O Caso de Imad Elawar, Parte 5 (1995 – A réplica de Leonard Angel a Ian Stevenson)
Aqui eu reproduzirei a crítica inicial de Leonard Angel (1994) ao caso de Imad Elawar e a resposta de Ian Stevenson (1995) a Angel da forma como foram publicadas na revista Skeptical Inquirer. O leitor que comparar com as Partes 3 e 4 desta série verá o quanto foi cortado do conteúdo de ambas. Na publicação da Skeptical Inquirer em 1995, porém, ainda deram espaço para que Angel fizesse uma réplica à resposta de Stevenson. Assim, é apresentado aqui material inédito à discussão, ao final.
Evidência Empírica para a Reencarnação?
Examinando o Caso “Mais Impressionante” de Stevenson
Uma das fontes mais influentes quanto à pesquisa empírica da reencarnação é Reencarnação: Vinte Casos, de Ian Stevenson (1974). Nos últimos anos, meus estudantes de várias turmas de filosofia da religião têm me lembrado de quão influente esse livro tem sido. Os artigos sobre vida após a morte normalmente citam autores persuadidos por esse livro de que a reencarnação ou alguma outra hipótese paranormal é a única explicação plausível para os dados de Stevenson.
Por exemplo, Linda Badham e Paul Badham (1987: 262-263) estão perplexos pelo “completo rigor dos métodos de Stevenson… Cada testemunha se sujeitou a um rigoroso interrogatório, notas cuidadosas foram tomadas do que foi dito, e elas foram confrontadas com um segundo inquérito feito anos depois… Simplesmente não é plausível descrever Stevenson como alguém tão entusiasmado para nos convencer da realidade da reencarnação que ele distorça os fatos para que se adequem ao seu caso. . . . Ele não tenta fazer com que casos fracos pareçam mais fortes do que as evidências permitem.” Os resultados, de acordo com os Badhams, são significativos. “Stevenson apresenta um forte argumento… para dizer que pelo menos algumas alegadas ‘memórias de uma vida anterior’ parecem ser probatórias e sugestivas de alguma teoria da reencarnação ou possessão” (p. 269).
Guy Lyon Playfair (1976:165) afirma que “um estudo do caso [de Imad Elawar] não parece levar a qualquer outra explicação provável além da reencarnação”. Robert Almeder (1990:50) conclui que “há bons motivos para se pensar que a hipótese de reencarnação é a melhor explicação dos casos documentados por Stevenson.” Sylvia Fraser (1992), como Playfair, cita especificamente o caso Imad Elawar, e endossa a conclusão de Playfair. Gunapala Dharmasiri (1989: 41) declara que “verificou objetivamente [as] alegações, e as considerou verdadeiras.” E há outros que vão por um caminho semelhante.
Curiosamente, apesar do tempo decorrido desde a publicação de Vinte Casos, é difícil encontrar análises detalhadas do livro. Aqueles que endossam o trabalho de Stevenson dizem que ficaram convencidos, mas não dizem mais que isso. E os céticos tendem a desqualificar o trabalho sem uma explicação detalhada. Por exemplo, o compêndio de Paul Kurtz intitulado Transcendental Temptation tem uma subseção chamada “Reencarnação: Vidas Passadas” (Kurtz, 1986: 411-414), mas há apenas uma breve menção aos dados de Stevenson.
Paul Edwards (1987) apresentou argumentos de ordem geral para sustentar a visão de que a hipótese da reencarnação deve ser considerada altamente improvável. Mas isso parece contornar a questão do conteúdo específico da evidência. Esta é, de fato, a tréplica de Almeder (1990:48) para Edwards: “O argumento de Edwards de que tudo isso é muito incrível para qualquer pessoa racional acreditar é simplesmente uma petição de princípio um tanto espalhafatosa.” John Beloff (1985: 361) faz uma observação semelhante. Ian Wilson (1981, 1987) acusa Stevenson de ser muito brando sobre a questão da fraude. Mas a maioria dos comentadores do trabalho de Stevenson acredita que uma fraude completa e deliberada por parte de um número suficiente de participantes a ponto de justificar uma rejeição dos dados seja altamente improvável.
