O Brasil Anedótico, de Humberto de Campos (1927) x Brasil, Coração do Mundo, de Chico Xavier (1938)
Redescoberto mais um plágio de Chico Xavier. Digo ‘redescoberto’ porque esse plágio já havia sido divulgado pelo menos desde setembro de 1944 por Milton Barbosa, advogado da família do escritor Humberto de Campos, e publicado na REVISTA DA SEMANA. A Federação Espírita Brasileira até tenta se defender das acusações de plágio, mas as explicações são inaceitáveis a meu ver. Dito isso, vamos ao plágio.
O BRASIL ANEDÓTICO (1927) Humberto de Campos |
Brasil, Coração do Mundo (1938) Chico Xavier |
A LEI DAS APOSENTADORIAS Moreira de Azevedo – “Mosaico Brasileiro”, pág. 52. Chegada ao Rio de Janeiro em Era Agostinho Petra de Bitencourt juiz aposentador quando, um dia, lhe apareceu um fidalgote, requerendo aposentadoria em uma excelente casa, apesar de já ter uma. Dias depois veio pedir-lhe mobília e, finalmente, escravos. Ao receber o terceiro pedido, Agostinho Petra, que acompanhava a indignação do povo com tantos abusos da Corte, gritou para a esposa, no interior da casa: — Prepare-se Dona Joaquina, que pouco tempo podemos viver juntos. E indicando, para a mulher, que acorrera, o fidalgote insaciável: — Este senhor já duas vezes me pedir casa, depois mobília, e agora, criado. Brevemente quererá, também, mulher, e como eu não tenho outra senão a senhora, ver-me-ei forçado a servi-lo! |
A chamada lei das aposentadorias obrigava todos os inquilinos e proprietários a cederem suas casas de residência aos favoritos e aos fâmulos reais. Bastava que qualquer fidalgote desejasse este ou aquele prédio, para que o Juiz Aposentador efetuasse a necessária intimação, a fim de que fosse imediatamente desocupado. Ao oficial de justiça, incumbido desse trabalho, bastava escrever na porta de entrada as letras “P. R.”, que se subentendiam por “Príncipe Regente”, inscrição que a malícia carioca traduzia como significando — “Ponha-se na rua”. Moreira de Azevedo conta em suas páginas que Agostinho Petra Bittencourt era um dos juizes aposentadores ao tempo de D. João VI, quando lhe apareceu um fidalgo da corte, exigindo pela segunda vez uma residência confortável, apesar de já se encontrar muito bem instalado. Decorridos alguns dias, o mesmo homem requer a mobília e, daí a algum tempo, solicita escravos. Recebendo a terceira solicitação, o juiz, indignado em face dos excessos da corte do Rio, exclama para a esposa, gritando para um dos apartamentos da casa: — Prepare-se, D. Joaquina, porque por pouco tempo poderemos estar juntos. E, indicando à mulher, que viera correndo atender ao chamado, o fidalgo que ali esperava a decisão, concluiu com ironia: — Este senhor já por duas vezes exigiu casa; depois pediu-me mobília e agora vem pedir criados. Dentro em breve, desejará também uma mulher e, como não tenho outra senão a senhora, serei forçado a entregá-la. |
Agora, vejamos as explicações do presidente da Federação Espírita Brasileira, Wantuil de Freitas:
Os trechos de “Brasil Anedótico”, que são indicados como plagiados por Francisco Xavier, não podem ser considerados como tais. Qualquer escritor, relatando em nova obra o que já dissera em outra, repete frequentemente as mesmas expressões.
Comentário: Mas por qual motivo um autor repetiria em nova obra o que já dissera em outra? Para que se repetir? Isso é incorrer em uma prática nada honrosa de auto-plágio, muito mais comum no meio acadêmico do que no literário. Não é crime, mas é considerado antiético.
Ademais, não haveria necessidade de plagiar naquela narrativa feita em termos comuns.
Comentário: Não haver necessidade de plagiar não quer dizer que o plágio não tenha existido. E fica claro que existiu, dada a grande quantidade de trechos idênticos, por mais comuns que sejam os termos.
Muitos dos plágios apontados são aliás transcrições de trechos de outros livros e se encontram entre aspas, na obra psicografada.
Comentário: Esse trecho em específico, embora contenha uma transcrição de um livro de Moreira de Azevedo chamado “Mosaico Brasileiro”, não se encontra entre aspas. É certo que as aspas nesse caso não são necessárias, pois o Chico citou que se baseou em Moreira de Azevedo. Mas o plágio – ou o auto-plágio – continua a existir. Afinal, Chico copiou o trecho de um livro que cita um trecho de outro livro…
Abaixo segue a transcrição da reportagem publicada na REVISTA DA SEMANA.
OUTRA FASE DO CASO HUMBERTO DE CAMPOS
FALAM O ADVOGADO DA FAMÍLIA E O PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA — IRÁ O CASO AO FORO CRIMINAL — UM VERDADEIRO ESTUDO LITERÁRIO DAS OBRAS DE HUMBERTO DE CAMPOS E DE CHICO XAVIER — OS CACÓFATOS E OS PLÁGIOS DO “MÉDIUM” DE PEDRO LEOPOLDO — CONTESTAÇÃO DO SR. WANTUIL DE FREITAS — OS VERSOS DE CHICO XAVIER QUE SAIRAM NO “JORNAL DAS MOÇAS” — “GRAVES CONSEQUENCIAS PARA A LIVRARIA EDITORA E PARA CHICO XAVIER” — “OS POETAS TAMBÉM PODEM SER “MÉDIUNS” E VICE-VERSA”.
Reportagem de Paulo de Salles Guerra
Nos Estados Unidos o caso leria uma repercussão internacional. Os jornais e revistas se movimentariam freneticamente. Talvez fossem mandadas telefotografias para o mundo inteiro. E as manchetes sensacionalistas estariam gritando no alto das páginas das publicações de todas as espécies. Provavelmente já estaria sendo escolhido o cast para um filme que focalizasse o “caso”, tendo os diretores o cuidado de declarar previamente: “qualquer semelhança será mera coincidência”.
Acontecimento ímpar na história dos processos judiciais, surge no Rio o caso de um espírito que deveria comparecer ante a justiça.
Ante o brado de alarma da REVISTA DA SEMANA toda a imprensa se movimentou.
Os jornais seguiam as fases do processo. A família de Humberto de Campos intenta uma ação declaratória contra a Federação Espírita Brasileira, com o fim do verificar a autenticidade da obra, determinando as relações daí decorrentes.
Levado o caso a juízo, ficou decidido, de acordo com a sentença do juiz dr. Mourão Russell, que a família de Humberto de Campos não poderia pretender direitos autorais sobre as supostas produções literárias atribuídas ao espírito do escritor, concluindo ainda que:
“Do exposto se conclui que, no caso vertente, não ha nenhum interesse legitimo que dê lugar à ação proposta.” O caso parecia pois terminado e os jornais não mais se ocuparam dele.
Entretanto, soubemos que a família do conhecido escritor não se daria por vencida. A REVISTA foi então procurar o dr. Milton Barbosa, com o intuito do obter desse ilustre causídico maiores esclarecimentos sobre a questão.
Com aquela fluência que lhe é peculiar, sabendo do que se tratava, o dr. Milton Barbosa foi nos declarando:
— Quando ajuizei, em nome da viúva Humberto do Campos, a ação declaratória que tanta celeuma vem causando no País, apressei-me, em entrevistas a jornais desta capital, em afirmar que a solução final deveria ser confiada a uma comissão de cientistas e não de literatos, por isso que o estudo do estilo das obras psicografadas em cotejo com o estilo das obras do autor vivo não resolveria o problema.
— “Quis com isso deixar claro que qualquer semelhança de estilo entre a obra mediúnica e a obra produzida em vida por Humberto de Campos não poderia ter maior significação para a solução do problema, dada a possibilidade de assimilação de estilos.
— A la maniére de. . . como é público e notório, e tem sido mostrado por diversos escritores, principalmente franceses.
— Admite então que haja semelhanças entre as obras do Humberto do Campos vivo e as obras ditas psicografadas pelo “médium”?
— Se algumas semelhanças podem ser descobertas em trechos psicografados por Chico Xavier com o estilo de Humberto do Campos semelhança explicável com a leitura alenta das obras do grande memorialisla maranhense — elas não me impressionam absolutamente.
O dr. Milton Barbosa, advogado da família do escritor Humberto dc Campos, faz algumas declarações sensacionais em torno do sensacional processo.
O dr. Wantuil de Freitas, presidente da Federação Espírita Brasileira, quando nos mostrava a contra-minuta do agravo. O “caso” Humberto de Campos volta novamente ao cartaz. O nosso entrevistado refuta algumas acusações do advogado da família do conhecido escritor.
— E tem encontrado frequentemente essas semelhanças?
— Tal semelhança é rara, pois a obra psicografada e muito inferior, como se poderá demonstrar facilmente.
O advogado levanta-se e apanha um livro.
— Isto é apenas um exemplo — diz.
Tratava-se de um livro mediúnico. “Boa Nova” era o título. O nosso entrevistado abre e lê:
— “És mestre em Israel e ignoras estas coisas? — inquiriu Jesus como surpreendido. É natural que cada um somente testifique daquilo que saiba; porém, precisamos considerar que tu ensinas. Apesar disso não aceitas os nossos testemunhos. Se falando eu de coisas terrenas sentes dificuldades em compreendê-las com os teus raciocínios sobre a lei, como poderás aceitar as minhas afirmativas quando eu disser das coisas celestiais? Seria loucura destinar os alimentos apropriados a um velho para o organismo frágil do uma criança.”
E olhando para o redator:
Observou este cacófato: “Que cada”? E este verbo. Já ouviu alguém dizer “testifique”? O verbo para o caso seria “testemunhar”, é claro. Acha o senhor possível que um escritor como Humberto de Campos escrevesse estas coisas? E o dr. Milton prosseguiu:
— Escute este outro trecho:
“— Ainda não ponderaste, talvez, que o primeiro mandamento da lei é uma determinação de amor. Acima do “não mataras”, do “não adulterarás”, do “não cobiçarás”, esta o “amar a Deus sobre todas as coisas”, de todo o coração e de todo entendimento.”
— Será que este “adulterarás” tem a sua raiz no verbo adulterar, ou trata-se de palavra oriunda de adultério?
— E quanto à Federação Espírita?
— A atitude dessa Federação causou profunda decepção entre todos aqueles que, como eu, acreditavam na sua lealdade e boa fé.
Atribuindo a Humberto de Campos as obras psicografadas por Chico Xavier, não vejo como pudesse tão alta entidade religiosa esquivar-se da prova da sua legítima procedência. Não vejo como possam impressionar seus argumentos de que tal elucidação é ilícita, invocando como defesa o direito assegurado pela Constituição à liberdade de crença. E não contente com esta esquiva alega ainda a Federação, através de quase duzentas páginas da erudita contestação, a impossibilidade de “invocação” de um “espírito”. Ora, justamente ao contrario dessa tese, um grande espírita mineiro, líder incontestável do espiritismo no Brasil, o sr. Efigênio de Sales Vitor, em famosa entrevista a “O Globo”, assegurou, peremptoriamente, que o “espírito” de Humberto de Campos garantiu que o mesmo estava à disposição do juiz para o dia e a hora em que fosse necessária a sua presença para verificação da sua sobrevivência e da sua operosidade literária. Também um outro famoso líder espírita, conhecidíssimo em todo o Brasil, cuja palavra e de grande autoridade entre os crentes da doutrina de Alan Kardec, chegou a exibir a um dos brilhantes redatores desta revista os autógrafos de Humberto de Campos devidamente autenticados pelo grande escritor, com o mesmo talho de letra e com as mesmas peculiaridades gráficas do tempo em que era vivo o notável autor de “Os Párias”.
E agora tudo se esvaiu, tudo se esbateu como fumo… Em vista disso, que poderemos pensar da lealdade da Federação Espírita Brasileira? Tinha a impressão de que ela entrou nesse pleito com lealdade e boa fé, positivamente convencida da procedência da obra mediúnica apresentada por Chico Xavier.
