ALLAN KARDEC FOI UM DRUIDA?

Este texto, de José Carlos Ferreira Fernandes, tinha originalmente 64 páginas. Tomei a liberdade de fazer uma versão resumida com apenas 20 páginas para melhor se adequar ao formato de um blog. Entretando, disponibilizo a versão integral neste link.

O texto busca-se saber o que há de verdade na história atualmente contada sobre Allan Kardec ter sido um druida com esse nome numa vida anterior. Seria isso mesmo possível ou tal figura jamais poderia ter existido? E como surgiu o nome Allan Kardec? Saiba a seguir.

É de conhecimento geral que, a partir da publicação de “O Livro dos Espíritos”, em 1857, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail tomou o pseudônimo de Allan Kardec.  Tal pseudônimo seria mantido ao longo de todo o restante da sua vida, de modo a se poder separar, nitidamente, em sua biografia, a “fase Rivail” do professor e a “fase Kardec” do líder e codificador do Espiritismo reencarnacionista cíclico evolutivo.

Segundo é usual na historiografia espírita kardecista tradicional, informa-se que o pseudônimo “Allan Kardec” foi aposto a Rivail por decisão do mundo espiritual (mais especialmente, segundo a narrativa mais divulgada, pelo espírito que se denominava “Zéfiro”), não sendo, assim, de sua própria e livre escolha.  Tal pseudônimo, na realidade, seria o nome que Rivail, numa encarnação passada, na qual ele teria vivido, como sacerdote celta (druida) na região da Armórica, na Gália (a atual península da Bretanha, ao norte da França), antes da conquista romana.

O presente trabalho dedica-se a pesquisar todas as circunstâncias ligadas ao pseudônimo “Allan Kardec”, visando responder a duas perguntas:

·        O nome “Allan Kardec” pode ser considerado, de fato, como um nome celta viável na sociedade gaulesa imediatamente anterior à conquista romana? 

·        Quais as circunstâncias efetivas que levaram o professor Rivail a adotar o pseudônimo “Allan Kardec”?

Assim sendo, inicialmente será efetuada uma análise filológica (despretensiosa que seja) acerca do nome “Allan Kardec” (mais especificamente, de suas duas partes constituintes, “Allan” e “Kardec”); a seguir, serão examinados os mais antigos testemunhos históricos ainda disponíveis, e que puderam chegar ao conhecimento deste autor, acerca das circunstâncias nas quais o professor Rivail passou a adotar o “nom de plume” de Allan Kardec.  Quanto a isso, foram, basicamente, quatro: a) as notas biográficas que constam no “Prefácio” da tradução, para a língua inglesa, de “O Livro dos Espíritos”, efetuada por Anna Blackwell (1874-75); b) o depoimento do Conselheiro Aksakov, publicado no periódico espírita inglês “The Spiritualist” em 1875 (bem como as réplicas da própria Anna Blackwell e de Pierre- Gaëtan Leymarie, igualmente publicados no mesmo periódico); c) uma citação no periódico espírita francês “Le Spiritisme”, de Gabriel Delanne, em 1888; d) a conferência pronunciada por Henri Sausse em Lião, aos 31 de março de 1896, por ocasião das celebrações do 27º aniversário da morte de Kardec. 

Tais são, de fato, as fontes mais antigas às quais o autor deste trabalho pôde ter acesso.  Haveria outras fontes, pretensamente remontando ao punho do próprio Kardec, às quais o pesquisador espírita Canuto Abreu teria tido acesso, mas que, de qualquer modo, não estariam mais disponíveis.  Não havendo como verificá-las, serão devidamente citadas, mas não computadas no elenco acima. 

Apesar das várias contradições, o estudo de todos esses testemunhos pode, ao menos em linhas gerais, mostrar um inequívoco processo de “embelezamento”, e, mesmo, de “construção” duma tradição. 

Assim, passa-se, a partir de agora, à apresentação de todas as evidências que puderam ser colhidas. 

“Allan Kardec” como um nome “celta”, ou, mais especificamente, “gaulês”: 

O conjunto “Allan Kardec” (ou, mais precisamente, “Alan Kardec”), na forma de nome (prenome) e de apelido (nome de família), mostra-se como perfeitamente coerente e possível (talvez com algumas pequenas modificações, que logo serão mencionadas), modernamente, para um homem, na região francesa da Bretanha. […] “Druidas”, “reencarnação”, “megálitos” e “celtas” eram, na época, conceitos intimamente interligados, ao menos ao nível da imaginação romântica – e localizados no conveniente cenário da Bretanha, isto é, da antiga Armórica[1].  Não é de se estranhar, portanto, que o nome “Allan Kardec” acabasse por evocar druidas na Armórica, sábios filósofos reencarnacionistas.  A questão é: tal ligação apresenta-se como razoável?

Como foi comentado no início, “Allan Kardec” (ou, mais corretamente, “Alan Kardec”) é um nome bretão moderno viável.  “Alan” (como é grafado em bretão; o correspondente francês é “Alain”) é um nome (prenome, primeiro nome) muito utilizado na Bretanha, e “Kardec” (com a grafia usual “Caradec”, e as variantes “Caradeg”, “Karadeg”, “Carantec” e “Karadog”, entre outras) era originariamente também um nome (prenome, primeiro nome), e, nos tempos modernos, na Bretanha, um apelido (i.e., um sobrenome, um nome de família).  De fato, alguns poucos exemplos contemporâneos do uso do sobrenome “Caradec” em franceses de origem bretã encontram-se em François Caradec (1924-2008), escritor e biógrafo, em Jean-Michel Caradec (1946-1981), cantor, e em Loïc Caradec (1948-1986), navegador. 

O nome (prenome, primeiro nome) “Alan” (como grafado, com um único “l”, no bretão “padrão”) tem correspondência dialetal, na própria Bretanha, em formas como “Lan”, “Alanig” ou “Lanig”, bem como com “Alun”, constatado no país de Gales, e “Ailin” na Irlanda.  Em todas essas variantes, a palavra significa “gamo”, ou “veado”. 

A popularidade de “Alan” na Bretanha (e, depois, em sua forma “Alain” em língua francesa, por todo o país) liga-se à devoção (inicialmente local, mas que paulatinamente se foi espalhando) a Santo Alan (Alanus, ou esporadicamente Ailanus, como grafado em latim), bispo de Quimper, na Bretanha, uma figura um tanto obscura, mas que viveu entre os fins do séc. VI e inícios do séc. VII dC.  Desse modo, embora “Alan” seja, de fato, um nome “celta”, seu uso na Gália na época pré-romana é, no mínimo, problemático, já que a forma “Alan” (e correlatos), bem como a popularização de seu uso, são bem posteriores – pertencem ao mundo bretão medieval, não ao mundo gaulês pré-romano; dizer que havia, assim, na Armórica gaulesa pré-romana uma pessoa denominada “Alan” é algo, na melhor das hipóteses, extremamente improvável. 

Isso quanto a “Alan”.  Examinando-se agora “Kardec”, nota-se, como já mencionado, que era originariamente um nome (prenome, primeiro nome), tal como “Alan”, e que, modernamente, na Bretanha, é um apelido (um nome de família, um sobrenome).  Mas a sua história, e a sua atestação, é bem antiga, e pode, sim, ligar-se a genuínas raízes “gaulesas”.  Todas as formas atuais (“Caradec”, “Caradeg”, “Karadeg”, “Carantec”, “Karadog”, etc.) remontam ao nome (prenome) gaulês, atestado tanto na Gália quanto na Britânia, “Caratacos” (em latim, Caratacus), ou, aportuguesadamente, Carataco. 

O “Carataco” mais conhecido foi o rei da tribo britânica dos Catuvelaunos.  Era filho do rei Cunobelino (o “Cimbelino” de Shakespeare), e, com a ajuda de seu irmão Togodumno, atacou e derrotou Vérica, rei dos Atrébates, tomando-lhe o reino.  Mas Vérica refugiou-se em Roma, onde obteve a ajuda do Imperador Cláudio (reinou 41-54 dC) para recuperar seu reino – e assim iniciou-se a invasão romana da Britânia, em 43 dC.  Derrotado ainda nesse ano pelos exércitos romanos, Carataco refugiou-se entre os Sílures, iniciando nova onda de ataques aos romanos, à testa dos Sílures e dos Ordóvicos, a partir de 49 dC.  Novamente vencido, procurou asilo junto a Cartimândua, rainha dos Brigantes, que, porém, acabou entregando seu incômodo hóspede aos romanos.  Enviado a Roma, adornou o triunfo de Cláudio em 51 dC; não obstante, o Imperador o poupou, impressionado com o comentário que, mesmo derrotado, agrilhoado e exibido como troféu, Carataco lhe dirigiu (“Se vós decidistes dominar o mundo, é isso motivo suficiente para que o mundo automaticamente se vos submeta?”), mantendo-o como uma espécie de hóspede (ou prisioneiro), com todo o conforto, na Cidade Eterna – ele, porém, jamais retornaria a sua ilha natal. 

Além dum nome atestado na Britânia na primeira metade do séc. I dC, “Carataco” é também atestado na Gália, mais precisamente em três inscrições tumulares (provavelmente dos fins do séc. I aC ou dos inícios do séc. I dC) na região de Saverne, na Alsácia (próxima à fronteira alemã). Assim, as origens “gaulesas” do nome Kardec são impecáveis – sua forma “gaulesa” original, Carataco, é atestada, entre o final do séc. I aC e os meados do séc. I dC, tanto na Gália quanto na Britânia.  Note-se, contudo, que é atestado como um prenome, não como um nome de família, o que, aliás, inexistia entre os gauleses. 

Mais ainda, a popularidade de seu uso, na Bretanha tanto quanto em Gales, liga-se principalmente a três santos que, na Idade Média, ostentaram esse nome. 

Assim, embora “Kardec” (“Caradec”) seja, de fato, um nome que pode ser rastreado até à forma gaulesa (atestada tanto na Gália quanto na Britânia) “Carataco”, não se pode admitir que, com o nome “Kardec” (ou “Caradec”, ou qualquer de suas variantes recentes), tenha existido alguém, na Armórica, antes da conquista romana.  O nome de tal pessoa seria Carataco (“Caratacos”), não “Kardec”; não há sentido algum para que os “espíritos” tenham informado o nome gaulês duma (pretensa) encarnação anterior do professor Rivail não como se escrevia (e pronunciava) à época (“Caratacos”), mas sim numa variante de sua forma bretã (“Kardec”), que se formou muitos séculos depois… 

Adicionalmente, não se pode admitir que tenha existido um “Alan Kardec” (ou mesmo um “Alan Caratacos”) na Armórica gaulesa, pois a forma “Alan Kardec” trai uma composição recente (nome + apelido, ou prenome + sobrenome) que inexistia entre os gauleses.  De fato, os gauleses tinham apenas um único nome, geralmente seguido dum patronímico, como os gregos (“Fulano, filho de Beltrano”).  Assim, p.ex., “Carataco, filho de Cunobelino” (para o rei dos Catuvelaunos), ou “Carataco, filho de Carato” (para uma das inscrições de Saverne).  A composição “Alan Kardec”, por conseguinte, é duplamente impossível para um (pretenso) gaulês (druida ou não) que tivesse vivido na Armórica (atual Bretanha), ou mesmo em qualquer outro lugar, antes da conquista romana (ou mesmo depois, enquanto houve um meio cultural gaulês sobrevivente): 

·        Porque os elementos formadores do nome (“Alan” e “Kardec”) encontram-se numa forma moderna, embora céltica (e note-se que, embora “Kardec” derive dum nome gaulês viável, “Carataco”, o mesmo não se pode dizer, com segurança, para “Alan”); 

·        E porque tais elementos formadores apresentam-se quer como nome + sobrenome, quer como nome composto.  Ora, entre os gauleses históricos, não havia sobrenomes, e nem nomes compostos. 

Assim sendo, é extremamente problemático, para se dizer o mínimo, admitir que a combinação “Alan Kardec” pudesse ter sido utilizada como um nome gaulês (druídico ou não), portado por alguém na Armórica anterior à conquista romana. 

A Razão do Pseudônimo – As Fontes Espíritas Disponíveis: 

Por conseguinte, tanto a consideração de “Al(l)an Kardec” como um nome “gaulês” quanto a própria ligação (fixada pelo formato do túmulo do Codificador) duma pretensa “vida passada gaulesa” do professor Rivail com monumentos megalíticos são extremamente problemáticas.  A partir de agora, continuando na presente investigação, serão analisadas as fontes mais antigas, de conhecimento do autor deste trabalho, que forneçam alguma justificativa para o “nom de plume” “Allan Kardec”.  Como já mencionado, podem ser tomadas como quatro, e serão apresentadas a partir de agora. 

As Notas Biográficas de Anna Blackwell (1874-1875): 

Cronologicamente, a primeira referência segura acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec” consta no “Prefácio” da tradução para a língua inglesa de “O Livro dos Espíritos”, de 1875[2].  A obra foi traduzida pela inglesa Anna Blackwell, uma das poucas pessoas do outro lado do Canal da Mancha que eram adeptas do Espiritismo reencarnacionista kardecista, e não do Espiritismo não-reencarnacionista da escola anglo-saxã.  Blackwell informa que o pseudônimo foi imposto a Kardec pelos próprios espíritos, e, em nota de rodapé, acrescenta que “Allan Kardec” era um antigo nome bretão em uso na família da mãe de Kardec (que seria, assim, de origem bretã). 

As Investigações do Conselheiro Aksakov (1875): 

A próxima referência à origem do pseudônimo “Allan Kardec”, da mesma época que a anterior (embora uns meses mais recente), refere-se aos dados coligidos pelo investigador espírita (da corrente anglo-saxã) russo, Alexandre Aksakov.  Seu depoimento consta num artigo, com os resultados de sua pesquisa acerca das origens do Espiritismo reencarnacionista cíclico na França, publicado na edição de 13 de agosto de 1875 do periódico londrino “The Spiritualist Newspaper” (era uma publicação ligada ao Espiritismo da escola anglo-saxã, não reencarnacionista, ou seja, ao “New Spiritualism” propriamente dito; o próprio Aksakov era adepto dessa corrente).  Esse depoimento geraria duas réplicas, publicadas no mesmo periódico: uma de Anna Blackwell (na edição de 27 de agosto de 1875) e outra de Pierre-Gaëtan Leymarie (na de 8 de outubro de 1875).  Nessa mesma última edição do “The Spiritualist” (i.e., de 8 de outubro de 1875) o referido periódico publicaria também uma avaliação crítica d’ “O Livro dos Espíritos”, versando, em geral, sobre quão científica poderia ser considerada a metodologia de Kardec, bem como sobre a evidência experimental efetivamente existente para se admitir o reencarnacionismo. 

Como o presente estudo se concentra nas investigações referentes ao pseudônimo “Allan Kardec”, e como tanto as réplicas ao artigo de Aksakov quanto a crítica a “O Livro dos Espíritos” não tocam nesse assunto (a não ser uma alusão bastante casual no artigo de Leymarie, que é aqui citada), tais textos não foram incluídos no presente estudo, embora tenham sido disponibilizados, tais como republicados (em cinco edições) pelo periódico de linha espírita anglo-saxã “online” “Psypioneer Journal”, entre novembro de 2008 e abril de 2009. 

A seguir, os trechos julgados pertinentes do artigo de Aksakov: 

Como ele [Kardec] também estava ligado a um periódico importante, o “L’Univers”, publicou seu livro com os nomes que havia assumido em suas duas existências anteriores.  Um desses nomes foi Allan (um fato revelado a ele pela sra. Japhet), e o outro, Kardec, pelo médium Roze. 

Na resposta de Anna Blackwell a esse artigo de Aksakov, ela não alude a nada referente à origem do nome Kardec, mas, incidentalmente, reforça o fato de que os dados biográficos que fez constar no prefácio à sua tradução de “O Livro dos Espíritos” eram fidedignos: originavam-se tanto de suas próprias memórias quanto de averiguações efetuadas junto à viúva de Kardec, bem como junto a “seus amigos mais íntimos” (ao contrário de Aksakov, o qual, além de não ter convivido nem com Kardec e nem com seus amigos, havia se valido apenas das declarações da ressentida Celina Japhet). 

A réplica de Leymarie, por sua vez, inclui uma série de dados biográficos de Kardec, muitos já repetidos anteriormente, ao lado de outros novos.  Nada diz especificamente acerca da origem do pseudônimo, mencionando-o quase ao acaso, como uma simples escolha (embora uma escolha ditada pelos espíritos), ou melhor, um costume usual entre escritores, na França (bem indiretamente, ao longo de sua apresentação, Leymarie obliquamente dá a entender também, como motivo da adoção dum pseudônimo, a conveniência de Rivail de segregar seus novos trabalhos de índole espírita, sob o “nom de plume” Kardec, de seus antigos trabalhos pedagógicos, já publicados sob seu nome real): 

O sr. Rivail de modo algum desprezou seu nome de família, aliás muito respeitável; mas, na França, é habitual para os escritores, ao se apresentarem ao público, assinar seus trabalhos sob pseudônimo. Foram seus amigos e guias espirituais que lhe deram o [pseudônimo] que agora ostenta tamanha reputação mundial; e foram também seus guias espirituais que o instruíram a publicar “O Livro dos Espíritos”, e ele de fato assim procedeu, mesmo diante da exigüidade de seus próprios recursos financeiros. 

Nota Constante no “Le Spiritisme” (1888): 

A próxima indicação, cronologicamente falando, acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec”, e a primeira que se mostra razoavelmente em concordância com a versão atualmente esposada, de modo usual, pelo movimento espírita, consta numa edição, do ano de 1888, do periódico quinzenal espírita “Le Spiritisme”. 

O referido periódico (que circulou em Paris entre 1883 e 1895) havia sido criado por Gabriel Delanne, como manifestação de uma das várias dissidências do movimento espírita originário, que ainda orbitava, talvez de modo excessivamente centralizado, em torno da figura de Pierre-Gaëtan Leymarie (cuja liderança vinha sendo crescentemente contestada desde os finais da década de 1870).  Numa edição de 1888, o “Le Spiritisme” informou explicitamente que o pseudônimo “Allan Karde” havia sido imposto a Rivail por parte dum espírito que se identificava como “Zéfiro”, no círculo mediúnico das srtas. Baudin, imediatamente antes da publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, em 1857.  Ao mesmo tempo em que apoiava plenamente a intenção de Rivail de lançar, em livro, e de forma ordenada, o conteúdo doutrinário que os “espíritos” lhe vinham passando, “Zéfiro” lhe impunha o uso do nome “Allan Kardec”, informando, adicionalmente, que tal denominação já havia inclusive pertencido outrora a Rivail, numa encarnação passada, na “velha Armórica”, i.e., na época gaulesa: 

“Tomarás [disse “Zéfiro”] o nome ‘Allan Kardec’, que agora te damos.  Não temas, ele te pertence, já que o portaste com distinção numa encarnação anterior, quando vivias na velha Armórica”[3].

 

Esse é, assim, o primeiro testemunho datado (ao menos, que tenha chegado ao conhecimento do autor deste trabalho) que, inequivocamente, informa ter sido “Allan Kardec” (e, especificamente, esse conjunto de dois nomes) a identificação de Rivail numa encarnação gaulesa passada, “na velha Armórica”. 

A Biografia de Kardec, da autoria de Henri Sausse (1896): 

O último testemunho (cronologicamente falando) que pode vir a informar algo em primeira mão acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec”, bem como a respeito das circunstâncias nas quais ele foi assumido pelo professor Rivail, encontra-se na biografia de Kardec, de autoria de Henri Sausse[4], pronunciada como conferência na cidade de Lião, diante da Federação Espírita Lionesa, aos 13 de março de 1896, por ocasião das festividades de celebração do 27º aniversário da morte do Codificador. 

Na sua biografia, Sausse lançou mão, como inclusive será visto nos trechos aqui selecionados, de material que havia sido, há pouco (em 1890) inserido nas “Obras Póstumas”; mas também faz referência a documentos que não constam em nenhuma obra da codificação espírita, ou que, de qualquer modo, nelas não foram inseridas. 

Utilizou-se aqui a tradução já consolidada (da Federação Espírita Brasileira) para a língua portuguesa da referida conferência-biografia.  Os trechos considerados relevantes apresentam-se a seguir. 

Uma noite, seu Espírito protetor, Z[éfiro], deu-lhe, por um médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido numa precedente existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos nas Gálias.  Ele se chamava, então, Allan Kardec, e, como a amizade que lhe havia votado só fazia aumentar, prometia-lhe esse Espírito secundá-lo na tarefa muito importante a que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo. 

[…] 

Foi a 30 de abril de 1856, em casa do sr. Roustan, pela médium srta. Japhet, que Allan Kardec recebeu a primeira revelação da missão que tinha a desempenhar.  Esse aviso, a princípio muito vago, foi precisado no dia 12 de junho de 1856, por intermédio da srta. Aline C., médium.  A 6 de maio de 1857, a sra. Cardone, pela inspeção das linhas da mão de Allan Kardec [i.e., via quiromancia], confirmou as duas comunicações precedentes, que ela ignorava.  Finalmente, a 12 de abril de 1860, em casa do sr. Dehan, sendo intermediário o sr. Croset, médium, essa missão foi novamente confirmada numa comunicação espontânea, obtida na ausência de Allan Kardec[5]. 

Assim, também, se deu a respeito do seu pseudônimo.  Numerosas comunicações, procedentes dos mais diversos pontos, vieram reafirmar e corroborar a primeira comunicação obtida a esse respeito [a de Zéfiro, obtida pelas srtas. Baudin]. 

[…]

 

Adereços Posteriores: 

O autor deste trabalho dá por terminado o elenco de fontes (de seu conhecimento) que podem vir a esclarecer a origem do pseudônimo “Allan Kardec”, bem como as circunstâncias de sua assunção por parte do professor Rivail; quaisquer informações posteriores correm seriamente o risco de não remontarem aos próprios acontecimentos, ou, então, o de os interpretar de modo nebuloso ou equivocado.  Note-se, desde logo, que, mesmo considerando apenas as fontes anteriormente elencadas, há não pequenas contradições; e mais, nota-se uma tendência de “embelezamento”, de “idealização” e, mesmo, de “mitificação” (sobre tais tendências, serão tecidos comentários mais extensos na parte final deste trabalho). 

No entanto, algumas informações posteriores podem ser acrescentadas à investigação até aqui efetuada – não pelo fato de, necessariamente, agregarem mais fontes, mas principalmente como ilustração do continuado processo de agregação de elementos à explicação da origem do pseudônimo do Codificador. 

Quanto a isso, é digno de exame, no entender do autor deste trabalho, dois trechos duma entrevista do pesquisador espírita sr. Eduardo Carvalho Monteiro concedida ao periódico “O Mensageiro” (o texto integral pode ser obtido no endereço http://www.omensageiro.com.br/entrevistas/entrevista-87.htm).  A entrevista trata de vários temas ligados à História do Espiritismo, versando também sobre as (pretensas) encarnações passadas de Rivail, como o druida Kardec (aqui já consta explicitamente o fato de que ele teria sido um druida, algo que, nas quatro fontes históricas anteriormente analisadas, não se encontra), bem como o teólogo e reformador religioso João Huss (1368-1415), considerado um dos precursores da Reforma protestante do séc. XVI. 

[…] 

“O Mensageiro”: Onde consta a afirmação de que Denizard Rivail foi [noutras encarnações] João Huss e, também, Allan Kardec? Há algum livro, mensagem ou registro que afirme que Léon Denis era a reencarnação de Wycliff?

Monteiro: A revelação da encarnação do Prof. Rivail como Allan Kardec, sacerdote druida, surgiu em 1856 pela cestinha escrevente de Caroline Baudin, e a de sua encarnação como João Huss em 1857, pela médium Ermance Dufaux.  As fontes preciosíssimas, esclarece Canuto de Abreu, estavam, em 1921, na Livraria Leymarie, onde ele as copiara em quase sua totalidade.  Passaram em 1925 para a Maison des Spirites, […] [e foram queimadas] […] pelos alemães.  Recomendo a leitura de “A Missão de Allan Kardec”, de Carlos Imbassahy, e “Allan Kardec, o Druida Reencarnado”, de minha autoria. 

[…] 

“O Mensageiro”: Será que existe alguma coletânea de mensagens que Allan Kardec recebeu do Além, e que não foram incluídas em nenhum de seus livros e revistas espíritas, à parte de suas obras?

Monteiro: Creio que existiriam muitas mensagens [ainda] inéditas recebidas por Kardec e por seu grupo, se houvesse sido conservado seu acervo, porque as que ele divulgou na Revista Espírita e nos livros foram uma seleção das mensagens recebidas em suas sessões.  Na Revista Espírita de 1914, interrompida pela [Primeira] Guerra, começaram a ser publicadas as cartas de Kardec a outros confrades.  Uma parte do acervo de Kardec e da memória do Espiritismo foi perdida durante a Segunda Guerra, quando os alemães saquearam a Maison des Spirites, em Paris.  Uma parte do acervo de Kardec foi trazido ao Brasil pelo Dr. Canuto de Abreu, mas a ele muito poucas pessoas tiveram acesso, e ele raramente divulgou seus conteúdos.  Hoje permanece mais inexpugnável ainda, conservados [tais documentos de Kardec] pela família do Dr. Canuto.  Que me perdoem a crítica os admiradores do Dr. Canuto e sua família, mas comete-se aí um crime de lesa-humanidade, pois esse acervo não pertence a eles, mas é um patrimônio da humanidade, e deveria estar reproduzido, e à disposição de todos.  Infelizmente, essa é a amarga mensagem final que fica de minha entrevista.  Deixo, no entanto, minha saudação fraterna aos confrades e coloco-me à disposição em outros esclarecimentos em que possa ser útil. 

[…]

De qualquer modo, segundo o depoimento do sr. Eduardo Carvalho Monteiro, haveria, na década de 1930, na Maison des Espirites (a original, e ainda pujante, na rua de Copérnico), inúmeros documentos das origens do Espiritismo na França, da época do próprio Kardec, quiçá vários autógrafos do próprio Codificador, com informações as quais não haviam sido publicadas, ou agregadas às obras da codificação (mais especialmente, às “Obras Póstumas”, lançadas em 1890).  O pesquisador brasileiro Canuto Abreu teria tido acesso a tais documentos, copiando muitos e até mesmo obtendo vários originais. 

Silvino Canuto de Abreu (1892-1980), farmacêutico (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1909), advogado (Escola de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, 1916) e médico (Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, 1923), foi um incansável pesquisador e conferencista.  Amealhou, ao que se diz, uma biblioteca pessoal de dez mil volumes, e é considerado como um dos maiores especialistas na História do Espiritismo, tendo viajado à Europa inúmeras vezes e coletado vasta quantidade de material.  Consta inclusive que, estando em Paris pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, teria conseguido, por vias surpreendentes (como será mostrado a seguir) a guarda de material original do próprio Kardec[6].  Com efeito, têm-se as seguintes informações, de Carlos de Brito Imbassahy[7], publicadas no periódico “Mundo Espírita”, do Paraná, aos 31 de agosto de 1980, sob o título “Dr. Canuto de Abreu – Os Tempos Passam”: 

Indo a São Paulo em companhia do Olympio (que fazia vez de meu irmão)[8], e da esposa, fomos almoçar com o dr. Canuto de Abreu; nessa tarde, ele nos levou aos seus arquivos particulares, e nos mostrou um “dossier”, contando-nos a [seguinte] história. 

“Estava na França pouco antes de estourar a Guerra de 1939 quando, intempestivamente, fui procurado por dois cidadãos, que se apresentaram e disseram ali estar por ordem espiritual.  Os cidadãos haviam recebido instrução de seus guias [espirituais] de que deveria vir do Brasil uma determinada pessoa, em tais circunstâncias que coincidiam exatamente com as minhas (dizia o dr. Canuto), e que a esse cidadão [brasileiro] deveriam ser entregues os arquivos particulares do próprio Allan Kardec, pois a Europa iria passar por uma fase conturbada de guerra, e, se esses documentos fossem encontrados, seriam destruídos”. 