Edwards cita a rejeição de Chari de muitos dos casos como fabricações culturais. Mas Chari não é a pessoa certa para se confiar na rejeição dos casos de Stevenson porque Chari (1978: 315) está convencido de que uma combinação de fenômenos naturalistas e paranormais é sugerida pelos dados mais fortes. Sarah Thomason (1987) analisa criticamente o trabalho posterior de Stevenson baseado em competências lingüísticas, mas não o material de Vinte Casos. Quão difícil é, então, explicar o conteúdo específico do melhor material de Vinte Casos em hipóteses puramente naturalistas?
Parece importante, embora tardio, realizar uma análise crítica profunda dos métodos e materiais de Vinte Casos. Eu proponho que se dê início a esta tarefa. Além disso, acredito que seja possível em um espaço relativamente curto demonstrar a presumível falibilidade geral do livro Vinte Casos de Stevenson, devido a erros grosseiros em seus métodos de investigação, relatório dos dados e análise das hipóteses.
Qual caso devemos rever? O caso de Imad Elawar nos salta como especialmente significativo. Stevenson (1974: 371) o inclui entre seus casos mais fortes. Além disso, este é o único caso entre os 20 em que o próprio Stevenson anotou as lembranças, antes da sua verificação, e esteve presente nos primeiros encontros entre o garoto que tinha as memórias de uma vida passada e os membros sobreviventes da família da aparente vida passada, e realizou as verificações das memórias. “O mais impressionante neste aspecto é o caso de um menino libanês chamado Imad, pois neste caso Stevenson chegou antes que alguém tivesse procurado verificar quaisquer das suas alegadas memórias” (Badham e Badham, 1987: 261). E, como vimos, muitos o tratam como um caso convincente. Ele é perfeito para a nossa revisão.
Vou agora tentar demonstrar que a conduta de Stevenson da investigação do caso Imad Elawar falha em seis pontos fundamentais.
1. Em uma investigação adequada das memórias espontâneas de vidas passadas de uma criança, primeiro e antes de tudo é preciso registrar e relatar as “memórias originais, antes da verificação”, na forma em que elas foram originalmente observadas. Stevenson apresenta a informação original que recebeu sobre as memórias do menino, de acordo com os pais, como segue:
Achavam que ele afirmava ser um tal de Mahmoud Bouhamzy, de Khriby, que tinha uma esposa chamada Jamileh, e que tinha morrido atropelado por um caminhão depois de uma discussão com o motorista. (p. 277)
Stevenson depois tabula 57 itens como constituintes das memórias antes da verificação. Mas a forma em que eles foram originalmente registrados não foi dita. Uma inspeção dos itens da tabulação deixa clara a necessidade de um registro do que exatamente os pais disseram, de como Stevenson registrou os seus dados antes da verificação, e de como eles foram ou não foram subseqüentemente reorganizados para a apresentação na forma de tabela.
Surpreendentemente, as memórias do rapaz estão no extremo oposto do que poderia ser considerada uma boa evidência para a reencarnação, a despeito do fato de que o melhor candidato a uma vida passada que Stevenson encontrou não se chamava Mahmoud Bouhamzy, não tinha uma esposa chamada Jamilah, e não morreu em absoluto como resultado de um acidente, muito menos um que se seguiu após uma discussão com o motorista. No entanto, Stevenson não fornece informações suficientes para que o leitor saiba exatamente o que os pais ou o próprio menino disse que autorizasse Stevenson a descontar as alegações originais tal como interpretadas pelos pais e apresentar as afirmações muito diferentes dadas na tabulação.
2. Qualquer tentativa por parte do investigador para distinguir entre o que o menino afirmou e o que os parentes do menino interpretaram como ele tendo declarado deve ser feita antes dos esforços de verificação. Agora considere Stevenson escrever-se do nome “Mahmoud” na tabulação:
2. Mahmoud (nome mencionado por Imad). (p. 287)
Nos “Comentários” de Stevenson lemos: Mahmoud Bouhamzy era um tio de Ibrahim Bouhamzy. (Ibrahim Boujamzy é a aparente vida passada do menino, de acordo com Stevenson).
Assim, é tido como verificado que um nome que o menino mencionou corresponde a uma pessoa real na família da vida passada, como se estivesse claro que o menino tinha estado mencionando um nome a fim de se referir a esse tio.
