Casos Muçulmanos do Tipo Reencarnação no Norte da Índia: Um Teste da Hipótese da Imposição de Identidade Parte II: Relato de Três Casos, por Antonia Mills (1990)

Resumo — a autora descreve três casos do tipo reencarnação na Índia em que o sujeito ou a personalidade prévia (ou ambos) eram muçulmanos. Em um dos casos, tanto a criança como a pessoa que ela dizia ser eram muçulmanas. No segundo caso, uma criança hindu alegou ser muçulmana. O terceiro caso não só permanece não resolvido (isto é, nenhuma pessoa que correspondesse às declarações da criança jamais foi encontrada), mas provavelmente representa um caso falso. Neste caso ou não-caso, uma criança muçulmana deu algumas indicações de que lembrava ter sido uma hindu brâmane. Os muçulmanos não endossam o conceito de reencarnação e, portanto, abordam os casos ceticamente. Os casos são apresentados em alguns detalhes, assim os leitores podem avaliar por si mesmos até que ponto os casos representam evidência de que algo paranormal (tal como a reencarnação), de acordo com os padrões ocidentais, pode estar acontecendo.

Introdução 

No artigo anterior a este (Mills, 1990) eu comparei os 26 casos do tipo reencarnação no norte da Índia (arquivados na Divisão de Estudos de Personalidade na Universidade de Virginia) em que o sujeito ou a pessoa cuja vida aparentemente era lembrada (ou ambos) eram muçulmanos com as características dos casos mais comuns entre a população hindu da Índia. (Casos em que tanto o sujeito como a personalidade prévia eram muçulmanos são chamados de “casos muçulmanos”. Os casos em que o sujeito ou a personalidade prévia eram muçulmanos, mas o outro era hindu são chamados de “semi-muçulmanos”). No artigo em questão foi destacado que estes casos muçulmanos e semi-muçulmanos são em geral semelhantes aos casos hindus mais comuns na Índia, e que os casos muçulmanos ou semi-muçulmanos são de interesse particular porque é improvável que a identificação de uma criança com uma pessoa de outra comunidade religiosa fosse ocultamente nutrida pelos pais dela. Já que, em geral, os muçulmanos na Índia não acreditam em reencarnação, o estímulo de casos pela comunidade muçulmana é ainda mais improvável. O artigo anterior a este descreve a oposição que enfrentamos à investigação dos casos identificados.

Este artigo apresenta descrições de três casos muçulmanos ou semi-muçulmanos (embora um possa ser um pseudo-caso). O caso de Doohi Khan é um dos oito casos de muçulmano para muçulmano na amostra da Índia. O caso de Naresh Kumar é um dos 11 casos semi-muçulmanos em que uma criança hindu identificou-se como muçulmana. O caso de Chinga Khan é provavelmente um caso falso de um muçulmano que disse lembrar a vida de um hindu. Há sete casos de crianças muçulmanas que alegam ter sido hindus numa vida anterior. Incluo este caso para dar um exemplo de como rumores de um caso (ou não-caso) podem ganhar vida. Eu não o incluí na amostra dos sete casos analisados na Parte I nos quais crianças muçulmanas afirmam lembrar a vida de um hindu porque ele provavelmente pertence ao pequeno grupo de casos que envolvem fraude ou auto-ilusão, dos quais Stevenson e seus sócios informaram sete exemplos (Stevenson, Pasricha, & Samararatne, 1988). Os casos atualmente informados são descritos em detalhes então o leitor pode avaliar o tipo de evidência que eles apresentam.

Relatório de Casos 

O Caso de Doohi Khan 

O caso de Doohi Khan se baseia no depoimento para o qual K.K.N. obteve a assinatura dos parentes do sujeito e da personalidade pregressa neste caso de muçulmano para muçulmano. No dia 17 de outubro de 1926, o Sr. Sahay registrou o seguinte depoimento, citado em Bose (1960, p. 94).

Minha filha Pirbin morreu aos cinco anos de idade. Um ano depois de sua morte a filha de Mohammed Madari Khan desta aldeia deu à luz uma menina. Quando a menina tinha cinco anos de idade, eu arrisquei um dia ir à casa em que ela vivia para tratar de alguns negócios. Ela me reconheceu e me chamou de “pai”. Eu a levei até a minha casa e ela reconheceu a minha esposa, a minha sogra e os meus dois filhos que são seus irmãos. Ela também conhecia meus pais, avós, dois irmãos, e parentes próximos desta aldeia; a saber, Mordan Khan, Pir Khan, Alisher Khan, Sahib Khan, Tej Khan, etc. Ela mesma contou quais objetos da casa haviam sido dela. Agora ela vive com o marido, Mohammed Khandan Khan em uma Aldeia chamada Sarolly no [Distrito] Bareilly. 

