Metafraude (2004)
O artigo a seguir, de Kentaro Mori, e que contou com a minha participação, resolve um mistério que durou 80 anos! Escrito em 2004, eu era descrito ainda como da religião espírita, mas depois que comecei a estudar mais essa Doutrina comecei a ver que ela era muito falha, tanto em termos de lógica quanto de provas, e a própria Ciência a contradizia em muitos pontos. Abandonei depois disso qualquer forma de religião e passei apenas a me dedicar ao estudo dos fenômenos, tendo descoberto diversas fraudes por mim mesmo. Esse artigo, portanto, pode-se dizer, marca o início das minhas pesquisas que culminaram na minha mudança de mentalidade.
Metafraude
por Kentaro Mori
A investigação moderna de fenômenos “paranormais” derivou do movimento espiritualista, e em seus primórdios ficou conhecida como “metapsíquica”, nome pelo qual ainda é denominada em alguns círculos. Fundado em Paris em 1919, o Institut Métapsychique International teve como primeiro presidente o médico conterrâneo Gustave Geley (1868-1924). Ilustrando a enorme sobreposição entre a “metapsíquica” e o movimento espiritualista, depois de sua morte em um acidente aéreo, o próprio iria surgir de forma “metapsíquica” em uma fotografia.
A foto teria sido marcada e selada pela Imperial Dry Plate Company e tomada no British College of Psychic Science, em 24 de julho de 1924 – apenas dias depois da morte de Geley. Ao leitor comum hoje, acostumado com efeitos especiais e truques fotográficos sofisticados, a “ectoplásmica” face flutuante acima de Stanley De Brath e duas sóbrias senhoras pode parecer pouco intrigante, a ponto de talvez não ser levada a sério. Oitenta anos fazem alguma diferença em alegados fenômenos paranormais.
Oitenta anos também podem tornar a imagem ainda menos intrigante quando descobrimos que a imagem da face de Geley é idêntica à exibida em uma fotografia anterior – com o pesquisador vivo, é bom notar – tomada ao lado do mesmo De Brath, em que se veria outro “fenômeno”, escrita direta.
Esta fotografia anterior também teria sido marcada e selada pela Imperial Dry Plate Company, e foi revelada por De Brath. A série de imagens abaixo pretende deixar a semelhança mais evidente, mesclando a face de Geley, abaixo à direita, vivo, e “metapsíquico”, acima e à esquerda.
A possibilidade da imagem do rosto flutuante de Geley ter uma contraparte fotográfica “viva” conhecida e idêntica me foi sugerida pelo estudante brasileiro Vitor Moura, e depois de descoberta a imagem original, a confirmação contou com a gentil ajuda de Thomas M. Jones, autor da comparação ilustrada. Agradecimentos são devidos aos dois.
Vitor Moura é adepto da religião espírita e Thomas Jones é nada menos que co-fundador da International Survivalist Society [http://www.survivalafterdeath.org]. Ainda assim, a ambos a semelhança é clara. “Em minha opinião, são réplicas exatas”, diz Jones, que no entanto logo ressalva que “se isso é suficiente para provar fraude, pode ser discutido”. A possibilidade da duplicação ter sido realizada de forma paranormal permaneceria, merecendo maior investigação.
O tema realmente merece maior investigação; restam dúvidas se Stanley De Brath foi mesmo o autor da fraude e se havia outros envolvidos, incluindo o próprio Gustave Geley. O presidente do Instituto Metapsíquico descreveu diversas medidas de controle em suas inúmeras investigações, e era assim que firmava com maior segurança suas conclusões endossando a existência de fenômenos paranormais.
Sendo esta uma fraude, envolvendo o próprio – tanto vivo, como depois de morto – seria emblemática dos problemas da ‘metapsíquica’.
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Revista Pensar, Volumen 1, Número 3 – Julio/Septiembre 2004
Artigo original disponível online aqui.
fevereiro 1st, 2012 às 2:31 AM
Muito interessante. Há algum artigo em português que mostre quais eram as técnicas disponíveis na época para realizar fraudes como esta?
fevereiro 1st, 2012 às 2:34 AM
Isso aí basicamente é truque fotográfico de dupla exposição. Desde a época de Kardec já existiam as “fotografias espíritas”. No livro “processo dos Espíritas” há vários exemplos, inclusive uma foto da mulher de Kardec com o espírito dele.
fevereiro 1st, 2012 às 12:00 PM
Vitor,
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A fraude provavelmente foi o principal fator que “matou” o espiritismo na França, isso já no início da século 20.
fevereiro 1st, 2012 às 2:41 AM
Sim. Conheço. É uma foto bem tosca. Mas, gostaria de compreender melhor os recursos fotográficos da época. Valeu.
fevereiro 1st, 2012 às 2:55 AM
Excelente, Vitor! Deixa o James Randi te descobrir, que te leva pra trabalhar com ele 🙂 Parabéns mais uma vez!
fevereiro 1st, 2012 às 10:41 AM
Mistério que durou 80 anos? Não lembro onde, mas já faz um bom tempo (uns 11 pelo menos) que vi esse mistério ser decifrado. Chegou atrasado, Vitor.
fevereiro 1st, 2012 às 6:11 PM
Oi, Arduin,
Tem certeza?
fevereiro 4th, 2012 às 7:31 PM
Não quanto à dada, mas quanto à decifração sim.
fevereiro 1st, 2012 às 10:43 AM
Paloma, o Desafio Randi já acabou, certo? Mas foi válido por 12 anos, se não me engano. E ninguém chegou perto de levar para casa a grande bolada. Uma pena…
fevereiro 1st, 2012 às 11:15 AM
Oi, Antonio
escrevi sobre o desafio do Randi aqui:
http://comkardec.blogspot.com/2010/10/o-desafio-de-james-randi-demonstra-que.html
fevereiro 1st, 2012 às 12:04 PM
Vitor, eu concordo que o fato de ninguém ter superado o Desafio de Randi não prova que o sobrenatural não existe. Mas ainda resta provar que exista.
