A VIDA DEPOIS DA MORTE, DE SCOTT ROGO (1986) – CAPÍTULO 4
Nese capítulo Rogo documenta diversos casos de crimes solucionados supostamente com a ajuda de espíritos.
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Contacto Espontâneo com os Mortos
O drama começou em 21 de fevereiro de 1977, quando a polícia de Chicago encontrou o corpo de Teresita Basa, de 48 anos, estendido no chão apartamento no décimo quinto andar de um edifício onde morava. Fora apunhalada e o corpo estava parcialmente queimado. Teresita Basa, natural das Filipinas, viera para os Estados Unidos na década de 1960 e era difícil se pensar em um motivo para o crime. Ela trabalhava como terapeuta de respiração no Hospital Edgewater na zona norte de Chicago e era querida pelos seus colegas de trabalho. A princípio, a polícia achou que o assassinato poderia ter sido praticado pelo namorado da vítima, mas afastou a idéia, depois de interrogá-lo. Não havia uma pista qualquer.
A alma, espírito, fantasma, ou seja o que for, de Teresita Basa estava inquieto, e outro ato do mistério se desenrolou quatro meses mais tarde, em casa do Dr. José Chua, médico filipino, cuja esposa trabalhara no Hospital Edgewater por ocasião do crime. O Dr. Chua ficou surpreso, certa noite, vendo sua mulher, inexplicavelmente, entrar em estado de transe, quando se encontravam na localidade vizinha de Skokie. Madame Chua foi até o quarto de dormir, deitou-se, e começou a falar em seu idioma nativo.
— Falou em tagalong (um dialeto filipino), mas com um estranho sotaque espanhol — explicou o médico, mais tarde. — Disse “Akoy (sou) Teresita Basa”.
O Dr. Chua confessou que ficou assustadíssimo, quando ouviu Teresita explicando que fora assassinada por um colega de trabalho, chamado Allan Showery, e o motivo fora roubar as suas jóias. A Sra. Chua saiu do transe depois que a voz estranha terminou de dar o seu recado, mas não teve a mínima lembrança do rápido episódio. O Dr. Chua ficou sem saber o que fazer.
Fosse quem fosse que estava dominando Madame Chua, o fato é que era persistente. Poucos dias depois, ocorreu outro daqueles peculiares transes. Dessa vez, a voz se queixou de que Showery continuava de posse das jóias e que oferecera um anel de pérola à mulher com quem vivia. Uma terceira comunicação ocorreu alguns dias depois, e o Dr. Chua resolveu, afinal, chamar a polícia.
Os inspetores encarregados do caso, Joseph Stachula e Lee Epplen, se mostraram céticos, mas não queriam desprezar qualquer pista que lhes fosse oferecida. As fontes normais de informação tinham falhado, de maneira que se entenderam com os Chua, ao mesmo tempo incrédulos e esperançosos. O fato é que trabalharam com eficiência profissional. Chegando ao apartamento do médico, a primeira coisa que perguntaram foi se Teresita Basa alegava ter sido estuprada pelo assassino. O Dr. Chua respondeu negativamente, explicando que a voz só falara
“Até hoje”, — escreveu mais tarde o detetive Stachula — “não sei se acredito mesmo que a informação tenha sido obtida daquele modo. Não obstante, tudo era perfeitamente verdadeiro.”
Realmente. Trabalhando de acordo com as informações prestadas pelo Dr. Chua e o autoproclamado fantasma de Teresita Basa, a polícia de Evanston começou a focalizar a sua atenção
O estranho caso da morta que denunciou o seu próprio assassino provavelmente ficaria desconhecido, se não tivesse sido divulgado pela imprensa filipina de Chicago. A reportagem do Philippine Herald bateu com o nariz na porta enquanto tentou obter informações da polícia, mas o seu redator-chefe, Gus Bernardes, que conhecia os Chua, pôde explorar a história a fundo, e acabou sabendo de vários de seus aspectos psíquicos, muito curiosos. Ficou sabendo, por exemplo, que vários empregados do hospital tinham se queixado do comportamento da Sra. Chua na semana que precedeu a revelação do caso. Ela costumava entrar em transe no hospital e cantava com voz de Teresita, o que assustava muito os seus colegas. O Herald noticiou o caso em seu número de 16 de agosto, mas o fato só se tornou conhecido pelo grande público quando, em 5 de março de 1978, o Tribune de Chicago o publicou na primeira página. Realizava-se, então, o julgamento de Allan Showery, o que fez reviver o interesse pelo caso. O testemunho dos Chua foi muito comentado, o que levou a logo entrarem em campo os crentes e os céticos.
O problema era que a Sra. Chua conhecia Teresita Basa muito bem… ou, pelo menos, muito melhor do que admitira para a polícia. Ficou também esclarecido que ela conhecia e detestava abertamente Allan Showery. Essas revelações levaram um porta-voz do hospital a sugerir que as mensagens espíritas da Sra. Chua não passavam de truques de que ela lançava para para expressar as suas próprias suspeitas.
— Acho que ela podia saber alguma coisa a respeito de Showery, mas que arriscaria a própria vida e a vida de seu marido, se recorresse diretamente à polícia — disse o porta-voz à imprensa, sugerindo também que a Sra. Chua poderia ter visto Showery com alguma das jóias.
