MARIE-LISE, INVISÍVEL E PRESENTE – Capítulo 2

Esta é a terceira de uma série de postagens sobre um suposto caso de reencarnação divulgado pelo alegado médium baiano Divaldo Pereira Franco. O livro que contém o caso foi publicado apenas em francês, e aqui oferecemos uma tradução por capítulos. Ainda não conseguimos dinheiro suficiente para levar a tradução até o final. Quem puder ajudar a pagar o restante basta fazer um depósito no Banco Santander, Agência 3939, Conta 01001497-4, em nome de Vitor Moura (e peço que me avise quando fizer o depósito). O livro em francês pode ser baixado nesse link. A seguir fique com o Capítulo 2. Nesse capítulo finalmente os autores encontram a personagem principal do livro, Denise.

CAPÍTULO 2 

REVELAÇÃO DE MARIE-LISE 

O fracasso registrado com Miranda tinha levado um pouco nosso entusiasmo e nós começávamos a achar que este Morey Bernstein era realmente muito poderoso. A despeito de “buracos” e contradições que se revelaram na história de Bridey Murphy, ele ao menos provara, embora não a existência de sua heroína, que certos fatos relatados eram autênticos e correspondiam à realidade.

Profundamente tomados por nossos afazeres pessoais, nós paramos, por vários meses, de explorar o além.

Imagina-se, sem pena, o trabalho que constitui essas sessões, tanto para o sonâmbulo quanto para o hipnotizador, e a paciência necessária aos pesquisadores para obter, pergunta após pergunta, os indispensáveis registros que, teoricamente, devem permitir construir solidamente a história do personagem que eles fizeram reviver. Cada data, por exemplo, deve ser verificada e comparada às outras a fim de estabelecer a exatidão; cada nome, cada fato deve ser cuidadosamente anotado e comparado com aqueles já conhecidos, com a intenção de verificar se eles correspondem à suposta realidade. As contradições são numerosas as incoerências não faltam, mesmo assim é necessário anotá-las para tentar explicá-las e, em todo o caso, eliminá-las.

A cada sessão é necessário retomar o que já foi dito, notar as eventuais diferenças e os novos detalhes. Entre as sessões de hipnose é necessário confrontar os resultados obtidos e preparar as questões que deverão ser postas ao sonâmbulo, para precisar pontos vagos ou controlar certas indicações que parecem suspeitas.

Nós tínhamos, durante meses, pesado, medido e repassado o caso de Miranda para nos conduzir a conclusões que, apesar de não serem negativas, eram decepcionantes. Isso não nos encorajava a persistir. Talvez nós não tivéssemos seguido com novas experiências se não tivéssemos encontrado Denise e, por seu intermédio, a extraordinária Marie-Lise.

É uma das testemunhas de nossas primeiras experiências que nos apresenta nosso novo sonâmbulo.

Concluindo que tínhamos chegado a um impasse e que quase tínhamos abandonado nossas pesquisas, um senhor propõe a André Dupil tentar outra pessoa, que não fosse Gislhaine, e indica tentar a aventura com Denise, que ele suspeitava ser um excelente sujeito.

Assim, em uma bela noite de agosto de 1957, André Dupil adormeceu Denise.

Ela revelou-se, de imediato, uma sonâmbula excepcional. A experiência desenrolava-se, como da primeira vez, dentro do consultório de André Dupil, em Meaux, com um pequeno grupo de pessoas.

Fiel a seus métodos, André Dupil começa, classicamente, remontando o passado da sonâmbula e, logo em seguida, as respostas surgem com tal precisão que reencontramos, imediatamente, o entusiasmo de nossas primeiras sessões com Ghislaine.

Sobre o divã, Denise respondia com uma docilidade e uma facilidade que dão um bom pressentimento para a nova série de consultas.

– Como você se chama?

– Denise C…

– Sua idade?

– Eu tenho 28 anos.

– Escute-me, você vai retornar a sua juventude, quando você tinha 12 anos.

– Eu fazia minha comunhão na igreja São Nicolau.

– Agora você tem cinco anos, onde você está?

– Eu estou no maternal…

– Qual o nome da sua professora?

– Senhora Hoël.

– Você tem um brinquedo preferido?

– Sim, minha boneca, Brunette. Ela é grande e morena.

– Com quantos anos você foi batizada?

– Eu fui batizada com dois meses, pelo padre Longuet. Meu padrinho não estava, meu tio Maurice substituiu o meu outro tio. Nós entramos na igreja, minha tia Marguerite me carrega nos braços; ela usa um vestido preto com flores brancas. Minha avó está aqui, ela usa seu mais belo vestido e um grande chapéu de pluma verde… É bonito… Eu uso um grande vestido branco…

As questões seguem aparentemente banais, mas cheias de interesse para nós que sabemos onde queremos chegar.

– Você se lembra de seu nascimento?

– Sim… Eu vim ao mundo… Mamãe chora… A parteira, senhora Dosmond, me mostra à avó que diz que sou bonita… Eu peso seis libras (2,7 quilos)… Todos estão aqui…

– É bom, mas você vai tentar me dizer o que havia antes… Antes, Denise… Antes de seu nascimento?