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Sds.
fevereiro 1st, 2012 às 12:16 PM
Oi, Antonio
o artigo de 1988 publicado no JNMD com os 3 casos de reencarnação no Sri Lanka é explicíto em dizer que os autores conseguiram excluir possíveis meios normais de aquisição das informações pelas crianças, e é bem taxativo em afirmar que elas só poderiam ter obtido tais informações por meios paranormais. Aliás, há algo curioso sobre aquele artigo que deixarei para comentar quando eu publicá-lo aqui no blog.
fevereiro 1st, 2012 às 7:19 PM
Diz ele que continua disposto a pagar. Aliás, em uma entrevista, ele disse que desafiou o João de Deus (de Abadiânia) e o “médium” deu pra trás…
fevereiro 1st, 2012 às 1:29 PM
Eu não conheço estes casos. Vou procurar. Quando teremos o material aqui no blog?
fevereiro 1st, 2012 às 1:32 PM
Amanhã 🙂
fevereiro 1st, 2012 às 1:47 PM
Legal!
fevereiro 1st, 2012 às 5:31 PM
Vitor, eu tenho comigo um exemplar muito raro de uma obra de Cornélio Pires, chamada “Onde estás, ó Morte?”, edição do próprio autor, em que ele mostra inúmeras fotos de materializações realizadas aqui e na Europa, nos primeiros anos do século 20 (a obra não tem data, mas deve ter sido publicada na década de 1940). A maioria das fotos é bastante ruim, mas uma me chama a atenção pelos detalhes e pela história. Gostaria de mandá-la para apreciação dos internautas, seria possível?
fevereiro 1st, 2012 às 5:58 PM
É possível sim, mas tem como você escanear o livro e me mandar? Sabe como é, oferece a mão, agarro logo o braço! 😀
fevereiro 1st, 2012 às 6:18 PM
Possível até é, mas é um tanto demorado. Posso mandar a prestação, mas interessante mesmo são algumas fotos.
fevereiro 1st, 2012 às 6:28 PM
Como é raro, acho legal colocar o livro todo. Vai mandando a prestação, mas vai mandando! 😀
fevereiro 1st, 2012 às 6:53 PM
Incrível é ler comentários tais como o contido no texto: igual é, igualzinha, + c é fraude, ñ sei, ñ posso afirmar… é absurdo!
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Infelizmente, o espiritualismo e o espiritismo nascem colados à fraude escancarada, ou também ao erro escancarado. Sugiro q os interessados leiam os textos de Swedenborg, p/ ex.
fevereiro 1st, 2012 às 9:27 PM
Vitor Moura adepto da religião espírita? Que beleza! Deve ser mesmo, do espiritismo de mesa branca e pé descalços que o Biasetto frequentou.
fevereiro 1st, 2012 às 10:03 PM
Deixei algumas considerações no tema das fotos, mas parece que todo mundo escapuliu ligeirinho de lá.
Mensagem para o Extoffo, Biasetto e para o Arduin.
Agora deu. Boa temporada para a turma da corrida maluca.
fevereiro 2nd, 2012 às 12:50 AM
Eu vi, Scur. Não fujo à liça. O espiritismo a que você se refere é mesmo o espiritismo de mesa branca, como o kardecismo é conhecido na linguagem popular. Ninguém mais sábio do que o povo, que faz tempo demoliu o que os espíritas (kardecistas) insistem em manter – a exclusividade do espiritismo como a doutrina espírita “codificada” (diga-se: forjada, inventada) por Allan Kardec. Nada mais falso. A própria palavra espiritismo não foi nem Kardec que criou, ela já existia na língua inglesa (spiritism) para definir a série de fenômenos hoje entendidos como paranormais, a começar dos fenômenos de “spirit rapper”, ou espíritos batedores. Kardec simplesmente se apropriou dela para rotular a doutrina que havia engendrado. Os dicionários franceses registram a palavra “spiritisme” como anglicismo. Se Kardec realmente resolvesse criar uma palavra para definir a sua doutrina, teria usado uma alternativa vernácula sem dúvida, já que os franceses são ciosos de sua língua como ninguém, e talvez forjasse a palavra “Espritisme”, derivada do francês “esprit”, espírito, essa sim a alternativa mais lógica para o caso. Na própria definição dele, no Livro dos Espíritos, a Doutrina Espírita ou Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível. Se é assim, os livros da Zíbia Gasparetto e a umbanda também são espíritas, cada um a seu modo, porque também tratam da relação entre o mundo material e os seres do outro mundo.
fevereiro 2nd, 2012 às 1:38 AM
VITOR
RAPAZ….TE ADMIRO MUITO… NAS ULTIMAS SEMANAS VOCE POSTOU MUITAS MATERIAS INTERESSANTES..NAO DÁ TEMPO NEM DE LER E VC JA COLOCOU OUTRA…O PESSOAL PELO JEITO SE REBOLA PARA COMENTAR…..OUTRA COISA, O PESSOAL QUE COMENTA NO BLOG, NAO QUERENDO PUXAR A SARDINHA PARA VCS, SÃO MUITO PERSPICAZES…A GENTE CONSEGUE MUITA INFORMAÇÃO..EU MESMO APRENDI MUITO LENDO OS COMENTARIOS…..CONTINUE ASSIM…ACHO QUE UM DOS LOCAIS MAIS ESPETACULARES PARA QUEM GOSTA DESTA ÁREA…CONTINUE ASSIM E NÃO PARE….PARABENS A TODOS…
UM ABRAÇO