Essa hipótese, todavia, não explica vários aspectos interessantes do caso. Em primeiro lugar, houve o fato curioso de toda a personalidade da Sra. Chua ter começado a mudar algum tempo antes do recebimento das mensagens, no verão de 1977. Embora fosse ordinariamente uma empregada correta e disciplinada, acabou sendo despedida do hospital, devido às súbitas e inexplicáveis mudanças em sua conduta, que se seguiam aos estados de transe.
As acusações do porta-voz também não explicam por que os Chua não se limitaram a fazer uma denúncia anônima pelo telefone à polícia. Diante de um crime tão sério e inexplicado, sem dúvida a polícia se apressaria a investigar a procedência de qualquer denúncia verossímil.
Novas provas do aspecto psíquico do caso vieram à luz em 1979, quando os Chua colaboraram para a publicação de um livrinho sobre o episódio. O casal acabou admitindo que as comunicações espíritas do verão de 1977 foram, realmente, conseqüência de um desafio. Durante a investigação que se seguiu imediatamente ao homicídio, a Sra. Chua disse aos seus colegas de trabalho que o espírito de Teresita poderia procurá-la, se a polícia não conseguisse descobrir o assassino. Ela testemunhara uma aparição da morta pouco tempo depois do crime, e as mensagens espíritas foram o resultado de uma crescente invasão de sua personalidade pela de Teresita.
O caso do assassinato de Teresita Basa e seu fantástico desenlace se encerraram, e apenas os seus aspectos psíquicos continuam controvertidos.
Casos de vítimas de assassinatos que voltam do túmulo para denunciarem os assassinos podem parecer dessas histórias de defunto que costumam ser contadas junto das fogueiras de acampamentos. A história do casal Chua e sua estranha viagem espírita parece mais um conto de Edgar Allan Poe que um estudo de pesquisas psíquicas. No entanto, o caso do regresso do espírito de Teresita Basa não é o único nos anais da ciência psíquica, pois vários episódios semelhantes ocorreram desde fins do século passado. A revelação espírita representou, por exemplo, papel decisivo no julgamento que se seguiu à morte de uma jovem recém-casada em 1897, no Estado da Virgínia Ocidental. A vítima, Zona Heaster Shue, foi encontrada morta pelo marido, um ferreiro, junto da escada da casa, e o corpo foi enterrado logo, sem qualquer exame médico. Nem todos estavam convencidos de que a morte fora acidental, especialmente quando a mãe de Zona começou a receber visitas do espírito da filha, dizendo que tinha sido assassinada. As autoridades municipais de Greenbier Valley ordenaram a exumação do corpo e verificaram que havia fratura nas vértebras cervicais. O viúvo foi preso imediatamente e acareado com a sogra. A Sra. Heaster declarou que sua filha lhe aparecera por quatro noites seguidas, explicando que o marido a espancara violentamente, porque ela não havia feito o jantar. O júri, em dez minutos apenas, decidiu pela culpabilidade do viúvo.
Um caso ainda melhor documentado foi publicado pelo Professor James Hyslop, da Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas, em 1911. Sua investigação referia-se ao caso da Sra. Rosa Sutton, residente em Portland, Estado de Oregon, que começou a receber visitas de seu filho morto em 1907. Ele era tenente em Annapolis e, ao que parecia, suicidara-se, depois de uma briga com oficiais seus colegas. O seu fantasma começou a aparecer para a mãe, repetidamente, dizendo que ele fora espancado e depois assassinado pelos outros oficiais. A aparição descrevia pormenorizadamente onde ele fora ferido. A exumação do cadáver comprovou que o jovem fora espancado exatamente como a aparição contava, mas ninguém foi acusado como assassino.
Um caso mais recente dessa natureza foi revelado pela UPI (agência de notícias internacional), em 1970, quando Mr. Romer Troxell, de 42 anos, residente em Livittown, no Estado da Pennsylvania, foi a Portage, no Estado de Indiana, a fim de receber o corpo de seu filho, que fora assassinado. O corpo fora encontrado à margem de uma estrada, sem qualquer documento de identificação. A voz do jovem assassinado se fazia ouvir na mente de Mr. Troxell, a partir do momento em que ele e sua esposa chegaram à cidade de carro. Ele declarou à polícia que a voz do filho o levara até o assassino, quando ele percorria a cidade, procurando o carro roubado do filho. A voz lhe dissera aonde ir, e ele não tardou a localizar o veículo. — Fiz uma volta e segui o carro por um quarteirão — explicou. — Quis provocar uma batida no carro, mas Charlie me aconselhou que não fizesse isso.
Assim, ele se limitou a seguir o carro, até que o motorista o parou e desceu. Troxell o abordou e ficou conversando com ele, enquanto outro parente ia chamar a polícia. Mais tarde, as autoridades policiais prenderam o motorista, de acordo com as suas próprias informações confidenciais… informações essas que jamais tinham transmitido a Mr. Troxell.
