Crimes e Desaparecimentos Resolvidos com a ajuda de Médiuns ou Psíquicos – Parte 6 (2013)

Complemento de Michael Prescott ao artigo anterior sobre o caso Jacqui Poole.

Um pouco mais sobre Jacqui Poole 

Para saber mais sobre o caso Jacqui Poole, que eu discuti anteriormente, eu pedi uma cópia usada do livro A Voice from the Grave, de Christine Holohan e Vera McHugh (2006, esgotado). Holohan é a médium que aparece de forma tão proeminente na história.

O livro não forneceu um monte de informações novas, mas fez esclarecer alguns pontos. Para mim, a parte mais interessante foi o apêndice, que inclui a correspondência entre o pesquisador da SPR, Montague Keen, e o policial, Tony Batters, o mesmo que tomou o depoimento de Holohan. Aliás, ao longo do livro, Tony Batters é descrito como um detetive, mas de acordo com outras fontes, na época inicial da investigação, ele era apenas um policial de patrulha. Anos mais tarde, o Superintendente Tony Lundy, que rejeita a contribuição do Holohan ao caso, escreveu:

Tony Batters nunca foi um detetive. Ele era um policial de patrulha e foi o oficial que atuou na cena do crime quando o fato ocorreu. Por causa de seu conhecimento local e de sua vontade de ajudar, eu o destaquei para a equipe de investigação. Ele entrevistou Christine Holohan com um detetive policial e tornou-se um tanto obcecado com seus pontos de vista, e continua a ser assim! 

No entanto, Lundy se esquece de mencionar que o detetive de polícia (Andrew Smith) que acompanhou Batters em seu encontro com Holohan ficou igualmente impressionado e assinou uma declaração atestando a precisão do relatório da SPR.

Em resposta a uma pergunta de Keen, Batters escreve:

Poucos minutos depois de encontrar o corpo, eu atendi a 3 chamadas de: 

1 – Betty Hunt, a mãe de Poole;

2 – Gloria Robbins, amiga e confidente íntima;

3 – Sylvia Lee, esposa de George Lee Senior

Ninguém mais ligou em todas as cinco horas que eu estive lá…

Achei isso interessante, pois Christine parece mencionar as três pessoas que telefonaram quando eu estava na cena do crime, a saber: Betty, Sylvia, e “alguém que vive sobre uma banca de jornais” (Gloria). 

Ele estava se referindo ao fato de que Holohan forneceu cinco nomes em seu depoimento (sem contar o apelido do assassino, “Pokie”) e três dos cinco correspondiam às três pessoas que ligaram para o apartamento de Poole enquanto Batters estava investigando. Os outros dois eram Terry (o irmão de Poole) e Barbara Stone (uma mulher desconhecida para a polícia na época, que tinha sido a melhor amiga de Poole até sua morte em um acidente de carro, cerca de um ano antes do assassinato).

Então há essa troca, motivada pelo fato de que Holohan indicou que uma medalha de São Cristóvão havia sido roubada:

[Keen:] Existe alguma evidência de que a medalha de São Cristóvão estivesse entre os bens roubados?

[Batters:] O fato era parte de uma lista seqüencial compilada de informações fornecidas por amigos e familiares após a lista inicial. Essas eram provas documentais. A primeira lista apresentava apenas os itens de maior valor, por exemplo, pulseiras, anéis, colares. Lembro-me que o São Cristóvão (o único item com uma imagem nele) não foi mencionado até que novas investigações houvessem sido feitas durante a segunda semana. 

Keen pergunta como é possível saber que Poole trocou de roupa duas vezes no dia de sua morte, algo que Holohan relatou. Batters responde que o quitandeiro, para quem ela trabalhou, a viu com uma roupa, o pai de seu namorado a viu em uma segunda roupa, e ela foi morta enquanto usava um terceira ainda – fatos que surgiram no julgamento.

