A VIDA DEPOIS DA MORTE, DE SCOTT ROGO (1986) – CAPÍTULO 3

Neste capítulo, Rogo aborda as experiências de quase-morte (traduzidas como ‘experiências perto-da-morte’), citando as pesquisas de Sabom, Ring entre outros. É muito interessante também a descrição de uma das EQMs negativas, que parece extraída de um conto de Tolkien sobre a Terra Média.

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Documentação da Experiência Perto-da-Morte 

Quando foi publicado o livrinho de Raymond Moody, Life after Life, em 1975, ninguém imaginou que iria se tornar um bestseller. Foi lançado por uma obscura editora de Atlanta, Estado da Geórgia, e continha vários relatos, não sensacionalistas, de pessoas que tinham morrido, mas reviveram posteriormente. Em tais relatos, as pessoas, invariavelmente, contavam como tinham deixado o seu corpo, sobrevivido à morte, viajado até um estranho e maravilhoso paraíso e voltado, com relutância, aos seus corpos. Talvez tenha sido essa maneira otimista de encarar a experiência da morte, que venceu o tabu que sempre reveste o assunto, a responsável pelo entusiástico acolhimento ao livro de Moody e outros estudos semelhantes que se seguiram. Realizaram-se simpósios sobre o assunto nas convenções anuais, tanto da Associação Parapsicológica como na Associação Psicológica Americana, e até mesmo uma sociedade de médicos foi organizada para investigar o fenômeno perto-da-morte (PDM).

Depois da publicação do livro de Moody, centenas de pessoas têm falado acerca de suas próprias experiências. Esses casos representam um crescente conjunto probatório, mostrando que o após vida é apenas um momentâneo afastamento. Assim, por exemplo, em agosto de 1979, o boletim Anabiosis, órgão da Associação Internacional de Estudos Perto-da-Morte, com sede no Estado de Connecticut, publicou um impressionante relato.

O jovem missivista explicou que enfrentara a sua experiência PDM em conseqüência de um terrível acidente. Estava colocando algumas compras no porta-malas de seu carro, quando este foi batido por outro carro, e ele ficou preso entre os dois veículos. Foi imediatamente levado para um hospital e conduzido para a sala de cirurgia, onde perdeu a consciência.

Algum tempo depois — escreveu — houve um súbito clarão e me vi flutuando acima do meu corpo físico. Pude ver os cirurgiões me operando. Havia também uma enfermeira sentada em minha frente, bem acima da minha cabeça. A sensação seguinte que tive foi quando alguém pôs as suas mãos em meus ombros. Tive a impressão de que estava sentado em algo que se movia através de um túnel.”

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Este quadro, mostrando a alma de um homem deixando o corpo no momento de sua morte, foi executado por G. Parlby, sob a direção do espiritualista Hewat Mackenzie, e mostra a corda prateada que apareceu em muitas experiências. (Biblioteca Mary Evans)

 

A carta continua, com o missivista contando que se viu depois avançando ele próprio pelo túnel, indo afinal descansar em um ambiente nevoento. Pôde notar pessoas que se moviam, e ouviu uma bela música. Afinal, algo luminoso aproximou-se dele, interrogou-o acerca de sua vida e disse-lhe para voltar ao seu corpo. Ele acordou mais tarde, atravessando o túnel de regresso.

Foi a mais bela experiência da minha vida”, informou. Essa é a reação de muitas pessoas que passaram pela experiência PDM.

Casos desse tipo vêm despertando muita atenção. Até mesmo os jornais diários os estão noticiando. Caso semelhante ao aqui citado foi noticiado pelo Times de Los Angeles, de 30 de março de 1983, que relata o que aconteceu com um jovem homem de negócios de Hollywood.

Dan O’Dowd, co-proprietário de uma empresa de vídeo de Los Angeles, quase foi morto, quando, dirigindo na Auto-Estrada da Costa do Pacífico, que atravessa o litoral do sul da Califórnia, seu carro foi atirado fora da pista por um motorista embriagado, em 27 de agosto de 1979. Disso resultou uma série de cinqüenta operações, nas quais o jovem executivo foi praticamente recomposto, pedaço por pedaço. Sua experiência perto-da-morte ocorreu durante uma operação particularmente grave, que durou quinze horas, no Centro Médico Cedars-Sinai, em Beverly Hills. Estava deitado na mesa de operações, quando, segundo relatou,

…de repente despertei, mantendo-me imóvel e vendo a máquina cardíaca (monitor) formando uma linha reta. Estava bem acordado, embora soubesse que tinha os olhos fechados. Era como ver imagens na televisão. Depois, subi e fiquei olhando para mim mesmo, de cima para baixo. Eu estava pairando sobre o meu corpo, a uma altura de um pé e meio (45 centímetros) a seis pés (um metro e oitenta centímetros). 

Ficou estarrecido quando ouviu um dos médicos anunciar, de súbito, a sua morte. O executivo aparentemente teve a sua experiência perto-da-morte durante um acidente de cirurgia.

O’Dowd se encontrou em seguida em um corredor próximo, onde os seus parentes estavam reunidos, e ouviu, incredulamente, o médico anunciar que a operação falhara. Dentro em pouco, ele se encontrou de novo na sala de operações, onde os médicos ainda tentavam salvá-lo, apesar do próprio pessimismo. Enquanto ele os olhava estarrecido, os médicos aplicavam ao seu corpo dispositivos contra a fibrilação, na esperança de conseguirem reativar o coração.

— “Um sujeito — ele explicou aos repórteres — manobrava o aparelho, e um outro aplicou gel, e eu, olhando de cima para baixo, me vi terrivelmente morto. Depois, aplicaram os choques. Da primeira vez, nada. Da segunda, comecei a recuar e logo pude me sentir sendo puxado para a anestesia. E para fora”.