(Assinado) Mohammed Jahan Khan Hafiz (Data) 17 de outubro de 1926 

Testemunhas 

Assinatura de Hakim Babu Ram (Proprietário de Karanpur Vill).

Impressões do Polegar 

1) Mohammed Mordan Khan (Chefe da Aldeia)

2) Mohammed Nur Khan (Chefe da Aldeia por nomeação do governo)

3) Mohammed Rashid Khan

4) Mohammed Monser Khan

5) Mohammed Jaber Khan

6) Mohammed Mir Sahib

7) Mohammed Maduri Khan 

S.C. Bose (1960, p. 94), que citou este caso, comentou: “Parabenizei o Sr. Sahay por ter conseguido esta valiosa declaração e disse a ele que é provável que ninguém exceto um advogado pudesse ter feito o mesmo. Ele riu e admitiu que para obter esta declaração precisou enfrentar muitas dificuldades”.

Tentativas Adicionais de Estudar o Caso 

Em 1976, cerca de 50 anos depois, e outra vez em 1979, Ian Stevenson tentou encontrar a sujeita deste caso e o marido dela em Sarolly, e/ou os informantes originais do caso, sem êxito. Até que ponto o fracasso foi devido à longa passagem de tempo, ao considerável deslocamento de muçulmanos para o Paquistão depois da Partição em 1947, ou à relutância por parte de alguns muçulmanos de discutir um tema negado por sua fé, é difícil dizer. A sujeita do caso estaria com pelo menos sessenta anos e seria improvável que ela lembrasse as declarações que fez aos cinco, se o seu caso seguisse o padrão dos numerosos casos que foram melhor estudados (Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, & Stevenson, 1983; Pasricha, 1990; Stevenson, 1987).

O Caso de Naresh Kumar 

Neste caso semi-muçulmano a criança Hindu Naresh Kumar Raydas se identificou como o filho morto de um faquir muçulmano idoso. Naresh Kumar Raydas (que daqui por diante será chamado de Naresh) nasceu em Baj Nagar por volta de abril de 1981. Não se sabe de nenhum registro exato da sua data de nascimento.[1] Ele foi o terceiro de quatro filhos de Guru Prasad Raydas e sua falecida esposa, que viviam na aldeia de Baj Nagar (população de 600 habitantes). Baj Nagar está a aproximadamente cinco quilômetros da cidade de Kakori, no Distrito de Lucknow, Uttar Pradesh.

A personalidade prévia, Mushir Ali Shah (que daqui pra frente será chamada de Mushir) era o filho mais velho do faquir Haider Ali Shah com sua segunda esposa. Mushir tinha vivido com os pais no povoado de Kakori. Ele era um empregado que guiava uma carroça cheia de fruta ou verduras de Kakori rumo ao mercado em Lucknow. Ele tinha aproximadamente vinte e cinco anos de idade quando, no dia 30 de junho de 1980, um trator colidiu com ele e com sua carroça cheia de mangas. Mushir morreu no local ? a estrada de Kakori a Lucknow que fica a cerca de meio quilômetro da aldeia de Baj Nagar.

Investigação do Caso 

Tomei conhecimento do caso em agosto de 1988 e entrevistei Naresh e sua família pela primeira vez na mesma época, depois disso os entrevistei em dezembro de 1988, e em julho de 1990. Satwant Pasricha estudou o caso em novembro de 1988. Os informantes em Baj Nagar eram Naresh; o pai de Naresh, Guru Prasad; a esposa do irmão de Guru Prasad, Rukana; o filho do sobrinho de Guru Prasad, Chandi Ram; e Istaq Ali, o vizinho muçulmano de Naresh e sua família. A mãe de Naresh morreu alguns meses antes de nós começarmos a investigar o caso. Além dessas pessoas, Pasricha entrevistou a avó paterna de Naresh. Em Kakori eu entrevistei o faquir e sua esposa; sua filha casada, Waheeda; o irmão da personalidade prévia, Naseer; a esposa de Shafique, que era uma vizinha de Mushir; Zaheed Ali e sua esposa; e um empregador de Mushir, um Sukuru. Na aldeia de Katoli eu entrevistei Nokay Lai Raidas, a pessoa estava com ele no momento da morte dele.