O que não é mencionado na tabulação dos dados é que a informação original dada pelos pais do menino foi a de que eles pensaram que o seu filho alegava ter sido Mahmoud Bouhamzy de Khriby. Presumivelmente, Stevenson não menciona isso na tabulação porque ele chegou à conclusão de que os pais tinham entendido mal o menino, ou que tiraram conclusões não autorizadas do que ele tinha dito. Mas quando ele chegou a essa conclusão, e com que base? Há evidências claras de que Stevenson chegou a essa conclusão só depois de viajar para Khriby com a expectativa de que a vida passada se chamava “Mahmoud Bouhamzy” e morreu em conseqüência de um acidente. Stevenson refere-se à sua descoberta (em Khriby) que o Mahmoud Bouhamzy que tinha vivido em Khriby não havia morrido como resultado de um acidente com um caminhão como uma complicação para a interpretação dos dados e como “desconcertante” (p. 280). Assim, é evidente que a formulação de Stevenson dos dados a serem verificados sucedeu ao esforço para verificá-los e não foram corrigidos antes da verificação.
Exemplos deste tipo de problema abundam. O leitor que quiser ir ao encalço disso pode considerar o item 20, em que se lê: “Um caminhão atropelou um homem, fraturou-lhe suas pernas e esmagou seu tronco” (p. 291). A questão é: quando Stevenson formulou a frase “Um caminhão atropelou um homem” deixando em aberto se o homem atropelado era a vida passada ou não? Os pais certamente pensaram que Imad acreditava que a sua vida passada morreu como resultado de um acidente (pp. 303-304). E Stevenson entendeu bem no fim que o menino acreditava que a vida passada tinha morrido em conseqüência do acidente (p. 319). Mas por qual motivo ele altera a alegação? Stevenson aparentemente ofuscou as alegações originais e as distorceu para o que ele entendeu serem as memórias do menino.
3. A terceira exigência é que os dados não devem ser apresentados de forma a obscurecer hipóteses alternativas. Considere a identificação da cidade de Khriby. Na tabulação descobrimos que o rapaz é apresentado como tendo lembrado:
1. Seu nome era Bouhamzy e ele morava no vilarejo de Khriby. (p. 287)
No relatório geral dos eventos, é dito que Imad “havia dito o nome do vilarejo (Khriby)” (p. 276). Stevenson, aparentemente, não fez nenhum esforço para esclarecer quando o garoto teria começado a se referir ao nome “Khriby”. Entretanto, somos levados à conclusão de que as alegações do menino foram levadas a sério apenas depois que “um morador do vilarejo de Khriby, onde Imad dizia ter vivido, foi a Kornayel e Imad, vendo-o na rua, reconheceu-o na presença de sua avó paterna” (p. 276).
Entretanto, Stevenson não esclarece para nós — nem, aparentemente, ele tenta esclarecer para si mesmo — se a identificação da cidade da vida anterior como Khriby por Imad foi após o “reconhecimento” do amigo perdido na rua ou o precedeu. Será que as pessoas pensaram a partir do reconhecimento na rua que a vida passada de Imad teria sido na cidade da pessoa “reconhecida”, ou seja, Khriby? Ou será que Imad primeiro afirmou que sua vida passada foi em Khriby e então reconheceu o visitante de Khriby como um vizinho de sua vida passada? Nada na apresentação esclarece a questão. Assim, a tabulação dos dados cria uma impressão injustificada que havia uma memória original do garoto que a residência da vida passada era uma cidade chamada “Khriby”. Uma pergunta similar pode ser levantada sobre o nome “Bouhamzy”. A manipulação de Stevenson deste tipo de questão, de fato, sua falha em mencionar estas questões, demonstra claramente uma lamentável insensibilidade a questões centrais na coleta de dados, apresentação e interpretação.
4. A tabulação dos dados não deve esconder problemas nos comentários. Entretanto, Stevenson falha egregiamente nisso. Um exemplo típico: de acordo com o item 35, o menino se refere a um poço cheio e um poço vazio na casa da vida passada. Isso é tomado como confirmado pelo fato de que havia dois tanques utilizados para armazenar suco de uva. “Durante a época de chuvas, uma dessas valas ficava repleta de água, mas a outra, mais rasa, não ficava, porque a água evaporava dali. Assim, um ficava vazio enquanto o outro cheio.” (p. 293). Um menino do vilarejo druso de cinco anos de idade não sabe a diferença entre uma vala e um poço?