O empresário, de 32 anos, viveu para contar a história. Seus parentes ainda se lembram como os médicos lhes disseram que o coração havia parado e que estavam fazendo tudo para salvá-lo, mas era duvidoso que conseguissem. Seu médico, Dr. Mohammed Ataik, da Cedars Sinai, também ficou intrigado com o incidente.

Não quero desmenti-lo — declarou ele ao Times — mas, do ponto de vista médico, não tenho explicação.

Episódios de quase morte como esse são surpreendentemente comuns. Depois de estudar mais de uma centena deles, Moody mostrou que uma pessoa que passou pela experiência perto-da-morte atravessa diversas fases. Na maior parte dos casos, o doente ou vítima de acidente em geral experimenta um momento de paz, quando compreende que morreu; muitas vezes ouve ruídos de colisão; sente-se deixando o seu corpo e viajando rumo a uma brilhante luz branca e, às vezes, experimenta uma lembrança instantânea da vida anterior, antes de entrar no além. Nesse ponto, a experiência geralmente termina, uma vez que a testemunha, ou regressa automaticamente ao seu corpo, ou é mandada voltar por alguém que encontra no além.

Muitos dos seguidores da obra de Moody acreditam que casos tal como o aqui citado provam virtualmente que sobrevivemos à morte. As provas, porém, não são tão claras assim. Durante os últimos sete anos, houve várias tentativas de desacreditar o trabalho de Moody, enquanto vários outros cientistas procuravam repetir as suas descobertas. Disso resultou uma controvérsia científica quase tão fascinante quanto as deduções originais de Moody. Presentemente, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o estudo da experiência perto-da-morte não é tão simples e bem definido quanto o entusiasmo inicial de Moody julgava ser.

Um dos mais contundentes críticos da argumentação de vida após a morte tem sido o Dr. Robert Kastenbaum, psicólogo da Universidade de Massachusetts e diretor da revista Omega, uma das mais prestigiosas publicações que tratam do estudo psicológico da morte. Kastenbaum está pessoalmente interessado no problema da vida após a morte, e organizou mesmo um simpósio sobre a experiência perto-da-morte, em recente reunião da Associação Psicológica Americana, mas não deixou, por isso, de dirigir vários ataques contra o movimento vida-após-a-vida. Escrevendo em 1977, na revista Human Behavior (Comportamento Humano), Kastenbaum salienta que nem todos que sofreram a morte clínica experimentaram a sensação EFC. Tais estados fora do corpo se mostram muito infreqüentes, argumenta o psicólogo, e, portanto, não temos o direito de deduzir, de dados tão limitados, que o fenômeno é uma experiência humana universal. Salienta ainda o fato de algumas pessoas que estiveram às portas da morte experimentaram sensações de todo diferentes daquelas mencionadas por Moody e outros. Muitas pessoas não deixam seu corpo quando se dá a morte clínica, mas permanecem nele conscientes, embora pareçam se encontrar em estado de coma ou mortos.

A existência de outros tipos de relatos vindos de além da fronteira da morte ou da quase-morte não desacredita a qualidade dos relatos que tanto interesse despertam presentemente”, escreveu Kastenbaum, “mas torna difícil aceitar a conclusão, tirada por alguns, que o processo do falecimento é, geralmente, agradável.” O Dr. Kastenbaum não acredita que tais incidentes demonstrem a existência de uma vida após a morte.

As opiniões de Kastenbaum tiveram eco em outros críticos, que acusaram os partidários da vida-após-a-vida de basearem seus pontos de vista sobre a alegria da morte em um punhado de relatos anedóticos. Salientam os críticos que, antes de serem aceitos como válidos os dados de Moody, seria necessário consultar um grande número de pessoas que passaram por situações semelhantes, a fim de se verificar se se tratava de uma experiência comum, ou meramente de anomalias, ocorridas com meia dúzia de pessoas, e que foram destacadas do conceito devido à sua semelhança. Felizmente, levantamentos objetivos foram realizados desde então, e seus resultados muito concorreram para confirmar as conclusões iniciais de Moody.

Documentação da Experiência Perto-da-Morte 

Tal estudo foi empreendido pelo Dr. Michael Sabom, cardiologista da Escola de Medicina da Universidade Emory, no Estado da Geórgia, e sua assistente, Sarah Kreutziger, que, em março de 1976, começaram a interrogar pessoas que haviam experimentado a morte clínica. Conversaram, ao todo, com 100 pacientes do hospital: 71 homens e 29 mulheres, que haviam escapado da morte por pouco. Verificaram que 61 por cento haviam experimentado a clássica sensação PDM de tipo estreitamente relacionado com os anunciados pelo Dr. Moody, em 1975. Os pacientes tinham estado à morte em conseqüência de vários motivos, inclusive para da cardíaca, acidente e mesmo suicídio.

“Os pormenores desses sessenta e um por cento são surpreendentemente semelhantes”, escreveram Sabom e Kreutziger, no número do quarto trimestre de 1978 de Theta, revista dedicada a pesquisas sobre a questão da sobrevivência após a morte. E acrescentaram: “Durante a experiência autoscópica, todos os pacientes notaram uma sensação de flutuação, de estarem fora do corpo, diferente de qualquer outra antes experimentada. Enquanto destacado do corpo físico, o paciente observava seu próprio corpo claramente”.

Os muitos casos de Sabom e Kreutziger são virtualmente idênticos aos tipos de experiências anunciadas por Moody. Um dos tais relatos foi feito por um guarda de segurança, que sofrerá anteriormente um infarto do miocárdio, quando em tratamento em um hospital.

