Última Chamada para William James: Sobre o Pragmatismo, Piper e o Valor da Pesquisa Psíquica (2012)

Mais um artigo a ressaltar as qualidades da médium Leonora Piper. Busquei fazer a tradução o mais fluente possível, mas penso que em alguns trechos fracassei na tentativa. Quem tiver dicas para uma tradução melhor estou colocando o artigo original aqui.

TADD RUETENIK

St. Ambrose University

“William James sempre foi atraído por mulheres interessantes”, escreveu o biógrafo Robert D. Richardson. “As mulheres o achavam atraente também”. Ele rapidamente observa que “nunca houve sequer um sopro de escândalo quanto a essas amizades”. Mas, ainda que James nunca tenha tido um caso. . . suas amizades femininas foram uma parte importante da sua vida. “Porém James era espontâneo e irresponsável”, um conquistador natural, com a falta de interesse de um conquistador em compromissos sérios” (Richardson 353). O que se segue não é relacionado a qualquer escândalo potencial na vida pessoal de James; é, entretanto, uma resposta ao que alguns podem considerar um escândalo na vida profissional de James, ou seja, a estreita relação que ele tinha com a pesquisa de médiuns.

É natural ver a pesquisa psíquica de James como se esta fosse um caso que ele estivesse tendo no seu casamento com o pragmatismo. Trazer à tona o tema da comunicação mediúnica entre um grupo de intelectuais — acadêmicos, particularmente muitas vezes leva a momentos desconfortáveis??. Se alguém introduz o tema, a resposta padrão será o ceticismo, talvez o escárnio. O reflexo entre muitos intelectuais é ver a pesquisa com médiuns como um escândalo para os tipos de investigação tradicionalmente realizados na academia.

Se pensarmos que o pragmatismo envolve a fidelidade ao método científico rigidamente definido como envolvendo fenômenos discretos e categorias racionais claras, então a investigação psíquica, que é realizada aparentemente sem base científica e com atitudes emocionais, é realmente um escândalo. Pode ser dito, no entanto, que a pesquisa psíquica de James não envolve nenhum problema particular para o pragmatismo de James, e de fato está em linha com a tal ponto que, se alguém fica envergonhado com a pesquisa psíquica, fica igualmente inseguro com o pragmatismo. O método pragmático, como James o entende, envolve uma fidelidade extraordinária à importância da experiência heterodoxa que não é fixa nem discreta, mas contínua, com o fluxo da emoção e dos caprichos da comunicação.

Esta noção perturbadora da ciência é apropriadamente ilustrada considerando as interações de James com a médium Leonora Piper, a dona de casa de Boston, que atraiu a atenção de James por quase vinte e cinco anos de sua vida. No que se segue, as investigações de James com Piper serão explicadas como um acompanhamento natural para o seu pragmatismo, um pragmatismo que é influenciado pelo pai de James, que esteve familiarizado com o fenômeno psíquico em grande parte devido ao seu interesse em Swedenborg. Além disso, dois médiuns contemporâneos, John Edward e Allison DuBois, serão considerados. Junto com tal consideração estará a questão de qual, se houver, é o valor do estilo de James para a investigação de médiuns hoje.

A Sedutora Sra. Piper

Piper foi considerada por James como sendo o único contra-exemplo para a alegação de que todos os médiuns são inúteis. James e os seus amigos na Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPR) submeteram-lhe ao que acreditavam ser um processo científico rigoroso. Enclausurada para evitar que informações chegassem a ela, sujeita à espionagem de detetives, Piper ainda era capaz, sem o emprego de uma vagueza extraordinária, de evocar informações notáveis o bastante também conhecidas como “acertos fascinantes” para manter interessados até mesmo os pesquisadores céticos da SPR. Com o intuito de testar a autenticidade de seus transes em que ela parecia ser controlada por uma personalidade estrangeira ela foi submetida a estímulos dolorosos e invasivos. Como a historiadora da ciência Deborah Blum conta, os homens queriam testar o seu estado de transe: “Quão profundo era o transe? Poderia ser penetrado, quebrado por sensações? Os homens picaram-na com alfinetes, queimaram-lhe o braço com um fósforo, seguraram amônia sob o seu nariz. Nada parecia perturbar o torpor semelhante ao sono” (164).

Não é difícil interpretar essas ações como possuidoras de um significado sexual, como se os homens estivessem tentando obter uma resposta de uma mulher “frígida”. Mas quaisquer que fossem as motivações conscientes ou inconscientes que pudessem ter, a falta de reações naturais de Piper a estas imposições mostrou ou que ela era uma fraude capaz de se auto-anestesiar, ou que ela estava de fato em um estado inconsciente. Se Piper era capaz de se auto-anestesiar, então ela era capaz, de um modo extraordinário, de distanciar-se profundamente de seu corpo e ainda estar em contato com o mundo para responder astuciosamente as pessoas ao seu redor. Céticos contemporâneos como Martin Gardner sustentam a crença de que um transe fingido é tão valioso para os psíquicos (20-21) que, aparentemente, eles estão dispostos a suportar a dor ou o desconforto e são capazes de compor seus egos fraudulentos apesar disso. A posição de Gardner, entretanto, requer que acreditemos em uma dedicação extraordinária para a fraude por parte de Piper, algo que James, por exemplo, não acreditava. A questão para James, então, parece ser se Piper era arrastada para um estado onde ela não sentia dor ou, simplesmente, se ela se colocava em um estado onde era capaz de suportar a dor para um bem maior. A resposta mais provável é que ela fazia ambos: como Piper era uma médium profissional com clientes pagantes, ela precisava colocar-se em um estado onde a dor não fosse sentida, ou, o que equivale a quase a mesma coisa, um estado onde a dor não fosse tão importante. Mais importante ainda, a verdadeira questão para um pragmático não é tanto qual é o seu estado mental, mas sim o modo como a sua atitude de consciência funciona para todos os envolvidos com ela.

As categorias de uma bruxa verdadeira e de uma fraude absoluta não são adequadas a esta parte da investigação. Elas impõem um julgamento artificial autoritário em cima de uma situação mental ambígua. A explicação mais abrangente é que Piper era capaz de colocar-se em algum tipo de estado meditativo em que a sua personalidade primária era colocada em suspenso. Em seu lugar entravam ou fantasmas “sobrenaturais”, ou personalidades alternadas “naturais”, ou alguma estranha combinação dos dois. Insistir em determinar se os seus controles eram inequivocadamente de origem natural ou sobrenatural, é, de acordo com James, um convite à falácia genética.

As filosofias dogmáticas têm procurado provas da verdade que nos dispensem de apelar para o futuro. Alguma marca direta, cuja observação nos protegeria imediata e absolutamente, agora e sempre, contra todos os erros — tal tem sido o sonho querido dos filósofos dogmáticos. É manifesto que a origem da verdade seria um critério admirável desse tipo se as várias origens pudessem ser discriminadas umas das outras a partir deste ponto de vista, e a história da opinião dogmática mostra que a origem sempre foi um critério favorito. A origem da intuição imediata; a origem da autoridade pontifícia; a origem da revelação sobrenatural, quer pela visão, quer pela audição, quer pela impressão indizível; a origem da possessão direta por um espírito superior, que se expressa em profecias e admoestações; a origem das expressões automáticas de um modo geral — essas origens têm sido fundos de garantia da verdade de uma série de opiniões que encontramos representadas na história religiosa. (William James, Varieties 24) 

Em vez de olhar para a origem de uma idéia, de modo a ou acreditá-la ou desacreditá-la, um pragmático olha para o valor das novas idéias e as práticas posteriores provenientes da idéia. Tanto os céticos quanto os crentes podem cair no erro de assumir dogmaticamente que possuir uma certa origem metafísica implica possuir uma certa verdade. Mas a verdade de uma crença é uma função da forma de como a crença é levada para a nossa experiência geral, em sentido lato. Em outras palavras,

não é a origem, senão o modo com que ela opera sobre o todo, o critério final de uma crença. Tal é o nosso critério empírico; e esse critério também foi usado pelos mais rijos defensores da origem sobrenatural. Entre as visões e mensagens, algumas têm sido sempre demasiado tolas; entre os transes e raptos convulsivos, alguns têm sido tão infrutíferos para o comportamento e para o caráter, que não podem passar por significativos, quanto mais por divinos… No fim, tiveram de chegar ao nosso critério empiricista: pelos frutos os conhecereis, não pelas raízes. (William James, Varieties 24-25). 

Este é uma das mais claras demonstrações do pragmatismo religioso de James, e é provável que ele tenha sido influenciado nesse sentido por seu pai, que por sua vez foi influenciado pelo médium Swedenborg. Em um artigo intitulado “Spiritual Rappings”, o próprio Henry James Sr. declara aos espíritos que supostamente interferem na consciência comum: “Não perturbem, senhores … Eu insisto em ver a minha firma!” [Lectures and Miscellanies 409). Se vocês desejam nos impressionar, diz ele, com a sua maior proximidade para o bem e para a verdade, abandonem a conversa sentimental e nos dêem algumas respostas significativas. Ajudem-nos a resolver os problemas da pobreza e do crime, e a curar as doenças de que sofremos. “Façam-nos algum desses gestos nobres, e então poderão falar conosco de forma sentimental”, exige. “Até que vocês concordem com esta prova de benevolência, uma prova bastante significativa para nós, e assim ganhar o nosso respeito, afastem-se vagabundos andem”(Lectures and Miscellanies 410)!.

Esta é uma articulação muito clara e contundente dos princípios pragmáticos. O pai de James está dizendo que a verdade está intimamente ligada aos interesses humanos. A verdade de um tipo egoísta, sentimental, e na verdade metafísica é irrelevante, e deve ser descartada.

Eu desconfio desses corpos preenchidos por espectros intrometidos, que abordam o nosso ouvido externo com fofocas do outro mundo. Eles primeiro prendem a nossa atenção ao falar daqueles que amamos: eles paulatinamente inflamam a nossa ambição ascética, a nossa ambição por superioridade espiritual e, finalmente, tendo conseguido uma fixação segura, quem sabe a que poças de imundície e degradação voluntária eles nos podem arrastar? Eu, claro, acredito que a ajuda espiritual é muito apreciada pelo homem, mas essa ajuda é dirigida exclusivamente aos seus afetos e pensamentos, e não aos seus sentidos medrosos e servis. (Lectures and Miscellanies 417) 

“Em geral”, ele conclui, “sou levado a ver os chamados ‘espíritos’ bastante como tantos vermes que se revelam nos lamentos de nossa antiga hospedaria teológica em ruínas, em vez de pessoas muito santas e doces, cujo contato fosse edificante ou mesmo confortável de fazer” (418). Henry James Sr. está dizendo que os nossos hóspedes, caso desejem ser convidados a voltar às nossas casas, têm de provar que são interessantes para nós, e não apenas fãs de conversa fiada.