Contato Anterior Entre as Duas Famílias 

Quando estava vivo Mushir não era conhecido pela família de Naresh. No entanto, seu pai, o faquir Haider Ali Shah, era conhecido deles como um chefe de família muçulmano que tinha dedicado sua vida a Deus. O faquir vinha todas as quintas-feiras à aldeia e ao lar de Naresh pedir esmolas e oferecer orações. Os pais do Naresh chamavam-no de Kubra Baba. A família de Naresh não tinha ouvido falar de Mushir, o filho do faquir, até a sua morte. Quando a notícia do acidente que matou Mushir chegou a Baj Nagar, muitos aldeãos, incluindo os pais de Naresh e a tia-avó, Rukana, vieram ver o corpo. Souberam então que a vítima era o filho do idoso faquir Kubra Baba.

Desenvolvimento do Caso 

Comportamento Precoce de Naresh Posteriormente Relacionado ao Mushir. Quando Naresh era bastante jovem, ele fez e disse coisas que confundiam seus pais e que só mais tarde eles consideraram indicações precoces da sua identificação como Mushir. Na época eles prestaram pouca atenção a estas características.

Quando Naresh começou a falar, por volta dos dois anos de idade, ele freqüentemente dizia: “Kakori, Kakori” e também “karka, karka,” que significa “carroça” no dialeto local. Seus pais não sabiam por que ele dizia estas palavras. Assim que Naresh aprendeu a andar, ele passou a seguir o faquir Haider Ali Shah quando ele vinha fazer as suas rondas em Baj Nagar, pedindo esmolas e orando pelas pessoas. Naresh ia com o faquir a duas ou três casas e então retornava ao próprio lar. Naresh chamou o faquir de Abba, a palavra urdu para pai, usada por muçulmanos e alguns hindus nesta área de Uttar Pradesh. Os pais do Naresh lhe disseram que ele deveria chamar o faquir pelo termo hindu, Baba.

Na época que Naresh tinha aproximadamente dois anos de idade, ele foi observado algumas vezes se ajoelhando em casa como estivesse praticando o namaz, o ritual muçulmano de oração. Quando Naresh notava que estava sendo observado ele parava.

A Identificação Explícita de Naresh como Mushir. Por volta de agosto de 1987, quando Naresh tinha aproximadamente seis anos, ele disse tantas vezes que era um muçulmano de Kakori que a mãe dele abordou o faquir quando ele estava em Baj Nagar e perguntou o que ela devia fazer sobre isso. Embora o faquir não acreditasse no conceito de reencarnação, ele a aconselhou a levar a criança a Kakori e descobrir qual teria sido a casa dele. A mãe de Naresh disse: “Como posso levá-lo a uma casa que não conheço?”

Mais tarde nesse dia Naresh viu o faquir e outra vez o chamou de Abba, e desta vez ele também disse: “Você não me reconhece? Em minha casa há cinco amargosas. Fui atingido por um trator”. Naresh então disse que as mangas se espalharam e que a mãe de Naresh tinha comido duas mangas. Ele expressou considerável hostilidade ao falar sobre isso, e pediu que o faquir o levasse para casa com ele, mas o Fakir se recusou. Na manhã seguinte Naresh convenceu sua mãe a levá-lo à casa do faquir em Kakori. A mãe de Naresh contou ao faquir que no caminho ela tinha perguntado a alguém a direção da casa do faquir. Naresh respondeu aborrecido: “Você quer dizer eu não sei? Venha, eu te mostrarei”. A mãe do Naresh contou ao faquir que Naresh então a levou à casa do faquir, que está numa área de Kakori onde eles nunca tinham estado antes.

Quando eles chegaram, Naresh outra vez chamou o faquir de “meu Abba [pai].” Naresh chamou a esposa do faquir de Amma (Mãe), e reconheceu os irmãos de Mushir e uma irmã presente, assim como o marido dela, a quem ele chamou pelo nome, Mohammed Islam.

Naresh então apontou uma de cinco valises de metal dentro da casa, disse que era sua, e pediu a chave. Naresh descreveu o conteúdo antes de abrir, dizendo (de acordo com o faquir) que havia três rúpias e o seu capelo na valise. Quando ele a abriu, estes itens, de fato, estavam lá. O faquir e sua esposa disseram que eles não sabiam que havia três rúpias dentro da valise de Mushir. Naresh então perguntou à esposa do faquir, Najima: “Onde está o meu irmão mais jovem, Nasim?” Ela disse que ele estava dormindo. Naresh foi até ele, o abraçou e começou a beijá-lo. Najima então perguntou a Naresh quantos irmãos e irmãs ele tinha. Naresh disse que ele tinha cinco irmãos e seis irmãs e que uma das irmãs era uma meia-irmã. Isto era correto para a época que Mushir estava vivo. Najima, apontando para Sabiah, uma menina de aproximadamente seis anos, então perguntou-lhe quem ela era. Naresh disse: “Ela estava no seu estômago naquela época”. A filha caçula de Fakir nasceu três meses depois da morte de Mushir