Não pude mais agüentar a dor”, disse ele aos pesquisadores. “Então tudo ficou escuro, negro. Depois de algum tempo, eu estava… flutuando. Pude olhar para baixo, e nunca havia notado que o chão era coberto de ladrilhos brancos e pretos. Reconheci eu mesmo ali, recurvado em uma posição de feto.”

O guarda olhou então com bastante calma, enquanto um médico tentava revivê-lo, estimulando eletricamente o coração.

Tive a impressão” — continuou — “que eu tinha de escolher entre tornar a entrar em meu corpo e assumir o risco de permitir que os médicos me ressuscitassem, ou ir para frente morrer, se é que já não estava morto. Sabia que me achava em perfeita segurança, se meu corpo morresse ou não. Eles me atingiram uma segunda vez. Reentrei em meu corpo.”

O paciente não chegou a ver uma brilhante luz branca, nem viajou de verdade no além. Mas alguns dos pacientes de outros pesquisadores passaram por tal experiência.

Como resultado de sua pesquisa, Sabom e Kreutziger concluíram que as experiências PDM constituíam ocorrências verdadeiras. Salientaram que o fenômeno era muito diferente do tipo de alucinações produzidas por incisões no lobo temporal, drogas, despersonalização psicológica (quando o indivíduo se sente afastado do corpo em virtude de esgotamento nervoso) ou alucinações patológicas autoscópicas (ver a si mesmo). O que descobriram, contudo, foi que as pessoas que tinham passado pela experiência PDM, dela saíam com a certeza de que iriam afinal sobreviver à morte. Mas a importância dessa pesquisa não parou aí, de modo algum.

O Estudo dos Encontros Perto-da-Morte Verídicos 

O Dr. Michael Sabom encontra-se presentemente trabalhando no Centro Médico da Administração de Veteranos de Atlanta. Tendo sido convidado a falar em um simpósio especial sobre a experiência perto-da-morte, na reunião anual da Associação Psicológica Americana de 1981, em Los Angeles, ele relatou as pesquisas que iniciara depois de ter completado a investigação descrita. Explicou o Dr. Sabom que, embora a princípio estivesse primordialmente interessados pelos pacientes cardíacos nos hospitais em que trabalhava, não tardou a começar a colher informações de outras fontes. O que o impressionou singularmente, à medida que colhia informações sobre um número de casos cada vez maior, foi como alguns de seus pacientes cardíacos, assim como outros, assistiam realmente às operações a que eram submetidos e/ou ressurreições, durante sua experiência fora-do-corpo (FDC). Impressionou-o o fato de muitos de tais informantes terem visto e descrito minuciosamente muitos fatos que estavam além do conhecimento médico ao leigo em geral. A partir de então, o Dr. Sabom começou a publicar relatos de vários outros casos.

Um dos relatos diz respeito a um vigia noturno de 52 anos, no norte da Flórida, que apresentava sérios distúrbios cardíacos e foi internado no centro médico da Universidade da Flórida em novembro de 1977, para exames e subseqüente cirurgia. O Dr. Sabom ainda se encontrava estagiando no hospital naquela ocasião, e pôde acompanhar de perto o incidente. O paciente sofreu uma experiência PDM durante uma operação anterior e uma segunda em janeiro de 1978, durante a cirurgia de coração aberto.

A experiência do vigia foi típica. Segundo contou, perdeu a consciência depois de anestesiado, e recuperou-a durante a operação, que passou a ver, mas de um ponto situado a cerca de 60 centímetros acima de seu corpo. Esse ponto privilegiado lhe permitiu ver tudo que estava acontecendo. Falou ele sobre a sensação de ser “como que uma outra pessoa na sala” e ver os dois médicos operando o seu próprio corpo e o costurando, depois de terminada a intervenção. Sua perspectiva sui generis também lhe possibilitou fazer pormenorizadas observações sobre a própria cirurgia. Viu os médicos enfiarem uma seringa no coração, por duas vezes. Notou também que a sua cabeça estava coberta por um lençol, e ficou surpreendido ao ver quanto era difusa a luz da sala.

O vigia noturno também se mostrou surpreso com o aspecto do coração e de como ele se mostrava durante a intervenção cirúrgica.

Tinham instrumentos de todas as espécies fincados na abertura” lembrou, quando Sabom o entrevistou…

Acho que se chamam grampos, grampeado por toda a parte. Fiqu admirado, porque pensava que devia haver sangue por toda a parte, na verdade, não havia muito sangue… E o coração não é como pensei que fosse. É grande. E isso depois que o médico já tinha tirado uns pedacinhos dele. Não tem a forma que pensei que tinha. Meu coração tem uma forma parecida com a do continente africano, largo em cima e afinado para baixo. Em forma de feijão, eis outro modo de descrevê-lo… Talvez o meu tenha um formato esquisito… (A superfície) era cor-de-rosa e amarela. Achei que a zona amarela fosse o tecido gorduroso ou coisa semelhante. Uma zona geral para a direita ou esquerda era mais escura que o resto, em vez de ser da mesma cor. 

O paciente se interessou em observar a cirurgia com coração aberto e ouviu os médicos discutindo os processos que estavam prevendo ou executando. Discutiram acerca de um desvio, examinaram um vaso superdilatado, e até mesmo torceram o coração, para examiná-lo mais facilmente. O paciente chegou a notar que um dos médicos estava calçando um determinado tipo de sapatos e que outro tinha uma manchinha de sangue embaixo da unha.

O Dr. Sabom ficou tão intrigado com esse relato e com a sua entrevista em geral, que foi consultar o arquivo e leu o relatório do cirurgião sobre a operação. Verificou que a descrição do paciente constituía uma descrição, espantosamente exata para um leigo, dos processos realmente usados durante a intervenção cirúrgica. Fora usado um retrator auto-retentor, o paciente era portador de um aneurisma que descolorira parte do seu coração, que fora revirado durante a operação. Mesmo a seringa que tinha sido inserida desempenhou um papel na operação. Tinha sido usada para retirar ar do coração… e por duas vezes.