Estudando este caso tenho me lembrado frequentemente do famoso processo Dreyfus, que todo o mundo conhece pela enorme repercussão que teve, envolvendo nomes famosos como o de Zola, que pôs sua pena e seu talento a serviço da justiça no seu livro “J’accuse!”.
A situação da Federação Espírita no caso presente parece-me semelhante a do Estado Maior Frances no processo Dreyfus, cuja desmoralização, por ocasião da revisão do processo, forçou alguns dos seus mais íntegros membros a falsificar documentos, inventor provas para contestar uma precipitada e injustificável atitude inicial de acusação ao inocente israelita.
— Considera a Federação Espírita em situação falsa?
Assinatura de Humberto dc Campos, no túmulo do conhecido escritor. |
Assinatura do “médium” de Pedro Leopoldo. Francisco Candido Xavier. |
— Isto parece evidente. Ela já deve ter sentido a precariedade de sua posição no pleito e tenta, por processos pouco justificáveis, evitar, a todo transe, as possibilidades de realização das diligências imprescindíveis para a constatação da legítima procedência das produções mediúnicas. De outro modo não se explica a sua alegação de que a ação é imprópria, de que é ilícita por atentar contra a liberdade de crença, e de que é impossível “invocar” o “espírito”. Se tudo leva a crer-se que se trata de uma mistificação, de um embuste, de uma falsa imputação de uma autoria e de uma usurpação de nome, para efeito de propaganda religiosa e de lucro comercial, a oposição a prova pleiteada pela família do escritor deveria impor-se aos olhos dos próprios dirigentes do espiritismo brasileiro.
— E quanto à sentença do juiz?
— Admito, para argumentar, que a ação possa ser julgada imprópria. Mas para onde nos levará a Federação Espírita Brasileira com tão sistemática e calorosa oposição?
— Acredita que a ação irá ao Foro Criminal?
— Quanto a isto não há a menor dúvida. E isto terá graves e compreensíveis conseqüências, prejudiciais, não só à religião espírita, como ao “médium” Chico Xavier e à livraria editora.
— A sentença será então reformada?
— A sentença prolatada pelo ilustre juiz Mourão Russell consagrou, de modo solene, o embuste. E não é possível que não seja reformada, pelo menos nessa parte, pois é absurda a sua conclusão, considerada a autora carecedora de ação.
— E quanto à obra mediúnica de Chico Xavier?
— Parece-me que justifiquei, no recurso interposto, a inteira procedência da ação declaratória. Tenho a impressão de que, na vulgaríssima obra psicografada, os trechos aproveitáveis são meros plágios da obra autêntica. E as idéias interessantes foram colhidas e constituem mera reprodução do que se encontra na vasta e notável obra de Humberto de Campos. Citei, no recurso que interpus, alguns desses plágios, mas há muito mais…
O senhor mesmo poderá confrontar esses dois trechos, um da obra autêntica de Humberto de Campos e outro de Chico Xavier.
O causídico mostra-nos o livro “Brasil Anedótico”, de Humberto de Campos, e aponta-nos um trecho, intitulado “A Lei das Aposentadorias”.
“Chegada ao Rio de Janeiro em
Era Agostinho Petra de Bitencourt juiz aposentador quando, um dia, lhe apareceu um fidalgote, requerendo aposentadoria em uma excelente casa, apesar de já ter uma. Dias depois veio pedir-lhe mobília e, finalmente, escravos.
Ao receber o terceiro pedido, Agostinho Petra, que acompanhava a indignação do povo com tantos abusos da Corte, gritou para a esposa, no interior da casa:
— Prepare-se Dona Joaquina, que pouco tempo podemos viver juntos.
E indicando, para a mulher, que acorrera, o fidalgote insaciável:
— Este senhor já duas vezes me pedir casa, depois mobília, e agora, criado. Brevemente quererá, também, mulher, e como eu não tenho outra senão a senhora, ver-me-ei forçado a servi-lo!”
Depois mostrou-nos o livro psicografado pelo “médium” Francisco Cândido Xavier, “Brasil, Coração do Mundo”, indicando-nos à página 123 o trecho seguinte:
“D. JOAO VI NO BRASIL
A chamada lei das aposentadorias obrigava todos os inquilinos e proprietários a cederem suas casas de residência aos favoritos e aos fâmulos reais. Bastava que qualquer fidalgote desejasse este ou aquele prédio, para que o Juiz Aposentador efetuasse a necessária intimação, a fim de que fosse imediatamente desocupado. Ao oficial de justiça, incumbido desse trabalho, bastava escrever na porta de entrada as letras “P. R.”, que se subentendiam por “Príncipe Regente”, inscrição que a malícia carioca traduzia como significando — “Ponha-se na rua”.
Moreira de Azevedo conta em suas páginas que Agostinho Petra Bittencourt era um dos juizes aposentadores ao tempo de D. João VI, quando lhe apareceu um fidalgo da corte, exigindo pela segunda vez uma residência confortável, apesar de já se encontrar muito bem instalado. Decorridos alguns dias, o mesmo homem requer a mobília e, daí a algum tempo, solicita escravos. Recebendo a terceira solicitação, o juiz, indignado em face dos excessos da corte do Rio, exclama para a esposa, gritando para um dos apartamentos da casa:
— Prepare-se, D. Joaquina, porque por pouco tempo poderemos estar juntos.
E, indicando à mulher, que viera correndo atender ao chamado, o fidalgo que ali esperava a decisão, concluiu com ironia:
— Este senhor já por duas vezes exigiu casa; depois pediu-me mobília e agora vem pedir criados. Dentro em breve, desejará também uma mulher e, como não tenho outra senão a senhora, serei forçado a entregá-la.”
— É fácil, confrontando os dois textos, perceber o plágio.
O nosso entrevistado se entusiasmava, procurando demonstrar as suas razões.
— E não é apenas isto. Poderia mostrar muitos outros trechos semelhantes. Parece-me evidente que Francisco Xavier tem mesmo alguns pendores literários. Provavelmente já estará informado de que em 1932 o “médium” já era poeta. Colaborava no “Jornal das Moças”. Seus versos, embora de inspiração pobre, eram metrificados, com boa técnica. Veja estes:
“SOBRE A DOR
Suporta calmo a dor que padeceres
Convicto de que ate dos sofrimentos,
No desempenho austero dos deveres,
Mana o sol que clareia os sentimentos.
Tolera sempre as mágoas que sofreres,
Em teus dias tristonhos e nevoentos.
Há reais e legítimos prazeres
Por trás dos prantos e padecimentos.
A dor, constantemente, em toda parte,
Inspira as epopéias fulgurantes,
Nas lutas do viver, no amor, na arte;
Nela existe uma célica harmonia,
Que nos desvenda, rápidos instantes,
Mananciais de lúcida poesia!”
Fotografia do uma carta do “médium” sr. Alarico Cunha, do Parnalba, alto funcionário da Cia. dc Vapores Booth, cuja mediunidade consiste em receber as mensagens com a letra e a assinatura dos próprios autores. Aqui vemos uma carta ditada pelo espírito de Humberto dc Campos, tendo a progenitor a do grande escritor assinado embaixo, reconhecendo a letra de seu filho.
O “médium” Francisco Cândido Xavier, que volta a ocupar novamente a atenção da Cidade com o caso das obras de Humberto de Campos.
O grande escritor Humberto de Campos, no seu fardão de imortal, quando entrou para a Academia Brasileira de Letras.
Aliás, os jornais já haviam noticiado essa habilidade do famoso “médium” de Pedro Leopoldo.
?
Seguindo o critério de imparcialidade absoluta que até agora vem mantendo em torno do momentoso “caso” Humberto de Campos e das obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, a REVISTA DA SEMANA queria saber como se manifestava a Federação Espírita Brasileira sobre esta nova fase do processo.
Nesse intuito fomos procurar o seu presidente, sr. Wantuil de Freitas.
— Quanto às poesias de autoria de Chico Xavier publicadas no “Jornal das Moças”, posso declarar que não as conheço. Mas estou ao par da história.
Quando os espíritos preparavam o “médium” em exercícios mediúnicos para a missão que deveria realizar, seu irmão, José Cândido, que então nada conhecia do espiritismo, ficou entusiasmado com a “veia poética” que supunha existir no Chico, e então ele, José Cândido, juntando os seus logogrifos às poesias recebidas pelo irmão, encaminhava-os às revistas, contra a vontade do Chico que, desde então, asseverava que as produções não eram suas. Isto durou até o ano de 1932.
Assim que conseguir uma dessas poesias poderei enviá-la ao Chico, para que ele diga qual foi o espírito que a ditou.
Ainda que Francisco Xavier fosse poeta, meu amigo, não haveria motivo para acusá-lo. Os poetas também podem ser “médiuns” e vice-versa.
— E quanto à qualidade da obra de Francisco Xavier, na opinião do dr. Milton Barbosa, nitidamente inferior às produções de Humberto de Campos?
— Esse assunto foi eficientemente esclarecido pelo nosso advogado. Mostra o dr. Carlos Imbassahy que nas citações do advogado da família do escritor não se vê nenhuma onde se possam encontrar vícios imperdoáveis de linguagem. Os erros que aí se encontram, ligeiras consonâncias, ecos, não podem ferir os mais apurados ouvidos. Não constituem verdadeiros cacófagos, dentro da definição dos gramáticos e filólogos.
Aliás, esses vícios podem ser encontrados nos melhores escritores da nossa língua.
— Os cacófagos empregados por Humberto de Campos na obra psicografada são encontrados a cada passo pelos melhores manejadores da pena. Por que não os empregaria Humberto?
Poderíamos dar, ao acaso, diversos exemplos dessas distrações praticadas pelos expoentes máximos da nossa língua. Camões os fez
Sofrer não pode ali o gama mais
“Entrava a formosíssima Maria”
E de Vieira:
“Que se chama Maria”
“Se as não tem feito”.
De Frei Luiz de Souza:
“Sem outra cama mais que uma taboa”.
“De nenhuma maneira podia cabar consigo”
De Camilo:
“Peça-lhe que a não venda”,
Com a condição de a não vender”.
De Castilho:
“Se a não procurem”.
Seria fastidioso continuar a citar exemplos dessa natureza.
Na própria obra do Humberto de Campos, cronista operoso que não dispunha do tempo para atender a esses detalhes, em vista do vulto da sua produção, encontramos cacófatos, como estes:
“Cuidassem dele como ela cuidara”
(“Sombras que sofrem”, 4ª edição, pág. 46, linha 21).
“E deixo-as não como lisonja”
(Idem, pág. 28, linha 1).
“… a mulher como ela é”; (Lagartos e Libélulas. 4ª edição pág. 28, linha 1).
— Mas a obra de Chico Xavier…
— Nada fica provado quanto ao mau gosto alegado em relação à produção literária do “médium”. Corno não ignora, são muitas as opiniões em contrário.
Quanto à afirmação de que a parte aproveitável desta obra não passa do grosseiro plágio, foi também ela refutada pelo nosso advogado. Os trechos de “Brasil Anedótico”, que são indicados como plagiados por Francisco Xavier, não podem ser considerados como tais. Qualquer escritor, relatando em nova obra o que já dissera em outra, repete frequentemente as mesmas expressões. Ademais, não haveria necessidade de plagiar naquela narrativa feita em termos comuns.
Limitamo-nos a repetir a opinião do ilustre beletrista mineiro, desembargador Mario Matos:
“O estilo de Humberto morto é ‘mais vivo’ do que Humberto-homem.”
Muitos dos plágios apontados são aliás transcrições de trechos de outros livros e se encontram entre aspas, na obra psicografada.
— O Dr. Milton Barbosa citou-nos também alguns trechos de Humberto em que o escritor mostrava-se um verdadeiro cético.
— E acha que, mesmo depois de se ter transformado em espírito, rodeado de outros espíritos, deveria continuar a descrer do espiritismo?