5. Os métodos específicos de verificação devem ser devidamente documentados. Contudo, o método de Stevenson de relatar seus padrões de verificação é claramente inadequado, e há fortes razões para crer que os próprios padrões de verificação são inadequados. Por exemplo, vemos que Stevenson, pelo menos em algumas ocasiões, coletou informações fazendo perguntas orientadoras: “perguntei, no dia seguinte, se Ibrahim tivera tuberculose na área da coluna. O Sr. Haffez Bouhamzy disse, então, que Ibrahim tivera tuberculose na área da coluna” (p. 281, grifo do autor). Logo descobrimos que a resposta assim eliciada foi desmentida pelo irmão de Ibrahim Bouhamzy. Assim, as verificações de Haffez são de confiabilidade questionável. Ele parece ter ficado disposto a seguir as sugestões. De acordo com a tabulação, no entanto, a verificação dos dados depende em grande medida de Haffez. Haffez Bouhamzy verificou 28 itens. No mais, a falha de Stevenson em documentar seus métodos de extrair as verificações deve ser vista como um grave, até mesmo fatal, erro no seu trabalho.
6. De gravidade ainda maior é o fato de que a hipótese rival mais desafiadora dos dados para a hipótese de reencarnação não foi sequer citada, muito menos avaliada. A hipótese rival tem a ver com as estatísticas do nexo de informação em torno de qualquer material “psiquicamente” entregue.
Considere os nomes, por exemplo. Era provável que tivesse havido referências ao nome “Bouhamzy” que Imad teria ouvido antes de usá-lo? (Sim.) Os primeiros nomes “Mahmoud”, “Amin”, “Said”, e assim por diante, são nomes comuns? (São). Era comum a existência de poços naqueles vilarejos? (Sim.) Quão comuns eram garagens, armazéns, jardins e outros itens de destaque na tabulação das supostas verificações? (Muito comuns). Em geral, então, quão difícil seria encontrar alguém em qualquer grande vilarejo e nas vizinhanças que combinasse mais ou menos as muitas características que foram alegadas para Ibrahim Bouhamzy, dada uma quantidade igual de permissividade para reinterpretações pós-fato e extensões?
As correspondências entre as memórias de Imad Elawar e Ibrahim Bouhamzy de Khriby são pouco impressionantes quando nos lembramos da informação originalmente aceita por Stevenson e outros pontos encobertos nos comentários: os pais do menino pareciam pensar que o menino alegava ser Mahmoud Bouhamzy, mas nenhum Mahmoud Bouhamzy que se encaixasse nas outras características pôde ser encontrado. O melhor candidato de acordo com Stevenson e com os membros da família era Ibrahim Bouhamzy. Mas Ibrahim Bouhamzy não tinha uma esposa chamada Jamilah, não tinha uma filha chamada Mehibeh, não tinha um irmão que era um juiz em Trípoli, não tinha um filho chamado “Adil”, não tinha um filho chamado “Talil ou Talal”, não tinha um filho chamado “Salim”, não tinha um filho chamado “Kemal”, não sofreu um acidente em que fraturou as pernas, não foi ao consultório médico onde teria passado por uma cirurgia como conseqüência do acidente, nem houve qualquer acidente relacionado ao Ibrahim que tenha sido o resultado de uma briga com o motorista de um caminhão, nem pessoas foram mortas nesse acidente, nem Ibrahim morreu em conseqüência de um acidente, nem era o motorista do caminhão de Ibrahim, ou de qualquer caminhão envolvido com Ibrahim, um cristão, nem Ibrahim tinha um cão de caça, nem dois poços em sua casa, nem usava o caminhão para transportar pedras para o seu jardim (o caminhão sequer estava cheio de pedras no momento do acidente), nem estava certo que Ibrahim tinha dinheiro e terras suficientes que o permitissem não ter um emprego fixo (Ibrahim usava um caminhão comercialmente e era um motorista de ônibus), nem estava correta a memória de que não era ele quem dirigia o caminhão (já que Ibrahim era um motorista de caminhão), nem havia duas vagas de garagens na casa de Ibrahim, nem era verdade que Ibrahim tinha tido uma cabra (em vez disso, a família de Ibrahim teve um rebanho de cabras quando ele era mais novo), nem é verdade que Ibrahim tinha um carneiro (a família dele teve um rebanho de carneiros quando ele era mais novo), nem é verdade que Ibrahim tinha cinco filhos (Ibrahim nunca se casou, e morreu aos 25 anos de idade, depois de passar o último ano em um sanatório para tuberculosos), nem Ibrahim sabia falar inglês.
