A Vida Depois da Morte, de Scott Rogo (1986) – Capítulo 2
Neste capítulo Rogo cita o caso impressionante do psíquico Ingo Swann, que descreveu com incrível precisão – em condições controladas – figuras que supostamente estariam inacessíveris aos seus sentidos comuns. Swann infelizmente morreu em 31 de janeiro desse ano (2013), mas até sua morte participou de diversos experimentos científicos com grande sucesso. Jamais foi pego em fraude em décadas de pesquisas. O capítulo também aborda os casos de Miss Z e de Keith Harary.
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A Mente Fora do Corpo
O seguinte relato foi escrito em 1965 por um jovem da Califórnia:
Certo dia, no verão de 1965, cheguei de um curso de verão e, como de hábito, deitei-me na cama e tirei os sapatos. Era um desses dias muito quentes, em que as moscas ficam zumbindo ao redor da gente, e procurei cochilar um pouco. Quando me deitei, porém, uma estranha sensação me dominou. Percebi que não podia me mover e que o meu corpo todo estava tremendo, como se carregado de uma corrente elétrica. Depois, tive a impressão de estar flutuando. Fechei os olhos, a fim de fluir com a sensação e, dentro de dois segundos, senti-me flutuando acima do meu corpo. Não podia ver claramente, embora tudo no quarto parecesse envolto em uma névoa cor-de-rosa. Logo que compreendi que estava inteiramente fora do meu corpo, me vi de pé, junto de minha casa. Tentei caminhar até a porta, mas não consegui. Tremi por algum tempo e, momentos depois, me vi de novo em minha cama.
Na ocasião, o jovem pensou que havia passado por uma experiência verdadeiramente sui generis. Estava enganado, pois milhares de pessoas têm experimentado a mesma coisa. Alguns experimentam a sensação quando doentes ou perto da morte, enquanto com outros ela ocorre quando caem de uma bicicleta, são atropelados ou sofrem outros acidentes que põem a vida
Tais pessoas existem, no entanto, e, nos últimos anos, vários parapsicólogos de destaque as têm vivamente convidado a provar suas qualidades em laboratório.
Quando o Dr. Garden Murphy se dirigiu à justiça de Arizona, no processo de Kidd, em 6 de junho de 1967, trouxe à baila o assunto da experiência de saída do corpo. “Trata-se de experiências — explicou — que ordinariamente duram poucos minutos, às vezes horas, nas quais uma pessoa, em via de regra adormecida ou em estado de coma, tem a impressão de sair do seu corpo, andar às vezes até milhas de distância do mesmo, podendo olhar para trás e ver a casa em que o corpo se encontra…”
Acrescentou o psicólogo que, “em tais condições, o indivíduo é realmente visto por outros. Há alguns poucos casos em que a experiência acarreta a visibilidade para outro indivíduo, que vê a pessoa, não onde seu corpo se encontra no leito de enfermo, mas fora, ao ar livre”. O Dr. Murphy ficou intrigado com esses relatos. Sugeriu que a presença fora do corpo talvez produzisse alguma espécie de efeito material no ponto de sua projeção, e que tal fenômeno poderia concorrer para a solução do problema da sobrevivência. Demonstraria, com efeito, que possuímos alguns aspectos da mente que podem deixar o corpo existir separado deles.
O corpo astral deixando o corpo físico, de acordo com os relatos de Sylvan Muldoon sobre as suas experiências fora do corpo. (Biblioteca Mary Evans)
Esse ponto de vista era de há muito defendido pelos partidários da teoria da sobrevivência. Parece lógico concluir que, se a mente pode funcionar afastada do corpo durante certo tempo, também poderia ser capaz de funcionar fora dele permanentemente. Por isso é que alguns pesquisadores se interessam pela experiência fora do corpo, certos de que o estudo desse fenômeno é de suma importância para o problema da sobrevivência. Os dados apresentados no capítulo anterior demonstram a imensa dificuldade de se mostrar que os mortos podem entrar em contacto com os vivos diretamente. As experiências fora do corpo nos oferecem a possibilidade de resolver o problema da sobrevivência, mostrando que os vivos possuem a capacidade inata de sobreviverem ao choque da morte.
