O caso de Ajendra Singh Chauhan: forte caso sugestivo de uma vida passada (2004)

Este caso de memórias de uma vida passada foi estudado por Antonia Mills, antropóloga de Harvard. O caso diz respeito a um menino, Ajendra Singh Chauhan, que possuía um comportamento extremamente agressivo. O caso possui registros escritos antes da verificação da existência da vida passada, colocando-o como um dos mais fortes casos já registrados. A autora analisa algumas hipóteses alternativas, entre elas a chance de coincidência e a hipótese socio-psicológica.

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Journal of Scientific Exploration, Vol. 18, No. 4, pp. 609–641, 2004

0892-3310/04

 

Inferências sobre o caso de Ajendra Singh Chauhan: o efeito do questionamento parental, do conhecimento sobre sua família na “vida passada”, uma pesquisa abordando as probabilidades, e o impacto na sua vida quando jovem.

 

ANTONIA MILLS 

University of Northern British Columbia

3333 University Way, Prince George, British Columbia, Canada V2N 4Z9

email: millsa@unbc.ca 

Ian Stevenson e seus associados (Stevenson et al., 1974, 1975, 1997) registraram um grande número de “Casos do Tipo Reencarnação” em locais de diferentes culturas por todo o mundo, perguntando “Será que esses casos indicam que a reencarnação é a melhor explicação ou existe uma alternativa adequada para responder pelo fenômeno?” Propostas de explicações alternativas incluíram wishful thinking (pensamento fantasioso), a interpretação das expressões vocais infantis baseadas em uma crença anterior na reencarnação, isto é, uma construção cultural, ou mesmo fraude e auto-ilusão (Chari, 1986; Mills, 1988, 1989; Stevenson et al., 1988).

Há muito foi reconhecido que os casos que melhor respondiam a essas questões eram aqueles em que a pessoa identificada como sendo o morto que a criança alega ser (chamada Personalidade Prévia, ou PP, por Stevenson) é alguém a princípio inteiramente desconhecido para a criança e sua família. Em alguns desses casos uma PP é identificada após a realização de uma pesquisa com base nas afirmações da criança. Esses casos representam um subconjunto dos casos “resolvidos” que Stevenson acumulou, ao contrário dos casos “não resolvidos”, nos quais a criança faz algumas declarações, mas ninguém que corresponda às declarações da criança é encontrado.1 Quando existe um registro escrito das declarações que a criança fez antes do caso ser resolvido, a chance de que um conhecimento íntimo a respeito da pessoa morta possa ter influenciado as declarações da criança e a forma de suas elocuções é eliminada. Casos com registros escritos antes de as duas famílias se conhecerem são muito raros, mas já foram reportados por Stevenson (1975), Stevenson e Samararatne (1988), Haraldsson (1991), e Mills et al. (1994). Schouten e Stevenson (1998) compararam o pequeno acervo de casos com registros escritos antes de serem resolvidos, os quais eles chamam Tipo B, com aqueles com os registros escritos feitos depois de as famílias se conhecerem, chamados Tipo A. Como os casos do Tipo B são raros e requerem considerações detalhadas, aqui eu apresento uma descrição minuciosa do caso Tipo B de Ajendra Singh Chauhan, e tiro algumas conclusões.

O caso de Ajendra Singh Chauhan, do norte da Índia, foi anteriormente publicado de forma abreviada no capítulo “Past-Life Experience” (Mills e Lynn, 2000) no livro Varieties of Anomalous Experience (Cardena et al., 2000). No caso de Ajendra, eu levei Ajendra e alguns de seus familiares para visitar a família de sua vida passada, ou PP, pela primeira vez quando ele tinha 13 anos de idade. Depois de apresentar o caso, eu o avalio usando a Scale to Measure the Strength of Children’s Claims of Previous Lives* (SOCS), desenvolvida por Tucker (2000), que classifica que este é um caso forte; então calculo qual seria o resultado nessa escala se o pai de Ajendra não tivesse feitos as perguntas, um processo que produziu informações tornando possível a solução do caso. Em seguida, discuto minhas tentativas de calcular a probabilidade de as afirmações de Ajendra serem mais do que coincidência. Então eu uso as anotações feitas no primeiro encontro das duas famílias, e as entrevistas subseqüentes com ambas as famílias, para avaliar até que ponto pode ter havido elaboração cultural. Concluo que os rigorosos métodos de Stevenson de documentação dos casos impedem que uma elaboração posterior seja aceita como correta, embora observando que de fato uma leve elaboração tenha ocorrido no caso de Ajendra. Por fim, apresento dados sobre o impacto do caso em Ajendra com base em um estudo longitudinal conduzido em 2003.           

O caso de Ajendra Singh Chauhan 

O caso é um dos poucos em que a família da personalidade prévia (PP) era desconhecida para a família de Ajendra, um registro escrito foi feito antes de o caso ser resolvido, e o caso foi subseqüentemente resolvido. O primeiro registro foi feito pelo Sr. Gaj Raj Singh Gaur, um professor universitário do norte da Índia, que colaborou com Stevenson, coletando informações preliminares do caso.2 O Sr. Gaur viajou 75 quilômetros até Fariha e foi bem sucedido resolvendo o caso. Então, eu reinvestiguei o caso, entrevistando Ajendra e seus pais, e aplicando a Ajendra e a um garoto de sua comunidade, equiparando a um controle, alguns testes psicológicos. O Sr. Gaur e eu pegamos Ajendra e alguns de seus parentes para nos encontrarmos com a família da PP de Ajendra, Naresh Chandra Gupta, em Fariha, a uns 75 quilômetros da casa de Ajendra. Também levamos este grupo a Shekhanpur, a cidade da PP. Nem Ajendra, nem sua família tinham estado em Fariha ou Shekhanpur anteriormente. A viagem aconteceu 6 semanas depois de o Sr. Gaur ter ido para Fariha e resolvido o caso. Era evidente que as famílias não reconheceram uma à outra inicialmente nem nunca tinham se visto antes.

G. R. S. Gaur se lembrou da repetição de algumas afirmações, como as descritas pelo pai de Ajendra quando ele tinha 13 anos, em 1992 (Ajendra nasceu em 8 de agosto de 1978).3 Ajendra fez as declarações entre as idades de 36 e 60 meses.4 Segue um resumo dos relatos dados pelo pai de Ajendra antes de o caso ser resolvido, oriundos das notas que Gaur escreveu em Hindi, traduzidas por um instrutor de Hindi da Universidade da Virgínia.5

Inferências do caso de Ajendra Singh Chauhan 

De acordo com o pai de Ajendra, quando ele tinha aproximadamente 3 anos de idade, ele disse: “Dois búfalos asiáticos costumavam me fornecer leite. Eu bebia um balde de leite e você me traz só esse copo”. Disse isso quando lhe foi oferecido leite na casa de sua tia. Ele empurrou sua tia. O pai de Ajendra comentou “ele é agressivo naturalmente. É impulsivo e de difícil relacionamento”. De acordo com seu pai, Ajendra disse “eu também tinha uma égua. Uma Punditine [viúva brâmane] de tez clara tentou misturar veneno na comida. Então eu bati muito nela.”

Quando o pai de Ajendra levou família à Diwali, um festival hindu, em sua cidade natal, Ajendra disse “papai, não vá aos jardins durante a noite. Dacoits [gangsteres] vivem lá. Às vezes os policiais são mortos, às vezes os dacoits”. Os pais de Ajendra perceberam a sua fobia de escuro, que persistiu até os 13 anos, apesar do seu comportamento agressivo.

Mais tarde, numa noite de um verão quente, quando Ajendra estava deitado no peito de seu pai, que estava no telhado de sua moradia, ele disse “Papai, o dacoit [gangster] veio. Comecei a atirar de cima do telhado. Uma bala me atingiu”.6 Ajendra demonstrou como ele tinha agachado atrás de seu pai para atirar no dacoit. Ele tinha 3 anos quando disse isso.

Ajendra nunca tinha visto dacoits, nem seu pai tinha uma arma. Depois desse evento seus pais estavam convencidos de que Ajendra falava sobre sua vida passada, e seu pai começou a lhe fazer uma série de perguntas. Respondeu “Fariha” quando seu pai lhe perguntou onde morava. Outras perguntas o levaram a responder “tem um posto policial lá. Existem ruas pavimentadas. Uma rua entra na cidade. Na esquina dessa rua existe uma loja de um comerciante chamado Lala. Nossas compras costumavam vir daquela loja”. Quando seu pai lhe perguntou qual era o seu nome, ele olhou para o céu como que procurando por um nome e disse “Ashok Kumar Sharma vivia em uma cidade próxima”. Ele também adicionou “Havia uma viúva pundit [punditine] que tem uma irmã de 6 ou 7 anos, ela costumava cozinhar para nós”. Também disse “um par de calças está pendurado em um cabide no meu quarto e no bolso tem algumas rúpias. E no guarda-roupa tem um revólver. O rifle está carregado [imitou a ação de engatilhar o cano do revólver]. Balas de metal eram usadas”.

Embora os pais de Ajendra assumissem que ele estava falando de sua vida passada, não prosseguiram com o caso, justificando “que podia afetar o cérebro da criança”, uma declaração também traduzida como “afetá-lo mentalmente”.7 Eles não tinham certeza sobre onde Fariha estaria localizada, nem nunca tinham estado lá, e achavam que a criança queria dizer Faridha, uma cidade próxima à cidade natal do pai de Ajendra. Após gravar as declarações em 1992, Gaur discerniu que havia uma cidade chamada Fariha a 75 quilômetros da casa de Ajendra, e foi até lá verificar se havia alguma pessoa que se encaixava nas declarações da criança.

Gaur conseguiu achar um homem chamado Ashok Kumar Sharma (chamado verdadeiramente de Tiwari – um outro nome brâmane).8 Ele tinha sido um amigo próximo de um Naresh Chandra Gupta que havia sido morto com um tiro por gangsteres no dia 30 de dezembro de 1977, enquanto se posicionava atrás de seu pai no telhado de sua casa para atirar em outros membros da gangue, em Shekhanpur. Shekhanpur era a cidade nativa da família Gupta, com uma população, em 1981, de 1.301 pessoas (Censo da Índia Série–22 Parte X11: 50–51).9 Naresh tinha 20 anos de idade quando morreu. Em Shehanpur, a família Gupta tinha uma casa, búfalos e terras, e seu pai tinha uma loja que vendia ghee (manteiga clarificada). A família também tinha uma casa em Fariha, de 10.000 habitantes, onde o irmão mais velho de Naresh tinha uma loja na esquina.10 Era lá que Naresh ia à escola com Ashok Kumar Sharma/Tiwari. A família Gupta alternava entre essas residências. O pai de Naresh, Kedar Nath Gupta, descreveu os eventos que antecederam a morte do filho:

“Os dacoits chegaram por volta das 10 horas da noite. No quarto, eu e ele estávamos deitados nas camas. Havia duas armas conosco e eu disse “pegue uma arma e eu pego a outra”. Pelas escadas subimos até o telhado. Quando soubemos dos dacoits, nós achamos que eles estavam em alguma outra casa do vilarejo – então eles começaram a arrombar a porta da nossa casa. Ele posicionou sua arma na beirada no telhado [mundgari] e sentou atrás de mim. Os dacoits estavam atirando de três lados, eu atirava pelo quarto lado. Eu perguntei “onde está sua munição?”, e ele respondeu “deixei no alto do telhado”. E prosseguiu “devo pegá-la?”. Eu respondi que não, era para ele continuar atrás de mim e deixá-la onde estava. Mas ele não me ouviu e foi atrás de sua munição, e antes de alcançá-la, foi baleado; eu o vi sendo baleado. (As balas entraram na parte inferior do pescoço). Quando ele caiu eu achei que ele estava morto. E depois de alguns minutos ele morreu. Mas mesmo sabendo que ele estava morto, eu continuei atirando até ferir alguns e matar outro, quando então eles fugiram. [Notas de 24 de junho de 1992: 4].” 

Note que o que fez Ajendra falar que ele foi baleado, e simular o tiroteio de cima do telhado, foi o fato de ele ter estado no telhado ou mundgari e próximo ao seu pai.

Kedar Nath Gupta confirmou que a família Gupta tinha búfalos asiáticos, e seu filho, Naresh Chandra Gupta, bebia uma grande quantidade de leite. Eles adquiriram uma égua quando Naresh ainda era pequeno. Nós vimos a arma que Naresh portava quando morreu, uma Greener feita em Birmingham, e o cartucho de balas que ele usou. Estava carregada e engatilhada, como Ajendra havia demonstrado, puxando a parte superior da arma primeiro para trás e depois para frente. As ruas eram certamente pavimentadas em Fariha (como a maioria das cidades indianas, inclusive a que Ajendra havia morado, mas em contraste com Shekhanpur), e havia apenas uma rua que ligava a estrada ao centro da cidade. Havia um posto policial em Fariha, inclusive com o registro da morte de Naresh.