— Charlie me deixou depois que apanhamos o assassino — disse Troxell. — Charlie está em paz agora. Mas a polícia estava na pista do assassino. Eu só soube disso quando me mostraram o que fora descoberto com a investigação. Mas, quando ouvi meu filho me guiando, tratei de agir. Talvez o Senhor quisesse que fosse assim.
Provas da Freqüência do Contato Subjetivo com os Mortos
Romer Troxell, a Sra. Rose Sutton e a Sra. Chua, todos eles acreditavam estar diante da presença dos mortos. Nenhum deles duvidou, por um momento, de que estavam experimentando um contacto direto com o mundo de além-túmulo. Sem dúvida, é possível que os estados de transe da Sra. Chua fossem episódios psicológicos, durante os quais o seu subconsciente expressava as suas bem fundadas suspeitas quanto a Showery. Também é possível que Mr. Troxell e a Sra. Sutton conseguissem os seus contactos post mortem em virtude de sua profunda necessidade de acreditarem que a morte não é o fim, talvez reforçada por informação conseguida telepaticamente. Mas, por outro lado, poderiam aqueles episódios representar contactos reais com os mortos?
Essa é uma idéia que pode parecer antiquada e incabível, hoje em dia; trata-se, porém, de uma hipótese que tem sido seriamente considerada, quando nada porque casos semelhantes são surpreendentemente comuns. Embora nem todos os casos sejam espetaculares como os aqui citados, há uma comprovação crescente de que o contacto com os mortos — ou, pelo menos, experiências que são tidas como tal comunicação — é relativamente freqüente em nossa cultura.
Os psicólogos chegaram a essa conclusão no começo da década de 1970, quando começaram estudar a psicologia da morte e do pesar provocado pela morte. O Dr. Dewi Rees publicou o seu primeiro estudo de grande porte em 1971, quando discutiu as alucinações da viuvez na revista British Medical Journal. Foi um pioneiro. Rees interrogou 293 viúvos e viúvas acerca de suas experiências após a morte de seus cônjuges, e verificou que quase metade dos mesmos (47%) acreditava que estivera em contacto momentâneo com eles. Tais contactos não somente surgiam imediatamente após a morte, esclareceu Rees, mas, às vezes, mesmo muitos anos depois. Alguns dos episódios tinham influência telepática, ao passo que outros consistiam indiscutivelmente
Aqueles pesquisadores pioneiros não acreditavam que os seus consultados estivessem realmente se comunicando com os mortos. Preferiram acreditar que tinham pela frente um aspecto psicológico especial do pesar causado pela viuvez. Infelizmente, pesquisando sobre o caso, o Dr. Richard Kalish e um colega da Universidade do Sul da Califórnia, em 1974, não conseguiram demonstrar que o trauma da viuvez induz tais mudanças psicológicas severas. O Dr. Kalish não encontrou diferença entre as viúvas que entrevistou e um grupo correspondente de mulheres idosas. Seu único achado significativo foi constatar, mais uma vez, que os viúvos e viúvas afirmavam com muita freqüência ter tido contacto com os mortos. Não há, porém, um simples dado em seu estudo que possa sugerir qualquer hipótese que explique por quê.
Um dos problemas que apresenta o estudo do Dr. Kalish foi uma questão que ele não podia examinar na época. As autoridades psicológicas e médicas que estudavam a psicologia do trauma da viuvez, naqueles anos de pioneirismo, partiam de uma premissa discutível, uma vez que acreditavam que o contacto com os mortos era um fenômeno reduzido às pessoas que haviam se enviuvado recentemente ou que eram muito idosas. O que não levaram em consideração foi que o contacto com os mortos é freqüentemente mencionado por todos os segmentos do público
Os pesquisadores fizeram descobertas surpreendentes. Mais de 50 por cento das mulheres entrevistadas pretendiam ter tido contactos post-mortem, e mais de um terço dos homens também respondeu afirmativamente. As experiências, na maior parte das vezes, ocorriam em sonhos, mas os sonhos eram descritos pelos entrevistados de maneira muito mais viva do que a habitual. Também foram mencionadas visitas de mortos por meio de vozes, aparições ou por sua presença psicologicamente sentida.
Essa última sensação era um tanto diferente da experiência da viuvez, em que é freqüentemente mencionada a impressão de “estar sentindo a sua presença”. Os psicólogos também notaram que as experiências que lhes foram mencionadas eram mais freqüentemente agradáveis do que amedrontadoras, e que, nas raras ocasiões em que outra pessoa estava presente, tal pessoa compartilhava a experiência.
Foi uma admissão surpreendente, mas que não chegou a ser levada em consideração pelos psicólogos, quando afinal interpretaram as suas descobertas, uma vez que estavam, obviamente, mais interessados no aspecto demográfico. Evidenciou-se que a cultura não influenciou a expressão das experiências, uma vez que Kalish e Reynolds constataram que todos os grupos étnicos apresentaram casos típicos semelhantes. A descoberta mais significativa foi a de que os negros e mexicanos-americanos apresentavam maior percentagem de contacto com os mortos do que os caucásios ou orientais. Os dois primeiros grupos também tiveram experiências mais aterrorizadoras e mencionaram maior número de contactos visuais e auditivos. (Essas duas feições talvez sejam interdependentes, uma vez que uma descoberta pode ter provocado a outra.)