Há ainda outro ponto interessante a considerar. É o que se refere à frase do espírito de Humberto: “Eu que era tão perverso”. Como está muito bem observado na contra-minuta, essas frases já eram encontradas na sua obra escrita em vida: “E eu, miserável pecador”. “Eu, o último filho de um século que bebeu veneno no berço”.
— Será produzida a prova da manifestação do espírito?
— Evidentemente, o fenômeno não se poderá produzir contra certas leis. Não são apenas os espíritas e os “médiuns” que sabem disso. O fato é conhecido pelos próprios cientistas. Experiências que chegam ao resultado desejado em determinadas circunstâncias, provando o que se quer demonstrar, falham outras vezes pela ausência de algum elemento.
O espiritismo não procura esconder os fenômenos de ordem mediúnica. Milhares de pessoas, não apenas no Brasil mas no mundo inteiro, entro elas figuras de destaque, absolutamente insuspeitas, tiveram ocasião do presenciar esses fenômenos. Agora o que não podemos é produzi-los em tempo e lugar determinados.”
Despedimo-nos do sr. Wantuil. O presidente da Federação Espírita Brasileira acompanhou-nos até a porta. Aconselhou-nos s. s. a que fossemos procurar o dr. Imbassahy, advogado da Federação:
— Provavelmente o dr. Imbassahy tem algumas declarações interessantes a fazer sobre o caso, e poderia mesmo o ilustre causídico esclarecer certos pontos da questão.
Infelizmente a falta de tempo não permitiu que fôssemos procurar o ilustre advogado que tão brilhantemente vem defendendo a Federação.
— Quero ainda que dê uma explicação aos leitores da REVISTA DA SEMANA — disse ainda s. s. E’ quanto à acusação de que um dos volumes da obra psicografada já foi traduzido para o castelhano, a fim de ser lançado no mercado hispano-americano por uma editora argentina. Isto é verdade. Cumpre entretanto esclarecer que a Federação Espírita Brasileira não cobrou direitos autorais do editor argentino.
E o sr. Wantuil esboçava um sorriso.
?
Aqui ficam as duas entrevistas. Com quem está a razão?
Com a família do notável escritor? Com a Federação Espírita?
A argumentação é forte de ambos os lados. Limitamo-nos a apresentar aos nossos leitores esta fase nova do sensacional caso, para que possam julgar.
Ao alto — Diversas personalidades de destaque nas letras e na política seguram as alças do caixão de Humberto de Campos, no saimento da uma funerária. O escritor continua cada vez mais vivo através da sua obra.
Embaixo — A uma com os despojos do autor de “Memórias” quando era colocada no carro fúnebre.
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dezembro 14th, 2013 às 9:08 PM
Bom resgate histórico!
Parabéns!
dezembro 14th, 2013 às 9:48 PM
Não estou muito a par do processo da família de Humberto de Campos x FEB/CX, mas acredito que o advogado da família comeu bola. Segundo consta no texto, a família de Humberto de Campos intentou uma ação declaratória contra a Federação Espírita Brasileira, com o fim do verificar a autenticidade da obra, determinando as relações daí decorrentes. Ele errou a ação e o pedido, a meu ver. Como ele poderia pedir ao Judiciário a autenticidade da suposta obra mediúnica, já que para isso seria necessário aceitar a existência e a sobrevivência de espíritos, e alegar a sobrevivência do espírito de HdeC para que se verificasse, então, a autenticidade? Se intentada hoje, a ação seria declarada improcedente sem julgamento do mérito, sob a justificativa de que o objeto da ação é juridicamente impossível. Na verdade, ele deveria entrar, contra a FEB e CX, com uma ação condenatória pelo uso indevido do nome do autor – sem permissão dos herdeiros, já que se trata de autor morto – e indenização por perdas e danos. Tal como ocorreu, esse processo me pareceu um tanto kafkiano. Surrealista.
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De qualquer forma, não é de hoje que venho observando a forma pouco ética com que CX compôs a sua obra, à custa do nome e do prestígio alheios. Cada vez me convenço mais de que CX foi o maior farsante do século 20.
dezembro 15th, 2013 às 12:07 AM
Muito bom o artigo.
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Se fosse hoje, pelo Código de Processo Civil de 1973, a inicial seria indeferida, por inépcia, na forma dos arts. 267, I, c/c 295, I e parágrafo único, inciso III.
dezembro 15th, 2013 às 7:22 AM
Será que no arcabouço jurídico da época havia possibilidade de ação por uso indevido do nome (seria falsidade ideológica?)?
Direitos de imagem acho que não devia haver…
dezembro 15th, 2013 às 7:57 AM
Proponho (em linguagem de leigo, claro) a seguinte questão aos Srs. causídicos que aqui comentam: o que alegariam – ou seja, como tipificariam a cousa – dentro do arcabouço jurídico da época?
dezembro 15th, 2013 às 10:09 AM
Pq não chamaram o espírito para depor??? Aí o circo ficava completo!
dezembro 15th, 2013 às 12:00 PM
Gorducho, teria que ver no Código de Processo Civil de 1939, que era o vigente na época. Eu não guardo artigos de lei nem regras passadas, nem estou no escritório pra te dizer com o olho na lei. Também não sou versado em história legislativa, portanto não sei se na época havia lei de direitos autorais, mas mesmo assim com certeza acredito que o advogado da família Campos comeu bola. Esse processo foi surrealista. Interessante é que HdeC, que foi um jornalista e escritor bastante famoso em sua época, hoje está completamente esquecido. É mais lembrado como morto que como vivo.
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Arduin, concordo com você que não se pode analisar o racismo de Kardec sob a óptica de hoje; o que não aceito é que os espíritas de hoje usem os parâmetros de Kardec para justificar a sua (deles) doutrina.
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dezembro 15th, 2013 às 3:35 PM
Interessante é que HdeC, que foi um jornalista e escritor bastante famoso em sua época, hoje está completamente esquecido.
Diz que ele, principalmente por razões financeiras, escrevia crônicas & similares, com validade temporal limitada. Eu mesmo nada dele li.
Então encaremos positivamente: graças ao CX ele elaborou o mito de origem pátrio – ficou sendo o Virgílio brasileiro, para toda posteridade!
dezembro 15th, 2013 às 3:36 PM
teste 😀
dezembro 15th, 2013 às 6:23 PM
Tive a oportunidade d ler o V Humberto, escritor talentosíssimo, espírito esplêndido, erudito, dramático, satírico etc. A máquina do plágio o capturou, e c defendeu tenazmente. Com provas abundantes e tudo, a fama desses taumaturgos só fez crescer. Nem o judiciário mostrou empenho d c opor a ela. No processo dos espíritas, na França, a sociedade francesa já no XIX c mostrou muito + composta e coesa q a nossa, em meados e fim do séc. XX, condenando a farsa.
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+ 1 vez, parabéns Vitor.
dezembro 15th, 2013 às 6:33 PM
Estou longe de casa e do trabalho, além do fato de que, como TOFFO, também não sou especialista em história do direito.
Pelo que sei, a inicial seria indeferida do mesmo jeito, QUANDO VIGIA O CÓDIGO DE 1939, com base no art. 160, o qual tinha redação similar à do atual, que está para ser substituído também.
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“Art. 160. A petição inicial será indeferida, si (grafia da época) manifestamente inepta ou quando a parte for ilegítima”.
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Ou isso, ou a absolvição de instância (direito da época), quando o objeto do pedido não era lícito.
dezembro 15th, 2013 às 6:48 PM
Pelo que sei, a inicial seria indeferida do mesmo jeito, &c.
Meu questionamento reflexivo não foi este. Foi: haveria alguma outra alegação – outra fundamentação – que o advogado da família pudesse fazer?
dezembro 16th, 2013 às 1:12 AM
Respondido no post acima.
dezembro 16th, 2013 às 10:00 AM
Sem fazer troça: Com certeza, Chico Xavier foi o maior farsante da história do Brasil. Ninguém iludiu tantos e por tanto tempo quanto ele. E ainda virou mito. Um espírito elevadíssimo. Um mártir. Um santo.
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Na verdade, um mentiroso, fraudador e farsante. O maior de todos.
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Isto é Brasil…
dezembro 16th, 2013 às 10:07 AM
Cada dia me vejo mais desiludido com o BraZil. Pelo tamanho, economia e população, podia ser muitíssimo mais do que é. Mas é realmente um país de tolos.
dezembro 16th, 2013 às 10:28 AM
Horta de Marte, eu li muito o HdeC na adolescência (sempre fui leitor compulsivo), porque na minha casa havia uma coleção da obra dele, de capa dura, editada pela Jackson Editores, coisa fina. Talvez HdeC fosse tão popular na minha casa da época através de minha mãe, que era chiquista de carteirinha, como já disse, e assim tinha os seus “santinhos” particulares, inclusive esse, Campos. Depois dessa época nunca mais li nada que fosse dele, nem vivo nem morto. Mas ficaram-me impressões.
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HdeC vivo: era um escritor que manejava muito bem o idioma, linguagem clara e objetiva, talvez advinda da sua atividade jornalística. Mas estética e literariamente estava bem atrás de contemporâneos seus como Lima Barreto (de quem eu gosto de verdade!!) e Monteiro Lobato, que considero uma espécie de pai espiritual. Não admira que não tenha sobrevivido, ao contrário do Lima e do Lobato.
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HdeC morto: vivo, ele tinha uma mordacidade ferina, e uma língua um tanto afiada (no mau sentido), adorava uma fofoca e a meu ver pensava um tanto baixo demais. Por isso surpreende-me que ele tenha ‘ressurgido’ na pena de CX pouco depois de sua morte, porque pelos parâmetros chiquistas ele deveria purgar um bom tempinho no umbral para se habilitar ao telefone do além, mas isso não ocorreu. Por que será? André Luiz por muito menos amargou oito anos de umbral, ora pois! Talvez HdeC tivesse pistolão, sei lá, já que na sociedade nossolarista vale a influência e a interferência dos amigos, enfim… Do que me recordo da fase chiquista de HdeC, os contos e crônicas que ele escrevia psicograficamente, TODOS, tinham a mesma estrutura, a mesma chapinha: começo, desenvolvimento, a ‘chave do soneto’ e o desfecho moral. Um bocado diferente da maneira um tanto ácida e insidiosa que os escritos terrestres dele apresentavam e faziam a delícia de seus leitores de jornal. Terá o espírito dele sofrido uma reforma moral imediatamente depois da morte? Teria ele um QI (quem indicou) superior ao dos outros escritores? Gozaria da predileção do mentor, o ex-senador Lêntulo? Chi lo sà…
dezembro 16th, 2013 às 10:42 AM
Na verdade o CX vingou-se do HdeC por causa das críticas feitas à concorrência desleal exercida pelos escritores d’ultratumba sobre os terrícolas que viviam de sua produção literária.
Então, o CX não poderia manter a alma muito tempo no umbral 😀
dezembro 16th, 2013 às 10:45 AM
Interessante que é bem difícil obter-se as crônicas dele. Tenho pesquisado e até agora só alguns textos isolados…
dezembro 16th, 2013 às 2:48 PM
Toffo Disse:
Gorducho, teria que ver no Código de Processo Civil de 1939, que era o vigente na época. Eu não guardo artigos de lei nem regras passadas, nem estou no escritório pra te dizer com o olho na lei. Também não sou versado em história legislativa, portanto NÃO SEI SE NA ÉPOCA HAVIA LEI DE DIREITOS AUTORAIS, mas mesmo assim com certeza acredito que o advogado da família Campos comeu bola.
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COMENTÁRIO: havia sim lei de direitos autorais, tanto que a inicial, num dos quesitos assim postulava: “Se os direitos autorais pertencerão exclusivamente à Família de Humberto de Campos ou ao mundo espírita…”.