Esta mudança de foco do estatuto metafísico para o valor pragmático não leva nem a uma condenação completa nem a uma defesa completa de Piper. “Fora de seus transes vieram introspecções pessoais extraordinárias”, diz Blum. “Mas elas eram confusas, misturadas com noções vagamente cristãs da vida após a morte, mensagens ambíguas de alegre boa vontade e conversa sem sentido” (Blum 182). Em outras palavras, é difícil ver a utilidade geral do hóspede misterioso de Piper, quem quer que fosse. Um Céu de conversa fiada não é desejável, e acreditar em tal Céu tem utilidade apenas para mentes pequenas. Considerações deste tipo são simpáticas aos céticos, que argumentam que a conversa sem sentido é usada pelos médiuns para reunir informações de seus clientes as quais eles possam juntar e apresentar como uma introspecção espiritual. As mensagens cristãs alegres servem para aquecer as emoções dos assistentes, fazê-los se sentirem mais seguros e, assim, diminuir as suas faculdades críticas. Todas as conversas, então, servem apenas a causa da fraude, bem como os movimentos diversionistas de um mágico.

Assim, Gardner acredita que mesmo os pesquisadores que toleram a conversa podem ser pegos no show, e não serem suficientemente críticos. Ele diz que “a acusação mais forte que pode ser feito contra William James como pesquisador psíquico é que nem uma vez ele concebeu, ou mesmo considerou elaborar, uma armadilha” (Gardner 39). Um contemporâneo de James, o psicólogo e cético G. Stanley Hall, fez exatamente isso. Para testar a credibilidade de Piper, Hall fabricou uma história sobre uma sobrinha falecida para a consideração de Piper, e notou que essa sobrinha apareceu com mensagens fantasmagóricas em sessões posteriores. Como os céticos vêem, Hall conseguiu o que James negligenciou: ele enganou o malandro. Piper estava fornecendo informações comprovadamente falsas, o que deveria significar ou que os seus controles o chamariam de impostor, ou que ela iria permanecer em silêncio. Piper, no entanto, continuou a conversa, e James sentou-se ali, extasiado.

James havia comentado que Piper era o seu “corvo branco”, negando a proposição universal de que todos os corvos são pretos, ou seja, que todos os médiuns são fraudes. A sobrinha imaginária de Hall se torna o corvo branco dos céticos, uma instância que nega a alegação de que Piper seja uma médium cuja autenticidade suportou todos os testes. Isso mostra que Piper, ou alguma parte dela — ou talvez algo que assumiu o controle de Piper em pelo menos uma ocasião construiu personalidades, ao invés de apenas transmitir informações das pré-existentes, o que causou danos irreparáveis ??à alegação de que Piper está apenas relatando o que vê. Isso deve ser concedido para o cético.

Outra armadilha veio da própria casa de James. A pedido de seu irmão, a irmã de James, Alice, mandou-lhe uma mecha de cabelo para que Piper pudesse meditar a seu respeito, como uma forma, talvez, de diagnosticar a misteriosa e debilitante doença de Alice. James queria que a amostra fosse dela, mas Alice enviou cabelo de um amigo morto em seu lugar. “Se James relatou os resultados a Alice, sua carta aparentemente não sobreviveu”, diz Gardner, implicando uma leve conspiração. “James ficou, provavelmente, muito envergonhado para registrá-la. Ele estava tão convencido da honestidade da Sra. Piper que ele teria considerado revelar tal fracasso um insulto a uma mulher nobre” (Gardner 40).

James manteve a fé em seu corvo branco. Talvez fosse melhor dizer que ele simplesmente acreditou que Piper foi só a casa de um corvo branco, o paraíso para ao menos um pedaço de evidência genuína no meio do disparate, e até mesmo da fraude. E desejando preservar o animal, ele decidiu não perturbar o seu habitat. Ele era como um ambientalista que protegeria a área maior para salvar uma pequena, mas de alguma forma valiosa, espécie que poderia estar vivendo ali. James, como os homens vitorianos com quem ele trabalhava, tinha um senso de proteção sobre as mulheres também. Se a armadilha de Alice foi de fato bem-sucedida, James teria ficado realmente embaraçado. Mais do que isso, os céticos desacreditariam em Piper inteiramente, juntamente com todo o fenômeno mediúnico. Certamente James teria se preocupado com Piper pessoalmente e consigo profissionalmente. Sua reputação, diz ele, está ligada à sua crença na sua honestidade. É presunçoso assumir, no entanto, que sua única preocupação fosse com a proteção de egos. É provável que, prncipalmente, ele temesse que estas armadilhas bem sucedidas permitissem que as pessoas dissessem que a investigação mediúnica está encerrada, com o rótulo de “fraude” para sempre colocado no arquivo. Isso, ao que parece, seria parar o progresso psicológico o qual acreditava poderia ser feito nos estudos, e, além disso, prejudicar as relações que James viu tanto como filosoficamente valiosas quanto como pessoalmente importantes.

Um romântico filosófico, James era especialmente sensível à ética das relações, de uma maneira que deixa os cientistas de mente fechada desconfortáveis. Comentando sobre as suas interações com Piper, James faz uma admissão vulnerável:

Quando você encontrar respostas às suas perguntas e as suas alusões entendidas; quando são feitas alusões que você acha que entende, e seus pensamentos são entendidos por antecipação, negação ou comprovação; quando você tiver aprovado, aplaudido, ou trocado brincadeiras, ou agradecidamente ouvido conselhos que você acredita; é difícil não tirar a impressão de ter encontrado algo sincero no meio de um fenômeno social. (como citado em Simon 288)  

Isso soa como um diário escrito por alguém que está apaixonado. Mas James parece estar caindo por algo mais do que apenas a conversa doce de Piper. Ele está impressionado com o fenômeno em si, e é difícil culpá-lo por isso. Mesmo que os médiuns não estejam, de fato, falando com os mortos, não deve ser difícil encontrar algo de valor pessoal, e talvez mesmo mais especificamente filosófico, na compreensão da dinâmica de comunicação médium-assistente.

Uma das características mais proeminentes de tal comunicação é a do interesse seletivo. James argumenta que a consciência “está sempre mais interessada em uma parte do seu objeto do que em outra, e recebe e rejeita, ou escolhe, o tempo todo enquanto pensa.” Ele continua: “[N]ós fazemos muito mais do que enfatizar as coisas … na realidade ignoramos a maioria das coisas diante de nós” De um continuum “indistinguível, abundante, sem superioridade ou ênfase”, nós construímos um mundo significativo (Principles of Psychology 294). É natural e até mesmo necessário selecionar e ignorar coisas de nossa experiência imediata. Este processo necessário de seleção pode, naturalmente, ser explorado por médiuns, que são hábeis em fazer os clientes esquecerem declarações irrelevantes e lembrarem apenas as relevantes ao seu interesse particular. Esta é a crítica mais comum aos médiuns, ou seja, a de que eles trabalham apenas para satisfazer os clientes, minimizando os resultados insatisfatórios e ampliando os satisfatórios. Mas devemos abordar a comunicação mediúnica de uma forma que exclua todos esses interesses como irrelevantes, que insista, por exemplo, em um pontuador literal dos fatos em vez de permitir uma avaliação do impacto emocional de certos fatos? Essa exclusão faria a avaliação científica da comunicação mediúnica virar um caso epistemológico abstrato divorciado da comunicação solícita. Uma comunicação solícita envolve olhar para as conexões entre os falantes, servir às necessidades emocionais percebidas nas pessoas, e expressar as próprias necessidades de cada um. Em suma, é um caso de amor, e não apenas de verdade.

Quando alguém tenta avaliar os médiuns, está como uma pessoa em um primeiro encontro, em que tenta analisar o caráter de seu parceiro, à procura de sinais de problemas, e ainda assim sabe que um olho muito crítico vai estragar o encontro, e, assim, a potencial relação. O interesse de James na pesquisa psíquica envolvia médiuns psíquicos falantes, não médiuns de materialização que produzem coisas como ectoplasma. Assim, ele precisava ser mais sensível à pragmática comunicativa do que um observador da física. O lema cético de Gardner é que “os elétrons e os micróbios não fraudam, mas os médiuns sim” (20). Isso é verdade, mas também é verdade que os elétrons e os micróbios não possuem egos — ao contrário dos médiuns, dos crentes, e até mesmo dos céticos. Químicas interagindo não estão cientes da presença carrancuda de seus observadores, enquanto que os seres humanos estão inevitavelmente cientes de tais coisas. Os médiuns ocasionalmente afirmam que a presença de um cético manifesto destrói a capacidade de se conectar com o outro lado. Na verdade, é duvidoso afirmar que ter um cético manifesto como um assistente interrompe automaticamente o influxo espiritual, mas não é, no entanto, ridículo afirmar que a presença de um cético notório dificulta o fluxo e torna os resultados menos impressionantes do que poderiam ser. A comunicação espiritual é inegavelmente um fenômeno social, envolvendo as transações e os interesses emocionais do médium e do assistente — e talvez dos próprios espíritos.

Swedenborg, o vidente que tanto influenciou o pai de James, assumiria uma visão extrema sobre o assunto. Em seus escritos sobre o outro mundo, ele afirma que, no céu, uma conversa produtiva ocorre apenas em situações completamente confortáveis:

No mundo espiritual, um indivíduo está presente para outro apenas se essa presença for intensamente desejada. Isto é porque uma pessoa vê outra no pensamento deste modo e se identifica com o estado do indivíduo. Por outro lado, uma pessoa se afasta da outra até o ponto em que não haja qualquer senso de relutância; e uma vez que toda relutância vem de uma oposição de afetos e divergências de pensamentos, pode haver muitas pessoas que aparecem juntas em um só lugar, enquanto há concordância, mas assim que há discordância, elas desaparecem. (Swedenborg 185) 

Embora não esperemos que essa sensibilidade seja exigida na Terra como no Céu, podemos ao menos apreciar a idéia de que, ao falar de forma eficaz a alguém, tendemos a ser especialmente sensíveis às suas reações. Da mesma forma, a audiência deve ser ao menos um pouco simpática à vulnerabilidade do falante, o suficiente para que nós percebamos que uma atitude cética é suscetível de ter um efeito sobre o desempenho do falante.