É por isso que a pesquisa da natureza das experiências da mente fora do corpo se tornaram de importância primordial na questão da sobrevivência. A chave da questão em jogo é muito simples: A saída para fora do corpo é uma forma verdadeira de fenômeno psíquico? E, se assim é, algo realmente objetivo ou identificável deixa, de fato, o corpo durante a experiência? Provadas essas duas possibilidades, chega-se automaticamente à conclusão de que a experiência fora do corpo será afinal usada para sobrepujar a morte.
Experiências fora do Corpo
Os parapsicólogos têm se interessado pelas experiências fora do corpo desde o tempo de F.W.H. Myers, mas apenas há bem poucos anos a atenção se voltou para a exploração dos seus parâmetros. O tópico jamais se tornou o ponto focai de um sério esforço investigativo, porque não se quadrava perfeitamente na concepção severa da parapsicologia adotada na década de 1930. Os pesquisadores induziam saídas do corpo em seus examinados através da hipnose e tentavam fazer com que seus corpos astrais liberados produzissem ruídos ou afetassem balanças muito sensíveis. Tentaram mesmo fotografar a duplicata humana. Foi alcançado considerável sucesso, mas é muito difícil avaliar hoje tal pesquisa. A primeira tentativa de estudar o fenômeno cientificamente, mais recentemente, ocorreu em 1965, quando o Dr. Charles Tart, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Davis, voltou sua atenção para o assunto. Seu interesse surgiu quando uma jovem o procurou, dizendo que experimentava a sensação de sair do seu corpo durante a noite. A reação de Tart foi sugerir que ela cortasse alguns pedacinhos de papel, escrevesse números neles, colocasse-os em uma caixinha, os misturasse bem e, antes de se deitar, pegasse um deles, sem olhar o número nele escrito, e o colocasse em um lugar do quarto fora do alcance de sua vista. Tart explicou-lhe que, para provar a realidade de sua sensação, ela deveria tentar ver o número, quando fora do corpo. Poderia, então, avaliar até que ponto era eficiente a sua visão fora do corpo, e, com isso, documentar a sua experiência.
Quando a moça o procurou de novo, alguns dias depois, informando que fora bem-sucedida, o Dr. Tart ficou ainda mais intrigado. E, dentro em pouco, teve oportunidade de submeter a jovem a uma série de exames em seu laboratório especializado na universidade.
As experiências eram muito simples. Todas as noites, durante quatro dias, Miss Z (como o Dr. Tart a identificou em seu relatório) ia ao laboratório e procurava dormir ali. O laboratório dispunha de um divã, onde Misi Z se deitava, depois de ser ligada a eletrodos, por sua vez ligados a um polígnato, que registrava as ondas cerebrais e outras atividades fisiológicas durante o sono. Uma saliência se estendia da parede, por cima do divã, e cada noite era colocada ali pelo psicólogo um papel onde estava escrito um número de cinco algarismos. Miss Z era instruída para dormir e, durante a noite, se via fora do corpo, flutuava e memorizava o número. Um interfone ligava a câmara do sono a outra sala adjacente, com equipamentos, onde um pesquisador dirigia a experiência, de modo que a jovem pudesse comunicar o número imediatamente.
Nada de interessante aconteceu durante as três primeiras noites, mas a quarta sessão foi coroada de retumbante sucesso. Pouco depois de seis horas da manhã, a paciente chamou no interfone, anunciando que tinha saído do corpo, e disse o número do pesquisador. Citou corretamente todos os cinco algarismos. E mais sugestivo ainda foi o que as ondas cerebrais estavam mostrando naquele momento crítico. O eletroencefalograma revelou que, pouco antes de chamar no interfone, Miss Z saíra do sono normal para um estranho e inclassificável estado letárgico, que não situava exatamente nem no sono nem na vigília. Isso sugeriu ao Dr. Tart que algo mais que uma simples percepção extra-sensorial explicava o sucesso da paciente.
Mais tarde, soube-se que o número na saliência da sala poderia ser lido acendendo-se uma lanterna elétrica e vendo-se o seu reflexo em um relógio que ficava acima dele. Não houve prova, contudo, de que a paciente soubesse daquilo ou levasse uma lanterna elétrica para o laboratório, e é provável que o menor movimento de sua parte afetasse os eletrodos ligados ao seu corpo.