A respeito da viúva de tez clara, que cozinhava e colocou veneno na comida, algumas afirmações eram verdadeiras e outras não. A comida de Naresh era preparada, na verdade, pela esposa de pele clara de seu irmão mais velho, chamada Bhabhi, que, assim como ele, pertencia à casta dos comerciantes; e tinha uma irmã de 2 anos (de acordo com o pai de Naresh) ou 3 ou 4 no tempo da morte de Naresh (de acordo com sua mãe), e não 6 ou 7 como Ajendra havia dito. Havia uma grande inimizade entre Naresh e essa mulher, e, de acordou com sua mãe, seu pai, seu amigo Ashok Kumar Tiwari, e o irmão mais novo de Naresh, Naresh suspeitava que ela estava tentando envenená-lo. Aparentemente Naresh realmente bateu nela (seu irmão mais novo disse que “isso era comum”). Quando chegamos à casa dos Guptas, em Fariha, sua cunhada, ou Bhabhi, (a esposa de seu irmão mais velho), ficou tempo suficiente conosco para eu perceber que tinha a tez clara e se recusou a responder minhas perguntas nesta e em outra ocasião. O mesmo aconteceu com seu marido que também não quis ser questionado.

Nem a família de Naresh, nem a família de Ajendra tinham uma explicação para o fato de Ajendra falar que sua comida era feita por uma punditine ou viúva brâmane.11 Quando eu perguntei ao pai de Ajendra se alguma Punditine esteve presente durante a infância do garoto, ele respondeu que na época dessa declaração eles haviam arrematado suas terras de uma viúva pundit ou Punditine, que vivia nos arredores e se encontrou com Ajendra algumas vezes. Ela tinha uma filha mais velha que Ajendra, assim como um filho mais novo. Quanto se havia ou não inimizade entre Ajendra e esta Punditine, eu não consegui descobrir.

Ajendra era definitivamente de temperamento rude, assim como Naresh havia sido. Mostraram-me, nas costas do irmão de Ajendra, uma cicatriz feita por Ajendra que estava nervoso e então apunhalou o irmão com uma faca. O pai de Ajendra também me contou que quando seu irmão quebrou um braço em uma briga, Ajendra cortou as digitais de um dedo do garoto que atacara seu irmão mais velho. Um outro incidente agressivo foi descrito: quando ele começou a ir ao colégio, um garoto deu-lhe uma pancada e depois da aula Ajendra acertou a cabeça do mesmo com uma pedra. A Tabela 1 abaixo contém todas as declarações, inclusive as escritas, antes de o caso ser resolvido, e a verificação de todas, com exceção de duas.

Como Calcular a Força do Caso           

Neste artigo eu usei a SOCS de Tucker (2000), que nos permite ver a força do caso. Em seguida calcularemos a força do caso se o pai de Ajendra não tivesse interpretado os fatos como uma possível reencarnação e não tivesse feito as perguntas a seu filho. A seguir eu descrevo minha tentativa de pesar a probabilidade relativa das declarações individuais e a minha tentativa abortada de avaliar a probabilidade das declarações combinadas neste caso. Aprendendo a partir dos comentários de um referee deste artigo, eu vejo o quão difícil é chegar a um resultado das “probabilidades combinadas” desse evento. Então, eu examinarei se as intensas interações dos encontros entre as duas famílias indicam a adição de novas informações na base do caso. E finalmente, eu relatarei o impacto do caso para Ajendra, agora que ele é um jovem adulto.

A Força do Caso de Ajendra Singh Chauhan Usando a Escala de Tucker 

O SOCS de Tucker consiste em 22 medidas. Abaixo eu listo as medidas que são relevantes para o caso de Ajendra Singh Chaunhan, citando apenas algumas medidas que não se aplicaram ao caso de Ajendra. Os outros itens (itens das considerações finais) não são relevantes, isto é, receberam uma pontuação de valor 0.12 Essas informações não relevantes também são mostradas na Tabela 2.

TABELA 1

Declarações e Comportamento de Ajendra Singh Chauhan (as afirmações 1 a 12 foram feitas espontaneamente sem questionamento): 

Item: declarações ou comportamento

Informantes (fonte)

Verificação

Comentário

1. “Dois búfalos eram usados para fornecer leite”.

Pai de Ajendra, Sr. Hari Raj Singh Chauhan e a mãe de Ajendra.

Sim, de acordo com o pai de Naresh, Kedar Nath Gupta.

A família Gupta tinha e tem búfalos asiáticos, e ainda vendem ghee de seus leites.

2. “Eu costumava tomar um balde de leite, e você me traz só este copo pequeno?”.

O pai e a mãe de Ajendra.

Sim, de acordo com o pai de Naresh.

Isso foi dito para a esposa do irmão da mãe de Ajendra, quando ela ofereceu apenas um pequeno copo de leite em sua casa. Ajendra recusou, batendo o copo e sua tia com desdém.

3. Declaração do pai de Ajendra: Ajendra é naturalmente agressivo, impulsivo e de difícil relacionamento.

O pai (e a mãe) de Ajendra.

Naresh também tinha um temperamento agressivo, de acordo com os seus pais e com o amigo Ashok Kumar Tiwari.

Esta foi uma das declarações de seu pai registradas antes de o caso ser resolvido.

4. “Eu também tinha uma égua”.

O pai de Ajendra.

O pai de Naresh.

Naresh tinha uma égua quando ele era pequeno.

5. “Uma vez uma Punditine [viúva Pundit]….”

O pai de Ajendra.

Não, o pai de Naresh desconfirmou que a pessoa que cozinhava para Naresh fosse uma viúva. Era a esposa de seu irmão mais velho, ou Bhabhi, que preparava sua comida quando ele morava em Fariha. Ela era da casta dos comerciantes e não era viúva (= dois pedaços de informação incorretos)

O pai de Ajendra disse que quando Ajendra fez essa declaração eles alugavam de uma Punditine, que também vivia no local, e às vezes alimentava Ajendra.

6. “de tez clara…”

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh; observação do investigador (A. Mills).

A Bhabhi (esposa do irmão mais velho), que cozinhava a comida de Naresh, era de tez clara. Assim como a Punditine que alimentou Ajendra quando ele era jovem.

7. “Tentou envenenar a comida”.

O pai de Ajendra.

Sim, de acordo com Ashok K. Tiwari, amigo de Naresh, o pai e a mãe de Naresh disseram que Naresh assim acreditava.

A família e o amigo de Naresh concordaram que Naresh achava que ela tinha tentado envenená-lo; mas não diriam que ela realmente tinha tentado fazê-lo.

8. “Então eu bati muito nela”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai, a mãe e o irmão mais novo de Naresh.

A família relutou um pouco para falar sobre isso, mas sabiam que tanto Naresh quanto sua Bhabhi tinham um temperamento petulante e um relacionamento tempestuoso.

9. “Dacoits (gangsteres) estão no jardim no escuro”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

O pai de Naresh disse que estava escuro quando os dacoits começaram a atirar neles do lado de fora de sua casa em Shekhanpur.

10. “Os dacoits vieram”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh e o registro policial.

 

11. “Comecei a atirar do muro”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

Os dacoits estavam do lado de fora e Naresh e seu pai atiravam do alto do muro ou mundgari.

12. “Fui baleado”.

O pai de Ajendra.

O pai de Naresh, e registro da polícia de Fariha.

 

Afirmações feitas em resposta ao questionamento do pai [13-27]:

13. [Eu sou de] “Fariha.”

O pai de Ajendra.

O pai de Naresh.

Naresh vivia tanto em Fariha quanto em sua cidade natal Shekhanpur, onde foi baleado. Em Fariha, Naresh vivia na casa de seu irmão mais velho, que tinha uma loja lá.

14. “Havia uma Punditine [Pundit ou viúva brâmane] que tinha uma filha de 6 ou 7 anos”.

O pai de Ajendra.

Não, o pai de Naresh (veja # 7 acima re: Punditine). Quem cozinhava a comida de Naresh era a esposa de seu irmão mais velho ou Bhabhi. No que se refere à idade da filha da Bhabhi, ela tinha 2 ou 3 anos na época em que Naresh era vivo.

A viúva que se encontrou com Ajendra algumas vezes tinha uma filha mais velha que ele, e um filho mais novo. A filha era mais velha, o que pode justificar o fato de Ajendra ter dito a idade de 6 ou 7 anos.

15. “Ela cozinhava nossa comida”.

O pai de Ajendra.

Novamente, não a Punditine, mas a Bhabhi, de acordo com o pai de Naresh e com Ashok K. Tiwari.

A comida de Naresh era feita por sua Bhabhi, que tinha a pele clara e uma filha nova quando ele esteve em Fariha.

16. “Um par de calças está pendurado em um cabide no quarto”.

O pai de Ajendra.

Provavelmente, segundo o pai de Naresh.

O item é verídico para tantas pessoas que passa a ter pequena significância.

17. “Tem algumas rúpias no bolso de trás”.

O pai de Ajendra.

Provavelmente, de acordo com o pai de Naresh.

Novamente não se tem certeza, e não é especificamente direcionado a Naresh.

18. “Tem uma arma no guarda-roupa”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

O pai de Ajendra não tinha uma arma.

19. “O cartucho está carregado e a arma, engatilhada”.

 

Ajendra imitou como a arma foi engatilhada. 

O pai de Ajendra.

 

 

 

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

 

 

 

O pai de Naresh.

Foi-nos mostrado o rifle; uma Greener feita em Birmingham.

O pai de Naresh dos mostrou que, de fato, o rifle era engatilhado puxando a parte superior para frente e depois para trás, como Ajendra havia nos mostrado.

20. “Balas de metal foram usadas”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

Foi-nos mostrado o cartucho de balas.

21. “Ashok Kumar Sharma era meu amigo”.

O pai de Ajendra.

Sim, Ashok Kumar Tiwari e o pai de Naresh.

Ashok Kumar Tiwari explicou que Naresh o chamava de Sharma porque todos os outros Brahmins em Fariha se chamavam Sharma. [Tiwari também é um nome Brahmin]. Eles eram colegas de sala e amigos.

22. “A. K. Sharma morava em uma cidade próxima”.

O pai de Ajendra.

A.K. Tiwari.

De fato, A.K. Tiwari e Naresh se conheceram quando moravam em Fariha, onde puderam freqüentar o ensino médio. Suas cidades natais eram diferentes e perto de Fariha.

23. “Há um posto policial em Fariha”.

O pai de Ajendra.

Posto policial em Fariha.

O posto policial tem os registros da morte de Naresh Chandra Gupta em Shekhanpur.

24. “As ruas de Fariha são pavimentadas”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh. Nós também notamos as ruas pavimentadas.

Em Fariha as ruas são pavimentas, assim como em Etah (cidade natal de Ajendra), mas não em Shekhanpur.

25. “Uma rua leva até a cidade”.

O pai de Ajendra.

Notamos que uma rua sai da estrada que vai para Firozabad e entra na cidade de Fariha.

 

26. “Na esquina da rua fica a loja de Lala (um Baniya ou alguém da casta dos mercantes)”.

O pai de Ajendra.

Sim, o pai de Naresh.

O pai de Naresh disse que a loja não existe mais, mas enquanto Naresh era vivo, a loja do irmão era na esquina. Os irmãos de Naresh (assim como Naresh) eram da casta Mercante ou Baniya.

27. “Nossas compras vinham daquela loja”.

O pai de Ajendra.

Sim, de acordo com o pai de Naresh.

 

Número total de declarações: 27

O pai de Ajendra.

Número de declarações corretas: 27 – 2 = 25;

número de trechos de informações corretas: 27 – 3 = 24

Chamar a pessoa que preparava seu alimento de Punditine, e dizer que a idade da filha era de 6–7 foram informações incorretos. O termo Punditine contém dois pedaços de informação incorreta: a Bhabhi (cunhada) que preparava a sua comida não era nem viúva nem uma brâmane.

Número total de declarações corretas: 25

O pai de Ajendra.

 

 

Número total de declarações específicas corretas: 23

 

 

 

Número total de declarações específicas cuja probabilidade pode ser calculada: 6

 

Número de declarações específicas = 25 – 2 = 23 (#s 16 e 17 verdadeiras para quase todos os jovens de 20 anos do sexo masculino na Índia em 1977; não específicas).

