Chico Xavier plagiou Wallace Leal V. Rodrigues?

Essa correspondência entre um texto de Wallace Leal V. Rodrigues – publicado inicialmente em jornais espíritas na década de 1950 e duas décadas depois republicado em um livro chamado Remotos Cânticos de Belém – e uma história psicografada por Chico Xavier no livro Contos e Apólogos é fornecida no livro “Chico, Diálogos e Recordações”, de Carlos Aberto Braga Costa, na página 253.  O livro foi-me enviado por Vladimir Alexei de forma gratuita, assim, muito agradeço a ele. A seguir narra-se a história da descoberta dos trechos correspondentes e a explicação de Chico Xavier para o ocorrido.  

Certa oportunidade, o nosso amigo Wallace R. Leal[1] – como já disse, um médium de excelente sensibilidade –, psicografou uma página que consta do livro Remotos Cânticos de Belém e que foi, inclusive, editada por jornais espíritas da época. No mesmo período, o nosso querido Humberto de Campos, através da psicografia de Chico, trouxe uma mensagem com tema semelhante, inclusive apresentando algumas coincidências, como o nome e o final da mensagem; obviamente, com o colorido e as peculiaridades pertinentes ao estilo e ao cabedal do escritor, além da contribuição pessoal do médium. Tal página recebeu o título “O Encontro Divino” (História do Cavaleiro Darsonval – Chico nos contou ser o espírito de José Xavier) e está registrada no livro Contos e Apólogos.

                Então, Clóvis Tavares e eu questionamos o Chico sobre o fato e obtivemos uma resposta que ficou registrada, para o futuro, como mais uma bela lição: “Amigos, nós precisamos estudar mais sobre a ‘universalidade do ensino dos espíritos’, contida na Codificação. Não podemos jamais esquecer que Allan Kardec analisava mensagens vindas através de vários médiuns, de localidades diferentes, como uma confirmação da universalidade dos ensinos dos espíritos e de sua própria autenticidade. Não podemos ser tutores do que não nos pertence”.   (páginas 253-254 do livro “Chico, Diálogos e Recordações”, de Carlos Alberto Braga Costa)  

Vejamos agora o que o próprio Wallace Leal V. Rodrigues diz sobre o episódio em seu livro Remotos Cânticos de Belém:  

Há alguns anos escrevi e publiquei uma pequena narrativa de Natal e, não se passou muito tempo vim a descobrir que, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, um espírito escrevera-a também. Com algumas diferenças, mas, no fundo dava tudo no mesmo.  

Vamos, então, aos textos:  

Wallace Leal V. Rodrigues (década de 1950, publicado por algum jornal espírita)

Contos e Apólogos (1957), de Chico Xavier, espírito Irmão X (pseudônimo de Humberto de Campos)

Na maior parte das vezes o amor de Sir Launfal se expressava em forma de adoração. Ninguém sabia de seus pensamentos e anelos, porém ele se sentia ébrio de felicidade ao pensar que, por um golpe-de-sorte, poderia encontrar o graal, o cálice em que Jesus bebera na derradeira ceia com seus apóstolos.  

Naquela véspera de Natal, enquanto a festa decorria ruidosa e descuidada no interior do castelo, ele se encontrava exposto à neve e ao vento, ansioso, alerta, olhando os quatro pontos-cardeais que a branca cortina de neve ocultava.  

Desde menino ouvia falar de cavaleiros que tinham partido em busca do “graal”, e, só a custo, conseguia ocultar as manifestações de sua inveja. Era muito pequeno quando presenciara o fato pela primeira vez. Saltara afetuosamente ao pescoço do pai a fim de pedir explicações. O velho castelão tomara-lhe da mão e subira com ele ao mais alto dos torreões – exatamente esse em que se achava. Assentara-o sobre as pedras das seteiras e ficara a olhar um audaz cavaleiro, com um brasão no manto, que ia em direção ao horizonte distante, muito além das pradarias recobertas de montes de feno.  