De um modo geral, os parapsicólogos deram pouca atenção ao trabalho do Dr. Tart, que foi formalmente anunciado em 1968. Quando, porém, o legado de Kidd atribuído à Sociedade de Pesquisas Psíquicas (e subseqüentemente à Fundação de Pesquisas Psíquicas), os pesquisadores das duas instituições começaram a reconsiderar o problema da saída do corpo. Talvez seguindo as sugestões do Dr. Murphy, admitissem que poderia ser mais eficiente enfrentar o problema da sobrevivência pesquisando com pessoas vivas do que expandindo os velhos métodos da mediunidade. A questão passa ser a de demonstrar que possuímos a capacidade de sobrevivermos, e não se o contacto com os mortos pode ser estabelecido diretamente.
O resultado disso foi que, nos anos seguintes, ambas as entidades dedicaram muito tempo, energia e dinheiro estudando o problema da experiência fora do corpo (EFC). O objetivo era encontrar um meio de demonstrar que algum aspecto da mente é suscetível de deixar o corpo durante a experiência fora do corpo. Uma vez que tal descoberta poderia ser considerada uma prova da existência da alma, a pesquisa estaria bem dentro do espírito (desculpem o trocadilho) do testamento de Kidd.
Estudos Sobre a Natureza da Visão Fora do Corpo
As pesquisas sobre o assunto foram iniciadas na Associação Americana de Pesquisas científicas pelo Dr. Karlis Osis, por muito tempo diretor de pesquisas da organização. O Dr. Osis já se interessava antes pelas pesquisas daquela natureza e o dinheiro de Kidd lhe deu a oportunidade de que necessitava para dedicar todo o seu tempo àquele trabalho. Depois de se inteirar do assunto, através de leituras, chegou à conclusão de que o melhor meio de enfrentar o problema seria estudando a natureza da visão fora do corpo. Raciocinou que a vista fora do corpo deveria obedecer aos princípios que regem a visão física, que é muito diferente das vagas e fragmentárias mensagens espíritas. Esperava mostrar que o paciente da EFC poderia ver de maneira muito mais consistente do que seria de se esperar em um paciente no espiritismo. Também esperava provar que a vista na EFC seria limitada pelos fatores que interferem na visão comum.
Por sorte, o Dr. Osis não teve de esperar muito tempo antes de poder pôr à prova as suas idéias. A oportunidade surgiu quando começou a experiência com Ingo Swann, um dos mais pitorescos adeptos do espiritismo, há muito tempo residente
Ingo Swann é um ex-funcionário das Nações Unidas, louro, bem apessoado, apreciador de um charuto, que se tornou muito conhecido no país por suas qualidades psíquicas. É também um artista profissional. Descobriu que podia sair do corpo quando era criança e foi operado para ablação das amígdalas. Anos mais tarde, já adulto, aprendeu a controlar aquele especialíssimo talento. Verificou que não somente podia projetar um elemento de sua mente completamente fora do corpo, como também continuar, ao mesmo tempo, inteiramente consciente. Para pôr em prática a sua rara qualidade, Swann se limita a sentar-se em uma confortável espreguiçadeira, em via de regra fumando um bom charuto, libera parte de sua mente, e depois, muito à vontade, conta ao pesquisador o que está vendo enquanto a sua mente flutua.
O Dr. Osis e sua assessora Janet Mitchel realizaram uma série completa de experiências com Swann, na Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas, em 1972.
Para os primeiros testes, foi especialmente preparada uma sala na sede da Sociedade. Swann deitava-se na espreguiçadeira, ligado a um polígrafo e era convidado a projetar sua mente para o teto e ler em uma plataforma semelhante a uma caixa nele suspensa. Na caixa eram colocadas duas figuras perto uma da outra, e Swann tinha de olhar para uma delas, descrevê-la e depois girar a plataforma e olhar para a outra figura. Posteriormente era convidado a desenhar o que vira. Foram feitas várias experiências usando o mesmo processo, mas figuras diferentes eram usadas em cada prova.