Probabilidades aproximadas podem ser calculadas em 6 itens, mas apenas 5 podem ser considerados independentes.

Número total de ações simuladas: 2

O pai de Ajendra.

O pai de Naresh.

 

1) Agachando-se atrás da parede baixa ou mundgari no telhado de uma casa, Ajendra simulou o tiroteio enquanto estava bem próximo do seu pai.

 

 

 

2) Ajendra simulou ato de engatilhar o  rifle.

 

 

 

Número de situações similares às declarações: 4

O pai de Ajendra.

O pai de Naresh.

 

1) Na escuridão (tanto na moradia do pai de Ajendra quanto, mais tarde, no telhado da casa em Etah).

 

 

1) O ataque dos dacoits aconteceu na escuridão, note a fobia de Ajendra pelo escuro.

2) Num vilarejo.

 

 

2) Os dacoits foram mencionados em um vilarejo, o vilarejo do pai de Ajendra, que era parecido com aquele em que Naresh foi baleado.

3) Em grande proximidade física com seu pai, seus corpos se tocando.

 

 

3) Ajendra permanecia sobre o corpo de seu pai no telhado de sua casa na escuridão; Naresh estava muito próximo seu pai enquanto atiravam.

4) Sobre o telhado com um muro baixo ou mundgari.

 

 

4) Naresh e seu pai estavam agachados atrás do pequeno muro ou mundgari sobre o telhado de sua casa em Shekhanpur; Ajendra e seu pai estavam sobre um telhado com um pequeno muro ou mundgari quando Ajendra descreveu ter sido baleado.

Similaridade de temperamentos: Ajendra e Naresh eram naturalmente agressivos.

 

 

 

Medida 1. Analisando as marcas e defeitos de nascimento

Correspondência de marcas fatais individuais: Pontuação = 0. Ajendra, de acordo com sua mãe, não tem nenhuma. Ao retornarem entusiasmados do primeiro encontro com a família de Naresh Chandra Gupta, a sua irmã mais velha e o seu irmão afirmaram que Ajendra tinha uma marca de nascença no seu pescoço no mesmo lugar onde Naresh fora fatalmente baleado. Sem a confirmação da mãe, essa categoria tem pontuação = 0.13 

Medida 2. Analisando as marcas e defeitos de nascimento

Correspondência de marcas não-fatais no indivíduo morto: novamente, pontuação = 0.

Medida 3. Doença ou Enfermidade Relacionada ao Indivíduo Morto

Naresh Chandra Gupta sofria de convulsões do tipo grande mal que, de acordo com seu pai, começaram em 1973. De fato, a severidade dos ataques aumentou e interferiu na conclusão de sua educação no ensino médio. Neste período de sua vida, seus pais o mandaram para Delhi, Agra e Kanpur para receber tratamentos. O pai de Naresh disse que ele se curou cerca de oito meses antes de sua morte, em 1977. Ajendra não demonstrou tal proclividade. Portanto não há pontuação para esta categoria. 

Medida 4. Declarações Sobre a Vida Passada

O sujeito alega se lembrar de uma vida passada: usando a escala de Tucker, a qual atribui 0 para declarações feitas por crianças, –2 para nenhuma declaração, alegação feita apenas com base em outras evidências; pontuação = 0.

Medida 5. Declarações Sobre Lugares e Pessoas Como Aparentavam Durante a Vida Passada, Suas Aparências Tendo Mudado Desde Então

Como Ajendra não conheceu a família de Naresh (a PP) até ele ter 13 anos de idade e já havia ultrapassado a idade em que nitidamente (ou até mesmo vagamente) se lembrava dos fatos da vida passada, ele não fez declarações sobre como as coisas tinham mudado. A única declaração que ele fez depois de conhecer a família Gupta, que não foi verificada, será descrita posteriormente. Pontuação = 0.

Medida 6. Declarações Sobre a Vida Passada Verificadas Como Corretas Menos as Declarações Incorretas Feitas

Ao todo foram 24 declarações, sendo que algumas com mais de uma informação, somando um total de 27 pedaços de informação. Duas estavam incorretas, o que resultou em 25 corretas. Pontuação = 8.

Comportamento 

Das 10 categorias identificadas por Tucker, Ajendra tinha as seguintes.

Medida 7. Dietas Incomuns Desejadas ou Recusadas Relacionadas à Vida Passada

Ambos gostavam de beber grandes quantidades de leite: Pontuação = 3.

Medida 11. Habilidades e Aptidões Incomuns Relacionadas à Vida Passada

Notou-se que a PP, Naresh Chandra Gupta, tinha um temperamento agressivo, que se manifestou através da agressão à esposa do irmão mais velho. Como mencionado acima, os pais de Ajendra observaram que ele era muito agressivo. Pontuação = 3.

Medida 13. Fobias Incomuns Relacionadas à Vida Passada

Ajendra tinha um medo muito grande do escuro, o que é notável em um garoto agressivo, e que, presume-se, tem relação com o fato dele ter sido baleado no escuro (às 23 horas, segundo os registros policiais, e às 22 horas, segundo o pai de Naresh, que notou a escuridão, falando que os dacoits tinham tochas). Pontuação = 3.

Medida 17. Conexão com o Indivíduo Morto

Identificação do indivíduo morto por outros investigadores (G. R. S. Gaur, neste caso): Pontuação = 2.

Medida 18. Conexão Entre as Duas Famílias Antes de o Caso Começar a Se Desenvolver

Eram completamente estranhos uns para os outros: Pontuação = 5.

TABELA 2        

A Escala-da-Força-do-Caso (SOCS) no caso de Ajendra Singh Chauhan

Item

Pontos possíveis no SOCS

Pontos de Ajendra

Marcas/defeitos de nascença

1. Correspondência de ferimentos fatais no indivíduo morto

 

– Verificada por registros médicos

8

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

5

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

2

0

2. Correspondência de ferimentos não-fatais no indivíduo morto

 

 

– Verificada por registros médicos

5

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

3

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

1

0

3. Doença ou enfermidade relacionada ao indivíduo morto

– Verificada por registros médicos

4

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

2

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

1

0

Afirmações sobre a vida prévia

4. Sujeito afirma se lembrar da vida passada

– Sim

0

0

– Não, afirmações baseadas apenas em evidências

–2

0

5. Declarações sobre lugares, pessoas e suas respectivas aparências na vida passada, sendo que tais aparências sofreram mudanças desde então

5

0

6. Declarações sobre a vida passada verificadas como corretas menos as declarações incorretas feitas

>20

8

8

11 – 20

5

6 – 10

3

1 – 5

1

0

–1 até –5

–2

–6 até –10

–5

<–10

–8

 

Comportamento

7. Dietas incomuns desejadas ou recusadas relacionadas à vida passada

3

3

8. Métodos de comer ou maneiras de se portar na mesa incomuns relacionados à vida passada

3

0

9. Uso incomum de substâncias tóxicas relacionado à vida passada

3

0

10. Filias incomuns relacionadas à vida passada

3

0

11. Habilidades ou aptidões incomuns relacionadas à vida passada

3

3

12. Inimizades incomuns relacionadas à vida passada

3

0

13. Fobias incomuns relacionadas à vida passada

3

3

14. Comportamento relacionado a alguém do sexo oposto

 

 

– De acordo com amigos e parentes

3

na

– Apenas de acordo com o sujeito ou com o investigador

1

na

15. Desejo ou relutância para voltar ao local/família da vida passada

 

 

– Forte desejo

3

– Desejo moderado

1

– Neutro

0

0

– Relutância moderada

1

– Forte relutância

3

16. Memórias da vida passada expressas em brincadeiras

3

0

Conexões com o indivíduo morto

 

 

17. Identificação do indivíduo morto

 

 

– Por investigadores acadêmicos

3

– Por outros investigadores

2

2

– Pela família ou amigos

1

18. Conexão entre as duas famílias antes de o caso ter-se desenvolvido

– Forte relação ou mesma família

–2

– Pequena relação entre as famílias

–1

– Sabiam uma da outra, mas sem relacionamento

0

– Completamente estranhos uma à outra

5

5

19. Distância (em Km) entre o local de nascimento da criança e a residência do indivíduo morto

– 0.0 – 1.5

0

– 1.6 – 24.9

2

– 25.0 ou mais

5

5

20. Diferença de status social entre a criança e o indivíduo morto

– Pequena

1

1

– Moderada

2

– Grande

3

21. Diferença de status econômico entre a criança e o indivíduo morto

– Pequena

1

1

– Moderada

2

– Grande

3

22. Diferença de casta entre a criança e o sujeito falecido, com pontuação igual ou diferente pela classificação entre: Brahmin-Kshtriya-Kayastha-Vaishya-Sudra-Intocáveis

(0 a 5)

1

Mais alta pontuação na SOC:

49a

Pontos de Ajendra:

32

Nota: essa tabela foi adaptada da tabela de Tucker (2000: 574 – 575).    

a A pontuação mais alta na SOC é 84. Estas medidas são as mais pertinentes para avaliar a força de um caso. Entretanto, nenhum caso tem todas as características listadas. 

Medida 19. Distância (em Km) entre o Local de Nascimento da Criança e a Residência do Indivíduo Morto

De fato, a distância entre a casa de Ajendra e a de Naresh era maior que 75 km. Portanto, pontuação = 5.

Medida 20. Diferença de Status Social entre a Criança e o Indivíduo Morto

Esta pontuação, como no caso dos tópicos 21 e 22 abaixo, é baseada no Instrumento de Escala de Status Sócio-Ecônomico da Índia Rural, que calcula a casta, ocupação, educação, participação social, terras, casa, poder rural, posses materiais, e tipo de família. A diferença é pequena: Pontuação = 1. Embora a família de Naresh seja mais Mercante do que Guerreira, que é a casta mais elevada, ela tinha mais búfalos, mais posses materiais e uma casa (em conjunto) maior, etc. A diferença é pequena: Pontuação = 1.

Medida 21. Diferença de status econômico entre a criança e o indivíduo morto

Pequena: Pontuação = 1.

Medida 23. Diferença de Casta Entre a Criança e o Indivíduo Morto, com Pontuação Igual ou Diferente pela classificação entre Brahmin-Kshtriya-Kayastha-Vaishya-Sudra-Intocáveis.

Pontuação = 1.

A pontuação para o caso de Ajendra Singh Chauhan é 32.14 Veja a Tabela 2 para o resumo dos pontos no SOCS para o caso de Ajendra. A variação da pontuação na amostra de Tucker (2000) de 799 casos era de –3 a +49, com uma média de 10.40, uma mediana de 8, e um desvio padrão de 9.48. A pontuação no caso de Ajendra de 31 o colocaria no topo de 3% da amostra de 799 casos. Aliás, o caso de Ajendra Singh Chauhan não era parte dessa amostra, mas foi inserido na base de dados do computador desde então. Um cálculo do SOCS da amostra composta atualmente de 948 casos, em que o caso de Ajendra Singh Chauhan está incluído, mostra que o caso de Ajendra está nos 5% mais bem colocados desta amostra maior. 

A Força do Caso de Ajendra Singh Chauhan (Usando a Escala Tucker) se Seu Pai Não Tivesse Feito as Perguntas 

Mills e Lynn (2000: 285) perguntaram, “Até que ponto a experiência de vida passada foi formada pelas expectativas baseadas na cultura das vidas passadas, junto com influências sugestivas e sutis que formaram as reações daqueles envolvidos em estudar e documentar os acontecimentos correntes e históricos?” Esta pergunta pode ser respondida de duas formas. A primeira avalia qual teria sido a força do caso sem as perguntas que o pai de Ajendra fez a ele. A tabela 3 abaixo resume esta informação e mostra que se isso tivesse acontecido, o caso não teria sido resolvido e teria pontuação = 0.

Quando Ajendra inicialmente rejeitou o pequeno copo de leite oferecido por sua tia (esposa do irmão de sua mãe), falando que ele estava acostumado a beber um balde de leite e que tinha búfalos asiáticos, sua família ficou surpresa e presumiu que ele estava provavelmente falando de uma vida passada, mas ficou por isso mesmo. Eles não o questionaram para pedir mais informações. O mesmo aconteceu quando Ajendra demonstrou o medo de que dacoits pudessem aparecer quando estava na cidade natal de seu pai e demonstrou medo do escuro, sua família assumiu que esses acontecimentos estariam relacionados à sua vida passada, já que não tinham qualquer relação com a sua vida atual, mas novamente, prosseguiram sem fazer perguntas.