O que mais impressionou o médico da Geórgia foram os detalhes técnicos incluídos no relato do vigia. Não pareciam, de modo algum, estarem ao alcance de um leigo inculto, e isso constituía um indício de que a experiência perto-da-morte representava um fenômeno mais significativo do que a maior parte dos médicos admitia até então. A curiosidade do Dr. Sabom se aguçou ainda mais quando ele acompanhou o caso de uma mulher do Estado de Missouri, que fora submetida a uma cirurgia em um disco lombar, em 1972. Também ela assistira à sua operação, quando se encontrava fora do corpo, e mais tarde a descreveu minuciosamente. O mais interessante nesse caso é que a paciente viu o chefe da equipe de cirurgia fazendo a operação, quando pensava que seria o seu médico-assistente. Somente mais tarde ela ficou sabendo que o cirurgião-chefe dirigira a operação e, embora nunca o tivesse visto antes, ela o reconheceu imediatamente, quando o viu durante a convalescença.

Diante de tais fatos, o Dr. Sabom se dedicou entusiasticamente a estudar os relatos de experiências PDM, nas quais os sobreviventes descreviam os processos médicos usados durante a operação e a ressurreição. Esses relatos vinham primordialmente de cardíacos, uma vez que a especialidade do Dr. Sabom era a cardiologia. Na opinião daquele médico, se tais observações se mostrassem corretas, aqueles casos especialíssimos serviriam para documentar a existência, autenticidade e natureza psíquica da experiência perto-da-morte. O cardiologista conseguiu, até agora, recolher trinta e dois casos de indivíduos que viram o seu próprio corpo perto-da-morte, e seis vítimas de paradas cardíacas em particular apresentaram específicos e exatos detalhes acerca de suas ressurreições. O número não é grande, mas a importância do fato reside na qualidade dos casos.

Um dos casos investigados pelo Dr. Sabom foi o de uma dona-de-casa de 60 anos, que fora hospitalizada com problemas na coluna vertebral. Estava sentada na cama, quando teve um ataque cardíaco e perdeu os sentidos. Voltando à consciência apenas alguns momentos depois, ela se viu ao lado de seu próprio leito e contemplando os esforços que estavam sendo feitos para revivê-la. Uma enfermeira correu até junto do seu corpo inerte, e uma turma de médicos passou a socorrê-la, batendo-lhe no peito, introduzindo um I.V. (equipamento intravenoso), aplicando uma injeção, tomando o pulso e examinando os olhos. Enquanto fora do corpo, a paciente também prestou atenção no equipamento usado pelos médicos. Viu o que chamou de máquina de respirar, assim como um carrinho com “uma porção de coisas em cima”. Esse carrinho ficou junto do equipamento I.V. Também ouviu um médico dizer à enfermeira que ela devia ser levada para a U. T. I. (Unidade de Tratamento Intensivo), e viu os seus pertences serem retirados das gavetas e colocados em sacolas e malas.

Quando afinal o Dr. Sabom conseguiu entrevistar a mulher em questão, interessou-se principalmente pela descrição do carrinho de equipamentos feito pela paciente e perguntou se os médicos tinham tirado dele alguns instrumentos. A mulher respondeu que não, mas acrescentou: “a máquina de respirar puseram em meu rosto. É um troço em forma de cone, que ficou em cima de meu nariz. Não deixaram muito tempo, mas tiraram logo. Acho que pensaram que era inútil”.

A fim de confirmar a experiência da paciente, o Dr. Sabom entrou em contacto com o hospital onde ela fora tratada e leu o relatório sobre a emergência, que confirmou tudo que a mulher dissera, embora ela jamais tivesse tido acesso aos arquivos do hospital. A conclusão do pesquisador foi a de que a descrição da ressurreição cardíaca tinha sido extremamente realista do ponto de vista médico: o funcionamento do I.V., a massagem cardíaca externa, a administração de oxigênio por meio da máscara, a verificação das pulsações da carótida e a reação pupilar, e a coleta e registro dos objetos pessoais. Sabom, porém, não parou ali. Teve curiosidade de verificar a informação da testemunha de que tomara uma injeção no começo da tentativa de recuperação. O registro do hospital também anotara tal fato. Fora aplicada à paciente uma injeção de glicose concentrada, diante da possibilidade de ter ela entrado em coma em conseqüência de deficiência de açúcar no sangue.

O Dr. Sabom recebeu uma descrição ainda mais impressionante ressuscitação de um lavrador de 46 anos, de uma cidadezinha da Geórgia, vítima de parada cardíaca. Ele teve uma parada cardíaca durante um ataque do coração que sofreu em janeiro de 1978. Estava hospitalizado na ocasião, de modo que se encontrava em perfeitas condições, durante a experiência perto-da-morte, de observar as providências que foram tomadas para salvar a sua vida. Sabom o entrevistou em janeiro de 1979, quando os acontecimentos ainda estavam claros em sua memória. O paciente lembrava vivamente, não somente da experiência PDM, como dos acontecimentos que a provocaram.

Senti-me mal — contou ao cardiologista, no começo da conversa — Desci da cama e fiquei de pé junto dela, e isso é a última coisa que me lembro, até ficar flutuando junto do teto.