Não é difícil descobrir a racionalidade de tais testes. Se eram colocados três objetos perto uns dos outros na plataforma, Osis queria saber se Swann via todos eles, e na devida perspectiva de uns com relação aos outros. Osis acreditava que isso mostraria que a EFC é um fenômeno muito diferente da telepatia e da clarividência normais, uma vez que tais qualidades raramente são muito precisas. Tal coisa, ao contrário, mostraria que algo, realmente, sai do corpo durante a experiência.
O mínimo que se pode dizer é que Swann atuou sensacionalmente. Em uma das experiências, ambas as leituras se compunham de formas geométricas. Uma era um coração vermelho invertido, com um abridor de envelope preto colocado por cima, e a outra um olho de boi tricolor com um pedaço cortado. Swann, enquanto fora do corpo, pôde ver e depois desenhou ambas as figuras corretamente. Não confundiu uma com a outra. Seu desenho do olho de boi foi tão preciso, que pôs o pedaço cortado na posição correta. Só cometeu um erro, invertendo a ordem das cores dos anéis que compunham o olho de boi. No caso do coração, ele desenhou uma figura oval, com um objeto semelhante a uma faca ablonga por cima. Também designou as cores corretamente.
O espiritualista americano Ingo Swann obteve espetacular sucesso visitando os alvos (desenhos com números 37 e 40), durante uma viagem fora do corpo, depois desenhando o que vira (ao lado, a traço). (Biblioteca Mary Evans)
Swann também se mostrou capaz de apresentar algumas surpresas por sua própria conta durante aquelas experiências. Osis e seus auxiliares não tardaram a constatar que a visão fora do corpo de Swann podia se mostrar tão precisa que, às vezes, percebia nas figuras certos aspectos que nem eles próprios tinham notado. Swann descreve um desses incidentes em se livro autobiográfico To Kiss Earth Good-Bye.
Durante a experiência de 3 de março, quando a caixa foi cuidadosamente revestida por dentro com papel branco, a pessoa encarregada fazer a figura inadvertidamente não cobriu as letras impressas do lado de dentro. Essa parte impressa foi vista mas não lida por mim, quando procurei, nervosamente, perceber o que havia na caixa. Depois de ter sido do completada a experiência, mas antes que a caixa fosse descida e examinada, a pessoa encarregada de arrumar a caixa declarou, muito excitada, que a experiência devia ter fracassado, pois não havia matéria impressa na caixa. Revidei, dizendo que eu vira o impresso lá e que portanto ele devia estar lá. Para decepção de todos, quando a caixa foi descida e examinada, lá estava o impresso, exatamente como eu senti que tinha visto.
A fim de pôr à prova a relação entre a visão e a visão física, Osis criou um novo teste para os seus pacientes. Mais uma vez, ele esperava mostrar que algo real da mente deixa o corpo durante a experiência. Com a ajuda de alguns dos seus colaboradores, criou um dispositivo denominado caixa de visualização ótica, que consistia em simples caixa preta, montada em uma espécie de estrado. Tinha três pés de altura por dois de largura, e, bem no meio dela, estava aberto um curioso orifício. Quem olhasse para dentro da caixa veria uma roda dividida em quatro segmentos diferentemente coloridos. A caixa se achava também aparelhada com um projetor de slides que, quando ativado, parecia projetar várias imagens em um quadrante escolhido. Digo parecia projetar porque a superposição da imagem na roda era, na realidade, uma ilusão de ótica.
Essa ilusão de ótica constituía, na verdade, a chave de todo o teste. Osis acreditava que o paciente, olhando pelo orifício da caixa, quando fora do corpo, deveria ser capaz de ver corretamente a ilusão de ótica, da mesma maneira que poderíamos, se olhássemos para dentro da caixa com os nossos olhos físicos. Acreditava também que a pessoa que se utilizas simplesmente da clarividência para olhar a caixa psiquicamente não perceberia de modo algum a ilusão.
Para o teste da caixa mágica, Osis recrutou outro médium para cobaia, Alex Tanous, um homem de olhos escuros, ar misterioso, ex-professor de teologia em Maine e que se tornou a segunda estrela de Osis no programa da EFC. Ao contrário de Swann, no entanto, Tanous realmente afirma que projeta uma imagem fantasmagórica de si mesmo, e que essa duplicata tem sido vista ocasionalmente por outras pessoas, quando projetada.