– Quase todos partem e nunca mais regressam. Ou se voltam, trazem as mãos vazias. Um dia, entretanto, surgirá aquele que trará o cálice em que o Senhor bebeu.  

– Mas, o que é o “graal”?  

O pai costumava prodigalizar-lhe imensa bondade, não apenas porque Launfal era o seu caçula, mas, também, por ele ser um menino que lhe dava orgulho, pois crescia forte e generoso, capaz de vencer em todos os jogos sem, contudo, permitir que nenhum dos adversários se sentisse abatido ou caísse em ridículo. Launfal era igualmente capaz – (Ele, o velho pai, tinha disso certeza!) – de abrigar muito Amor em seu coração, um puro e apaixonado Amor.  

Ele conhecia a natureza do filho e já a experimentara.  

O castelão, ao contrário dos outros membros da nobreza, não dava aos filhos uma pomposa tutela; preferia, ao invés disto, uma dignificante amizade pessoal. Assim, naquele dia de Outono, ele assentara Launfal sobre os joelhos e, com palavras próprias, narrou-lhes a história do graal. Lembrou a ceia em que Jesus reunira seus companheiros e explicou-lhe o sentido das palavras do Senhor. Launfal compreendeu que Jesus viera ao mundo para a sublimação dos homens e, desde aquele instante, fez dEle o seu ideal. Arrepiou-se quando o pai descreveu o momento em que o Senhor levara aos lábios o cálice agora desaparecido. E ouviu avidamente a narrativa lendária de como José de Arimatéia guardara-o e passara-o às mãos de seus descendentes. Os depositários deveriam ser castos e puros de pensamento, palavras e ações. Todavia um deles quebrara o voto e o Graal misteriosamente desaparecera. Desde então, reencontrá-lo, se tornara a empresa predileta dos cavaleiros do Rei Artur, os célebres homens da Távola Redonda. Eles partiam em busca do lendário cálice e cada um guardava a esperança de resgatá-lo.  

Launfal relembrava o episódio naquela noite de Natal, enquanto, entre danças, comidas e músicas, as pessoas se divertiam no castelo. Era agora um garboso jovem, mas seu pai dormia sob a pesada laje e a rústica cruz de pedra, no cemitério da igreja.  

Launfal amadurecera o seu plano e não sentia nenhum receio em pô-lo em execução, ainda que a empresa custasse a sua morte. O desejo de partir em busca do cálice ligava o seu passado ao seu presente e, igualmente, à eternidade onde vivia o Senhor. Tudo isto era uma palpitação, um ritmo vital, poderoso e a ele se inclinava como se inclinam, no tempo certo, as ondas e as estações.  

Célere desceu às estrebarias, deixando, atrás de si, um rastro polvilhado de neve cintilante e lívida que, também, se lhe acumulava sobre o fato de veludo.  

O escudeiro dormitava junto ao fogo, mas o cavalo ruminava arreado, com seus jaezes, rebrilhando na cintilação das labaredas. Os cães ladraram quando ele montou e atravessou o pátio, mas o ladrido se perdeu entre os sons álacres de risos e a música da festa.  

Todavia, o retinir de um guizo varou a sombra das arcadas e lhe chegou, de bem perto, aos ouvidos atilados. Um leproso acercava-se da ponte levadiça.  

– Pelo amor de Cristo, uma esmola! – Solicitou a voz trêmula e abafada.  

Launfal olhou a figura que o luar banhava. Envolto em trapos, era um jovem ainda. Mesmo sem se deter retirou da bolsa uma moeda de ouro e atirou-a ao outro. Nem ao menos viu quando o enfermo penosamente se curvou para retirar da vê o pequeno disco rebrilhante. Ele parecia sonhar, e o cavalo, a passo seguro, levava-o pelo mesmo caminho em que, menino ainda, um dia cavalgara assentado à garupa de seu pai.  