Apesar de seu pioneirismo, o estudo Kalish/Reynolds foi — de um modo geral — um tanto falho em suas conclusões. A predisposição na revelação dos dados pode ter representado um papel significativo sobre o conjunto das estatísticas, problema que os psicólogos pouco fizeram para explorar ou mesmo para reconhecer. Concluíram que o grau de cultura afetava, sem sombra de dúvida, a experiência subjetiva de contacto com os mortos, sem levar em consideração o fato de certos grupos da cultura americana apenas informarem os seus contactos mais prontamente. Também pode ser que pessoas de diferentes antecedentes étnicos e sociais se mostrem mais dispostas a falar de tais experiências, ou, por outro lado, mais inclinadas a racionalizá-las. Os dois psicólogos deveriam ter levado em consideração tal possibilidade, uma vez que a atual moda da experiência (isto é, a forma que assumiu) não variava com quaisquer fatores demográficos. Evidentemente, estavam diante de um fenômeno de faixas culturais.
Os dois pesquisadores californianos sequer encontraram qualquer correlação entre o vigor das crenças religiosas das testemunhas e a verossimilhanças de suas informações sobre contactos post-mortem. Na verdade, as pessoas consultadas que não se consideravam especialmente religiosas revelavam contactos espontâneos com os mortos mais freqüentemente que os religiosos devotos. Os menos cultos respondiam mais vezes positivamente, mas é provável que tal fato tenha resultado de um importante elemento variável, suscetível de provocar confusão, que descreverei mais tarde. Os pesquisadores também constataram, surpreendidos, que “… as pessoas que se enviuvaram ou perderam entes queridos não participaram, em grande proporção, das experiências, como prevíramos”. A única exceção foi o subgrupo negro.
Em resumo: não pôde ser encontrada uma base puramente psicológica para aquelas experiências. Isso, no entanto, não impediu o Dr. Kalish de afastar pessoalmente a realidade metafísica das experiências de contacto post-mortem. Sua conclusão final foi: “Não acredito que aquelas pessoas tenham se comunicado com os mortos”. Acrescentou que acreditava “serem as experiências vívidas e pareciam muito reais, não se tratando de sonhos, nem havendo indícios de distúrbios emocionais”. O que re sentam, então, tais contactos?
“São sinais”, explicou Kalish, “que a intensidade da perda do ente querido ou outra experiência é muito grande e muito profunda, e que as associações anteriormente formadas com a pessoa morta são extremamente fortes.” Sua conclusão é que o suposto contacto surge na própria mente da testemunha.
A despeito de suas conclusões pessoais, o trabalho pioneiro do Kalish ajudou a esclarecer esse aspecto da psicologia da morte. É claro que o “contacto com os mortos” é uma sensação muito comum e que tais experiências ocorrem em diversas culturas, sendo expressadas de maneira muito semelhante e por pessoas de todas as faixas etárias. Isso contesta a idéia de que tais experiências resultem primordialmente da privação de um ente querido. Os dados de Kalish/Reynolds, contudo, não são os únicos. Resultados semelhantes foram obtidos quando um grupo de pesquisadores de Chicago repetiu o trabalho de Kalish/Reynolds. Foi verificado que 25 por cento das quase mil e quinhentas pessoas entrevistadas informaram ter tido contactos espontâneos com os mortos. As pessoas mais velhas e as adolescentes se mostravam particularmente inclinadas a contar as suas experiências. Os pesquisadores também constataram (como seu antecessores) que os negros se mostram particularmente inclinados a revelar os seus contactos post-mortem e que os judeus e protestantes as revelam mais do que os católicos. Ao contrário dos seus colegas da Califórnia, porém, os pesquisadores de Chicago estavam bem conscientes de que as suas constatações podiam representar meros artefatos. A experiência dos viúvos e viúvas não afetava os dados, embora mais uma vez se tivesse a impressão de que as pessoas menos cultas experimentassem mais facilmente ou falassem mais sobre a experiência do que as pessoas mais cultas. Os pesquisadores puderam mostrar que tais conclusões eram ilusórias. Explicavam-se porque, em nossa cultura, as pessoas mais idosas, que se mostram mais dispostas a revelar tais experiências, são tipicamente menos instruídas que os norte-americanos mais jovens.
Contatos Post-Mortem Espontâneos
Se houve quaisquer problemas flagrantes naquelas investigações, foram antes de natureza experimental do que estatística. Nem os pesquisadores da Califórnia, nem os de Illinois, pareciam realmente muito interessados no conteúdo das respostas obtidas. Não se preocuparam com as dimensões humanas do que aprendiam. Estiveram aquelas pessoas realmente em contacto com os mortos, ou não? A resposta a essa pergunta crucial não pode ser respondida através de estatísticas, mas somente através de um estudo dos casos.
O problema foi, em parte, corrigido em 1980, quando Julian Burton resolveu estudar a mesma questão de um ponto de vista mais humanista. Burton estudava o doutorado em psicologia, quando resolveu usar seus dados como base para uma tese de doutorado, tendo explicado que essa idéia surgira em conseqüência de uma dramática experiência pessoal. Sua mãe morrera em abril de 1973, aos 67 anos de idade, depois de sofrer um ataque cardíaco.