Foi o terceiro incidente, quando Ajendra deu mais detalhes, falando que tinha sido baleado por dacoits, quando atiravam do alto do telhado, que inspirou o pai de Ajendra a fazer várias perguntas. Note que tanto este incidente como o anterior, que ocorreu na aldeia natal de seu pai, vieram à tona pela similaridade de circunstância com o que aparentemente era uma memória de vida anterior. Matlock notou que a semelhança de contexto, ou a visão de algo da aparente vida passada, é um dos ganchos para memórias de vidas passadas (Matlock, 1989). Note que o incidente inicial foi uma discrepância entre o tratamento da vida atual e o seu presumido tratamento da vida passada. O incidente em que lhe ofereceram pouco leite acabou revelando semelhanças de temperamento e comportamento, a saber, um temperamento arisco. No entanto, ninguém jamais teria sabido que este comportamento correspondia ao de uma personalidade prévia se o pai do Ajendra não tivesse investigado o que Ajendra disse e imitado quando eles estavam no telhado de sua casa. Foi o fato de o pai ter perguntado a ele de onde ele era e qual era o nome dele que fez com que o nome de um povoado (Fariha) e o nome de um amigo (Ashok Kumar Sharma) viessem à tona. Foram estes pedaços de informação que fizeram com que o caso se tornasse solucionável. Ao saber aonde ir e a quem perguntar, o Sr. Gaur pôde resolver o caso. Uma vez que o caso foi resolvido foi possível determinar quantas das declarações iniciais e solicitadas de Ajendra eram corretas. O número (27 – 2 = 25) definitivamente contribui para que este caso esteja no quadrante mais alto dos 799 casos que Tucker (2000) analisou.

Uma Tentativa Abortada de Quantificar as Probabilidades das Afirmações de Ajendra Serem Corretas 

Em Mills e Lynn (2000: 285) escrevemos:

É difícil avaliar qual a probabilidade combinada de achar um Ashok Kumar Sharma (um nome comum), um povoado chamado Fariha (muito incomum), um homem que atira em dacoits enquanto num telhado perto de seu pai, usando uma arma engatilhada de uma certa maneira, e que foi atingido (não é tarefa fácil determinar a freqüência de batalhas com dacoits na área em questão, mas elas certamente não são raras), combinado com alegações de ter sido envenenado por uma mulher de pele clara, e combinado com a desinformação de que ela era uma viúva brâmane. 

A pergunta é: nós claramente podemos dizer que a probabilidade de achar alguém que combine 25 de 27 itens de informação está além das possibilidades? Originalmente pensei que este seria um exercício que poderia produzir resultados significativos, mesmo notando que a especificidade de cada um destes itens individuais difere. Como a Tabela 1 mostra, a declaração sobre ter uma calça pendurada (Item # 16) e a declaração de que havia algumas rúpias no bolso (Item # 17) poderia ser aplicada a quase qualquer homem de 22 anos do norte da Índia. Inicialmente pensei que os Itens #1, #12, #14, #21, e #24 fossem os itens que poderiam ser aproximadamente quantificados e que era legítimo tentar fazer um cálculo de sua probabilidade combinada. Com base em um comentário de um revisor deste artigo, eu agora vejo mais claramente a) a dificuldade de designar uma probabilidade válida para estes cinco diferentes itens e b) a falibilidade de supor que eles são independentes um do outro e que uma probabilidade combinada baseada em sua multiplicação é válida. Discuto a fiabilidade, ou falta de fiabilidade, da probabilidade de cinco dos itens abaixo e então retorno à inaplicabilidade de somá-los numa probabilidade combinada. 

TABELA 3

A Pontuação SOCS no caso de Ajendra Singh Chauhan Comparada com a Pontuação SOCS se o Pai de Ajendra Não Tivesse Feito as Perguntas

Item

Se as perguntas não tivessem sido feitas

Pontos de Ajendra

Marcas/defeitos de nascença

1. Correspondência de ferimentos fatais no indivíduo morto

 

– Verificada por registros médicos

0

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

0

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

0

0

2. Correspondência de ferimentos não-fatais no indivíduo morto

– Verificada por registros médicos

0

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

0

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

0

0

3. Doença ou enfermidade relacionada ao indivíduo morto

– Verificada por registros médicos

0

0

– Verificada por amigos ou parentes do falecido

0

0

– Alegada pelo sujeito mas não verificada

0

0

Afirmações sobre a vida prévia

 

 

4. Sujeito afirma se lembrar da vida passada 

 

 

– Sim

0

0

– Não, afirmações baseadas apenas em evidências

0

0

5. Declarações sobre lugares, pessoas e suas respectivas aparências na vida passada, sendo que tais aparências sofreram mudanças desde então

0

0

6. Declarações sobre a vida passada verificadas como corretas menos as declarações incorretas feitas

 

 

>20

0

8

11 – 20

 

 

6 – 10

 

 

1 – 5

 

 

 

 

 

–1 até –5

 

 

–6 até –10

 

 

<–10

 

 

Comportamento

 

 

7. Dietas incomuns desejadas ou recusadas relacionadas à vida passada

0

3

8. Métodos de comer ou maneiras de se portar à mesa incomuns relacionados à vida passada

0

0

9. Uso incomum de substâncias tóxicas relacionado à vida passada

0

0

10. Filias incomuns relacionadas à vida passada

0

0

11. Habilidades ou aptidões incomuns relacionadas à vida passada

0

3

12. Inimizades incomuns relacionadas à vida passada

0

0

13. Fobias incomuns relacionadas à vida passada

0

3

14. Comportamento relacionado a alguém do sexo oposto

 

 

– De acordo com amigos e parentes

0

na

– Apenas de acordo com o sujeito ou com o investigador

0

na

15. Desejo ou relutância para voltar ao local/família da vida passada

 

 

– Forte desejo

0

na

– Desejo moderado

0

na

– Neutro

0

0

– Relutância moderada

0

na

– Forte relutância

0

na

16. Memórias da vida passada expressas em brincadeiras

0

0

Conexões com o indivíduo morto

 

 

17. Identificação do indivíduo morto

 

 

– Por investigadores acadêmicos

0

na

– Por outros investigadores

0

2

– Pela família ou amigos

0

na

18. Conexão entre as duas famílias antes de o caso ter-se desenvolvido

 

 

– Forte relação ou mesma família

0

na

– Pequena relação entre as famílias

0

na

– Sabiam uma da outra, mas não se relacionavam

0

na

– Completamente estranhas uma à outra

0

5

19. Distância (em Km) entre o local de nascimento da criança e a residência do falecido

 

 

– 0.0 – 1.5

0

na

– 1.6 – 24.9

0

na

– 25.0 ou mais

0

5

20. Diferença de status social entre a criança e o morto

 

 

– Pequena

0

na

– Moderada

0

na

– Grande

0

na

21. Diferença de status econômico entre a criança e o morto

 

 

– Pequena

0

1

– Moderada

0

na

– Grande

0

na

22. Diferença de casta entre a criança e o sujeito falecido, com pontuação igual ou diferente pela classificação entre: Brahmin-Kshtriya-Kayastha-Vaishya-Sudra-Intocáveis

(0 a 5)

1

Pontuação de Ajendra para o caso de as perguntas terem sido feitas:

31

 

Pontuação de Ajendra caso as perguntas não tivessem sido feitas:

0

 

Nota: essa tabela é uma adaptação da tabela de Tucker (2000: 574 – 575). 

No que se refere ao Item #1 (“Dois búfalos forneciam leite”), a pergunta é: quantas pessoas tiveram dois búfalos asiáticos? A Tabela 2 do Censo Indiano de 1991 mostra que 67,7% das pessoas da Índia são representadas na categoria de “Fazendeiros, pescadores, caçadores, lenhadores e trabalhadores relacionados.” Embora seja possível que as pessoas nesta categoria possuam búfalos asiáticos, nem todas têm um búfalo asiático, quem dirá dois.15 Eu tinha suposto que a maioria de pessoas que têm uma égua (Item #3) também se encaixam nesta categoria, mas algumas pessoas que têm éguas podem estar em outras categorias vocacionais; portanto, decidi não usar o Item #3 em qualquer cálculo. Contudo, já que eu inicialmente estava satisfeito com os 67%, me dei conta de que a distinção urbano/rural assim como muitos outros fatores afetam quem tem e quem não tem dois búfalos asiáticos e que é incorreto pensar que um dado exato facilmente possa ser determinado quanto à probabilidade desta circunstância quando aplicado a alguém que morreu em Uttar Pradesh nos anos de 1960. Estas dificuldades se aplicam à maioria dos outros itens que eu julguei significativos.

Concernente ao Item #12 (“Fui atingido”), a probabilidade de que alguém fosse atingido fatalmente: a porcentagem de morte violenta na Índia em 1973 eu calculei como sendo de 0,07% usando o United Nations Demographic Yearbook (1979: 439).16 No entanto, as mortes por meios violentos representam uma proporção muito maior de casos do tipo de reencarnação, tanto na Índia como em qualquer outro lugar.17 Obviamente, nem toda morte violenta é causada por dacoits ou assaltantes. A proporção de mortes violentas causadas por assaltantes não pôde ser determinada.

Concernente ao Item #14 (“sou de Fariha”), a pergunta que eu inicialmente procurei responder era, quantos Farihas estão lá e quantas pessoas vivem em Fariha?18 As possibilidades de qualquer um de Uttar Pradesh viver em Fariha são de 3.026 em 139,112,287 ou .0002175. Todavia, embora seja improvável que Ajendra tenha inventado que Fariha foi o lugar em que ele viveu numa vida prévia, eu agora reconheço as dificuldades de inferir que os dados 1/710 ou 0,0002175 indicam de forma significativa às possibilidades de que Ajendra reivindicaria ter vindo daí.19 Mais adiante, o primeiro revisor nota que “Fariha seria igualmente improvável quer Ajendra tivesse ouvido falar dela ou não. . . O que importa não é a porcentagem das pessoas que vivem em Fariha, mas sim quais são as chances de os acontecimentos que a criança descreveu terem acontecido em Fariha”. Isso é bem mais difícil de calcular, e de comparar com Etah, onde Ajendra vive.

No que se refere ao Item #19 (“O cartucho do rifle estava carregado”), originalmente eu não considerei a declaração de Ajendra de que o rifle havia sido engatilhado de uma certa maneira como quantificável, mas uma série de circunstâncias me puseram em contato com Graham Greener da W. W. Greener Company que fabricou o rifle que Naresh Chandra manejava no momento de sua morte.20 O Sr. Greener conjecturou que o rifle que Naresh usava era ou um modelo Facile Princeps ou um modelo Empire:

De 1880 a 1965 fabricamos cerca de 45.000 revólveres e cerca de um terço eram modelos Facile Princeps. A maioria de nossos revólveres foi exportada. Para termos alguma idéia da porcentagem de quantos estariam na Índia precisaríamos saber quantos revólveres foram exportados nesse país. Uma suposição grosseira seria 2,5%, o que significaria que existem mais de 1.000 revólveres deste tipo na Índia. Nós freqüentemente vemos modelos antigos já que eles podem durar muito tempo, mas inevitavelmente alguns seriam destruídos ou estragados sem chance de serem recuperados e alguns eu sei que acabaram voltando para a Inglaterra depois que a Índia conquistou a sua independência. Uma vez independente o país foi dividido e alguns destes revólveres estariam no que agora chamamos de Paquistão ou Bangladesh. Então quantos destes revólveres deixaram a Índia? Minha suposição seria aproximadamente 500. Segundo, outras armas semelhantes foram feitas por nós—modelo Empire, modelo Emperor e modelo Sovereign—aproximadamente 10.000 no total e provavelmente 95% eram modelos Empire. É de se esperar que o número de revólveres modelo Empire na Índia seja semelhante ao número de revólveres modelo Facile Princeps. No que se refere aos modelos A&D, nós fabricamos aproximadamente o mesmo número de revólveres Facile Princeps; a fabricação dos modelos A& D custava mais barato então se encontrava no nível inferior da linha de armas fabricadas pela nossa empresa. Assim como é de se esperar que as porcentagens dos modelos A&D sejam semelhantes. Até onde sabemos nenhuma outra empresa fabricou armas do tipo Facile Princeps já que sua patente esteve sob proteção durante muitos anos (Greener, e-mail de 04 de julho de 2001). 