O paciente se viu, então, deitado na cama. Ao lado do leito se encontravam o médico, sua mulher e uma terceira pessoa que não reconheceu. Sua esposa estava chorando, mas a atenção do lavrador logo se voltou para os esforços que estavam sendo feitos para salvá-lo. Passivamente, viu uma enfermeira com uma máquina para conter a fibrilação, que colocou nele “umas coisas que dão choque”, como se referiu às almofadas da máquina. Depois, o corpo saltou quase 30 cm, quando a carga elétrica se fez sentir, e o choque fez abortar a sua experiência fora-do-corpo. Ele teve a impressão de que estava sendo forçado a voltar para o seu corpo e metido à força dentro dele.

Depois de ouvir esse breve relato, o Dr. Sabom insistiu com o informante para que fornecesse mais detalhes acerca do uso das almofadas da máquina contra a fibrilação que lhe salvara a vida. A testemunha continuou a explicar como vira a enfermeira esfregar as almofadas depois de pegá-las, e como ligara a corrente elétrica, por meio de um comutador situado do lado direito do aparelho ao qual as almofadas estavam ligadas. Todos tinham sido advertidos para se afastarem, acrescentou.

Mais uma vez, os registros do hospital foram examinados e documentada a veracidade do relato do paciente. O Dr. Sabom ficou particularmente impressionado com a descrição que ele fez das almofadas para combater a fibrilação, uma vez que tinham sido descritos certos processos relacionados com o seu uso que somente podiam ser conhecidos por quem tivesse conhecimentos de medicina. As almofadas eram untadas com um lubrificante e rotineiramente esfregadas uma na outra, exatamente como o paciente contou, a fim de que o lubrificante ficasse bem espalhado, facilitando o contacto com a epiderme. O paciente também revelou com exatidão os lugares do seu corpo onde as almofadas tinham sido colocadas.

Como o paciente vira a sua esposa chorando no quarto, o Dr. Sabom também a entrevistou, e ela confirmou a versão do marido, contando como o vira vomitar logo antes de ficar inconsciente. Ela só começara a chorar depois que achou que o marido perdera a consciência do que lhe estava acontecendo.

A esposa do paciente se mostrou muito impressionada com todo o caso, especialmente quando o seu marido lhe contou tudo que vira, depois de haver, aparentemente, perdido a consciência. O relato do marido, disse ela a Sabom, estava bem de acordo com o que ela própria se lembrava, inclusive das tentativas de salvá-lo, fazendo com que o seu coração batesse de novo.

Verificação da Experiência Perto-da-Morte 

Em face dos casos que estudara, o Dr. Sabom foi se tornando cada vez mais convencido de que a experiência perto-da-morte não podia ser considerada alucinação ou sonho. Por outro lado, porém, se sentia atormentado por uma dúvida. Não estariam aqueles pacientes fantasiando e sonhando com o que seria uma ressurreição cardíaca, baseados em leituras anteriores, programas de televisão ou outros meios de informação sobre o assunto? Tratava-se de uma possibilidade bem real, uma vez que algumas das principais testemunhas já haviam sofrido mais de um ataque cardíaco. Era possível que tivessem adquirido algum conhecimento das técnicas e equipamentos médicos utilizados no caso, em suas internações hospitalares anteriores. A maior parte das testemunhas negou tal conhecimento, mas Sabom não podia, de modo algum, ter certeza de que os cientes não haviam captado as informações, ainda que inconscientemente.

A fim de investigar essa possibilidade, o Dr. Sabom realizou um estudo mais esclarecedor. Começou entrevistando veteranos pacientes cardíacos, acerca de seus conhecimentos com as técnicas da reativação do coração. Alguns de tais pacientes haviam sido submetidos a operações de coração aberto ou sofrido ataques cardíacos que implicavam várias formas de tratamento. Assim, a maioria deles tivera pelo menos a oportunidade observar o uso de monitores cardíacos, aparelhos para combater a fibrilação e outros equipamentos semelhantes. Convidou-se cada paciente a imaginar que estava assistindo a um tratamento de vítimas de parada cardíaca e descrevê-lo, da maneira mais pormenorizada que fosse possível. As entrevistas foram gravadas e depois analisadas.

Os resultados foram arrasadores. Quase todos os pacientes cardíacos desconheciam os processos.

O erro mais comum era a crença alimentada pelos pacientes de que era tentada a respiração boca-a-boca. Esse recurso, na verdade, raramente é tentado nos hospitais, que contam com métodos mais eficientes de respiração artificial. Os pacientes em geral também não sabiam descrever como se processava a passagem de ar da vítima para facilitar a respiração e se mostravam confusos acerca da maneira com que é feita a massagem no coração, e como o aparelho para combater a fibrilação é descarregado. Apenas três dos pacientes de Sabom apresentaram descrições aceitáveis do processo de tratamento, mas mesmo nesse caso os conhecimentos técnicos eram limitados. O Dr. Sabom concluiu desse estudo que mesmo os pacientes cardíacos veteranos não têm uma idéia correta do tratamento para as paradas cardíacas. As suas conjecturas eram muito menos corretas do que os relatos dos pacientes que, de fato, tinham assistido àqueles processos durante a sua experiência fora do corpo.

Em conseqüência disso, o Dr. Sabom não dá importância à idéia de que as pessoas que passaram pela experiência PDM estão sonhando com as suas ressurreições, devido a contato anterior com as técnicas de reanimação cardíaca. “Deve ser procurada outra explicação para tais fatos” é a sua simples conclusão.

O fato de serem incrivelmente minuciosas as observações de sobreviventes de situações perto-da-morte foi demonstrado por um caso relatado ao Dr. Sabom por um piloto da força aérea reformado, residente na Flórida. O aviador sofreu um sério ataque de coração em 1973 e teve uma parada cardíaca na manhã seguinte, quando estava se recuperando em um hospital. A parada parece ter ocorrido quando o paciente estava dormindo. Sua primeira lembrança do estado perto-da-morte vem de quando se encontrava de pé, ao lado do seu corpo. Um grupo de médicos entrava correndo. A descrição da maneira com que os médicos o fizeram reviver estava repleta de extraordinários pormenores.