A princípio, Tanous fracassou inteiramente no teste da caixa, para grande decepção de Osis, mas foi o próprio Tanous que descobriu qual era problema: “Quando comecei a trabalhar com a caixa ótica”, lembrou mais tarde, “eu não podia ver a imagem objetiva, porque não tinha altura suficiente, ou, pelo menos, o meu outro eu não tinha altura suficiente. O orifício na frente da caixa ótica ficava mais ou menos à altura dos olhos em uma pessoa de estatura média. Meu eu projetado, o meu corpo astral, como constatei, quase não tem altura. É uma pequena bola de luz. Eu não podia olhar no orifício, a não ser que me espichasse, a não ser que measse na ponta dos pés e, mesmo assim, não pude ver bem”.
O Dr. Osis e seu assistente construíram uma plataforma para o corpo astral de Tanous, e, sem sombra de dúvida, o paciente se tornou, de súbito, mais bem-sucedido em suas tentativas de ver o interior da caixa!
Experiências para Localizar o Ego Fora do Corpo
Enquanto se realizavam todos esses trabalhos
Keith Harary, apelidado Azul, entrou em contacto com a Fundação em 1973. Acabara de se matricular na Universidade Duke, quando ficou sabendo que a Fundação estava procurando pessoas que se acreditavam capazes de sair do seu corpo voluntariamente. Como tivera experiências nesse sentido desde criança, ofereceu prontamente os seus serviços. A sua afirmação de que conseguia sair de seu corpo voluntariamente despertou imediatamente o interesse dos investigadores da Fundação de Pesquisas Psíquicas. O Dr. Robert Morris, então Diretor de Pesquisas da Fundação, foi prontamente encarregado de organizar e dirigir as experiências. Naturalmente, o empenho de Morris era constatar se Azul conseguia realmente sair de seu corpo, como afirmava.
Na primeira fase das experiências, Morris determinou que Azul permanecesse em uma dependência administrativa da Fundação, enquanto seus auxiliares penduravam grandes letras de papelão em outra casa, situada a cerca de dezoito metros de distância. A tarefa de Azul consistia em deixar o seu corpo, ir à outra casa e depois informar o que vira lá. A fim de fazer as suas viagens psíquicas, Azul teria apenas de deitar-se, ficar bem calmo e depois fazer com que a sua mente saísse do corpo. Habitualmente, ficava dentro de uma cabine fechada, pois não gostava de ser visto enquanto estava procurando fazer com que a mente saísse do corpo. Contudo, a fim de se manter em constante contacto com os pesquisadores, Azul avisava Morris por um interfone quando sentia que se encontrava na iminência de sair do seu corpo. Dava outro sinal, quando voltava, alguns minutos mais tarde. Imediatamente depois que Azul voltava ao seu corpo, Morris mandava que ele contasse o que vira durante a sua viagem psíquica.
Foram realizados vários desses estudos com objetivos, e Azul foi mais ou menos bem-sucedido; os pesquisadores da Fundação não tardaram a perceber que a EFC não era um assunto muito fácil e muito simples. Algumas vezes, Azul informava o que vira com notável precisão, enquanto em outras falhava lamentavelmente. No entanto, revelou ele próprio um ou dois truques psíquicos.
Assim, por exemplo, durante um teste, a única pessoa que deveria ficar na casa onde estavam as letras de papelão era Joseph Janis, um dos pesquisadores da Fundação. Sem que Azul soubesse, no entanto, outro pesquisador, um voluntário chamado Jerry Posner, entrara na sala, durante a prova, para fazer companhia a Joseph. Embora Azul não tivesse conseguido ver as letras direito, durante a experiência, imediatamente notou a presença de uma segunda pessoa na sala, e comunicou ao Dr. Morris
O caso não parou por aí, todavia. Depois de terminada a experiência, Posner afirmou ter visto a aparição de Azul na sala em que estava! A ocasião
Para a nova série de testes, os pesquisadores da Fundação foram instruídos para permanecerem no centro de meditação da entidade, dura todo o tempo da experiência. O centro era um pequeno prédio, logo atrás dos dois prédios administrativos da Fundação, dos quais era separado por um gramado. Azul era, então, levado para outro prédio, colocado em uma pequena cabine fechada, e convidado a ir ao centro, ver quem se encontrava lá e, depois, mencionar os seus nomes aos pesquisadores. Azul, naturalmente, ignorava completamente quais dos dez ou doze pesquisadores se encontravam no centro. Não obstante, ele se saiu muito bem no primeiro teste. Não somente revelou quem se encontrava no centro, como revelou exatamente onde cada voluntário se achava sentado!