Depois de muito refletir sobre o assunto, Graham Greener notou que há outros rifles que são carregados de uma maneira semelhante. O Sr. Greener notou que eles também fizeram um número maior de rifles Lee Speed/Lee Enfield assim como dos rifles Belgian Mauser como parte do esforço de guerra:

Todos estes têm cartuchos móveis que carregam a arma e todos têm culatras que abrem lateralmente. Eu não tenho o número de mausers produzidos, mas a produção do Lee Enfields chegou a 1.500 por semana em 1916 e permaneceu nesse índice até o fim da guerra. Isto faz com que o possível número de rifles fabricados ultrapasse os 200.000. . . . Dos cerca de 200.000 rifles fabricados não se sabe quantos teriam ido parar na Índia. Você poderia usar as mesmas porcentagens que indiquei para o Facile Princeps mas penso que a probabilidade é de que esse número seja muito menor (Greener, e-mail de 14 de julho de 2001). 

A pergunta relevante é se o movimento de empurrar ou puxar com uma abertura lateral do mecanismo de engatilhar se aplica a outros revólveres, ou revólveres que Ajendra talvez tenha visto em filmes quando fez sua declaração em idade pré-escolar. Os desafios de se tentar calcular essa probabilidade são visíveis. Usando os dados mais conservadores, a estimativa é de que havia 500 Facile Princeps; 500 rifles A&D; 111 rifles Empire; e 5.000 rifles Lee Speed/Lee Enfield e tantos mausers quanto rifles Lee Speed/Lee Enfield na Índia no tempo da morte de Naresh. Naresh usava um dos aproximadamente 11.111 revólveres daquele modelo existentes na Índia. É muito difícil avaliar quais são as possibilidades de Ajendra ter imitado o tipo de ação que envolve o uso de um rifle.

No que se refere ao Item #21 (“Ashok Kumar Sharma era meu amigo”), qual é a probabilidade de uma pessoa em Uttar Pradesh ter tido um amigo chamado Ashok Kumar Sharma/Tiwari? Ashok é o nome de popular Imperador na Índia, e é comum que seja usado como primeiro nome. Kumar significa “criança masculina” e é comumente usado como um nome do meio ou como um acompanhamento de um primeiro nome para pessoas do sexo masculino na Índia. Na Election Commission of India General Elections for ’98 e na Election Commission of India General Elections of 1999 List of Contesting Candidates, há um total de 35 nomes de candidatos.21 Nenhum se chama Ashok Kumar Sharma, nenhum se chama Ashok Kumar, e um se chama Ashok. Em outra amostra de 35 nomes, dessa vez de crianças que dizem lembrar-se de uma vida anterior no norte da Índia estudada por Mills (vide Mills, 1989, 1990, 1993; Mills et al., 1994), uma das crianças se chama Ashok Kumar; nenhuma se chama Ashok Kumar Sharma. Sendo assim, eu concluí que a porcentagem de Ashok Kumars provavelmente não é maior que .03, e isso se alguém fizer uso da estimativa conservadora de que não mais de um terço das pessoas em UP são Brâmanes, então a probabilidade de se chamar Sharma (ou Tiwari) e a possibilidade de nomear ambos Ashok Kumar e Sharma não seria maior que .01.22 No entanto, o conselho do Revisor 1 assinala as dificuldades em supor que “duas listas de 35 nomes podem ser usadas da mesma forma para concluir que menos que 3% de indivíduos teria um determinado nome”.

No que se refere ao Item #24 (“as estradas de Fariha são pavimentadas”), inicialmente pensei que há várias maneiras de começar a quantificar esta declaração. Uma das maneiras que tentei foi contar o número de povoados e aldeias que são mostrados no Mapa do Distrito Mainpuri, que é o frontispício do Census of India 1981 Series—22 Part XIII—A Village and Town Directory, District Mainpuri. Esta técnica revela que 24 de 35, ou 69% dos locais conhecidos, estão em estradas pavimentadas. Obviamente esta é a estimativa conservadora, já que há muito mais aldeias no Distrito Mainpuri do que são mostradas nesse mapa. Os mapas de cada Tahsil, grosseiramente equivalente a um município, mostram a densidade das aldeias, e o mesmo volume as lista. No Tahsil Jasrana, em que Fariha foi classificado em 1981, há 274 aldeias. Há quatro povoados em estradas pavimentadas em Tahsil Jasrana e de acordo com o mapa citado acima, Fariha está em um destes. Se for considerado o número total de possíveis lugares para se viver apenas em Tahsil, a probabilidade de se estar numa estrada pavimentada diminui para 4 em 277, ou .01. Eu não usei este dado porque muitas pessoas, como Naresh Chandra Gupta, são de uma aldeia natal, mas também estabelecem morada no povoado vizinho e no centro administrativo. Ajendra identificou Fariha como sendo esse centro, notando (Item #23) que há uma delegacia em Fariha. Eu não achei uma lista de delegacias, mas suspeito que elas existem nos quatro povoados com estradas pavimentadas em Tahsil Jasrana.

Quanto à impossibilidade de quantificar outros itens: eles são ainda mais difíceis de serem quantificados. Qual é a probabilidade combinada de alguém ser baleado por dacoits quando agachado atrás de um Mundgari ou parede baixa, estando muito próximo de seu pai? Nós não contamos o número de telhados com um Mundgari no povoado nativo de Etah de Ajendra nem na aldeia onde Naresh Chandra Gupta foi morto; sem estas porcentagens não há como fatorar esta parte do relato do Ajendra na equação. Mais uma vez, eu não tenho nenhuma idéia de quantos lares têm rifles (a casa de Ajendra não tinha).

O ideal seria que a probabilidade das características acima também fosse fatorada com a probabilidade de ter uma natureza agressiva e de suspeitar que a pessoa que preparou sua comida tentou envenená-lo, e dessa pessoa ter pele clara, além de eficientemente quantificar que ela não era uma Punditine e que sua filha era mais jovem do que a idade que Ajendra (aos 3 anos de idade) indicou.

Fiz uma tentativa de quantificar a probabilidade dos Itens #1, 12, 14, 19, 21, e 24. A princípio pensei que alguém poderia calcular a probabilidade combinada para os cinco itens para os quais eu tinha feito uma espécie de estimativa grosseira, usando em cada exemplo o dado mais conservador. Essa probabilidade era .68 X .07 X .0014 X .00009 X .01 X .69 = [de acordo com a minha calculadora] é 3.78483 X 10–10 ou praticamente 0. Se alguém decide que as estradas pavimentadas eram parte da razão pela qual Ajendra mencionou Fariha e elimina esse item (#12) do cálculo, a probabilidade dessas declarações serem feitas ainda é muito pequena. Concluí que as chances dos pedaços de informações que Ajendra especificou aplicando a uma amostragem casual da população eram insignificantes, pelos pedaços de informação que são quantificáveis. Portanto, agradeço ao não identificado Revisor 2 deste artigo, que destacou que a) é difícil quantificar os itens de forma exata; b) é difícil saber se os itens discretos são independentes entre si; e c) quanto maior o número de probabilidades multiplicadas em conjunto, menor a probabilidade apenas nesta base. O Revisor 2 notou que “Uma tentativa de quantificar a probabilidade de uma combinação pelo acaso é admirável, mas muitas das partes mais impressionantes dos casos (tal como o conhecimento de que a PP pensava que uma mulher tentava envenená-lo) pareceriam ser não quantificáveis . . .[porque] muito do valor do caso não pode ser quantificado”.

De fato, é difícil avaliar as chances de que 25 dos 27 itens de informação que Ajendra forneceu fossem exatos. Note que a probabilidade isolada de Ajendra dizer que ele era de Fariha, um povoado num distrito diferente do seu próprio, numa distância considerável de Etah, sua cidade natal, na qual Ajendra e seus pais nunca tinham estado e sobre a qual seus pais nunca tinham ouvido falar, não pode ser explicada como possível nem como fantasia. A identificação de Ajendra com esta narrativa exige o exame cuidadoso da possibilidade de que sua memória tenha incluído acontecimentos que de fato ocorreram a uma pessoa diferente que estava morta. Todavia, depois da longa e divertida tarefa de tentar calcular um valor numérico da probabilidade, eu não avancei além da conclusão feita por Mills e Lynn (2000: 285):

É difícil avaliar qual a probabilidade combinada de achar um Ashok Kumar Sharma (um nome comum), um povoado chamado Fariha (muito incomum), um homem que atira em dacoits enquanto está em um telhado perto de seu pai, usando uma arma engatilhada de uma certa maneira, e que foi atingido (assim como é difícil estimar a freqüência de batalhas com dacoit naquela área, mas elas certamente não são raras), combinado a alegações de ser envenenado por uma mulher de pele clara, e à desinformação de que ela era uma viúva brâmane. 

Elaboração Não-Significativa do Caso Depois das Duas Famílias Terem se Encontrado: Observações Sobre o Ato de Levar Ajendra Para Encontrar a Família de Naresh Gupta 

Ajendra tinha 13 anos de idade quando viajou com seu pai, sua irmã mais velha e irmão, o Sr. Gaj Raj Singh Gaur, o Dr. L. P. Mehrotra e eu mesma para visitar a aldeia e povoado ocupado por Naresh Chandra Gupta, a pessoa identificada como a PP. A fase dos treze anos está bem além da idade em que as crianças espontaneamente se lembram de vidas passadas. Ainda assim, o Sr. Mehrotra tinha esperanças de que uma visita aos locais da vida passada ainda pudesse fazer brotar memórias da vida passada. De fato, algumas vezes acontece de adultos que visitam um determinado lugar pela primeira vez terem fortes deja vus ou recordações de uma vida passada (Mills, 1989; Stevenson, 2001). Não foi provado que isso tenha acontecido no caso de Ajendra.

O autor registrou a viagem em vídeo; primeiro uma visita à aldeia de Shekhanpur, onde Naresh morreu, e então a Fariha, onde foi dito que Naresh bateu na mulher que ele pensou ter envenenado sua comida. Em ambos os contextos tentamos observar se Ajendra podia nos levar à casa onde Naresh tinha vivido.

Para começar, na aldeia de Shekhanpur, Ajendra certamente escolheu caminhos que eu não teria escolhido (ele, no entanto, esteve a mais aldeias indianas do que eu) e passou pelo local onde costumava ser o lar de Gupta. Aliás, a moradia tinha sido demolida desde a morte de Naresh, então a mesma estrutura não mais existia para ser reconhecida.23 Esta incapacidade de determinar onde Naresh tinha vivido também continuou em Fariha. Por diversas vezes perguntamos a Ajendra se ele reconhecia onde estava, ou onde era a sua casa. Ele sacudia a sua cabeça, dizendo “Não”.24 Esta incapacidade de reconhecer também incluía pessoas. Quando finalmente estava no lar de Gutpa em Fariha, Ajendra não conseguiu identificar o seu pai em um alinhamento espontaneamente formado por membros da família. O mesmo aconteceu com Ashok Kumar Sharma, que Ajendra não conseguiu reconhecer embora Ashkok claramente estivesse ávido para ser reconhecido.

Uma vez que as pessoas envolvidas conheceram umas às outras, a interação entre elas durante esta visita inicial foi intensa. Enquanto eu entrevistei o pai de Naresh sobre os acontecimentos em vida de Naresh, os quais Ajendra havia mencionado (vide os itens na Tabela 1), Ajendra e seu irmão e irmã foram levados ao andar superior da casa, minhas notas dizem, para

. . . os aposentos das mulheres onde ele foi o centro das atenções. Embora Ajendra nunca tenha alegado reconhecer qualquer um, houve (me foi dito [eu não testemunhei isto]) muito choro e emoção no encontro com Ajendra, e quando ele entrou na van estava visivelmente satisfeito e sorrindo pela atenção recebida. Disse que ele definitivamente retornaria a Fariha outra vez. Seu pai tinha entrado na van um pouco antes de Ajendra, cuja partida foi atrasada por todas as senhoras; [aí] o pai sorrindo disse, “sou uma pessoa emotiva e foi por isso que eu nunca vim antes, porque eu queria evitar toda essa emoção”. O irmão e a irmã de Ajendra haviam gostado muito de toda a animação e drama do acontecimento. . . (Notas de 25 de junho de 1992: 13). 

Enquanto dirigíamos para longe de Fariha, Praveen, a irmã mais velha de Ajendra, disse “a Bhabhi [esposa do irmão mais velho de Naresh] admitiu ter tentado envenenar Naresh. Ele havia batido “cruelmente” nela e depois disso ficou três dias sem comer em casa. Quando ele voltou ela tentou envenená-lo. O G. R. S. Gaur diz [isto foi porque] ela tinha medo dele. Ele [M. Gaur] disse que ele não estava certo sobre este assunto delicado poder ser questionado, mas a Bhabhi o aceitou como prova final de que Ajendra era o Naresh Chandra renascido” (Op. Cit).