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Por outro lado, Toffo disse tudo: o advogado da viúva comeu bola feio! Ele queria que a justiça convocasse especialistas a se manifestarem a respeito da mediunidade, se real ou não e as implicações decorrentes da decisão, conforme reivindicava:
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“[…] deseja a Suplicante que V. Excia., submetendo a hipótese (para sua elucidação) a todas as provas científicas possíveis, se digne declarar, por sentença, se essa obra literária É OU NÃO DO ESPÍRITO DE HUMBERTO DE CAMPOS.”
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Quer dizer, a ação já nascia derrotada…
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Quando a reportagem na Revista da Semana fora publicada (em setembro de 1944), o indeferimento da ação proposta pela viúva havia sido dado, no entanto, o advogado acalentava esperança de que a decisão fosse reformada em segunda instância. Mas o tribunal de apelação manteve o pronunciamento.
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O advogado da família, a meu ver, argumentou aceitavelmente diante do repórter, quando disse:
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“Atribuindo a Humberto de Campos as obras psicografadas por Chico Xavier, NÃO VEJO COMO PUDESSE TÃO ALTA ENTIDADE RELIGIOSA ESQUIVAR-SE DA PROVA DA SUA LEGÍTIMA PROCEDÊNCIA. Não vejo como possam impressionar seus argumentos de que tal elucidação é ilícita, invocando como defesa o direito assegurado pela Constituição à liberdade de crença. E não contente com esta esquiva alega ainda a Federação, através de quase duzentas páginas da erudita contestação, a impossibilidade de “invocação” de um “espírito”. Ora, justamente ao contrario dessa tese, um grande espírita mineiro, líder incontestável do espiritismo no Brasil, o sr. Efigênio de Sales Vitor, em famosa entrevista a “O Globo”, assegurou, peremptoriamente, que o “espírito” de Humberto de Campos garantiu que o mesmo estava à disposição do juiz para o dia e a hora em que fosse necessária a sua presença para verificação da sua sobrevivência e da sua operosidade literária. Também um outro famoso líder espírita, conhecidíssimo em todo o Brasil, cuja palavra e de grande autoridade entre os crentes da doutrina de Alan Kardec, chegou a exibir a um dos brilhantes redatores desta revista os autógrafos de Humberto de Campos devidamente autenticados pelo grande escritor, com o mesmo talho de letra e com as mesmas peculiaridades gráficas do tempo em que era vivo o notável autor de “Os Párias”.
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E agora tudo se esvaiu, tudo se esbateu como fumo… Em vista disso, que poderemos pensar da lealdade da Federação Espírita Brasileira? Tinha a impressão de que ela entrou nesse pleito com lealdade e boa fé, positivamente convencida da procedência da obra mediúnica apresentada por Chico Xavier.”
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Ele requeria que a FEB demonstrasse que espíritos comunicam (em verdade, na contestação a FEB apresentou suas razões, fracas, mas defendeu-se bem). Só que ele deveria saber que não cabia a um tribunal prolatar decisão sobre legitimidade da atividade mediúnica. Se fosse o caso, ele que produzisse as provas que julgasse necessárias e entrasse com a negação de autenticidade da manifestação do espírito, o que ensejaria outro tipo de ação.
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Saudações causídicas.
dezembro 16th, 2013 às 3:07 PM
Como eu lhe disse, HdeC caiu no esquecimento. A obra dele entrou em domínio público uns anos atrás (faleceu creio que em 1934), mas acho que nenhuma editora se interessou por reeditar sua obra. Não tenho lido nenhuma resenha sobre ela.
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É interessante notar, também, que Monteiro Lobato faleceu em 1948 acreditando na sobrevivência da alma. Ele perdeu os dois filhos homens prematuramente e sofreu demais com a perda. Uns 5 anos antes de morrer, ele fez sessões espíritas em casa, utilizando a mulher e a filha como médiuns e atuando como “ateiro” (escrevedor das atas, que são deliciosas de ler). Ele dizia meio de brincadeira que queria contratar os serviços de CX quando morresse. Morreu, o tempo passou, e nada de CX psicografar Lobato. Algum tempo depois (minha memória não me ajuda, li isso não sei onde), o ex-senador Lêntulus teria dito que Lobato não seria apropriado para escrever d’além-túmulo por “ser muito independente” e muito popular – o quer dizer, no jargão chiquista, que ele seria indomável, indomesticável. Lobato teria deixado com seu amigo Godofredo Rangel uma senha caso viesse a se manifestar do além, mas, ou a senha nunca funcionou, ou Rangel morreu antes que alguma coisa acontecesse (ele morreu em 1951). A questão é que Monteiro Lobato era um estilo peculiar e portanto difícil demais para CX arremedar ou copiar. Era areia demais para o seu caminhãozinho. Um Lobato falsificado soaria como suicídio para sua carreira de médium. CX era esperto. Tanto é que, do seu parnaso literário, apenas os medalhões do passado distante despontaram, uma estética já consagrada como o condoreiro Castro Alves ou o simbolista Cruz e Sousa. Durante sua carreira literária grandes figuras da literatura passaram para o lado de lá: Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, &c. Com exceção do hoje obscuro HdeC, nenhuma delas entrou para a turma de CX. Por que será? Questão de afinidade mediúnica, dirão os espíritas. Para mim era prudência mesmo. CX podia ser tudo, mas bobo não era.
dezembro 16th, 2013 às 3:10 PM
Marciano: tanto havia regulamentação dos direitos autorais, como reproduzi aqui alguns dos artigos do antigo CC que tratavam da matéria, antes de sua revogação. Mais uma evidência de que o causídico da família tropicou e caiu mesmo.
dezembro 16th, 2013 às 3:15 PM
Art. 667.É suscetível de cessão o direito, que assiste ao autor, de ligar o nome a todos os seus produtos intelectuais.
§ 1º Dará lugar à indenização por perdas e danos a usurpação do nome do autor ou a sua substituição por outro, não havendo convenção que a legitime.
§ 2º O autor da usurpação, ou substituição, será, outrossim, obrigado a inserir na obra o nome do verdadeiro autor.
Art. 668. Não firmam direito de autor, para desfrutar a garantia da lei, os escritos por esta defesos, que forem por sentença mandados retirar da circulação.
Art. 669. Quem publicar obra inédita, ou reproduzir obra em via de publicação ou já publicada, pertencente a outro, sem outorga ou aquiescência deste, além de perder, em beneficio do autor, ou proprietário, os exemplares da reprodução fraudulenta, que se apreenderem, pagar-lhe-á o valor de toda a edição, menos esses exemplares, ao preço por que estiverem à venda os genuínos, ou em que forem avaliados.
Parágrafo único. Não se conhecendo o número de exemplares fraudulentamente impressos e distribuídos, pagará o transgressor o valor de mil exemplares, além dos apreendidos.
Art. 670. Quem vender ou expuser à venda ou à leitura pública e remunerada uma obra impressa com fraude, será solidariamente responsável, com o editor, nos termos do artigo antecedente; e, se a obra for estampada no estrangeiro, responderá como editor o vendedor, ou o expositor.
Art. 671. Quem publicar qualquer manuscrito, sem permissão do autor ou de seus herdeiros ou representantes, será responsável por perdas e danos.
Parágrafo único. As cartas-missivas não podem ser publicadas sem permissão dos seus autores ou de quem os represente, mas podem ser juntas como documento em autos judiciais.
Art. 672. O autor, ou proprietário, cuja obra se reproduzir fraudulentamente, poderá, tanto que o saiba, requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos, subsistindo-lhe o direito à indenização de perdas e danos, ainda que nenhum exemplar se encontre. Código Civil de 1916, artigos revogados em 1998 pela Lei de Direitos Autorais.
dezembro 16th, 2013 às 3:22 PM
Gorducho Diz:Interessante que é bem difícil obter-se as crônicas dele. Tenho pesquisado e até agora só alguns textos isolados…
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COMENTÁRIO: do Humberto psicografado vai achar bastante coisa. Do Humberto de verdade, tente os links a seguir:
http://www.joaodorio.com/site/index.php?option=com_content&task=view&id=959&Itemid=48 (neste tem crônicas de vários autores)
http://portugues.free-ebooks.net/search/humberto+de+campos (este vai deixar você feliz: mas precisa fazer inscrição, tem a paga e a gratuita)
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VITOR: o link de que lhe falei é o citado acima…
dezembro 16th, 2013 às 4:06 PM
TOFFO DISSE: A questão é que Monteiro Lobato era um estilo peculiar e portanto difícil demais para CX arremedar ou copiar. Era areia demais para o seu caminhãozinho. Um Lobato falsificado soaria como suicídio para sua carreira de médium. CX era esperto. Tanto é que, do seu parnaso literário, apenas os medalhões do passado distante despontaram, uma estética já consagrada como o condoreiro Castro Alves ou o simbolista Cruz e Sousa. Durante sua carreira literária grandes figuras da literatura passaram para o lado de lá: Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Clarice Lispector, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, &c. Com exceção do hoje obscuro HdeC, nenhuma delas entrou para a turma de CX. Por que será? Questão de afinidade mediúnica, dirão os espíritas. Para mim era prudência mesmo. CX podia ser tudo, mas bobo não era.
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COMENTÁRIO: Toffo, concordo praticamente com todo seu discurso, apenas digo que talvez o maior motivo de HC ter caído no esquecimento deve-se a ter se prendido às crônicas, considerado gênero marginal na literatura. A sina dos cronistas é esta. João do Rio foi outro grande produtor de crônicas, contemporâneo de HC (a meu ver escrevia melhor que este) e também é pouco lembrado.
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O padre Quevedo andou contando história de que Chico Xavier psicografou Monteiro Lobato, mas depois que soube da senha, deixara seu conterrâneo de lado. O problema é que, até onde sei, Quevedo não deu provas dessa alegação.
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Apesar de Chico ter continuado a psicografar HC durante alguns anos, agora como “irmão X”, tenho a impressão de que o processo o abalou e ele foi se afastando dos autores conhecidos para ficar com “escritores” como Emmanuel, André Luiz e produções anônimas (cartas de falecidos). Assim ficava mais seguro.
dezembro 16th, 2013 às 4:11 PM
Oi, Toffo. Por favor, onde encontro as atas das sessões espíritas realizadas pelo Lobato?
dezembro 16th, 2013 às 4:24 PM
Curiosa a explicação do Wantuil para a imanifestação do espírito de HC, o que dirimiria as dúvidas se fora mesmo o desencarnado quem ditara os textos a Chico:
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Repórter: — Será produzida a prova da manifestação do espírito?
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Wantuil: — “Evidentemente, o fenômeno não se poderá produzir contra certas leis. Não são apenas os espíritas e os “médiuns” que sabem disso. O fato é conhecido pelos próprios cientistas. Experiências que chegam ao resultado desejado em determinadas circunstâncias, provando o que se quer demonstrar, falham outras vezes pela ausência de algum elemento.
O espiritismo não procura esconder os fenômenos de ordem mediúnica. Milhares de pessoas, não apenas no Brasil mas no mundo inteiro, entre elas figuras de destaque, absolutamente insuspeitas, tiveram ocasião do presenciar esses fenômenos. Agora o que não podemos é produzi-los em tempo e lugar determinados.”
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COMENTÁRIO: os “espíritos”, quando querem, se apresentam em lugar e hora aprazados. No programa televisivo “Pinga-fogo” um deles visitou Chico e lhe ditou psicografia diante das câmeras (pena que ninguém lembrou de propor testes de prova da real presença da entidade). Com Otília Diogo os espetáculos de materialização aconteciam em horários previamente acordados. Com Humberto, que seria presença imprescindível para esclarecer a encrenca, o ente preferiu recolher-se e quedar-se em meditabunda reflexão…
dezembro 16th, 2013 às 4:52 PM
Nem o Bezerra constrangeu-se na Maison de la Mutualité perante grande público e câmeras:
http://www.youtube.com/watch?v=pdIRFJ0ddkM
Mas não percamos as esperanças: que sabe com a intersecção e ajuda do Professor, algum dia possamos presenciar a manifestação dalgum ultramundano.
dezembro 16th, 2013 às 4:53 PM
O Humberto de Campos chicoxaveriano admiravelmente volta do além convictamente convertido ao espiritismo. Ele que em vida fora provavelmente agnóstico retorna firme apologista da doutrina kardecista. Esta notável adesão aos postulados de Kardec nunca foi bem explicada.