Keith Harary, o Azul, preparado, a fim de que os pesquisadores pudessem acompanhar as suas tentativas de sair do corpo. (Biblioteca Mary Evans).
Embora a exatidão tivesse diminuído nos testes seguintes, os pesquisadores da Fundação ficaram muito impressionados com o fato de, na ocasião, algumas das pessoas sentadas na sala terem visto a aparição de Azul ou notado a sua presença de outra maneira. O horário dessas identificações em geral coincidia com os das tentativas EFC de Azul. Até o Dr. Morris notou a presença de Azul! Assim, em vez de resolverem o mistério da EFC, os pesquisadores da Fundação se viram envolvidos por ele.
Como acontece com muitas outras pessoas sensíveis, Azul adora animais. Uma vez que ele parecia tão eficiente em afetar as pessoas com a sua presença fora do corpo, os pesquisadores da Fundação tiveram uma idéia maravilhosa para a seguinte experiência de grandes proporções. Se Azul podia, de certo modo, afetar seres humanos com a sua presença, que aconteceria em se tratando de animais? Segundo a tradição, os animais reagem de maneira estranha em uma casa mal-assombrada e quando vêem fantasmas e coisas parecidas. Os pesquisadores da Fundação imaginavam como eles reagiriam diante do fantasma de um vivo. Assim, dois gatinhos foram recrutados, não muito voluntariamente, para as próximas experiências, sendo batizados, muito adequadamente, como Espírito e Alma.
Para os testes seguintes, Robert Morris utilizou o que é chamado prancha de atividade animal. Trata-se de uma prancha dividida em vários quadrados iguais. Colocando-se o animal na prancha, o pesquisador pode registrar a sua taxa de atividade normal, observando quantos quadrados atravessa e quantas vezes ele faz um barulho durante um determinado período de tempo. O plano de Morris consistia em ver se os gatos reagiam ou agiam de maneira diferente quando Azul os visitasse mentalmente, uma ocasião qualquer. A experiência na realidade foi complexa, e apenas um dos gatos foi usado. Eis como tudo foi feito:
Azul foi levado primeiro para uma sala experimental do hospital da Universidade Duke, situada cerca de oitocentos metros da Fundação Pesquisas Psíquicas. Um pesquisador ficou em sua companhia, enquantooutro ficou com o gato, no laboratório da Fundação. O pesquisador que ficou com o gato somente foi avisado que, durante a experiência, um telefone tocaria na sala quatro vezes. Cada toque iniciava uma experiência de dois a três minutos, tempo em que o pesquisador deveria prestar toda a atenção no gato; somente em duas ocasiões, contudo, Azul se projetava realmente até o animal. Durante as outras duas, ele meramente pensava em deixar o corpo, ou nada acontecia. O pesquisador que tomava conta do gato não tinha idéia de em qual dos quatro períodos Azul faria as suas tentativas. Sua tarefa consistia unicamente em observar o gato e anotar o seu comportamento durante aqueles quatro períodos.
A experiência foi repetida várias vezes, e os resultados foram impressionantes. O gato invariavelmente ficava agitado quando era posto na plataforma. Pulava e miava constantemente. No entanto, todas as vezes que Azul se projetava até ele, o animal se acalmava de súbito, ficando imóvel e sem miar. A mudança de seu comportamento às vezes era tão acentuada, que o pesquisador que estava tomando conta do animal pouco tinha de fazer quando Azul efetuava as suas visitas.