James é tão sensível ao processo de comunicação que ele cria um argumento extraordinário e de fato oferece uma defesa para a fraude do médium. Afirmando que “o caráter do homem é muito complexo para a alternativa de ‘honesto ou desonesto’ ser algo exato”, ele observa que “os homens de ciência vão fraudar — em palestras públicas, ao invés de deixarem os experimentos obedecerem à sua tendência conhecida para o fracasso” (William James, Essays in Psychical Research 364). Ele confessa que, enquanto auxiliava uma palestra sobre fisiologia, ele na verdade usou o dedo para simular os movimentos do coração de uma tartaruga que, se não tivesse sido irremediavelmente deteriorado, pulsaria quando certos nervos fossem estimulados. Usando todo o seu charme, James descreve seus pensamentos no momento:

Não havia tempo para deliberações. … pus-me a imitar, por um movimento impulsivo e automático, os movimentos rítmicos que o meu colega tinha predito. Poupei a experiência a um fracasso; e não apenas salvei o meu colega (e a tartaruga) da humilhação que teria sido fatal sem a minha presença de espírito, mas também dei à assistência a verdadeira noção do assunto. O professor afirmava um determinado fato, e a deficiência de um coração já meio-morto não devia destruir a impressão das suas palavras. (Essays in Psychical Research 364-65) 

Cientistas de mentalidade dura, bem como filósofos, têm naturalmente uma relação antagônica em relação ao trabalho dos seus colegas. Isso é parte de uma concorrência saudável de idéias, e por isso um cientista ou um filósofo provavelmente deve ficar perplexo com olhares críticos. Certamente não é razoável, entretanto, dizer que a presença de tais olhares pode ter um efeito impeditivo sobre os impulsos mentais do pensamento de um cientista, ou um efeito moderador sobre o seu brilhantismo filosófico habitual. Os professores que tiveram de suportar os movimentos inquietos de uma classe entediada de estudantes podem avaliar isso, a não ser que ocorra de eles serem o tipo de professor capaz de uma consideração grupal dos seus estudantes a partir do seu filosofar. Ainda que tal agrupamento seja possível, provavelmente não é propício para um bom ensino. Um caso semelhante pode ser feito em relação à mediunidade, e isso parece ser o que James está a fazer.

Uma atmosfera de atenção crítica, dura, é mais saudável para a ciência hard do que para as ciências mais soft, e a pesquisa psíquica parece ser a ciência mais soft de todas elas. Talvez por causa de suas persistentes atitudes vitorianas sobre sexo —especificamente a necessidade de proteger o sexo mais honesto da ofensa — James sugere que os cientistas fossem autorizados a amolecer com Piper. Em vez disso, ele dirige seu olhar crítico sobre o controle primário de Piper, o masculino “Rector”,

é uma personagem impressionante, que possui num grau extraordinário o discernimento das necessidades íntimas dos assistentes e é capaz de dar conselhos elevados a espíritos críticos e meticulosos. Entretanto, sob muitos aspectos, este Rector — pelo menos quanto a mim me pareceu — é um insigne farsante, um ser mítico que finge ter uma ciência e um poder para os quais ele não possui qualquer título, a quem a contradição desconcerta, que cede à sugestão e tenta cobrir os seus fracassos por meio de desculpas plausíveis. Mas os espíritos acríticos consideram nestes fenômenos apenas a sua aparência exterior e nunca pensam em perguntar a si próprios qual o seu significado profundo. Uma vez que eles pretendem na sua maioria revelar a vida dos espíritos, é ou absolutamente como tais ou absolutamente como fraudes que são julgados. O resultado é que a opinião pública a este respeito é extremamente superficial. (Essays in Psychical Research 365) 

Parte da responsabilidade por essa superficialidade vem de críticos insensíveis dogmaticamente. Hall desqualificou a credibilidade de Piper, bem como a credibilidade de James, ao dizer que “um médico competente, alguém experiente em saúde mental, poderia tê-la curado anos atrás”. A análise de Hall sobre os seus transes, e as informações que ela forneceu durante eles, levaram-no a concluir que Piper era simplesmente “um caso interessante da personalidade secundária, com suas próprias características únicas” (como citado em Blum 304). Certo, ela apresentou algumas idéias notáveis, diz ele, mas como havia elementos de incerteza e, em sua opinião, fraude deslavada em suas outras declarações, Hall achou apropriado fazer uma rejeição por atacado dela e dos seus investigadores.

Como Blum coloca, Hall viu o seu projeto como parte de “uma batalha da boa ciência contra o misticismo maléfico.”

A ciência é na verdade uma ilha sólida situada no meio de um mar tempestuoso, nebuloso e desconhecido, e todos esses fenômenos são do mar e não a terra. Se houve eras de iluminação, é porque esses bancos nebulosos de superstição. . . se levantaram por um espaço ou temporada. (Blum 305) 

O mundo científico de James é maior, compreendendo tanto a terra e o mar, enquanto o de Hall é apenas terra seca. James é naturalmente mais simpático às idéias nebulosas de Piper e nunca questionou sua integridade básica. Neste sentido, ele pegou o que sem dúvida é uma abordagem mais feminina e simpática e certamente uma forma mais geral de caridade. A acadêmica Linda Simon escreve que “Piper parecia quase relutante em compartilhar seus talentos especiais. Foi, por vários relatos, uma jovem modesta, cuja própria timidez reforçou a credibilidade para os James. Ela preferiu reunir-se com apenas um pequeno número de pessoas, às vezes seu marido e pai entre eles, em uma alcova particular de sua casa” (Simon 201). Além disso, Blum escreve que “e[la] que não queria ser um médium. Ela estava esperando um segundo filho. Queria ser uma mãe e uma esposa respeitável. Ainda assim, ela tinha que saber se isso era um dom dado por Deus. Leonora Piper orou sobre isso. Ela não conseguia decidir-se a se afastar de todos os interlocutores” (Blum 98). De acordo com essas autoras, Piper é caracterizada como tímida, frágil, confiável e obediente Estas avaliações podem ser comparadas com a do eminentemente masculino Martin Gardner:

Cada investigador psíquico da Sra. Piper ficou impressionado com sua simplicidade e honestidade. Nunca lhes ocorreu que nenhum charlatão alcança grande sucesso agindo como um charlatão. Nenhum espião profissional age como um espião. Nenhum trapaceiro nas cartas se comporta à mesa como um trapaceiro nas cartas. Nenhum golpista de sucesso age como um golpista. Nenhum falso psíquico jamais dá a impressão de ser qualquer coisa exceto honesto. (Gardner 23) 

Ainda que nós não precisemos ser, como Gardner é, superficiais e a priori críticos de Piper, nós também não queremos ser superficiais em aceitar. Ficamos com as irresolutas investigações de James, que, por sua própria admissão, levaram-no a lugar nenhum em particular, pelo menos em termos da descoberta científica comum. James confessa que 25 anos de pesquisa o deixaram tão perplexo quanto quando ele começou. “Em certos dias fui tentado a crer que o Criador tinha, desde toda a eternidade, condenado este setor da natureza à decepção”, observa ele. E “embora fantasmas e visões, manifestações e mensagens dos espíritos pareçam continuar a existir sem poderem ser explicados totalmente — os fenômenos que lhe dizem respeito jamais seriam susceptíveis de confirmação integral”. Então, quanto tempo deve-se viver em um estado tão incerto? Parece que o mulherengo James considera um mundo de explicações insatisfatórias bastante suportável: “Devemos contar, não com quartos de século, mas com metades de século ou mesmo séculos inteiros para marcar progressos nesta matéria” (Essays in Psychical Research 362).

Última Chamada para William James

Passou-se agora mais de cem anos desde a morte de William James. Assim como alguns de seus colegas da Sociedade de Pesquisas Psíquicas tinham feito, James deixou clara a sua intenção de se comunicar com amigos e familiares após a sua morte, se tal fosse metafisicamente ou praticamente possível. Harry Houdini, um notável defraudador do paranormal, deu a conhecer intenção semelhante, e sua esposa, depois de participar de várias sessões infrutíferas, finalmente expressa-se com um cinismo lúdico. “Dez anos é muito tempo para esperar por qualquer homem”, disse ela e, em seguida, abandonou seus esforços.

Talvez cem anos seja tempo suficiente para o resto do mundo esperar fielmente por uma manifestação de William James. Hoje em dia, a questão da comunicação mediúnica não está mais perto de ser resolvida. Se, como diz Charles Sanders Peirce, as pessoas normalmente tentam estabelecer crenças para parar a irritação da dúvida, então a pesquisa psíquica é obrigada a ser especialmente irritante. O resultado de tal irritação não é apenas superficialidade do pensamento, mas também o antagonismo entre céticos e crentes. Um exemplo disso vem do psicólogo e pesquisador psíquico contemporâneo Gary Schwartz — o novo William James da pesquisa psíquica — que diz que uma vez ele foi confrontado por um agressivamente cético Penn Jillette (de Penn & Teller) antes de uma aparição em um talk show. “Como você pode acreditar naqueles mentirosos c_____tãs [sic]?” disse Penn fervendo, referindo-se às médiuns Allison DuBois e Suzane Northrup, também convidados no show. Schwartz relata Penn dizendo que os pesquisadores simpáticos como Schwartz “tomaram a memória de minha mãe em vão” (Truth about Medium 76-77). Tais atitudes parecem ser uma irritada mistura de rigor científico com sentimentalismo defensivo. Uma atitude irritada similar vem do lado espiritualista. DuBois, por exemplo, diz que os céticos raivosos têm “problemas de abandono”, acreditam que eles são “superiores em inteligência do que o resto da sociedade”, e “vêem qualquer sinal de emoção como uma fraqueza” (III).

James seria mais propenso a concordar com DuBois. Ele tende a seguir em espírito a opinião de Swedenborg, que observa que as pessoas que passaram além do véu da existência comum estão intrigadas com a ignorância das pessoas por trás do véu. Swedenborg disse que ele falou com os espíritos sobre como as pessoas do mundo não os reconhecem, e como os “acadêmicos pensam as pessoas que acreditam neles são simplórias”.

Espíritos ficam deprimidos com o fato de que este tipo de ignorância ainda é comum no mundo e, especialmente, na igreja. Dizem, porém, que essa crença decorre principalmente de acadêmicos que pensaram na alma com base na realidade física sensorial. (Swedenborg 344) 

James estava ciente desta atitude científica, simpático a ela, e ainda não [estava] entre os ignorantes. Para ele, a inteligência não envolve apenas a adesão exclusiva de princípios racionais ou empíricos tradicionais, mas sim um compromisso global com a mais ampla noção de experiência.