A esposa do faquir então examinou Naresh e observou que ele tinha uma marca na cabeça que correspondia a uma marca em Mushir onde ela o tinha golpeado com tenazes* quando se aborreceu porque ele não comia. (Quando perguntada em 1990, Najima disse que ela tinha ouvido que marcas de nascimento podem se relacionar a uma vida anterior). Achei esta marca difícil de ver em 1988 porque está no couro cabeludo de Naresh. Najima pensou que a marca teria desaparecido desde o ano que ela encontrou Naresh pela primeira vez, mas destacou uma área na parte de trás da cabeça dele em que o escalpo parecia ter uma pigmentação mais escura do que a área ao redor.

O faquir e sua esposa também notaram que havia uma depressão na região central do peito de Naresh. (Quando eu o examinei em 1988, eu pude ver esta depressão, que estava na extremidade mais baixa do esterno, se estendendo ao longo da linha mediana, mas mais para a direita do que para a esquerda). Em 1988, mas não em 1990, o faquir e sua esposa disseram que esta depressão estava no mesmo lugar de uma ferida no peito de Mushir que ocorreu durante o seu acidente fatal. Por volta de 1990, a depressão no peito de Naresh era menos visível.

Naresh reconheceu algumas pessoas de Kakori que tinham se reunido na casa do faquir na primeira visita do Naresh. Uma destas era a esposa de um homem chamado Zaheed, e diz-se que ele perguntou para ela: “Você não deu as minhas 300 rúpias ao meu Abba?” De fato, três dias depois da morte de Mushir, Zaheed deu ao faquir as 300 rúpias que Mushir tinha dado a ele. Perguntaram a Naresh se ele reconhecia uma velha senhora em particular que chegara à casa do faquir. Esta senhora contou-me que ele não a reconheceu. No entanto, a mãe de Mushir disse que Naresh, sem que a senhora ouvisse, tinha dito que ela era a “esposa do Shafique que vive perto da mesquita”. Esta informação está correta.

Quando Naresh ia ser enviado da casa do faquir de volta para o seu lar com cinco rúpias, ele disse: “O que quer dizer? Que você me deixará ir sem me oferecer chá e ovo?” Mushir gostava muito de chá, ovos, e semia. Chá e ovos eram alimentos que ele consumia todos os dias.

A Contínua Identificação de Naresh como Mushir. Depois que Naresh retornou de Kakori, ele usou o capelo estilo muçulmano de Mushir todos os dias durante meses, apesar de ser provocado por outras crianças sobre ser um homem muçulmano. De acordo com o pai de Naresh, depois de ter visitado Kakori, a identificação de Naresh com um muçulmano, e com Mushir, tornou-se mais forte do que antes, e ele praticava o namaz (a forma muçulmana de oração) mais freqüentemente e queria tomar chá e comer ovo e semia. No entanto, seu pai disse que durante o ano que tinha passado desde que Naresh foi ao lar do faquir em Kakori pela primeira vez, a intensa identificação tinha começado a desaparecer de modo que Naresh começou a falar mais do ponto de vista de Naresh e menos do ponto de vista de Mushir.

Esforços de Supressão 

Algum tempo depois da primeira viagem do Naresh ao lar do faquir, os pais de Naresh, num esforço para fazê-lo se esquecer de sua identificação com Mushir, tinham-no levado a um Mazaar, um local onde um santo muçulmano foi enterrado. O faquir sentiu que este acontecimento foi o responsável pelo fato de Naresh ter começado a mostrar menos interesse nele quando ele visitava Baj Nagar para esmolar.

Atitudes de Muçulmanos em Relação ao Caso 

O faquir disse que ele não acreditava em reencarnação antes deste caso. Depois que Naresh o abordou e disse que ele era seu filho, o faquir entrou em um conflito profundo. Incapaz de dormir, à meia-noite ele orou: “Alá, que mistério é esse?” Os reconhecimentos de Naresh no dia seguinte convenceram o faquir de que Naresh era o seu filho Mushir renascido. A princípio a esposa do faquir ficou chocada ao saber que o menino alegava ser o filho dela. Contudo, ela também ficou convencida de que Naresh era o seu filho renascido. Ao relatar os acontecimentos, o faquir e sua esposa começaram a chorar. A voz do Fakir tremia de emoção cada vez que ele relatava os incidentes.