“Eu e minha mãe éramos muito afeiçoados um ao outro”, escreveu ele mais tarde. “Em setembro, a maior parte da família, mais conformada, voltara às suas atividades normais.”
Não estavam, porém, rompidos os laços entre o Dr. Burton e sua mãe.
“Em uma noite de setembro — continuou ele — eu e minha mulher estávamos recebendo alguns parentes em nossa casa. Eu me encontrava na cozinha, descascando um abacaxi, quando ouvi, à minha direita, passos que julguei ser de minha mulher. Virei-me, para perguntar-lhe onde se achava uma determinada vasilha, quando percebi que ela caminhava para a esquerda, fora de meu campo de visão. Virei-me para lá, a fim de repetir a pergunta, e vi minha mãe parada lá. Estava perfeitamente visível, e parecia anos mais moça do que por ocasião de sua morte. Usava um vestido transparente azul-claro, debruado com um fio de seda, que eu nunca vira antes…”
Mal ele chamou, a visão começou a desaparecer, pouco a pouco. “Na manhã seguinte — continua a narrativa do Dr. Burton — procurei minha irmã Jean, e contei-lhe o que me havia acontecido. Ela ficou muito nervosa, e começou a chorar, perguntando por que seria que minha mãe não aparecera para ela. Fiquei aborrecido com isso, e perguntei-lhe se ela estava acreditando no que eu lhe contara, e, sem demora, minha irmã disse que sabia ser a verdade. Por que tinha tanta certeza? Ela respondeu que ela e minha mãe tinham saído para fazer compras, duas semanas antes de minha mãe sofrer o ataque e fora então que ela experimentara o vestido azul-claro que eu tinha visto. Embora minha mãe tivesse gostado muito do vestido e o mesmo lhe ficasse muito bem, ela não tivera coragem de pagar 200 dólares por ele.”
Em conseqüência daquela aparição foi que, aos 42 anos de idade, Burton resolveu fazer o curso de doutorado.
“A aparição de minha mãe me deu a idéia de fazer a pesquisa”, — admitiu. “Achei que muitas pessoas tinham experiências semelhantes para relatar.”
Assim sendo, Burton organizou um questionário, perguntando aos entrevistados se já haviam sido visitados pelos mortos, qual era o seu relacionamento com os fantasmas, a natureza das experiências, se essas se repetiram, etc. Primeiramente entregou o questionário a grupos de pesquisas psíquicas da região de Los Angeles, mas não tardou a mudar a sua estratégia, quando notou a percentagem extraordinariamente alta de respostas afirmativas. Ficou desconfiado de que os consultados tinham se deixado influenciar por seu interesse em questões psíquicas, e, desse modo, enviou os questionários aos departamentos de psicologia de três escolas de Los Angeles. Ainda assim, cinqüenta por cento dos estudantes informaram ter tido contactos post-mortem! O Dr. Burton já colheu, até agora, 1.500 respostas, e acrescentou importantes dados aos obtidos nas pesquisas anteriores na Califórnia e
De qualquer modo, o que realmente impressionou Burton foram os próprios casos. Alguns eram semelhantes ao seu próprio caso pessoal,
“Quando eu me achava prestes a completar a minha tese” — escreveu ele mais tarde — “estava trabalhando em casa, ao mesmo tempo em que minha governanta Lita Canalaes fazia a limpeza e arrumação. Era uma mulher de 30 e poucos anos, que me contou dois casos, um dos quais acontecido quando se encontrava em minha casa.
“Certo dia, quando estava arrumando o meu quarto de dormir, Lita ouviu um assovio. Achando que era algum operário que estivesse olhando do lado de fora da janela (embora eu morasse no terceiro andar), ela continuou a trabalhar. O assovio se fez ouvir de novo. Quando olhou, ouviu uma voz de mulher, que a chamou duas vezes pelo nome. Lita olhou nos outros aposentos e não viu pessoa alguma. Apesar de ter se arrepiado de medo, acabou se esquecendo do caso, até chegar à sua casa, onde encontrou uma carta vinda de El Salvador, anunciando a morte de sua melhor amiga. A mãe de sua amiga escreveu que um par de sapatos que Lita lhe mandara de presente chegou três horas antes de sua morte. A notícia fez com que Lita se lembrasse que, quando eram adolescentes, ela e sua amiga costumavam chamar uma à outra assoviando. A clareza e simplicidade desse relato são semelhantes às de muitos outros que ouvi e li no decorrer da minha pesquisa.”
Outro caso foi relatado a Burton por um jovem ginasiano, e dizia respeito à morte de uma tia-avó. Não se trata, evidentemente, de um grau de parentesco suscetível de produzir laços de afeto muito estreitos, e em conseqüência, uma experiência psicológica aparentemente anômala.