Estas são questões delicadas, sobre as quais não se pode necessariamente esperar que todo mundo faça revelações francas. Retornei uma segunda vez a Fariha, sem Ajendra e seus membros da família, para verificar várias declarações, entre elas: se o que Praveen informou era de fato verdade. Na minha presença ninguém estava disposto a fazer declarações arrojadas. Ashok Kumar Tiwari disse “ouvi falar disso [o envenenamento]. Naresh me contou, ‘existe uma disputa com a minha Bhabhi então ela quis me envenenar.’”25

Em resposta a minha pergunta, “Você alguma vez ouviu que Naresh pensou que a Bhabhi tentava envenená-lo,” a mãe do Naresh disse, “Sim, isto é um fato”. Ela sorriu mas não continuou. O irmão mais jovem de Naresh disse, quando perguntado se havia qualquer dúvida de envenenamento, “Ele suspeitou que: ‘Minha cunhada mais velha me envenenou’.26 Ambos tinham o temperamento forte e por isso discutiram. Eu não estava aqui quando a discussão sobre o envenenamento aconteceu—estava na aldeia naquela época”. O pai de Naresh só disse, “Eu estava na aldeia. Naresh foi de Fariha à aldeia antes da [fatal] luta ter acontecido.” A esposa do irmão mais velho, a Bhabhi em questão, se recusou a nos ver, assim como fez o seu marido.

Cinco dias depois que a viagem inicial o pai de Ajendra disse:

A mãe de Naresh chamou a Praveen de lado e disse que não era uma mulher de pele clara brâmane que cozinhava a comida dele e que o havia envenenado mas sim a esposa do meu filho mais velho, e uma vez que ela tentou envenenar Naresh e que ele descobriu ele bateu muito nela. 

A filha de cinco anos de Bhabhi e Naresh estavam sentados à mesa quando a menina derrubou a verdura. Um cão a comeu e morreu—a partir de então Naresh soube que ela tentava envenená-lo e ele a espancou sem dó nem piedade. (Notas de 30 de junho de 1992)

É inconcebível que esta declaração do pai do Ajendra fosse mais exata do que o que eu determinei porque é muito improvável que a Bhabhi tenha tentado envenenar a própria filha. É possível que a Praveen estivesse relatando o que foi dito no encontro pelas pessoas que podem nunca ter ouvido sobre o incidente original, e que se ouviram, não o testemunharam. Talvez a declaração fosse uma elaboração do pai de Ajendra.

Em 30 de junho, cerca de cinco dias após a nossa viagem inicial, mais dois itens que devem ser mencionados aconteceram neste encontro pós-viagem. O pai de Ajendra disse, “Quando voltamos, Ajendra estava adormecido e quando eu o acordei ele disse, ‘Quando fui à aldeia eu não me lembrei de nada e então quando passamos pelo lugar onde era a casa velha [em Shekhanpur], algo perturbante veio a minha mente—uma imagem mental. Havia um fosso no telhado, no telhado onde Naresh estava, que foi destruído.’”27

Esta imagem pode ter sido parte um sonho, e parte um preenchimento visual de uma cena que havia sido descrita, tal qual acontece com qualquer pessoa que possua uma imaginação visual que preenche a imagem de acordo com o que é lido em um livro, sendo que com freqüência nos sentimos afrontados quando assistimos a uma versão filmada do mesmo livro. Quando eu mais tarde indaguei da família de Naresh (7 de julho, 1992) sobre os contornos do telhado em que Naresh encontrou sua morte, eles explicaram que o telhado não era como Ajendra “sonhou nem imagino” ser. O irmão mais jovem, também presente durante a luta fatal com os dacoits, disse que não havia ‘”nenhum fosso, mas o telhado da casa estava em dois níveis diferentes. Talvez parecesse a ele que havia um fosso”. Embora meu tradutor pensasse que isto era uma confirmação, não foi codificado nem por mim nem pelo Dr. Stevenson. A reputada declaração de Naresh pós-viagem não é para ser confundida como uma das declarações iniciais sobre o caso, e, portanto, sua inexatidão não tem mais importância do que seu fracasso em achar o lar de Naresh, campos, nem reconhecer seus pais.28

A segunda elaboração informada a nós em 30 de junho de 1992 pelo pai de Ajendra era que de acordo com “a Bhabhi e outras senhoras Ajendra reconheceu bem as coisas, mas não na frente da mãe e do pai de Naresh, portanto eles não disseram. Elas [as senhoras] disseram que quando elas o convidaram para ir ao telhado ele foi direto para a porta e subiu”. Aliás, quando retornei a Fariha em 7 de julho de 1992, os parentes de Naresh disseram que o segundo andar não existia na casa até depois da morte de Naresh. De qualquer forma, a “familiaridade” de Ajendra não poderia ser contada como um item. É por causa de tais elaborações menores baseadas em entusiasmo que freqüentemente acompanham os encontros que Stevenson atribui pouco valor aos reconhecimentos registrados como acontecidos em tais situações. A contagem alta para este caso necessariamente não inclui, e não é baseada, nos relatos de reconhecimentos feitos no momento do encontro ou depois. Nem são consideradas a pós-viagem ou as reminiscências de 2003 de que Ajendra teve uma marca de nascença quando era um bebê ou uma criança.28

Como qualquer corte de justiça, nós só podemos basear nossas conclusões no que as testemunhas nos informam. A versão que nós aceitamos está representada na Tabela 1. A experiência de levar Ajendra à aldeia natal e povoado de Naresh confirmou a importância do exame meticuloso feito por Stevenson na fonte de informação e no que se refere à sua validez. A emoção cercando um caso pode elaborar detalhes, mas uma verificação cuidadosa pode determinar quais detalhes não são corretos. Talvez a descoberta de que existem mais declarações incorretas em casos Tipo A, onde não há registro escrito feito antes do caso ser resolvido (Scouten & Stevenson, 1998), explicaria porque é mais fácil atribuir à criança declarações que de fato são parte de uma elaboração que pode acontecer em torno de um caso ou informação exata aprendida depois que as duas famílias se encontram.

O Impacto do Caso sobre Ajendra quando ele se torna um Adulto Jovem

Em 2003 tive a oportunidade de retornar à Índia para conduzir um estudo longitudinal dos adultos jovens cujos casos eu tinha investigado quando eram crianças. Ajendra tinha então 25 anos de idade e trabalhava em uma companhia agrícola multinacional, tendo completado seu B.COM e um MA* em Economia como o 1º aluno da classe. Disse que ele não se lembrava mais da vida anterior e não falava sobre o assunto espontaneamente. Ele não tem mais fobia do escuro (como tinha quando era criança e quando tinha 13 anos de idade).

Ajendra e a sua família informaram que um contato foi minimamente mantido com a família da vida prévia, que tinha sido convidada para os casamentos de seu irmão e irmã mais velhos. Semelhantemente, Ajendra e a sua família tinham sido convidados para o casamento de um membro da família da vida prévia, e Ajendra e seu irmão mais velho tinham ido a Fariha uma vez para tal acontecimento. Ajendra disse que tinha sido útil lembrar-se de uma vida prévia e que ele (como 64% dos 28 sujeitos que responderam à pergunta) gostaria que seu (futuro) filho se lembrasse de uma vida prévia também (ele ainda não é casado). Disse que ele prefere sua vida atual à passada. Sua pontuação na escala de absorção foi 14, comparada com uma pontuação de 12 pela pessoa de controle combinada. Descobri que os adultos jovens que tinham se lembrado de uma vida prévia quando crianças pontuaram significativamente mais alto em absorção do que o grupo de controle testado em 2003 (Mills, 2003b). Havia também uma relação significativa entre a pontuação de Absorção de Tellegan e a preocupação com o conceito de reconciliação Hindu Muçulmano estudado por Ashis Nandy (2002). Ajendra está preocupado sobre o processo de reconciliação, dizendo, com referência ao conflito Hindu Muçulmano que depois da demolição da Mesquita Babri em Ayodhya, “Nossos líderes devem ser práticos para resolver este problema. Eles não devem dar declarações que incitem as pessoas.” Por contraste, a pessoa de controle combinada afirmou não ter “nenhum interesse” nessa questão. A resposta do Ajendra à pergunta “o que deveria existir em Ayodhya, uma Mesquita, um Templo, Nenhum dos dois, ou Ambos?” foi “tanto Templo como Mesquita.” Seu controle não deu nenhuma resposta. Ajendra mostrou todos os sinais de que é um adulto jovem bem-ajustado. 

Discussão 

O caso de Ajendra Singh Chauhan demonstra mais uma vez a importância de se ter um registro escrito das declarações da criança antes de um caso ser resolvido, como um antídoto às possíveis elaborações; mas também mostra que tentativas de embelezar a história podem ser encontradas e que neste exemplo, como em outros, são menos exatas do que as declarações iniciais da criança.

Qual é a probabilidade de 25 de 27 itens de informação serem exatos, e suficientemente exatos para que seja possível encontrar alguém que corresponda à descrição que Ajendra tinha dado? A aceitação cultural da explicação de renascimento, ou a interpretação socio-psicológica, não explica por si só a exatidão das declarações iniciais de Ajendra. A escala SOCS de Tucker fornece uma ferramenta para avaliar a força deste caso Tipo B, a partir de casos que não têm um registro escrito antes de eles serem resolvidos. Só uma proporção pequena, 1,3%, dos 10% superiores da amostra de Tucker de 799 casos, são exemplos de casos com registros escritos antes da verificação.

Aliás, o caso de Ajendra Singh Chauhan demonstra a importância da interpretação cultural do comportamento de Ajendra ser baseado numa memória de vida passada; pois até o interrogatório do pai de Ajendra, Ajendra não tinha dado informações suficientemente específicas para que fosse possível saber se suas declarações correspondiam à vida de uma pessoa real. Apenas o interrogatório direto do pai produziu os pedaços de informações, o nome do povoado e o nome de um amigo, que tornaram este caso solucionável.

Os pais das crianças de 2 e 3 anos de idade que fazem declarações semelhantes a essas que Ajendra fez e que apresentam um comportamento que parece igualmente impróprio, que não estão acostumados a pensar no paradigma da reencarnação, raramente pensam em fazer perguntas que talvez possam extrair informações específicas. Uma mãe americana recentemente me contou que quando sua filha tinha 3 anos de idade ela lhe disse, enquanto elas admiravam o oceano, “Você se lembra quando eu era a mãe e você era a minha filha?” A mãe disse que não conseguiu pensar em algo que poderia dizer ou perguntar. Mesmo as declarações mais elaboradas ou numerosas ou insistentes feitas por crianças que pertencem a uma cultura que não tem o costume de pensar na possibilidade de reencarnação de vidas passadas raramente fazem com que os pais questionem a criança de maneira a lhe permitir discorrer em maiores detalhes sobre o que ela ou ele já havia dito. Muitas declarações semelhantes são interpretadas como ‘‘imaginárias’’ ou simplesmente inválidas ou incorretas (cf. Mills, 2003). Uma mãe informou que ela persistentemente dizia a seu filho, quando ele tinha 2 e 3 anos de idade, que ele não devia confundir as pessoas falando de acontecimentos como se os tivesse vivido quando não o tinha. É possível que haja tanta supressão cultural inconsciente de possíveis casos quanto há casos de elaboração cultural. Stevenson (1983) e Bowman (2001) observaram que uma grande proporção dos casos de reencarnação informados na América do Norte pertence à mesma família. E é possível que seja assim porque é somente quando as declarações e o comportamento de uma criança aludem a memórias de um bem conhecido membro da família que está morto que os pais começam a fazer perguntas à criança tal qual o pai de Ajendra fez. Quando as declarações não se encaixam em qualquer contexto que os pais conhecem, é improvável que eles façam perguntas à criança.29 A segunda mãe citada na página anterior nunca fez uma única pergunta ao seu filho sobre os encontros dele com ursos, supondo que as declarações nada mais eram que fantasia pura. Talvez ela tivesse perguntado alguma coisa se houvesse um parente morto que tivesse tido encontros com um urso. A desconstrução cultural deve ser tão importante quanto a construção cultural na interpretação de casos dessa natureza. 