Talvez seja pelo fato de que o faquir era e é respeitado como um homem muçulmano sagrado que eu não tenha encontrado nenhuma oposição ao estudo do caso por parte de nenhum dos numerosos muçulmanos que eu entrevistei sobre o caso. A maioria das pessoas fornecia evidências sobre o caso e então repetia que não acreditava em reencarnação. Por exemplo, Waheeda, a irmã de Mushir, descreveu como Naresh a tinha identificado dizendo: “Você é a minha irmã”. Quando eu perguntei como ela respondeu a essa situação, ela disse: “Nós não acreditamos em reencarnação”.

Agora o faquir é tão familiar com a explicação de reencarnação do caso que ele disse a mim e às pessoas presentes na reunião que aconteceu em julho de 1988: “Esta é a minha última vida na terra”, e então um proeminente residente muçulmano de Kakori retrucou: “Como você pode saber? Somente Deus pode saber”.

Em resumo, apesar da doutrina de reencarnação não fazer parte da tradição sunita muçulmana, o caso envolvendo o filho do faquir não só fez com que a maioria dos membros da família do faquir considerasse o conceito, como também abrandou a atitude da comunidade muçulmana daquela região em relação à reencarnação. Esta falta de oposição não era típica dos outros casos muçulmano e semi-muçulmanos, como a Parte I atesta.

Comentários sobre as Características Paranormais do Caso 

Algumas características deste caso são difíceis de explicar por processos normais de comunicação e premissas psicológicas normais. Estas características incluem a identificação de Naresh com alguém que ele não conheceu e o seu conhecimento sobre a vida desta pessoa. Este conhecimento foi expresso em algumas das suas declarações sobre a casa de Mushir e suas posses, no seu reconhecimento da família de Mushir e de pessoas conhecidas dele, e no seu conhecimento sobre o dinheiro devido a Mushir. Sua marca de nascença e o leve defeito aparente em 1988 também podem ter uma origem paranormal.

Como foi mencionado acima, a identificação de Naresh de si mesmo como Mushir parece ter começado antes de ele ser verbalmente capaz de se expressar claramente à sua família ou ao faquir. Sua persistente menção a Kakori e a uma carroça, o seu interesse pelo faquir e a prática precoce do namaz são evidências desta identificação precoce.

A sua prática do namaz pode ter derivado da observação do seu vizinho próximo Istaq Ali ou de outros muçulmanos executando este ritual. De acordo com um residente de Baj Nagar, 80% da aldeia era muçulmana. Apesar disso, não é comum crianças hindus dizerem que são muçulmanas. A execução precoce de Naresh do namaz é coerente com a sua identificação como Mushir. O fato de Naresh identificar a si mesmo como o filho do faquir não foi baseado num desejo de identificar-se com melhores condições materiais. Ambas as famílias do faquir e de Naresh enfrentavam certas dificuldades para suprir suas necessidades materiais. O faquir teve 14 filhos, e os mais velhos trabalhavam e ajudavam a ganhar um dinheiro extra para aliviar a vida que o Fakir levava pedindo esmolas. Ainda assim, a família era materialmente bastante pobre. O pai de Naresh possuía quatro acres de terra que ele cultivava, mas a família de Naresh não era muito mais afluente do que a do faquir.

Muitas das declarações posteriores de Naresh (verificadas como corretas) também indicam sua profunda identificação como Mushir. Algumas informações eram publicamente conhecidas, mas outras não. Por exemplo, a descrição de Naresh do acidente e do espalhar e comer das mangas era correta, mas estes fatos eram conhecidos pelos pais de Naresh. Naresh pode ter ouvido estes detalhes assim como uma descrição do acidente fatal que ocorreu antes do seu nascimento, mas é improvável que tal informação teria muita importância para um menino de Baj Nagar. O conhecimento dos acontecimentos não explicaria a identificação em primeira pessoa de Naresh com eles. A declaração de Naresh de que havia cinco árvores de neem no pátio da casa do faquir foi feita antes de Naresh ter visitado a casa dele e sugere um conhecimento paranormal.

Os reconhecimentos que Naresh fez das pessoas e objetos em Kakori também estavam corretos. Observadores críticos podem notar que indícios podem ser inadvertidamente ou inconscientemente fornecidos no cenário de reuniões de “vidas passadas” pela multidão de espectadores ou pelas pessoas diretamente envolvidas. Ainda que tais indícios possam explicar alguns reconhecimentos, é improvável que eles expliquem a espontaneidade e a adequação do comportamento da criança em relação a estas pessoas. Isto é exemplificado pelo abraço e beijo de Naresh em Nasim, o irmão mais jovem de Mushir, na primeira vez que ele o viu. Tal ação seria inteiramente apropriada se tivesse vindo de Mushir mas improvável para uma criança hindu que nunca tinha visto Nasim antes. Um das pessoas aparentemente reconhecidas por Naresh foi a esposa do homem que devia dinheiro a Mushir. É improvável que as pessoas presentes tivessem fornecido informações sobre a quantidade de dinheiro que era devida a Mushir.