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No primeiro livro do ciclo mediúnico humberteneano (Crônicas de Além-túmulo), com data de 25/6/1937, Campos deixa recado ao leitor, no qual esforça-se por esclarecer o que aconteceu. Neste texto são promanados copiosos elogios a Chico Xavier e à FEB. Curiosamente, Chico parece que intuía que viesse a ter problemas com direitos autorais e no escrito se justifica (na voz de Humberto):
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“Desta vez, não tenho necessidade de mandar os originais de minha produção literária a determinada casa editora, obedecendo a dispositivos contratuais, ressalvando-se a minha estima sincera pelo meu grande amigo José Olímpio. A Lei já não cogita mais da minha existência, pois, do contrario, as atividades e os possíveis direitos dos mortos representariam séria ameaça à tranquilidade dos vivos.”
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dezembro 16th, 2013 às 5:07 PM
Obrigado, Analista Montalvão. Baixei O Brasil Anedótico.
Também estou curioso para ler A defesa de Noé, na qual ele defende-se da acusação de ter caído em misticismo…
dezembro 16th, 2013 às 10:57 PM
Gorducho Diz: Também estou curioso para ler A defesa de Noé, na qual ele defende-se da acusação de ter caído em misticismo…
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COMENTÁRIO: tá na mão…
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A DEFESA DE NOÉ
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Um brilhante jornalista da geração nova, espírito vivaz e moderno, escreveu em São Paulo uma crônica em que denuncia ao público a nocividade da minha literatura.
A descoberta foi feita, segundo o seu depoimento, em uma reunião de rapazes, à qual se achava presente Rubem Braga, a inteligência mais ágil das novas letras paulistas. Como alguém se referisse à suposta difusão dos meus escritos, Rubem teria opinado, prontamente:
— “Para mim, êsse homem é uma vítima de poesia e de deslumbramento da cidade grande. Nunca teve contato com filosofia de espécie alguma, limitando-se a ler poetas e humoristas. Picou, ao entrar na maturidade, como um navio sem lastro, e a desgraça o surpreendeu sem preparo filo¬sófico para poder enfrentá-la com galhardia. E como tantos homens e como quase tôdas as mulheres fracas de espírito, caiu no misticismo religioso…”
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Comentando essas palavras, que atribui a Rubem Braga, o jornalista de São Paulo acrescenta:
— “Dada a fabulosa ignorância que anda por aí, neste país, a literatura do Sr. Humberto de Campos tem no Brasil característicos profundamente perigosos, porque êle está, inconscientemente, fazendo obra contra-revolucionária, num sentido de revolução social, e está também preparando nas massas o fetichismo católico, como remédio para os males que as atormentam e que elas não sabem explicar de onde vêm…”
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Eu não conhecia Rubem Braga pessoalmente. A admiração que lhe votava, nascera da leitura das suas crônicas inteligentes, da sagacidade com que apreendia os assuntos e da elegância com que os vestia para a contemplação pública. Uma destas noites, porém, de regresso do Espírito Santo, veio êle dar-me a alegria do seu conhecimento pessoal. Alto, esguio, pernilongo, a Natureza fêz com êle o que fazem os engenheiros hidráulicos quando levantam reservatórios: colocou-lhe bem alto o cérebro, para que conservasse frescos e limpos todos os pensamentos. No decurso da palestra, que decorreu íntima como a de dois amigos que não se vêem há vinte e dois séculos, mas que se estimam há trinta, referi o que dissera a meu respeito, e que fôra divulgado pelo seu colega de São Paulo.
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— Essa opinião é minha? — espantou-se o jornalista. — Pois, olhe, que, para mim, é novidade! Essa reunião de escritores jovens nunca houve, e, se houve, eu não estava lá. Jamais me encontrei em uma roda na qual se discutisse dêsse modo a sua pessoa.
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As opiniões são como as moedas : valem mais pelo cunho do que pelo metal. Uma vez que Rubem Braga não havia dito de mim o que lhe era atribuído, não merecia grande importância o conceito que se fazia das minhas letras. Eu não costumo, todavia, desprezar os homens que escrevem. Daí a idéia, que tive, de dar uma explicação ao confrade que me submeteu a julgamento severo, lavrando sentença que me parece injusta. Na verdade, acusar-me de misticismo religioso, é dar testemunho de que nada sabe nem da minha literatura nem da minha vida. Se há um espírito livre de superstições na atualidade literária do Brasil, êsse é o meu. Apenas, por educação e por princípio, não tiro Deus do coração de ninguém. Porque tenho o meu vazio, não me considero modelo de prudência e sabedoria. Sem um templo em que me prosterne, não me sinto com o direito de incendiar os altares dos que têm fé. E se não sou filósofo, aprendi, pelo menos, com os que têm êsse nome, a arte de suportar a vida e as dores que ela me trouxe, e de me não supor, entre os homens ignorantes, o portador do facho de Minerva.
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Não sou, evidentemente, um espírito moderno, destinado a presidir à renovação do mundo. Sou antigo e contra-revolucionário, porque não me ocupo senão da alma humana, cujas aspirações instintivas não variaram através dos séculos. No meio da agitação dos espíritos moços, eu sou o antepassado sereno, que se não alarma nem espanta. E como tenho sofrido muito, procuro ministrar aos outros as sobras da medicina de que me servi. Refere Herôdoto que, em Babilônia, era costume conduzir-se os doentes à praça pública, onde os transeuntes, de passagem, lhes faziam perguntas sôbre os males de que padeciam. E aqueles que já haviam tido enfermidade idêntica, lhes diziam o remédio com que se haviam curado. Eu não sou, hoje, nas letras brasileiras, senão um médico de Babilônia.
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Sofro, e não me revolto. Sofro, e aceito os meus padecimentos não a título de moeda para a conquista do Paraíso, mas porque a revolta, o protesto, a indignação, de modo nenhum resolverão o problema da minha cura. Onde, pois, o místico? Onde o fundamento religioso da minha resignação? Quanto à confiança que os simples porventura depositam no meu conselho, ela não faz mal a ninguém. Entre as manifestações de sabedoria que Montesquieu descobre nos romanos, está a assistência que permitiam aos povos subjugados pela sua espada e pelo seu gênio. Quando dominavam uma nação vizinha, deixavam-lhe os seus costumes nacionais, a sua religião e, até, um govêrno constituído de homens do mesmo sangue. E se traziam levas de escravos para Roma, não se opunham a que êsses escravos se fizessem acompanhar dos seus sacerdotes, que os confortassem no cativeiro. Na terra de que tomou conta o espírito moço, há uma infinidade de vencidos, que se não puderam afeiçoar ao novo clima, ajustar-se ao novo panorama. Eu fiquei com êles, confortando-os, consolando-os, e confortando-me a mim mesmo. Sou um antigo entre os antigos. Deixem-nos, pois, os novos, os revolucionários, os agitadores sociais. Nos não fazemos mal a ninguém.
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Contam os biógrafos do marquês de Maricá, o venerando pensador hoje esquecido, que encontrando-se ele em um salão, foi abordado por um jovem, que lhe declarou não concordar com algumas das suas máximas, em que fazia um confronto entre a mocidade e a velhice.
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— Meu filho, — respondeu-lhe o filósofo — a minha autoridade, nesse ponto, é maior que a sua. Eu sou velho, e já fui moço. Você é moço, e nunca foi velho.
É essa a vantagem que eu levo, nesta hora, sobre os rapazes que estranham a feição humana ou humanitária das minhas letras. Êles estudam. Eu também já estudei. Êles não têm, todavia, a experiência, que o tempo e os sofrimentos me deram. Eu já passei por onde êles se acham. Êles ainda não chegaram onde eu estou. Se me quiserem dar lições de coisas modernas, eu as aceito. Mas, naquilo que só a Vida ensina, eu lhes agradeço. Há dez ou doze anos, era corrente, nas rodas joviais, uma anedota, que ocupou muitos olhos, muita boca e muitos ouvidos. Em uma das cheias do São Francisco, as águas invadiram campos e chapadas, matando boiadas e homens. Nunca se vira, naquelas regiões, calamidade tão grande. E foi nesse ano que o velho João Diogo morreu afogado. Morreu, e foi ter ao céu, onde, logo à sua chegada, centenas de almas o cercaram, pedindo notícias dêste mundo. Apaixonado pelas narrativas sensacionais, o sertanejo começou a contar o que fôra a enchente do São Francisco. E à medida que contava, tôdas as almas se mos¬travam impressionadas, fazendo perguntas novas, pedindo particularidades. Apenas uma, um ancião de longas barbas brancas, escutava indiferente a descrição feita por João Diogo. Não se escandalizava, não se espantava. Tudo aquilo lhe parecia perfeitamente natural. João Diogo estranhou. Vírou-se para um dos ouvintes, e indagou:
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— Quem é êsse sujeito que não se espanta de nada? Êle sabe o que é uma alagação?
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— Sabe quem é êle ? — sussurrou a alma interpelada.
E ao ouvido de João Diogo:
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— É Noé…
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Os rapazes que me não entendem, podem ensinar-me muita coisa, que vem nos livros novos. Mas, em matéria de sofrimento e de experiência do mundo, nada tenho a aprender.
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Nesse terreno, eu sou Noé.
dezembro 17th, 2013 às 12:31 AM
Mandou bem, TOFFO.
Eu fiquei com a impressão de que quem acabou sendo promovido a celebridade com essa ação foi o próprio cx.
O advogado queria auto-promoção e só conseguiu tornar cx famoso.
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MONTALVÃO,
Todo mundo vira espírita depois que morre. Pelo menos é o que se vê nesses livrecos.
Tu estavas fazendo falta aqui.
dezembro 17th, 2013 às 7:18 AM
Obrigado de novo, Analista Montalvão!
O cara tinha bastante talento mesmo. Agora (no sentido figurado do termo, não agora agora que vou trabalhar…) vou ler o livro que baixei.
Cada vez que escuto falar no Noé me lembro que o Roustan acreditava ter sido um dos filhos dele (não sei se esteve na arca ou o Noé teve mais filhos depois?). A consulta pelo método do haxixe c/o Alphonse Cahagnet eu não consegui entender o significado das visões. Mas a nenhuma conclusão se chegou…
dezembro 17th, 2013 às 10:17 AM
Riso aqui do Toffo, sobre o Marquês de Maricá:
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Contam os biógrafos do marquês de Maricá, o venerando pensador hoje esquecido, que encontrando-se ele em um salão, foi abordado por um jovem, que lhe declarou não concordar com algumas das suas máximas, em que fazia um confronto entre a mocidade e a velhice.
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— Meu filho, — respondeu-lhe o filósofo — a minha autoridade, nesse ponto, é maior que a sua. Eu sou velho, e já fui moço. Você é moço, e nunca foi velho.
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Se esse moço fosse bocudo como eu (que aliás já sou velho), responderia simplesmente assim: Reconheço que você já foi moço, e reconheço que nunca fui velho. Mas também lembro ao senhor que a manteiga, com o tempo, rança. Os homens, alguns deles, também.
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Aliás, discordando igualmente do Marquês, eu diria que ficar velho é uma m… Eu queria saber quem foi que inventou a expressão “melhor idade”, para mandar prender e executar em praça pública, com direito a banda de música e fogos.
dezembro 17th, 2013 às 10:30 AM
Realmente, Marciano, a fama de CX triplicou depois do processo. Mas até 1971 ele ainda era acessível, embora mal-e-mal. Depois do “Pinga-Fogo” de 1971, o homem virou celebridade.