As experiências do gato foram realizadas também com diversos animais. Eu, pessoalmente, cheguei em Durham para atuar como conselheiro nos testes no verão de 1943, quando as experiências com o gato estavam sendo completadas. Foi muito discutido pelos pesquisadores como se deveria processar a nova fase das pesquisas. Falou-se em usar menos animais domésticos, uma vez que os animais selvagens se mostrariam mais vigilantes e se sentiriam ameaçados por uma presença invisível. Alguns m nós achavam que tais animais reagiriam, portanto, mais fortemente em face de um visitante fora do corpo. Não levou muito antes de encontrarmos um objeto adequado para os nossos testes. Mr. Graham Watkins, outro conselheiro de pesquisas, se dedicava a estudos sobre animais, tendo preferência pelas cobras. Orgulhou-se e regozijou-se em apresentar a cobra mais incrível que vi em toda a minha vida. Não havia dúvida de que odiava o homem, e não cessava de dar botes, quando qualquer pessoa se aproximava dela. Watkins nos ofereceu a cobra emprestada (juntamente com as luvas para pegá-la!), a fim de ser usada nas experiências.
Para o primeiro teste, um grupo de pesquisadores levou Azul ao hospital da Universidade Duke, depois de terem acertado os seus relógios com o meu. Fiquei na sede da Fundação, juntamente com um voluntário. O prédio em que estávamos colocados dispunha de uma cabine isolada, com uma janela de observação. A cobra e sua gaiola foram colocadas ali, enquanto eu observava os seus movimentos através da janela. A experiência foi semelhante à do gato. Limitei-me a observar a cobra e anotar o seu comportamento, enquanto esperava o telefone do laboratório tocar, o que constituía o sinal de um período experimental de três minutos. Na hora seguinte, o telefone tocou quatro vezes, e Azul tentou se projetar para nós duas vezes. Não tínhamos idéia de qual dos dois períodos constituiria verdadeiro período experimental.
No decorrer da experiência, a cobra só teve uma reação esquisita. Antes do teste e durante o primeiro período experimental, o animal se manteve calmo, apenas serpenteando tranqüilamente dentro da gaiola. Depois, passou a se mostrar mais agitada, no começo do segundo período experimental. Para meu espanto, ela deslizou, erguendo-se, em um lado da gaiola e pareceu disposta a atacar. Mordeu a gaiola furiosamente e depois, da mesma maneira misteriosa, se acalmou de novo, não tendo apresentado outras situações inabituais durante o resto da experiência.
Quando os pesquisadores da Fundação trouxeram Azul de volta laboratório naquela noite, comparamos os tempos. Verificou-se que a primeira tentativa EFC de Azul ocorrera durante o segundo período crítico. Ele nos explicou como simplesmente deixara o seu corpo, nos viu, tentou chamar a nossa atenção e depois projetou-se na gaiola com a cobra. O tempo
Devo acrescentar que tentamos realizar de novo a experiência alguns dias depois, mas a cobra resolveu não cooperar de modo algum. Antes mesmo do teste começar, ela se enroscou e dormiu. Não consegui acordá-la, de modo que a experiência fracassou.
As experiências que acabo de descrever são apenas alguns exemplos de vários testes realizados pela Fundação para pôr à prova a capacidade EFC de Azul. A questão crucial, naturalmente, era provar que realmente Azul saía do corpo, como afirmava. Foi um problema que, mesmo depois de dois anos de investigações, não pôde ser resolvido para satisfação de todos. O Dr. Robert Morris se mostrou cético quanto à significação geral e implicações da pesquisa. Na sua opinião, era teoricamente possível que as pessoas e animais que notaram a presença de Azul estivessem reagindo a mensagens psíquicas (isto é, telepáticas ou talvez psicocinéticas) emitidas por ele, e nada mais. Eu, por outro lado, não pude aceitar essa reencarnação da hipótese do superpsiquismo, já que acho que isso não poderia explicar a coerência do comportamento do gato. O número de impressionantes identificações da presença de Azul fora do corpo também par incompatível com a idéia do superpsiquismo.
Houve, mesmo, sugestivos indícios de que Azul podia mesmo produzir efeitos físicos nos lugares onde se projetava. Assim, por exemplo, durante uma experiência, ele se aproximou de um termistor situado em um dos prédios da Fundação, quando se projetou, de outro prédio. Ele se aproximou duas vezes, e em ambas as vezes o polígrafo registrou queda de temperatura. Infelizmente Azul não pôde provocar esse efeito de forma categórica.