O reconhecimento de Naresh da valise de Mushir, identificação feita em meio a outras valises, e o conhecimento do seu conteúdo parecem ter sido espontâneos e também indicam um conhecimento paranormal. Por exemplo, como citamos acima, os pais de Mushir não sabiam que havia três rúpias na valise.

A leve deformação no peito do Naresh, que é visível em fotografias tiradas em 1988, também exige alguma explicação. Há um defeito raro de nascimento conhecido como peito de funil [pectus excavatum], a incidência em que foi encontrado em séries diferentes varia de 1a 4 nascimentos em cada 10.000 (Degenhardt, 1964). Degenhardt (1964) e Nowak (1936) notaram que o defeito às vezes se apresenta em vários membros de uma família como uma característica predominantemente herdada. Contudo, um fator genético parece improvável no caso de Naresh porque nenhum outro membro da família dele teve um defeito semelhante. A correspondência da deformação no peito de Naresh com o local onde as costelas de Mushir foram quebradas no acidente fatal, de acordo com o irmão de Mushir e com o homem que estava com ele no momento do acidente, sugere uma relação causal com a ferida de Mushir. No entanto, até o momento eu não obtive a autópsia do corpo de Mushir, e o relatório da polícia menciona apenas que ele morreu no local.

O [Questionável] Caso de Chinga Khan 

O caso de Chinga Khan é não resolvido, ou seja, não foi possível identificar uma pessoa que correspondente à descrição fornecida pela criança. Na verdade, eu não o considero como um caso de maneira alguma, mas incluo um relatório dele porque é importante informar os casos mais fracos assim como os mais fortes a fim de avaliar como os casos passam a ser definidos como tais e quais evidências eles apresentam de que algum processo paranormal está envolvido.

A Investigação do Caso 

Stevenson e Pasricha ouviram sobre o caso em 1987 quando estavam em Bharatpur investigando outro caso, mas eles não o investigaram. Investiguei o caso em 2 de janeiro e 9 de janeiro de 1989 com o auxílio do Dr. N. K. Chadha, e Geetanjali Gulati. A informação sobre Chinga se baseia no que os pais de Chinga e o irmão mais velho disseram, no que Chinga timidamente adicionou, e no testemunho de uma vizinha. Além disso, Hari Sharma (um homem que provavelmente tinha sido erroneamente identificado por terceiros como sendo o filho da personalidade prévia), um camelô, e Babbu, o filho do vendedor de folhas de betel, foram entrevistados.

Oposição à Investigação 

O tio-avô de Chinga disse com grande hostilidade que eles não acreditam em reencarnação, e ele tentou impedir que eu e os meus tradutores fizéssemos perguntas e anotações sobre o caso. Sua oposição foi tão agressiva e persistente que o estudo do caso teria sido impossível se qualquer outro membro da família o apoiasse. No entanto, a mãe de Chinga tinha começado a nos dar informação antes da situação ficar mais complicada, e o pai e o irmão mais velho de Chinga, que não estavam presentes quando este homem idoso expressou sua estridente oposição ao estudo, estavam dispostos a serem entrevistados.

Desenvolvimento do Caso 

Chinga Khan nasceu em Bharatpur, Rajasthan por volta de 1980. Era o filho de Ajmeri Babu Khan e Jora Khan, que eram muçulmanos sunitas e como tais não endossavam o conceito de reencarnação. Ajmeri Khan tinha vacas que ele vendia e ordenhava. Chinga tinha um irmão mais velho, Chandu, que era aproximadamente cinco anos mais velho do que ele. A mãe de Chinga tinha tido 11 filhos, dos quais Chinga e Chandu eram os únicos que ainda estavam vivos.

Chinga nasceu com um polegar esquerdo bifurcado em dois. Ter seis dedos é considerado um sinal de boa sorte na Índia. O pai de Chinga o considerava uma criança afortunada e o creditou com a capacidade de prever o futuro. Ele foi chamado de Chinga porque esse nome significa “seis-dedos.”