Ele começa seu artigo de 1898 Human Immortality defendendo a inflexível premissa materialista do seu dia, ou seja, que o pensamento é uma função do cérebro. Mas James, em seguida, pergunta se, dada esta dependência do pensamento quanto ao cérebro, ainda é cientificamente justificado acreditar na possibilidade de vida após a morte. Ele diz que somente aqueles limitados pelo “puritanismo da ciência” negariam automaticamente a possibilidade. Esta visão puritana deriva de uma insistência de que a funcionalidade produtiva é o único tipo possível de funcionalidade. A funcionalidade produtiva envolve objetos “criando ou gerando interiormente seus efeitos” (William James, Human Immortality 13). A ilustração que ele dá é a de que o pensamento é o vapor, e o cérebro é uma chaleira. Considerada desta maneira, a mente não pode existir sem o cérebro.

Talvez como uma forma de defender os espíritos deprimidos de Swedenborg, James argumentou que os cientistas devem estar dispostos a considerar dois outros tipos de funcionalidade, ou seja, a funcionalidade libertadora e a funcionalidade transmissiva. A funcionalidade libertadora envolve a “remoção de um obstáculo”. O pensamento é como o rifle, enquanto o cérebro é o gatilho. A funcionalidade transmissiva envolve peneiração ou limitação, onde a dependência envolve algo a ser “determinado para um certo curso ou forma” (James, Human Immortality 14). O pensamento é como um raio de luz em torno de uma igreja, e o cérebro é o vitral. A metáfora de James envolve música sacra.

As teclas dos órgãos abrem sucessivamente os vários tubos e deixam o vento escapar das câmaras de ar de várias maneiras. As vozes dos vários tubos são constituídas pelas colunas de ar tremendo à medida que surgem. Mas o ar não é gerado no órgão. O órgão próprio, distinto da sua câmara de ar, é apenas um aparelho para deixar suas porções soltas sobre o mundo nestas formas peculiarmente limitadas. (Human Immortality 14-15) 

Um órgão de igreja surdo, assim, é espiritualmente sugestivo: o ar das tubulações faz com que os bancos chacoalhem com simpatia, e as caixas torácicas dos paroquianos podem até cantarolar bem, reforçando a idéia de que uma força maior está realmente presente na igreja e em todo o seu mobiliário. James, em seguida, transforma esta metáfora sacra em uma hipótese metafísica: “Suponha, por exemplo, que todo o universo de coisas materiais — o mobiliário da terra e o coro do céu — revelassem-se ser um mero véu da superfície dos fenômenos, escondendo e mantendo atrás de si o mundo das realidades genuínas” (Human Immortality 15).

Não é difícil ver o pai de James assombrando seu filho aqui. Seguindo Swedenborg, Henry James, Sr., acreditava que o mundo material existe para servir o mundo espiritual maior, impedindo o seu pleno influxo de forma a ser percebido pelos seres humanos. Em The Secret of Swedenborg, ele diz que a natureza é “o elemento de retenção de volta ou resistência, sem o qual ele nunca poderia se manifestar” (28). Em outras palavras, a relação entre a natureza e espírito é entendida como uma funcionalidade permissiva ou transmissiva.

William James afirma que, mesmo que a mente esteja totalmente relacionada com o cérebro, é possível que haja algo mental que esteja presente mesmo após a desintegração do cérebro. Esta hipótese, que envolve considerar a existência de uma realidade transcendente, apresenta uma imagem fiel da experiência, em sentido lato. A experiência religiosa, como as pessoas costumam relatar, envolve algo como PES.

É como se houvesse na consciência humana em sentido de realidade, um sentimento de presença objetiva, uma percepção do que podemos chamar alguma coisa ali, mais profunda e mais geral do que qualquer um dos “sentidos” especiais e particulares pelos quais a psico­logia atual supõe que as realidades existentes são originalmente reveladas. Na medida em que as concepções religiosas fossem aptas a tocar esse sentimento da realidade, seriam cridas a despeito da crítica, ainda que fossem tão vagas e remotas a ponto de serem quase inimagináveis, ainda que pudessem ser não-entidades do ponto de vista da natureza essencial como Kant quer que sejam os objetos da sua teologia moral. (William James, Varieties 55) 

A experiência religiosa envolve um vago sentimento de realidade mais profunda que não pode ser descontado, e que pode envolver até mesmo um imperativo moral indefinido. Postular uma realidade mais profunda para explicar o fenômeno da consciência fornece, de acordo com James, uma representação mais fiel do que as pessoas comumente experimentam. Cientistas e teólogos dogmáticos são suspeitos de tal religiosidade em primeira mão, não mediada pela razão, mas James está disposto a considerar o seu valor. “Em comparação com estes quadros racionalizantes, o empirismo pluralista que eu professo oferece uma aparência triste”, escreve James. “É um tipo de caso turvo, confuso, meio gótico, sem um esboço abrangente e com pouca nobreza pictórica” ??(William James, Writings 650). O retrato de James da realidade é impressionista, o Starry Night da psicologia empírica.

James afirma que a teoria da funcionalidade produtiva é misteriosa a respeito da gênese do pensamento e, portanto, não oferece nenhuma vantagem definitiva sobre as outras teorias. “A teoria da produção é, portanto, nem um pouquinho mais simples ou crível em si mesma do que qualquer outra teoria concebível”, conclui ele. “Ela só é um pouco mais popular” (William James, Human Immortality 22). A popularidade de que James se refere parece ser limitada aos cientistas, uma vez que entre os não-cientistas, a funcionalidade permissiva e a transmissiva são as favoritas. “O senso comum”, diz ele, “acredita em realidades por trás do véu ainda que muito supersticiosamente” (Human Immortality 15).

James tinha a intenção de ficar atrás do véu de Leonora Piper, e passou 25 anos a persegui-la, flertando com ela, ao mesmo tempo em que mantinha em casa sua vida filosófica de investigação científica inflexível. Não se trata de algo como uma provocação romântica acontecendo aqui, com James sorrindo em assentimento. No capítulo “Stream of Thought” de The Principles of Psychology, James explica um fenômeno curioso que é comum a todos.

Suponha que tentemos lembrar um nome esquecido. O estado da nossa consciência é peculiar. Existe uma lacuna nela, mas não uma mera lacuna. É uma lacuna que é intensamente ativa. Uma espécie de fantasma do nome está nela, chamando-nos em uma determinada direção. Fazendo-nos em momentos formigar com o sentido de nossa proximidade, e, em seguida, deixar-nos afundar de volta sem o termo almejado. . . . mas a sensação de uma ausência é toto coelo outra do que a ausência de uma sensação. É um sentimento intenso, o ritmo de uma palavra perdida pode estar lá sem um som para vesti-la, ou o sentido evanescente de algo que é a vogal ou a consoante inicial pode zombar de nós irregularmente, sem crescer mais distinto. (William James, The Principles of Psychology 251-52) 

Pensamentos nus, imagens acenando-nos e recuando: este é o caminho que James descreve a busca de sentido na experiência. Além disso, o uso do termo “fantasma” aqui parece ser mais do que meramente metafórico. Médiuns afirmam estar ouvindo pessoas cujos nomes não conseguem ouvir bem. O efeito desta alegação sobre o assistente é a criação de um intervalo de expectativa. Existe uma presença entre este intervalo de expectativa, em que o nome é conhecido, mas não é expresso, e o próprio intervalo de expectativa do médium, em que o nome é vagamente expresso, mas não é conhecido. Um fantasma está presente, num sentido tão literal quanto a psicologia permite.

Interesses Contemporâneos

“Eu posso não conseguir o nome todo”, explica o médium contemporâneo John Edward”, mas eu praticamente sempre consigo a inicial ou o som. Ao longo dos anos eu tenho sido capaz de aumentar o volume, mas isso não tornou mais fácil entender as mensagens. Se houvesse uma coisa que eu gostaria de pedir aos espíritos, seria para  falar devagar e mais claramente” (Edward 48). Não obtendo a adesão dos espíritos, Edward deve pedir aos seus assistentes para acelerar e pensar mais vagamente. A habilidade de amplificação (ou talvez ele queira dizer “receptividade”), à qual Edward faz alusão é a sua capacidade para o trabalho, e incentivar seus assistentes para trabalhar, para tornar mais clara a vaga experiência da comunicação humana.

Para ficar claro, médiuns como Piper e Edward não estão alegando ajudar a criar as almas, eles estão afirmando entrar em contato com espíritos. Mas o fato de que eles poderiam estar errados sobre isso não faz deles fraudes; isso só mostra que eles precisam entender o pragmatismo. A verdade, para os pragmatistas, refere-se a um inquérito comum, que cria hipóteses de trabalho. Não é, como diz James no pragmatismo, uma “relação estática de correspondência… entre as nossas mentes e a realidade”, mas sim “um comércio rico e ativo … entre certos pensamentos nossos, e o grande universo de outras experiências” em que eles se encaixam (39) A principal pergunta que pode ser feita sobre o trabalho dos médiuns é se ele realmente funciona no sentido mais amplo. É aqui que os céticos têm o seu caso mais fraco. As objeções não-metafísicas para a mediunidade apresentado pelos céticos são geralmente centradas em três preocupações: (1) a injustiça financeira (2), o dano psicológico para os indivíduos, e (3) o dano lógico para as comunidades, o que eu vou chamar de “poluição epistemológica”.

(1) Piper, e, mais recentemente, Edward e DuBois, fazem um bom dinheiro com seus serviços, fato que deixa as pessoas desconfortáveis. E ainda assim os psicoterapeutas comuns também fazem um bom dinheiro, e eles não são considerados antiéticos simplesmente por esse motivo. Se as pessoas estão sendo explorados financeiramente por médiuns ou por psicoterapeutas, então a própria exploração é o problema. Não se pode argumentar que as pessoas estão sendo explorados financeiramente simplesmente porque elas estão sendo tratados com um método que é epistemologicamente questionável (ou mesmo epistemologicamente duvidoso). O pragmatismo muda o foco aqui longe de preocupações metafísicas, e em direção daquelas verdadeiramente éticas. Se há uma preocupação aqui, tem a ver com se os benefícios psicológicos são compatíveis com os honorários a serem pagos. Mas aqui se pode estar inclinado a argumentar que o trabalho dos médiuns na verdade é mais valioso do que o dos psicoterapeutas comuns, uma vez que os médiuns são mais eficazes para ajudar os pacientes a lidar com a perda. Alguém que afirma (independentemente da sua justificação lógica para fazê-lo) estar em contato com a pessoa morta parece mais eficaz terapeuticamente do que alguém que afirma apenas estar recebendo os clientes em contato com seus próprios pensamentos da pessoa morta.