A primeira coisa que fizeram — contou o aviador — foi dar uma injeção no I.V., o anel de borracha que usam para a compressão. Recebi muita lidocatína por meio daquele dispositivo, porque eu tinha uma arritmia. Levantaram-me e me colocaram na prancha. Foi então que (o médco) começou a fazer massagem no meu peito, e não machucou, embora quebrasse uma costela. Não senti dor.

Depois, veio a administração de oxigênio, que o paciente acompanhou, vendo e ouvindo.

   Primeiro — continuou o piloto — me deram oxigênio com aqueles tubinhos no nariz, depois os tiraram e puseram uma máscara, que cobre a boca e o nariz. Um troço com pressão. Eu me lembro que, em vez de estar lá o oxigênio, o troço estava assoviando como se estivesse sob pressão. Parece que alguém ficou segurando o troço a maior parte do tempo.

O paciente descreveu ainda a máscara como “uma espécie de máscara de plástico de cor verde-clara”. Estava presa ao tubo que levava o oxigênio. Ele também se lembrava do aparelho para combater a fibrilação e como olhou para o seu medidor com toda a atenção. O medidor, explicou, era quadrado, com dois ponteiros. Um ficava em uma posição fixa, colocada pela enfermeira, enquanto o outro subia e descia na escala. O segundo ponteiro “parecia subir bem devagar”.

   Não subia depressa como um amperímetro ou um voltímetro — explicou o aviador. — O outro ponteiro permaneceu parado durante as tentativas para reativar o coração.

O paciente também descreveu que o ponteiro subia cada vez mais no medidor, antes que os sucessivos choques elétricos tivessem sido aplicados ao corpo. Concluiu apresentando uma minuciosa descrição do aparelho para combater a fibrilação e dos métodos específicos usados para a aplicação de suas almofadas ao corpo.

Não somente a descrição dos processos de reanimação do coração foi extremamente correta, como foi impressionante a sua precisão ao falar dos ponteiros, sem dúvida alguma fora do alcance de quem não tivesse conhecimento direto do aparelho. De fato, as máquinas usadas na década de 1970 tinham dois ponteiros em seus marcadores. Um deles ficava imóvel, porquanto era usado para pré-selecionar a quantidade de eletricidade descarregada no paciente. O outro ponteiro indicava que a máquina estava sendo carregada para alcançar a quantidade pré-escolhida, e, assim, se pouco a pouco para cima. Tais máquinas foram hoje substituídas por modelos mais modernos, mas a reconstituição feita pelo piloto estava perfeitamente de acordo com a máquina usada naquele tempo para o tratamento da parada cardíaca.

Teria, porém, o piloto visto um daqueles instrumentos em funcionamento em alguma ocasião anterior? O paciente negou que conhecesse antes o aparelho, e Sabom ficou muito impressionado com o fato de não atribuir o aviador grande importância à sua experiência. Até hoje, ele insiste que nada há de extraordinário naquilo!

Não mudei as minhas idéias acerca da vida, da morte, do além ou de qualquer outra coisa — disse ele ao Dr. Sabom.

Uma vez que o ex-piloto da força aérea não tinha interesse em usar a sua experiência para provar coisa alguma, é improvável que estivesse mentindo deliberadamente para se mostrar particularmente impressionante.

Os casos resumidos neste capítulo representam apenas alguns poucos de muitos incidentes semelhantes que o Dr. Sabom recolheu. Poderiam ser citados mais casos, alguns deles com minuciosidade, mas diferem muito pouco dos que já foram aqui mencionados. Todos esses incidentes levam à conclusão de que as pessoas que passaram pela experiência perto-da-morte, durante uma parada cardíaca — ou qualquer outra situação de emergência médica — ficam realmente cientes do que lhes está acontecendo, tomam conhecimento dos processos utilizados para revivê-las e do que dizem os médicos durante a intervenção. Pesquisas subseqüentes feitas pelo Dr. Sabom e seus colegas também demonstraram que o nível técnico do que viram e ouviram é bem superior ao nível elementar de informação que a maioria das pessoas tem sobre as técnicas padronizadas usadas no tratamento das paradas cardíacas. Parece haver pouca dúvida de que a investigação do Dr. Sabom é, provavelmente, a mais importante linha de provas que a experiência perto-da-morte não pode ser atribuída a anormalidades cerebrais, alucinações resultantes da falta de oxigênio no cérebro ou a alguma obscura anormalidade psicológica. O Dr. Sabom também rejeita possibilidade de tais relatos serem atribuídos a criações subconscientes, liberações endórficas do cérebro, pressão sobre o lobo temporal, ou outras causas fisiológicas. Tudo indica que aqueles eventos são o que parecem ser: a consciência se afasta do corpo, em conseqüência do choque da morte.

Assim, pode a experiência perto-da-morte representar realmente a primeira fase da libertação da alma, saindo do corpo?

Como médico e cientista, Sabom conclui em seu livro Recollections of Death: 

… Não posso, naturalmente, afirmar que a experiência perto-da-morte indique o que se dá no momento da morte final do corpo. As experiências ocorreram nos momentos de declínio da vida. As pessoas que as relataram não foram trazidas de volta da morte, mas salvas em um ponto muito perto da morte. Assim sendo, a rigor, tais experiências são com a proximidade da morte, e não com a própria morte. Como suspeito que a experiência PDM é o reflexo de uma separação entre a mente e o cérebro, não posso deixar de indagar por que tal separação ocorre em um ponto perto-da-morte. Poderia a mente, que se separa do cérebro físico, ser, em essência, a alma que continua a existir depois da morte do corpo, de acordo com algumas doutrinas religiosas? 