Naquele instante do passado, ele era um dos audazes cavaleiros da Távola, que seguia em busca do cálice. Embora não houvesse agora os doirados montes de feno e nem a relva fofa, mas, tão somente, as alvas cortinas da neve, era ele, Launfal que partia em busca do Graal. Tomou pelo atalho que cortava o bosque azulado pelo luar que varava a neve. O gelo fazia estalar os ramos e afogava o murmúrio do regato. As sombras moviam-se como lenços agitados, a lhe dizerem:  

– Adeus, Launfal! Adeus!…  

A noite não era muda, tinha mil vozes, todas elas velhas conhecidas do garboso rapaz. Seu cavalo trotava pela neve que caía silenciosamente, enquanto ele ouvia os ruídos familiares da natureza noturna.  

* * *

Os anos correram. Launfal passou a maior parte de sua vida em longínquos climas sem poder encontrar o Graal.  

Seu pai dissera-lhe que alguém o traria de volta e ele julgava ser aquele o maior serviço que poderia prestar a Deus.  

Fidelidade e devoção!  

Até que, um dia, as forças lhe faltaram e ele buscou o caminho de seu antigo lar. Velho, encanecido, curvado. A neve de dezembro confundia-se em seus cabelos e em sua barba farta. Vencido, Launfal era ainda amável e bom, pois o amor não se esgotara em seu coração. Um mandado que provinha das profundidades do tempo, punha-o de volta. E ele obedecia-o.  

A noite caíra e, tal como sucedera no momento de sua partida, havia festa no castelo. Então ele se lembrou: era véspera do natal do Senhor. Deteve-se à sombra de um dos altos muros e viu, à luz das tochas, os convidados que entravam e saíam. Eram-lhe desconhecidos! Uma lágrima toldou-lhe a visão; agora era um estranho, um estrangeiro em seu próprio lar.  

Não poderia apresentar-se, pois trazia o manto roto e coberto de remendos e, em vez do fogoso corcel, com gualdrapas de ouro, que montara ao partir, na plenitude de sua juventude, referto de ambições e esperanças, retornava a pé, apoiado em um cajado. Launfal, entretanto, trazia consigo um tesouro. Ele aprendera a unir o amor à misericórdia e pouco lhe importavam os dons que o mundo pode oferecer.  

Enquanto olhava os convidados que chegavam para a festa, envoltos em mantos de seda, forrados de peles raras, alguém se aproximou pelas suas costas e uma voz o despertou de sua melancólica meditação:  

– Pelo amor de Jesus!  

Ele voltou-se e deparou com um mísero leproso.  Launfal reconheceu-o. Era o mesmo ao qual, ao abandonar o castelo, lançara a sua moeda de ouro.  

– Em nome de Cristo, peço-vos uma esmola. Mais ditosos do que eu, são os animais que chegam à fonte que a sede lhes aplaca.  

Sir Launfal olhou o velho roído pelo terrível mal. Como pudera sobreviver durante tanto tempo? Era apenas uma ossada descarnada, envolta na crosta gelada da neve.  

Launfal atirou a cabeça para trás e lançou ao castelo um novo olhar. Depois voltou-se para o leproso e caminhou em sua direção, obediente ao que lhe ditava o coração. Pôs-lhe a mão sobre o ombro envolto em trapos e lhe disse:  

 – Vejo em ti a imagem do que morreu na cruz. Embora ninguém o perceba, também estás coroado de espinhos; e recebes insultos e sarcasmos do mundo. Não te faltam chagas nos pés, nas mãos e no flanco. O filho de Maria conhece-me, pois me pus espontaneamente a Seu serviço. Eu te socorrorei.  

Então a alma do leproso mostrou-se toda em suas pupilas.  