(2) Há uma tendência, ao criticar a mediunidade, em se confundir impropriedade epistemológica e censurabilidade moral. No entanto, mesmo que seja verdade que não haja vida após a morte, isso não implica que a terapia de Edward seja prejudicial para o seu público alvo. Se a realidade da situação é que a aniquilação espera por todos, isso não significa que somos prejudicados por acreditar em algo contrário à realidade. Certo, crenças que são inconsistentes com a realidade tendem a ser desvantajosas, equipando-nos mal para experiências futuras. “Ai daquele cujas crenças jogam rápidas e soltas com a ordem que siga as realidades em sua experiência”, diz James em Pragmatism. “Elas vão levá-lo a lugar nenhum, ou então fazer falsas ligações” (99). John J. McDermott comenta que a famosa corrente de pensamento de James “não é sem perigos, atada com pistas falsas, becos sem saída e armadilhas de todo locus que se possa imaginar e também que não se possa” (McDermott 134). No caso da crença na vida após a morte, no entanto, é difícil, se não impossível, ver como tal crença, mesmo que ela contradiga a realidade, poderia nos colocar em uma situação ruim no futuro, uma vez que, é claro, a aniquilação não é apenas uma situação inimaginável; trata-se de nenhuma situação em absoluto. Argumentos no sentido de que negar a realidade não é ético têm como premissa a crença de que abraçar a realidade é sempre a coisa mais ética de fazer. Isso, no entanto, é bem como dizer que se deve encorajar as pessoas a correrem nuas a céu aberto durante o meio de um inverno de Iowa. Por quê? Porque é muito frio lá fora.

A preocupação mais relevante é que os clientes podem descobrir que os médiuns são fraudes, desanimarem e, assim, ficarem pior do que se tivessem que lidar com a realidade fria em primeiro lugar. No entanto, a fim de chamar os médiuns de fraudes, uma ou duas coisas devem ser estabelecidas. Uma, deve-se provar que o médium está na posse da verdade, isto é, de que ele sabe que não há vida após a morte. A melhor evidência seria a experiência direta, mas, é claro, a experiência direta é impossível neste caso. Caso contrário, deve-se mostrar que os médiuns estão apresentando crenças derivadas de processos de investigação patentemente comuns que envolvem pouco do trabalho construtivo duro que fui atribuindo aos médiuns em seu processo de comunicação. Em outras palavras, eles teriam de ser pegos fraudando, bem similar a quando um aluno é pego plagiando, ao invés de apenas treinar para criar um artigo. A melhor forma de fazer isso é descobrir um médium colhendo informações específicas relevantes de antemão, ou que ele se alimenta de tais informações em tempo real, por exemplo, por meio de um ponto eletrônico escondido em seu ouvido.

Sem essas provas concretas, no entanto, a imputação de fraudulência é certamente discutível. Se é fraudulento adivinhar os pensamentos de alguém usando as informações disponíveis, enquanto conversava com um assistente, então toda a comunicação humana é fraudulenta, por que não temos acesso direto aos pensamentos de outras pessoas, mas em vez disso temos de inferir os seus pensamentos a partir das evidências imediatamente disponíveis — tais como suas palavras. Uma exploração semelhante ao que Gardner defende, e a qual Hall promulgou, não demonstra fraude claramente. Isso apenas mostra que pelo menos alguma imaginação está envolvida no processo de adivinhação. Não mostra que é inteiramente imaginária de uma forma completamente enganosa. Sabemos que uma grande quantidade de imaginação está envolvida na comunicação comum, e por isso a preocupação não é inerente à fraude ao que os médiuns estão fazendo, mas sim na medida em que eles estão envolvidos com o processo de comunicação. Que eles alegam estar fazendo um pouco mais, ou seja, contatando algo que para eles é claramente sobrenatural, é evidência somente de que eles estão presos em um pensamento metafísico desnecessário. A médium contemporânea Allison DuBois de fato reconhece este problema.

Às vezes, os médiuns recebem imagens que nos obrigam a jogar charadas com o outro lado, e às vezes interpretam mal o que nos é mostrado. É por isso que descrever o que você vê para o assistente é importante; é uma forma mais pura de veicular uma mensagem. Não é tão eficaz para uma pessoa dotada tentar racionalizar a informação que recebe. Você não quer manchar a informação com inferências de sua preferência. (DuBois 67) 

A implicação aqui é que, se o médium não consegue interpretar algo, o assistente tem de fazê-lo. De todo modo, no entanto, a imaginação está envolvida. Parece razoável que a comunicação com as pessoas do outro lado seja pelo menos tão vaga como a comunicação com as pessoas neste mundo. Se o outro lado está, em certo sentido, muito longe de nossa experiência comum, é razoável esperar que a comunicação seja mais vaga, de um modo análogo ao fato de que as chamadas de telefone do exterior possam ser mais difíceis de ouvir do que as nacionais. Insistir que a comunicação com o outro lado precisa ser tão semioticamente clara como a nossa comunicação comum é negar a possibilidade de comunicação de outro mundo, em primeiro lugar. É insistir em janelas transparentes ao invés de vitrais na igreja, e enquanto a primeiro talvez sirva para os fins da ciência hard, pode-se perder algo bonito se elas forem insistidas na religião. Mais importante ainda, pragmaticamente falando, é artificial exigir clareza completa em ciência assim como é artificial exigir certeza absoluta na ciência. O falibilismo é uma característica do pragmatismo que pode ser destacada especialmente bem no caso do meio de comunicação.

DuBois, no entanto, parece concordar com os pressupostos dos céticos, ou seja, que a comunicação deve ser clara, não adulterada por inferências. É compreensível que Gardner insista que seja valioso para os médiuns agir como se eles fossem dominados por outra fonte. Afinal, tanto ele quanto médiuns como DuBois acreditam que a verdade é algo que existe para além da inferência humana como derivada de interesse seletivo. Os espíritos de DuBois são como os elétrons de Gardner: discretos, dados primitivos sobre os quais a verdade é construída. Mas a conexão com esta realidade antecedente não é o que verdade pragmática trata em absoluto. Nem na Terra nem no Céu vamos validar a existência de alguém por de alguma forma conectar-nos com a sua essência metafísica. Como James diz: “a verdade de uma idéia não é uma propriedade estagnada inerente a ela. A verdade acontece com uma idéia. Torna-se verdadeira, é feita verdadeira pelos acontecimentos…. Sua validade é o processo de sua ação-validade (Pragmatism 97). Esse processo, quando utilizado em relação às pessoas mortas, é o da mediunidade.

(3) Mesmo que se admita que o valor da mediunidade, como, por exemplo, uma alternativa viável para a psicoterapia tradicional, ainda se tem de abordar a questão maior de se mediunidade incentiva atitudes perigosas em geral. Os céticos acreditam que os médiuns, incentivando o que consideram serem crenças injustificadas, estão prejudicando a sociedade. Os filósofos Theodore Schick Jr. e Lewis Vaughn acreditam que a propagação de crenças injustificadas ameaça as nossas vidas, o nosso sustento e o nosso bem-estar social. Medicina fraudulenta mata as pessoas, cartomantes levam o nosso dinheiro, e, uma vez que “oportunistas políticos gostam de brincar com os medos, esperanças e desejos das pessoas”, a falta de pensamento crítico suficiente significa que “nós podemos perder a nossa liberdade também” (Schick e Vaughn 13).

Mas não se arrisca a própria vida ou a liberdade por patrocinar Piper ou Edward. Se a manipulação egoísta ocorrer, seus resultados são suscetíveis de serem atos de pequenos furtos, em vez de assassinato em massa. No entanto, dizem os céticos, os médiuns são definitivamente perniciosos para todos nós:

Linhas psíquicas cobram S3.99 um minuto. Isso chega a $ 240 por hora, mais do que a maioria dos psicanalistas recebe. Chamadas telefônicas psíquicas costumavam ser uma indústria multi-milionária, com um grupo—a Psychic Reader’s Network—fazendo S300 milhões em encargos de serviços de telefonia em 2002. (Schick e Vaughn 12) 

Mas, mesmo que seja verdade que os videntes ganham mais dinheiro do que deveriam, isso não mostra que eles estão prejudicando os seus clientes. Schick e Vaughn caem na falácia da divisão aqui, assumindo que uma grande amostra de dinheiro duvidoso significa uma grande injustiça para com cada membro do grupo. Na verdade, cada pessoa pode contribuir com uma quantidade relativamente inofensiva de dinheiro para a causa duvidosa. Nos casos em que as pessoas gastam uma quantidade doentia de dinheiro, o que temos é uma questão ética diferente. Se algum vidente ou um psicoterapeuta tradicional explora financeiramente um cliente, podemos legitimamente condená-lo(a), mas isso não é a mesma coisa que condenar o psíquico ou o psicoterapeuta simplesmente por mentir para os clientes.

Afinal de contas, talvez os clientes estejam tendo o devido retorno pelo seu dinheiro, mesmo que eles estavam sendo cobrados mais do que um psicoterapeuta tradicional faria. Precisamos saber se os resultados psicológicos da consulta aos médiuns foram melhores do que os resultados da psicoterapia tradicional, e em caso afirmativo, se os benefícios globais superam a preocupação mais geral sobre a poluição epistemológica na nossa sociedade. Dado o testemunho dos próprios médiuns, bem como aqueles dados diretamente por seus clientes, parece que psicoterapia mediúnica, independentemente da sua integridade epistemológica, não é ineficaz. Na verdade, mais uma vez, é possível que a psicoterapia de Piper, Edward, e DuBois seja mais eficaz para lidar com os sintomas da dor do que a psicoterapia tradicional.

O argumento de Schick e Vaughn parece ser que a propagação da crença injustificada leva ao totalitarismo. Nos cem anos desde James—especialmente nos anos após a Segunda Guerra Mundial—nos tornamos hipersensíveis às tentativas de manipulação política maníaca. É difícil acreditar que um político hoje em dia iria tão longe retoricamente, alegando contato com um guia espiritual em questões de política pública. Talvez isto seja atribuído ao trabalho dos céticos, que conseguiram ao menos fazer o público avaliar mais criticamente o seu mundo. Em suma, os próprios esforços epistemológicos dos céticos do mundo, curiosamente, parecem enfraquecer seus argumentos éticos.

Em terreno epistemológico, os céticos podem ter a posição mais forte; sobre as grandes questões da ética, no entanto, a sua posição é consideravelmente mais fraca. Os argumentos de Schick e Vaughn dependem da crença falaciosa de que todas as formas de crença injustificada são as mesmas. Mesmo que seja verdade que todos os líderes de seitas afirmem ser psíquicos, isso não significa que todos os médiuns são líderes de seitas, e na verdade nenhum deles é. Devemos ter o cuidado de usar nossas faculdades críticas em todos os momentos, e estarmos dispostos a analisar em vez de supersticiosamente agrupar todos da Nova Era em uma única presença demoníaca.