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Montalvão: na verdade essa “conversão” de HdeC é um tanto estranha mesmo. Eu havia comentado aqui, mais em cima, sobre as minhas impressões da leitura de HdeC vivo e morto. Pela lógica chiquista, ele deveria passar um bom tempinho no umbral para purgar o veneno da sua pena, considerando-se que André Luiz, por muito menos, amargou 8 anos de exílio umbralino. Mas ele surgiu, lépido e lampeiro, apenas 3 anos depois de sua morte, já espírita de carteirinha. A minha suspeita é do sistema de compadrio que existe (ou existia) no sistema nossolarista, que nada mais é do que um reflexo do sistema daqui. Em uma palavra: QI (quem indicou). Mas concordo com você que CX foi minguando a sua produção condoreira/simbolista/parnasiana à medida que o tempo passava, por mera questão de prudência. Sou mineiro também, e sei que mineiro de verdade nunca perde o trem…
dezembro 17th, 2013 às 11:38 AM
TOFFO DIZ:
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“Se esse moço fosse bocudo como eu (que aliás já sou velho), responderia simplesmente assim: Reconheço que você já foi moço, e reconheço que nunca fui velho. Mas também lembro ao senhor que a manteiga, com o tempo, rança. Os homens, alguns deles, também.
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Aliás, discordando igualmente do Marquês, eu diria que ficar velho é uma m… Eu queria saber quem foi que inventou a expressão “melhor idade”, para mandar prender e executar em praça pública, com direito a banda de música e fogos”.
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TOFFO, um cara inteligente e experiente como você dizer uma coisa dessas não me parece muito sensato. Você preferiria uma vida curta, em vez de ficar rançoso? É isso que está dizendo? Iria querer morrer na verdadeira melhor idade, 20 anos?
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A única maneira de não envelhecer é morrer jovem. Eu quero ficar bem rançoso, o mais que puder.
E se você mandasse prender e executar quem inventou a expressão “melhor idade”, ficaria querendo. Já foi para o inferno há muito tempo.
Quanto aos que divulgam a expressão, dentro de sua linha de raciocínio não seria melhor deixar que eles desfrutassem da “melhor idade”? A execução iria poupá-los do ranço.
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Quanto à questão do umbral, eu acho que no lar deles existe um sistema de corrupção, através do desvio de bônus-hora. É assim que maconheiros que morrem durante farras regadas a álcool, drogas ilícitas, sexo, velocidade e irresponsabilidade conseguem ficar ao lado do vovô, todos felizes, enviando cartas para as “queridas mãezinhas”, viram piegas e espíritas instantaneamente e são poupados das agruras do umbral.
dezembro 17th, 2013 às 6:17 PM
Marciano, você é um homem arguto mas não leu nas minhas entrelinhas. Eu disse: a manteiga rança, como ALGUNS homens, inclusive, talvez, o Marquês, a quem a indireta foi dirigida. Mas nem todos rançam. O que eu espero é não ficar um velho rançoso.
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Phelippe: eu li essas atas num livro, talvez, do Jorge Rizzini, não me lembro. Mas em livrarias espíritas você deve encontrar.
dezembro 17th, 2013 às 6:24 PM
TOFFO,
realmente, relendo com mais calma o que disse, vi que me precipitei.
Você mesmo me parece um cara que está envelhecendo da mesma forma que os bons vinhos de guarda.
Você e o Montalvão.
Arduin é outro vetusto sábio, mas empacou no espiritismo, o que atrapalha seu progresso intelectual.
Faz malabarismos para concatenar seu pensamento com as loucuras chiquistas/divaldistas.
Nem nos “espíritos superiores” ele acredita.
dezembro 17th, 2013 às 9:34 PM
Agora os espíritos procriam, decretou o médium Baccelli. Ele já havia informado que havia elfos e seres elementais no plano espiritual.
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E eu só fico de camarote vendo o barco naufragar.
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Agora vão também lançar o cartão de crédito Chico Xavier, cujas taxas serão revertidas para caridade.
‘
Ainda bem que os espíritas são só 2% da população do Brasil.
dezembro 17th, 2013 às 9:55 PM
Agora vão também lançar o cartão de crédito Chico Xavier, cujas taxas serão revertidas para caridade
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Será q eu consigo acumular uns bônus – hora ao invés de milhas? Negoção!
dezembro 17th, 2013 às 10:06 PM
cx é mais um exemplo de pessoas que valem mais mortas do que vivas.
Isso vai movimentar uma grana. Ou um monte de bônus-hora.
dezembro 18th, 2013 às 10:23 AM
E eles vendem réplicas de boinas e bonezinhos do homem, além de bustos de gesso.
dezembro 18th, 2013 às 1:53 PM
Deveriam vender perucas também, do tipo “mop top”, que cx usava.
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Até o logo da copa é cx:
http://seriguela.com/logo-da-copa-do-mundo-2014-e-uma-homenagem-a-chico-xavier
dezembro 18th, 2013 às 2:08 PM
Gorducho Disse: Obrigado de novo, Analista Montalvão!
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COMENTÁRIO: sempre às ordens…
GORDUCHO: O cara tinha bastante talento mesmo. Agora (no sentido figurado do termo, não agora agora que vou trabalhar…) vou ler o livro que baixei.
Cada vez que escuto falar no Noé me lembro que o Roustan acreditava ter sido um dos filhos dele (não sei se esteve na arca ou o Noé teve mais filhos depois?). A consulta pelo método do haxixe c/o Alphonse Cahagnet eu não consegui entender o significado das visões. Mas a nenhuma conclusão se chegou…
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COMENTÁRIO: pelo que se lê em Gênesis capítulos 9 e 10, Noé foi pai de três varões: Sem, Cão e Jafé. O que é estranho, visto que, segundo o relato, Noé ainda viveu 350 anos pós-dilúvio, tendo morrido com 950 anos. UJm sujeito, não vasectomizado, nem estéril, que em 950 anos produziu somente três rebentos é de admirar. OU aconteceu qualquer tragédia não relatada (quem sabe uma ripa da arca não lhe amassou o bilau?), ou ele produziu penca de bastardos (onde Roustaing entraria) que não foram registrados como filhos…
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Até há alguns anos os livros de história consideravam que a civilização adviera dos três ramos de Noé, daí se falar em camitas, jafetitas e semitas. Hoje essa divisão não é mais mantida por inconsistente.
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Saudações diluvianas.
dezembro 18th, 2013 às 2:31 PM
Ah sim, Gorducho, esqueci de comentar.
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Na Crônica “Defesa de Noé” Humberto Campos fala do jovem e talentoso cronista Rubem Braga, nascido em 1913. Campos faleceu em 1934, Rubem estava com 21 anos e desde os 15 publicava crônicas em jornais. Braga faleceu em 1990. Veja essa dele.
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RECADO AO SR. 903
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Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador do prédio, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal.
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Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão . O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003.
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Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números , dois números empilhados entre dezenas de outros.
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Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua.
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Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305.
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Nossa vida, vizinho, está toda numerada, e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
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Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. – Rubem Braga
dezembro 18th, 2013 às 2:37 PM
TOFFO DISSE: A minha suspeita é do sistema de compadrio que existe (ou existia) no sistema nossolarista, que nada mais é do que um reflexo do sistema daqui.
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COMENTÁRIO: percebeu que Chico Xavier não conseguiu botar ninguém morando em Nosso Lar? Nem os famosos que locupletavam de sua pena, nem os anônimos que comunicavam com parentes falavam patavina da cidade-alada. Se houve exceção foi exceção que só complica o caso.
dezembro 18th, 2013 às 2:41 PM
TOFFO disse: Aliás, discordando igualmente do Marquês, eu diria que ficar velho é uma m… Eu queria saber quem foi que inventou a expressão “melhor idade”, para mandar prender e executar em praça pública, com direito a banda de música e fogos.
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COMENTÁRIO: talvez você esteja se mexendo pouco, experimente mexer mais. Eu por exemplo, mexo direitinho…
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Obs.: mexer no bom sentido, se é que me entendem…
dezembro 18th, 2013 às 2:43 PM
Por isso sempre detestei grandes cidades e hoje já não preciso nelas morar. Onde moro a vizinhança se conhece pelo nome e, sim, convidam-se para entrar!
Não foi o Roustaing – tão injustiçado pelo Professor…-; foi o Roustan, magnetizador da Ruth-Céline Bequet.
dezembro 18th, 2013 às 3:59 PM
MONTALVÃO,
Tem certeza de que o Rubem Braga já morreu?
Que pena, para mim.
Eu iria passar lá no 1003 com uma garrafa de Brunello, um pen drive cheio de flacs de rock progressivo e de heavy metal (acho que sou um dos poucos que gostam de ambos os gêneros, com seus sub-gêneros) e aproveitar um pouco mais de nossa curta vida, antes que o ceifador venha nos pegar. Levaria minha namorada, como ele sugeriu.
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Belo texto, esse do Rubem.
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O lar deles é para joões-ninguém.
Os famosos vão para Saturno, Júpiter, etc.
Veja o caso de Wolfgang (Gottlieb Mozart).
Shakespeare está morando em Netuno.
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Dentre outras coisas,
MONTALVÃO
é eletricista (mexe com força) (no bom sentido, claro).
Sujeito versátil!
dezembro 18th, 2013 às 4:00 PM
Essas duas expressões entre parênteses foram descuido meu. Não precisam multiplicar uma pela outra.
dezembro 18th, 2013 às 5:03 PM
Montalvão: segundo o arauto Baccelli, que se autoproclama sucessor de CX, atualmente Nosso Lar tem problemas relacionados com a superpopulação (que pulou de 1 milhão em 1939 para 10 milhões atualmente), o que afeta os serviços públicos &c. De qualquer forma, o memorial de CX em Uberaba inclui um hotel com mais de 140 quartos com o sugestivo nome de Nosso Lar (em construção, por pedreiros e peões de carne e osso, bem entendido).
dezembro 18th, 2013 às 5:37 PM
– “Nosso Lar” mudou muito; a cidade cresceu assustadoramente e, pasmem, quase todo espírita que desencarna quer vir para cá. Tivemos, evidentemente, que controlar a questão da imigração espiritual… Estamos hoje em cerca de dez milhões de habitantes e a qualidade de vida, como não poderia deixar de ser, vem sofrendo…
Que cousa! Esses novos bairros devem ser fora das muralhas. E já devem ter colocado uma cerca elétrica com câmeras de vigilância e uma no soul’s land – patrulhada por pericães? – na fronteira com a 3ª esfera por causa da imigração ilegal! Até lá esse problema!
dezembro 18th, 2013 às 6:59 PM
Já devem ter começado os roubos a aeróbus, prostituição nos jardins floridos…
Devem ter criado, recentemente, o Ministério da Segurança Pública.
O lar deles não é mais o mesmo, já deve ter até peri-pedófilo assediando os espíritos recém nascidos (não os recém desencarnados, os recém nascidos mesmo, aqueles que são fruto do sexo entre espíritos, como narra o novo autoproclamado cx.
dezembro 18th, 2013 às 7:02 PM
Os espiritinhos, quando atingem a idade escolar, vão para a escola peri-patética (assim mesmo, com hífen, para não confundir com a de Aristóteles).
Lá, aprendem a volitar, falar esperanto, telepatia, humildade. São as matérias do ensino fundamental.
dezembro 18th, 2013 às 7:28 PM
Toffo Disse: Montalvão: segundo o arauto Baccelli, que se autoproclama sucessor de CX, atualmente Nosso Lar tem problemas relacionados com a superpopulação (que pulou de 1 milhão em 1939 para 10 milhões atualmente), o que afeta os serviços públicos &c. De qualquer forma, o memorial de CX em Uberaba inclui um hotel com mais de 140 quartos com o sugestivo nome de Nosso Lar (em construção, por pedreiros e peões de carne e osso, bem entendido).
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Acrescido da citação do Gorducho: “- “Nosso Lar” mudou muito; a cidade cresceu assustadoramente e, pasmem, quase todo espírita que desencarna quer vir para cá.”