Fiquei sabendo de sua morte logo que cheguei em casa, vindo do colégio. Tinha de andar depressa, porém, para ir à lição de catecismo. Subi até o meu quarto para apanhar o livro, e, quando já ia pegá-lo, parei e olhei
Foi significativa a maneira com que o Dr. Burton encarou os seus dados. Na sua opinião, as experiências tais como a sua própria e outras que coligiu com muita freqüência não são anunciadas. Muitas pessoas — ele argumenta — têm medo de serem tidas como insanas se contarem os seus encontros com os mortos. Esse problema foi agravado, salienta o psicólogo, pelos profissionais da saúde mental, que procuram negar a validade de tais episódios. As experiências são, em via de regra, consideradas como tentativas das pessoas “de se agarrarem ao morto ou como alucinações provocadas pelo sofrimento, por ter perdido um ente querido”.
E Burton pergunta: “Mas temos o direito de fazer isso? Espero que outros investiguem esse fenômeno e juntem as suas informações ao crescente acervo de provas no sentido de que tais experiências são normais e comuns. Talvez futuramente a sensacional e amedrontadora natureza das ‘histórias de defuntos’ cederá lugar à constatação de que receber visitas dos mortos pode se tornar uma junção banal da vida quotidiana”.
A despeito da natureza muito emotiva e freqüentemente impressionante daquelas experiências humanas, o cético continua a ter pretexto para negá-las. Com efeito, poucos casos são tão verídicos como os do Dr. Burton, e menos ainda da qualidade que teria impressionado os fundadores das pesquisas psíquicas, há cem anos. Como salienta o Dr. Burton, a maior parte dos relatos pode ser facilmente posta de lado, como simples fantasias de pessoas geralmente entregues ao sofrimento acarretado pela perda de um ente querido. Mesmo os casos mais complexos, em que algum fator psíquico desempenha um evidente papel, podem ser reduzidos a “essas explicações mundanas”. Assim, por exemplo, talvez o Dr. Burton tenha usado uma simples clarividência, enquanto inconscientemente provocava a aparição de sua mãe, e assim por diante. As pesquisas sobre a sobrevivência tropeçam em tais questões, as mesmas que confundiam os primeiros pesquisadores, na época vitoriana.
Contato com os Mortos Através dos Sonhos
É significativo que a maior parte dos pesquisadores interessados em contactos espontâneos com os mortos tenha verificado serem os contactos através dos sonhos o modo mais comum de expressão. Trata-se, contudo, da forma de contacto post-mortem suscetível de ser mais facilmente contestada. Tal fato não levou, contudo, os pesquisadores a abandonar completamente essa linha de investigação. O falecido Dr. Robert Crookall, cientista britânico que sacrificou sua aposentadoria a fim de se dedicar às pesquisas acerca da sobrevivência, argumentou longamente que alguns contactos oníricos podem ser instigados por inteligências sobreviventes. Defendeu esse ponto de vista em seu livro Dreams of High Significance (Sonhos de Grande Significação), aparecido em 1974.
A Sra. Helen Solem, de Portland, Estado do Oregon, reabriu, recentemente, a questão, apresentando uma grande coleção de tais casos. A Sra. Solem divide presentemente o seu tempo entre a sua profissão de contadora e as pesquisas acerca da sobrevivência, tendo iniciado o seu estudo sobre os sonhos em 1983, em conseqüência de suas próprias experiências oníricas. Não tardou a começar a recolher relatos de outras pessoas, e hoje conta com um considerável acervo de materiais. Meu interesse pelos estudos da Sra. Solem se originou das minhas providências para publicação de casos verídicos de contacto com os mortos. Quando fiquei sabendo que a pesquisadora de Portland iniciara o seu trabalho, providenciei para que ela examinasse casos que incluíam a comunicação de material probante. Vários desses casos foram depois encaminhados à revista Fate, de cuja redação faço parte como consultor.
Alguns dos relatos coletados pela Sra. Solem eram relativamente simples. Uma senhora idosa contou à pesquisadora que, em 1906, teve um sonho em que ouviu um irmão já falecido conversando com ela. A voz lhe informou que ela precisava fazer uma importante escolha: entre sua filha mais moça (então com um ano e meio) e a criança que estava esperando. A voz era muito firme, e a mulher, com relutância, escolheu a criança que estava para nascer. O desfecho do sonho ocorreu três semanas depois, quando a menina caiu de uma varanda, machucou a cabeça e morreu.
“Quando relata esse episódio”, explicou a Sra. Solem, “ela acredita que o mesmo a ajudou naquele transe difícil.”
A advertência concorreu para que ela conservasse o seu juízo perfeito, evitando que o sofrimento a arrasasse.
Naturalmente, o cético irá auferir que talvez — se se acreditar que a experiência tenha sido realmente psíquica — a própria mente da mulher gerou a predição. Seria uma presunção razoável, mas nem todos os casos da Sra. Solem são tão facilmente explicados.
Em outro relato, uma mulher do Estado de Connecticut contou que seu falecido sogro lhe apareceu durante o sono, no dia seguinte ao do seu enterro. Seu intuito era lhe informar acerca de uma caderneta de banco secreta escondida em seu quarto, correspondente a um saldo de 2.800 dólares. O seu próprio marido ridicularizou a idéia, até que, depois de uma busca, a caderneta foi encontrada, e o saldo existente no banco era mesmo o mencionado no sonho.
Outro desses casos bastante complexos foi relatado por uma dona-de-casa, à qual a Sra. Solem só se refere por seu primeiro nome, Gwen.