Keen também quis saber por que um artigo de jornal descreveu o assassino, “Pokie” (Ruark), como um ex-amante de Poole. Batters responde:

Eu não vi o artigo do Times, mas Ruark alegou no julgamento que ele tinha sido um amante secreto dela, na tentativa de justificar a presença de seu DNA. 

Holohan diz a mesma coisa no início do livro: “Ele mudou completamente a sua história e alegou que estava tendo um caso com Jacqui, o que explicaria todos os traços de seu DNA encontrados em sua roupa”.

A promotoria, no entanto, foi capaz de provar que a transferência de DNA possuía indicações de relacionamento violento, e não íntimo. Por exemplo, Poole tinha arranhado Ruark, ficando um pouco de sua pele sob as unhas.

Parece-me que a pele encontrada sob as unhas seria a evidência mais crucial, mas Batters insiste que o pulôver removido do lixo de Ruark foi fundamental:

O ponto crucial foi a troca de DNA entre o seu pulôver e os dela, como analisados entre 1999 e 2000 por policiais forenses. Eles deram provas no julgamento. Eu acredito que, se não fossem as informações oportunas de Christine e as rápidas ações dos oficiais, o pulôver de Ruark teria se perdido para o lixeiro. O pulôver de Ruark foi a prova mais contundente. 

Eu não sei por que esta prova seria mais condenável do que a prova de que ela arranhou Ruark em uma luta violenta, e eu ainda sou cético em relação a isto. Em outra resposta, Batters escreve:

O caso foi reaberto em 2000, em meio a centenas de outros casos arquivados, estes que foram ajudados pelo desenvolvimento da tecnologia do DNA, particularmente por uma técnica chamada “Low Copy Number”. Os resultados foram completamente conclusivos, identificando inúmeras trocas de fluidos corporais, células da pele e fibras de vestuário entre a vítima e seu assassino (Pokie – Ruark). Não menos significativo que isso, foi o DNA sob as unhas. As chances de erro foram citadas no tribunal como de menos de uma em um bilhão. 

“Não menos significativo” soa-me como uma maneira peculiar de colocá-lo. Parece-me que Batters pode ter subestimado a evidência das unhas e exagerado na importância do pulôver, a fim de maximizar a contribuição do Holohan para o caso. Talvez se eu soubesse mais detalhes sobre o julgamento, eu pudesse compreender o ponto de vista dele.

Outros comentário de Batters:

[Holohan] descreveu a cena exatamente como eu a encontrei, inclusive a posição da vítima, roupas e lesões. Na reconstrução passo-a-passo do crime, ela retransmitiu a série de eventos que pareciam coincidir com as provas.

Por exemplo, nós inicialmente pensamos que o crime ocorreu na sala, mas ela insistiu que começou no banheiro. Havia um tapete revirado por lá, e um porta-toalha que havia sido retirado da parede, mais tarde confirmando-se que os danos eram recentes…

Em uma série de aparentes transes, Christine relatou informações que ela alegou estar recebendo psiquicamente. Ela descreveu o assassino em muitos detalhes, como a sua idade e o mês de seu nascimento, a altura, cor da pele e cabelo, incluindo três tatuagens e o tipo de trabalho que ele tinha. Ela mencionou seu histórico criminal, e referiu-se a uma fraude que ele cometera recentemente com seguro, fato que posteriormente ele veio a admitir. Procuramos por arranhões, mais tarde atribuídos, segundo ele, a uma colisão com uma cerca. Ele teve uma ligação social com a vítima através de um amigo que estava na prisão, e visitou o endereço antes de executar o crime. De fato, ele fez isso para verificar a caixa de fusíveis que seriam desligados durante o homicídio, meses depois. Ela alertou que alguns dos amigos dele iriam garantir seu álibi, e que nenhum deles acreditaria que ele seria capaz de algum tipo de violência. Cada um desses fatos era plenamente coerente com o homem que foi condenado…