Desse modo, todo o trabalho da Fundação de Pesquisas Psíquicas terminou em uma atmosfera de incerteza. Sem dúvida, ficou a impressão de que uma parte da mente de Azul deixava o seu corpo durante a EFC, mas nenhuma das experiências pôde ser considerada como uma prova 100 por cento.
Tanto as pesquisas empreendidas pela Associação Americana de Pesquisas Psíquicas como pela Fundação de Pesquisas Psíquicas terminaram dois anos depois de terem sido iniciadas. O motivo é muito simples: o dinheiro do legado de Kidd acabou, e ambas as instituições tiveram de ir em busca de outros financiadores… e de outros projetos. Em 1975, as pesquisas regulares de parapsicologia sobre a EFC quase haviam se tornado uma coisa do passado. Os pesquisadores tinham feito quase tudo que podiam fazer para isolar a EFC como um fenômeno objetivo, e não meramente como uma alucinação espírita conducente. Alguns de seus dados eram compatíveis com a hipótese da mente projetada, mas muitos dos pesquisadores ficaram decepcionados com a inconsistência dos resultados. Se alguém estava realmente atuando fora do corpo, por que não poderia fazer com que as pessoas sempre reagissem à sua presença, ou esse alguém sempre visse os objetos colocados em pontos distantes? Ninguém deu uma resposta satisfatória a essa embaraçosa pergunta. Felizmente, contudo, as pesquisas sobre a natureza da EFC não terminaram daquela vez — mas assumiram dimensões novas e muito mais vastas. Essa nova investigação, porém, não partiu da parapsicologia convencional.
maio 2nd, 2013 às 11:39 PM
Esta segunda parte é boa e suscita algumas questões sobre o tema:
1 – Por que estas pesquisas não apareceram mais, uma vez que a ciência hoje tem maiores e melhores meios de fazer aferições que não dependam de gatos e cobras?
2 – Há uma quantidade razoável de “voadores” ( pessoas que dizem sair do corpo) tanto aqui no Brasil como lá fora, como por exemplo Waldo Vieira e Wagner Borges, ambos gurus bastante incensados da “projeção extra-física”. Por que estes senhores que há tanto tempo atuam e palestram nesta área não apresentaram absolutamente NADA que tenha um mínimo de rigor científico? Das duas uma: Ou eles desconsideram completamente que uma comprovação científica da projeção revolucionaria a ciência, ou sabem que não tem como comprovar cientificamente o que alegam, e por isso preferem manter a coisa um assunto de “iniciados”, restrito ao espiritualismo de almanaque que impera no país.
Enfim, o anos passam e a coisa não progride.
julho 25th, 2013 às 8:18 PM
“Nada de interessante aconteceu durante as três primeiras noites, mas a quarta sessão foi coroada de retumbante sucesso. Pouco depois de seis horas da manhã, a paciente chamou no interfone, anunciando que tinha saído do corpo, e disse o número do pesquisador. Citou corretamente todos os cinco algarismos. E mais sugestivo ainda foi o que as ondas cerebrais estavam mostrando naquele momento crítico. O eletroencefalograma revelou que, pouco antes de chamar no interfone, Miss Z saíra do sono normal para um estranho e inclassificável estado letárgico, que não situava exatamente nem no sono nem na vigília. Isso sugeriu ao Dr. Tart que algo mais que uma simples percepção extra-sensorial explicava o sucesso da paciente.”
julho 26th, 2013 às 11:52 AM
Otávio,
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Respondendo a suas perguntas, no meu entendimento, é claro:
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1) A ciência hoje é mais preconceituosa e “materialista” do que a ciência daquela época. No entanto, há, sim, gente fazendo esse tipo de pesquisa, você só não tem acesso, assim como não tinha acesso a esta do artigo até a Vitor postar no blog.
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2) Estes senhores que você citou não podem ser levados a sério, e já provaram isso diversas vezes. Mas, como eu disse, a pesquisa espírita caminha, porém ainda não é aceita pela universidade e pela ciência atual, por demais preconceituosa hoje em dia, pois contaminada pelo “pseudo ceticismo”.
julho 26th, 2013 às 11:54 AM
*”o Vitor”