Conclusão 

Mills e Lynn (2000) destacam que os casos espontâneos de possíveis memórias de vidas passadas que foram documentadas até o momento necessariamente refletem um subconjunto especial de possíveis memórias de vidas passadas, porque a ênfase esteve em casos solucionáveis com um intervalo relativamente curto entre a vida atual e a anterior informada. Casos Tipo B tais como o de Ajendra Singh Chauhan são especialmente úteis no que se refere à apresentação de declarações exatas feitas por crianças jovens e fornecem um teste para a possibilidade de elaboração cultural baseada em aceitação do caso e em informações obtidas apenas após o contato inicial. A SOCS de Tucker (2000) foi usada para mostrar quão importante o questionamento dos pais pode ser na extração das informações necessárias para a solução de um caso. De fato, neste exemplo, a pontuação para o caso de Ajendra teria sido zero se o pai não tivesse pedido mais informações ao filho. Os casos de mesma-família podem potencialmente registrar uma contagem alta se apresentarem outras características, tais como uma ou mais marcas de nascença que correspondem a feridas na personalidade anterior.30

O caso de Ajendra Singh Chauhan demonstra as dificuldades de se calcular as probabilidades combinadas dos pedaços de informação aplicadas a outra pessoa morta. Ainda que as dificuldades de se fazer tal cálculo sejam registradas, o caso apresenta um número de informações e de semelhança de comportamento que não pode ser descartado rapidamente. Além disso, o caso sugere que o cuidado do Stevenson ao examinar a exatidão das declarações feitas sobre vidas passadas depois que as famílias se encontraram reduz a adição de mais elementos ao caso. Ele tomou o mesmo cuidado ao interrogar as crianças sobre outras questões além de uma vida passada (Bruck et al., 1998) que precisam ser avaliadas no testemunho que algumas crianças dão sobre memórias aparentes de vidas passadas. Finalmente, o princípio da similaridade de estímulo que afeta a memória de uma vida parece ser ativo no caso de Ajendra que tem recordações que datam de 8 meses antes do seu nascimento e da morte violenta de outro indivíduo que a família de Ajendra não conhecia. O caso de Ajendra pontua alto na escala SOCS de Tucker (2000), e a probabilidade de que as declarações se aplicariam aleatoriamente a qualquer pessoa definitivamente não é alta, ainda que seja difícil quantificar esta probabilidade de forma exata. Casos como esse definitivamente merecem consideração cuidadosa. 

Notas 

1 Cook et al. (1983) notaram a semelhança básica de casos resolvidos e não resolvidos. É por continuar a investigação de casos não resolvidos que alguns eventualmente são resolvidos. Os casos do tipo reencarnação em que a criança e a Personalidade Prévia estão na mesma família (chamado “casos de mesma-família”) são necessariamente aqueles em que está a maioria dos prontamente “resolvidos”. São também os casos que apresentam uma quantia menos convincente de evidências, porque não há nenhum meio de assegurar que a criança não tenha ouvido sobre a personalidade prévia por meios normais no curso de seu crescimento. Em casos onde a personalidade prévia era desconhecida à criança e à sua família, alguns são resolvidos subseqüentemente e alguns não são. O número de nomes específicos que a criança menciona é um dos fatores decisivos para que se possa fazer a identificação.

2 O senhor Gaj Raj Singh Gaur agiu como tradutor para mim em três viagens para conduzir pesquisa em tais casos, o mais recente sendo no verão de 2003 para conduzir “A Longitudinal Study of Young Adults Who as Children Were Said to Remember a Previous Life, With or Without a Shift in Religion (Hindu to Moslem or Vice Versa)”. Este estudo foi financiado pelo Instituto Indo-Canadense Shastri afiliado à Universidade de Calgary, ao passo que meus estudos anteriores foram financiados pela Divisão de Estudos de Personalidade da Universidade de Virgínia, que reconhece o apoio do Instituto de Ciências Noéticas. IONS também contribuíram para o Estudo Longitudinal de 2003. O Sr. Gaj Raj Singh Gaur havia em 2002 publicado um livro sobre casos de reencarnação chamado Beyond Death.

3 Em geral, o registro é feito quando a criança está na fase em que ainda fala do ponto de vista da Personalidade Prévia, isso é, entre as idades de 2 e 7 anos. Era de se esperar que o fato de que o registro escrito não foi feito até que Ajendra tivesse 13 anos de idade poderia diminuir a fiabilidade do registro das declarações iniciais da criança. Mas o fato de que o caso recebe a pontuação superior para o número de declarações corretas, menos o número de declarações incorretas, indica que a longa demora antes do registro escrito ser feito não é um fator significativo. Stevenson e Keil (2000) descobriram que casos investigados 20 anos depois de uma investigação inicial não mostraram nenhuma adição de características paranormais. “Alguns novos detalhes foram adicionados, mas geralmente, mais detalhes foram perdidos” (Stevenson & Keil, 2000: 381). No caso de Ajendra, uma das informações incorretas não foi considerada significativa por nenhuma das partes; para outra foi dada uma explicação alternativa pelo Sr. Gaur, mas não pelos pais tanto de Ajendra quanto da Personalidade Prévia, Naresh Chandra Gosh (vide Tabela 1).

4 O Sr. Gaur  ficou sabendo do caso por um parente da família de Ajendra que era o proprietário da Singh Electricals em Jaithra, onde o Sr. Gaur vive. Depois de entrevistar o pai de Ajendra e registrar o relato, o Sr. Gaur sentiu-se encorajado a fazer as duas viagens de ônibus exigidas para chegar a Fariha.

5 As notas de Sr. Gaur também foram traduzidas pelo Dr. L. P. Mehrotra, um psicólogo que administrou as provas psicológicas em Ajendra, a criança pareada, como em outros sujeitos de casos e no indivíduo correspondente do grupo de controle (Mills, 1992). Eu estou presumindo que o pai de Ajendra pode ter dito “Ele começou o tiroteio”, referindo-se ao seu filho (nesse caso também à personalidade prévia) e então trocou para a interpretação em primeira pessoa, dizendo “e a bala me atingiu.”

6 A tradução das notas de G. R. S. Gaur feitas pelo Instrutor de Hindi da Universidade de Virgínia é: “O dacoit veio. Ele começou atirando da parede e eu fui atingido.” O fraseado no texto é da tradução do Dr. L. P. Mehrotra.

7 A tradução “afeta o cérebro da criança” foi feita por Gaj Raj Singh Gaur; a tradução “afeta a criança mentalmente” pelo Dr. L. P. Mehrotra. A relação entre o cérebro e as qualidades mentais de uma pessoa está no âmago da psicologia, tanto do oeste quanto do leste indiano. Este artigo de fato procura traduzir as concepções diferentes em uma estrutura de modo que perguntas sobre a natureza da psique possam ser endereçadas destes pontos de vistas divergentes.

8 O Sr. Gaur me esclareceu que “Tiwari é o sobrenome específico da Casta Brâmane enquanto Sharma é o sobrenome geral da mesma casta. . . Aqui eu também quero deixar claro que Ashok Kumar Tiwari me disse, ‘Ele sempre me chamava de Ashok Kumar Sharma enquanto eu era Tiwari.’” (Carta de 22 de janeiro de 2003). Na mesma carta o Sr. Gaur disse que Ajendra tinha se referido a Ashok Kumar como seu amigo muito antes de o caso ser resolvido.

9 O Sr. Kedar Nath Gupta, pai de Naresh, calculou que a população da aldeia de Shekhanpur era de aproximadamente 2.500 habitantes. Ele deu uma estimativa da população de Fariha que é muito maior que a população dada no censo da Índia de 1981. Obviamente as figuras do censo são as mais exatas.

10 Note que Mills & Lynn (2000: 284–285) declararam que “ao menos no tempo da investigação, a loja do Gupta, de onde a maioria do alimento da família vinha, não era localizada numa esquina”. O que é significativo é que a loja de Fariha era localizada numa esquina durante o tempo de vida de Naresh.

11 G. R. S. Gaur, o tradutor, conjecturou que talvez ele (Ajendra) se referia a alguém que preparava o alimento de Naresh quando ele (Naresh) foi embora para tratamento das doenças que ele sofria, primeiro a Délhi, então a Agra, e finalmente a Kanpur. Isto é um exemplo de tentar fazer com que o relato faça sentido. Shroder (1999) deu um exemplo de como ele de modo semelhante construiu mentalmente um cenário que explicaria elementos de um caso que ele observou Stevenson investigar. Shroder observou que o próprio Stevenson não tentou reinterpretar o caso.

12 As outras medidas na escala de Tucker em que caso do Ajendra recebeu uma pontuação 0 são 8) Métodos incomuns de comer ou maneiras à mesa relacionadas à vida prévia; 9) Uso incomum de intoxicantes relacionados à vida prévia; 10) Filias incomuns relacionadas à vida prévia; 12) Antipatias incomuns relacionadas à vida prévia; 14) Comportamento relacionado ao sexo oposto; 15) Desejo ou relutância em retornar à família ou ao lar anterior, e 16) Memórias da vida passada expressas em brincadeiras.

13 Note que o primeiro investigador, o Sr. Gaj Raj Singh Gaur, sublinhou “marca de nascença” no formulário da Investigação Preliminar, adicionando “(menos visível)” ao lado dessa anotação. Como relatado acima, a mãe do Ajendra não mencionou nenhuma marca de nascimento quando eu a entrevistei.

14 Esta contagem foi calculada pela autora (Antonia Mills). O caso já tinha entrado na base de dados da Divisão de Estudos de Personalidade (atualmente, N = 948). Não tinha entrado na amostra de 799 casos que Tucker (2000) usou. Desde então o caso entrou com uma pontuação de 32.

15 As outras categorias no censo de 1991 da Índia são Profissionais, trabalhadores técnicos e relacionados (3.6%); Administrativos, trabalhadores executivos e administrativos (1.0%); trabalhadores de escritório e relacionados (3.4%); trabalhadores de vendas (5.8%); trabalhadores de serviço (1.8%); produção e trabalhadores relacionados, operadores de equipamento de transporte e trabalhadores (15.5%); e trabalhadores não classificados por ocupações (1.2%). (Fonte de dados: O censo da Índia 1991 Tabela C-1, Parte B-19 (F) — Tabelas Econômicas, que está online em http://www.censusindia.net/cendat/datatable21.html). Em termos de ocupação, a família de Naresh Chandra Gupta era também representante da casta de comerciante, vendendo tanto ghee e, em Fariha, mantimentos e potes e panelas.

16 Não há nenhuma única categoria de morte violenta nos registros da Organização das Nações Unidas conto (Demographic Yearbook 1979: 343). Cheguei a este resultado adicionando duas categorias: “Todos os outros acidentes (BE48), que exclui B47 “acidentes de automóvel,” e “todas as outras causas externas (BE50). Considerei incluir “suicídio & outras feridas auto-infligidas (BE49) porque notei nos 35 casos que eu estudei na Índia que a morte de uma noiva ou mulher casada por não fornecer mais dote pode ser informada como suicídio; queima de noivas foi notado como um problema na Índia. No entanto, a porcentagem .07 permanece a mesma, com ou sem a inclusão de “suicídio e outras feridas auto-infligidas” no cálculo de morte violenta.

17 A porcentagem de morte violenta em casos do tipo de reencarnação é significativamente maior do que isto: Cook et al. (1983: 128) informaram uma causa violenta de morte em 49% dos casos resolvidos na Índia (N = 193). A porcentagem era ainda mais alta (85%) em casos não resolvidos na Índia (N = 40). Os casos sugestivos de reencarnação que tiveram uma causa violenta de morte mostraram um intervalo mais curto entre a morte e o nascimento do que aqueles que tiveram uma causa natural de morte, e também tinham uma idade significativamente mais tenra ao falar pela primeira vez sobre uma vida prévia (Chadha & Stevenson, 1988).