– Tu também me conheces! – Disse-lhe Sir Launfal. – Viste-me em uma noite como esta, de postura galharda quando, fogoso e jovem, parti em busca do Graal. Lancei-te de longe uma moeda. Tinha-me por bom, mas em meu coração havia pó e cinzas. Vem, senta-te ao meu lado.  

Os dois assentaram-se abrigados pela arcada de pedra, envolta em heras ressequidas. Sir Launfal retirou do alforje o último pão que lhe restava. Estava duro e feio. Foi recolher a água do arroio, cujo gelo quebrou com o troço do seu bordão. A água estava turva e acinzentada.  

Lado a lado, os dois homens puseram-se a comer. E, ainda que o pão fosse duro e a água turva, em suas mãos eram como o macio pão de trigo e o cordial mosto das vinhas, que retemperam a alma ressequida.  

A música do castelo chegava alegre e vivaz aos seus ouvidos. Launfal olhava os vitrais acesos na cintilação de mil velas. As silhuetas dos azevinhos anunciavam a lauta festa do Natal.  

Foi quando uma luz, uma luz diferente, iluminou a arcada sombria. Launfal voltou-se ofuscado e não mais encontrou o leproso ao seu lado. Todavia, em seu lugar, se erguia a figura dominadora e serena de Jesus. Uma glória de luz aureolava-lhe o semblante de alabastro e Launfal podia ver os seus olhos e cabelos que tinham a cor doirada do vinho e da avelã.  

– Sabes quem sou? – A radiosa figura perguntou-lhe.  

– Tu és a coluna que sustenta a formosa porta por onde entraremos um dia no templo de Deus, construído dentro de nós mesmos. – Disse Sir Launfal com humildade.  

Uma grande fadiga se apossou dele quando prosseguiu explicando:  

– Não pude encontrar o Teu Graal e trazê-lo. Pus todo o meu coração no trabalho, mas foi inútil. Um dia, um outro, que não eu, o encontrará!  

Os suaves lábios da aparição pareceram sorrir compassivamente:  

– Não te lamentes! – Disse-lhe. – Sem proveito malbarataste tua vida em longínquas terras. Tinhas o Graal, mas não sabias. Ei-lo aqui. É a caneca de chumbo rude onde me deste de beber. Este pão duro, que comigo partilhaste, é o meu próprio corpo, e a água do arroio enregelado se tornou em meu sangue quando me deste a beber. Minha ceia se perpetua onde quer que o pão seja repartido com o faminto. Não vale o que damos, mas o que compartilhamos.  

A mão luminosa de Jesus estendeu-se para Sir Launfal. Ele disse meigamente:  

– Em verdade te digo que vã é a dádiva sem o doador. O que se compartilha com o necessário, alimenta a três: ao doador, ao faminto e a mim. Aprendeste a lição. Vem comigo!  

* * *  

Conta-se que Sir Launfal, partindo em busca do Santo Graal, nunca mais voltou ao lar. Nas vésperas de certo natal, entretanto, um homem roto e encarquilhado pelos anos, foi encontrado morto numa das arcadas do castelo. Saindo o Sol na paisagem enregelada, viram-no coberto de neve, à feição de uma estátua de gelo. Tinha os braços hirtos erguidos para o alto, como se, ao expirar, tentasse segurar invisíveis mãos que se lhe estendiam. Assim, foi levado à cova por caridosas almas. E, por não lhe saberem o nome, marcaram-lhe a tumba com o rústico caneco de chumbo.  

Sir Launfal trouxera o Graal.

Quando o cavaleiro D’Arsonval, valoroso senhor em França, se ausentou do medievo domicílio, pela primeira vez, de armadura fulgindo ao Sol, dirigia-se à Itália para solver urgente questão política.  

Eminente cristão, trazia consigo um propósito central – servir ao Senhor, fielmente, para encontrá-lo.  

Não longe de suas portas, viu surgir, de inesperado, ulceroso mendigo a estender-lhe as mãos descarnadas e súplices.  

Quem seria semelhante infeliz a vaguear sem rumo?  