Quando Chinga era jovem, de acordo com seus pais e irmão, ele fez as seguintes declarações: Disse que era um Pandit brâmane (aparentemente ambas as palavras foram usadas) e que teve dois filhos. O pai de Chinga disse que ele tinha citado os nomes dos filhos, mas ele não se lembrava quais eram. Hari Sharma disse que quando foi saber sobre o caso um ano antes de nossa investigação, o irmão de Chinga tinha lhe contado que Chinga previamente tinha citado os nomes dos filhos. No entanto, quando entrevistamos o irmão de Chinga, ele achava que Chinga não tinha citado os nomes especificamente.

O pai de Chinga (mas não a sua mãe e irmão) disse que Chinga tinha dito que ele teve uma loja de paan (ou folha de betel). (Vendedores de paan são chamados de paan walas). Sua mãe informou que ele havia dito que a loja dele ficava em Laxman Mandir. Há uma área de mercado chamada Laxman Mandir a aproximadamente dois quilômetros do lar de Chinga. Seus pais disseram que Chinga tinha dito que havia uma barbearia em frente e uma loja de doces por perto. O pai de Chinga (mas não a sua mãe) disse que Chinga costumava seguir rumo à área de Laxman Mandir. Chinga tinha parado de fazer estas declarações algum tempo antes de eu começar a estudar o caso.

Quando Chinga era pequeno, ele apresentava dois hábitos que sugeriram que ele era um brâmane: ele se recusava a comer carne e ovos e lavava as mãos repetidamente (e menos freqüentemente os seus pés e corpo). Se estas características se apresentavam antes de Chinga começar a fazer as declarações que seus pais pensaram que talvez se referissem a uma vida passada eu não pude determinar. Seu pai também notou que Chinga tem uma tez clara que é diferente da tez dele e do seu filho mais velho, e que ele aparentemente pensava que poderia ser explicada por uma interpretação de reencarnação.

A Perseverança do Comportamento Anômalo 

Chinga repetidamente lavava as mãos e mantinha uma dieta vegetariana até a época que eu investiguei o caso, quando ele tinha oito anos de idade. A mãe de Chinga disse que ele lavava as mãos tão freqüentemente que o levou a um médico para ver se elas coçavam ou se ele tinha alguma aflição que explicasse as repetidas lavagens (alguém talvez se pergunte se a anomalia do polegar dividido incitou este hábito). O médico disse que nada havia de errado com as mãos dele. Ele não tinha nenhuma outra obsessão.

Quanto à contínua dieta vegetariana de Chinga, a mãe dela indicou que ela não comia carne por causa dos seus dentes pobres, embora ela preparasse pratos com carne para o marido e o filho mais velho. Não havia nenhum brâmane na vizinhança que Chinga pudesse ter tomado como modelo. No entanto, os muçulmanos da área eram muito cientes assim como os hindus de que os brâmanes são muito preocupados com a limpeza e (tipicamente) vegetarianos.

O Desenvolvimento dos Rumores sobre o Caso 

O boato de que uma criança muçulmana afirmava ser um Pandit e teve uma loja de paan espalhou-se por toda a vizinhança e eventualmente chegou a um kachori wala (um homem que cozinha e vende um alimento chamado kachoris em uma carroça no mercado Laxman Mandir cerca de um ano antes de nossa investigação. O kachori wala soube por um freguês (que ele não tinha visto antes nem desde então) que um menino muçulmano numa vizinhança em particular dizia que era um Pandit e tinha uma loja de paan. O kachori wala disse que este freguês tinha lhe contado os nomes que a criança tinha citado como sendo os nomes dos filhos “dele”, e estes eram os nomes de Hari Sharma e do irmão dele. O kachori wala conhecia a loja de paan, os filhos que a administravam e o falecido pai deles por muitos anos. Sua carroça ficava do outro lado e pra cima da rua, aproximadamente cem jardas da loja de paan de Hari Sharma e posicionada de modo que ele (kachori wala) e Hari Sharma pudessem ver o que acontecia no estabelecimento um do outro.

O kachori wala então visitou Hari Sharma e disse o que ele tinha ouvido, e eles combinaram de encontrar a criança juntos. Ao chegarem à casa de Chinga eles encontraram o seu irmão mais velho mas descobriram que Chinga tinha ido com a mãe fazer uma visita a parentes em Mathura, uma cidade a uma distância consideravelmente longe. O brâmane Hari Sharma disse que não acreditava em reencarnação, e não insistiu no assunto até eu retomar a minha investigação um ano mais tarde.

