de materialização nos tempos atuais? Será que é porque usamos máquinas eletrônicas que produzem fotos digitais, onde a fraude fica muito mais evidente?

  2. Marcos Arduin Diz:

    Bem, eu não sei se de fato as fotos apresentadas de materialização não resistem a exames laboratoriais… Isso parece tão verdadeiro quanto a afirmação de que as provas da evolução não resistem a um “raciocínio científico” feito por “cientistas” versados na Bíblia…
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    Não sei porquê uma foto digital tornaria as fraudes mais evidentes. Já ouviu falar em Photoshop (eu uso o Gimp: é grátis)?
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    O que eu acho gozado é que os grandes sábios céticos que NUNCA fizeram qualquer experimento ao estilo de Crookes ou foram ter com ele, para saber se o que ele via era real ou não, inventavam as hipóteses mais mirabolantes… e eram ACEITAS pela comunidade científica. Exemplo: Edouard von Hartman e Carpenter defendiam que Crookes via a fantasma porque estava tendo ataques de alucinações. Contudo não explicavam como é que as outras pessoas também tinham exatamente os mesmos ataques alucinatórios e, ao menos aqui a foto da materialização valeu pra alguma coisa, também não explicaram como é que uma máquina e uma chapa fotográfica podiam ficar igualmente alucinadas…
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    Assim é a sabedoria cética.

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