Mais Luz Sobre a Experiência Perto-da-Morte 

Um estudo semelhante foi recentemente empreendido pelo Dr. Kenneth Ring, da Universidade de Connecticut. Durante um período de mais de dois anos, Ring entrevistou 102 sobreviventes de casos perto-da-morte. Duirante esse trabalho, o pesquisador, do mesmo modo que o Dr. Sabom, esperava descobrir se os dados de Moody eram corretos, e ver se poderia determinar como uma pessoa que passou pela experiência a reproduz. Inicialmente, ele constatou que 41 por cento dos entrevistados apresentavam a reação PDM clássica. Mas também notou que o conteúdo de tais experiências ocorria de maneira progressivamente declinante. Expliquemo-nos. Para a finalidade de sua pesquisa, Ring classificava a experiência PDM como contendo cinco elementos centrais. Esses elementos consistiam em: (1) sensação de paz no começo do encontro, (2) sensação de que saiu do corpo, (3) entrada na escuridão, (4) visão de uma luz, (5) entrada na luz. Ring considerou-os como as fases da experiência. Foi classificando os relatos de acordo com essas fases, que ele descobriu uma progressão declinante no fenômeno. Assim, por exemplo, 60 por cento das testemunhas experimentavam uma sensação de paz por ocasião da morte, ao passo que apenas 40 por cento experimentavam a sensação de sair do corpo. E somente de 10 a 15 por cento percebiam uma luz ou nela penetravam, quando viajavam para o além. Isso parecia indicar que, quanto mais per pessoa chega da morte, tantas mais fases atravessa.

Ring também descobriu que há ligeiras diferenças entre as experiências PDM e a maneira com que a pessoa morre, ou mesmo experimenta a sensação PDM. As vítimas de enfermidades parecem mais inclinadas a experimentar a sensação PDM, ao passo que as vítimas de acidentes estão na outra categoria. As tentativas de suicídio são as mais prováveis de provocar a sensação PDM. As pessoas que passam por violentas manifestações PDM são as que experimentam com mais freqüência uma real lembrança panorâmica da vida. Ring também fez a fascinante descoberta que as pessoas que se consideram religiosas não estão mais sujeitas a experimentar a sensação PDM do que as agnósticas!

Tanto o Dr. Ring como o Dr. Sabom mostraram, com os seus escritos, que os dados que coletaram não somente confirmam as descobertas iniciais de Moody, como demonstram a probabilidade de que haja uma vida depois da morte. Trata-se de uma sensacional conclusão que movimentou muitos membros do mundo médico. No entanto, até mesmo as cuidadosas pesquisas realizadas por médicos altamente qualificados não passaram sem contestação. Há ainda várias questões que têm de ser resolvidas, antes que as descobertas de Ring, Sabom e Moody possam servir de prova da existência de uma vida no além. A principal dessas é que não há um meio de determinar se as pessoas que entrevistaram estiveram realmente mortas. É extremamente difícil precisar o momento exato da morte. O fato de tais pessoas terem sobrevivido pode indicar, em primeiro gar, que elas não estiveram realmente tão perto da morte. A expressão morte clínica é, de certo modo, impressionista, e não precisa. Aplica-se, em via de regra, aos indivíduos cujo coração parou momentaneamente no decorrer de operações ou em conseqüência de ataques cardíacos. Trata-se, porém, de um critério questionável para se basear um diagnóstico de morte.

Um critério mais rigoroso é o exame das ondas cerebrais. O cérebro de um indivíduo que acabou de morrer não produz qualquer atividade elétrica. Submetido a um exame eletroencefalográfico, tal indivíduo não apresentaria ondas cerebrais. Infelizmente, poucas das vítimas da morte clínica são submetidas a tal exame.

Os críticos também salientam que, quando o paciente se aproxima da morte, é muito possível que seja atacado de anoxia — falta de oxigênio no cérebro. Esse estado causa alucinações, e pode provocar a experiência perto-da-morte. O fenômeno poderia, portanto, não passar de uma alucinação momentânea, nada tendo a ver com a questão da vida e da morte.

Essas duas objeções — que não sabemos se as testemunhas PDM estavam realmente mortas e se a experiência foi provocada pela anoxia — são extremamente difíceis de serem refutadas. Em maio de 1979, no entanto, a Associação Internacional de Estudos Perto-da-Morte anunciou ter encontrado un médico em Denver que coligira dados suficientes para demolir ambas aquelas objeções! Essa nova prova mostra que a experiência perto-da-morte é, de fato, uma verdadeira separação entre a mente e o corpo.

O Dr. Fred Schoonmaker, cardiologista-chefe do Hospital St. Luke, se interessava pelo problema perto-da-morte desde 1961. Somente em 1979, porém, ele apresentou os dados. Nesse meio tempo, estudara bem mais de 1.000 casos de morte clínica no decorrer de sua prática, e constatou que 60 por cento dos pacientes que tinham tido morte clínica em conseqüência de paradas cardíacas relataram a experiência PDM. Embora não tivesse tentado fazer uma avaliação formal daqueles dados, e não tivesse seguido nenhum método científico ao coligi-los, o Dr. Schoonmaker coligira cuidadosamente o máximo possível de informações médicas e descritivas. Tais dados representam a melhor informação médica sobre o assunto já coligida. Em muitos casos, as testemunhas de Schoonmaker foram tratadas por um grande conjunto de dispositivos fisiológicos na ocasião em que passaram pela experiência PDM. O médico de Denver reunira vários relatos de PDM que tinham ocorrido em ocasiões em que podia ser cientificamente demonstrado que não havia falta de oxigênio indo para o cérebro. Também estudou pacientes que tinham tido morte clínica quando submetidos ao eletroencefalograma e recolhera 55 casos nos quais os pacientes que tinham apresentado eletroencefalograma plano, isto é, ausência de atividade elétrica no cérebro, e que relataram experiência PDM. De acordo com todos os critérios médicos, aqueles indivíduos se encontravam irreversivelmente mortos, por ocasião de suas experiências.