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COMENTÁRIO: O direito de ir e vir é o mesmo cá e lá: as almas escolhem seus destinos (naturalmente as não-danadas) e vão para perto de onde rola grana e conforto. Vai ver favelização já seja comum em Nosso Lar; roubos e furtos, coisa até há pouco quase inexistente, tornou-se praga. O aeróbus só viaja superlotado, quando não enguiça por falta de energia. Os ministérios se multiplicam, em vista do clientelismo reinante na administração pública: qualquer amiguinho do geridor (que dizem ter pendores por rapazotes sarados) ganha pasta ministerial, atualmente contam-se cerca de 38, todos atirando mal e acertando onde não deve. O hospital, antes tão limpinho e eficiente, já não dá conta dos atendimentos: a emergência foi fechada, baratas e lacraias passeam pelos quartos superlotados. Os internos reclamam da alimentação, banho um por semana e a roupa de cama fica um mês sem trocar. Nosso Lar está em campanha para a eleição de novos administradores, recentemente baixou lá um espírito novo, tal de Luizinácio, que diz vai pôr tudo nos eixos. Tem gente à bessa acreditando…
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Já não se fazem Novos Lares como antigamente…
dezembro 18th, 2013 às 8:54 PM
MONTALVÃO,
Permita-me uma pequena correção ao seu texto.
Onde você diz “. . . baratas e lacraias passeam pelos quartos superlotados.”, deveria ter dito: “. . . espíritos de baratas e espíritos de lacraias passeiam pelos quartos superlotados”.
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E que deus te ouça e mande logo esse Luizinácio pra lá.
dezembro 18th, 2013 às 9:34 PM
MARCIANO DISSE: Eu iria passar lá no 1003 com uma garrafa de Brunello, um pen drive cheio de flacs de rock progressivo e de heavy metal (acho que sou um dos poucos que gostam de ambos os gêneros, com seus sub-gêneros) e aproveitar um pouco mais de nossa curta vida, antes que o ceifador venha nos pegar. Levaria minha namorada, como ele sugeriu.
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COMENTÁRIO: quando vir cá em casa pode trazer o Brunello, mas, em vez do rock (seja qual for) traga samba-canção, bossa-nova, Dolores Duran, Jacob do Bandolim, Elizete Cardoso, Mário Reis, Paulinho Nogueira, Luiz Bonfá, Românticos de Cuba… e pode se fazer acompanhar da namorada.
dezembro 18th, 2013 às 9:56 PM
MONTALVÃO,
tem uma gravação ao vivo de Elizete, acompanhada do Jacob, em que ele arrasa (ela também).
Eu sou bastante eclético.
Por falar em Jacob, naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.
dezembro 18th, 2013 às 9:57 PM
Barracão de zinco, tradição do meu país, pendurado no morro e pedindo socorro à cidade a seus pés.
dezembro 18th, 2013 às 9:58 PM
Marciano Disse: MONTALVÃO,
Permita-me uma pequena correção ao seu texto.
Onde você diz “. . . baratas e lacraias passeam pelos quartos superlotados.”, deveria ter dito: “. . . espíritos de baratas e espíritos de lacraias passeiam pelos quartos superlotados”.
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COMENTÁRIO: não, meu caro, não são espíritos de baratas terrenas, que morreram e foram parar na cidade celeste. São baratas e lacraias espirituais, ou seja, criadas por lá mesmo. Não em Nosso Lar, visto que nele não proliferam daninhosidades: são invasores que passaram do umbral para o paraíso, desde que o serviço de dedetização local deixou de atuar por falta de pagamento.
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O mesmo se pode dizer dos ratos, morcegos-vampiros, Ideiafix, salamandras e rola-bostas, são tudo de lá mesmo…
dezembro 18th, 2013 às 10:02 PM
Marciano Diz: MONTALVÃO,
tem uma gravação ao vivo de Elizete, acompanhada do Jacob, em que ele arrasa (ela também).
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COMENTÁRIO: tenho-a… quando Jacob do Bandolim faz o solo é de arrepiar!
dezembro 18th, 2013 às 10:07 PM
É de arrepiar mesmo, até antes do solo ele já toca muito.
Tenho um pen drive de 32G onde estão misturados Jacob e Elizete, Pain and Panic, A life once lost.
“Tonight you are going to suffer and I will be the last glimpse of anything you see
Is pain real?
Do you believe in pain?
I want to walk away but I sit and watch you slowly fall in and out of consciousness
The pain
The panic”
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Pantera, fucking hostile, Sepultura, cut throat, uma bagunça.
Nada separado por pastas.
Sweet leaf, Black Sabath.
Meus amigos Belphegor, Baphomet, Asmodeus, Azazel, Baal, adoram.
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Para onde vão os espíritos das baratas e das lacraias?
Segundo Rivail, eles também tem espíritos.
dezembro 18th, 2013 às 10:25 PM
MARCIANO: Do you believe in pain?
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Para onde vão os espíritos das baratas e das lacraias?
Segundo Rivail, eles também tem espíritos.
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COMENTÁRIO: yes, I believe in pain, I feel much pain in my mind.
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Alexandre Caroli Rocha publicou tese em que aborda a questão de autoria na obra mediúnica atribuída a Humberto de Campos. Segue entrevista com o autor.
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Caso Humberto de Campos – autoria literária e mediunidade
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?Alexandre Caroli Rocha defendeu, em 4 de junho, tese de doutorado no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, em Campinas (SP). Trata-se dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, passando também pelo famoso processo que a família do escritor moveu contra o médium mineiro e a Federação Espírita Brasileira para requerer direitos autorais. Abaixo, entrevista com o autor, que já defendeu tese de mestrado em Literatura sobre a obra “Parnaso de Além-Túmulo”, o primeiro livro de Chico Xavier:???
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Folha Espírita: O que você pesquisou na tese de doutorado “O Caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade?
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?Alexandre Caroli Rocha: Estudei a obra de Humberto de Campos (1886-1934) e os livros que Chico Xavier (1910-2002) atribuiu a ele e a Irmão X. O objetivo foi pesquisar o problema autoral desse conjunto de livros do médium mineiro. Na tese, entre outros temas, apresentei um histórico dessa atribuição de autoria e analisei as estratégias textuais utilizadas pelo autor dos livros psicografados para se representar como Humberto de Campos após sua morte.??
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FE: Um dos pontos mais recorrentes na tese foi o processo movido pela família de Humberto de Campos, reclamando direitos autorais pelas obras psicografadas por Chico Xavier e que traziam a assinatura do famoso escritor. Como se desenrolou o processo?
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?Rocha: Em 1944, por meio de uma ação declaratória, familiares de Humberto de Campos processaram Chico Xavier e a Federação Espírita Brasileira (FEB). Pediam que a Justiça examinasse a hipótese espírita e declarasse se o autor dos cinco livros atribuídos ao espírito de Humberto de Campos era ou não o próprio escritor maranhense após sua morte. E mais: se a conclusão fosse negativa, solicitavam as devidas punições aos responsáveis pelos livros; se positiva, requeriam direitos autorais. O juiz, porém, como era de se esperar, rejeitou a ação, considerada sem cabimento, pelos seguintes motivos: primeiro, ao morrer, o indivíduo deixa de possuir direitos civis, de modo que, morto, Humberto de Campos não poderia readquiri-los; segundo, os direitos autorais herdáveis limitam-se aos referentes às obras do escritor produzidas antes de sua morte; terceiro, uma ação declaratória deve requerer a simples declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica, e não a existência ou não de um fato. Em síntese, a ação foi interpretada como uma mera consulta, função que não cabe ao poder judiciário. A família do escritor recorreu da decisão, mas, no mesmo ano, a Justiça reafirmou a impropriedade da ação. No entanto, por causa do processo, o nome Humberto de Campos, em textos mediúnicos posteriores, foi substituído por Irmão X. Na tese, comento alguns dos desdobramentos desse inusitado processo.??
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FE: Quando Humberto de Campos começou a ditar mensagens através de Chico Xavier e a partir de qual delas passou a assinar como Irmão X?
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?Rocha: Os primeiros textos atribuídos a Humberto de Campos datam do final de março de 1935, isto é, menos de quatro meses após a morte do escritor. De 1937 a 1943, a FEB publicou cinco livros que Chico Xavier atribuiu a ele: Crônicas de Além-Túmulo (1937), Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (1938), Novas Mensagens (1940), Boa Nova (1941) e Reportagens de Além-Túmulo (1943). Dessa primeira fase, o último texto de que tenho notícia, cujo tema é o próprio caso Humberto de Campos, é de 15 de julho de 1944. Foi publicado no livro A Psicografia ante os Tribunais (p. 56 da 5ª ed.), de Miguel Timponi. O abandono do nome Humberto de Campos ocorre pouco tempo depois. A primeira menção ao nome Irmão X que localizei é de 20 de setembro de 1944 e está em Deus Conosco (p. 236-237 da 1ª ed.), livro composto por textos que Chico Xavier atribuiu a Emmanuel, editado pela Vinha de Luz Editora. No ano seguinte, em 2 de março, Chico Xavier envia uma carta ao então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, dizendo-lhe que o amigo voltara a escrever, fazendo-se sentir agora com o nome de Irmão X. Junto à carta seguia o primeiro texto da nova fase, que era, provavelmente, Ante o Amigo Sublime da Cruz, publicado na primeira página do Reformador e, depois, no livro Lázaro Redivivo (1945).??
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FE: Com o surgimento do nome Irmão X, o autor espiritual deixa de se apresentar como Humberto de Campos?
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?Rocha: Em Lázaro Redivivo, primeiro livro de Irmão X, existem muitas referências veladas a Humberto de Campos, às psicografias que Chico Xavier lhe atribuiu e ao processo de 1944. Na época, Chico Xavier e seu editor da FEB tomaram a decisão de não divulgar a identidade de Irmão X. Segundo o médium, Emmanuel achava que os leitores perceberiam que Irmão X era Humberto de Campos. Em 1957, porém, a FEB decidiu oficializar essa identidade, em artigo publicado no Reformador. E, num texto do livro Cartas e Crônicas (1966), de Irmão X, o autor volta a se apresentar como Humberto de Campos.??
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FE: Os especialistas chegaram a fazer uma comparação entre as obras de Humberto de Campos, escritas quando encarnado, com as que escreveu através de Chico Xavier?
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?Rocha: Alguns escritores e intelectuais, especialmente em 1944, publicaram artigos a respeito de suas impressões de leitura, relacionando as duas obras. Na tese, analiso boa parte desse material. Em síntese, há duas questões envolvidas: uma é textual e outra é teórica. Uma grande parte dos comentadores achou que os textos psicografados apresentavam muitas afinidades com o que Humberto de Campos costumava escrever (fator textual). A partir desse dado, alguns arriscavam uma explicação (fator teórico) e outros diziam não saber como explicar o fenômeno. Entre as tentativas de explicação havia a kardecista (o espírito do escritor comunicou-se através do médium); a do pastiche, consciente ou inconsciente (o médium imitou Humberto de Campos); a demonista (o verdadeiro autor é o diabo); a sobrenatural (houve um milagre e o milagre não pode ser explicado). Um bom exemplo é o que se passou com Agrippino Grieco, em 1939. O crítico acompanhou uma sessão espírita na qual Chico Xavier psicografou uma carta a ele dirigida e assinada por Humberto de Campos. A respeito do texto, ele declarou que parecia mesmo ser um escrito inédito do autor de Memórias, mas não soube como explicar o fenômeno.??
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FE: Qual era a opinião dos familiares de Humberto de Campos?
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?Rocha: A viúva não acreditava que o autor dos textos fosse o espírito do escritor. A mãe dele, no entanto, estava certa de que era o filho quem escrevia através do médium. Dos três filhos de Humberto de Campos, não sei se os mais velhos se pronunciaram a respeito. O outro, como a avó, tinha a convicção de que seu pai era o autor dos textos psicografados. Em 1997, Humberto de Campos Filho publicou o livro Irmão X, Meu Pai.??
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FE: Dizem que Humberto de Campos, quando encarnado, não acreditava em vida depois da morte e criticava as obras que Chico Xavier já psicografara. Isso é verdade?