Ali estava, diante de mim e de Olympio, a letrinha de Kardec, suas opiniões e um envelope [com os dizeres] “Confidencial – Não Pode ser Publicado”.  Mostrou-me [o dr. Canuto] seu conteúdo, dizendo: 

“Gostaria de doar este acervo à Federação Espírita Brasileira, mas ela é roustainguista e, na certa, não vai admitir que seja ela própria a portadora de documentos que condenam ‘Os Quatro Evangelhos’” (de Roustaing!). 

Disse isso e mostrou-me duas cartas manuscritas onde, por cima, lia-se: 

“Carta enviada ao senhor João Batista Roustaing, cartas essas que são um libelo terrível, no qual acusa o ‘colega’ de controverter a ordem doutrinária, deixando-se envolver por mistificadores, cujo único objetivo era desmoralizar o sistema de comunicação com os mortos”.

 

Assim sendo, combinando os depoimentos do sr. Eduardo Carvalho Monteiro e do sr. Carlos de Brito Imbassahy, sustenta-se que o pesquisador Silvino Canuto de Abreu, de qualquer modo que fosse (mediante consultas na Maison des Espirites, ou então a partir de informações de particulares), teria tido ainda acesso, em Paris, quer imediatamente antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, quer já durante o início da ocupação nazista da capital francesa (mas, de qualquer modo, antes que desaparecessem, no curso do conflito), a vários documentos acerca da História dos primórdios do Espiritismo, tendo-os não apenas copiado em grande quantidade (cf. Monteiro), mas também obtido a posse de vários originais (cf. Monteiro e Imbassahy).  Tais documentos (quer originais, quer cópias de originais agora desaparecidos) incluiriam tanto informações detalhadas acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec” (cf. Monteiro) quanto observações acerca da validade das doutrinas de Jean-Baptiste Roustaing (cf. Imbassahy). 

De qualquer modo, em sua obra “O Livro dos Espíritos e Sua Tradição Histórica e Lendária” (publicado como folhetim, entre abril de 1953 e junho de 1954, no jornal “Unificação”, órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), Canuto de Abreu explicitamente endossou a origem do pseudônimo “Allan Kardec” na forma final pela qual é agora comumente propagada na comunidade espírita.  Os trechos relevantes, quanto a isso, são mostrados a seguir (a obra de Canuto Abreu foi escrita como um romance, na mesma forma que, p.ex., a psicografia “Há Dois Mil Anos”). 

[…] 

Certo dia de sessão [comentou o sr. Baudin, pai das médiuns srtas. Baudin], [o espírito] Zéphyr se fez esperar um pouco, e Caroline, com os dedos sobre a “tupia” [i.e., sobre a cesta-pião], aguardava-o cantarolando a Marselhesa.  Ao se manifestar, o Espírito começou a bater, com o bico do lápis sobre a ardósia, o ritmo do Hino Nacional Francês, como a acompanhar a menina, que, assim entusiasmada, entrou a cantá-lo em voz alta, em cooperação com Julie.  Nós acompanhamos em coração a marcha triunfal e, terminado o último verso, o lápis escreveu: “Nosso dia de glória já chegou”.  Não compreendendo o alcance da proposição, que permitia vários sentidos, pedi a Zéphyr que se explicasse.  E o “Roc” [i.e., o lápis acoplado à cesta-pião] rabiscou “Vamos ter afinal o convívio de nosso velho Chefe Druídico”.  Perguntei ao Espírito: — “Aquele que esperavas encontrar em Paris?” Resposta: — “Sim, ele mesmo, em pessoa.  Vais trazê-lo aqui.  Caroline vai atraí-lo…”.  Nosso guia gostava de pilheriar.  Supusemos que seria ali “pretendente” da Menina.  Insisti: “Podes anunciar-me seu nome, para meu governo?” E o “Roc” escreveu, destacando, sílaba por silaba, entre hífens: “AL-LAN –KAR-DEC”.  O nome era tão estranho que continuamos a duvidar da seriedade da comunicação.  Por isso, perguntei: — “Arabismo ou pilhéria?” Resposta: “A Verdade”.  Quando, dias depois, tive a satisfação de convidar o sr. Rivail a freqüentar nossos trabalhos espirituais, eu estava absolutamente longe de imaginar que ia franquear minha casa humilde o antigo Pontífice Druídico que ele foi. 

[…] 

Vou contar-te a história d’O LIVRO [i.e., de “O Livro dos Espíritos”] desde o princípio, diz Caroline [Baudin].  Zéphyr, nosso Espírito Familiar, no início das manifestações, riscava na “tupia” as respostas às consultas dos consulentes.  Na hora das sessões, nossa casa enchia-se de curiosos, apresentados por amigos de papai.  O trabalho realizava-se num ambiente de alegria, sem qualquer formalismo, e dando-se entrada aos retardatários.  Para evitar a fadiga, eu revezava com Julie ou com mamãe.  Durante a escrita na ardósia, reinava relativo silêncio.  Após a leitura da resposta, feita geralmente por papai, seguiam-se os comentários, em voz alta e social, nos mais diversos tons, segundo o espanto de uns e o contentamento de outros.  Zéphyr gostava de pilheriar e alfinetar os consulentes antes de lhes dar conselho.  Recebia os novatos com uma frase amena, a fim de os deixar logo à vontade.  E nunca perdia o ensejo de instruir a sociedade, ainda quando divertia com certas respostas.  Uma noite veio o Professor, com Madame Rivail.  Nosso Guia os recebeu amistosamente, saudando o professor com estas palavras: — “Salve, caro Pontífice, três vezes salve!”.  Lida em voz alta a saudação, todos rimos.  Para nós, Zéphyr estava pilheriando.  Papai, então, explicou ao Professor o costume do Espírito Familiar apelidar quase todos os visitantes.  O sr. Rivail não se agastou, e respondeu ao Guia, sorrindo — “Minha bênção apostólica, prezado filho”.  Nova risada geral.  Zéphyr, porém, respondeu ter feito uma saudação respeitosa, a um verdadeiro pontífice, pois Rivail, havia sido, no tempo de Júlio César, um chefe druídico.  Isso fez minha família simpatizar prontamente com o Professor, visto como, também nós, segundo Zéphyr, havíamos vivido na Gália naquela mesma época; e eu fui druidesa… 

E riu-se com vivacidade. 

[…]

 

Chega-se, então, finalmente, à “versão atual”, preponderante no meio espírita, acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec”, bem como a respeito das circunstâncias segundo as quais ele teria sido assumido.  “Allan Kardec” seria o nome de Rivail numa encarnação anterior, mais especificamente como um chefe druídico, na península da Armórica (a atual Bretanha), pela época da conquista da Gália por Júlio César (anos 60-50 aC).  Resta agora, enfim, tecer algumas conclusões finais, tendo em vista tudo o que até aqui foi apresentado. 

Conclusões Finais: 

Após a apresentação de todo o material anterior, cujo núcleo representa, cronologicamente, os testemunhos históricos espíritas acerca da origem e das circunstâncias de adoção do pseudônimo “Allan Kardec”, podem enfim ser esboçadas algumas conclusões.  Tendo em vista conflitos internos que permeiam essas mesmas fontes, as conclusões a seguir não podem ser consideradas como definitivas, mas apenas como as mais razoáveis, no atual estágio das investigações. 

Pareceu didático apresentar tais conclusões em duas partes – uma primeira sumarizando a própria viabilidade do pseudônimo como nome “celta”; a segunda examinando, à luz das fontes espíritas, as circunstâncias de seu surgimento. 

Viabilidade “céltica” (ou melhor, “gaulesa”) do pseudônimo “Allan Kardec”: 

O pseudônimo “Allan Kardec” surgiu em 1857, com a publicação de “O Livro dos Espíritos”, a mais antiga obra da codificação espírita kardecista, apresentando-se desde o início, inequivocamente como um “nome celta”, ou melhor, “gaulês”.  Embora os dois qualificativos (“celta” e “gaulês”) se apresentem facilmente como intercambiáveis, tanto então quanto agora, deve-se notar que o primeiro é bastante geral, e o segundo, bastante específico, tanto em termos culturais quanto lingüísticos.  Os “gauleses”, ou “celtas de La Tène”, constituem-se na mais recente das culturas celtas, e também a mais conhecida literariamente, no sentido de que foram os gauleses (“Gallatai” para os gregos, “Galli” para os romanos) que entraram em contato (e em conflito) com os reinos helenísticos e com Roma.  Se se tomar o qualificativo “celta” na sua mais ampla acepção possível (p.ex., considerando que irlandeses e bretões são “celtas”), “Alan Kardec” (apenas com um “l”) é um nome “celta” (mais especificamente, bretão) viável, sendo “Alan” um nome (prenome, primeiro nome) e “Kardec” uma forma do mais comum “Caradec” (apelido, ou nome de família).  Se, contudo, se quiser fazer “Al(l)an Kardec” retroceder a tempos especificamente gauleses, e mais, à Armórica (atual Bretanha) pré-romana, ou na época da conquista romana, tal pretensão é absolutamente inviável.  Inicialmente porque não há nenhum testemunho de “Alan” como nome na época gaulesa, sendo a forma do nome medieval (embora seja de origem celta, apenas séculos depois da época gaulesa é atestado, como nome bastante popular, e especificamente na Bretanha); em segundo lugar, porque a forma “Kardec”, embora inequivocamente celta, e mais, gaulesa, apresenta-se como uma forma medieval tardia do nome próprio “Caratacos”; assim, se houvesse, “em tempos gauleses”, alguém com esse nome, seria chamado “Caratacos”, nunca “Kardec” (ou Caradec, ou Karadog, ou qualquer das várias formas dialetais); e, em terceiro lugar, porque o conjunto “Al(l)na Kardec” jamais poderia ser portado por nenhum gaulês (fosse ou não druida), na Armórica ou em qualquer outro lugar de povoação gaulesa, antes, durante ou logo após a conquista romana, já que forma quer um conjunto de “nome + apelido” (prenome + nome de família), quer um “nome composto” (como, p.ex., “Luís Carlos” em língua portuguesa), sendo que os gauleses não usavam nenhum dessas formas.  Da mesma forma que a antroponímia romana era específica, com seu sistema de tria nomina, também o era a gaulesa, nesse caso bem semelhante à grega, com o conjunto formado por nome e patronínimco (“nome” + “nome do pai”, no genitivo, p.ex., “Carataco, [filho] de Cunobelino”). 

Portanto, no que diz respeito à viabilidade de “Al(l)an Kardec”, ele se mostra viável apenas como um nome medieval tardio, ou moderno, na estrutura “nome” + “apelido” (ou “prenome” + “nome de família”), especificamente para a região da Bretanha.  Apenas isso.  De certo modo, tal constatação fortaleceria a hipótese informada por Anna Blackwell, de que o nome pertencia à família da mãe de Rivail. 

Circunstâncias do Aparecimento e da Adoção do Pseudônimo: 

Portanto (e isso deve ser sempre enfatizado), “Al(l)an Kardec”, como nome gaulês em geral (e “druídico”, em particular) é absolutamente inviável.  Tratando especificamente, agora, das circunstâncias de seu aparecimento, bem como de sua adoção, por parte do até então professor Rivail, a história atualmente tida nos meios espíritas pode ser decomposta, ou separada, cronologicamente, em quatro “níveis” sucessivos de construção: 1) as obras kardecistas oficiais e incontroversas (escritas entre 1857 e 1890); 2) as notas biográficas de Anna Blackwell (1874-75) e as investigações do Conselheiro Aksakov, com as réplicas de Leymarie e da própria Blackwell (1875); 3) A anotação constante em “Le Spiritisme” (1888), bem como a biografia de Kardec de autoria de Henri Sausse (1896); 4) os adereços posteriores, ligados principalmente às averiguações de Canuto de Abreu (década de 1930).  Analisar-se-ão, a partir de agora, cada um desses estágios. 

Primeiro Estágio – As Obras Kardecistas Oficiais e Incontroversas: 

Tais fontes estendem-se desde a publicação da primeira edição de “O Livro dos Espíritos” (1857) até à compilação das “Obras Póstumas” (1890); incluem o necrológio, com muitos dados biográficos, publicado na “Revista Espírita” de maio de 1869, bem como o discurso fúnebre pronunciado por Camille Flammarion sobre o túmulo do Codificador (no dia 2 de abril de 1869)[9].  Em nenhum desses testemunhos se menciona a origem, ou as circunstâncias de adoção, do pseudônimo “Allan Kardec”, e isso é uma constatação de suma importância.  O “nom de plume” havia sido sugerido pelos próprios espíritos; era de origem “gaulesa”; havia sido o de Rivail noutra encarnação.  Eram, assim, circunstâncias extraordinárias, e havia boas razões para que, nas obras kardecistas oficiais, constasse alguma coisa a respeito.  No entanto, não há nada. 

O pseudônimo “Allan Kardec” tinha, certamente, conotações “célticas”; e os druidas, por esposarem, pretensamente, pensamentos reencarnacionistas, e por serem os “sacerdotes” (i.e., os “guias espirituais”) dos “antepassados” dos franceses, os gauleses, eram tidos em alta conta no movimento espírita – nisso, nota-se a herança do “celtismo” típico dos meados do séc. XIX, e, mais especialmente, das idéias de Jean Reynaud (1806-1863)[10].  Essa “celtomania”, de que já se citaram alguns exemplos (e equívocos) neste trabalho (p.ex., à ligação dos “megálitos” com os gauleses e, mais especificamente, com os rituais da “religião druídica”) torna-se evidente na exposição de motivos para a construção do monumento fúnebre “galo-druídico” de Kardec no Père Lachaise, onde seus restos iriam repousar em definitivo, conforme se pode ler na edição da “Revista Espírita” de junho de 1869: 

Na reunião da Sociedade de Paris que se seguiu imediatamente às exéquias do sr. Allan Kardec, os espíritas presentes, membros da Sociedade e outros, emitiram a opinião unânime de que um monumento, testemunha da simpatia e do reconhecimento dos espíritas em geral, fosse edificado para honrar a memória do coordenador de nossa Filosofia.  Um grande número de nossos aderentes da província e do estrangeiro se associaram a este pensamento.  Mas o exame da proposição teve necessariamente de ser retardado, porque convinha verificar primeiro se o sr. Allan Kardec havia feito disposições a tal respeito, e quais seriam essas disposições.  Tudo bem examinado, nada mais se opondo ao estudo da questão, a comissão, depois de madura reflexão, deteve-se, salvo modificação, numa decisão que, permitindo satisfazer ao anseio legítimo dos espíritas, lhe parece harmonizar-se com o caráter bem conhecido do nosso saudoso presidente.  É bem evidente para nós, como para todos que o conheceram, que o sr. Allan Kardec, como Espírito, não se interessa de modo algum por uma manifestação deste gênero, mas o homem se apaga, neste caso, diante do chefe da doutrina, e o exige a dignidade, direi mais, o dever daqueles que ele consolou e esclareceu, que se consagre por um monumento imperecível o lugar onde repousam os seus restos mortais.  Seja qual for o nome que a designou, é fora de dúvida, para todos os que estudaram um pouco a questão, e para os nossos próprios adversários, que a Doutrina Espírita existiu por toda a Antigüidade, e isto é muito natural, pois ela repousa nas leis da natureza, tão antigas quanto o mundo; mas também é evidente que, de todas as crenças antigas, é ainda o Druidismo, praticado por nossos antepassados, os Gauleses, a que mais se aproxima de nossa Filosofia atual.  Também é nos monumentos funerários que cobrem a antiga Bretanha que a comissão reconheceu a mais perfeita expressão do homem e da obra que se tratava de simbolizar.  O homem era a simplicidade encarnada; se a doutrina é, ela própria, simples como tudo quanto é verdadeiro, é tão indestrutível quanto as leis eternas sobre as quais repousa.  O monumento se comporia, pois, de duas pedras de granito bruto, erectas, encimadas por uma terceira, repousando obliquamente sobre as duas primeiras, numa palavra, de um dólmen.  Na face inferior da pedra superior seria gravado simplesmente o nome de Allan Kardec com esta epígrafe: “Todo efeito tem uma causa; todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; a potência da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito”.  Esta proposição, acolhida por sinais unânimes de assentimento dos membros da Sociedade de Paris, nos pareceu que devia ser levada ao conhecimento dos nossos leitores.  Não sendo o monumento apenas a representação dos sentimentos da Sociedade de Paris, mas dos espíritas em geral, cada um devia ser posto em condições de apreciá-lo e para ele concorrer[11].

 

O texto acima é extraordinariamente revelador.  Note-se que a forma “druídica” do novo túmulo, a ser construído no Père Lachaise, justificava-se muito mais pela (pretensa) ligação da “doutrina espírita” com o “druidismo reencarnacionista” (e com seus “monumentos druídicos” [sic] representativos, os megálitos, principalmente os megálitos da Bretanha…) do que com qualquer “outra vida” de Kardec como um gaulês (menos ainda como um druida…).  Ora, se, na ocasião, a versão da “vida passada” de Kardec como druida, mesmo como gaulês, já fosse conhecida (e por que não o seria, se verdadeira fosse?), por que não a utilizar para justificar a ereção dum memorial “galo-druídico” para o Codificador? Por que ela nem sequer é mencionada? 

Mais ainda: se houvesse documentos fidedignos, remontando ao próprio Kardec, que ligassem a origem de seu pseudônimo tanto a uma imposição dos “espíritos” quanto a uma (pretensa) reencarnação passada, como gaulês (ou mesmo como druida), por que não foram tais documentos inseridos nas “Obras Póstumas”, coligidas em 1890? Inúmeras anotações de Kardec, referentes a suas sessões com as Baudin e com Japhet, inclusive referentes à sua “missão” e ao livro no qual estava compilando, ordenadamente, os “ensinamentos dos espíritos”, são elencados nas “Obras Póstumas”.  Por que nada é dito, especificamente, acerca da origem do pseudônimo? 

O que se pode concluir disso tudo é que, no “primeiro estágio” da história do pseudônimo “Allan Kardec” – aquele testemunhado pelos dados constantes nas próprias obras kardecistas oficiais e incontroversas – não há absolutamente nenhum sinal de que o “nom de plume” se ligasse a alguma encarnação gaulesa pretérita do Codificador. 

Segundo Estágio – Blackwell e Aksakov: 

O próximo estágio na história do pseudônimo “Allan Kardec” liga-se a testemunhos de pessoas que diretamente tiveram contato com Rivail e com seu grupo (Blackwell, Leymarie), ou que puderam extrair testemunho de quem o teve (Aksakov).  Não há motivo algum para pensar que tanto Anna Blackwell quanto o Conselheiro Aksakov estivessem inventando os dados que publicaram; qualquer que seja a veracidade de tais dados, pode-se-os tomar como aqueles às quais as duas testemunhas tiveram acesso.  Segundo Blackwell (que conviveu com Kardec, e que, nas suas notas biográficas, como afirma, não apenas fez uso de suas lembranças, mas também colheu testemunhos entre os seguidores de Kardec, e, mais especialmente, junto à viúva de Kardec), o pseudônimo “Allan Kardec” foi tomado por Rivail por ser um “antigo nome bretão” da família de sua mãe.  Segundo apurou Aksakov junto a Celina Japhet, os dois nomes, “Allan” e “Kardec”, foram (separadamente) de encarnações pretéritas de Kardec (sem mencionar épocas gaulesas, e muito menos “status” druídico), o primeiro lhe tendo sido revelado pela própria médium Japhet, e o segundo pelo médium Roze. 

Apesar das diferenças, ainda não se fala nem em “gauleses”, nem em “druidas”.  A versão passada a Blackwell (que, provavelmente, tendo em vista o detalhe familiar íntimo, deve ter sido colhida junto à viúva de Kardec, Amélia[12]) é, aliás, de fácil verificação – basta que se procedam às pesquisas genealógicas pertinentes.  Quanto aos dados colhidos por Aksakov, são já de difícil verificação.  De qualquer modo, pode-se, ao menos provisoriamente, tentar uma harmonização: o professor Rivail tinha, de fato, por sua mãe, parentesco bretão (sobrenome “Kardec”, ou, mais provavelmente, “Caradec”); numa sessão qualquer com a médium Japhet, surgiu o nome “Allan”, ou, talvez, “Alain” (forma francesa); numa outra, com o médium Roze (que, talvez, tivesse conhecimento desse detalhe genealógico familiar), o nome “Kardec” (mesmo inconscientemente); juntando as duas informações, e transformando “Alain” em “Allan”, uma grafia mais “bretã”, e, portanto, “celta”, teria nascido “Allan Kardec”, um pseudônimo viável, e até “charmoso” (pela sua “atmosfera celta”), para o professor (agora Codificador) adotar em suas obras de codificação espírita (deixando seu nome verdadeiro, “Rivail”, ligado exclusivamente a suas obras pedagógicas, e a salvo de qualquer confusão que sua incursão num terreno sabidamente polêmico, como o “espiritualismo”, poderia trazer). 

De qualquer modo, o importante a notar, até ao presente estágio, é que, embora o “pseudônimo” já fosse considerado ligado, de algum modo que fosse, a alguma intervenção espiritual, i.e., tendo sido comunicado a Rivail via médium, ou médiuns (Aksakov; também réplica de Leymarie), fosse ou não Rivail descendente, por parte de mãe, de bretões de sobrenome Kardec, ou Caradec (Blackwell), nada se menciona, ainda, duma pretensa encarnação “gaulesa”, e, muito menos, “druídica”. 

Com esse “segundo estágio” termina, na opinião do autor deste trabalho, qualquer reconstituição que possa, de fato, remontar ao próprio Kardec, e, assim, aos fatos “reais”, verdadeiros.  Os próximos dois estágios já se afastam dos documentos remanescentes e, mesmo, das testemunhas oculares, e mostram, nitidamente, os marcos duma tendência cada vez maior à mitificação. 

Terceiro Estágio – “Le Spiritisme” e Biografia de Henri Sausse: 

Nesse estágio, afastamo-nos já quer dos documentos originais incontestes da codificação e dos primeiros tempos da História do Espiritismo, quer dos testemunhos de fontes diretas.  Uma nota no “Le Spiritisme”, de Delanne, em 1888, pela primeira vez (tanto quanto é do conhecimento do autor deste trabalho) informa que o “espírito” Zéfiro (atuante na casa dos Baudin) teria revelado a Rivail que “Allan Kardec” teria sido o seu nome numa encarnação gaulesa passada, e na Armórica (Bretanha).  E, na biografia de Kardec de Henri Sausse (1896), repete-se virtualmente a mesma coisa, acrescentando-se o fato de que “Zéfiro” também se coloca vivendo, com “Kardec”, na mesma época e lugar (foram, assim, companheiros em épocas passadas…). 

O elemento mítico, em gestação, aqui, já é evidente; como se viu, “Allan Kardec” NÃO É, e nem pode ser, um “nome gaulês”; e a ambiência armoricana (bretã) liga-se à atmosfera de “celtismo galo-nacionalista”, que via, ainda, os “gauleses” como “antepassados dos franceses” (e sua “religião druídica” como uma alternativa ao Cristianismo), bem como os megálitos, presentes especialmente na Bretanha, como genuínos monumentos “celtas”, ou “gauleses”.  Se, de fato, os “espíritos” são os responsáveis por tais informações, trata-se de espíritos singularmente mal-informados. 

De qualquer modo, a “história” passa a outro patamar – o pseudônimo não é apenas de origem “espiritual”, mas é ligado a uma encarnação passada de Rivail, como gaulês (ainda não, explicitamente, como “druida”) na mítica e “céltica” Armórica… Note-se especificamente que Sausse, em sua biografia, não pôde fazer remontar sua informação duma passada reencarnação “gaulesa” de Kardec a nenhum documento constante nas “Obras Póstumas”, ou nas obras kardecistas, em geral – a informação “paira no ar”… 

Quarto Estágio – Adereços Posteriores, e Elucubrações Canutianas: 

Com esse estágio, a “história” chega a seu ponto atual – não apenas “Allan Kardec” foi uma encarnação gaulesa passada de Rivail na Bretanha (onde viveu juntamente com Zéfiro), mas tal deu-se especificamente por volta da conquista da Gália por César, nos anos 50 aC, e mais, Kardec teria sido um druida (ou, mesmo, um arqui-druida!).  Para tal, apela-se a documentos vistos e copiados (ou até mesmo adquiridos no original) pelo pesquisador Silvino Canuto de Abreu, em Paris, quer nos fins da década de 1930, imediatamente antes do início da Segunda Guerra Mundial, quer por ocasião do início da ocupação alemã de Paris.  O fato é que todos, ou quase todos, os originais de tais documentos teriam perecido, restando apenas as anotações de Canuto de Abreu. 

A rigor, tais fatos são perfeitamente verificáveis (do mesmo modo que a ascendência bretã de Rivail, por linha materna, mencionada por Anna Blackwell).  Basta que se pesquisem as épocas das viagens, e das permanências, de Silvino Canuto de Abreu em Paris; e que se possa ter acesso aos documentos copiados (bem como aos originais) que o referido pesquisador trouxe da França.  As datas de permanência podem precisar se os dados foram obtidos (e/ou copiados) antes da eclosão da guerra, ou durante o início da ocupação nazista de Paris; e os próprios arquivos do pesquisador podem elucidar se os dados referentes à origem do pseudônimo “Allan Kardec” constam em materiais originais (e, no caso, que tipo de originais) ou se em meras cópias (e, também, em que tipo de cópias).  No atual estágio, tendo em vista, como já mencionado, que esses dados verdadeiramente fantásticos não constam, em absoluto, nos testemunhos dos dois primeiros “estágios” da história do pseudônimo, as informações adicionais agregadas por Canuto de Abreu devem ser vistas, no mínimo, com grande desconfiança. 

O próprio modo pelo qual o sr. Canuto de Abreu as disponibilizou (ao menos, em parte), qual seja, um folhetim, não acrescenta nada à sua veracidade.  Como se pode notar nos trechos citados de sua obra “O Livro dos Espíritos e Sua Tradição Histórica e Lendária” (o título já é, por si só, eloqüente, quanto a isso…), permanece a incoerência de se considerar que “Allan Kardec” fosse um nome “gaulês” válido, quando não o era.  Isso, claro, além da citação a “druidesas”, que não são, em absoluto, mencionadas por nenhuma das fontes antigas, e que somente aparecem, pela primeira vez, em fantasias do séc. IV dC, mais especificamente na “História Augusta” e em citações de nobres gauleses do Baixo Império.  Como se trata dum folhetim, não se pode saber o quanto de informação “verídica” (i.e., baseada nos “documentos” que Canuto pôde trazer de Paris, e/ou nas “anotações” que então efetuou) está contida nessas historietas.  O que se pode dizer, desde logo (e independentemente do que possam vir a revelar os arquivos do pesquisador, quando forem publicados), é que “Allan Kardec” NÃO É um nome “gaulês”, muito menos druídico, e que a menção, na época gaulesa, de “druidesas”, é, no mínimo, anacrônica (mais um sintoma de “celtomania nacionalista”). 

—(*)— 

Damos, enfim, por terminado este trabalho, que procuramos escrever da forma mais cuidadosa possível, com os dados de que dispomos.  Conforme ficou claro, apesar de muitas conclusões já poderem ser extraídas do material disponível, seria interessante que novas investigações pudessem esclarecer alguns pontos duvidosos.  Uma pesquisa genealógica acerca da origem da família da mãe de Rivail, bem como a publicação dos arquivos trazidos de Paris pelo pesquisador Silvino Canuto de Abreu, seriam, quanto a isso, os próximos passos.  Mas isso deixamos a outros pesquisadores.


[1] Obviamente, sabia-se acerca das migrações britânicas para a Armórica a partir do séc. V dC, mas isso era visto apenas como o reforço duma “tradição celta”, ou melhor, “gaulesa”, ininterrupta na região.