O Problema das Experiências Perto-da-Morte Negativas 

Embora vários investigadores tenham repetido as experiências de Moody, nem todos anunciaram dados semelhantes. Um dos investigadores que apresentou relatos diferentes é o Dr. Maurice Rawlings, cardiologista do Estado de Tennessee, que colheu várias informações sobre experiências perto-da-morte de todo diferentes do tipo de episódios pacíficos, agradáveis, transcendentais, anunciados por Moody, Sabom e Ring. Alguns dos relatos do cardiologista são de experiências terríveis, o que levou Rawlings, um devoto cristão, a acreditar que eles mostram a real existência do inferno.

Rawlings encontrou pela primeira vez esse tipo de experiência perto-da-morte quando estava tentanto reviver um de seus pacientes que sofrera uma parada cardíaca. O paciente começou a gritar que estava no inferno. Desde então, Rawlings colecionou muitos exemplos de experiências PDM infernais. Uma de suas correspondentes, por exemplo, experimentou tal sensação depois de um ataque do coração. Eis o que ela contou ao médico:

Lembro-me que fiquei sem ar e depois devo ter desmaiado. Em seguida, me lembro que estava entrando em uma sala escura e vi em uma das janelas um gigante enorme, com um rosto grotesco, que estava me espiando. Em torno da janela corriam pigmeus ou elfos, que pareciam estar com o gigante. O gigante me chamou para ir até junto dele. Eu não queria, mas tive de ir. Fora, estava escuro, mas pude ouvir o choro de pessoas em torno de mim. Sentia coisas se movendo em torno dos meus pés. Enquanto andávamos por aquele túnel ou porão, as coisas iam ficando pior. Lembro-me que comecei a chorar. Depois, não sei porque, o gigante me soltou e me mandou voltar. Senti que estava sendo poupada. Não sei por quê.

Depois me lembro de estar no leito do hospital. O médico me perguntou se eu usava drogas. Disse-lhe que não tinha aquele hábito e que o caso era verdadeiro. Ele mudou toda a minha vida. 

Em seu livro Beyond Death’s Door (Além da Porta da Morte), Rawlings informa que uma quinta parte dos pacientes ressuscitados após uma parada cardíaca relatava experiências PDM desagradáveis. Muitos deles se esquecem da experiência, acrescenta. Devido a essa experiência pessoal, Rawlings se mostra extremamente crítico em relação aos outros investigadores da vida-após-a-vida. Na sua opinião, a maior parte das pessoas que têm uma experiência PDM desagradável bloqueia em sua mente a lembrança da mesma. Como a maior parte dos investigadores só entrevista as testemunhas semanas, ou mesmo meses, depois de suas mortes clínicas, Rawlings acredita que os seus dados sejam suspeitos. Acha que os seus próprios dados são mais objetivos e completos, uma vez que, como cardiologista atuante, podia coligir os dados tão logo os pacientes se recuperavam.

Rawlings, por sua vez, tem sido criticado por outros pesquisadores, que argumentam que as suas experiências infernais são na realidade manipuladas, alucinações produzidas pela mente das testemunhas como reação à violenta agressão física, como as pancadas no peito e o estímulo elétrico, que faz parte das técnicas normais de ressurreição.

De qualquer maneira, os dados de Rawlings não podem ser desprezados em mais ou menos. O Dr. Charles Garfield, psicólogo do Instituto de Pesquisas do Câncer da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco, também tem recolhido dados indicando que a morte nem sempre é uma experiência agradável. O Dr. Garfield estudou 173 pacientes terminais de câncer, alguns dos quais tiveram experiências muito desagradáveis quando se aproximavam da morte. Embora muitos diziam ter ouvido uma música celestial e visto uma forte luz, outros diziam ter visto figuras demoníacas e imagens de pesadelo. Em conseqüência, Garfield concluiu que nem todo o mundo experimenta uma morte tranqüila e resignada. Ao contrário de muitos outros pesquisadores do PDM, contudo, ele não acredita que a experiência indique necessariamente que iremos invariavelmente sobreviver à morte. Na sua opinião, tudo não passa de visões que ocorrem quando se entra em um estado alterado de consciência. Esses estados mentais podem pouco ter a ver com o processo físico da morte.

Não se pode deixar de concordar com o Dr. Garfield, quando ele diz que o estudo da experiência PDM de modo algum é claro e definitivo. Por outro lado, as experiências desagradáveis observadas por Garfield e Rawlings parecem anômalas mesmo em comparação com os dados colhidos por eles próprios, além de não serem mencionadas de modo algum por outros pesquisadores. E nem podem necessariamente servir de prova contra a crença na vida após a morte. Muitos mestres espíritas e religiosos ensinam que pode haver diferentes planos no além, alguns dos quais são mais inóspitos do que os outros. Talvez algumas poucas pessoas desventuradas tenham entrado em contacto com os planos inferiores, acerca dos quais místicos como Emmanuel Swedenborg já falavam no século XVIII.

O que é interessante é que tantos médicos e cientistas — Garfield é exceção — tenham saído de suas pesquisas acreditando em uma vida depois da morte, mesmo que não tenham iniciado o estudo do fenômeno PDM com tal intuito. O estudo da experiência PDM poderá muito bem ser a disciplina que finalmente unirá a ciência e a religião em uma causa comum.

 

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