“Até a morte de minha mãe, em 1959, não me lembro de ter sonhado com pessoas mortas”, ela contou. “Fiquei, porém, extremamente chocada com a morte de minha mãe, aos 49 anos de idade apenas. Muitas vezes, depois disso, ela apareceu em meus sonhos, principalmente quando eu estava preocupada ou aborrecida com alguma coisa.”
Gwen não tardou a descobrir que podia pedir conselhos a sua mãe, e que a figura que aparecia nos sonhos respondia prontamente.
Uma noite, por exemplo, ela sonhou com uma sala cheia de caixões de defunto e, intuitivamente, compreendeu que seu pai ia morrer. Assustou-se, mas sua mãe apareceu e a consolou, prometendo ajudar o seu ex-marido no transe da morte. O desfecho do drama ocorreu alguns dias depois, quando um seu irmão telefonou do Estado da Virgínia, para comunicar-lhe que seu pai fora hospitalizado. Estava passando mal do coração, e os médico queriam fazer uma operação de ponte de safena. Gwen sabia que a operação seria infrutífera, mas queria que o pai tivesse todas as oportunidade possíveis. Não foi surpresa para ela saber, quatro dias depois, que ele havia morrido… mas não ficou sabendo da morte por intermédio do hospital ou de sua família. De manhã bem cedo, sua mãe lhe apareceu em sonho e lhe disse que tudo terminara. Gwen levantou-se, e viu que eram sete horas. Somente mais tarde, telefonaram do hospital, avisando que seu pai morrera às 7,10 daquele dia.
Quando foi se deitar depois do enterro, alguns dias mais tarde, Gwen imaginou se veria o pai em sonho e conversaria com ele. Sua mãe lhe apareceu de novo, e explicou que o pai só poderia aparecer mais tarde, quando tivesse se ajustado à sua nova existência espiritual. O contacto através do sonho só se deu quatro meses depois.
É opinião da Sra. Solem que algo mais que um simples sonho está se manifestando em tais casos. “Algumas autoridades”, ela argumenta, “acreditam que a atividade do sonho é apenas um modo de restaurar o equilíbrio emocional, livrando-nos da tensão do dia. Quando, porém, vem, através do sonho, uma informação clara, direta e até então desconhecida, tem de ser mais do que isso… É possível que tais sonhos venham com a ajuda de algo superior dentro de nós mesmos, mas, quando os mortos aparecem em nossos sonhos, parece lógico concluir que está se manifestando um ativo relacionamento mútuo.”
Trata-se, sem dúvida, de uma séria dificuldade. Será jamais possível determinar onde termina a atividade da mente de um e começa a de uma inteligência externa? Este é o problema que os pesquisadores enfrentam, quando tentam avaliar as experiências subjetivas humanas, sempre tão complexas e sutis.
Outras Formas de Contato Post-Mortem
Alguns pesquisadores começaram a estudar a literatura das visões no leito de morte, para ajudar a resolver a questão. Tais casos representam uma importante adição à literatura das provas da sobrevivência, mas não podem ser discutidos aqui senão resumidamente.
Pacientes na iminência da morte muitas vezes têm visto aparições de mortos que vêm saudá-los e conduzi-los para o outro lado. Os primeiros pesquisadores psíquicos recolheram mesmo alguns casos em que o moribundo via um amigo que ele não sabia que havia falecido recentemente. Esses casos, porém, são muito raros. A verdadeira revelação surgiu nas décadas de 1960 e 1970, quando o Dr. Karlis Osis e a Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas conseguiram mostrar que muitos daqueles moribundos não sofriam de moléstia alguma ou se encontravam submetidos a qualquer tipo de tratamento suscetível de provocar o surgimento de alucinações. Posteriormente, o Dr. Osis e seu colega Dr. Erlendur Haraldson, da Universidade de Reykjavik, na Islândia, puderam mostrar que as visões no leito de morte constituem um fenômeno cultural. O ponto significativo é que, mais uma vez, a investigação psicológica mostrou que o contato subjetivo com os mortos (através de visões, sonhos ou presenças percebidas) simplesmente não pode ser explicado por qualquer mecanismo normal conhecido.
O Dr. Osis admitia mesmo que tais casos não podem servir como prova incontestável da vida após a morte, no entanto. Sua emergência poderia resultar de alguns fatores psicológicos indefinidos. Assim, ele tratou de se voltar ao estudo das aparições em geral, na esperança de encontrar alguma prova da sobrevivência. O caso a que ele se refere com mais orgulho foi um bastante complexo, que comunicou à 26ª Convenção Anual da Associação Parapsicológica, na Universidade Fairleigh Dickinson, em 1983.
O Dr. Osis começou a sua apresentação aventando a possibilidade de nem todas as aparições representarem a manifestação de um mesmo cesso psíquico. “Salientei em outra ocasião”, lembrou à audiência, “as experiências de aparições se tornam muito mais explicáveis quando admitimos interpretações especiais de cada uma das diferentes espécies de tais aparições, em vez de juntá-las todas, como se fossem da mesma natureza fundamental”. E acrescentou: “O caso presente é de um tipo de experiência de aparição em que o aparecido parece ter uma intenção própria”. Foram palavras corajosas, acerca de um fenômeno atualmente de moda entre os parapsicólogos que exploram a controvérsia da sobrevivência.