[2] A pequena biografia de Kardec, ou melhor, o elogio fúnebre, que consta na “Revista Espírita” de maio de 1869, logo após a sua morte (ocorrida aos 31 de março daquele ano), não menciona absolutamente nada a respeito da origem do pseudônimo.  Nem há nenhuma menção a respeito na introdução de “O Livro dos Espíritos”, quer na primeira edição, de 1857, quer na 2ª edição, que tornar-se-ia a canônica, de 1860.  Também não há, quanto a isso, nenhuma informação no discurso (que incorpora algumas notas biográficas) que Camille Flammarion pronunciou sobre o túmulo de Kardec, aos 2 de abril de 1869, por ocasião de seu primeiro sepultamento, no cemitério de Montmartre).

[3] Não foi possível ao autor deste trabalho obter o texto original, apesar de todas as suas tentativas; a fonte de tal informação encontra-se em “Laboratories of Faith: Mesmerism, Spiritism, and Occultism in Modern France”, James Warne Monroe, 2008, Cornell University Press, págs. 101-102.

[4] Henri Sausse (1851-1928), lionês como Kardec, pesquisador e ativo propagador espírita, ele mesmo médium, foi o criador da Federação Espírita Lionesa.  Desde 1887 esteve muito ligado, tanto por laços de crença quanto de amizade, a Léon Denis; tal ligação possibilitou-lhe acesso a várias informações e documentos, que, além de suas próprias investigações, permitir-lhe-iam compor a biografia de Kardec.

[5] Essas três comunicações (bem como várias outras, estendendo-se de 11 de dezembro de 1855 a 4 de julho de 1868) constam nas “Obras Póstumas”.

[6] Outra versão, mais verossímil, sustenta que, nos primeiros tempos da ocupação alemã de Paris, como cidadão dum país então ainda neutro (e encontrando-se, assim, no geral, livre de revistas pessoais, ou de buscas domiciliares), Canuto de Abreu tornou-se depositário de documentos históricos até então albergados na Maison des Espirites, que lhe teriam sido confiados por confrades franceses.  A verificação dos fatos, aqui, é relativamente simples, desde que se conheçam com exatidão as datas das viagens de Canuto de Abreu à França, bem como os períodos de sua permanência lá.

[7] Carlos de Brito Imbassahy (1883-1969) foi advogado e jornalista, e também escritor e pesquisador espírita.  Inicialmente promotor público na Bahia, seguiu depois carreira de estatístico no Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro, até à sua aposentadoria.

[8] Trata-se do médium Olympio da Silva Campos (1918-1976).

[9] Allan Kardec morreu aos 31 de março de 1869, sendo enterrado aos 2 de abril no cemitério de Montmartre (nessa ocasião, Flammarion discursou).  Com a (virtual) conclusão do novo monumento fúnebre, de tipo “galo-druídico”, no cemitério de Père Lachaise, os restos de Kardec foram exumados aos 29 de março de 1870 e então transferidos e novamente enterrados no local onde, até hoje, se encontram.  O monumento dolmênico do Père Lachaise foi inaugurado solenemente aos 31 de março de 1870, por ocasião do primeiro aniversário da morte do Codificador.

[10] Veja-se, quanto a isso, o artigo “Druidisme”, que Reynaud escreveu para a “Encyclopédie Nouvelle”, e que foi reeditado, em 1847, na sua obra “Considérations sur l’esprit de la Gaule”.  As idéias filosófico-religiosas de Reynaud repousavam, basicamente, em dois pilares, a pluralidade dos mundos habitados e a reencarnação (ligada especialmente à antiga “religião gaulesa”, que caberia à “nova França”, liberta das superstições nas quais a havia lançado o triunfo do Cristianismo e, principalmente, a Igreja, restaurar).  As almas, num contínuo processo de aprimoramento, i.e., de “evolução”, passavam, ao longo de suas existências materiais, de “esferas” (i.e., “planetas”) menos evoluídas para as mais evoluídas.

[11] Note-se que o “monumento dolmênico” de Kardec, em sua forma final, apresentou algumas variações com relação a esse primeiro esboço, com quatro pedras, e não três, o que o torna, por assim dizer, um “pseudo-dólmen”.  Imperativos de construção devem ter ditado as modificações.

[12] Amélie Gabrielle Rivail, née Boudet (1795-1883), esposa de Kardec.  Filha única, era professora diplomada, e casou-se com Rivail em 1832.

105 respostas a “ALLAN KARDEC FOI UM DRUIDA?”

  1. Antonio G. - POA Diz:

    Ops! Este post tem um título um tanto “irreverente”, não é mesmo? rsrsrs

  2. Vitor Diz:

    Acho que o espírito do Bozo que baixou em mim na hora de eu adaptar essa matéria 😛

  3. Marciano Diz:

    Vitor,
    Tu é sacaninha, hein, veio.
    Eu estranhei, assim que vi, que JCFF usasse esse linguajar.
    Ademais, Rivail era um cara tão sisudo, chegava a ser carrancudo (até existem bibas assim), ninguém nunca suspeitou.
    Apesar de tudo, fiquei curioso, se fosse isso mesmo, eu ia achar que JCFF tinha pirado, alguém se passando por ele não seria, impossível, vocês são íntimos.
    Agora, o que tem de gays no espiritismo é brincadeira… DPF, CX, Raul Teixeira…
    .
    Eu não tenho base para afirmar nada, mas sempre achei (achismo puro, mesmo) que uma hipótese plausível para o pseudônimo seria a de preservar o respeitável nome LHDR, para o caso de sua nova religião não dar certo. Já me convenci (praticamente) de que não deve der sido isso.

  4. Marciano Diz:

    Correção:
    Eu quis dizer que Rivail era tão sério e que ninguém jamais levantou qualquer dúvida acerca de sua masculinidade, por isso eu não acreditaria se dissesem que era gay.
    .
    Eu quis dizer que seria impossível alguém se passar por JCFF, porque vcs são íntimos, você não seria enganado assim.
    .
    Também achei inviável que JCFF usasse esse tipo de vocábulo.

  5. Marcelo Esteves Diz:

    Excelente texto!
    .
    Eu não tenho condições de opinar se as análises do José Carlos procedem ou não. Contudo, são avaliações de significativo alcance e importância para os espíritas.
    .
    Vitor, por acaso você conhece algum espírita (ou estudioso) disposto a nos dar um contraponto ao JCFF, principalmente quanto aos erros históricos de HDMA, do nome Públio Lêntulus e, agora, de Allan Kardec?
    .
    Vejam bem, eu adoro os textos, acredito neles e até publicaria um livro, se pudesse. Mas para o bem do debate – mesmo que, a princípio, as explicações do JCFF me satisfaçam – seria proveitoso saber se existem refutações.
    .
    Saudações

  6. Vitor Diz:

    Oi, Marcelo
    houve uma tentativa de um sr. Paulo Dias da lista CEPAK que tentou salvar os erros históricos do HDMA, em especial relativo aos nomes da época. Lógico que não conseguiu, com exceção de um nome, e apenas um. Veja abaixo:
    .
    Retificação acerca de “Sulpício Tarqüínio”:
    No corpo do ensaio “Quid Est in Nomine Romano?” foram tecidos alguns comentários acerca do “polinômio” Sulpício Tarqüínio. Um desses comentários aludia ao fato de que o gentílico “Tarqüínio” não havia sido mais atestado nos meios romanos desde a expulsão do último dos reis, Tarqüínio, o Soberbo (data tradicional, 509 aC). Não obstante, o pesquisador Paulo Dias, em comunicação datada de 6 de fevereiro de 2005, a partir de dados coletados da epigrafia bracarense (da localidade romana de Bracara Augusta, a atual Braga, no norte de Portugal), notou haver a citação de um “Tarqüínio, filho de Caturônio”, um peregrino (ou assim considerado), numa inscrição datável dos séculos I a III dC. A origem de tal informação teria sido o portal http://www.geira.pt/arqueo/bracara/onomastica.html, “Onomástica e Sociedade”.
    O pesquisador Paulo Dias mantém um grupo de discussão espírita, http://br.groups.yahoo.com/group/pgdelanne/, bem como um portal também dedicado à pesquisa da psicografica “Há Dois Mil Anos”, http://geocities.yahoo.com.br/cepak2001br/.
    Não se pôde obter, na ocasião, a inscrição completa, mas pesquisas posteriores levadas a cabo pelo autor deste trabalho puderam disponibiliza-la por inteiro (trata-se da inscrição CIL II, 02430 = HEp-04, 01012 = HEp-04, 1013), com o seguinte texto:
    TARQVINVS.CATVRONI.F.XI.AN. H.S.E
    A qual, expandida, é: Tarquinus Caturoni f(ilius) XI an(norum) h(ic) s(itus) e(st), cuja tradução é: “Tarqüino, filho de Caturão (ou Caturônio), que viveu 11 anos, está aqui sepultado”. Portanto, não se trata do gentílico Tarqüínio, mas sim do cognome Tarqüino. Essa inscrição específica, assim, não pode ser utilizada para evidenciar o uso do gentílico “Tarqüínio” na época imperial romana; além disso, a incerteza acerca de sua datação (entre os séculos I e III dC, ou seja, de qualquer data entre 1 e 300 dC!) a torna suspeita para provar o que quer que seja acerca dos hábitos onomásticos da época dos Júlio-Cláudios.
    Contudo, pesquisas mais detalhadas puderam obter a confirmação do uso do gentílico “Tarqüínio” no final do período republicano e na época imperial. Os casos atestados foram:
    – Lúcio Tarqüínio, um dos conspiradores catilinários (Salústio, A Conspiração de Catilina, cap. 48);
    – Tarqüínia, uma liberta (CIL V, 03320, de Verona);
    – Marco Tarqüínio (CIL V, 07852 = D 01854 = AE 1998, 00516, da região dos Alpes Marítimos);
    – Quinto Tarqüínio Apuleio (CIL VI, 01057 [p 3071, 3777, 4320, 4340] = CIL VI, 01058 = CIL VI, 31234 = D 02157 = AE 1977, 00154, de Roma);
    – Lúcio Tarqüínio Amianto, liberto de Lúcio, e sua esposa Tarqüínia Pederótis, também liberta de Lúcio (CIL VI, 04657, Roma);
    – Tarqüínia (CIL VIII, 06642 = ILAlg-02-03, 10059, de el-Ziad, na Argélia);
    – Tarqüínia Tértula (CIL VIII, 06643 = ILAlg-02-03, 10290, de Castellum Elephantum, na Numídia, atual Rouffach, na Argélia);
    – Tarqüínia (ILAlg-02-03, 10291, de Castellum Elephantum, na Numídia, atual Rouffach, na Argélia);
    – Tarqüínia Ingênua, filha de Públio (CIL VIII, 07803 = ILAlg-02-01, 01791, de Cirta, na Numídia, atual Constantine, na Argélia);
    – Públio Tarqüínio Filodéspoto (ILAlg-02-01, 01790, de Cirta, na Numídia, atual Constantine, na Argélia);
    – Lúcio Tarqüínio Januário (CIL IX, 01546, de Benevento, na Itália);
    – Tarqüínia Modesta (CIL IX, 01983 [p 671, 695, 696] = CLE 01303, de Benevento, na Itália);
    – Gaio Tarqüínio Polião (CIL IX, 05331, de Cupra Marítima, no Piceno, atual Cività di Marano);
    – Tarqüínio Valente (CIL X, 03562, de Miseno, na Itália);
    – Públio Tarqüínio Salutar (CIL X, 04410, de Cápua, na Itália);
    – Lúcio Tarqüínio e Tarqüínio Prisco (CIL X, 06396, de Terracina, na Itália);
    – Tito Tarqüínio Juvenal (CIL XI, 00099, de Ravena, na Itália);
    – Tarqüínia Fa(u)stina (CIL XIII, 00867, de Burdígala, na Aquitânia, atual Bordéus, na França);
    – Lúcio Tarqüínio Primo (CIL XIII, 01200 = EAOR-05, 00061, de Avárico dos Biturígios, na Aquitânia, atual Bourges, na França).
    Desse modo, embora mantendo as demais restrições à personagem (polinomia presente, na época, numa pessoa de classe mais baixa; cargo de comandante de legionários pretorianos na Judéia do tempo de Tibério), deve ser retificado que o gentílico “Tarqüínio” era de uso possível para a época.

  7. Toffo Diz:

    O ensaio de John Monroe “Laboratories of Faith” não dá a entender que (a) a resolução de publicar um livro (no caso, o Livro dos Espíritos) tenha sido uma ideia ou imposição dos espíritos, mas sim do próprio Rivail, diferentemente do que apregoam os exegetas do espiritismo; (b) que o nome Allan Kardec tenha sido “imposto” pelos espíritos, mas sugerido e adotado livremente por Rivail, dentro do espírito do socialismo romântico que vicejava nas mentes mais esquerdistas como a dele, na época. Confira-se (p. 101/102, minha tradução):

    “Aos poucos, Rivail foi percebendo que os dados que ele coletava dos espíritos nas sessões dos Baudin ‘formavam um todo e tomavam a proporção de uma doutrina’. Entendeu que havia chegado a hora de começar a organizar esse material com vistas a uma futura publicação. O círculo de Baudin recebeu com entusiasmo essa intenção de Rivail de produzir um livro com ensinamentos dos espíritos. Outros homens que frequentavam as sessões, como o dramaturgo Victorien Sardou e seu pai, o escritor René Taillandier e o editor Alfred Didier, forneceram a Rivail vários cadernos contendo comunicações obtidas por outros médiuns, esperando que fossem contribuir para a empreitada.”

    “O espírito Zéfiro, por sua vez, comunicou sua aprovação ao projeto através das senhoritas Baudin. Também sugeriu a Rivail um pseudônimo para que ele o usasse: ‘tomarás o nome de Allan Kardec, que te damos. Nada temas, é teu, tu o usaste com distinção numa existência anterior, quando viveste na velha Armórica.’”

    “A escolha de Zéfiro de um nome que soasse céltico e sua alusão a uma encarnação anterior na Gália Ocidental ecoou um antigo interesse socialista-romântico no druidismo. Pela década anterior, filósofos como Jean Reynaud haviam concebido a religião da França pré-cristã como uma alternativa racional e autóctone para o catolicismo – que ecoou nos espíritos de Rivail com particular ênfase na reencarnação. O antigo professor e guarda-livros adotou a nova identidade que Zéfiro lhe dera. A vida de Allan Kardec, que começou quando seu livro apareceu em 1857, seria muito diferente da de Rivail. O idealista de pouco destaque, sério embora perseguido por dúvidas, aos poucos se tornaria o professoral, autoritário líder de um movimento religioso completo.”

  8. Contra o Chiquismo. Diz:

    Sabe o que me intriga? Kardec vivia de que? Morreu pobre?
    Ele continuava professor de Liceu mesmo depois da ‘codificação’? Viveu do ‘espiritismo’? Ganhou dinheiro as custas da ‘ doutrina’ ?

  9. Toffo Diz:

    Contra, Rivail teve uma escola, financiado por um tio que era jogador. O negócio degringolou e ele faliu, deixando uma dívida de 45.000 francos. Foi trabalhar como guarda-livros de várias firmas, inclusive o jornal católico L’Univers, e foi bem-sucedido nessa profissão, chegando a ganhar 7.000 francos por ano. Os livros de Allan Kardec eram best-sellers, principalmente o Livro dos Espíritos, o que deve ter dado a ele uma bela renda extra, fora a renda que obtinha das assinaturas da Revista Espírita. Kardec também não era de família pobre, pertencia à burguesia profissional da época, hoje equivalente à classe média alta. Ao morrer, ele estava à espera do “brevet de libraire”, uma espécie de alvará para abrir uma editora, que acabou indo para a viúva. Como não havia previdência social na época, a Madame Kardec se viu compelida a lutar pela própria sobrevivência, fundando uma Caixa Geral do Espiritismo, que foi um investimento comercial com vistas a dar lucro. Houve quem criticasse. De qualquer forma, Kardec nunca foi pobre-pobre-de-marré.

  10. Leonardo Diz:

    Texto excelente, estragado por este título. Reconsidere, Vitor.

  11. Vitor Diz:

    Oi, Leonardo
    eu até pensei em mudar o título, mas já recebi tantas críticas de pessoas que claramente não leram o texto que o prazer de jogar isso na cara delas é inenarrável! Já tem gente me acusando até de homofobia! 😀

  12. Vitor Diz:

    Tá, resolvi mudar. As pessoas têm vergonha de discutir uma matéria com esse título!

  13. Leonardo Diz:

    Eu dei um pulo da cadeira quando vi seu e-mail. Mas, logo percebi do que se tratava (risos). Não dá para argumentar contra o JCFF. É dar tiro no pé.

  14. Vitor Diz:

    Oi, Leonardo
    na verdade até dá para discutir sim, recebi uma crítica interessante do Eugenio Lara sobre o texto, eis o que ele disse:
    .
    Oi Vitor e pessoal,
    As fontes citadas neste ensaio estão incompletas. E a citação do Alexandre Delanne, por exemplo, está incorreta. No texto original, nada indica que a informação sobre o pseudônimo de Rivail tenha partido de Zéfiro. Houve uma interpolação desnecessária e forçada. O texto original é esse:
    .
    “Ajou ons encore un détail que nous tenons de l’auteurméme. Voici de quelle maniêre on lui indiqua le pseudonyme dant il devait signer ses écrits:
    “Tu prendras le nom de: Allan Kardec, que nous te donnons. Ne crains rien a ce sujet, il est le tien, tu l’as déjà porté très dignement dans une incarnation précédente, lorsque tu habitais la vieille Armorique.”
    .
    A fonte mais importante de todas é o manuscrito de Kardec sobre o tema, do qual Paul Leymarie era depositário, citado pelo sociólogo francês Jacques Lantier. Talvez seja a parte que falta da carta de Kardec ao barão Tiedeman (o quase investidor da Revista Espírita), quando ele fala especificamente sobre o seu pseudônimo, um dos poucos documentos que o Canuto Abreu divulgou, no caso, para o Zeus Wantuil quando estava elaborando aquela volumosa biografia do Allan Kardec. Essa é outra fonte que não foi considerada pelo autor. Há também outras fontes que o autor ignorou.
    .
    O trabalho se perde em descrições históricas, evasivas e desnecessárias. Por exemplo, quanto à questão dos monumentos megalíticos, hoje é indiscutível que são bem anteriores à cultura celta. O Stonehenge, por exemplo, foi construído séculos antes do florescimento da cultura céltica. Mas no tempo de Kardec, não se discutia a associação desses monumentos aos celtas. Ainda hoje há essa confusão. Todo ano um grupo de peregrinos fantasiados de druidas vai ao Stonehenge realizar uma série de rituais ridículos que não têm mais sentido hoje. Essa confusão, portanto, ainda permanece. Os túmulos de Kardec e Leymarie, construídos no formato de dólmen, apenas expressam a ligação, palingenética eu diria, entre o Celtismo e o Espiritismo.
    .
    No estudo etimológico dos nomes Allan e Kardec, o autor ignorou um fato histórico fundamental que foi a invasão normanda da Grã-Bretanha, criando aí uma nova cultura denominada de anglo-normanda. O nome Alan surge, principalmente na Escócia, a partir dessa invasão. Antes disso ele não existia. Quanto à origem do nome Kardec, a associação ao gaulês é forçada. Tudo indica que é palavra de origem nórdica, viking. Aliás, o nome Allan Kardec, seja ele assim ou formado de dois nomes próprios, não é de origem céltica. É um nome de origem viking. Nunca existiu um druida chamado Allan Kardec. O autor chega mais ou menos a esse tipo de conclusão, mas por vias equivocadas, sob o ponto de vista etimológico e linguístico. Se tivesse mesmo origem gaulesa, teríamos que fazer um estudo etimológico da palavra Karnak (Bretanha), termo que se aproximaria linguisticamente de Kardec. Ainda assim, teríamos que considerar o fato de que essa região surge como Bretanha Menor com a migração dos bretões, fato aliás citado pelo autor. Kardec teria origem bretã e não gaulesa. E é necessário considerar que, caso Kardec fosse mesmo de origem gaulesa, o nome seria necessariamente Carderix ou Karderix, porque o sufixo rix era usado pelos gauleses, como parte de seu patronímico, da mesma forma que ocorre em outras culturas.
    .
    De todo modo, achei bastante interessante a abordagem, o autor se serviu de boas fontes disponíveis. Agora, quanto à abordagem histórica, faltou a citação das fontes, das obras consultadas. Fundamentar um estudo desse tipo, principalmente em textos históricos da internet é lamentável. É o que se conclui porque, por exemplo, não foram citados como fonte nenhum historiador da cultura céltica, e eles são em número bastante razoável, desde o século 19. Se vc pinçar alguns trechos do texto e colocar em algum buscador da internet verá que em alguns casos a transcrição é quase literal, mas a fonte não foi citada. Normalmente historiadores autodidatas fazem isso.
    .
    […]
    .
    Mas o que importa é o estudo, a reflexão. O artigo atinge esses dois objetivos. Grato por divulgá-lo aqui na lista.
    Abração a todos
    Eugenio Lara
    São Vicente-SP
    .
    O […] dizia respeito ao título, e como já tirei, cortei essa parte.

  15. Sharp Random Diz:

    Imortalizou ?
    http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:_UdGvraN9dAJ:obraspsicografadas.org/+%22ALLAN+KARDEC+ERA+VEADO!%22&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk

  16. Marciano Diz:

    Eu não tenho, Vitor, fui um dos primeiros a comentar. E vi logo que só poderia ser brincadeira. Brincar não faz mal a ninguém.

  17. Marcelo Esteves Diz:

    As encarnações de Kardec
    .
    http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2009/12/as-reencarnacoes-de-kardec.html
    .
    Saudações

  18. Marcelo Esteves Diz:

    É um samba do crioulo doido!

  19. Gorducho Diz:

    No texto original, nada indica que a informação sobre o pseudônimo de Rivail tenha partido de Zéfiro. Houve uma interpolação desnecessária e forçada. O texto original é esse:
    “Ajou ons encore un détail que nous tenons de l’auteurméme. Voici de quelle maniêre on lui indiqua le pseudonyme dant il devait signer ses écrits:
    “Tu prendras le nom de: Allan Kardec, que nous te donnons. Ne crains rien a ce sujet, il est le tien, tu l’as déjà porté très dignement dans une incarnation précédente, lorsque tu habitais la vieille Armorique.”

    Ok, se não foi o Zéfiro, foi quem? Onde está o restante do texto para que se possa analisar?

  20. Vitor Diz:

    Eis a pré-resposta do JCFF ao Eugênio Lara:
    .
    “Sem dúvida. Há muitas coisas interessantes, que poderiam ser acrescentadas ao texto. P.ex., a citação integral do “Le Spiritisme” (se, de fato, não se cita lá Zéfiro, é algo que pode ser corrigido em meu ensaio, sem absolutamente nenhum enfraquecimento das conclusoes), bem como o tal documento “de Kardec”, posto sob a guarda de Leymarie, e que teria chegado às mãos de Canuto de Abreu (e que este teria disponibilixzado a Zeus Wantuil). Claro, ainda fica por responder a razão pela qual esse documento, tão importante, não foi coligido nas “Obras Póstumas”, editadas em 1890, quando Leymarie ainda dominava tanto a “Revue Spirite” quanto a SPEE; ou porque, em 1875, ao refutar Aksakov, o próprio Leymarie não lançou mão dos dados constantes nesse documento; ou mesmo por que Anna Blackwell (que conviveu com o próprio Kardec, bem como com seus amigos íntimos, e com sua viúva) simplesmente o ignora.
    .
    Mas há algumas coisas estranhas na crítica do sr. Eugênio Lara: que o nome “Kardec” seja provavelmente germânico (NÃO É), ou que os nomes gauleses terminassem no “patronímico -rix” (a raiz “rix”, ou “rigo”, NÃO É um patronímico, mas um dos muitos elementos possíveis formadores de nomes gauleses, e significa “rei”, “chefe”, “líder” – a MESMA raiz indo-européia do “rex” latino, ou do “raj” sânscrito; muitos nomes gauleses terminavam, assim, em “rix’, MAS NEM TODOS). Claro, os nomes terminados em “-rix” eram bastante comuns entre os gauleses (a lista é longa), mas NEM TODOS os nomes gauleses terminavam em “rix”.”
    .
    Repito, uma resposta mais substancial virá, estou só adiantando alguns pontos. Já comuniquei ao Eugenio Lara, aguardo os esclarecimentos dele.

  21. Antonio G. - POA Diz:

    Pô, Vitor! Até que eu achei legal o título original… É claro que, até chegar ao esclarecimento de que Allan, na língua bretã tem correspondência com a palavra gamo ou veado, eu fiquei surpreso, diante do ineditismo da informação. Por isso, classifiquei seu “highlight” como irreverente. Essa foi prá deixar espírita apressadinho indignado! rsrsrs
    Porém, se o sentido fosse mesmo aquele que pode ter causado espanto em alguns, quero lembrar que, neste caso, o Codificador estaria bem acompanhado pelo seu coleguinha CX no “arco íris” do além… rsrsrs

  22. NVF Diz:

    Quem já leu “As Brumas de Avalon”, de Marion Zimmer Bradley??

    Tem tudo a ver com essa estória de Celtas, Allan e Gamo/Veado…

  23. Phelippe Diz:

    Qual era o título original?

  24. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Prezado sr. Eugênio Lara,

    Inicialmente, gostaria de agradecer-lhe imensamente a mensagem enviada ao sr. Vítor Moura (e que ele me repassou), versando acerca de alguns tópicos de meu ensaio “Allan Kardec foi um Druida?” (agora com um título mais plácido…), no “blog” “Obras Psicografadas”. Li com atenção suas ponderações, e tenho certeza de que elas em muito me ajudarão a melhorar o referido ensaio.

    De qualquer modo, gostaria de tecer algumas considerações acerca de seu texto; a fim de torná-las tão claras e ordenadas quanto possível, preferi elencá-las por tópicos, quais sejam: 1) caracterização do ensaio, e suficiência das fontes; 2) ausência de algumas citações; 3) presença de digressões; 4) megálitos; 5) a observação acerca da origem do pseudônimo constante no “Le Spiritisme” de 1888; 6) o “Manuscrito de Kardec” (“Codex Caratacensis”); 7) a origem do nome “Allan”, e a invasão normanda da Inglaterra; 8) enfim, considerações sobre o nome “Kardec”, sobre o elemento “Kar” (ou “Car”) e sobre o (pretenso) patronímico “-rix”.

    1) Caracterização do Ensaio, e Suficiência das Fontes:

    Minha pesquisa destinava-se a ser publicada no “Obras Psicografadas”; quanto a isso, procurei documentar da melhor forma possível, e inequivocamente, as “fontes principais”, ou seja, aquelas que estavam: a) diretamente ligadas ao objetivo da pesquisa – ou seja, os testemunhos diretos acerca da origem, e das circunstâncias de adoção, do pseudônimo “Allan Kardec” por parte do professor Rivail, e b) relacionadas à constatação de que os megálitos (e, mais especialmente, os megálitos da Bretanha) não eram de origem gaulesa, sequer “celta”. Creio que, quanto a isso, meu texto encontra-se adequadamente documentado, tanto quanto as fontes disponíveis eram de meu conhecimento (e o sr. haverá de me ajudar a melhorá-las em pelo menos dois pontos como mencionarei mais abaixo). Aliás, em momento algum no ensaio, que me lembre, dei a entender que as fontes às quais pude ter acesso eram as únicas existentes.

    2) Ausência de Citações:

    Quanto à ausência de citações explícitas das fontes para partes do ensaio (e considero que, quanto a isso, o sr. esteja se referindo, principalmente, à história da Bretanha, a algumas observações acerca da história espírita pós-Kardec e a algumas notas biográficas sumárias), tais partes não interferiam, a meu ver, na linha central de raciocínio, como mencionei no item anterior (sendo tal linha, sim, cuidadosamente documentada).