A pergunta é lançada. Denise permanece muda, ela respira um pouco mais rápido, parece procurar o fôlego. André Dupil a acalma.

– Descanse alguns instantes e, em seguida, você me dirá quem você era antes de vir ao mundo.

– Eu ouço rodas…

Denise fica indisposta e André Dupil a acorda depressa. Ele não tem dúvida que ela se revelou uma sonâmbula excelente e com um pouco de sorte pode-se esperar, finalmente, chegar a um resultado satisfatório.

Nós não sabemos ainda em que ponto nosso desejo vai ser satisfeito. André Dupil adormece Denise, de novo, e ela inicia o mergulho mais rapidamente que da primeira vez.

– É longe, eu escuto rodas… Estou em uma grande casa… Pessoas vêm me procurar, eu estava na pensão… Agora estou com minha mãe… Eu tenho 16 anos… Mamãe, 34… Eu tenho cabelos loiros… Um belo vestido com listras vermelhas na horizontal…

Ela apresenta, novamente, sinais de agitação e começa a gemer…

– Meu pai, aqui, no grande quarto… Ele está morto…

– Saia do quarto… Aqui está melhor?

– Sim.

Ela chora mais tranquilamente.

– Como você se chama?

– Marie-Lise.

– E seu pai?

– François-Joseph Lefebvre.

– O que ele fazia?

– Ele era Marechal da França, ele servia a Napoleão…

A surpresa nos deixa emudecidos. Olhamos surpresos, uns para os outros, e ninguém mais pensa em fazer perguntas. Sem que a gente questione, Marie-Lise explicita em um longo suspiro:

– Tenho 16 anos e nós estamos em 1820…

Nós não duvidamos mais do sucesso de nossa nova experiência. Desta vez, vamos pisar em terreno conhecido; a sorte nos sorri, que feliz mistura: história e hipnose.

De fato, é necessário, entre 10 de agosto e dois de outubro de 1957, algumas seis dezenas de sessões de hipnose para explicitar o além apaixonante da história de Marie-Lise. Pouco a pouco, questão por questão, nós reconstituiremos a existência “daquilo que ocorreu” desta infeliz Marie-Lise, filha natural do Marechal Lefebvre e de Pauline Bonaparte.

Não há pergunta para infligir ao leitor a leitura detalhada do texto estenografado ou registrado no gravador, destas sessões, nas quais as múltiplas repetições tornar-se-iam, facilmente, cansativas. Selecionamos apenas o essencial, das confidências de Marie-Lise, que nós resumimos e agrupamos em uma ordem cronológica de seis sessões, àquelas que foram, verdadeiramente, essenciais para a demonstração de nossa viagem ao além. Ao final de cada sessão, fizemos também nossa averiguação, salientando a exatidão dos fatos relatados ou, ao contrário, sua inverossimilhança.

É necessário ter a consciência da responsabilidade das conversas entre o hipnotizador e as entidades do além, através do intermédio de nossa sonâmbula. Os descendentes dos personagens históricos em questão não teimariam em querer a publicidade dada aqui a seus antepassados. De duas uma, ou os fatos são exatos e eles pertencem à história, ou eles são falsos e apenas ilustram uma extraordinária experiência de hipnose, na qual não é possível, em estado atual de nossos conhecimentos, darmos uma explicação que satisfaça à razão; os fatos, ao menos, mereciam ser repassados ao conhecimento do público. Fantasiar os personagens, trocar nomes e situações teria traído a veracidade e, neste caso, apagar qualquer valor da nossa demonstração.

Enfim, para que o leitor não acredite nos comentários que nos cercam, que há fraude nas experiências, nos permitimos ressaltar que nossa sonâmbula, Denise, é uma jovem mulher charmosa, na qual os conhecimentos históricos se resumem ao que aprendemos na escola. Ela nunca leu ou estudou quem, de perto ou de longe, pudesse relacionar-se aos eventos que são reportados. Uma vez acordada ela não se recorda de absolutamente nada do que disse em hipnose e é incapaz de responder qualquer questão que lhe perguntamos durante a sessão.

A verdade nos obriga a dizer que ela foi a grande vítima desta experiência. Apaixonante para nós e todos aqueles que participaram, mas terrivelmente fatigante para ela. Seu maior desejo era ver essas sessões de hipnose terem fim.

Mal se poderia invocar algum fenômeno de transmissão do pensamento, pois nenhum dentre nós – quer se tratasse do hipnotizador André Dupil, quer dos autores ou das pessoas que assistiram às experiências – possuía a cultura histórica necessária para influenciar, voluntária ou involuntariamente, a sonâmbula a ponto de fazê-la fornecer detalhes tão precisos quanto aqueles que ela fornecia a cada sessão..

O intermédio cômico era fornecido ao final de cada sessão, pela procura de dicionários e obras históricas àquelas que nos permitisse verificar os detalhes que nós acabávamos de aprender pela boca de nossa médium. A médium, ainda mal acordada, não compreendia absolutamente nada de nossa excitação, nem nossas discussões.