Preocupava-o serviço importante, em demasia, e, sem se dignar fixá-lo, atirou-lhe a bolsa farta.  

O nobre cavaleiro tornou ao lar e, mais tarde, menos afortunado nos negócios, deixou, de novo, a casa.  

Demandava a Espanha, em missão de prelados amigos, aos quais se devotara.  

No mesmo lugar, postava-se, o infortunado pedinte, com os braços em rogativa.  

O fidalgo, intrigado, revolveu grande saco de viagem e dele retirou pequeno brilhante, arremessando-o ao triste caminheiro que parecia devorá-lo com o olhar.  

Não se passou muito tempo e o castelão, menos feliz no círculo das finanças, necessitou viajar para a Inglaterra, onde pretendia solucionar vários problemas, alusivos à organização doméstica.  

No mesmo trato de solo, é surpreendido pelo amargurado leproso, cuja velha petição se ergue no ar.  

O cavaleiro arranca do chapéu estimada jóia de subido valor e projeta-a sobre o conhecido romeiro, orgulhosamente.  

Decorridos alguns meses, o patrão feudal se movimenta na direção de porto distante, em busca de precioso empréstimo, destinado à própria economia, ameaçada de colapso fatal, e,

no mesmo sitio, com rigorosa precisão, é interpelado pelo mendigo, cujas mãos, em chaga aberta, se voltam ansiosas para ele.  

D’Arsonval, extremamente dedicado à caridade, não hesita. Despe fino manto e entrega-o, de longe, receando-lhe o contacto.  

Depois de um ano, premido por questões de imediato interesse, vai a Paris invocar o socorro de autoridades e, sem qualquer alteração, é defrontado pelo mesmo lázaro, de feição dolorida, que lhe repete a antiga súplica.  

O Castelão atira-lhe um gorro de alto preço, sem qualquer pausa no galope, em que seguia, presto.  

Sucedem-se os dias e o nobre senhor, num ato de fé, abandona a respeitada residência, com séqüito festivo.  

Representará os seus, junto à expedição de Godofredo de Bonillon, na cruzada com que se pretende libertar os Lugares Santos.  

No mesmo ângulo da estrada, era aguardado pelo mendigo, que lhe reitera a solicitação em voz mais triste.  

O ilustre viajor dá-lhe, então, rico farnel, sem oferecer-lhe a mínima atenção.  

E, na Palestina, D’Arsonval combateu valorosamente, caindo, ferido, em poder dos adversários.  

Torturado, combalido e separado de seus compatriotas, por anos a fio, padeceu miséria e vexame, ataques e humilhações, até que, um dia, homem convertido em fantasma, torna ao lar que não o reconhece.  

Propalada a falsa notícia de sua morte, a esposa deu-se pressa em substituí-lo, à frente da casa, e seus filhos, revoltados, soltaram cães agressivos que o dilaceraram, cruelmente, sem comiseração para com o pranto que lhe escorria dos olhos semimortos.  

Procurando velhas afeições, sofreu repugnância e sarcasmo.  

Interpretado, agora, à conta de louco, o ex-fidalgo, em sombrio crepúsculo, ausentou-se, em definitivo, a passos vacilantes…  

Seguir para onde? O mundo era pequeno demais para conter-lhe a dor.  

Avançava, penosamente, quando encontrou o mendigo.  

Relembrou a passada grandeza e atentou para ai mesmo, qual se buscasse alguma coisa para dar.  

Contemplou o infeliz pela primeira vez e, cruzando com ele o olhar angustiado, sentiu que aquele homem, chagado e sozinho, devia ser seu irmão.  

Abriu os braços e caminhou para ele, tocado de simpatia, como se quisesse dar-lhe o calor do próprio sangue. Foi, então, que, recolhido no regaço do companheiro que considerava leproso, dele ouviu as sublimes palavras:  

– D’Arsonval, vem a mim! Eu sou Jesus, teu amigo. Quem me procura no serviço ao próximo, mais cedo me encontra… Enquanto me buscava à distância, eu te aguardava, aqui tão perto!  