    Mas, claro, o sr. tem razão, e uma explicitação das fontes consultadas, mesmo para outras partes do ensaio que não aquelas ligadas à sua linha de raciocínio principal, apenas o fortaleceriam e o enriqueceriam. Numa próxima versão, procurarei corrigir esse defeito.

    3) Presença de Digressões:

    O sr. alude a “descrições históricas evasivas e desnecessárias”. Essa é sua opinião, prezado sr. Eugênio Lara; mas tais digressões são uma característica minha, que, infelizmente, não poderá ser corrigida, mas apenas tolerada pelas pessoas de boa vontade. Como creio que já me expressei aqui mesmo neste “blog”, quando escrevo um texto, eu o escrevo para mim mesmo; eu procuro escrever o texto que, caso tivesse feito a pergunta que ele pretende responder, gostaria de receber como resposta. E eu, pessoalmente, gosto das coisas assim. O sr. Vítor Moura “compactou-o”, para fins de publicação viável (algo a que nada tenho a opor, desde que disponibilize, como aliás disponibilizou, o texto integral).

    4) Megálitos:

    Pareceu-me importante, sr. Eugênio Lara, deixar bem claro que os monumentos megalíticos não podiam ser considerados, em absoluto, “celtas”, quanto mais “gauleses”, já que tal confusão, como o sr. próprio reconhece, ainda persiste – e não apenas em meios espíritas. De fato, popularmente, tanto quanto posso perceber, os monumentos megalíticos ainda se ligam aos “gauleses”, quer nas historietas de Asterix (com Obelix carregando seus menires…), quer nos “pseudo-druidas” e “pseudo-celtas” modernos em Stonehenge (e noutros monumentos da espécie), quer, também, no próprio meio espírita, onde, ao que me parece, ainda predomina, quanto a isso, a antiga visão gerada pela “celtomania” da primeira metade do séc. XIX.

    5) Observação acerca da origem do Pseudônimo constante no “Le Spiritisme”, de 1888:

    A referida fonte foi a única à qual não pude ter acesso direto (e mencionei isso explicitamente em meu ensaio). De fato, retirei-a da obra “Laboratories of Faith” (citada explicitamente em nota de rodapé). A seguir, reproduzo, de modo mais extenso, e em língua inglesa, o trecho do referido livro (págs. 101-102) onde aparece tal referência, e que informa explicitamente que a comunicação partiu de “Zéfiro”:

    “The spirit Zéphyr, for his part, communicated his approval of the project through the Mmlles Baudin [refere-se aqui ao projeto de Kardec de editar um livro com as comunicações espirituais, organizadas – o futuro “Livro dos Espíritos”; nota de JCFF]. He also suggested a pseudonym for Rivail to use: ‘You will take the name Allan Kardec, which we give to you. Have no fear, it is yours, you have borne it with distinction in a previous incarnation, when you lived in old Armorica’. (Quoted in ‘Le Spiritisme’, 5, 1888, 233)”.

    De qualquer modo, sr. Eugênio Lara, o sr., em boa hora, forneceu parte do trecho original. Pelo que li, a informação original é exatamente do mesmo teor daquela constante no ensaio (Rivail teria portado, “na velha Armórica”, i.e., em época “celta”, em encarnação passada, o nome “Allan Kardec”), mas, aparentemente, não teria sido fornecida, especificamente, pelo “espírito” Zéfiro. Eu lhe rogaria, então, sr. Lara, que mandasse ao sr. Vítor Moura (que, por sua vez, me faria chegar às mãos) o texto original do “Le Spiritisme”, se possível a reportagem integral, em língua francesa; rogaria também que me informasse a data específica da referida reportagem, de 1888, bem como o seu autor (foi o próprio Delanne? Foi alguma outra pessoa? Em que circunstâncias tal comunicação espiritual foi obtida?). A partir do texto original, melhorarei a citação da referida fonte – e desde já lhe fico muitíssimo grato.

    6) O “Manuscrito de Kardec” (“Codex Caratacensis”):

    O sr. igualmente faz menção (e esse item parece-me, juntamente com o anterior, o mais valioso de sua comunicação) a um suposto “manuscrito de Kardec sobre o tema”, posto à guarda de Pierre-Gaëtan Leymarie (sucessor de Kardec), e que, posteriormente, teria chegado às mãos do pesquisador espírita brasileiro Canuto de Abreu. Ainda segundo o sr., sr. Lara, tal manuscrito (que eu aqui, provisoriamente, denominarei “Codex Caratacensis”, “o manuscrito de Kardec”), “a fonte mais importante de todas” (em suas próprias palavras), teria sido disponibilizado por Canuto de Abreu ao pesquisador Zeus Wantuil, e incorporado numa biografia que esse último pesquisador havia escrito sobre o Codificador.

    Tais dados me eram, até aqui, desconhecidos. Assim sendo, muito agradeceria se o sr. pudesse enviar ao sr. Vítor Moura (que haverá de me repassar) todas as informações que tenha acerca do conteúdo específico desse “Codex Caratacensis”, quais sejam: a) trata-se dum documento escrito pelo próprio Kardec?; b) em o sendo, trata-se dum autógrafo, ou duma cópia efetuada por terceiro?; c) em sendo um autógrafo, sua autenticidade foi, ou pode ser, corroborada, a partir dos testes grafoscópicos usuais?; d) o documento é datado?; e) em sendo uma cópia dum original de Kardec, quando foi confeccionada, e por quem?; f) se o “Codex Caratacensis” não for um documento escrito pelo próprio Kardec (original ou cópia que seja), quem o escreveu, quando, e sob que circunstâncias?; g) onde, em que circunstâncias, precisamente, e em que data, foi o documento obtido pelo pesquisador Canuto Abreu?; e, h) obviamente, o conteúdo completo do documento.

    É claro que, adicionalmente, teria de haver explicações razoáveis para o fato de que tal documento, “a fonte mais importante de todas”, e à guarda de Leymarie, não ter sido incluído nas “Obras Póstumas”, editadas em 1890, quando o próprio Leymarie, o guardião do documento, ainda chefiava tanto a “Revue Spirite” quanto a “Société Parisienne d’Études Spirites”.

    Ou por que esse mesmo Leymarie, quando refutou o Conselheiro Aksakov, no “The Spiritualist”, em 1875, não mencionou em absoluto tal fato, limitando-se a dizer que “M. Rivail by no means despised his family name, which was a very respectable one, but in France it is customary for public writers to sign an assumed name. It was his spirit friends and guides who gave him the one which has now a world-wide reputation. It was likewise his guides who directed him to publish the Spirits’ Book, and he did so notwithstanding the exiguity of his pecuniary resources”. Ao escrever desse modo, absolutamente geral, acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec”, Leymarie (o depositário da “fonte mais importante de todas”) virtualmente chancelou as informações anteriormente fornecidas pelo Conselheiro Aksakov, em reportagem anterior do “The Spiritualist”, segundo as quais “Allan” e “Kardec”, separadamente, teriam sido nomes de Rivail em encarnações passadas – o primeiro revelado pela médium srta. Japhet, o segundo pelo médium Roze.

    Ou, ainda, por que os dados constantes nesse documento não foram, em absoluto, incluídos na biografia que Anna Blackwell fez constar do prefácio de sua tradução, para a língua inglesa, de “O Livro dos Espíritos” (1874-75) – informando, ao contrário, que “Allan Kardec” era um antigo nome BRETÃO da família de sua mãe. Ora, Blackwell explicitamente informa (em sua réplica a Aksakov, também publicada no “The Spiritualist”) que havia coletado seus dados biográficos de Rivail tanto de sua própria memória (pois convivera com ele, e com os círculos espíritas de Paris) quanto de depoimentos obtidos de seus companheiros mais íntimos (dentre os quais, claro, contava-se, já nos finais da década de 1860, Leymarie), bem como de sua viúva.

    Há, assim, uma incoerência (ao menos, uma incoerência aparente, até que novos e pormenorizados esclarecimentos possam vir a ser exibidos) entre as fontes mais antigas acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec” e o “Codex Caratacensis”, posto sob a guarda de Pierre-Gaëtan Leymarie. Encontro-me extremamente curioso para ter em mãos o conteúdo de tal documento, bem como todos os dados pertinentes a ele referentes.

    7) A origem do nome “Allan”, e a Invasão Normanda da Inglaterra:

    Apesar de suas observações, sr. Lara, não é correto dizer que o nome “Alan” surja apenas na Escócia, a partir da invasão normanda, i.e., a partir dos séculos XI-XII dC. O nome “Alan” tanto quanto se pôde averiguar, já era comum na Bretanha bem antes disso, quase certamente por influência de Santo Alan, bispo de Quimper, originário das ilhas Britânicas (quer de Gales, quer da Cornualha), que deve ter vivido no séc. VI ou VII dC; e é também conhecido, sob inúmeras variantes, em Gales, na Irlanda e na Escócia. Não é atestado, como nome, na época gaulesa, apresentando-se como uma variante posterior, medieval. De qualquer modo, mesmo que se queira ignorar o testemunho de Santo Alan de Quimper (cuja vida foi, como a de muitos outros bispos e monges daquela época conturbada, sufocada pela lenda), “Alan”, mesmo assim, foi o nome utilizado por pelo menos três governantes (duques) da Bretanha, ANTES da invasão normanda da Inglaterra, e mesmo ANTES de qualquer incursão “viking” na própria Bretanha. Eles foram: Alan I, o Grande (duque 876-907 dC; após a sua morte, as incursões “vikings” inundaram o país, e os nórdicos o dominaram), Alan II Verveg, i.e., “o barbudo”, neto de Alan I (duque 938-952 dC, e que terminou com o domínio “viking” de 30 anos na Bretanha) e Alan III (duque 1008-1040 dC). Portanto, “Alan” (e suas variantes) é um nome CELTA (embora não atestado na época gaulesa), mais especificamente insular, levado à Bretanha junto com as migrações britânicas dos sécs. V-VII dC, e lá comum (talvez por influência de Santo Alan de Quimper) ANTES das incursões “vikings”, e BEM ANTES da invasão normanda da Inglaterra (que ocorreu em 1066 dC, sob o duque da Normandia Guilherme, o Conquistador).

    Considerações sobre o nome “Kardec”, sobre o elemento “Kar (“Car”) e sobre o (pretenso) patronímico “-rix”:

    O sr., sr. Lara, assevera que o nome “Kardec” é de origem germânica. Seria interessante que pudesse esclarecer quais as bases que tem para afirmar isso. O nome “Kardec” é uma variante (como outras tantas variações dialetais) do nome bretão “Caradec” (e do galês “Caratauc”, depois “Caradoc” e “Caradog”), ligado a vários santos, como detalhado em meu ensaio; comum no país de Gales (e daí na Bretanha), remonta a um original especificamente gaulês, “Caratacos”, forma adjetivada a partir da raiz “caru”, ou “caro”, ou “caranto” (“amar”; daí, “amigo”, ou “amado”). A primeira (e mais famosa) atestação do nome ocorre com o rei britânico dos Catuvelaunos (citado em meu ensaio), Carataco, filho de Cunobelino, neto de Tasciovano – sua memória, e sua genealogia, permaneceu viva no país de Gales mesmo até à Alta Idade Média, conforme o testemunho, em velho galês, da expressão “Caratauc map Cinbelin map Teubant” (justamente: “Carataco, filho de Cunobelino [Cimbelino], filho de Tasciovano). Não há absolutamente nada de “germânico”, muito menos de “viking”, nisso. Mas, vamos às fontes, então…

    Origem do nome galês “Caradog”: “the common Welsh man’s name Caradog is derived from the attested Old Celtic Caratacos” (“Celtic Culture – A Historical Encyclopaedia”, John T. Koch Editor, ABC-Clio, vol. I, pág. 343, s.v. “Caradog of Llancarfan”)

    Continuidade do conhecimento de “Carataco” e sua genealogia, bem como da difusão do nome: “The name Caratacos […] is Celtic, an adjectival formation based on the Celtic verbal root ‘kara-’, ‘love’ […] The name is repeatedly attested in the early Middle Ages as Old Welsh Caratauc and Old Breton Caratoc. […] The genealogy of Caratacos was preserved in Wales in the early Middle Ages; thus Old Welsh ‘Caratauc map Cinbelin map Teubant’ recollects the historical Caratacus (died AD 58) son of Cunobelinos (died c. AD 41) son of Tasciovanos (died c. AD 10)” (idem, pág. 343, s.v. “Caratacos”).

    Etimologia do nome, biografia de Carataco: pode-se consultar o endereço a seguir, http://encyclopedie.arbre-celtique.com/caratacos-2510.htm.

    Ligação entre “Caradec” e “Caradoc”: e também exemplos de uso recente na antroponímia e na toponímia BRETÃS: http://fr.wikipedia.org/wiki/Caradec.

    Não me parece, assim, sr. Lara, minimamente defensável a tese de que “Kardec” seja um nome germânico. E, adicionalmente, sua observação de que “caso Kardec fosse mesmo de origem gaulesa, o nome seria necessariamente ‘Carderix’ ou ‘Karderix’, porque o sufixo ‘-rix’ era usado pelos gauleses como parte de seu patronímico” é absolutamente desprovida de sentido. Inicialmente, porque “rix” (ou “rigo”) não é um sufixo, mas sim uma raiz, e significa “rei”, “chefe”, “líder”. Entrava na composição de vários nomes gauleses, mas não era um patronímico; e nem todos os nomes gauleses terminavam em “rix”. Aqui mesmo já se mostraram exemplos: Carataco, Cunobelino, Tasciovano… E há muitos outros, como Divicíaco, Cogidubno, Catumando, etc. Todos eles atestados historicamente.

    Para a explicação etimológica da raiz “rix”: e vários exemplos de seu uso em nomes gauleses, q.v. http://encyclopedie.arbre-celtique.com/rix-rigo-roi-chef-riche-278.htm.

    “Carderix”, ou “Karderix”, não passa de fantasia, bem como “Asterix”, “Obelix”, “Panoramix”, “Ordenalfabetix”, e outras tantas personagens. O fato de que o sufixo “rix” era muito utilizado como elemento formador de nomes, entre os gauleses, fez com que, nas histórias em quadrinhos de “Asterix”, ele fosse utilizado como uma “marca”, por assim dizer, para os nomes “gauleses”…

    Enfim, especificamente quanto aos nomes “celtas” que se iniciam com “Kar-“, ou “Car-”, eles podem ter várias origens. Na língua portuguesa, p.ex., “carroça” e “cardíaco” são palavras que, ambas, começam por “car-”, e nem por isso seria correto dizer que têm uma mesma origem. Muitos dos nomes, principalmente topônimos, no país de Gales, ou mesmo na Bretanha, que se iniciam por “Car-“ ou “Caer-“, com suas variantes “Cairn-“, “Carn-”, “Ker-”, “Kern-”, etc., traem, na verdade, um empréstimo do baixo latim “castrum” (“forte”, “povoação fortificada”; por derivação, “monte de pedras”) – mas não todos (cf. p.ex. “A History of Wales”, John Davies, Penguin Books, pág. 38). O grande campo megalítico de “Carnac” significa, justamente, “lugar onde há um monte de pedras” (“Karn” + “eg”). Mas não é esse o caso de “Caradec” (e, portanto, de Kardec”); a origem, aí, liga-se a “amar”, não a “fortificações”, ou “pedras”…

    Tais eram, bem resumidamente, sr. Eugênio Lara, as considerações que julgava pertinentes traçar acerca de seus utilíssimos e bem-vindos comentários. Fico no aguardo de seu oportuno retorno acerca dos dois itens já comentados: a) do texto original em língua francesa, e tão completo quanto possível, acerca da origem do pseudônimo “Allan Kardec”, que consta no “Le Spiritisme” de 1888; e b) de todas as informações pertinentes, conforme solicitadas, a respeito do tão importante documento, da tão fundamental fonte, o “Codex Caratacensis”. Antecipadamente lhe agradeço toda a atenção e todo o esforço. Com minhas mais cordiais saudações,

    José Carlos Ferreira Fernandes.

  25. Marcelo Esteves Diz:

    Na relação das obras de Gabriel Delanne, consta o livro “Le Spiritisme devant la Science (O Espiritismo perante a Ciência)”, publicado em 1885.
    .
    Saudações

  26. Marcelo Esteves Diz:

    Do ano de 1888, encontrei este “Etude Sur Le Spiritisme: Son Histoire Et Son Etat Actuel, obra em dois volumes, escritas por Eugene Lenoir.
    .
    Saudações

  27. Contra o chiquismo Diz:

    Grato, Toffo.

    Mas, e CX? Morreu pobre mesmo?

    Diviado Frango? É pobrezinho tb? E dá marcha ré?

    Raul Teixeira-xeira? Dá marcha ré tb? Imita o Diviado descaradamente… será que é pobre?

    Espiritismo dá dinheiro ou não?

  28. Marcelo Esteves Diz:

    Existiu um jornal publicado por Dellane, a partir março de 1883, chamado “Le Spiritisme”. Em uma nota de rodapé na página 223 de “Laboratories of Faith”, há menção ao número 6 do “Le Spiritisme”, publicado em 1888!
    .
    http://books.google.com.br/books?id=8U6EOBjlCXMC&pg=PA223&lpg=PA223&dq=Le+Spiritisme+1888&source=bl&ots=2nPoDI2PjF&sig=2xmlxGVEDjIVxTLvTiQJeOlGisw&hl=pt-BR&sa=X&ei=9wwYUMGQN4Lq8wTZroD4Dg&sqi=2&ved=0CGcQ6AEwCA#v=onepage&q=Le%20Spiritisme%201888&f=false
    .
    Será que encontramos o cara?
    .
    Saudações

  29. mrh Diz:

    Muitubão;
    .
    1 amigo meu, médiko e espírita, afiançou-me q a doença q matou Kardec ocorre em 2 circunstâncias: a) genétika, e mataokara a qquer momento da vidha e; b) sintoma d sífilis avançada, e pega o kabra alí por onde Kardeck se foi-se.
    .
    1 tema interessante, ñ?

  30. mrh Diz:

    Prontos p/ exumar o kabrasérioebigodudo?

  31. Marcelo Esteves Diz:

    Com um terrível acento inglês, a mulher, sem se importar com o exame de que era objeto, falava repetidamente a Gabriel Delanne, cada vez mais espantado, que ela desejava fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo.
    .
    Mas, senhora, respondi, é preciso dinheiro, porque isso custa caro.Então, levantando-se, a mulher se dirigiu, com um passo pesado para a mala que Gabriel havia visto ao entrar.Ela a abriu, apanhou um maço de velhos papéis e retirou no meio uma enorme pasta de couro.De uma das bolsas ela tirou cinco notas de mil francos que colocou tranqüilamente diante de Delanne. Aqui está, disse ela, para as primeiras despesas. Eu me arranjarei depois para lhe fornecer o que for necessário.
    .
    Aceita redigir o jornal? Gabriel Delanne, espantado, não se decidia a responder.- Vamos, diga! Tornou ela, vivamente.- Sim, articulou enfim Delanne, e lhe agradeço, senhora, pelo interesse que parece ter pela difusão do Espiritismo.- Não me agradeça. Logo que estiver preparado o 1° número,trate de imprimi-lo e volte a me ver. Prosseguiremos juntos na propaganda em favor do Espiritismo. Depois, levantando-se, sempre bruscamente, deu a entender que a entrevista terminara.
    .
    E foi assim que, graças à generosa inglesa, que não era outra se não a Sra. D’Espérance, ainda desconhecida na França, nessa época, a revista Le Spiritisme veio a lume. Gabriel Delanne gostava de contar a seus íntimos essa história.Ele conservou, por toda a vida, a maior admiração por aquela que foi, um pouco mais tarde, uma admirável médium e que se tornou um dos pioneiros do Espiritismo Kardecista.
    .
    Nós lhe rendemos aqui uma calorosa homenagem. No mês de março de 1883, saiu o primeiro número do jornal Le Spiritisme.

  32. Marcelo Esteves Diz:

    Em março de 1883, quando foi publicado o primeiro número de uma nova revista bimensal, intitulada Le Spiritisme, Gabriel Delanne que estava entre os colaboradores dessa publicação, passou logo a ser seu redator geral.
    .
    […]
    Os verdadeiros animadores da União Espírita Francesa e da Revista Le Spiritisme eram Alexandre e Gabriel Delanne.Graças a uma propaganda incansável e habilidosa,dissiparam bastantes prevenções e incompreensões que ainda existiam no interior contra o Espiritismo. A Sra. Alexandre Delanne era também colaboradora de seu marido e de seu filho e a verdadeira tesoureira da Federação.Todas as assinaturas da revista ficavam sob seus cuidados.
    .
    A sede do jornal Le Spiritisme foi, inicialmente, na Passage Choiseul, 39 e 41; depois, sucessivamente, Passage Choiseul, 62 e Rua Delayrac, 38, onde a família Delanne havia fundado um Grupo Espírita.
    .
    Fonte dos dois últimos comentários:
    http://pt.scribd.com/doc/3883686/Gabriel-Delanne-A-Vida-e-as-Obras

  33. Vitor Diz:

    Oi, Phelippe,
    o título era o do link do post. Uma brincadeira com o significado do nome Allan.

  34. Phelippe Diz:

    Muito obrigado Vitor. Não tinha visto. Rs.

  35. Gorducho Diz:

    Tentei localizar a revista na BnF porém não achei nada.

  36. Marden Diz:

    Vitor,
    .
    Escrevi um comentário para o senhor Montalvão (caso Sulivan), mas como contém alguns links está aguardando a sua moderação.

  37. Fábio Diz:

    Que pena Vitor….

    Uma das coisas que eu mais admirava neste blog era a liberdade de expressao. Agora, por qualquer coisa vc simplesmente barra a mensagem. Voce apagou minha ultima mensagem SÓ porque eu disse que vc nao é levado a sério? O Sr. JCFF ataca o espiritismo e eu tbm nao posso atacar o catolicismo?

    Qual que é o problema….vc ta barrando todo mundo pensando que é o Scur?

  38. Marcos Diz:

    Vitor, por que o titulo do artigo foi alterado?

  39. Marciano Diz:

    Respondo pelo Vitor: porque tinha o significado de Alan e muita gente não gostou da brincadeira.

  40. Vitor Diz:

    Isso aí! Mas também para referências futuras era melhor mudar o título do post.

  41. Marcos Diz:

    Ah, sim! Valeu Marciano.
    .
    Mas Vitor, pouco científico aquele título, não acha? Assustei quando entrei no blog e li o título do artigo. Acho válido, mas como falei, se estamos preocupados em fazer ciência séria, esse tipo de coisa não pode existir.

  42. Vitor Diz:

    Oi, Marcos
    o título não tinha mesmo a mínima intenção de ser científico. Meu objetivo era chocar mesmo, chamar atenção. Mas admito que exagerei 😀

  43. Vitor Diz:

    Caro Fábio,
    .
    sua mensagem não foi aprovada porque o tema não diz respeito a qualquer coisa no blog. Não é objetivo deste blog atacar o catolicismo, assim como não é objetivo no blog mensagens de receitas culinárias. Embora eu esteja cerceando a “liberdade de expressão”, isso é para evitar o “flood” (ou algo semelhante ao flood):
    .
    “Flood” é um termo em inglês que significa “encher” ou “inundar”, mas na internet ele é usado para designar uma atitude bem irritante. Virtualmente, a palavra virou uma expressão para definir o ato de postar informações sem sentido ou finalidade nenhuma, de modo que uma ou mais pessoas sejam prejudicadas.
    .
    No caso o que você fez não é bem flood, pois você fez perguntas, mas que fogem aos objetivos ou tema ou finalidade do blog. Aqui não é espaço para se discutir catolicismo. Da mesma forma, se você quisesse discutir culinária no blog, eu também vetaria. Espero que entenda.
    .
    Um abraço.

  44. Gilberto Diz:

    Perdi. Qual era o título anterior que causou tanto furor?

  45. Marcelo Esteves Diz:

    Vitor
    .
    Para você não parecer autoritário ( sem o ser, porque lhe conheço há bons e produtivos anos), seria útil publicar um texto sobre a linha editorial do blog.
    .
    O “Obras” é um espaço privado e tanto pode – como deve – possuir regras. O problema é que tem muita gente que acredita que a web – por si só – é um espaço “público”.
    .
    PORRA! Eu escolho a dedo as pessoas que frequentam minha casa, NÃO ATENDO TELEFONEMAS que não estejam catalogados no meu fixo ou no meu celular. Faço de tudo para ser um anônimo (passar batido), e até minha conexão na web tem umas macumbas necessárias.
    .
    Acredito que a época do “Vitor tolerante” acabou. Não alimente os trolls, não ceda o espaço do “Obras” para parasitas proselitistas. SEJA MAIS MALICIOSO, no bom sentido. Seu blog ganha visibilidade e muitos oportunistas tentarão tirar proveito disto. Não troque sapiência por audiência. Continue preservando sua humildade.
    .
    Afinal (aí vem o ateísmo), não faz a menor diferença se você crê “na coisa certa” ou não. Vamos todos voltar a ser pó de estrelas. O que faz a diferença é sermos coerentes com aquilo que pensamos e SENTIMOS!
    .
    Forte abraço!

  46. Marcos Diz:

    Gilberto, dá uma olhada no link do post. Você vai descobrir!

  47. Sandro Diz:

    Gostaria de parabenizar o site pelo grande acervo crítico a respeito do cristianismo/espiritismo e afins. É realmente importante a análise crítica, ainda que não concordo com a linha um tanto cética desenvolvida aqui. Mas penso que é um debate mais interessante e inteligente do quê se é acostumado a ver, como de Padre Quevedo, ateistas e alguns “doutores” da Bíblia, etc.

    Entretanto, eu pergunto: Por quê também não mostrar fatos concordantes e observáveis desta matéria?
    Por exemplo: Na literatura espírita, há fatos revelados que vieram a ser certificados como corretos?

    Neste sentido, CX há havia escrito que Jesus falava aramaico, afirmação que veio a ser confirmada pela pesquisa histórica.

    As datas citadas no livro “Paulo e Estevão” são confirmadas pelo téologo Harold W. Hoehner ?

    De toda forma, parabéns aos colaboradores do blog!