Com base em quais alegações originais Stevenson permitiu que ele próprio e que a família voltassem sua atenção para Ibrahim Bouhamzy? Havia três informantes que disseram que Ibrahim tinha uma amante chamada Jamilah, e três que deram “testemunhos discrepantes”. Jamilah era bonita, e Imad disse que Jamilah era bonita. Jamilah usava roupas vermelhas e se vestia bem; Ibrahim era um “amigo” do famoso político druso Kemal Joumblatt; ele tinha uma fazenda; havia uma entrada com um tipo de entrada arredondada, Ibrahim gostava muito de caçar; Ibrahim havia escondido sua arma; Ibrahim havia, certa vez, batido num cão; havia uma ladeira perto da casa dele; Ibrahim estava construindo um novo jardim; Ibrahim tinha um carro amarelo e pequeno, um ônibus e um caminhão (apesar de serem de propriedade da família e não, como Imad tinha sugerido, da vida passada enquanto indivíduo). Essa parece ser a soma total das correspondências restantes das memórias originais antes da verificação. (Que o jardim tinha cerejeiras e macieiras não pode constar como uma verificação para a memória de que “havia cerejeiras e macieiras no novo jardim” já que Stevenson não afirmou ter determinado quando essas árvores foram plantadas.)
Todas essas correspondências são facilmente explicáveis em linhas naturalistas. Dadas todas as falhas, as incertezas, as possibilidades contrárias inexploradas, e a evidente falta de confiabilidade das supostas verificações, o caso parece particularmente medíocre. O mais importante é isso: o garoto parecia ter em mente que na sua vida passada ele era um homem de família importante, rico o suficiente para não ter que trabalhar, com uma linda mulher e cinco crianças, andando em círculos importantes, que se envolveu em um trágico acidente no qual quebrou as pernas, do qual ele morreu. Esse não parece ser Ibrahim Bouhamzy, um motorista de caminhão que dirigia os carros da sua família, e morreu solteiro, sem filhos, provavelmente aos 25 anos de tuberculose. É apenas a maneira pela qual as informações são tabuladas enganosamente que leva as pessoas a deixar escapar os problemas. Uma vez que percebamos o que Persi Diaconis (1978) chama de problemas na confirmação de dados com “múltiplos pontos finais”, vemos o quão fraco o caso de Imad Elawar é.
A grande maioria dos detalhes das declarações originais atribuídos pelos pais ao seu filho estava errada, mas sofreram um desconto por algum motivo ou outro. Pergunto-me o que o menino teria feito se tivesse sido levado a algum outro vilarejo. (Para provas claras da maleabilidade do menino, ver p. 312.) Tudo considerado, a verdadeiramente relevante hipótese rival à reencarnação é a de uma impressão distorcida do significado dos dados. Mas Stevenson sequer a considerou.
Conclusões: Em suma, Stevenson não registrou, apresentou ou analisou seus próprios dados de forma apropriada. Se um caso considerado por Stevenson como estando entre os mais fortes dos seus casos — o único caso entre os 20 que teve as pretensas verificações conduzidas pelo próprio Stevenson — desmorona completamente sob uma análise minuciosa como ocorre com o caso Imad Elawar, é razoável concluir que outros casos, em que os dados foram inicialmente recolhidos por observadores leigos, são ainda menos confiáveis ??do que este.
Referências
Almeder, Robert. 1990. “On Reincarnation.” In What Survives? ed. by Gary Doore, 34-50. Los Angeles: Tarcher.
Badham, Paul, and Linda Badham. 1987. Immortality or Extinction? Savage, Md.: Barnes & Noble. (As excerpted in Philosophical Thinking, ed. by Ralph Clark, West Publ. Co., St. Paul, Minn., 1987. Page references are to the Clark anthology. No date is given for the original source in the Clark anthology.)
Beloff, John. 1985. “What Is Your Counter-Explanation? A Plea to Skeptics to Think Again.” In A Skeptic’s Handbook of Parapsychology, ed. by Paul Kurtz, 359-377. Buffalo, N.Y.: Prometheus Books.