18 Eu decidi limitar a procura a Uttar Pradesh. Originalmente tomei esta decisão com base na análise de 948 casos do tipo de reencarnação da Índia presente em uma base de dados na Divisão de Estudos de Personalidade na Universidade de Virgínia. Essa análise mostra que a distância média entre o lugar de nascimento do sujeito e o lugar onde a personalidade prévia morreu é de 117 quilômetros, a distância mediana é de 14,25 quilômetros, a moda é 50, e o alcance é de 8.850 quilômetros. Este alcance extremo é devido ao caso de Vinita Jha; um caso não resolvido em que o sujeito na Índia alegou ter vivido na Inglaterra na vida prévia. Quando este caso é eliminado o alcance é de 1.600 quilômetros, a média é de 82 quilômetros, a mediana é de 14 quilômetros, e a moda é outra vez 50 quilômetros. Se um círculo com um raio de 82 quilômetros for traçado ao redor de Etah, lugar de nascimento de Ajendra e cidade natal, o círculo se apresenta completamente dentro dos limites de Uttar Pradesh. Uttar Pradesh em si é um estado enorme de 294.411 quilômetros quadrados, dividido em 63 distritos, com uma população (em 1991) de 139.112.287 (Census Data of India Online Table 1: Area, Number of Districts, Tahsils, CD Blocks and Villages, 1991; Census of India Data Online Table 2: Number of Households and Population, 1991). Uma consulta ao Censo da Índia (1981 e 1991) e às possibilidades online disponíveis em www.google.com mostra que em toda Uttar Pradesh (em 1991) havia 710 povoados estatutários e 112.803 aldeias habitadas. Somente um é chamado Fariha. Este é o povoado de Fariha, onde Naresh Chandra Gupta viveu, no Distrito Mainpuri, Tahsil Jasrana. A população de Fariha, de acordo com o Censo da Índia de 1981, era de 3.026 habitantes. Não é de se admirar que o pai de Ajendra não tivesse ouvido falar de Fariha antes de o seu filho alegar ter vivido lá. Em outras palavras, as possibilidades são 1 em 710 de que qualquer pessoa de Uttar Pradesh fosse do povoado de Fariha, e menos se considerarmos que a maioria da população (111.506.372 de uma população total de 139.112.287) vive em cenários rurais ao invés de urbanos nesse estado.

19 Agradeço muito ao Dr. Ed Kelly por me alertar para o fato de que o tipo de revólver talvez seja quantificável. Posteriormente acabei cruzando com uma pessoa que estava lendo o Blue Book of Used Gun Values, que me deu informação para contatar a Greener Company, cujo web site é o http://www.wwgreener.com. Sou muito grata ao Sr. Graham Greener, autor do livro sobre os revólveres Greener, por responder meus e-mails e por me permitir citá-lo.

20 A Lista de Candidatos das Eleições Gerais de 98 organizada pela Comissão de Eleição da Índia pode ser acessada através do seguinte web site: http://www.eci.gov.in/elec98/candidates/staewise/S24/cndcnstd69.html. A Lista de Candidatos que concorrem às Eleições Gerais de 99 organizada pela Comissão de Eleição da Índia pode ser acessada através do seguinte web site:: http://www.eci.gov.in/ge99/pollupd/pc/states/S24/Pcnstcand69.htm.

21 McEldowney pesquisou no Google.com quantos Ashoks, quantos Kumars, quantos Sharmas havia, e quantos deles tinham os três nomes sem especificar Uttar Pradesh. Encontrou 13.000 ocorrências para Ashok Kumar Sharma (qualquer que seja a ordem), dos quais 1.890 são especificados como estando em Uttar Pradesh. (Por contraste, há 109 Philip McEldowneys, e 181 Antonia Mills, sem especificar qualquer localidade). McEldowney notou que tal pesquisa inclui muitos problemas, tais como a duplicação do nome de uma pessoa ou nome (como as quatro ocorrências para o povoado de Fariha) e as sérias limitações da web no que diz respeito ao estabelecimento de elos entre todas as pessoas. Estes nomes são aqueles aleatoriamente apresentados na web em vez dos tirados de uma lista de nomes de um censo. Se alguém usasse o dado de 1.890 Ashok Kumar Sharmas em UP, a porcentagem de Ashok Kumar Sharmas da população total em Uttar Pradesh seria de .0000135; significativamente menor que a minha estimativa de .01. Por causa das inexatidões associadas às ocorrências na web, e a fim de tender para o lado conservador, eu uso a estimativa 0,01.

22 O revisor não identificado escreveu: “A simples obtenção de um número pequeno resultado da multiplicação de probabilidades conjuntas não é um argumento de que algo está além das possibilidades. Se considero probabilidades razoáveis em algumas de minhas características (gênero, idade, ocupação, estado civil, número de filhos) então a “probabilidade” de revisão deste artigo é de 2.4*10–8. Isto não significa que deve haver alguma outra explicação que não seja o acaso para o fato de que sou eu quem está fazendo a revisão”.  A analogia não é completamente apropriada, já que a ligação que o revisor tem com este jornal não depende das características citadas. O ponto principal é que é difícil fornecer um cálculo significativo para a probabilidade de que Ajendra teria feito referência aos itens que ele mencionou sem que houvesse uma ligação à personagem da personalidade prévia. O número de itens que Ajendra declarou foi o produto de um interrogatório, e o fato de que 25 de 27 declarações foram exatas sobre uma pessoa que a criança e a sua família não conheciam, exige algum tipo de explicação.

23 Na Índia, os edifícios feitos de tijolos amontoados uns sobre os outros, mesmo com argamassa, são desconstruídos com muito mais freqüência do que estamos acostumados na América do Norte. Em suma, a desconstrução da casa de Naresh não foi um acontecimento incomum na Índia, onde os deuses Brahma, Vishnu e Shiva representam, respectivamente, criação, manutenção e destruição.

24 O Hindi no áudio do vídeo gravado foi traduzido para o inglês por instrutores de Hindi na Universidade de Virgínia.

25 Em resposta à minha pergunta “Ele disse que ela tinha tentado [envenenar Naresh]?” Ashok Kumar Tiwari respondeu, “Ele disse ‘ela tentou me envenenar’.” Isto, ele disse, foi aproximadamente 2 anos antes da morte de Naresh. Ashok Kumar Tiwari disse que Naresh jamais havia comentado qualquer coisa sobre a surra em Bhabhi, e que ele não sabia nada sobre o incidente.

26 Estou em débito com o Dr. Robert Hueckstedt, Cadeira de Linguagens Orientais e Professor de Sânscrito/Hindi na Universidade de Virgínia, por traduzir duas sentenças em Hindi que o Sr. Gaur, meu tradutor, anotou durante esta entrevista. O Sr. Gaur havia traduzido o que irmão mais jovem de Naresh disse como, “Naresh suspeitou disso, duvidou, temeu que a Bhabhi fosse envenená-lo”. No texto eu usei a tradução do Dr. Hueckstedt.

27 O pai do Ajendra elaborou um pouco mais em 30 de junho, fazendo parecer que Ajendra tinha dito e lembrado mais do que foi observado no vídeo. Ele alegou que “o servente da família de Gupta [que nós encontramos em Shekhanpur] perguntou a Ajendra, ‘Você teve um servente naquele tempo’? E Ajendra pensou, ‘Você é o servente,’ mas ele não disse assim porque pensou que o servente poderia se sentir insultado. Obviamente tal pensamento não poderia ser considerado como um reconhecimento. Igualmente inconvincente foi a declaração do pai em 30 de junho: “Quando pedimos que o rapaz visse o campo, ele disse ‘algo veio a minha mente mas então perdeu-se. Eu não posso me lembrar do que era.’” Isto representa o tipo de elaboração que pode acontecer; note que isto nada adiciona ao caso, nem deve ser considerado como algo que o prejudica.

28 O irmão e irmã mais velhos de Ajendra comentaram sobre a marca de nascença movidos pelo entusiasmo ao retornarem da viagem a Fariha, como foi descrito acima. Em 2003 o pai do Ajendra disse, quando comentei sobre a marca de nascimento no seu neto pre-verbal mais jovem, que quando Ajendra nasceu ele tinha uma marca de nascimento no pescoço, tocando o próprio pescoço levemente à esquerda do centro acima da sua túnica. A localização do tiro fatal em Naresh pode ter sido mencionada durante nossa viagem a Fariha. Mais uma vez, tal declaração não seria fortemente considerada.

29 Informei vários casos norte-americanos em que os pais fizeram pouco ou nenhum interrogatório, embora eles às vezes viessem a interpretar as assustadoras declarações de suas crianças como fatos que remetem a uma vida anterior (Mills, 1994a).

30 Um cálculo da pontuação de SOCS de Tucker para o caso de Jeremy Holder (pseudônimo), informado em Mills (1994b: 219–224), produz, coincidentemente, a mesma contagem alta de 31 pontos que caso de Ajendra obteve, apesar de ser um caso de mesma família. A correspondência da marca de nascença de orelha furada intencionalmente feita nas orelhas da PP, os reconhecimentos e declarações explicam a contagem alta, apesar do fato de que a escala de SOCS não dá crédito à previsão de renascimento nem aos dois sonhos premonitórios (como elementos que são particularmente inerentes a casos em uma mesma família). 

Referências 

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Referência original: Mills, A. (2004). Inferences from the case of Ajendra Singh Chauhan: The effect of parental questioning, of meeting the “previous life” family, an aborted attempt to quantify probabilities, and the impact on his life as a young adult. Journal of Scientific Exploration, Vol. 18, No. 4, 609-641.

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Este artigo foi traduzido por Vitor Moura Visoni e revisado pela Inwords.


* Escala de Medição da Força das Afirmações da Criança sobre Vidas Passadas (N. T.)

* Mestrado (N. T.)

8 respostas a “O caso de Ajendra Singh Chauhan: forte caso sugestivo de uma vida passada (2004)”

  1. Jorge Batatao Diz:

    De novo um caso lá dos cafundó….

    O Vitor, porque o Carlão mecânico aqui de jundiai nunca lembra das suas vidas passadas?

  2. Vitor Diz:

    Antes de tudo, quero agradecer ao Marcos Arduin, Ao Marcio Rodrigues e ao Anônimo 01 pela contribuição financeira, pois a revisão da tradução custou 240 reais.
    .
    Jorge Batatao,
    de repente o Carlão mecânico de Jundiaí teve as lembranças quando criança mas ninguém se preocupou em anotar e pesquisar. As memórias desaparecem em torno dos 7 anos geralmente. O Stevenson tem casos registrados no Brasil, no livro “Vinte Casos”. O Hernani Guimarães Andrade também. Aliás acho que já botei os dois livros do hernani com casos de reencarnação disponíveis para download.

  3. Marcelo Esteves Diz:

    Vitor, não vou mais comentar sobre este assunto, porque já escrevi tudo o que tinha para escrever, começo a ficar repetitivo e um pouco cansado.
    .
    Mas farei uma última observação sobre o presente texto, a começar do título, que eu mudaria para: “Ajendra Singh Chauhan: forte caso sugestivo de que lembranças anômalas são verdadeiras (2004)”
    .
    Gastou-se papel e tinta para comprovar a autenticidade das lembranças anômalas. Parabéns. Mas, e depois?
    .
    Explicá-las pela hipótese da reencarnção não é explicar nada, mas apenas dotá-las de uma, digamos, teologia e teleologia duvidosas. É pura literatura reencarnacionista, ficção proselitista. Bate o carimbo da reencarnação em um caso que não apresenta links lógicos, filosóficos ou científicos com ela.
    .
    Provou-se algo dificil: lembranças anômalas são verdadeiras. Resta, agora, o mais difícil: provar que estas lembranças são – para além de “sugestivas” de puro blá-blá espírita ou místico – autênticas lembranças de vidas passadas.
    .
    Para isso, as lembranças anômalas continuam aí. Resta provar – sem recorrer à circularidade, à tautologia – que são “um caso fortemente sugestivo” da existência de vidas passadas. Caso contrário, cuidado para não se tornar o Erik von Daniken da reencarnação e acabar escrevendo o livro “Eram as crianças espíritos reencarnados?”, valendo-se – a seu modo – da catação de “evidências” que o holandês jura de pé juntos provarem que os deuses eram astronautas.
    .
    Forte abraço!

  4. Marcelo Esteves Diz:

    Vitor
    .
    Só para amenizar – pois quem não acompanhou nossa conversa no outro tópico pode tirar conclusões precipitadas – gostaria de dizer que todas as críticas que faço a suas ideias são, no melhor sentido da palavra, fraternas e construtivas.
    .
    A dimensão e o alcance de seu trabalho são de extrema valia a todos a todos aqueles que vão além dos dogmas e das questões de fé.
    .
    Obrigado pela oportunidade de refletirmos, juntos, sobre questões que nos tocam tão de perto.
    .
    Forte abraço!
    .
    Marcelo

  5. Vitor Diz:

    Tranquilo, Marcelo! E aguarde os próximos artigos da Antonia Mills!
    .
    Um abração!

  6. Gilberto Diz:

    Nossa! Ajendra Singh Chauhan. Eu sabia!
    .
    Aliás seu nome completo é Ajendra Sikhk Rania Priyanka Damayanti Nihal Kiran Khambatta Singh Chandrakant Ratikant Adhideva Chauhan. Ela foi a reencarnação de Devendra Agni Sajani Surya Mitali Chandra Ganesh Chandresh Sheyda Priyanka Damayanti Shantala Ghandi Maharani Chandrabha.

  7. Gilberto Diz:

    Com precisão de 3 pontos decimais pra mais ou pra menos.

  8. mrh Diz:

    Quá, quá, quá… ótimo!

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