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?Rocha: Em termos. Segundo suas Memórias, ele, que recebera educação católica, perdeu a fé durante a mocidade, pelo contato com certa filosofia materialista. Ele se dizia cético, mas sempre teve grande respeito pelas religiões e pelo sentimento religioso das pessoas. Em uma crônica, escreveu: “Por educação e por princípio, não tiro Deus ao coração de ninguém. Porque tenho o meu vazio, não me considero modelo de prudência e sabedoria. Sem um templo em que me prosterne, não me sinto no direito de incendiar os altares dos que têm fé”. Em 1932, ele escreveu duas crônicas a respeito do primeiro livro de Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, que foram publicadas na primeira página do Diário Carioca. Sua apreciação foi curiosa: destacou a adequação poética dos versos mediúnicos e ironizou a representação espírita do além-túmulo, por ele inferida. Ele escreveu: “O Parnaso de Além-Túmulo merece, como se vê, a atenção dos estudiosos, que poderão dizer o que há, nele, de sobrenatural ou de mistificação. No primeiro caso, o outro mundo deve ser insuportável, com os poetas que lá se acham. E pior será, ainda, se houver, também, por lá, declamadoras… O escritor imaginou que, se a autoria fosse mesmo dos poetas mortos, a literatura no outro mundo seria parada no tempo, sem novidades. Essas crônicas foram comentadas em texto de Chico Xavier atribuído a Eça de Queirós, publicado no Reformador em 1933, e, mais tarde, em textos atribuídos ao próprio Humberto de Campos, a exemplo do seguinte trecho, dirigido ao médium: “Apreciando, em 1932, o Parnaso de Além-Túmulo, que os poetas desencarnados mandaram ao mundo por intermédio de você, chamei a atenção dos estudiosos para a incógnita que o seu caso apresentava. Os estudiosos, certamente, não apareceram. Deixando, porém, o meu corpo minado por uma hipertrofia renitente, lembrei-me do acontecimento. Julgara eu que os bardos do outro mundo, com a sua originalidade estilística, se comprometiam pela eternidade da produção, no falso pressuposto de que se pudessem identificar por outra forma”.??
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FE: É fato que, para se fazer reconhecido, Humberto de Campos mesclou os ditados mediúnicos com lances da obra literária que produziu no mundo?
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?Rocha: Alguns textos desse conjunto autoral, além da primeira camada de leitura, acessível a qualquer leitor, apresentam um notável diálogo com referências relacionadas a Humberto de Campos. Com isso, o autor teve o propósito de demonstrar que possui um grande conhecimento do escritor maranhense. Só consegui detectar esse procedimento após estudar a extensa obra de Humberto de Campos. Em dois capítulos da tese, apresento vários exemplos dessa intertextualidade. Ainda nesse sentido, outro ponto importante dos textos psicografados são as centenas de citações de muitos autores, brasileiros e estrangeiros, que faziam parte do repertório de leituras do escritor maranhense.??
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FE: Como ter acesso à tese?
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?Rocha: Na Internet, ela já está disponível na Biblioteca Digital da Unicamp, no endereço http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000443434
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http://www.vinhadeluz.com.br/site/noticia.php?id=632
dezembro 18th, 2013 às 10:32 PM
Esqueci de comentar o trecho que segue:
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MARCIANO: Para onde vão os espíritos das baratas e das lacraias? Segundo Rivail, eles também tem espíritos.
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COMENTÁRIO: a explicação de Rivail sobre o destino e evolução dos espíritos de irracionais é um tanto complicada, teria que relê-la para discorrer a respeito. Mas, o duende seydituto, primo do elfo seydinada, meu mentor para assuntos da espécie, segredou-me que a alma dos insetos e viventes não pensantes morrem com a morte deles.
dezembro 18th, 2013 às 11:09 PM
Cx virando tese de doutorado.
Já não se fazem mais doutorados como antigamente.
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“Segundo o médium, Emmanuel achava que os leitores perceberiam que Irmão X era Humberto de Campos”.
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COMENTÁRIO: Esse Emmanuel era inteligente mesmo. Ele “achava” que os leitores perceberiam que o Irmão X era HC. Muito perspicaz.
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“Entre as tentativas de explicação havia a kardecista (o espírito do escritor comunicou-se através do médium); a do pastiche, consciente ou inconsciente (o médium imitou Humberto de Campos); a demonista (o verdadeiro autor é o diabo); a sobrenatural (houve um milagre e o milagre não pode ser explicado).”
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COMENTÁRIO: A explicação kardecista pode ser descartada, porque espíritos não existem;
A demonista também não vinga, pois eu afirmo que não sou o autor;
A de que houve milagre esbarra no fato de que milagres não existem.
Sobra só o pastiche mesmo. E é evidente, depois de tanta coisa que já se publicou e discutiu aqui no blog, que era consciente.
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“A mãe dele, no entanto, estava certa de que era o filho quem escrevia através do médium”.
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COMENTÁRIO: É fácil entender. Mesmo motivo de Lobato e Conan Doyle. Perder filho deve ser f. A ordem natural das coisas é os filhos perderem os pais. E já é difícil.
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“Dizem que Humberto de Campos, quando encarnado, não acreditava em vida depois da morte e criticava as obras que Chico Xavier já psicografara”.
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COMENTÁRIO: Estou começando a achar que depois da morte eu passarei a acreditar em espíritos, psicografia, cx, virarei espírita.
Só vou acreditar nessas coisas passando por cima de meu cadáver (over my dead body).
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“Segundo suas Memórias, ele, que recebera educação católica, perdeu a fé durante a mocidade, pelo contato com certa filosofia materialista”.
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COMENTÁRIO: Eu recebi educação ecumênica, mas nunca perdi a fé. Não posso perder o que nunca tive.
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“Ele se dizia cético, mas sempre teve grande respeito pelas religiões e pelo sentimento religioso das pessoas”.
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COMENTÁRIO: Eu me digo cético (outros acham que sou pseudo-cético), mas nunca tive respeito pelas religiões nem pelo delírio esquizóide das pessoas.
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“Em uma crônica, escreveu: “Por educação e por princípio, não tiro Deus ao coração de ninguém”.
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COMENTÁRIO: Quer dizer que, segundo HC, tirar deus do coração das pessoas é falta de educação e de princípios. E “colocar” divindades no coração de crianças, é o quê? Maldade?
.
“Em 1932, ele escreveu duas crônicas a respeito do primeiro livro de Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, que foram publicadas na primeira página do Diário Carioca. Sua apreciação foi curiosa: destacou a adequação poética dos versos mediúnicos e ironizou a representação espírita do além-túmulo, por ele inferida”.
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COMENTÁRIO: Será que foi por isso que cx resolveu se “vingar” dele, escrevendo coisas malucas e atribuindo a autoria ao morto que não podia contestá-las?
dezembro 18th, 2013 às 11:24 PM
Montalvão Diz:
DEZEMBRO 18TH, 2013 ÀS 22:32
.
“a explicação de Rivail sobre o destino e evolução dos espíritos de irracionais é um tanto complicada, teria que relê-la para discorrer a respeito. Mas, o duende seydituto, primo do elfo seydinada, meu mentor para assuntos da espécie, segredou-me que a alma dos insetos e viventes não pensantes morrem com a morte deles”.
.
Meu caro Montalva, vou facilitar pra você:
.
“612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua
nascente.”
Aqui ele remete à questão nº 118:
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118. Podem os Espíritos degenerar?
“Não; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição.
Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda.”
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Segundo o Houaiss:
Retrogradar
verbo
transitivo direto, transitivo indireto e intransitivo
1 retroceder ou fazer retroceder (no espaço ou no tempo); recuar
Exs.: não é possível r. a escrita
r. à antiga Grécia
a tropa retrogradou estrategicamente
transitivo direto, intransitivo e pronominal
2 marchar ou fazer marchar em sentido contrário ao progresso
Exs.: os mais velhos tentam r. aquilo que é novo
o país retrograda em vez de progredir
pronominal
3 movimentar-se em sentido retrógrado (falando de planetas)
Ex.: Marte retrograda-se
(Na verdade, como um bom marciano, devo avisá-los de que isso não é verdade. Marte PARECE retrogradar, quando a Terra o ultrapassa, por ter uma órbita interior e mais velocidade orbital. Houaiss sabia tudo de linguística estrutural e nada de mecânica celeste).
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Prosseguindo com o questionário de Rivail,
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“De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria comum a todos os seres
orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual pertenceria aos animais e aos
homens; e a alma espírita somente ao homem”. (introdução).
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597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade
de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?
“Há e que sobrevive ao corpo.”
a) – Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?
“É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta
palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem
distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.”
598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a
consciência de si mesma?
“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu, não. A vida
inteligente lhe permanece em estado latente.”
599. À alma dos animais é dado escolher a espécie de animal em que encarne?
“Não, pois que lhe falta livre-arbítrio.”
600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se,
depois da morte, nem estado de erraticidade, como a do homem?
“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas
não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre
vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”
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Aliás, e a propósito, não era minha intenção neste momento, mas não posso deixar de ver a gritante contradição com o lar deles, cheio de animais.
Chiquismo e kardecismo são realmente coisas bem diferentes. Só os espíritas não percebem isto.
dezembro 18th, 2013 às 11:30 PM
Quem tem órbita interior e maior velocidade orbital é a Terra.
Ficou dúbio no comentário. Quanto a Terra ultrapassa Marte temos a impressão de que ele retrograda; após passar do ponto de alinhamento, parece que ele avança de novo.
dezembro 19th, 2013 às 10:06 AM
Não li a tese, mas pela entrevista senti que o autor não deixa claro se a obra post-mortem é de HdeC ou não. Que CX tinha vasto conhecimento da obra humbertiana, não há dúvida. Provavelmente não lhe teria sido difícil imitá-lo, assim como imitava muito bem Augusto dos Anjos e Castro Alves.
dezembro 19th, 2013 às 10:44 PM
Marciano Disse: “Montalvão Diz: “a explicação de Rivail sobre o destino e evolução dos espíritos de irracionais é um tanto complicada, teria que relê-la para discorrer a respeito. Mas, o duende seydituto, primo do elfo seydinada, meu mentor para assuntos da espécie, segredou-me que a alma dos insetos e viventes não pensantes morrem com a morte deles”.
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MARCIANO: Meu caro Montalva, vou facilitar pra você:
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“612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”
Aqui ele remete à questão nº 118: […]
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COMENTÁRIO: pois é, seguindo o que diz a questão 600 infere-se que não poderia haver animais em Nosso Lar, visto que o espírito deles “é utilizado quase imediatamente” e “não lhe é dado tempo de entrar em contato com outras criaturas”. Até aqui tudo bem, e os bichos que Chico viu e outros espíritas também veem na erradicidade não são kardequianos. A complicação está no que Kardec postulou a respeito da evolução dessas almas animálicas. Na questão 607 Rivail, aparentemente meio titubeante e não muito claramente, parece admitir que o espírito humano veio do de animais (“princípio inteligente dos seres inferiores da criação”). Para confirmar se foi isso mesmo precisaria verificar nas revistas espíritas se o assunto é melhor explanado. Teria que tirar um tempinho para isso. De qualquer modo, vimos que há outras opiniões menos generosas, qual a do duende…
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607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?
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“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”
a) – Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade?
Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do
qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos.
dezembro 20th, 2013 às 10:25 AM
E tem também a famosíssima #540:
É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que
também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!
Que eu imagino tenha sido respondida pelo pelo espírito do Rumi:
I died as mineral and became a plant,
I died as plant and rose to animal,
I died as animal and I was man.
Why should I fear? When was I less by dying?
Yet once more I shall die as man, to soar
With angels blest; but even from angelhood
I must pass on : all except God doth perish.
When I have sacrificed my angel soul,
I shall become what no mind e’er conceived.
Oh, let me not exist! for Non-existence
Proclaims in organ tones, ‘To Him we shall return.
dezembro 20th, 2013 às 9:23 PM
Eu não vejo qualquer problema em voltar à inexistência.
Só não quero que isso aconteça por enquanto, só quando eu estiver bem caidinho.