  48. Marcelo Esteves Diz:

    Fiz mais algumas pesquisas, espero que ajudem:
    .
    A versão de Japhet:
    .
    Como sabemos Denizard Rivail, homem do século XIX, teria vivido na pele do druida Allan Kardec na época de Cristo. De acordo com a entrevista dada pela médium Japhet a Alexandre Aksakof em 1875 esta revelação foi feita por meio dela e do médium Roze, futuro colaborador na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
    .
    http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2009/12/as-reencarnacoes-de-kardec.html

    ************
    A versão de Anna Blackwell, tradutora do LE para o Inglês:
    .
    […] não obstante todos sabermos da origem druída de seu nome, a sra. Anna Blackwell, amiga pessoal do codificador e tradutora de algumas de suas obras ao inglês, ao prefaciar, em 1875, sua tradução de O Livro dos Espíritos, afirmou que ‘Allan Kardec’ era um nome bretão da família de sua mãe.”
    .
    http://forcadaluz.pro.br/receitas/alan_kardec.html

    *******************
    A versão Baudin, por Canuto de Abreu.
    .
    — UMA NOITE, INESPERADAMENTE, disse-nos ZEPHYR: — “Vocês irão brevemente para Paris. BAUDIN arrumará os seus negócios; Emile entrará na Escola Naval; Caroline e Julie tomarão professoras mais competentes e… encontrarão seus noivos; e, eu, ZEPHYR, procurarei contato com um velho amigo e chefe desde o ‘nosso’ tempo de Druidas”.
    .
    “Vamos ter afinal o convívio de nosso velho Chefe Druídico”. Perguntei ao Espírito: — “Aquele que Você esperava encontrar em Paris”. Resposta: — “Sim, ele mesmo, em pessoa. Você vai trazê-lo aqui. Caroline vai atraí-lo…”. Nosso guia gostava de pilheriar. Supusemos que seria ali ‘pretendente’ da Menina. Insisti: “Pode anunciar-me nome dele para meu governo?”. E o ‘Roc’ escreveu, destacando, sílaba por silaba, entre hífens: “AL-LAN –KAR-DEC” O nome era tão estranho que continuamos a duvidar da seriedade da comunicação. Por isso, perguntei: — “Arabismo ou pilhéria?”. Resposta: “A Verdade”
    .
    ZEPHYR, porém, respondeu ter feito uma saudação respeitosa, a um verdadeiro pontífice, pois RIVAIL, havia sido, no tempo de Júlio CÉSAR, um chefe druídico. Isso fez minha família simpatizar prontamente com o Professor, visto como, também nós, segundo ZÉPHYR, havíamos vivido na Gália naquela mesma época e eu fui druidesa..
    .
    O Livro Dos Espíritos E Sua Tradição Histórica E Lendária
    Canuto Abreu
    http://pt.scribd.com/doc/6675583/O-Livro-Dos-Espiritos-E-Sua-Tradicao-Historica-E-Lendaria

    *******************
    A versão de Henri Sausse em sua biografia de Kardec.
    .
    Uma noite, seu Espírito protetor, Z., deu-lhe, por um médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido em uma precedente existência, quando, ao tempo dos Druidas, viviam juntos nas Gálias. Ele se chamava, então, Allan Kardec, e, como a amizade que lhe havia votado só fazia aumentar, prometia-lhe esse Espírito secundá-lo na tarefa muito importante a que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo.
    .
    http://www.espirito.org.br/portal/doutrina/kardec/biografia-kardec-henri-sausse.html

    *******************
    A versão de León Denis, no livro O Gênio Céltico o Mundo Invisível
    .
    “Temos como missão agrupar os verdadeiros Celtas que são a própria essência da França. Posso falar-vos disso, porque eu mesmo vivi na Bretanha, fui Druida em Huelgoat. Mais tarde, à beira do mar, por um favor insigne, senti as forças emanadas do círculo superior e a minha fé tornou-se viva e forte, seguiu-me nas
    minhas existências ulteriores, até àquela onde me haveis conhecido.” (mensagem de Kardec)
    .
    E seguem, ao final do livro, dezenas de mensagens de Kardec exaltando o Celtismo.
    .
    Saudações

    http://bvespirita.com/O%20G%C3%AAnio%20C%C3%A9ltico%20e%20o%20Mundo%20Invis%C3%ADvel%20(L%C3%A9on%20Denis).pdf

  49. Marcos Arduin Diz:

    Que me desculpe os que gastaram tanto dedo para escrever o cabedal acima, mas não me dispus a lê-lo detidamente. Dei só uma corrida de olhos, de forma que se já tiver sido comentado, então deixem pra lá.
    .
    Um espírito qualquer, dizer ao Hypollite Rivail que ele foi algum druida Allan Kardec em tempos idos e passados na Bretanha é tão significativo quanto dizer que tivesse sido Luís XIV, Jan Russ, ou algum santo católico. Se sugeriu aquele pseudônimo e ele aceitou, fim de papo. Querer saber se teria sido possível é um exercício de maluquice que eu nunca faria…
    .
    Salvo engano, no julgamento de Leymarie, o juiz teria dito que Allan Kardec era o nome de uma uma FAMOSA(?) floresta lá da Bretanha. Saberia o Zé Carlos, o nosso historiador, dizer se há algum mapa francês antigo que traga a localização e nome dessa dita floresta?

  50. Toffo Diz:

    Gostaria de saber do JCFF o seguinte: em determinado trecho do seu texto, ele diz o seguinte: “Na resposta de Anna Blackwell a esse artigo de Aksakov, ela não alude a nada referente à origem do nome Kardec, mas, incidentalmente, reforça o fato de que os dados biográficos que fez constar no prefácio à sua tradução de “O Livro dos Espíritos” eram fidedignos: originavam-se tanto de suas próprias memórias quanto de averiguações efetuadas junto à viúva de Kardec, bem como junto a “seus amigos mais íntimos” (ao contrário de Aksakov, o qual, além de não ter convivido nem com Kardec e nem com seus amigos, havia se valido apenas das declarações da ressentida Celina Japhet).”

    Por que Célina Japhet seria “ressentida”? Houve alguma dissensão entre ela e Kardec? Ela trabalhou tanto tempo com ele, mas não tenho notícias de que tenha havido algum desentendimento entre eles.

  51. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Esteves:

    Todas as versões, exceto a de Léon Denis (referente a pretensas mensagens “post-mortem” do próprio Kardec) encontram-se na versão “integral” de minha pesquisa. Com a ajuda do sr. Eugênio Lara, detalharei mais a referente ao “Le Spiritisme” de 1888, bem como a obtida a partir de Canuto de Abreu (“Codex Caratacensis” – essa parte é extremamente interessante, muito mais do que eu supunha, e procurarei desencavar tudo o que puder encontrar).

    Sr. Toffo:

    O ressentimento da médium Japhet ligava-se ao fato de que (segundo ela) boa parte d’ “O Livro dos Espíritos” havia sido obtido a partir de sua mediunidade, e que, após utilizá-la para tal, Rivail (e o movimento espírita parisiense) a teria virtualmente descartado. Isso consta na pesquisa do Conselheiro Aksakov (1875), e pode ser verificado no texto integral de minha pesquisa.

    Sr. Arduin:

    Ignoro completamente isso. Mas procurarei pesquisar. “Allan Kardec”, ou melhor, “Alan Kardec” (com apenas um “l”) é um nome bretão (moderno) viável, “Alan” como prenome e “Kardec” como uma forma de “Caradec”, nome de família. Acho um pouco estranho que haja na Bretanha uma floresta (ainda mais “famosa”), ou qualquer outro toponímio, assim designado. Contudo, há lugares na Bretanha chamados “Saint Caradec”, pois houve, na Idade Média, santos com esse nome (isso pode ser visto no texto integral de minha pesquisa). Uma é Saint-Caradec-Trégomel (http://fr.wikipedia.org/wiki/Saint-Caradec-Tr%C3%A9gomel), outra é Saint-Caradec em Côtes d’Armor (http://fr.wikipedia.org/wiki/Saint-Caradec). Mas vou pesquisar a respeito.

    Sds,

    JCFF.

  52. Gorducho Diz:

    Sr. Toffo: segundo ela, o Hipólito escanteara-a; tem a ver c/os famosos 50 cadernos, e direitos autorais, claro. O Honorável AA estava pesquisando de onde o Hipólito tirara o dogma da reencarnação (imagino que ele não conhecia as obras dos Socialistas Utópicos), e para sua surpresa encontrou a Ruth-Céline bem viva na Rue des Enfants Rouges, G.
    During my stay in Paris in 1873, I explained to a Spiritualistic friend my regret that I had never met this somnambulist in life, to which he replied that he had also heard that she was dead, but he doubted whether the rumour was true; also that he had reason to suppose that this was nothing but a rumour spread abroad by the Spiritists, and that it would be well if I made further personal inquiry. He gave me a former address of Mme. Japhet, and what was my astonishment and joy to find her in perfect health! When I told her of my surprise, she replied that it was nothing new to her, for the Spiritists were actually making her pass for a dead person.
    E ela contou-lhe:
    After the publication of the Book of Spirits, of which Kardec did not even present one copy to Madame Japhet, he quitted the circle and arranged another in his own house, M. Roze being the medium. When he thus left he possessed a mass of manuscript which he had carried off from the house of Madame Japhet, and he availed himself of the right of an editor by never giving it back again. To the numerous requests for its return which were made to him, he contented himself by replying, “Let her go to law with me.” These manuscripts were to some extent useful in the compilation of the Book of Mediums, of which all the contents, so says Madame Japhet, had been obtained through medial communications.
    O relato está reproduzido na PSYPIONEER, Nov. 2008
    http://www.woodlandway.org/PDF/PP4.11November08..pdf

  53. Jurubeba Diz:

    Vitor,
    esse é só um teste pra ver se alguns códigos html são aceitos. Se aparecer um texto maluco abaixo, desconsidere e pode excluir.

    primeiro
    segundo
    terceiro

    primeiro
    segundo
    terceiro

    primeiro
    segundo
    terceiro

    primeiro
    segundo
    terceiro

  54. Marcelo Esteves Diz:

    José Carlos
    .
    Publiquei as referências acima para, digamos, fornecer uma comprovação “independente” à sua pesquisa, sem, contudo, ter a pretensão da precisão com que realiza a sua.
    .
    Torço para que você e o Lara consigam descascar este abacaxi. 🙂
    .
    Desejo-lhes sucesso.
    .
    Saudações

  55. Toffo Diz:

    Pessoal, não precisa me chamar de “senhor”. Concedo a Vossas Senhorias o tratamento informal que me é dispensado pela maioria das pessoas. O formalismo excessivo atrapalha as relações interpessoais.

    Eu não sabia o desfecho a respeito da senhorita (e não senhora) Japhet – na França, as mulheres solteiras, tenham elas 90 anos, são sempre ‘mademoiselles’. Mas não é de me espantar. John Monroe informa que Kardec (e não Rivail) botou para escanteio uma porção de médiuns, cujas comunicações, aparentemente, não haviam passado pelo “crivo da razão” (dele); e, também, podou alguns outros tantos que se lhe afiguravam mais “saidinhos”, porque para o Chefe o médium devia conhecer o seu devido lugar. Isso criou, é claro, ressentimentos e defecções na Société Parisienne, mas como ‘chef d’orchestre’ o maestro entendeu que o show devia continuar. Por isso eu entendo como – apesar de ser autoconsiderada uma doutrina “democrática” – o espiritismo tem essa raiz tão autoritária. Mais um motivo para me entristecer por ter sido enganado por tantos e tantos anos.

  56. Gorducho Diz:

    (…) senhorita (e não senhora) Japhet – na França, as mulheres solteiras, tenham elas 90 anos, são sempre ‘mademoiselles’.
    Em
    http://chicoxaviernuncafoiallankardec.blogspot.com.br/2010/05/chico-xavier-foi-ruth-celine-japhet.html
    informa LUCIANO DOS ANJOS
    Rio, 5.5.2010
    sobre a Ruth-Céline Bequet sobriquet Japhet:
    Allan Kardec explica, sucintamente, sem entrar em detalhes, que, pelos fins de 1857, as duas Baudin se casaram, as reuniões cessaram e a família se dispersou. Ruth-Céline, não mencionada, também se casou e, estranhamente, nunca mais se falou delas. Há registros de que, por essa ocasião, pretendeu-se realmente fazer descer sobre a médium Japhet uma cortina de silêncio, (…)
    Também o Honorável AA a trata por Madame Japhet.

  57. Toffo Diz:

    Acabei de ler o artigo de Aksakof a respeito da entrevista dele com Célina Japhet e sobre a questão da reencarnação. Na verdade eu entendo que ele apenas registrou a versão da srta. Japhet. Ele explica, numa rápida pincelada biográfica da médium, que seu nome de família era Bequet, mas por razões pessoais, a partir de certa data, quando começou a atuar como médium profissional, ela trocou o Bequet por Japhet, mas nunca se casou, portanto sempre foi Mademoiselle. Aksakof a chama de Madame, mas como era russo talvez ignorasse essa ‘regra’ francesa. Por outro lado, era comum que as médiuns famosas fossem tratadas por Madame, como até hoje se vê nos anúncios de médiuns e curandeiras que apregoam seus dons em folhetos e santinhos. De qualquer forma, Aksakof apenas registra, a meu ver, a visão de Célina Japhet, além da sua própria indignação por supostamente ter sido “enterrada viva” pelos espíritas. Se isso é realmente verdade, não posso dizer. Mas já vi coisas semelhantes aqui mesmo, em São Paulo, entre espíritas, um meio bastante fértil em intrigas, fofocas, ostracismos injustificados e disputas de poder.

    Sob o estrito ponto de vista da reencarnação, Aksakof aparentemente desconhece toda a filosofia socialista romântica francesa da Segunda República, bem como os filósofos reencarnacionistas mais famosos da época, como Jean Reynaud e Charles Fourier, esses sim – a meu ver – o ponto de partida crucial para o sucesso da tese da reencarnação no espiritismo kardecista. Aksakof parece creditar aos espíritos a autoria dessa tese, com o que eu pessoalmente não concordo. Aqui está a tradução do texto:

    [i]”Retornando à questão da reencarnação. Deixo aos críticos ingleses extrair suas deduções dos fatos que eu tentei deslindar das minhas pesquisas, incompletas como pareçam; nada farei senão lançar as seguintes ideias: de que a propagação dessa doutrina por Kardec ser um assunto de forte predileção é evidente; [b]de que desde o princípio a reencarnação não foi apresentada como objeto de estudo, mas como dogma.[/b] (grifo do tradutor) Para sustentar essa ideia, ele sempre recorreu a médiuns escreventes, que, é bem sabido, ficam muito facilmente sob a influência psicológica de ideias preconcebidas; e o espiritismo as engendrou em profusão; considerando que, embora através de médiuns físicos as comunicações não são apenas mais objetivas, mas também sempre contrárias à doutrina da reencarnação. Kardec adotou a estratégia de sempre desprezar esse tipo de mediunidade, alegando como pré-requisito sua inferioridade moral. Dessa forma, o método experimental é inteiramente desconhecido no espiritismo; por vinte anos ele não fez o menor progresso intrínseco, permanecendo em total ignorância do espiritualismo anglo-americano! Os poucos médiuns de efeitos físicos franceses que desenvolveram suas faculdades a despeito de Kardec jamais foram mencionados por ele na Revue [Spirite]; permaneceram quase desconhecidos para os espíritas, apenas porque seus espíritos não apoiavam a doutrina da reencarnação! Assim Camille Bredif, um médium de efeitos físicos muito bom, ficou célebre apenas em consequência de sua visita a São Petersburgo. Não tenho lembrança de ter visto na Revista Espírita a menor menção a ele, menos ainda qualquer descrição de manifestações produzidas em sua presença. Conhecendo a reputação do Sr. Home, Kardec fez várias propostas para levá-lo para o seu lado; ele teve dois encontros com ele com esse propósito, mas como o Sr. Home lhe disse que os espíritos que se comunicavam por ele nunca endossaram a tese da reencarnação, Kardec desde então o ignorou, dessa maneira desconsiderando o valor das manifestações que eram produzidas em sua presença. Tenho sobre esse assunto uma carta do Sr. Home, embora no momento não esteja ao alcance. Concluindo, não parece necessário destacar que tudo que tenho aqui afirmado não afeta a questão da reencarnação, considerada em seus méritos, mas apenas se ocupa das causa de sua origem e de sua propagação como espiritismo.
    Chateau de Krotofka, Rússia, 24 de julho de 1875.”

  58. Toffo Diz:

    Incrível como os caras distorcem os fatos para exaltar o Chefe! http://chicoxaviernuncafoiallankardec.blogspot.com.br/2010/05/chico-xavier-foi-ruth-celine-japhet.html

    me embrulha o estômago ler essas coisas. Agora, botar o CX como Célina Japhet é hilário! já bastava mostrá-lo como guitarrera espanhola, cheia de salero, agora querem fazer crer que ele foi a senhorita Japhet! Às vezes a vida parece ser mais engraçada do que a ficção! kkkkk

  59. Vital Cruvinel Diz:

    Nos links abaixo vocês encontram as traduções do artigo do Aksakov e das réplicas do Leymarie e da Blackwell.

    http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/03/uma-controversia-em-detalhes.html
    http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/04/uma-controversia-com-anna-blackwell.html
    http://decodificando-livro-espiritos.blogspot.com.br/2010/05/uma-controversia-com-leymarie.html

    Sobre a floresta com nome Kardec há um ensaio sobre a origem do pseudônimo escrito por Cristian Macedo onde, se não me engano, ele mostra um mapa antigo da França com uma floresta chamada Caradec.

  60. Marcos Arduin Diz:

    “Por isso eu entendo como – apesar de ser autoconsiderada uma doutrina “democrática” – o espiritismo tem essa raiz tão autoritária.”
    – Ô, meu pobre Ex-Toffado…
    Está se queixando de autoritarismo? Certo, nem sempre o autoritarismo, especialmente nos nossos tempos politicamente corretos, é considerado coisa boa. Mas seria o democratismo algo sempre muito bom? As duas coisas podem funcionar para bem ou para o mal. Assim é o ser humano.
    .
    Kardec pode ter sido autoritário no propósito de estruturar a doutrina espírita, ou seja, precisava que o conjunto de revelações fossem coerentes com certo ponto de vista. Se não fosse assim, seu trabalho em nada resultaria, pois teria de ficar dizendo sim e não ao mesmo tempo…
    .
    A Federação Espírita Brasileira, fundada por espiritólicos (os rustenistas), precisou montar todo um sistema autoritário para manter seu espirito-catolicismo. Só podiam ser dirigentes dela quem fosse rustenista roxo. Claro que alguém que não fosse de raízes católicas e conhecesse o que disse Kardec logo perceberia que alguma coisa estava errada, mas não tinha como quebrar aquele castelo monolítico. A FEB só perdeu seu rustenismo quando Nestor Massotti assumiu e deu um chega pra lá nos poucos carcomidos que restaram.
    .
    Quer “democracia” no Espiritismo? Pois o sucessor de Kardec, Leymarie, foi MUITO DEMOCRÁTICO. Ele abriu as páginas da Revista Espírita a qualquer babaca esotérico que quisesse escrever suas “abobrinhas” por lá. Então, em vez de ser uma REVISTA ESPÍRITA, virou revista esotérica: figuravam artigos de rustenistas, ocultistas, teosofistas, induístas, budistas e outros istas… Ela se descaracterizou completamente por conta disso. E Leymarie se ferrou todo e arruinou ainda mais a imagem dos espíritas quando publicou as fotos fraudulentas do fotógrafo dos espíritos e acabou processado por isso.
    .
    É… até hoje há que guarde ressentimentos do autoritarismo dentro do Espiritismo atual. Mas qual é? Vamos repetir Leymarie? Já vi numa revista (Época ou Veja) que pessoas deixaram o Espiritismo pois não gostaram do seu dogmatismo. Queriam ver ali coisas mais “evoluídas”, como cristais, cromoterapia, florais de Bach, pirâmides, ou seja, querem que nos tornemos um saco de gatos esotérico.
    .
    Ex-Toffado, infelizmente nessa questão doutrinária, NÃO PODEMOS SER DEMOCRÁTICOS. Doutrina é um amontoado de princípios. Se esses princípios passam a se contradizer entre si, acabou-se a doutrina. A ÚNICA democracia possível neste caso é: CADA UM NA SUA.

  61. Marciano Diz:

    Bom te ver de volta, Arduin.
    Tô sem tempo agora, só quero dizer que nem tanto ao mar nem tanto à terra. In medio virtus, semper.
    Um abraço.

  62. Marcelo Esteves Diz:

    Caro Marcos Arduin
    .
    Concordo com sua visão de “autoritarismo” x “democratismo”. Toda doutrina é delimitada por uma série de assertivas sobre a realidade que devem ser coerentes entre si, ou seja, tem um corpo, um limite, um começo, meio e fim.
    .
    O que percebo na colocação dos comentaristas, aqui, não é a questão de um suposto autoritarismo de Kardec, per si. Mas, ao contrário, até que ponto Kardec estruturou a DE sem levar em consideração questões em aberto, como por exemplo, a própria hipótese da reencarnação.
    .
    Neste caso, não estamos falando, então, da força com que Kardec amarrou o pacote; mas, sim, da “pressa”.
    .
    Cordiais saudações!

  63. Toffo Diz:

    Concordo com vc, Arduin. Tem que se preservar os valores da doutrina etc etc… então é isso: que se admita que a doutrina é dogmática e foi formatada desse jeito, quem não concordar que caia fora. Foi o que eu fiz. Só que faz mais de 100 anos que o espiritismo deixou de dialogar com a sociedade na França justamente por sua dificuldade de se adaptar às novas concepções científicas que vinham sendo abertas, isto é, ao dogmatismo. Kardec fez uma doutrina fechada, amarrada, e ela é assim desde sempre, mas o mundo evoluiu. Aqui no Brasil, assim como aceitam cristais e cromoterapias, aceitam também quaisquer religiões dogmáticas. Você sabe que o Brasil é que nem coração de mãe, sempre tem lugar para mais um, inclusive para doutrinas fossilizadas no século 19. Tem gosto pra tudo.

  64. Gorducho Diz:

    O que percebo na colocação dos comentaristas, aqui, não é a questão de um suposto autoritarismo de Kardec, &c
    Acho que o comportamento do personagem (mítico?) é explicável via:
    F22.0 [297.1] Trastorno delirante

  65. Gorducho Diz:

    Kardec fez uma doutrina fechada, amarrada, e ela é assim desde sempre, &c
    Veja, Sr Toffo, esta preciosidade de OP – “Projeto 1868”, grifos meus:
    Um dos maiores obstáculos que podem entravar a propagação da Doutrina, seria a falta de unidade; o
    único meio de evitá-lo, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é de formulá-la em todas as
    suas partes e até nos mais minuciosos detalhes, com tanta precisão e clareza, que qualquer interpretação
    divergente fosse impossível.

    Aliás, complementando minha proposta de enquadramento da Personagem Kardec, digo que a SEGUNDA PARTE (pg 389 et seq.) de OP é reveladoramente preciosa quanto à psicologia da mesma.

  66. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    “Kardec” é variante de “Caradec”, que é, como já mencionado, um nome (inicialmente um prenome, depois um nome de família) bretão (variantes: Karadeg, Caradeuc, etc.), de origem insular (i.e., britânica, cf. galês Karadog, e variantes), levado à Bretanha pelas migrações dos britano-romanos à Armórica, entre os sécs. V-VII dC. A forma gaulesa (atestada na Britânia) foi “Caratacos”, e foi o nome do famoso réu dos Catuvelaunos. Ao longo da Idade Média, foi o nome de três santos e, como tal, popularizou-se também na toponímia bretã.

    Há pelo menos três topônimos na Bretanha com o uso desse elemento:

    Saint Caradec, no departamento de Côtes d’Armor (cf. http://fr.wikipedia.org/wiki/Saint-Caradec);
    Saint Caradec Trégomel, no departamento de Morbihan (cf. http://fr.wikipedia.org/wiki/Saint-Caradec-Tr%C3%A9gomel);
    Kergaradeg, ou Kergaradec, localidade atualmente colada a Best, no Finistèrre (cf. citação em http://fr.wikipedia.org/wiki/Caradec).

    Pela própria análise dos mapas (na Wikipédia de língua francesa, cf. “links” acima), nota-se que as duas povoações denominadas “Saint Caradec” são próximas, e mais, há, nas regiões entre elas, reservas florestais ainda hoje (Forêt de Branguily, Forêt de La Loude, Forêt de Loudéac, Forêt de Quénécan, Forêt de Lorges) – esses nomes podem ser checados via “Google Maps.

    E, relativamente próxima de Kergaradeg (e de Brest) há justamente o Parque Nacional da Armórica (Parc Naturel Régional d’Armorique) – basta também procurar no “Google Maps”.

    É possível, portanto, que, ao se referir às “florestas de Caradec”, se tivesse em mente quer a região limítrofe entre os atuais departamentos de Côtes d’Armor e de Morbihan, onde há duas localidades com o nome “Saint Caradec”, e onde ainda atualmente há bosques, ou restos de bosques (o que creio ser o mais provável), ou então à região à volta de Brest (também plausível). De qualquer modo, valeria a pena uma pesquisa mais cuidadosa a respeito.

    JCFF.

  67. Marcos Arduin Diz:

    “Mas, ao contrário, até que ponto Kardec estruturou a DE sem levar em consideração questões em aberto, como por exemplo, a própria hipótese da reencarnação.”
    – Mas Esteves, qual é a questão em aberto com relação à reencarnação? Refere-se à querela em que a ele espíritos falaram da dita cuja e entre os anglossaxônicos ela foi “negada”? É isso?
    O nó górdio aqui só poderia ser cortado por uma decisão LÓGICA. Kardec viu que o ensinamento reencarnacionista tem lógica, especialmente nas condições em que lhe foi apresentado: Deus cria o princípio inteligente, ele experimenta a matéria em corpos animais, progressivamente mais aperfeiçoados e com mais capacidades de “tomar decisões”, percorrendo assim desde mundos primitivos a outros mais evoluídos e finalmente atinge a condição em que adquire consciência própria e aí se torna ESPÍRITO. Volta aos mundos inferiores, mas agora reencarna como HUMANO, não mais voltando a encarnar em corpos animais. Segue novamente a escala evolutiva até atingir a condição de espírito puro e aí seu estado é definitivo.
    .
    Muito que bem, entre os anglossaxônicos, ALGUNS espíritos negaram a reencarnação (mas sem nenhuma refutação lógica), outros disseram desconhecê-la (ou seja, não disseram nem sim, nem não) e MAIS FREQUENTEMENTE, os MÉDIUNS rejeitaram a dita cuja. Edgar Cayce tinha nojo dela e ficava horrorizado quando, após sair do transe mediúnico, seus consulentes lhe relatavam que lhes fora revelado que em encarnações passadas haviam sido pessoas assim ou assado…
    .
    Portanto não acho que houve pressa nenhuma da parte do Kardec. Ele apenas viu que a coisa tinha lógica e não viu nenhuma refutação coerente contra ela.
    .
    “Tem que se preservar os valores da doutrina etc etc… então é isso: que se admita que a doutrina é dogmática e foi formatada desse jeito, quem não concordar que caia fora.”
    – Ex-Toffado, existe outra maneira? Ou a doutrina se mantém em suas bases fundamentais, ou então virou OUTRA DOUTRINA, mas não é mais aquela anterior. O FUNDAMENTAL da Doutrina Espírita permanece o mesmo e desconheço algum avanço CIENTÍFICO que a tenha desmentido. Certo, em vista dos conhecimentos científicos da sua época, Kardec associou alguns penduricalhos na tentativa de dar a essa DE um contexto prático. Mas no que se demonstrou estar cientificamente errado, o Espiritismo pôde muito bem deixar lá, sem prejuízo nenhum para a DE.
    .
    De novo na questão do politicamente correto, hoje é feio ser racista. Mas nos tempos de Kardec, ser racista é o que se esperaria de qualquer um afinado com a Ciência, pois essa CONFIRMAVA a superioridade de certas raças contra outras. Kardec até bolou um raciocínio que dentro da lógica científica de sua época seria aplicável ao reencarnacionismo. Em raças “superiores” encarnariam os espíritos mais “adiantados” moral e intelectualmente e o inverso ocorreria nas “raças inferiores”. Só que o tempo cuidou de mostrar que a tão endeusada e sempre certa Ciência estava errada. Ora, se ela está errada, o raciocínio do Kardec também está. E como o próprio Kardec salientou que o Espiritismo deve avançar com a Ciência, então bye bye raciocínio errado de Kardec e Doutrina Espírita segue em frente.
    Algum problema? Tem mais alguma falação aí que demonstre o atraso do Espiritismo além do já trivial?
    .
    “formulá-la em todas as suas partes e até nos mais minuciosos detalhes, ”
    – Sem querer ser chato, Balofo, o Obras Póstumas, como o nome diz, foi uma compilação de escritos que Kardec deixou inéditos (talvez ainda pretendesse revisá-los antes de lhes dar publicidade) e que foi publicado por seu sucessor. Kardec poderia imaginar isso, mas a REALIDADE da situação é que tal proposição seria impraticável. Ainda vivo, Kardec viu seu conterrâneo Rustaing usar da Doutrina Espírita para divulgar seu Espiritocatolicismo. Talvez por isso sentisse a necessidade de tal proposição. Mas se pensou em montar alguma obra com o “canon” do Espiritismo, não chegou a fazê-lo. E de resto, não foi necessário.
    .
    Roustaing prevaleceu apenas na “zelites” febeanas e apesar dos esforços destas, não teve penetração no restante dos centros espíritas. A FEB até fazia ameaças a entidades federadas se estas pusessem obstáculos à divulgação de Roustaing, mas na prática nunca fez nada a esse respeito.
    .
    É isso.