Para evitar aos leitores essas extenuantes pesquisas e para ambientá-lo sobre os fatos que ele vai viver em companhia de nossa heroína, acreditamos ser necessário, antes mesmo de iniciar a narrativa, sessão por sessão do que foi a existência de Marie-lise, evocar a figura de três personagens históricos que se encontram entrelaçados: o Marechal Lefebvre, sua esposa senhora Sant-Gêne e Pauline Bonaparte, irmã do imperador.

Está bem entendido que a intenção não é de fazê-los reviver em detalhe sua experiência, mas evocar, em linhas gerais, o que foi seu personagem, a fim de melhor medir a importância que eles tiveram na aventura de Marie-Lise.

4 respostas a “MARIE-LISE, INVISÍVEL E PRESENTE – Capítulo 2”

  1. Marden Diz:

    Muito interessante os casos relatados. E pensando em contribuir com o que venho aprendendo ao estudar o Espiritismo Racional e Científico Cristão, preciso antes esclarecer que o Racionalismo Cristão não adota a prática de regressão, assim como não diz que todo médium deva se desenvolver, mas também não condena quem age desta maneira.
    .
    Independente do caso ser verídico ou não, algumas considerações podem ser feitas. Note que no relato ela diz: “Eu fui batizada com dois meses, pelo padre Longuet… Eu uso um grande vestido branco… Eu vim ao mundo… Mamãe chora… A parteira, senhora Dosmond, me mostra à avó que diz que sou bonita… Eu peso seis libras (2,7 quilos)… Todos estão aqui…”. Note-se que em vários casos de relatos parecidos, onde o hipnotizador regride o hipnotizado até sua infância, eles acabam contando relatos de coisas que puderam recordar, que em seu estado natural, não seria possível recordar com tantos detalhes. Apenas acessando o seu subconsciente.
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    Mas note-se que ao continuar com a regressão, também em muitos casos, o hipnotizado volta para a cena ou episódio de seu falecimento, o que parece ser neste caso: “É longe, eu escuto rodas… Estou em uma grande casa… Pessoas vêm me procurar, eu estava na pensão…”. Esses momentos podem causar muita dor e constrangimento ao hipnotizado. E automaticamente ele tenta sair dessa cena e procura algo mais reconfortante: “Agora estou com minha mãe… Eu tenho 16 anos… Mamãe, 34… ”. Por isso que há uma justificativa plausível para tais esquecimentos.
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    Mas o que ocorreu com sua lembrança entre um estado de consciência para outro? Há poucos relatos nesse sentido. E quando se encontra na literatura, o mais próximo que se que consegue chegar são das chamadas visões de “luz no fim do túnel”, bem parecidas com os relatos das Experiencias de Quase Morte (EQM) .

  2. Bruno Diz:

    Marden, mais uma vez muito interessante seu comentário. Sempre achei um pouco “forçado” da parte do Kardecismo dizer que os mediuns são “obrigados” a desenvolver sua mediunidade em Terra, por ser um compromisso assumido na espiritualidade.
    Prometo que quando sobrar um tempo vou ler algo sobre o RC.
    Abraços

  3. Marden Diz:

    Bruno,
    .
    O saber nunca é demais e você só tem a ganhar! O material fornecido online e gratuitamente pelo Racionalismo Cristão é vasto e profundo! Leia Racionalismo Cristão e A Vida Fora da Matéria, suas obras básicas. Leia também Trajetória Evolutiva e Cartas Doutrinarias.
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    Um forte abraço e bom fim de semana.

  4. Sergio Diz:

    Uma vez alguém constestando essas estórias de reencarnação disse:

    “Percebe que todo mundo foi alguem famoso ou filho de alguem muito famoso na história?”.
    Essa era nada menos que filha de Marechal Lefebvre e de Pauline Bonaparte.

    “Mal se poderia invocar algum fenômeno de transmissão do pensamento, pois
    nenhum dentre nós – quer se tratasse do hipnotizador André Dupil, quer dos
    autores ou das pessoas que assistiram às experiências – possuía a cultura
    histórica necessária para influenciar, voluntária ou involuntariamente, a
    sonâmbula a ponto de fazê-la fornecer detalhes tão precisos quanto aqueles
    que ela fornecia a cada sessão..”

    Bom, que ninguem entendia nada de história poderia ate ser, mas nada indica que a tal Marie-lise não
    houvesse feito umas pesquizas antes, afinal a estória dessas duas persolalidades é Histórica. A motivação para isso poderia ser diversas.

    Além do mais afirmar que Marie-lise não Manjava nada de História me pareceu ingenuidade.

    Bom, a intenção da publicação deste caso é verificar se ele realmente é tão bom quando o Divaldo disse que era.

    Até o presente momento, nada de surpreendente.

    Vamos para o próximos. capitulos que como tudo indica vai seguir a mesma linha não cientifica de ‘confiança’
    Além de bastante ficcção misturada com história, pq marie Lise, filha de Marechal Lefebvre e de Pauline Bonaparte ainda vão ter de explicar.

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