Imagine-se um médium. Você é treinado para procurar evidências a respeito do seu cliente e a fazer inferências. Assim que a evidência vem, mais idéias inferenciais surgem, e uma idéia de uma pessoa começa a tomar forma. A princípio, isso era uma criatura extremamente vaga, mais sutil do que os sentidos ordinários percebem, mas clara o suficiente para ser uma intuição. Ela wsclarece a si mesma durante a leitura, com as provas e as inferências crescendo em um ser de tamanho perceptível. O embrião, eventualmente, transforma-se num feto.

O que acontece a seguir surpreende a todos. O médium perde a consciência da leitura como uma técnica e apenas a experimenta como um fenômeno. O processo ganha vida própria. Ele se desmama do alimento do cliente mãe e o incentivo do médium pai. O espírito fala por si só. Como uma criança que pronuncia coisas incríveis em meio a todo o burburinho, o espírito jorra deslumbrar tiros certeiros em meio a toda a tagarelice. Em algum momento, o processo se torna tão automático que um espírito pode surgir espontaneamente. Médiuns como Laurie Campbell afirmam estar recebendo mensagens de espíritos, mesmo antes do início da sessão, como se houvesse uma fonte da energia espiritual, ou pelo menos uma fonte da sua própria energia mental, antecipando a descarga (Schwartz, Afterlife 17,6).

Um dia, minha filha de dois anos estava comendo seu lanche quando ela casualmente disse que tinha visto um extraterrestre na cozinha. Curioso, pedi por mais detalhes. Ela disse algo sobre um frigorífico e o fato de que ele tinha uma perna. Quando perguntada sobre o que esse intruso invisível estava fazendo, ela respondeu que ele estava comendo biscoitos. Entretido, eu tinha alguém que desenhou uma imagem do extraterrestre perneta ladrão de biscoitos que ela descreveu. Mas antes que eu enviasse a minha filha para algum psicólogo, resolvi investigar mais. Eu logo percebi que havia um curioso suvenir exibido na parte superior do armário em cima da geladeira. Era um pedaço de pau em cima do qual estava uma pequena cabeça vermelha do diabo cheia de feijões para sacudir. Esta relíquia dos rituais da América Central tinha dois chifres que eram semelhantes às proverbiais antenas dos marcianos. Sua boca estava aberta, e quase parecia estar olhando para uma lata que costumava ser cheia de biscoitos de Natal. Eu resolvi o mistério e senti a satisfação de desmentir que revigora os céticos.

Eu também pensei no que minha filha tinha feito. Ela fez uma observação inocente, e, em seguida, forneceu detalhes mais interessantes em resposta à minha curiosidade. Eu admirei sua criatividade até que percebi que ela provavelmente não estava ciente de ser criativa. Ela estava apenas respondendo às minhas perguntas, não fazendo distinção entre relatar sua experiência e falar sobre a sua experiência. Isto é certamente uma função de ela ser uma criança, mas eu não diria que ela não conseguiu distinguir entre fato e história, e sim que tal distinção não era importante para ela. Se, talvez, estivessem faltando biscoitos na cozinha, e ela estivesse sendo interrogada sobre o assunto, a distinção entre fato e história torna-se relevante. A responsabilidade pessoal é uma questão importante, e eu gostaria de apontar gentilmente para ela que ela não deveria culpar alienígenas por suas próprias transgressões. Mas, sem crime cometido, tudo o que eu podia fazer era apreciar o seu relato e a forma bonita em que a experiência e a imaginação estavam em jogo na nossa comunicação.

Histórias como essa permitem entender melhor o que James estava fazendo com a sua investigação sobre Piper. Não há nada tão anti-ético nas ações de Piper que mereça condenação. Alguém pode reclamar que Piper não deveria ser tão criança e James não deveria ser um pai tão amoroso, mas o comportamento infantil não é em si o problema. Houve, sem dúvida, efeitos bastante bons de suas ações—no mínimo a valorização da estima por uma conversa cuidadosa—para justificar o tipo de extensa investigação que James realizou.

Se cem anos é suficientemente extenso é outra questão. Não pode ser posto contra James que ele passou tanto tempo brincando com a sedutora Leonora Piper. Durante esse tempo, ele construiu relacionamentos, promoveu habilidades de pensamento crítico, e ainda entendeu os mistérios da personalidade humana. Na pior das hipóteses, James esteve envolvido em um pouco de diversão inofensiva, alguns flertes agradáveis ? com os caprichos do pensamento humano e da emoção. E devemos fazer o que ele mesmo suplicou que fizéssemos em seu artigo “On a Certain Blindness in Human Beings” [“Sobre uma Certa Cegueira nos Seres Humanos”], ou seja, “tolerar, respeitar e satisfazer aqueles a quem vemos inofensivamente interessados e felizes ao seu próprio modo, embora isso possa ser ininteligível para nós”. Nós devemos ter uma atitude de “não toque”, uma vez que “nem toda a verdade, nem toda a bondade, é revelada a qualquer observador” (William James, Talks to Teachers 149), quer seja um observador cético ou um crente.

Na melhor das hipóteses, ele estava envolvido na pesquisa que tem o potencial de beneficiar a humanidade. Se o universo do crente for o real, e a consciência continuar após a morte, então as nossas ações atuais podem ter maior significado, e é melhor que nós aceitemos essa realidade. Se o universo do cético for o real, e a morte ser simplesmente a aniquilação, não nos prejudicamos por pensar o contrário. Devido à influência do pai de William James, a noção de vida após a morte habitada por espíritos comunicantes era uma opção viva. Aqueles de um temperamento científico inflexível, por outro lado, “terão vontade de vomitar tal subjetivismo de sua boca”. Tais pessoas contrabalançam o subjetivismo ao acreditar que “o intelecto incorruptivelmente confiável devesse sem hesitação preferir amargor e inaceitabilidade ao coração inebriado”. Ele oferece um lema cético: “Fortalece minha alma saber/Que, embora eu pereça, a verdade é esta” (William James, Will to Believe 7).

As investigações de James em Piper, assim, são realizadas a fim de combater tal atitude, que subordina a vida à verdade fria, amarga. Sua disposição para refutar tais atitudes, sob o risco de escandalizar a sua posição entre os outros profissionais, é uma das qualidades mais cativantes de James, ao ponto onde eu proclamaria: “Fortalece a minha alma saber/Que embora James pereça, o seu pragmatismo religioso é este”.

Referência original: Last Call for William James: On Pragmatism, Piper, and the Value of Psychical Research. Tadd Ruetenik · The Pluralist 7.1 (2012):72-93. 

Traduzido por Vitor Moura Visoni.

28 respostas a “Última Chamada para William James: Sobre o Pragmatismo, Piper e o Valor da Pesquisa Psíquica (2012)”

  1. Gorducho Diz:

    Li rapidamente o artigo e talvez não o tenha interpretado corretamente. Com esta ressalva, digo que não me pareceu mais um artigo a ressaltar as qualidades da Leonora Piper.
    O autor faz uma exposição correta do pragmatismo do WJ, que leva à tese da crença útil – tese essa aparentemente tão cara aos espíritas, particularmente ao Kardec.
    Depois o autor expõe e parece concordar com a tese correlata que a LP em particular, e “médiuns” em geral, mal não fazem se tiverem uma influencia psicológica positiva sobre o consulente.
    Foi o que interpretei da vista-d’olhos.

  2. Vitor Diz:

    Oi, Gorducho
    sua leitura está correta, mas há alguns trechos que o autor defende Piper. Exemplos:
    .
    01 – “A posição de Gardner, entretanto, requer que acreditemos em uma dedicação extraordinária para a fraude por parte de Piper”
    .
    02- “Não há nada tão anti-ético nas ações de Piper que mereça condenação”.
    .
    Tanto a primeira quanto a segunda frase ressaltam uma das maiores qualidades de Piper: a honestidade.

  3. Marciano Diz:

    Fiz como Gorducho, uma leitura dinâmica, infelizmente o tempo não perdoa.
    Suportar dor é algo não muito difícil, os bonzos deram exemplos surpreendentes durante suas imolações em protestos.
    James filho, pelo que se depreende do trecho de biografia, era louco por mulheres (quem não é?). Leonora, segundo o artigo, era uma mulher sedutora (seria um eufemismo para “gostosa” ou ela gostava mesmo de seduzir?).
    Estou mais afinado com o James pai, os espíritos deveriam ser mais interessantes e menos melosos e chatos.
    Essa história da falsa sobrinha lembra uma similar, de cx, em que ele, apesar da ambiguidade, serviu de ponte de comunicação entre um espírito inexistente, uma armadilha, e o esperto que inventou a história.
    James estava extasiado demais com a sedutora Leonora.
    A história da mecha de cabelo também depõe contra James.

    Parece que a paixão cegou seus olhos ou calou sua boca.
    Estou mais afinado com James pai, os “espíritos” poderiam deixar de bla-bla-bla sentimentaloide e dizerem algo de útil.
    Isso sim, seria pragmatismo.
    .
    Vitor, uma sugestão: embora a palavra “rapto” também tenha o sentido da palavra “rapture” em inglês, ela seria melhor traduzida por “arrebatamento”, “êxtase”.
    Rapto está mais correntemente associado a subtração de uma pessoa mediante violência ou ameaça, especialmente para fins sexuais.
    A tradução deve provocar no leitor a mesma ideia que o original provoca no falante nativo.
    Só me atrevi porque você pediu.

  4. Gorducho Diz:

    Origem na intuição imediata; origem em autoridade pontifícia; origem em revelação sobrenatural, seja por visão, audição, ou impressão indizível; origem em possessão direta por um espírito superior, expressando-se em profecias e admoestações; origem no discurso automático em geral — essas origens têm sido colaterais para a veracidade de uma opinião depois da outra que encontramos representadas na história religiosa. (William James, Varieties 24)
     
    Aqui temos o equivalente WJ ao na minha opinião definitivo dito do Edgar Saveney [Le Spiritisme et les Spirites, Revue des deux mondes, 47, 15/9/1863] com o qual ele mostra a circularidade lógica que “fundamenta” a Doutrina Espírita [trad. minha]:
     
    A certeza de todos esses ensinamentos repousa em grande parte, para o Sr. Kardec, sobre o fato de provirem dos espíritos: é verdade por outro lado que ele considera a existência desses ensinamentos como probatórios da existência dos espíritos; mas não lhe façamos chicana nesse ponto: ele nos responderia não ser o único exemplo dum sistema tão logicamente construído e bem estruturado que tudo se sustém indiferentemente tomando-se o objeto provado pela prova ou a prova pelo objeto provado.