  68. Marcelo Esteves Diz:

    Marcos Arduin
    .
    Entendi seu ponto de vista, mas devemos lembrar que nem tudo o que é lógico ou faz sentido é verdadeiro.
    .
    Até onde sei, a hipótese da reencarnação estava – grosso modo – polarizada entre efeitos físicos e psicografia. As revelações feitas por médiuns de efeitos físicos negavam a reencarnação. As revelações feitas pelos médiuns de Kardec a afirmavam.
    .
    Muitos pesquisadores da época davam mais valor às revelações de efeitos físicos, pois até onde podiam enxergar, consideravam-nas menos propensas às “sugestões” de um codificador.
    .
    De toda forma, Arduin, por mais que fosse lógico PARA Kardec, a reencarnação era – e continuou a ser por um bom tempo – uma questão que colocou Espiritualistas de um lado e Espíritas de outro.
    .
    Kardec assumiu a posição que lhe pareceu a mais sensata, lógica, corroborada, etc. Mas frente à importância da questão, acho que foi apressado.
    .
    Cordiais saudações

  69. Gorducho Diz:

    O nó górdio aqui só poderia ser cortado por uma decisão LÓGICA. Kardec viu que o ensinamento reencarnacionista tem lógica, (…)Ele apenas viu que a coisa tinha lógica e não viu nenhuma refutação coerente contra ela.
    Exato, é isso mesmo que o Kardecismo é: Metafísica (Teologia) Escolástica “enfeitada”.

    O FUNDAMENTAL da Doutrina Espírita permanece o mesmo e desconheço algum avanço CIENTÍFICO que a tenha desmentido.
    Exato, Teologia é uma Disciplina indesmentível, por definição.
    “formulá-la em todas as suas partes e até nos mais minuciosos detalhes, ” &c.
    OP SEGUNDA PARTE é espantosamente reveladora no que tange à psicologia da personagem AK (o Sr. JCFF ainda não apresentou o laudo concluindo se é mítica ou não, portanto isso fica em suspenso por enquanto).

    Roustaing prevaleceu apenas na “zelites” febeanas e apesar dos esforços destas, não teve penetração no restante dos centros espíritas. A FEB até fazia ameaças a entidades federadas se estas pusessem obstáculos à divulgação de Roustaing, mas na prática nunca fez nada a esse respeito.
    Por que os Entes Vaporosos do Kardec seriam mais sábios que os do Roustaing ou que os anglofonos? Quem foi que disse que os docetistas não tinham razão? A ICAR? O Kardec não achava a ICAR “ultrapassada”?

  70. Toffo Diz:

    Arduin, concordo com você mais uma vez de que Kardec admitira a reencarnação por ser lógica. Mas a concordância acaba aqui. Em primeiro lugar, porque nem tudo que é (ou parece) lógico é necessariamente verdadeiro. Mesmo porque não há lógica nem no universo, como a ciência vem demonstrando. A lógica é um instrumento, e não um fim em si. Faço aqui um paralelo dentro do que eu conheço um pouco, que é o processo civil. O processo é um encadeamento lógico de atos, pensado justamente para dar solução a conflitos da maneira mais conveniente e justa. Mas o processo não é um fim em si: é um instrumento para que, através dele, se obtenha uma solução minimamente justa para os conflitos do mundo real. Esse instrumento, é claro, vem sendo aperfeiçoado por gerações, para que fique cada vez mais próximo de uma solução perfeita. Mas é um instrumento, nada mais que isso. No caso do espiritismo, a lógica também funciona como um instrumento para se conseguir soluções ou respostas para questionamentos, mas não é o único, e talvez nem mesmo o mais eficaz, já que a doutrina espírita se diz tratar de “unruly spirits”, isto é, espíritos que não se submetem a regras e, que, dessa forma, não seguem nenhuma lógica. Correto?

    Em segundo lugar, porque existe uma GRAAANDE especulação a respeito da existência da tese da reencarnação entre os espiritualistas franceses, que foram os únicos que a adotaram. E é preciso entender o seguinte: a doutrina da reencarnação passa longe de ser uma revelação de espíritos, como quer a doutrina espírita. Pelo contrário, ela é o corolário de um intenso movimento filosófico e social derivado das correntes de pensamento que vicejaram na França, nas décadas de 20 e 30 do século 19, dentro de uma intensa fermentação social e política naqueles anos turbulentos. Esse entendimento da reencarnação tem raízes eminentemente sociais, no sentido da melhoria das condições de vida e do igualitarismo, principalmente das classes trabalhadoras, que vinha sendo discutido por pensadores e reformistas como Jean Reynaud, Leroux, Enfantin, Charles Fourier, além de outros seguidores das teorias de Saint-Simon e do socialismo romântico, cada um com sua maneira de pensar, uns mais, outros menos ligados à religião. Além disso, nessa época começou um encantamento dos pensadores franceses com a cultura oriental (e a simpatia pela metempsicose e a palingenesia) e com o druidismo, como vetor da formação da pátria francesa, em oposição ao conservadorismo católico. Quer dizer, é um caldo de cultura complexo, no qual Rivail foi criado e do qual participou, e – sem dúvida alguma – foi o determinante para que a doutrina espírita tivesse como pressuposto a existência da reencarnação como fator de melhoria social (coletiva) e individual. Em outras palavras: são ideias, Arduin. Ideias terrenas, levantadas por filósofos, reformadores e ativistas franceses da época, dos quais Rivail é a caixa de ressonância. Os “espíritos superiores” de Kardec nada mais fizeram, no meu entender, do que agir como planetas, refletindo a luz do sol, ecoando tudo isso que fazia parte do patrimônio intelectual da época e, mais particularmente, do patrimônio intelectual de Hyppolite Rivail. É isso.

  71. Gorducho Diz:

    Sr. Toffo, descobri porque o Kardec não convocou S. Tomas como Consultor (se bem me lembro o Sr. levantou isso…). No Terra e Céu pg. 22, falando da estrutura da obra, o Jean Reynaud explica:
    Visando das às controvérsias mais animação e clareza, pareceu vantajoso repartir a matéria entre dois interlocutores; um representando as opiniões acreditadas pela teologia medieval, e particularmente aquelas de S. Tomas e de Bossuet, que podem ser consideradas como as duas autoridades mais comumente invocadas (qui font foi); o outro, armado,sob o nome de filósofo, das liberdades e dos recursos do espírito moderno, coloca os problemas e avança a solução que parecem as mais conformes às inspirações da ciencia e da humanidade.
    Daí a origem da ronha…

  72. Marcos Arduin Diz:

    “Entendi seu ponto de vista, mas devemos lembrar que nem tudo o que é lógico ou faz sentido é verdadeiro.”
    – Sem dúvida, Esteves, mas uma coisa, mesmo MUITO LÓGICA E SENSATA, deixa de ser verdadeira QUANDO PROVADA FALSA. Quer um exemplo?
    .
    Logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo visto milhões de soldados morrerem nas trincheiras, seja atingidos pelos projéteis, sejam pelas terríveis condições de vida, com vermes e ratos comendo-os ainda vivos, etc e tal, certos teóricos viram no avião de bombardeio uma solução definitiva para esse problema. Certo, o avião ainda estava num estágio muito primitivo de tecnologia. Era pouco mais do que um papagaio motorizado, mas já havia mostrado que tinha futuro. Ingleses e alemães lançaram bombas nas cidades inimigas recorrendo a bombardeios improvisados.
    Os teóricos militares ingleses imaginaram isso: aviões armados e blindados, levando pelo menos 1.000 quilos de bombas, percorrendo várias milhas território a dentro do inimigo e jogando essas bombas sobre fábricas, represas, cidades, etc e tal. A destruição das fábricas impediria o inimigo de manter a máquina de guerra. A destruição das cidades levaria a população inimiga ao desespero e a pedir o fim das hostilidades. Enfim, o avião de bombardeiro era a versão aérea do couraçado, com a vantagem sobre esse último de que podia ir adentro do território inimigo e não apenas bombardear o litoral.
    .
    Maravilha, não? Agora milhões de soldados não precisariam mais morrer nas insalubres trincheiras: o avião de bombardeio faria o trabalho deles com muito mais eficiência. Com isso os ingleses criaram a RAF – Royal Air Force, uma força aérea dedicada a essa teoria e que monopolizou os assuntos aeronáuticos britânicos. Umas poucas ações de bombardeio e metralhamento feitas por aviões em aldeias rebeladas nas colônias reforçou a ideia de que o avião de bombardeio era a arma definitiva.
    .
    Veio a Segunda Guerra Mundial e ingleses e americanos puseram a teoria do bombardeio estratégico em prática. Mas ela NUNCA funcionou. Um dos melhores exemplos foi o bombardeio de Schweinfurt, onde se concentravam as fábricas de rolamento da Alemanha. Os rolamentos de esfera eram fundamentais para o esforço de guerra. Só a fuselagem de um Ju-88 usava 1056 rolamentos. Em 1942, a indústria bélica alemã consumiu 9.000.000 de rolamentos. Pensando que a inutilização das fábricas de rolamentos, concentradas naquela cidade, ajudariam a acabar logo a guerra, os americanos fizeram dois grandes bombardeios contra ela. As fábricas foram danificadas, mas mesmo assim os alemães continuaram fazendo a Guerra. A cartada falhou.
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    Os alemães usavam de vários truques para iludir os chefes de bombardeiros. Um deles era manter as fábricas sem os telhados e com o chão coberto de escombros, mas a maquinaria continuava intacta e operando. Vendo a fábrica destruída e não reparada, os bombardeiros ali cessavam… A ÚNICA coisa que realmente parou as fábricas foi a ocupação militar. E aqui a estratégia do bombardeio foi o pior tiro no pé que os Aliados deram em si mesmos: essa tática era CARÍSSIMA. Cada avião de bombardeiro saia por 150.000(avro lancaster), 350.000(B17) ou 500.000(B29) dólares e o treinamento das tripulações era demorado e complicado. E o estresse a que elas era submetido era tanto que cada tripulação era mandada de volta pra casa depois de cumprir 25 missões (vejam lá o filme Menphis Belle, o primeiro que atingiu essa meta – muitos se danaram bem antes disso). Todo o investimento exigido pela manter o bombardeiro estratégico consumiu tantos recursos que, se usados no preparo da invasão da Europa, poderia ter acabado a II Guerra e mais de um ano antes. E mais uma coisa: dos 2.600.000 toneladas de bombas usadas, só 3% acertou os alvos.
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    Então, como você pôde ver, em teoria a coisa parecia uma boa e lógica solução, mas na prática NÃO FUNCIONOU. Não paralisou o esforço de guerra do inimigo, deixou os soldados alemães mais putos da vida ao saberem que seu lar e sua família se foram e não levou o povo ao desespero e a fazer Hitler & Cia Bela caírem fora.
    Esse é um bom exemplo de como uma coisa que pareceu TÃO LÓGICA E SENSATA era na verdade totalmente falsa. E eu continuo no aguardo da demonstração da falsidade da reencarnação, ou ao menos de que ela NÃO TEM LÓGICA.
    .
    É isso.

  73. Marcos Arduin Diz:

    “De toda forma, Arduin, por mais que fosse lógico PARA Kardec, a reencarnação era – e continuou a ser por um bom tempo – uma questão que colocou Espiritualistas de um lado e Espíritas de outro.”
    – E isso é algum problema? Se-lo-ia se ambos os lados se apresentassem como detentores da verdade absoluta, revelada pelos MESMOS ESPÍRITOS SUPERIORES… Mas acho que não foi o caso.
    .
    Tanto o Espiritismo, como o New Spiritualism são doutrinas que têm postulados próprios e cujos reveladores são espíritos EXATAMENTE HUMANOS, sem terem nada de moral e intelectualmente superiores aos nossos humanos comuns. Certo, Kardec, para vender seu peixe, falou em “revisão pelos espíritos superiores”, mas o tempo cuidou de mostrar que tais espíritos não eram tão superiores assim. Nossa! Que tragédia! Acabou o Espiritismo, certo? Errado: a própria forma de estruturação do Espiritismo diz que devemos seguir em frente, progredindo junto com a Ciência. Se algo que foi dito ficou provado errado, então descarta-se ou vira apenas curiosidade histórica e vamos em frente…
    .
    Nós podemos nos dar a esse luxo. Já os cristãos precisam sustentar firmemente as “verdades bíblicas”, mesmo provadas falsas pela Ciência e tudo o mais…

  74. Marcos Arduin Diz:

    “Exato, é isso mesmo que o Kardecismo é: Metafísica (Teologia) Escolástica “enfeitada”.”
    – Tem alguma coisa contra a tal metafísica, Balofo?
    .
    “Exato, Teologia é uma Disciplina indesmentível, por definição.”
    – Ô! Isso é a teologia das religiões cristãs e outras, mas o Espiritismo não é religião e se que o que ele estiver ensinando for desmentido pela Ciência, então nada mais nos resta senão seguir o recomendado por Kardec: _ Se algum ponto do Espiritismo estiver em desacordo com a Ciência, então este ponto deve ser reformulado.
    .
    “Por que os Entes Vaporosos do Kardec seriam mais sábios que os do Roustaing ou que os anglofonos? Quem foi que disse que os docetistas não tinham razão? A ICAR? O Kardec não achava a ICAR “ultrapassada”?”
    – Os docetistas não tinham razão pois os apóstolos, que CONHECERAM o Jesus vivo e o viram depois da morte sabiam as diferenças. Tecnicamente falando, não é possível sustentar uma materialização em ambiente iluminado e portanto o agênere Jesus não teria como existir. Os apóstolos viram que pessoas que não o conheceram foram além da escrita, achado que Jesus seria tão puro que nem corpo de carne (considerada corrupta) ele poderia ter. Mas os apóstolos sabiam que ele teve sim um corpo de carne. Por isso então renegaram tal ensino com a autoridade de testemunhas oculares.
    .
    E o problema com o Roustaing não é só essa balela neodocetista: o seu livro traz muitos absurdos e CONTRADIZ a Doutrina Espírita.

  75. Marcelo Esteves Diz:

    Marcos Arduin
    .
    Vc escreveu: “E eu continuo no aguardo da demonstração da falsidade da reencarnação, ou ao menos de que ela NÃO TEM LÓGICA.”
    .
    Você está invertendo o ônus da prova! São os espíritas que precisam demonstrar a existência da reencarnação, para além de qualquer dúvida razoável.
    .
    Além do mais, como eu poderia – per si – demonstrar a inexistência de algo? O que posso fazer é refutar alegações de existência da reencarnação, mostrando que tais alegações são falsas, insuficientes ou limitadas.
    .
    Para mim, a reencarnação não faz sentido, por vários motivos. Mas o que você alega é que ela é lógica. Bem, eu gostaria que você demonstrasse isso.
    .
    Cordiais saudações

  76. Marcos Arduin Diz:

    “O que posso fazer é refutar alegações de existência da reencarnação, mostrando que tais alegações são falsas, insuficientes ou limitadas.”
    – Então faça isso. E inclua nas suas refutações a falta de lógica da reencarnação. Um exemplo ao qual recorro com frequência é que Pasteur NÃO PROVOU que a Teoria da Geração Espontânea era falsa e sim que aquilo que seus crentes tentavam apresentar como prova de sua validade eram apenas erros de observação.

  77. Gorducho Diz:

    Tem alguma coisa contra a tal metafísica, Balofo?
    Não, até simpatizo bastanta com a disciplina. Porém o perigo é utilizá-la ingenuamente, como fazia o Kardec e fazem agora os Espíritas racionais – seu caso, bem entendido -; i.e., confundir paralogismos de Teologia Racional – elocubrações mentais válidas: é válido, legítimo e bom fazer digressões mentais – com a realidade. Especificamente acima, o Sr intima o Analista Esteves a provar que o Unicórnio Cor-de-Rosa não existe.
    Se bem me lembro, o Sr mencionou que, além de Professor, faz pesquisas, especificamente no ramo da botânica (se não for, ignore, posso estar confundindo c/outra pessoa…). Então (já que gosta tanto da Escolástica), não sabe que pluralitas non est ponenda sine neccesitate?

  78. Gorducho Diz:

    Complementando, exemplifico [LE – Dogma da Reencarnação] : A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se encontram em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão nô-la indica e os Espíritos [francofonos] a ensinam.
    O homem, que tem consciencia da sua inferioridade, haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus (…)

    Lógica Escolástica perfeita: axiomatizada a existencia de um Ente eterno; infinito; imutável; imaterial; único; onipotente; soberanamente justo e bom; decorre da Perfeição(7) a necessidade da Reencarnação. Parafraseando o Edgar Saveney [Um episódio contemporâneo da história do sobrenatural, Revista dos 2 Mundos, set/out’63]: têm-se uma paródia verdadeiramente instrutiva do esforço que tantos cérebros fazem para converter em realidade suas imaginações.
    Aliás até talvez seja um pensamento mais primitivo do que o dos próprios Escolásticos, pois não me lembro deles alegarem “consoladora esperança” como argumentos válidos para as disputationes (?)

  79. Gorducho Diz:

    Não entendi porque: aparentemente os textos saíram todos totalmente em itálico(??)

  80. Vitor Diz:

    Gorducho,
    já consertei!

  81. Marcos Arduin Diz:

    Ah! Balofo é o seguinte:
    1 – Eu não determinei ao Esteves que me provasse a não existência do Unicórnio cor de rosa. Sugeri, se fosse usar desse exemplo, caso cresse que evidências x ou y seriam indícios de prova da existência do tal Unicórnio, que ele então demonstrasse que tais evidências são falhas por tais e quais razões.
    Recorrendo a outro paralelo: os cristãos creem que a presença de conchas de animais marinhos encontradas em altas montanhas são provas de que houve o tal Dilúvio mencionado na Bíblia. Eu digo que nada provam a favor do tal Dilúvio pois essas conchas são encontradas DENTRO das rochas, ou seja, elas são de animais que viveram e foram fossilizadas quando essa montanha era uma PLANÍCIE COSTEIRA. Depois, por processos de subsidência, metamorfização e finalmente movimentos orogenéticos que fizeram aquela antiga planície virar uma montanha, agora encontramos essas conchas nessa região tão alta. Para serem “provas” que evidenciem a ocorrência do dito Dilúvio, elas deveriam ser encontradas nos leitos dos vales, acumuladas como se fossem sambaquis.
    É isso que estou sugerindo ao Esteves, não exatamente um aspecto científico da coisa, mas um raciocínio mais lógico e melhor elaborado, que destrua o outro raciocínio lógico a favor da reencarnação. Sacou?
    .
    Quanto à sua segunda colocação, desculpe-me mas não entendi lhufas a sua salada escolástica. Dá pra ser mais claro em seu raciocínio?

  82. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Arduin,

    Cuidado com as generalizações indevidas. Ao invés de “… os cristãos crêem que a presença de conchas…”, etc., o correto seria “… ALGUNS cristãos crêem que a presença de conchas…”, etc. Aliás, o jesuíta Nicolau Steno (1638-1686), para seu governo, é considerado um dos fundadores da moderna estratigrafia e da moderna geologia (cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Nicolas_Steno).

    Seria o mesmo que dizer que os espíritas [em geral] acreditam na existência de vida inteligente em Marte (inferior à vida inteligente da Terra, segundo os Espíritos Superiores informaram Kardec) e em Júpiter (superior – afinal, até Mozart tinha casa lá…), cf. http://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/esp-ciencia/005/vida-em-outros-mundos.html.

    JCFF.

  83. Marcos Arduin Diz:

    Ô meu caro Zé Historiador…
    Você sabe muito bem que TODAS as generalizações trazem consigo alguma injustiça e as discriminações também. Veja só essa:
    _ Os cristãos acreditam que há três Deuses fazendo o papel de UM (dogma da Trindade).
    Mas os Testemunhas de Jeová vão chiar, dizendo que eles não! Eles creem que há um só Deus, o tal de Jeová (equivalente ao Pai lá da Trindade), que Jesus é um anjo, o primeiro que foi criado (equivalente ao tal Filho) e que o Espírito Santo é a “Força Ativa de Deus”. Eu aqui que conheço alguma coisa mais desse grupo religioso posso dizer que o tal Jeová Deus é o Corpo Governante, que manda e desmanda nos pobres coitados que vêm bater na nossa porta no domingo de manhã, bem na hora da F1…
    .
    Querer separar as coisas tim-tim por tim-tim também é complicado. Como já dizia Oscar Wilde:
    _ Livros que esgotam o assunto esgotam os leitores também!
    .
    Então, meu caro, quando me deparo com alguma generalização do tipo “os espíritas creem que há vida inteligente em Marte”, posso compreender os motivos do autor da dita cuja pelo contexto.
    Se quer ridicularizar o Espiritismo, então não há muito o que dizer: está apenas fazendo uso do seu direito de avacalhar o que acha um erro.
    Se está citando o Kardec, então está falando de um certo contexto histórico, de uma informação que lhe foi passada, mas que o próprio não afiançou como verdade, nem constitui foro de doutrina.
    Se cita o Ramatis, aí já não está generalizando e sim falando de um que falou asneiras demais. Pena que o Carlos Magno não dá mais as caras por aqui e pena que não há um campo “procurar no blog”, pois eu gostaria de saber se ele ainda acredita no que Ramatis disse no seu livro “Vida no Planeta Marte”…
    .
    É isso.

  84. Gorducho Diz:

    Sr JCFF, os espíritas (fiéis da Religião montada pelo Kardec)[em geral] acreditam na existência de vida inteligente em Marte. Apenas as correntes divergem quanto ao adiantamento moral dos Marcianos.
    Segundo a Cosmologia Ortodoxa a humanidade de Marte evoluiu mais rapidamente que a da Terra e desde os pródromos da formação dos seus núcleos sociais, nunca precisou destruir para viver, longe das concepções dos homens terrenos cuja vida não prossegue sem a morte e cujos estômagos estão sempre cheios de vísceras e de virtualhas de outros seres da criação.
    Se bem me lembro (aqui faço esta ressalva), segundo os Kardecistas, a ordem crescente dos Globos é (ORDER BY perfeicao_moral ASC): {Marte; Terra; Mercúrio; Saturno; Lua; Vênus; Juno; Urano; Júpiter}.
    O Sol (Cosmologia Kardecista) não é habitado por sêres encarnados. É apenas um meeting point de Espíritos Superiores que lá vão filosofar.

  85. Gorducho Diz:

    Clarificando: os espíritas em geral, i.e., geralmente, não [em geral] = todos. É o que pode-se perceber vendo os sítios e forums dessa Religião. Daí, como o Pentateuco foi elevado ao status de Bíblia, vê-se as patéticas tentativas de justificar, dizendo que os extraterrestres são imateriais, indectetáveis, &c.

  86. Gorducho Diz:

    Quanto à sua segunda colocação, desculpe-me mas não entendi lhufas a sua salada escolástica. Dá pra ser mais claro em seu raciocínio?
    Tentando então ser didático:
    (…) mas um raciocínio mais lógico e melhor elaborado, que destrua o outro raciocínio lógico a favor da reencarnação. Sacou?
    Sim, há tempo. Justamente isso: raciocínio lógico encima de raciocínio lógico. Nenhum vínculo necessário c/a realidade. Este é o método Escolástico. Entende agora?
    A Reencarnação Romantica é dogmatizada pelos Espíritas racionais a partir da axiomática existência da Divindade dos Escolásticos, listados os atributos Desta no array apresentado no LE: [eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo em bom]. Assim, por via de consequencia lógica da Perfeicao[7], não pôde (i) criar almas mais ou menos perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que existe no mundo real já não tem nada de contrário à equidade mais rigorosa, &c.
    Espero ter sido suficientemente didático: isto é Escolástica; raciocínios encima de axiomas, sem nenhum aporte empírico. E mencionei a navalha porque, no meu entendimento, justamente “Reencarnação” é uma entidade introduzida em contradição com a parcimonia. Não se deve introduzir entidades cujo único indício de existencia é nossa imaginação. Como já foi visto no tópico Deus, à pergunta: “Por que esse mundo é essa porcaria?” devemos responder: “Don’t know”; e não ficar postulando entidades. Logicamente essa é apenas minha opinião, com o devido respeito à dos demais que pensem diferente.
    Aqui estou analisando a metodologia dos Espíritas. Não estou excluindo investigações sérias sobre uma eventual sobrevivencia individual “pós-morte”, e, eventualmente, metempsicose. Nada estas tendo a ver com as “viagens” metafísicas dos Socialistas Utópicos, adotadas pelo Espiritismo (ii). Como procurei manifestar desde a primeira vez que palpitei neste sítio, a meu ver o a existencia do Espiritismo foi e é prejudicial a investigações desses temas, pois contribui para passar uma imagem de ridículo a investigações que poderiam ser sérias; e (conjectura minha) possivelmente afugentando potenciais investigadores por medo desse ridículo. E, claro, também em nada ajudaram os ridículos Crookes e sua Florrie; o Richet no teatrinho familiar da villa Carmen; and so on…
    ———————————————
    (*) Interessantes são as idéias do Leibnitz e outros sobre as limitações da própria Divindade: há uma infinidade de universos possíveis &c, que acabou rendendo frutos práticos induzindo a invenção do cálculo variacional: Ação, Lagrangeanos, &c.
    (ii) no sentido da Religião inventada pelo Kardec.

  87. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Arduin,

    Não fui eu que generalizei indevidamente (aliás, tomo o maior cuidado quanto a isso); e nem fui eu que “avacalhei” – o sr. quer “avacalhação” (e injustiça) maior do que dizer que “… os cristãos [i.e., TODOS OS CRISTÃOS, INDISTINTAMENTE] crêem que a presença de conchas…”, etc.? Quando citei os casos referentes a “vidas em outros planetas”, foi justamente para fazê-lo ver isso – o quão injusta é a generalização. O sr. deveria entender isso até mesmo melhor que os outros, já que os “enganos” de sua doutrina, tão novinha (nem dois séculos tem…) não são exatamente poucos…

    Quanto aos “três deuses”, e quanto a outros espantalhos do gênero, bem, isso nós já discutimos noutras mensagens. Não vou repetir o que já argumentei, e que o sr. pode relembrar, se quiser, vasculhando as mensagens neste “blog”. Novamente, eu lhe peço, e a todos também, que tenha cuidado com as generalizações. Elas podem facilmente se voltar contra nós mesmos.

    Sds,

    JCFF.

  88. Marcos Arduin Diz:

    Bem, seu Balofo, quanto à “ordem” de classificação de evolução dos mundos aqui por perto, não se esqueça de que a coisa é ASQ- acredite se quiser e não ASC. E tal classificação, não fede, nem cheira na DE.
    .
    “E, claro, também em nada ajudaram os ridículos Crookes e sua Florrie; o Richet no teatrinho familiar da villa Carmen;”
    – Mas me ajudam muito a considerá-los sérios e competentes quando o pessoal cético precisa mentir para refutá-los…

  89. Marcos Arduin Diz:

    Zé Historiador, quando falamos em cristãos que creem em elucubrações cientificamente absurdas em defesa da Bíblia, já se subentende que seriam os cristãos fundamentalistas. Aqueles lá nos Estados Unidos, que volta e meia fazem aprovar alguma lei estadual ou municipal para obrigar o ensino criacionista nas escolas e esse lei é invariavelmente cassada pelo governo federal porque viola o princípio constitucional da separação estado/igreja.
    Aqui no Brasil há igrejas parecidas, como a Assembléia de Deus, Testemunhas de Jeová e outras protestantes que sustentam a infabilidade bíblica e daí precisam distorcer o que diz a Ciência para salvar os créditos bíblicos.
    Certo?
    Vocês católicos já tomaram umas tundas desde os tempos de Galileu e acabaram tendo de claudicar diante da realidade. No fim pararam de querer discutir com os cientistas. Ao menos essa igreja aprendeu…

  90. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Arduin,

    Cuidado ao tentar usar, mais uma vez, o nome de Galileu. Isso, inclusive, já foi discutido aqui; se sua memória falha, pesquise nos vários comentários neste mesmo “blog”. Aliás, essa Igreja não aprendeu, ela ensinou.