Beyerstein, Barry. 1987-88. The brain and consciousness, SKEPTICAL INQUIRER, 12: 163-173, Winter. Reprinted in The Hundredth Monkey, ed. by Kendrick Frazier, Prometheus Books, Buffalo, N.Y., 1991.
Chari. 1978. “Reincarnation and Research: Method and Interpretation.” In The Signet Handbook of Parapsychology, ed. by Martin Ebon, 313-324. New York: Signet.
Dharmasiri, Gunapala. 1989. Buddhist Ethics. Antioch: Golden Leaves.
Diaconis, Persi. 1978. Statistical problems in ESP research. Science, 201: 131-136.
Edwards, Paul. 1986-1987. The case against reincarnation. Parts 1-3. Free Inquiry, 6(4): 24-34; 7(l):38-43, 46-48; 7(2): 38- 43, 46-49.
Fraser, Sylvia. 1992. The Book of Strange. Toronto: Doubleday.
Kurtz, Paul. 1986. The Transcendental Temptation. Buffalo, N.Y.: Prometheus Books.
Playfair, Guy Lyon. 1976. The Indefinite Boundary. New York: St. Martin’s.
Stevenson, Ian. 1974. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation. Charlottesville: University of Virginia Press.
Thomason, Sarah. 1987. Past tongues remembered. SKEPTICAL INQUIRER, 11:367-375, Spring.
Wilson, Ian. 1981. Mind Out of Time. Citado por Paul Edwards, 1986-1987.
——. 1987. The After-Death Experience. New York: William Morrow.
Leonard Angel está no Arts & Humanities Department, Douglas College, P.O. Box 2503, New Westminster, B.C. V3L 5B2, Canada.
Skeptical Inquirer, Fall 1994
Evidência Empírica para a Reencarnação?
Uma Resposta a Leonard Angel
Ian Stevenson, M.D
Se eu pudesse ter certeza que os leitores da SKEPTICAL INQUIRER examinariam meu relatório do caso Imad Elawar (Stevenson 1974), eu não teria necessidade alguma em responder a crítica de Leonard Angel à minha investigação do caso (Angel 1994). Os leitores de meu relatório rapidamente veriam que as declarações de Angel possuem graves omissões sobre importantes informações constantes no relatório, como também enfatizam inapropriadamente certas discrepâncias nos testemunhos e verificações.
Se a SKEPTICAL INQUIRER fosse um jornal científico, o seu editor teria me convidado a preparar uma resposta para ser publicada na mesma edição do artigo de Angel. Porém, eu apenas soube do artigo de Angel por intermédio dos meus amigos que me persuadiram a deixar a minha política de ignorar críticas publicadas em revistas. Então enviei ao editor uma resposta detalhada, a qual ele considerou grande demais para publicar (apesar da considerável extensão do artigo de Angel). Eu recebo espaço adequado para responder somente um dos pontos de Angel, e assim selecionei uma de suas mais notórias distorções.
As alegações de Angel sugerem que confiei demasiadamente na verificação do testemunho de Haffez Bouhamzy, primo de Ibrahim Bouhamzy. Eu não posso dizer se Angel fez esta declaração sem a devida consideração por malícia ou por descuido. Seja qual for o caso, ela parece arriscada, porque qualquer um que volte ao meu relatório pode ler (na página 283) o seguinte:
Ao final da minha estada no Líbano, em março de 1964, as verificações das declarações atribuídas a Imad Elawar partiram, em grande parte, de apenas uma testemunha, o Sr. Haffez Bouhamzy… Eu não tinha motivos para duvidar do relato do Sr. Haffez Bouhamzy, mas acreditei que deviria compará-lo com o de outras testemunhas. Assim, resolvi voltar ao Líbano, o que fiz em agosto do mesmo ano.
Depois desta passagem, forneço os nomes dos outros informantes que entrevistei em agosto de 1964. Angel não menciona esta segunda viagem ao Líbano feita com o propósito explícito de ampliar as verificações. Ele declara que Haffez Bouhamzy foi quem comprovou 28 itens, o que é verdade. O que ele omite é que destes itens apenas 5 dependiam unicamente da verificação de Haffez Bouhamzy. (Nesta contagem eu omiti o item 1 da Tabulação Um do meu relatório; embora eu tenha mencionado na tabulação somente Haffez Bouhamzy como a tendo atestado, vários outros informantes obviamente também o fizeram). Para todos os outros itens corretos e verificáveis eu encontrei uma ou mais pessoas que os atestassem. Imad também fez 20 outras declarações corretas que não foram confirmadas por Haffez. Eu tabulei 61 declarações nas duas tabulações do meu relatório (além dos reconhecimentos de Imad). Dessas, 49 estavam corretas sobre Ibrahim, 5 não foram verificadas, 6 estavam incorretas e uma permaneceu incerta. Dois dos itens que listei como incorretos eram em parte corretos ou incertos.