  5. Marciano Diz:

    William James em rota de colisão com Vitor Moura.
    Vitor nega o livre arbítrio e William James o defendia com unhas e dentes.
    .
    “Free will[edit]
    In The Will to Believe, James simply asserted that his will was free. As his first act of freedom, he said, he chose to believe his will was free. He was encouraged to do this by reading Charles Renouvier, whose work convinced James to convert from monism to pluralism. In his diary entry of April 30, 1870, James wrote,
    I think that yesterday was a crisis in my life. I finished the first part of Renouvier’s second Essais and see no reason why his definition of free will—”the sustaining of a thought because I choose to when I might have other thoughts”—need be the definition of an illusion. At any rate, I will assume for the present—until next year—that it is no illusion. My first act of free will shall be to believe in free will.[22]
    In 1884 James set the terms for all future discussions of determinism and compatibilism in the free will debates with his lecture to Harvard Divinity Schoolstudents published as “The Dilemma of Determinism.” In this talk he defined the common terms “hard determinism” and “soft determinism” (now more commonly called “compatibilism”).
    “Old-fashioned determinism was what we may call hard determinism. It did not shrink from such words as fatality, bondage of the will, necessitation, and the like. Nowadays, we have a soft determinism which abhors harsh words, and, repudiating fatality, necessity, and even predetermination, says that its real name is freedom; for freedom is only necessity understood, and bondage to the highest is identical with true freedom.”[23]
    James called compatibilism a “quagmire of evasion,”[23] just as the ideas of Thomas Hobbes and David Hume that free will was simply freedom from external coercion were called a “wretched subterfuge” by Immanuel Kant.
    James described chance as neither hard nor soft determinism, but “indeterminism”. He said
    “The stronghold of the determinist argument is the antipathy to the idea of chance…This notion of alternative possibility, this admission that any one of several things may come to pass is, after all, only a roundabout name for chance.” [24]
    James asked the students to consider his choice for walking home from Lowell Lecture Hall after his walk.
    “What is meant by saying that my choice of which way to walk home after the lecture is ambiguous and matter of chance?…It means that both Divinity Avenue and Oxford Street are called but only one, and that one either one, shall be chosen.”[25]
    With this simple example, James was the first thinker to enunciate clearly a two-stage decision process (others include Henri Poincaré, Arthur Holly Compton, Karl Popper), with chance in a present time of random alternatives, leading to a choice which grants consent to one possibility and transforms an equivocal ambiguous future into an unalterable and simple past. There is a temporal sequence of undetermined alternative possibilities followed by also undetermined choices.
    James’ two-stage model effectively separates chance (undetermined alternative possibilities) from choice (the free action of the individual, on which randomness has no effect).”
    .
    Fonte: Wikipedia
    http://en.wikipedia.org/wiki/William_James
    .
    Obs.:
    O trecho acima não consta da Wikipédia em português. Ela é sempre mal traduzida e cheia de lacunas.

  6. Marciano Diz:

    Cesar Grisa faz regressão e cura pessoas.
    Parapsicólogo bom esse.
    http://www.menteaberta.net/

  7. Marciano Diz:

    Do site do espírita e parapsicólogo curador Cesar Grisa, sobre William James:
    http://www.lipappi.com.br/menteaberta/index.php?option=com_content&view=article&id=29:william-james-e-a-pesquisa-psiquica-&catid=7:textos

  8. Marciano Diz:

    Do site http://www.autoresespiritasclassicos.com/Pesquisadores%20espiritas/William%20James/William%20James.htm:
    “William James publicou ainda a obra “Etudes et Reflexions d’un Psychiste”, na qual afirma que, na Inglaterra, cerca de um adulto sobre dez vê fantasmas.
    Nessa mesma obra, diz ele:
    “Quando uma teoria vem, sem cessar, à discussão, todas as vezes que a crítica ortodoxa a enterra, ela reaparece cada vez mais sólida e mais dura de acutilar, e podereis estar certo de que nela há uma parte de verdade…”.
    “Muitas vezes a ciência matou os Espíritos, como uma das muitas superstições populares e, entretanto, nunca nos falaram deles com tanta abundância nem com tão grande aparência de autenticidade.”
    Fontes: Universidade Harvard”

  9. Marciano Diz:

    Estou em dúvida se o corvo fêmea era branco ou se o pesquisador era cego.

  10. Vitor Diz:

    Oi, Marciano
    comentando:
    .
    01 – “Suportar dor é algo não muito difícil, os bonzos deram exemplos surpreendentes durante suas imolações em protestos.”
    .
    Há pessoas que nascem sem a capacidade de sentir dor devido a uma mutação genética (chama-se “insensibilidade congênita à dor”). Talvez fosse o caso de alguns bonzos. Fica difícil saber. Agora, sabe-se que Piper fora do transe sentia muita dor.
    .
    02 – James filho, pelo que se depreende do trecho de biografia, era louco por mulheres (quem não é?). Leonora, segundo o artigo, era uma mulher sedutora (seria um eufemismo para “gostosa” ou ela gostava mesmo de seduzir?).
    .
    Ela sempre foi bastante fiel ao marido até a morte dele, e teve duas filhas. Não se sabe de outros relacionamentos dela.
    .
    03 – “Essa história da falsa sobrinha lembra uma similar, de cx, em que ele, apesar da ambiguidade, serviu de ponte de comunicação entre um espírito inexistente, uma armadilha, e o esperto que inventou a história.”
    .
    O próprio Hall admitiu que descobriu depois uma pessoa de mesmo nome da sobrinha inventada:
    .
    “a relative within three days mentioned to me incidentally one Bessie Beals, still living, as a friend, whom I may have heard her speak of before. If so, the control read the name registered in my subliminal mind. ”
    .
    Não está, assim, descartada a possibilidade de um fenômeno paranormal genuíno.
    .
    04 – “James estava extasiado demais com a sedutora Leonora.”
    .
    Não penso que isso tenha lhe afetado a capacidade crítica. James, aliás, nunca aceitou a hipótese de espíritos.
    .
    05 – “A história da mecha de cabelo também depõe contra James.”
    .
    O Gardner apenas especulou com base na falta de informações sobre o episódio. E mesmo que o episódio tenha acontecido como imaginado, o autor do artigo batiza-o de uma leve conspiração, no máximo.
    .
    06 – “Vitor, uma sugestão: embora a palavra “rapto” também tenha o sentido da palavra “rapture” em inglês, ela seria melhor traduzida por “arrebatamento”, “êxtase”.
    Rapto está mais correntemente associado a subtração de uma pessoa mediante violência ou ameaça, especialmente para fins sexuais.
    A tradução deve provocar no leitor a mesma ideia que o original provoca no falante nativo.
    Só me atrevi porque você pediu.”
    .
    Oi, Marciano, não há problema, mas o trecho em que aparece a palavra rapto faz parte da citação de um trecho de um livro de James já traduzido. Peguei essa parte da tradução do livro. Fiz isso para ficar de acordo com a tradução “oficial”.

  11. Marciano Diz:

    Oi, Vitor, eu fiz uma leitura muito rápida do texto.
    Provavelmente fui afoito em algumas considerações.
    Vou procurar ir lendo atentamente aos poucos.
    Um abraço.

  12. Higor Diz:

    Vitor, já viu os vídeos deste canal, “Diálogo Com Os Espíritos_Do Outro Lado Da vida”?

    http://www.youtube.com/user/jeffersonviscardi/videos?view=0

    Vi alguns vídeos, é até interessante, mas ficamos sempre na dúvida.

    Abraço

  13. Higor Diz:

    Os melhores nas minha opinião são os com esse cara aqui, Pai Joaquim De Aruanda,

    http://www.youtube.com/watch?v=UreG9U3S9vs

    que da uma dissecada no Livro Dos Espíritos.

    Abraço

  14. Larissa Diz:

    Por que um espírito se intitularia eu veludo? Pq ele não fala q o nome dele é simplesmente José ou Roberto, p. Ex.? #curiosidade