    JCFF

  91. Marcos Arduin Diz:

    Ih! Zé…
    É tanta coisa que nem dá pra ficar lembrando de tudo… O Vitor deveria disponibilizar um link aqui tipo “procurar no Blog”. Facilitaria a nossa vida. Se está lembrado, então diga aí qual foi o tópico e, se tiver tempo, eu reveja a coisa.
    .
    Do que eu me lembro do Galileu aí, é que foi processado por sua Santa Madre Igreja pois defendia uma ideia ABSURDAMENTE HERÉTICA de que a Terra se movia, orbitava o Sol, quando a Bíblia diz o contrário e sua Santa Madre Igreja endossava o dito bíblico… Se 100 anos depois ela mudou de ideia pois não tinha como contradizer o fato, aí pro Galileu não significou mais nada.
    .
    Pra mim só me diz uma coisa: até mesmo uma Santa Madre Igreja, DONA DE TODAS AS VERDADES, ainda assim pode se enganar.

  92. Vitor Diz:

    Arduin,
    leia o livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização ocidental”. Mas, basicamente, a coisa foi bem diferente do que você está pensando. Galileu não tinha resolvido todos os problemas do heliocentrismo, e o que a Igreja era contra era que Galileu ensinasse o heliocentrismo como uma VERDADE ABSOLUTA, mas não tinha problema algum em ensinar o heliocentrismo como hipótese. Incluisive, os próprios padres mostraram vários erros de Galileu, logo o heliocentrismo ainda não tinha sido provado. O problema é que Galileu continuou a ensinar o heliocentrismo como verdade absoluta, apesar dos erros que os padres mostraram. E aí a Igreja caiu em cima, mas mesmo após a condenação de Galileu ela continuou a permitir que qualquer um usasse o heliocentrismo para fins de cálculo, como hipótese.

  93. Marcos Arduin Diz:

    É, Vitor…
    Quando fiz a disciplina Iniciação à Astronomia, o professor lembrou esse caso. O sistema de Ptolomeu pegou porque ele introduziu tabelas que permitiam fazer cálculos astronômicos e posicionar os astros em tempos passados e futuros. Para a Astrologia, isso era muito importante, pois assim se podiam prever eventos e fazer prognósticos sobre a vida das pessoas, que atualmente conhecemos como indústria do horóscopo.
    .
    Mas o problema é que essas tabelas se defasavam e tinham de ser refeitas e recalculadas, o que era um indício de que alguma coisa não estava certa. Introduzir mais epiciclos nas órbitas planetárias ao redor da Terra só complicavam ainda mais os cálculos, sem benefício da precisão. Aí então o Copérnico veio com o sistema heliocêntrico. Não foi inventado por ele e sim CHUPADO dos gregos, pois só deixou registradas 40 medidas, feitas com um instrumento muito tosco (já havia outros melhores na sua época, mas Copérnico era “pão duro”), o que é insuficiente para se concluir qualquer coisa. Mas ele apresentou isso como sendo um ARTIFÍCIO para facilitar os cálculos (mas nem por isso a precisão melhorou significativamente). A VERDADE CRISTÃ era o Geocentrismo, que fique isso bem claro. E foi o que o inquisidor que analisou o caso dele concluiu:
    _ Tudo bem! Você dizer que é só ARTIFÍCIO para facilitar os cálculos, nós aceitamos, mas nunca desminta o Geocentrismo, pois ele é confirmado pela Bíblia e por Aristóteles…
    .
    Kepler, contemporâneo de Galileu, fez todo um amplo e complicado trabalho, no qual definiu três leis a respeito das órbitas planetárias, que são válidas até hoje. E veja só que coisa mais maluca: os astrônomos refizeram os cálculos dele e chegaram à seguinte conclusão: estavam TODOS ERRADOS. Mas como ele chegou ao resultado certo? A única explicação é que os erros de um lado anularam os erros do outro e no final o resultado saiu certo.
    .
    Pois bem, Galileu tinha esse problema: não havia ainda instrumentos de precisão suficiente para provar seu ponto de vista. Mesmo assim fica uns problemas: se todos os astros giram ao redor da Terra, como explicar as luas de Júpiter? Elas giravam ao redor daquele planeta… o que não deveriam fazer, já que tudo deveria orbitar a Terra. E outra conclusão que desmentia o Geocentrismo: com as luas jupiterianas fazendo aquela órbita, ficava evidente que NÃO HAVIA ESFERAS DE CRISTAL sustentando os astros: eles estavam SOLTOS NO ESPAÇO.
    E mais uma outra: a Lua era feita de matéria quintessenciada, uma esfera PERFEITA E LISA. Ao ver as crateras nela, Galileu concluiu que era feita de ROCHA, ou seja de matéria comum, de coisa CORRUPTA.
    .
    Veja quanta coisa ele desmentia dos dogmas da Santa Madre Igreja. Disse lá naquela coleção Os Grandes Personagens da História Universal que Galileu foi teimosamente a Roma, quando estava seguro em Veneza, com o argumento: se não quiserem acreditar em minhas palavras, que olhem pelo telescópio. Será que algum inquisidor olhou pelo telescópio?

  94. Gorducho Diz:

    E veja só que coisa mais maluca: os astrônomos refizeram os cálculos dele e chegaram à seguinte conclusão: estavam TODOS ERRADOS. Mas como ele chegou ao resultado certo?
    Sem tentativa de sacanagem (sinceridade), Professor. Poderia precisar? No nosso livrinho de Mecânica Racional dos idos tempos da escolares (Landau & Lifchitz traduzido p/o idioma do seu Mestre em 1969, 3e édition revue) na pg. 51, aborda o problème de Kepler; sem mencionar que o Kepler acertara por acaso essa “lei” (das áreas). Sem tentativa de sacanagem (mesmo!).

  95. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    É chato ter de ficar repetindo sempre as mesmas coisas, como se fossem novidade, mas, pensando bem, é um preço pequeno a pagar quando se quer, de fato, e sinceramente, esclarecer a questão. Vou concentrar-me em três citações; nos respectivos livros, estão embasadas por notas e por bibliografia. Quem quiser, de fato, pesquisar com honestidade o tema, que vá adiante, consulte esses livros, bem como outros que aqui neste “blog” já foram citados, EM MAIS DE UMA OCASIÃO, e, ao invés de fazer pregações, ou de espalhar boataria, façam pesquisa.

    Bem, vamos lá.

    A primeira citação é um extrato do livro “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, de Thomas E. Woods Jr., Editora Quadrante (págs. 63-70), referente ao “affair” Galileu. Acredito que sua apresentação ponderada e lúcida muito faz para aclarar a situação. Acrescentei também alguns esclarecimentos complementares, inclusive no texto (entre colchetes). O livro de Woods Jr., a meu ver, é extremamente esclarecedor, não só nesse caso, mas em muitos outros da espécie.

    Da obra de Woods Jr.:

    A controvérsia de Galileu centrou-se em torno do trabalho do astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Alguns estudiosos modernos de Copérnico afirmam que ele era padre, mas não existe nenhuma evidência direta de que tivesse chegado a receber as ordens maiores, embora tivesse sido nomeado cônego do cabido de Frauenburg no final da década de 1490 [portanto, devia ter, ao menos, as ordens menores, um diaconato]. Fosse qual fosse o seu estado clerical, porém, o certo é que nasceu e se criou numa família profundamente religiosa, na qual todos pertenciam à Ordem Terceira de São Domingos, a associação de fiéis vinculados à Ordem que estendera aos leigos a oportunidade de participar da espiritualidade e da tradição dominicanas.

    Como cientista, Copérnico era uma figura de renome nos meios eclesiásticos, tendo sido consultado pelo Quinto Concílio de Latrão (1512-1517) sobre a reforma do calendário [que haveria de se concretizar apenas em 1582!]. A pedido dos amigos, de colegas acadêmicos e de vários prelados, que o instavam a publicar o seu trabalho, Copérnico acabou por ceder e publicou os “Seis Livros Sobre os Movimentos das Órbitas Celestes”, que dedicou ao papa Paulo III, em 1543. Antes ainda, em 1531, tinha redigido para os amigos um sumário do seu sistema heliocêntrico, que viria a atrair as atenções até do papa Clemente VII; este convidara o humanista e advogado Johann Albert Widmanstadt a dar uma conferência pública no Vaticano sobre o tema, ficando muito bem impressionado com o que ouviu.

    No seu trabalho, Copérnico conservou muito da astronomia convencional da sua época, a qual se devia quase por completo a Aristóteles [em termos de princípios] e, acima de tudo, a Ptolomeu (87-150 dC) [em termos do aparato matemático e do sistema de órbitas, epiciclos e equantes], um brilhante astrônomo grego para quem o Universo era geocêntrico. A astronomia copernicana partilhou com a dos seus precursores gregos alguns aspectos, tais como a perfeita esfericidade dos corpos celestes, as órbitas circulares e a velocidade constante dos planetas. Mas introduziu uma diferença significativa ao situar o Sol, ao invés da Terra, no centro do sistema; no seu modelo, a Terra e os outros planetas moviam-se em torno do Sol.

    Apesar do feroz ataque dos protestantes, que viam no sistema copernicano uma frontal oposição à Sagrada Escritura, esse sistema não foi objeto de uma censura católica formal até que surgiu o caso Galileu.

    Galileu Galilei (1546-1642), além dos seus trabalhos no campo da Física, fez com o seu telescópio algumas observações astronômicas importantes, que contribuíram para abalar o sistema ptolemaico. Observou montanhas na Lua, com o que derrubou a velha certeza de que os corpos celestes eram perfeitamente esféricos. Descobriu as quatro luas que orbitam em torno de Júpiter, demonstrando não só a presença de fenômenos celestes que Ptolomeu e os antecessores não haviam percebido, mas também que um planeta, movendo-se na sua órbita, não deixa para trás os seus satélites [uma das objeções teóricas ao fato de a Terra se mover – se ela se movesse, “deixaria para trás” a Lua…]. A descoberta das fases de Vênus foi outra peça de evidência em favor do sistema copernicano.

    Inicialmente, Galileu e sua obra foram bem acolhidos e festejados por eminentes eclesiásticos. Em fins de 1610, o padre jesuíta Cristóvão Clavius (1538-1612, um dos grandes matemáticos de seu tempo; havia chefiado a comissão encarregada de elaborar o calendário gregoriano, que entrou em vigor me 1582, eliminando as imprecisões que afetavam o antigo calendário Juliano; os seus cálculos em relação à duração do ano solar e ao número de dias necessários para manter o calendário ajustado ao ano solar – saltar 97 dias a cada 400 anos – foram de tal precisão que até hoje os estudiosos não sabem como conseguiu realizá-las, cf. Joseph E. MacDonnel, “Jesuit Geometers”, pág. 19) comunicava por carta a Galileu que os seus amigos astrônomos jesuítas haviam confirmado as suas descobertas. Quando foi a Roma no ano seguinte, o astrônomo foi saudado com entusiasmo tanto pelos religiosos como por personalidades leigas. Escreveu a um amigo: “Tenho sido recebido e favorecido por muitos cardeais ilustres, prelados e príncipes desta cidade”. O papa Paulo V concedeu-lhe uma longa audiência, e os jesuítas do Colégio Romano organizaram um dia de atividades em homenagem às suas descobertas.

    Galileu estava encantado: perante uma audiência de cardeais, matemáticos e líderes civis, alguns alunos dos padres Grienberger e Clavius (o padre Cristóvão Grienberger, 1531-1636, comprovou pessoalmente a descoberta das luas de Júpiter por Galileu; era um competente astrônomo, inventor da montagem equatorial, que fazia girar um telescópio sobre um eixo paralelo ao da Terra; também contribuiu para o desenvolvimento do telescópio de refração, que se utiliza hoje em dia, cf. Joseph E. MacDonnel, op. cit.) discorreram sobre as descobertas do astrônomo. Tudo parecia favorecê-lo. Quando, em 1612, publicou o seu “História e Demonstrações em torno das Manchas Solares e dos seus Acidentes”, e onde pela primeira vez aderia publicamente ao sistema copernicano, uma das muitas e entusiásticas cartas de congratulações que recebeu veio de ninguém menos que o cardeal Mateus Barberini, futuro papa Urbano VIII (cf. Jerome J. Langford, “Galileo, Science and the Church”, págs. 43-52).

    A Igreja não fazia objeção ao uso do sistema copernicano como um modelo teórico, como uma hipótese cuja verdade literal não tinha sido comprovada (e era o que ocorria precisamente na época; a rotação da Terra e o Heliocentrismo somente vieram a ser comprovados experimentalmente em 1851, com o pêndulo que Léon Foucault pendurou no ápice do domo do Panteão de Paris), pois efetivamente explicava os fenômenos celestes de maneira mais elegante e precisa do que o sistema ptolemaico. Pensava-se que não havia nenhum mal em apresentá-lo e usá-lo como um sistema hipotético.

    Galileu, porém, acreditava que o sistema copernicano era literalmente verdadeiro, e não uma simples hipótese que fornecesse previsões precisas, mas não dispunha de evidências adequadas que respaldassem a sua crença. Assim, por exemplo, argumentava que o movimento das marés constituía uma prova do movimento da Terra, argumento que hoje, curiosamente, os cientistas consideram ridículo. Não era capaz de responder à objeção dos geocentristas (que vinha de Aristóteles) de que, se a Terra se movia, então deveria ser possível observar uma mudança de paralaxe quando observássemos as estrelas, coisa que não acontecia (paralaxe é o deslocamento aparente que se deveria observar na posição de umas estrelas em relação às outras, por causa da mudança da posição do observador; o argumento diz que, se a Terra se move em torno do Sol, as estrelas, não os planetas, deveriam aparecer em posições diferentes ao longo do ano, à medida que o nosso ponto de observação delas mudasse com o deslocamento da Terra, e isso não acontece; na realidade, até à época de Galileu, não se podia observar nenhuma mudança de paralaxe porque os instrumentos de que se dispunha, ou o olho humano, não eram precisos o suficiente; além disso, a distância das estrelas mais próximas é enorme, de maneira que a paralaxe é extremamente pequena). No entanto, apesar da falta de provas estritamente científicas, Galileu insistiu na verdade literal do sistema copernicano e recusou-se a aceitar um compromisso, pelo qual o copernicanismo deveria ser ensinado como hipótese até que pudesse apoiar-se em evidências conclusivas. Quando foi mais longe ainda, e sugeriu que, pelo contrário, eram os versículos da Sagrada Escritura que deviam ser reinterpretados, passou a ser visto como alguém que usurpara a autoridade dos teólogos.

    Jerome Langford, um dos mais judiciosos estudiosos modernos deste assunto, fornece-nos um sumário muito útil da posição de Galileu: “Galileu estava convencido de possuir a verdade, mas não tinha provas objetivas suficientes para convencer os homens de mente aberta. É uma completa injustiça afirmar, como fazem alguns historiadores, que ninguém ouvia os seus argumentos, e que [ele] nunca teve uma oportunidade. Os astrônomos jesuítas tinham confirmado as suas descobertas, e esperavam ansiosamente por provas ulteriores para poderem abandonar o sistema de Tycho Brahe (1546-1601, que propôs um sistema astronômico que se situava mais ou menos entre o geocentrismo ptolemaico e o heliocentrismo copernicano; nesse sistema, todos os planetas, com exceção da Terra, giravam em torno do Sol, mas o Sol girava em torno da Terra, que permanecia estacionária), e passarem a apoiar com segurança o copernicanismo. Muitos eclesiásticos influentes acreditavam que Galileu devia estar certo, mas tinham que esperar por mais provas”. […] “Como é evidente, não é inteiramente correto pintar Galileu como uma vítima inocente do preconceito e da ignorância do mundo”, acrescenta Langford. “Parte da culpa dos acontecimentos subseqüentes deve ser atribuída ao próprio Galileu, que recusou qualquer ressalva e, sem provas suficientes, fez derivar o debate [do terreno estritamente científico] para o terreno próprio dos teólogos” (cf. Jerome J. Langford, “Galileo, Science and the Church”, pág.s 68-69).

    Foi, portanto, a insistência de Galileu sobre a verdade literal do copernicanismo que causou a dificuldade, uma vez que, aparentemente, o modelo heliocêntrico parecia contradizer certas passagens da Escritura. A Igreja, sensível às acusações dos protestantes de que os católicos não faziam muito caso da Bíblia, hesitou em acolher a sugestão de que se pusesse de lado o sentido literal da Escritura – que, às vezes, parecia implicar na ausência de movimento da Terra – para acomodar uma teoria científica sem provas (cf. Jacques Barzun, “From Dawn to Decadence”, Harper Collins, Nova York, 2001, pág. 40; um bom resumo desse assunto aparece em H. W. Crocker III, “Triumph”, Prima, Roseville, Califórnia, 2001, pág. 309-11). Mesmo assim, aqui a Igreja não foi inflexível. Como comentou na época o célebre cardeal Roberto Belarmino [a citação aqui fornecida é mais longa do que a de Woods Jr, e cobre toda a primeira parte do pronunciamento de Belarmino, em forma de carta ao provincial dos Carmelitas da Calábria, que apoiava Galileu]:

    “Li com prazer a carta em italiano e o escrito em latim que Vossa Paternidade me enviou. Agradeço-lhe por uma e por outro, e confesso que ambos estão plenos de engenho e de doutrina. Mas, já que o senhor pede o meu parecer, dar-lho-ei de modo muito breve, pois o senhor tem agora pouco tempo de ler, e eu tenho pouco tempo de escrever.

    Primeiro: digo que me parece que Vossa Paternidade e o Senhor Galileu ajam prudentemente, contentando-se me falar “por suposição” [i.e., hipoteticamente], e não de modo absoluto, como eu sempre cri que tenha falado Copérnico [um sutil aviso a Galileu no sentido de considerar suas idéias geocentristas como hipótese]. Porque dizer que, suposto que a Terra se move e o Sol está parado, salvam-se todas as aparências melhor [i.e., conseguem-se previsões melhores e mais precisas] do que com a afirmação dos excêntricos e epiciclos, está dito muitíssimo bem, e nisso não há perigo algum; e tal constatação basta para o matemático. Mas querer afirmar que realmente o Sol está no centro do Mundo e gira apenas sobre si mesmo, sem correr do Oriente ao Ocidente, e que a Terra está no terceiro Céu e gira com grande velocidade em volta do Sol é coisa muito perigosa, não só de irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos, mas também de prejudicar a Santa Fé, ao tornar falsas as Sagradas Escrituras. Porque Vossa Paternidade mostrou bem muitos modos de explicar as Sagradas Escrituras, mas não os aplicou em particular, pois, sem dúvida, haveria de encontrar muitas dificuldades se tivesse tentado explicar todas as passagens que o senhor mesmo citou.

    Segundo: digo que, como o senhor sabe, o Concílio [de Trento] proíbe explicar as Escrituras contra o consenso comum dos Santos Padres. Se Vossa Paternidade quiser ler, não digo apenas os Santos Padres, mas os comentários modernos sobre o Gênesis, sobre os Salmos, sobre o Eclesiastes, sobre Josué, verá que todos concordam em explicar literalmente que o Sol está no Céu e gira em torno da Terra com grande velocidade, e que a Terra está muitíssimo distante do Céu, e está imóvel no centro do Mundo. Considere agora o senhor, com sua prudência, se a Igreja pode tolerar que se dê às Escrituras um sentido contrário aos Santos Padres e a todos os expositores, gregos ou latinos. Nem se pode responder que esta não é matéria de Fé, porque, se não é matéria de Fé ‘por parte do objeto’, o é ‘por parte de quem fala’. Assim, seria herético quem dissesse que Abraão não teve dois filhos e Jacó doze, como quem dissesse que Cristo não nasceu de uma Virgem, porque um e outro o diz o Espírito Santo pela boca dos Profetas e dos Apóstolos.

    Terceiro: digo que, se houvesse uma verdadeira prova de que o Sol é o centro do Mundo, de que a Terra está no terceiro Céu e de que o Sol não gira em torno da Terra, mas a Terra em torno do Sol, então seria necessário agir com grande circunspecção ao explicar passagens da Escritura que parecem dizer o contrário, e admitir que não as havíamos entendido, em vez de declarar como falsa uma opinião que se prova verdadeira. Mas eu mesmo não devo acreditar que existam tais provas, enquanto não me sejam mostradas. Nem é o mesmo demonstrar que, suposto que o Sol esteja no centro e a Terra no Céu, salvam-se [melhor] as aparências, e [por outro lado] demonstrar que, na verdade, o Sol esteja no centro e a Terra no Céu. Porque a primeira demonstração creio que possa haver, mas da segunda tenho dúvida muitíssimo grande, e, em caso de dúvida, não se deve abandonar a Escritura Sagrada, explicada pelos Santos Padres” […] [Trecho inicial da carta do Cardeal Roberto Belarmino endereçada ao frei Paulo Antônio Foscarini, Provincial dos Carmelitas da Calábria, dada em Roma aos 12 de abril de 1615).

    OBSERVAÇÃO MINHA: Note-se que não se adota uma posição ossificada, rígida, “dogmática”, mas sim uma “dúvida razoável” – leva-se na devida conta a tradição, mas, diante de situações científicas BEM DEMONSTRADAS E FUNDAMENTADAS (e não apenas simples suposições), humildemente se reconhece não que as Sagradas Escrituras estejam erradas, mas, ao contrário, que nós não as pudemos compreender em sua essência. Esse tem sido o caminho que, pessoalmente, tenho procurado trilhar, quando se me deparo com situações aparentemente contraditórias entre as ciências naturais e as Sagradas Escrituras. Fim de minha observação; continua a seguir o texto de Woods Jr.

    A abertura de princípio do cardeal Belarmino a novas interpretações da Escritura à luz dos acréscimos feitos ao universo do conhecimento humano não era nada de novo [na tradição católica]. Santo Alberto Magno era do mesmo parecer: “Acontece com freqüência”, escreveu certa vez, “que surge alguma questão sobre a Terra, o Céu ou outros elementos deste mundo, a respeito da qual um não-cristão possui conhecimentos derivados dos mais acurados raciocínios ou observações. Neste caso, deve-se evitar cuidadosamente, porque seria muito desonroso e prejudicial para a Fé, que um cristão, ao falar dessas matérias de acordo com o que pensa que dizem as Sagradas Escrituras, seja ouvido por um não-crente a dizer tais tolices que esse não-crente, percebendo que o outro está tão afastado da realidade como o leste do oeste, quase não conseguisse conter o riso” (cf. James J. Walsh, “The Popes and Science”, Fordham University Press, Nova York ,1911, págs. 29-97). Também São Tomás de Aquino advertiu sobre as conseqüências de se querer sustentar uma determinada interpretação da Sagrada Escritura a respeito da qual tivessem surgido sérios motivos para pensar que não era correta: “Primeiro, é preciso crer que a verdade da Escritura é inviolável. Segundo, quando há diferentes maneiras de explicar um texto da Escritura, nenhuma das interpretações particulares deve ser sustentada com tanta rigidez que, se argumentos convincentes mostrarem que é falsa, alguém ouse insistir em que, mesmo assim, esse ainda é o sentido correto do texto. Caso contrário, os não-crentes desprezarão a Sagrada Escritura, e o caminho da Fé fechar-se-lhes-á” (citado por Edward Grant, “Science and Theology in the Middle Ages”, em David C. Lindberg e Ronald L. Numbers, editores, “God and Nature: Historical Essays on the Encounter Between Christianity and Science”, University of California Press, Berkeley, 1986, pág.63).

    Em 1616, depois de ter ensinado pública e insistentemente a teoria copernicana, Galileu foi avisado pelas autoridades da Igreja de que devia parar de sustentá-la como verdade, embora fosse livre para apresentá-la como hipótese. Galileu concordou, e prosseguiu com seus trabalhos.

    Em 1624, fez outra viagem a Roma, onde foi novamente recebido com grande entusiasmo e procurado por influentes cardeais, desejosos de discutir com ele questões científicas. O papa Urbano VIII deu-lhe muitos presentes valiosos, e emitiu um breve de recomendação ao Grão-Duque da Toscana, em que o reconhecia como um homem “cuja fama brilha no Céu e se espalha por todo o Mundo”. Comentou com ele, em particular, que a Igreja não tinha declarado herético o copernicanismo, e que nunca o faria.

    No entanto, o “Diálogo sobre os Dois Grandes Sistemas do Mundo”, que Galileu publicou em 1632, e fora escrito a pedido do papa, ignorou a instrução de que o copernicanismo devia ser tratado como hipótese, e não como verdade estabelecida (anos mais tarde, o padre Grienberger comentou que, se Galileu tivesse tratado as suas conclusões como hipóteses, poderia ter escrito qualquer coisa que quisesse, cf. Jospeh MacDonnell, “Jesuit Geometers”, apêndice I, págs. 6-7). Para sua infelicidade, em 1633 o astrônomo foi declarado suspeito de heresia, e proibido de publicar escritos sobre o tema. Continuou a produzir outras obras, aliás ainda melhores e mais importantes, particularmente os seus “Discursos e Demonstrações Matemáticas em Torno de Duas Novas Ciências” (1635). Mas essa censura insensata manchou por muito tempo a reputação da Igreja.

    É importante, porém, não exagerar o que aconteceu. Como explica J. J. Heilbron: “Os contemporâneos bem informados foram da opinião de que a alusão à heresia no caso de Galileu ou Copérnico não tinha nenhum alcance geral ou teológico. Em 1642, Gassendi observou que a decisão dos cardeais, embora importante para os fiéis, não teve a categoria de um artigo de fé; em 1651, Riccioli afirmou que o heliocentrismo não era fé; em 1675, Mengoli declarou que as interpretações da Escritura só podiam obrigar os católicos se fossem aprovadas num concílio geral; e em 1678, Baldigiani acrescentou que não havia ninguém que não soubesse disso” (cf, J. L. Heilbron, “The Sun in the Church”, pág. 203).

    O certo é que os cientistas católicos, muitos deles jesuítas, ou membros de outras Ordens religiosas, continuaram a fazer as suas pesquisas sem nenhum tipo de entrave, cuidando apenas de tratar como hipótese o movimento da Terra, como aliás já o tinha recomendado o decreto da Santa Sé de 1616. Um decreto de 1633, pouco posterior ao processo, excluiu das discussões acadêmicas qualquer menção ao movimento da Terra; no entanto, cientistas como o padre jesuíta Rogério Boscovich continuaram a usar em suas obras a idéia duma Terra em movimento, e por isso os historiadores especulam que se tratava apenas de um reforço da censura original, e era “dirigido a Galileu Galilei pessoalmente”, não aos cientistas católicos como um todo (cf. Zdenek Kopal, “The Contribution of Boscovich to Astronomy and Geodesy”, em Lancelot Law White, editor, “Roger Joseph Boscovich, SJ, FRS, 1711-1787”, Fordham University Press, Nova York, 1961, pág. 175).

    De qualquer modo, a condenação de Galileu, mesmo que enquadrada no seu contexto, tão distante da colocação exagerada e sensacionalista da mídia, criou embaraços à Igreja, e deu origem ao mito de que ela seria hostil à ciência.

    Até aqui, o texto de Woods Jr.