Nós nunca encontramos qualquer conexão remota entre ela [Holohan] e alguém que pudesse ter lhe fornecido as informações. Em teoria, e dado o tempo e recursos necessários, ela poderia ter adquirido grande parte das informações através de algum contato com o verdadeiro assassino ou com alguém que o assassino confiasse. Seria necessário contato com os amigos da vítima e também com os policiais envolvidos no caso. Eu coletei todas as declarações e documentos durante a investigação (1983-4), e no entanto cheguei a um conclusão bizarra: a única fonte de todo o conhecimento (centralizado) só poderia ser a própria vítima…

A fonte dos fatos que chegou até Christine, se fosse ‘terrestre’, teria de ser rápidas e necessitaria de uma coligação entre muitas pessoas que não faziam parte do seu círculo de amizade. 

A parte principal do livro é mais uma recapitulação do material apresentado por Playfair e Keen no artigo do Journal da SPR, combinadas com informações sobre a infância de Holohan e sua vida após o caso Poole. Eu apenas encontrei dois pontos interessantes.

Um deles é que a versão de Holohan da demonstração de psicometria que ela realizou para os dois policiais é diferente daquela publicada no relatório da SPR. Ela escreve:

Eu disse a ele [Smith] que a casa que ele estava pensando obter necessitaria de uma fiação nova ou ele não conseguiria a hipoteca. 

No relatório da SPR, consta somente que Holohan menciona para Smith que ele tinha recentemente recebido uma carta importante referente a trabalhos elétricos. Isso era verdade, mas o contexto – a compra de uma casa precisando adaptar a fiação elétrica de acordo com as regulamentações – não foi relatado como uma declaração de Holohan. A discrepância provavelmente é atribuível aos lapsos de memória depois de 23 anos.

Holohan também escreve:

Eu fui até o burgo na segunda-feira de manhã e ouvi duas mulheres falando sobre uma jovem mulher com o nome de Jacqueline Poole, elas comentaram que ela havia sido assassinada lá. 

Este fato foi mencionado no relatório da SPR, mas vale a pena ressaltar isso porque mostra que Holohan não fez segredo algum de ter ouvido fofocas locais sobre o caso. Os céticos, como vimos, vão dizer que as informações que ela forneceu à polícia, ela adquiriu a maior parte (ou todas) através de fofocas. No entanto, para o alcance e especificidade do que ela disse, assim como o fato de que ela mencionou detalhes desconhecidos para qualquer pessoa que não fossem as autoridades, essa explicação seria insatisfatória. Além disso, as fofocas normalmente incluem muitas afirmações falsas, entretanto o testemunho dado à polícia por Holohan confirmou-se em 121 dos 130 pontos específicos afirmados por ela, com a maior parte do restante sendo impossível de comprovar ou refutar, e contendo apenas um erro, o dia do assassinato. É duvidoso que fofocas e boatos renderiam uma taxa tão alta de sucesso.

Holohan também transmitiu vários detalhes desconhecidos a qualquer pessoa que não fosse o assassino: os fatos, que não foram conhecidos da polícia até mais tarde, como por exemplo, a medalha de São Cristovão que havia sido roubada; o fato de que o ataque começou no banheiro (quando a polícia acredita que o crime havia começado na sala de estar); o fato de que o assassino tinha recentemente cometido fraude de seguro; o fato de que o assassino tinha visitado o endereço de Poole numa ocasião anterior para executar uma tarefa, e o fato (provavelmente desconhecido para a polícia, nesta fase inicial, e não verificado até o julgamento de quase vinte anos depois), que Poole usou três roupas diferentes no dia de sua morte.

Artigo original: link (publicado em 29/09/2013)

Traduzido por Sandro Fontana e revisado por Vitor Moura Visoni

Uma resposta a “Crimes e Desaparecimentos Resolvidos com a ajuda de Médiuns ou Psíquicos – Parte 6 (2013)”

  1. Guto Diz:

    Interessante, Vitor!

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