Uma vez que as pessoas de que tratava a comunicação insistiram em ser mantidas em absoluto anonimato, o Dr. Osis teve de disfarçar as suas identidades. O caso girou em torno da morte de um homem de negócios casado, de idade mediana, chamado Leslie, pai de quatro filhos. A outra dramatis persona, no caso, foi um filho do morto, Rusty, que também morrera, ainda criança, dezoito meses antes. A morte de Leslie ocorreu em 1982, quando caiu, no sul dos Estados Unidos, o avião particular que ele estava pilotando. Ainda é desconhecida a causa do acidente, do qual a família tomou conhecimento no dia seguinte. Além do seu próprio pesar, a maior preocupação dos membros da família foi com a idosa mãe de Leslie, Marge, que se encontrava ela própria às voltas com problemas de saúde. Receava-se que a notícia da morte do filho lhe causasse um choque que não poderia suportar. Uma amiga da família participava daquela preocupação. Sendo muito devota, pediu à própria mãe — que tinha a mesma idade da mãe de Leslie — que rezasse pela alma que partira. Aquela mulher sabia que a mãe de Leslie era materialista, não acreditando em coisa alguma psíquica ou espiritual. Assim, rezou diretamente pelo morto e pediu-lhe que aparecesse à sua mãe, como sinal de sua existência continuada. Também pediu, em suas preces, que, como um sinal pessoal para ela própria, Leslie aparecesse de mãos dadas com o filho recentemente morto. A mulher não falou com pessoa alguma, a não ser o marido, a respeito de suas rezas, e repetiu o pedido por três vezes, nos dois dias seguintes.
Marge se encontrava em seu quarto, dez horas depois das preces terem sido concluídas, quando despertou de súbito, vendo dois vultos juntos de sua cama.
“Era Leslie com o menino”, disse ela mais tarde ao Dr. Osis. “E Leslie estava segurando a mão do menino. Estavam nos pés de minha cama, olhavam um para o outro. Eu estava então bem acordada. Eles estavam contentes; estavam felizes por terem encontrado um ao outro, por estarem juntos agora. E queriam que eu soubesse disso. Senti isso”. Ela explicou ainda ao Dr. Osis:
Eles eram sólidos. Havia uma espécie de névoa em torno deles, como se fosse uma nuvem cinzenta. Mas eram sólidos, ambos. O quarto estava escuro; a luz elétrica vinha de fora, através da veneziana… mas não iluminava suficientemente para vê-los. Há muito movimento na rua onde moro. A qualquer hora que seja, estão passando caminhões e ônibus. Naquele momento não havia barulho, tudo estava excluído, como se o mundo tivesse parado. E não havia mais ninguém no mundo, a não ser nós três…
Senti como se eles estivessem penetrando em mim, trazendo a vida para dentro de mim. Ele estava me devolvendo a vida. E essa foi a sensação mais duradoura; jamais, jamais a esquecerei. Jamais aconteceu antes e jamais tornará a acontecer. Creio que ambos vieram aqui para me trazer a paz de espírito. Realmente me ajudaram muito, isso aconteceu realmente. Não venci o pesar, mas aquilo me tornou capaz de atravessar os momentos difíceis sem morrer, porque estava muito desanimada. Tentei pretidê-los por mais tempo, mas eles foram-se embora… Foram ficando menores e desapareceram.
Não foi, porém, apenas Marge que recebeu naquela noite uma visita fantasmagórica. Uma sobrinha de Leslie, de seis anos apenas, que morava a
Na opinião do Dr. Osis a hipótese de telepatia tinha de ser posta de lado no caso, uma vez que Marge não poderia reagir a uma mensagem telepática várias horas depois que ela fora emitida. Também seria estranho que a sobrinha tivesse reagido a tal mensagem, uma vez que não conhecia a mulher que rezou. E nem pode se admitir que ela tenha interceptado a mensagem dirigida à velha, uma vez que recebeu a mensagem três horas antes dela. As duas nem eram sequer muito íntimas.
A apresentação desse caso à Associação Parapsicológica terminou com uma conclusão e uma advertência. “Um único caso não pode decidir a questão da sobrevivência”, decidiu o Dr. Osis. “Diferentes estudiosos interpretarão os dados de maneira diferente, cada um de acordo com seu próprio sistema de crença. As características manifestas desse caso certamente não dão a idéia de que as aparições são imagens estáticas, destituídas de consciência. Parecem estar indicando algo muito mais poderoso e intencional.”
Assim, quando a parapsicologia entra em seu segundo século de atividade, os pesquisadores que estudam a questão da sobrevivência parecem ter voltado ao ponto de partida. Do estudo dos encontros na vida real com o desconhecido, eles pesquisaram através das esferas da mediunide no transe, das experiências fora do corpo, das visões no leito de morte e das situações perto-da-morte, a fim de demonstrarem a imortalidade do homem. Parece, agora, que os parapsicólogos se encontram, mais uma vez, focalizando as experiências de aparições, como a mais promissora fonte de estudos.