    Apenas umas pequenas observações sobre exegese bíblica: a tradição exegética católica não está, de modo algum, vinculada exclusivamente à literalidade do texto inspirado, principalmente no que diz respeito a ilações de índole “científica” que dele possam emanar. Como já se disse, a Bíblia ensina “como ir aos Céus”, e não “como funcionam os Céus”. Muitas das descrições constantes no texto sagrado são simbólicas ou alegóricas, ou então escritas na linguagem da época. Há toda uma tradição católica de interpretação alegórica; entrar em detalhes aqui seria fastidioso, mas que baste o fato de que inspiração bíblica não implica (ao menos para nós, católicos), necessariamente, na literalidade do texto.

    Precisar as fronteiras de estilos e determinar o caráter “histórico” de muitos livros bíblicos, especialmente os mais antigos do Velho Testamento, pode ser algo sumamente problemático. Naquelas épocas remotas, havia ainda uma enorme “zona cinzenta” entre a narrativa mítica, ou alegórica, ou simbólica, e a narrativa, por assim dizer, “histórica”, ou melhor, “proto-histórica” (as primeiras “crônicas reais”, hinos celebrando chefes guerreiros ou vitórias, etc.). E mesmo a “história”, então, baseava-se muitas vezes em tradições orais progressivamente fossilizadas e repassadas de geração em geração, muitas vezes em forma estereotipada, ou mesmo metrificada. “Gênesis” é um caso clássico. Lá há alegoria, poesia, tradição oral “histórica” (p.ex., as genealogias), “ciclos” folclóricos, e até restos de registros “históricos” efetivos. Junte-se a isso as próprias alterações dos sucessivos redatores e compiladores (que, muitas vezes, não entendiam certas expressões arcaicas, caídas em desuso, ou então “atualizaram” materiais mais antigos, como, p.ex., na classificação dos povos constante no capítulo 10 do referido livro, ou na anacrônica expressão “Ur dos Caldeus”), e note-se que penetrar nesse “matagal” é algo bem complexo.

    A questão, é claro, começa a mudar de figura a partir do estabelecimento da monarquia israelita, com Saul e depois Davi; e é totalmente outra no caso do Novo Testamento, onde padrões historiográficos desenvolvidos inicialmente entre os assírios e neo-babilônicos, e fixados pelos gregos a partir de Heródoto de Halicarnasso, podem (e devem) ser esperados. A “tolerância”, por assim dizer, que se pode ter (com os devidos cuidados, e análises meticulosas) com Gênesis, e com Jó, e até mesmo com Jonas (que eu considero um dos mais simpáticos livros da Bíblia), não se pode em absoluto empregar com os Evangelhos, ou com os Atos dos Apóstolos.

    Isso, evidentemente, não diminui em nada a “inspiração” das Sagradas Escrituras. A exegese pode ser flexível nalguns aspectos (no caso das assertivas “científicas”, ou nalguns casos “históricos”), mas será inflexível no que diz respeito à Revelação e à Moral. E, de fato, tem sido assim. A moral que a Igreja hoje defende, baseada nas Escrituras, é a moral que sempre defendeu, e que sempre defenderá – por isso, inclusive, é acusada de “retrógrada”.

    Há, evidentemente, alguns trechos bíblicos que a doutrina da Igreja considera como devendo ser interpretados literalmente (porque essa é a tradição antiqüíssima, quer do “consenso dos fiéis”, desde o início, desde os tempos apostólicos, quer do “consenso dos Santos Padres”, e mais, dizem respeito especificamente à Revelação divina) – p.ex., a literalidade da invocação eucarística na Última Ceia, com a presença real do Corpo e do Sangue nas espécies consagradas, desde então, em todas as cerimônias cristãs validamente celebradas; ou então o nascimento virginal de Jesus. Quanto a isso, as discussões podem se dar no nível filosófico-teológico, mas não no científico.

    Mas – repito – nada do que diz respeito à evidenciação científica do funcionamento do Universo incorpora-se, ao menos em termos gerais, nessa rubrica. Portanto, o acreditar que o Universo foi criado em 6 dias há seis mil anos, ou o fato de a Terra ser plana (e situada no centro do Universo), ou o fato de o céu ser “sólido”, ou a existência (literal) dum Dilúvio universal, nada disso diz respeito, necessariamente, ao ser-se cristão (católico, ao menos), e nem liga-se à inspiração das Sagradas Escrituras. Os primeiros itens por dizerem respeito a aspectos da realidade física, que estão fora da alçada da Revelação (“ir aos Céus”, não “como os Céus funcionam”…); o último, por tratar-se (diferentemente das narrativas do Novo Testamento) de tradição oral semita antiqüíssima (com ecos inclusive na literatura sumério-acadiana), e não ligar-se, necessariamente, a nenhum fato histórico específico e inquestionável.

    Especificamente sobre o fato de a Terra ser “plana”, mesmo na Idade Média sabia-se que não era; o único escritor de alguma importância que invocou a Terra como plana, de meu conhecimento, foi Cosme, chamado “Indikopleustes” (“o marinheiro das Índias”), um comerciante grego que viveu no séc. VI dC, e que escreveu a respeito um livro denominado “Topografia Cristã”. Mas ele não representou em absoluto a corrente principal sequer dos ensinamentos científicos a respeito, quanto mais a posição da Igreja, ou das autoridades eclesiásticas; aliás, sua obra, escrita em grego, foi desconhecida no Ocidente até à época moderna.

    Sobre o geocentrismo, seguia-se, no geral, o que as próprias ciências (da época) consideravam razoável; o modelo de cálculo das posições planetárias de Ptolomeu de Alexandria, pressupondo uma Terra no centro do Universo, era (e continuou sendo ao longo de toda a Idade Média, e até aos inícios dos tempos modernos) o que havia de mais avançado. A aparente imobilidade da Terra, bem como a ausência de paralaxes estelares discerníveis, eram argumentos adicionais a essa visão.

    Agora, passemos à segunda citação. Ela diz respeito a uma série de trechos obtidos na publicação “A Globalização e os Jesuítas – Origens, Histórias e Impactos”, Anais, II, Maria Clara Lucchetti Bingemer, Ed. Loyola, 2007 – Anais do Seminário Internacional realizado entre 25 e 29 de setemro de 2006 na PUC-RJ, na Unisinos – São Leopoldo – RS e na Faculdade Jesuítica de Filosofia e Teologia – BH), especificamente na conferência “Contribuição da Companhia de Jesus para a renovação científica da Idade Moderna”, de Alfredo Dinis, SJ, Faculdade de Filosofia – Braga, Portugal.

    Às páginas 177-178:

    Com efeito, a atividade intelectual dos jesuítas, desde a fundação da Companhia de Jesus até à sua supressão em 1773, nem sempre foi vista como muito positiva. Por um lado, os jesuítas aparecem como estando na origem da condenação de Galileu, como sendo incapazes de se abrirem aos novos rumos do saber que conduziram ao surgimento da ciência moderna a partir do século XV. Por outro lado, a instituição de uma censura interna à Companhia de Jesus, que passava a pente fino os livros que os seus membros desejavam publicar, criou nos historiadores a imagem de que existia entre os jesuítas uma total ausência de liberdade de investigar, pensar e publicar. Feingold resumiu esta imagem da Companhia de Jesus nos seguintes termos: “… a percepção de que os seus membros estavam comprometidos com uma pedagogia humanista estéril, com a filosofia aristotélica e com a filosofia tomista, conduziu à conclusão de que eles não deveriam ser contados entre os que contribuíram para desenvolvimentos posteriores. Os jesuítas puderam assim ser desvalorizados como pedagogos, até mesmo como obscurantistas, como alguém a quem faltava algo considerado central para a emergência da ciência moderna: um compromisso explícito e ativo para com a novidade e a mudança. Uma outra acusação feita à Companhia de Jesus afirmava que os seus membros perseguiam ativamente os proponentes de novas idéias científicas. No período inicial da Idade Moderna, alguns consideravam dever-se culpar os Jesuítas por praticamente todas as ações realizadas contra a nova ciência. Galileu e Descartes fizeram isso, tal como os seus discípulos, e do mesmo modo os seus admiradores, mesmo sendo verdade que os jesuítas estavam em grande parte inocentes. O forte sentimento antijesuítico tornou possível que estas acusações fizessem efeito, e fossem perpetuadas. Formou-se entre os historiadores o consenso de que existiam poucos motivos para que a ciência praticada pelos jesuítas fosse seriamente estudada”. [Mordechai Feingold, Prefácio em “Jesuit Science and Republic of Letters”, Cambridge, MA, “The MIT Press”, 2002, viii]. Uma das razões que explicam a distorção que tem existido entre os historiadores acerca da ciência praticada pelos jesuítas no início da Idade Moderna tem a ver com o paradigma historiográfico que dominou até recentemente.

    O paradigma historiográfico tradicional tendeu a considerar dignos de interesse e investigação apenas os grandes nomes da história da ciência, como Kepler, Galileu ou Newton. Mas é evidente que, quando se fala de fundadores da modernidade, não se pode de modo nenhum desvalorizar a importância de muitos intelectuais, entre os quais não poucos jesuítas, que contribuíram com o seu trabalho para que esses fundadores emergissem. Também neste aspecto tem havido uma grande mudança no modo de compreender os inícios da modernidade. Os intelectuais deste tempo, incluindo os jesuítas, estavam em contato permanente entre si, quer através de publicações e correspondência, quer através de encontros pessoais. Galileu é, a este respeito, um caso paradigmático, uma vez que manteve intensos e constantes contatos com os seus contemporâneos, entre os quais diversos jesuítas, que condiziam investigações no campo científico. Este fato só recentemente começou a ser reconhecido, sobretudo a partir de estudos de William Wallace [“Galileo and his Sources: the Heritage of the ‘Collegio Romano’ in Galileo’s Science”, Princeton, 1984], Ugo Baldini [“’Legem Impone Subactis’ – Studi su Filosofia e Scienza dei Gesuiti in Itália, 1540-1632”, Roma, Bulzoni, 1992; “Saggi sulla Cultura della Compagnia de Gesù, secoli XVI-XVIII, Pádua, CLEUP Ed., 2000] e Mordechai Feingold [já citado], entre outros.

    (…)

    às págs. 182 e 184–185:

    [Sobre o grande Cristóvão Clávio, ensinou por 45 anos no Colégio Romano], formando sucessivas gerações de jesuítas que foram depois ensinar nos colégios e universidades da Companhia de Jesus, e evangelizar os povos distantes. Clávio publicou 19 obras, dentre as quais uma edição dos “Elementos” de Euclides (1589), uma “Geometria Practica” (1604) e uma “Opera Mathematica” (1611). Os seus conhecimentos de Astronomia levaram o papa Gregório XIII a nomeá-lo para a comissão que reformou o calendário gregoriano, e fizeram dele um dos principais interlocutores de Galileu [cf. Ugo Baldini, “Cristoforo Clavio insegnante e teórico di Astronomia, 1563-1593”, in “Saggi sulla Cultura della Compagnia di Gesù”, já citada, págs. 15-48]. Algumas de suas obras foram sucessivamente reeditadas e utilizadas no ensino em toda a Europa e nos países de missão. O missionário italiano Matteo Ricci traduziu algumas das obras de Clávio para o chinês.

    As cartas que sobreviveram entre a sua enorme correspondência revelam que ele era interlocutor privilegiado não apenas de muitos italianos, entre os quais Galileu, mas de muitas outras figuras de relevo em diversos países. Filósofos, cientistas, reis e bispos são apenas algumas das classes de pessoas que o consultavam. Foi determinante a sua influência na importância que a “Ratio Studiorum” atribui ao estudo da Matemática, uma área em que Clávio se tornara uma autoridade incontornável. Ann Blair reconhece que este jesuíta “… se manteve atualizado em relação a novos desenvolvimentos na matematização dos fenômenos físicos, como o movimento, algo que para a maior parte dos aristotélicos tradicionais se assemelhava a uma impossível superação de fronteiras disciplinares” [“Natural Philosophy”, in Katharine Park & Lorraine Daston (Eds.), “Cambridge History of Science – Early Modern Science”, Cambridge University Press, 2006, pág. 388]. Feingold considera indispensável reconhecer que a matematização dos fenômenos físicos, uma característica fundamental da ciência moderna, recebeu contributos não apenas de Clávio, mas de muitos outros jesuítas dos séculos XVI e XVII (…) O Colégio Romano foi um dos lugares mais importantes onde as novas descobertas científicas eram objeto de discussão, e onde as suas implicações filosóficas e teológicas eram mais sistematicamente analisadas. Ele foi também um dos principais pontos de contato entre os jesuítas e Galileu.

    (…)

    Os jesuítas são habitualmente vistos como adversários e inimigos de Galileu, mas a verdade é que este teve inúmeros contatos com eles, particularmente no Colégio Romano, como se disse, contatos que foram significativamente frutuosos para o próprio Galileu. Contrariamente à opinião corrente até há pouco, segundo a qual os jesuítas eram inimigos declarados de Galileu e se manifestaram incapazes de compreendê-lo. William Wallace considera que “… seria mais justo afirmar que Galileu se beneficiou dos seus contatos com os jesuítas durante mais da metade da sua vida, e que pelo menos alguns dos seus êxitos como cientista podem ser-lhes creditados” [“Galileo’s Jesuit Connections and their Influence on his Science”, in Mordechai Feingold (Ed.), “Jesuit Science”, 99]. O primeiro contato de Galileu com os jesuítas, certamente com Clávio, entre outros, verificou-se em 1587, no Colégio Romano. Mais tarde, entre 1589 e 1591, ele freqüentou aulas de alguns professores do Colégio, como Paulo Valla. A esta conclusão chegou William Wallace depois de muitos anos de investigação, comparando os manuscritos das aulas lecionadas no Colégio nos anos em que Galileu por lá passou com os manuscritos os primeiros apontamentos de Galileu, afirmando que estes apontamentos são praticamente notas de leitura das aulas de Valla, e provavelmente de outros jesuítas que ensinavam no Colégio. Este período coincide, aliás, com o início da carreira de Galileu como professor na Universidade de Pisa [cf. “Jesuit Influences on Galileo’s Science”, John O’Malley et al, “The Jesuits II – Cultures, Sciences and the Arts, 1540-1773”, Toronto University Press, 2006, págs. 314-335]. Segundo Wallace, “… isso prova que idéias iniciais de Galileu sobre o método científico e sobre o estudo do movimento não foram formada exclusivamente pelos professores, como Francesco Buonamici, que o ensinaram em Pisa. Elas foram também influenciadas pelos jovens jesuítas colegas e provavelmente discípulos de Cristóvão Clávio, que ensinavam Lógica e Filosofia Natural em Roma. Além disto, muita da terminologia utilizada pelos jesuítas ao tratar destas matérias foi adaptada por Galileu e desenvolvida por ele como parte integrante das ‘nuove scienze’ que ele iria elaborar nos seus escritos posteriores” [“Galileo’s Jesuit connections”, pág. 100]. O contato dos jesuítas com galileu e a influência que exerceram sobre ele representam certamente uma importante ntersecção da Companhia de Jesus com a modernidade, algo que tem sido negligenciado”.

    Até aqui, as palavras de Alfredo Diniz.

    Enfim, a terceira série de citações encontra-se em “Os Jesuítas: Missões, Mitos e Histórias”, Jonathan Wright, Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2006, Págs. 203-204 e 206:

    “Desde que as idéias de Copérnico fossem tratadas como uma hipótese matemática, útil para calcular os aparentes movimentos dos céus, em vez de serem aclamadas como um relato preciso da realidade física do cosmos, não haveria realmente problema. Este, entretanto, foi o limite que Galileu ultrapassou. Ele insistiu que o modelo copernicano consistia numa descrição precisa de como o universo realmente era. Infelizmente, não tinha nenhuma prova definitiva para sua afirmação. Sua insistência de que os clérigos deveriam começar a interpretar passagens da Escritura de maneira nova, menos literal, estava fadada a incomodar. Ninguém questionava – de fato, o jesuíta [Cardeal] Robeto Belarmino disse isso explicitamente para Galileu – que o livro da natureza e a Bíblia tinham que concordar: essa era uma questão de lógica, já que ambos tinham Deus como autor. Se havia uma contradição aparente, então se tratava de uma falha de interpretação, e se uma prova irrefutável da teoria heliocêntrica pudesse ser fornecida, então palavras como aquelas em Josué deveriam ser reinterpretadas. Entretanto, segundo insistiu Belarmino, a não ser que se tivesse uma prova irrefutável, não seria razoável permanecer com a interpretação tradicional?

    Nesse meio tempo, a teoria poderia certamente ser usada como uma hipótese útil, talvez até mesmo louvável. Entretanto, um cientista que se desviasse em direção a comentários a respeito do papel e da competência da exegese bíblica – citando o famoso dito do Cardeal Baronius, “a Bíblia nos diz como chegar ao Céu, não como funcionam os Céus”, e coisas do tipo – iria sem dúvida nenhuma causar irritação, principalmente numa Igreja tridentina, ferozmente comprometida com a idéia de fazer da interpretação da Bíblia uma questão reservada apenas aos teólogos (e nada daquela exegese luterana com livre acesso a todos) e que, depois de um século de mudança e novidade, suspeitava de qualquer tipo de inovação.

    Galileu irritou os jesuítas, mas não porque fossem extraordinariamente resistentes a tudo o que ele tinha a dizer. Antes do famoso drama (da “lei do silêncio” em 1616 até ao julgamento de 1633), os jesuítas no Colégio Romano (de quem, como se soube, Galileu de fato derivou várias de suas teorias físicas) estavam perfeitamente felizes, olhando através de telescópios e confirmando as observações do astrônomo. Galileu era um correspondente amigável do jesuíta Cristóvão Clávio, e o jesuíta Cristóvão Grienberger o defenderia diante das críticas iniciais; Galileu seria recebido no Colégio Romano em 1611 como um hóspede de honra, digno de celebrações elaboradas, e os jesuítas falariam dos satélites de Júpiter em seus sermões. [Obs.: rapidamente os jesuítas romanos confirmaram as descobertas de Galileu expressas no “Sidereus Nuncius” de 1610, e as apoiaram publicamente; e já em 1615, o “Sidereus Nuntius” era objeto do curso de João Paulo Lembo, no Colégio de Santo Antão, em Lisboa – JCFF]

    Haveria rixas entre determinados jesuítas e Galileu (com Scheiner a respeito das manchas solares, com Horácio Grassi a respeito dos comentas), mas, de um modo geral, o gênio das observações de Galileu era totalmente reconhecido pela Companhia de Jesus. Adam Schall von Bell – apesar de não ter chegado a discutir o heliocentrismo – levaria até mesmo notícias dessas observações para a China, incluindo de bom grado conversas sobre as montanhas na Lua e as fases de Vênus em seu tratado astronômico de 1626. Uma afinidade indiscutível entre Galileu e os cientistas da Companhia causou, ou melhor, aprofundou, rivalidades institucionais entre jesuítas e membros da ordem dominicana – que rotineiramente se recusavam a manter qualquer diálogo com as novas teorias. Essa foi uma conseqüência que alguns dentro da Companhia podiam aceitar: ameaças teológicas e filosóficas talvez pudessem ser contidas, permitindo que os benefícios práticos fossem inteiramente explorados. Quando, entretanto, Galileu insistiu, sem provas suficientes, que o sistema copernicano era literalmente verdadeiro, pressionou demais os jesuítas.

    Sabemos que Galileu estava certo, e era praticamente impossível para as pessoas naquela época acharem que Galileu estivesse provavelmente certo. Entretanto, a resposta da Igreja, de alguém como Roberto Belarmino, p.ex., não deve ser demonizada. O caso Galileu não representou uma batalha entre religião e ciência, mas uma batalha entre paradigmas científicos antagônicos e o desejo de se manter ligado a um modelo aristotélico de ciência já bem estabelecido, quando não parecia haver nenhuma razão contundente para abandoná-lo. Nas primeiras décadas do século XVII era uma política intelectualmente viável.

    De maneira também importante, não faz sentido falar de uma responsabilidade católica ou jesuíta unificada a Galileu. Alguns jesuítas atacaram Galileu de maneira um tanto virulenta, alguns o abandonaram com relutância ou covardia, outros buscaram encontrar um meio termo na cosmologia de Tycho Brahe, e ainda outros fariam grande pressão para que se usasse o sistema de Copérnico como um modelo hipotético ideal. Em 1671, Honorato Fabri passaria 50 dias na prisão por fazer isso com tanto prazer. Alguns jesuítas, tais como Venceslau Kirwitzer, e uma série de astrônomos na Espanha e em Portugal, pareciam até mesmo ter aceitado que a teoria copernicana era uma representação precisa da realidade física.

    (…)

    Alguns jesuítas de fato se apegaram ao que se interpretava como idéias e conceitos científicos moribundos por pura preguiça e conveniência, e por causa disso a reputação da Companhia foi prejudicada. Outros, entretanto, surgiram como defensores proeminentes de novas tendências científicas, e não apenas porque queriam evitar de serem dispensados de suas posições acadêmicas. Um jesuíta cartesiano não era uma figura desconhecida na cena intelectual européia, enquanto jesuítas como Gaspar Sagner e José Stepling seriam úteis na divulgação das idéias de Newton, dentro e fora da Europa. Tiago Belgrado, por sua vez, faria uma importante contribuição para a emergente ciência da Eletricidade. E, além disso, fosse qual fosse o paradigma científico com o qual um jesuíta em particular concordasse, isso não necessariamente influenciava a qualidade de sua pesquisa. Uma pessoa poderia fazer observações astronômicas importantes, acreditasse ou não que a Terra orbitava em redor do Sol; uma pessoa poderia produzir avanços na tecnologia do microscópio, não importando se acreditava ou não em teorias botânicas modernas. Filipe Buonanni trabalhou inteiramente dentro de uma estrutura interpretativa aristotélica, mas ninguém pode questionar a importância de seus estudos a respeito das conchas do mar. Inácio Gastão Pardies criticou a teoria da cor de Newton, mas sua crítica na verdade serviu para melhorar e aperfeiçoar as idéias do cientista.

    Até aqui, as palavras de Wright.

    Se o que até aqui foi mencionado não for suficiente para esclarecer a situação, então eu, sinceramente, não sei o que seria. Sds,

    JCFF.

  96. Marcos Arduin Diz:

    Moral da história: Galileu não tinha provas definitivas e irrefutáveis de que o sistema heliocêntrico fosse verdadeiro em vista das limitações técnicas de sua época. Mas cometeu a imprudência de ser desbocado e de ter MUITA FÉ no que achava certo e aí avançou além do semáforo da Santa Madre Igreja e esta se viu obrigada a lhe impor disciplina. Visto por esse prisma, então agiu certo. Claro que cientificamente estava errada (é, os três deuses se esqueceram de revelar a verdade quanto a isso…), mas e daí? Kardec também estava errado quando pensou em encaixar o sistema reencarnacionista dentro do conceito racista de sua época.
    .
    Mas e o Papa João Paulo II? Ele REVISOU mesmo o processo quanto a Galileu e o REABILITOU? Se o fez, NÃO DEVIA, pois em sendo verdadeiro o que foi posto pelo Zé, então a justiça da época não estava, nem agiu errado.
    .
    Faz-me lembrar o general alemão Alfred Jold. Li que anos após sua condenação à morte na forca, ele teria sido PERDOADO… Se é isso mesmo, alguma coisa não vai bem nessa justiça. Jold era astuto e sensato. Sabia que não sairia vivo do Julgamento de Nuremberg. Não alimentava fantasias quanto a isso. Só quis aproveitá-lo como uma oportunidade para se justificar pelo que fizera.
    Quando foi confrontado com uma montanha de ordens que assinara, que iam desde operações militares até atrocidades, como a execução sumária dos comissários comunistas russos, só havia uma defesa a qual pôde recorrer. Disse que como chefe militar das operações, sua função era mesmo planejar as operações militares e, neste sentido, não agiu diferente de nenhum outro chefe militar equivalente entre os Aliados. Também salientou que estava cumprindo ordens e afirmou que a decisão do Tribunal em proibir a defesa com base em ordens superiores era uma injustiça.
    Em resumo, sua defesa era nessa linha: _ Permaneceu no seu posto e tomou parte em muita coisa errada, pois só nessa condição poderia atenuar o que fosse possível e evitar ser substituído por um fanático, que tornaria as coisas ainda piores.
    .
    Essa defesa só tinha um problema: ele não pôde apresentar nada de concreto que demonstrasse que realmente tentou amenizar as atrocidades exigidas por Hitler & Cia Bela. Conforme se entendeu no Tribunal, suas tentativas de amenizar as coisas eram muito imaginárias. Ficou claro que ele não era um técnico militar que se viu obrigado a tomar decisões duras por estar em situações desesperadas e sim um general político, que ordenou atrocidades por motivo de convicção íntima.
    .
    Realmente não entendi no que se baseou a justificativa para perdoá-lo anos após sua execução, como também não vejo porquê Galileu devesse ser reabilitado, se lhe foi dada a chance de falar em hipótese, uma chance justa já que não se tinham os fatos totalmente explicados na mão.
    .
    É isso.

  97. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Caramba, quando não se quer enxergar…

    JCFF

  98. Marcos Arduin Diz:

    Relendo, acho que não me expressei bem, mas o fato Zé, é que entendi o ocorrido. Galileu foi teimoso além do sensato e isso o fez levar uma repreensão da muito santificada Santa Inquisição. Como eu disse, sua Igreja não agiu errado quanto a ele. É a tal coisa: se não se defende a estrutura doutrinária, então dançou a doutrina.
    É como aqui no Espiritismo, quando o Roustaing inventou o espiritocatolicismo, os ex-católicos do Brasil acharam-no ótimo, pois agora podiam se tornar “espíritas” e ainda preservar a carolice católica.
    .
    É isso.

  99. Marcelo Diz:

    Caro Sr. Jose Carlos.
    .
    “Apesar do feroz ataque dos protestantes, que viam no sistema copernicano uma frontal oposição à Sagrada Escritura, …”
    .
    Principalmente de um luterano chamado Johannes Kepler. 😉
    .
    Penso que o texto ficaria melhor se a palavra “alguns” ou “a maioria” (como queira) fosse colocada. Do jeito que o texto está, parece que todos os protestantes eram contra o sistema heliocentro.
    .
    Um abraço.

  100. Marcelo Diz:

    Desculpe. Onde se lê heliocentro, leia-se heliocêntrico.
    .
    Um abraço

  101. José Carlos Ferreira Fernandes Diz:

    Sr. Marcelo,

    O sr. tem razão, seria melhor colocar a ressalva “[alguns]”, entre colchetes, no texto original. Creio que a intenção do texto foi enfatizar que, ao contrário das lideranças católicas, que, ao menos durante décadas, ou não se pronunciaram sobre o Copernicanismo, ou, quando o fizeram, tomaram uma atitude relativamente favorável, algumas das maiores lideranças protestantes (Lutero e, até certo ponto, Calvino) pronunciaram-se, desde logo, mais incisivamente de modo contrário:

    http://www.astronomy.ohio-state.edu/~pogge/Ast161/Unit3/response.html

    http://www.nd.edu/~mdowd1/postings/CalvinAstroRev.html

    Uma boa apresentação de todo o caso, creio, pode ser obtida no “The Galileo Project”:

    http://galileo.rice.edu/sitemap.html

    Sds,

    JCFF

  102. Antonio G. - POA Diz:

    Uma questão que muito me inquieta e que pode ser transcendental, de acordo com o ponto de vista de cada um:
    – Será que vai dar praia neste final de semana?
    .
    Abraços.

  103. Sonia Diz:

    Bom Dia, Vitor !
    Com relação à Zéfiro, há algo desenvolvido aqui no site sobre ele?
    Waldo Vieira diz que Zéfiro era ele.
    O que voce acha disso?

  104. Vitor Diz:

    Oi, Sonia
    não tem nada sobre o Zéfiro no site. Isso (pra mim) é viagem do Waldo.

  105. maria izabel besse Diz:

    Qual o problema se ele tiver sido um druida em encarnação anterior? Se o pseudônimo foi “imposto”, parece que ele gostou, pois nunca o trocou.

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