Agradeço o ouro, as jóias, o manto, o agasalho e o pão que me deste, mas há muitos anos te estendia os meus braços, esperando o teu próprio coração!.. .  

O antigo cavaleiro nada mais viu senão vasta senda de luz, entre a Terra e o Céu…  

Mas, no outro dia, quando os semeadores regressavam às lides do campo, sob a claridade da aurora, tropeçaram no orvalhado caminho com um cadáver.  

D’Arsonval estava morto.  

(Capítulo 21, página 50 do e-book)

 

Não consegui descobrir em qual jornal da década de 1950 o texto de Wallace Leal teria sido publicado originalmente. É de se notar que os textos trazem histórias idênticas: um cavaleiro de bom coração – de nome semelhante nas duas histórias! – auxilia um leproso que no final se revela Jesus e o leva para o Reino dos Céus. O corpo do cavaleiro é encontrado morto por terceiros.

Outra coisa importante a ser dita é que o texto de Wallace não é psicografado. Ele mesmo o diz: “Essa é minha versão, elaborada no mundo em que vivo.” (página 248).

Portanto, a explicação de Chico de ‘universalidade de ensino dos espíritos’ não pode ser aceita, já que não havia espírito algum ditando o texto, segundo o próprio Wallace.

Esse é um novo tipo de cópia: diferentemente dos anteriores, apesar de alguns termos repetidos, nota-se que houve grandes modificações no texto, mas se manteve a essência da história. Se foi Humberto de Campos ou o Chico quem copiou o texto de Wallace Leal, deixo aos leitores decidirem.  

Para baixar o livro Contos e Apólogos clique aqui.



[1] O nome que consta no livro é Wallace Leal V. Rodrigues. Quem narra o episódio é Arnaldo Rocha.

14 respostas a “Chico Xavier plagiou Wallace Leal V. Rodrigues?”

  1. Uriel Diz:

    Nunca vi nada tão semelhante em termos de psicografias. Tanto quanto o conteúdo do tema, os vocabulários empregados e as narrativas.

    É como pudéssemos sobrepor o dia na noite, a lua no sol ou misturar o azeite na água. Pois, podemos não acertar de imediato, ou nunca, mas certamente haveremos de reconhecer que de todas as maneiras tentamos. E se colar colou!

  2. moizes montalvao Diz:

    Vitor,

    Veja se consegue disponibilizar o livro “Chico, Diálogos e Recordações”, este parece ser o “quente” na análise das manifestações mediúnicas de Francisco. “Contos e Apólogos” faz parte da série humberteana e, penso, seria mais produtivo ser estudado em comparação com o trabalho do escritor maranhense quando vivo.

    Entre os dois textos apresentados, acredito plausível inferir-se que Chico tenha se inspirado no escrito de Wallace, mas não me sentiria seguro em sustentar tal argumentação. Pois, mesmo havendo influência de Wallace em “O encontro divino”, percebe-se que Chico trabalhou criativamente sua história. Teríamos que apurar se não há, na obra de HC, crônica que pudesse ser considerada modelo para o escrito de Chico, ou mesmo qualquer narrativa medieval onde o enredo comum aos dois autores estivesse presente.

    O personagem de Wallace – Sir Launfal – é oriundo de histórias medievais de cavalaria e, numa das versões, o cavaleiro parte em busca do Graal e encontra o leproso, na ida e na volta, bem à semelhança da narrativa de Wallace, o qual, muito claramente se baseou no relato antigo. Veja a confirmação em http://www.fraternidaderosacruz.org/crc9.htm

  3. Carlos Diz:

    Vítor,
    .
    Eu conhecia a estória do cavaleiro D’Arsonval; porém só agora tomei conhecimento da existência do cavaleiro Launfal… Aceitar isso como “universalidade do ensino dos espíritos” é admitir uma prática ilegal e anti-ética, infelizmente.