Angel desqualificou Haffez Bouhamzy como um informante confiável porque ele disse incorretamente que Ibrahim Bouhamzy teve tuberculose da coluna. (Em minha resposta completa para Angel, eu forneço uma explicação plausível de como Haffez se enganou quanto aos órgãos de Ibrahim afetados por tuberculose, mas eu não nego que ele tenha se equivocado neste ponto.) Porém, ao enfatizar este erro, Angel omite a confirmação de outros informantes sobre todas, com exceção de uma, das 23 verificações de Haffez para as quais existia um outro verificador. Ao confirmar as declarações de Haffez, Nabih Bouhamzy deu um testemunho valioso, porque ele não tinha estado presente quando eu entrevistei Haffez. (Haffez estava presente durante a minha entrevista com Nabih.). Tendo também morado nos Estados Unidos, ele falava inglês, o que descarta possíveis erros de tradução. Eu entrevistei o irmão de Ibrahim, Fuad, sem Haffez estar presente. Em uma nota de rodapé, nas páginas 281-282 do meu relatório do caso, eu chamei atenção para a concordância entre o testemunho de Fuad e o de Haffez em relação a outros tópicos não relacionados à enfermidade final de Ibrahim. Angel não menciona esta nota de rodapé ou a concordância quase uniforme dos outros informantes com Haffez.
Aos leitores que desejarem estudar minha resposta completa a Angel, com a correção de outras distorções, podem obter uma cópia escrevendo para mim no endereço abaixo; alternativamente, poderiam ler meu relatório original do caso de Imad Elawar e verificar por si mesmos o quanto Angel estava equivocado em outras declarações de seu artigo.
Em conclusão, eu gostaria de mencionar que, desde minha investigação do caso Imad, meus colegas e eu estudamos outros casos que apresentaram um problema semelhante: o de encontrar uma pessoa que combine exatamente com as declarações do sujeito. Os leitores interessados podem achar exemplos em relatórios – por mim mesmo e por outros investigadores – de outros casos com registros escritos feitos antes da verificação (Mills, Haraldsson, e Keil 1994; Stevenson 1977; Stevenson e Samararatne 1988; e Haraldsson 1992). Nosso empenho em tais casos não é apenas o de achar uma pessoa falecida que combine com as declarações da criança; nós desejamos estar certos de que as declarações não combinam com a vida de mais ninguém. Eu acredito que o caso de Imad Elawar alcança este padrão e continuo a acreditar que esse é um dos mais fortes casos que investiguei. Desde a sua investigação, encontramos outros tão bons ou mais fortes. É, portanto, tolice da parte de Angel alegar que se ele pudesse colocar em descrédito o caso de Imad Elawar seu trabalho estaria terminado.
Referências
Angel, Leonard. 1994. Empirical evidence for reincarnation? Examining Stevenson’s “most important” case. SKEPTICAL INQUIRER, 18:481-487.
Haraldsson, Erlendur. 1992. Children claiming past-life memories: Four cases in Sri Lanka. Journal of Scientific Exploration, 5:233-261.
Mills, Antonia; Haraldsson, Erlendur, and Keil; H. H. Jurgen. 1994. Replication studies of cases suggestive of reincarnation by three independent investigators. Journal of the American Society for Psychical Research, 88:207-219.
Stevenson, Ian. 1974. Twenty Cases Suggestive of Reincarnation, 2nd ed. rev. Charlottesville: University Press of Virginia.
Stevenson, Ian. 1977. Cases of the Reincarnation Type: II. Ten Cases in Sri Lanka. Charlottesville: University Press of Virginia.
Stevenson, Ian, and Godwin Samararatne. 1988. Three new cases of the reincarnation type in Sri Lanka with written records made before verification. Journal of Nervous and Mental Disease, 176:741. (See also more detailed reports of these cases in the Journal of Scientific Exploration, 1988, 2:217-238.)