  15. Larissa Diz:

    Eu = exu

  16. Arnaldo Paiva Diz:

    Boa noite a todos
    .
    Gostaria de deixar meus comentários sobre alguns pontos deste tópico.
    .
    PP: Piper foi considerada por James como sendo o único contra-exemplo para a alegação de que todos os médiuns são inúteis.
    .
    ARNALDO: A grande maioria das pessoas, não querem ou não vêem nenhuma importância em saber se a vida continua ou não, para elas tanto faz, elas querem viver o presente, e até mesmo quando elas acreditam que existe algo além da matéria, por não fazer a mínima idéia de como será o viver depois da morte, não vêem nenhuma importância nem utilidade nos médiuns. Poucos ou quase ninguém valorizam aquilo que não compreende. Outra parte não interessa por não querer mudar seu modo de ser, largar seus vícios, e assim por diante. Mas a verdade é como o sol, dissipa os mais densos nevoeiros.
    .
    A Sra. Piper era uma sensitiva dotada de vários tipos de mediunidade como sejam: A clarividência, a psicometria, a psicofonia, a psicografia, a xenoglossia e a precognição.
    .
    Para quem lida com a mediunidade e médiuns sabem o quanto é difícil uma médium dotada de tantas faculdades mediúnicas se manter em equilíbrio, pois o assédio espiritual é muito grande. Como costumamos dizer, tiro o chapéu para essa médium em se manter em equilíbrio com tantas faculdades e num meio tão hostil como o em que ela viveu.
    .
    Hoje, diante de tantas faculdades, o que se recomenda, ou o recomendável é que o médium escolha aquela com a qual ela mais se afiniza, mais se sente confortável – se assim posso me expressar – e trabalhe se informando sobre o mecanismo de funcionamento da mesma, educando-a para saber identificar o que está se passando consigo, e com o passar do tempo, à medida que vai adquirindo experiência, trabalhando também a parte moral, vai abrindo espaço para o uso das demais. Até onde lí, parece que as mediunidades mais usadas nas experiências com a Sra. Piper, foram a psicofonia e psicografia.
    .
    As faculdades paranormais dessa médium foram pesquisadas por vários cientistas como Dr. Richard Hodgson, prof. James Harvey Hyslop, Sir Oliver Lodge, Fredrich W. H. Myers, sr. e sra. Henry Sidgwick, prof. Charles Richet e outros..
    .
    PP: Como a historiadora da ciência Deborah Blum conta, os homens queriam testar o seu estado de transe: “Quão profundo era o transe? Poderia ser penetrado, quebrado por sensações? Os homens picaram-na com alfinetes, queimaram-lhe o braço com um fósforo, seguraram amônia sob o seu nariz. Nada parecia perturbar o torpor semelhante ao sono” (164).
    .
    Segundo nos informa o livro, Charles Richet realizou uma sessão com a Sra. Piper, quando em Cambridge, e descreve como o transe aconteceu:
    .
    “(…) Ela tem necessidade para o seu transe de agarrar a mão de alguém. Segura então a mão de qualquer pessoa durante alguns minutos, ficando em silêncio e em semi obscuridade. No fim de algum tempo – de cinco a quinze minutos – ela é tomada de pequenas convulsões espasmódicas que se vão exagerando, terminando por uma pequena crise epileptiforme bem moderada. Ao sair dessa crise cai em estado estupor, com respiração um tanto estertorosa, que dura cerca de um ou dois minutos; depois, de repente, irrompendo a voz, sai desse estupor (…).
    .
    Temos também a descrição do transe feita pelo professor Oliver Lodge que, como diz o livro, “(…) um homem respeitado nos meios científicos da Inglaterra, membro da Sociedade Real, como William Crookes, descreveu o começo do transe, pouco mais ou menos nos mesmos termos, no notável relatório que publicou em 1890, sobre as sessões que realizou com Madame Piper. Lodge notou também a pequena crise epileptiforme, se bem que, ajunta ele, não sendo médico, seja apenas semi-competente. (Proc. of the S.P.R., vol. vi. p. 444).(…)”
    .
    Pela forma descrita por Richet e Oliver Lodge, a faculdade da Sra. Piper neste momento, é o somanbulismo, cujo mecanismo se dá pelo afastamento do Espírito médium, e a aproximação do Espírito comunicante, que se apossando temporariamente do sistema nervoso central do médium, passa a comandar o corpo do mesmo – e se assim posso me expressar -, passa a ver com os olhos do médium, a ouvir com os ouvidos do médium, exercendo um controle no sistema vocal do médium daí a mudança de voz citada por Richet.
    .
    “(…) Sua voz transformou-se; não é mais Madame Piper que está ali, mas outra personagem – o Dr. Phinuit – que fala com voz grossa, com ares viris e com acento misturado de uma algaravia de negro, com francês e dialeto americano (…)”.
    .
    PP: A posição de Gardner, entretanto, requer que acreditemos em uma dedicação extraordinária para a fraude por parte de Piper, algo que James, por exemplo, não acreditava. A questão para James, então, parece ser se Piper era arrastada para um estado onde ela não sentia dor ou, simplesmente, se ela se colocava em um estado onde era capaz de suportar a dor para um bem maior.
    .
    Tinha por dever moral apresentar alguma coisa a qual ele estava entendendo como fraude, e não somente, tinha de apresentar através de uma investigação, de uma experiência onde ficasse claro por A mais B que a médium havia fraudado a começar pelo transe.
    .
    O Dr. Hodgson é um dos primeiros obreiros da Sociedade de Pesquisas Psíquicas. Foi durante toda a sua vida um terrível inimigo da fraude. Quando a Sociedade foi instituída, a fundadora da Sociedade Teosófica, Madame Blavatsky, costumava falar muito dele. Fenômenos dos mais extraordinários se reproduziam na sede central da Sociedade Teosófica, nas Índias. O Dr. Hodgson para lá foi enviado, com o fim de os estudar com imparcialidade.
    .
    Depressa percebeu que tudo aquilo era charlatanismo indigno e prestidigitação. De volta à Inglaterra escreveu um relatório que só não matou a teosofia porque as religiões, mesmo nascentes, têm vida forte, mas que desacreditou essa doutrina para sempre aos olhos das pessoas mais criteriosas. Depois então os teósofos mudaram suas baterias, não provocam mais fenômenos, têm mesmo por todos os fenômenos físicos um desprezo profundo. Possuem um método transcendente de pesquisas deles mesmos, mas que não está ao alcance da inteligência comum dos mortais, e a humanidade não está perto de julgar o seu valor.
    .
    Depois desse golpe de mestre, o Dr. Hodgson não cessou de dar caça aos médiuns fraudulentos. Iniciou-se em todos os seus truques e adquiriu habilidade de prestidigitador. Foi ele ainda quem descobriu as fraudes inconscientes3 de Eusápia Palladino durante as sessões que este médium italiano realizou em Cambridge.
    .
    Quando semelhante homem, após ter estudado tanto tempo os fenômenos de Madame Piper, nos vem afirmar a sinceridade dela, nós o podemos acreditar. Ele não é um ingênuo, não é um enfatuado nem um místico.
    .
    Continua

  17. Marciano Diz:

    Larissa,
    Quando eu jogava capoeira, tinha um ponto que era cantado mais ou menos assim:
    Quem vem lá, sou eu
    Quem vem lá, sou eu
    A porteira bateu
    O cavaleiro sou eu
    Oi, sou eu, sou eu (Quem vem lá)
    Oi, sou eu de veludo (Quem vem lá)
    Coberto de luto (Quem vem lá)
    Fumando charuto (Quem vem lá)
    .
    Parecia mais ponto de macumba do que de capoeira.
    .
    Paranauê, Paraná!

  18. Lúcio Diz:

    Higor: dei uma olhada por alta em alguns vídeos do canal que você postou. Só tem uma coisa que não entendo: por que esses espíritos não trazem nada de novo? A mensagem é sempre a mesma, independente da “entidade” ou da seita/religião.

  19. Martinez Diz:

    Vitor,

    Esta matéria mostrou então que a Piper pode ter sido fraude? porque demorou-se tanto para publicar essa matéria? não diziam que ela foi uma médium legitima? várias matérias publicadas aqui smpre colocaram ela como uma médium livre de fraudes, essa matéria deixou indicios fortes de que a tal da Piper não foi uma médium legitima.

  20. Vitor Diz:

    Oi, Martinez
    eu e você acho que lemos artigos diferentes… em nenhum momento o autor questiona a legitimidade de Piper. Veja:
    .
    01 – “A posição de Gardner, entretanto, requer que acreditemos em uma dedicação extraordinária para a fraude por parte de Piper”
    .
    02- “Não há nada tão anti-ético nas ações de Piper que mereça condenação”.
    .
    Se isso não é uma defesa de sua legitimidade, não sei o que é.

  21. Arnaldo Paiva Diz:

    Boa noite Vitor:
    .
    Com isso você quer dizer que a mediunidade dSra. Piper ficou comprovada!

  22. Vitor Diz:

    Oi, Arnaldo

    sim, sempre defendi a autenticidade da mediunidade dela. Só não posso dizer se eram espíritos ou alguma outra faculdade paranormal, embora eu tenda para a explicação de espíritos em alguns casos.

  23. Martinez Diz:

    Vitor,

    Entendi, mas é que em alguns momentos eu vi uma leve desconfiança do autor por exemplo quando ele coloca a frase:”Cada investigador psíquico da Sra. Piper ficou impressionado com sua simplicidade e honestidade. Nunca lhes ocorreu que nenhum charlatão alcança grande sucesso agindo como um charlatão. Nenhum espião profissional age como um espião. Nenhum trapaceiro nas cartas se comporta à mesa como um trapaceiro nas cartas. Nenhum golpista de sucesso age como um golpista. Nenhum falso psíquico jamais dá a impressão de ser qualquer coisa exceto honesto”. (Gardner 23)
    Me pareceu que ele quis dizer que ainda sim a Sr:Piper possa ter agido dessa forma a sua vida toda ou seja! se passando espetacularmente como médium.

  24. Vitor Diz:

    Martinez,
    nessa parte não é o autor escrevendo, é Gardner. O autor está reproduzindo as palavras de Gardner. Gardner foi severamente criticado pelo autor durante o texto todo.

  25. Gorducho Diz:

    Eu volto a dizer que, na minha interpretação, a real tese do autor é concordar com a crença útil – que caracteriza o pensamento do WJ. Ou seja: “médiuns” mal não fazem se oferecerem consolo e esperanças aos consulentes. É análogo às psicoterapias.
    Segundo a Wikipedia, no ano 10 Mrs Piper chegava a fazer 20 bucks por séance. Em valores de hoje seria uma passagem aérea para um trecho relativamente longo!
     
    Mas, mesmo que seja verdade que os videntes ganham mais dinheiro do que deveriam, isso não mostra que eles estão prejudicando os seus clientes.
    (…)
    Afinal de contas, talvez os clientes estejam tendo o devido retorno pelo seu dinheiro, mesmo que eles estavam sendo cobrados mais do que um psicoterapeuta tradicional faria. Precisamos saber se os resultados psicológicos da consulta aos médiuns foram melhores do que os resultados da psicoterapia tradicional, e em caso afirmativo, se os benefícios globais superam a preocupação mais geral sobre a poluição epistemológica na nossa sociedade. Dado o testemunho dos próprios médiuns, bem como aqueles dados diretamente por seus clientes, parece que psicoterapia mediúnica, independentemente da sua integridade epistemológica, não é ineficaz.

  26. Martinez Diz:

    Vitor,

    Sim!, eu já sabia que não era o autor quando eu disse “ele coloca a frase” eu quis dizer a frase do próprio Gardner, mas é porque eu me expressei mal!.

  27. Carlos Diz:

    Esses relatos sobre extraterrestres me fez lembrar alguns casos semelhante, que no mínimo são curiosos e valem uma olhada, aconteceram aqui no Brasil e verificou-se alta probabilidade de autenticidade segundo pesquisas de um grupo de estudos sério que já estive envolvido. Um desses casos de trata dos irmãos Facury que supostamente recebeu contato com seres não humanos durante quase duas décadas, o mais interessante disso é que há um grande acervo de evidências físicas como correspondências de cartas e mais, algo que merece o destaque de uma pesquisa científica profunda, até o momento só houveram análises de especialistas da grafologia, psicologia e ufologia sem grandes alongamentos, daria um livro fácil, se a história que os remetentes contam é real nem o autor consegue confirmar, o que ele afirma é o que aconteceu com base nas provas materiais, é tudo muito inusitado. Outro caso é o do Maurício do Devalaya Asharam, por incrível que parece esse outro também se deve uma credibilidade tendo em vista os resultados obtidos em pesquisa, apesar o suposto médium mistificar em sua postura espiritualista, houve concorrências contundentes que deram embasamento para seu selo de veracidade, como as previsões de avistamentos ufólogicas com locais e horários precisos adquiridos no que se sugere como mensagens via canal de mediunidade audiente, além desses casos, o mais complexo pelas circunstâncias, relatos e provas que já li foi o do Eugênio Siragusa. Já leu sobre algum desses casos, Vítor?

  28. Vitor Diz:

    Oi, Carlos,
    Nunca li. Vou buscar me informar. Grato!

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