  4. João Diz:

    Vitor, você já parou pra pensar que você pode estar sendo utilizado por espiritos inferiores para promover esse blog?
    Cuidado.
    Um abraço.

  5. Vitor Diz:

    Já tomei meu banho de sal grosso hoje, João 😀

  6. soninha Diz:

    Pelo andar da carruagem você vai “derrubar” toda a espiritualidade e só vai restar o mundo material…rs!

    Boa sorte e paz.

  7. Marcos Diz:

    João, além da influência de espíritos inferiores existe também uma outra possibilidade. Segundo Carl Jang, precursor da psicologia analítica , estamos sempre a projetar nossa “sombra” ( aquilo que temos de negativo conosco) em outrem.

    Assim , os fiscais da vida alheia , aqueles que estão sempre vislumbrando defeitos na vida e obra dos outros, os ” vigilantes da sociedade ” , os contumazes buscadores dos deslizes de outrem, são frequentemente pessoas que carregam consigo debilidades e conflitos internos que merecem tratamento. Na impossibilidade de equiparação ao adversário, optam por tentar reduzir-lhe o valor. É uma conclusão da psicologia, que é uma ciência , até onde sei.

    Quanto a sal grosso não conheço os efeitos , mas uma boa psicoterapia pode ajudar as pessoas com essas características.

  8. Angela Diz:

    Gente, um escritor não necessita estar em transe mediúnico para receber inspiração do alto. Humberto de Campos simplesmente transformou em poema uma história que certamente faz parte das tradições do mundo espiritual. História essa que Wallace captou por meio de inspiração. Leiam André Luiz em Nosso Lar.

  9. Míssel Crítico Diz:

    A versão da história do cavaleiro Launfal, escrita por Wallace, parece ter sido baseada na versão de James Russel Lowell, publicado em 1848.
    .
    Não achei quando Wallace teria publicado pela primeira vez o conto, mas em jornais da época vi referências de menções dessa história pela fraternidade rosacruz em 1958, mesmo ano de publicação do livro do Xavier, não sei se antes ou depois…
    .
    “CICLO ROSACRUZ DE CONFERÊNCIAS (…)
    Falou primeiramente a dra Ophélia Guimarães, baseando-se no poema de Lowell ‘A visão do Sir Launfal’, referente ao santo graal em que são ressaltados os superiores valores da humildade…”
    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=154083_01&pesq=%22sir%20launfal%22&pasta=ano%20195&pagfis=43028
    .
    Também achei uma menção ao escritor Lowell, em 1948, citando como um dos seus mais famosos trabalhos o próprio A visão de Sir Launfal:
    http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_09&pesq=%22sir%20launfal%22&pasta=ano%20194&pagfis=39797

  10. Vitor Diz:

    Boa contribuição, Míssel!

  11. Vitor Diz:

    Míssel, gostaria de falar com vc em particular. Como faço? Seu email não funciona ..

  12. Missel Critico Diz:

    Vitor, tenta nesse.

  13. Vitor Diz:

    Obrigado! Enviei um e-mail.

  14. Míssel Crítico Diz:

    Te respondi lá Vitor. Desde já agradecido.
    .
    Mais cedo dei uma olhada nas diversas versões da lenda desse Launfal, são bem distintas entre si ao longo do tempo e do contexto. Contudo, a narrativa do Lowell se assemelha bem a de Wallace, com a diferença que nesse último o cavaleiro é encontrado morto, parte que também é escrita na do Chico Xavier.
    .
    Ophélia Guimarães, do artigo do jornal de 1958 que palestrou sobre a história, era redatora do Correio Rosacruz. Bem possível que esse poema/conto de Lowell tivesse já sido publicado nesses veículos antes…

Deixe seu comentário

Entradas (RSS)