Ian Stevenson is Carlson Professor of Psychiatry at the University of Virginia (Department of Psychiatric Medicine, Division of Personality Studies, Box 152 Health Sciences Center, Charlottesville, VA 22908 U.S.A.).
Réplica de Leonard Angel
Infelizmente, a resposta de Ian Stevenson apenas confirma a dificuldade que ele tem em compreender o teor das críticas elementares. A alegação no ponto 5 do meu artigo não era de que deveríamos “desqualificar Haffez” por ter cometido um erro. O foco estava (a) nos inadequados procedimentos de entrevista de Stevenson, (b) nas inadequações dos seus relatórios sobre os seus procedimentos de entrevista e (c) na conseqüente incerteza das afirmadas verificações. Isto é, há motivos para duvidar seriamente de que o que Stevenson contou como tendo sido verificado de fato tenha sido devidamente verificado. Isto foi dito claramente, e é surpreendente que Stevenson não tenha entendido.
Quanto à acusação de que ele não parece conhecer métodos apropriados para conduzir uma entrevista, Stevenson não pode simplesmente dizer: “Sim, mas veja quantas entrevistas eu fiz!”, que é o conteúdo de sua carta.
Após todos esses anos Stevenson ainda parece ignorar os problemas. Ele não parece compreender a importância da averiguação para se certificar de que um comprovador não está ciente do que um informante anterior disse. Por quais outros motivos Stevenson não diria se fez questões abertas (dissertativas) ou fechadas (múltipla escola, de respostas predefinidas ou não) para Fuad e Nabih e se os seus métodos de entrevista lhes permitiriam inferir qual tinha sido o depoimento de Haffez? A falta de discussão de Stevenson dessas questões naquela época e agora mostra a sua ignorância, ou pior, de questões cruciais relacionadas aos métodos de entrevistas.
Finalmente, eu gostaria também de incentivar os leitores a requisitar a resposta completa de Stevenson. Nela, pela primeira vez, ele admite inequivocamente que, quando ele foi para Khriby (ou seja, depois de ele supostamente ter eliminado qualquer inquietação que ele tivesse sobre a precisão de suas notas referente às alegações do menino), Stevenson registrou que o menino estava alegando ter sido Mahmoud, casado com Jamileh, e que morreu em conseqüência de um acidente de caminhão após uma briga com o motorista. Ainda assim Stevenson permitiu que as afirmações fossem radicalmente reinterpretadas durante e após as visitas de verificação de forma que a pessoa encontrada não era Mahmoud, nunca tinha se casado, e havia morrido de tuberculose. Stevenson tinha a criança disponível para si quando ele estava determinando as afirmações. Por que diabos Stevenson não garantiu, antes da verificação, que a criança esclarecesse os fatos básicos sobre quem ela achava ter sido? Que Stevenson ainda não reconheça o impacto devastador que isso tem no seu caso (e continua a considerá-lo como um dos seus mais fortes) mostra a pobreza de seus padrões.
Meu livro Enlightenment East and West (SUNY Press, 1994, pp 280-291) apresenta minha análise do caso Imad Elawar em maior detalhe do que o artigo da SI. Além disso, eu ficaria feliz em discutir estas questões.
Leonard Angel
Dept. of Arts and Humanities
Douglas College
P.O. Box 2503
New Westminster, B.C. V3L 5B2
Canada
SKEPTICAL INQUIRER•MAIO/JUNHO DE 1995.
setembro 13th, 2011 às 3:54 AM
Espero ansiosamente a parte 6.
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A propósito, leram no jornal que o túmulo de Chico Xavier virou “boca-de-fumo”? Que sacanagem com o coitado. Mas a vida é como a pilha: tem seu lado positivo. Pelo menos agora o pessoal lá tá em contato com o mundo espiritual, na maior viagem. Neguinho fuma um béquizinho e vê o Chico, o Emmanuel, o Allan Kardec, a Cleópatra e até mesmo o Papai Noel! Quem sabe o Chico não é psicografado psicografando um manifesto a favor da legalização da maconha? Poderiam assinar Galileo, Pedro II, Machado de Assis, Jesus Cristo, e até quem sabe, Deus? Ou não se psicografa Deus? Acho que é contra as regras. Mas, tudo bem, esses aí já bastam.