Hari Sharma era cético sobre o caso. Seu pai tinha morrido por volta de 1963 depois de uma doença de alguns dias quando tinha entre sessenta e sessenta e cinco anos de idade. Ele nunca tinha tido uma loja de paan. O próprio Hari tinha aberto a loja de paan por volta de 1977. A localização da loja, no mercado Laxman Mandir, se encaixa na descrição atribuída a Chinga, mas não poderia ter sido obtida da memória do seu falecido pai. Além disso, a loja de doces à qual Chinga se referiu não existia durante a vida do pai de Hari Sharma.

No caso do Chinga é difícil ter certeza de que ele sabia de algo que não fosse conhecido pelas pessoas com as quais convivia. Quando Chinga encontrou Hari Sharma pela primeira vez (em nossa presença), ele não o reconheceu (embora ele já tivesse passado da idade normal em que as memórias de vidas prévias estão nítidas).

Quando dissemos à mãe de Chinga que o pai de Hari Sharma nunca teve uma loja de paan, ela disse que Chinga havia dito que ele fora um Chingu lojista de paan. Houve de fato um paan wala chamado Chingu (“seis dedos”) porque esse nome, Changa, era muito parecido com o de Chinga, apesar de ele ter os normais cinco dedos. Quando nós entrevistamos um de seus três filhos soubemos que este Chingu paan wala não era um Pandit brâmane, que ele tinha três filhos, e que ele morrera apenas cerca de um ano e meio antes, quando Chinga teria seis anos e meio. Um dos filhos de Chingu paan wala me disse que ele conheceu Chinga Khan e sua mãe, já que eles frequentavam uma alfaiataria próxima e algumas vezes compravam coisas em sua loja. Não há outros paan walas brâmanes além de Hari Sharma na cidade de Bharatpur. 

Comentários sobre o Caso de Chinga Khan 

Há um número de explicações alternativas para este caso. Chinga pode ter se identificado como um Brahmin Pandit porque ouviu seus pais tentarem explicar sua obsessão pela lavagem de mãos e sua recusa de comer carne e ovos afirmando ser um brâmane renascido; ele pode ter adicionado os elementos sobre a loja de paan a partir do seu conhecimento de que havia um Chingu paan wala com quem ele se identificou. Ainda assim, nós não podemos eliminar a possibilidade de que Chinga tenha subliminarmente, ou conscientemente, lembrado uma vida prévia como um Brahmin Pandit, e talvez como o Pandit que foi o pai de Hari Sharma. Também devemos considerar que já que mercados nomeados posteriormente templos Laxman (mandirs) existem em muitas cidades na Índia, é possível que Chinga Khan se referisse a outra cidade onde ele teve uma loja de paan. A evidência deste caso é escassa e dificulta o processo de verificação.

Stevenson, Pasricha, e Samararatne (1988) informam sete casos de fraude e auto-ilusão que eles acharam no processo de investigar mais de 685 casos do tipo reencarnação em quatro países da Ásia. O caso de Chinga é o oitavo caso a ser publicado deste grupo. No entanto, ele se diferencia dos outros sete casos informados de fraude e auto-ilusão uma vez que os próprios pais de Chinga não estavam seguros sobre o caso e não tinha procurado noticiá-lo, pelo menos não conscientemente. Os pais de Chinga não tinham nenhuma idéia de quem tinha falado com o kachori wala, e eles não tinham ouvido falar que havia uma alegação de que o filho deles tinha dado o nome de Hari Sharma e de seu irmão como o nome de seus filhos (de Pandit). No caso de Chinga, a aceitação popular de possíveis causas de vidas passadas de peculiaridades comportamentais, atrelada a ausência de um esforço para verificar o caso, parece ter resultado no desenvolvimento de rumores de um caso com base em pouca evidência.

Este caso é notável em parte porque indica que o comportamento anômalo apresentado por uma criança nascida na comunidade muçulmana sunita nesta parte da Índia pode ser interpretado como sugestivo de uma causa de vidas passadas, mesmo quando a doutrina da reencarnação é oficialmente e categoricamente desaprovada por alguns membros da comunidade.[2] 

Discussão 

Os três casos muçulmanos ou semi-muçulmanos descritos acima exemplificam alguns dos 26 casos deste grupo que eu analisei na Parte I deste artigo. Estes casos são, em geral, semelhantes em suas características principais aos casos hindus, exceto pelo fato de que eles são menos vulneráveis à interpretação de que são promovidos porque se encaixam na doutrina religiosa.

A oposição da maioria da comunidade muçulmana ao conceito de reencarnação sugere que é improvável que pais muçulmanos aleguem fraudulentamente que sua criança é um exemplo de reencarnação, ou que imponham ou encorajem tal identificação. É igualmente improvável que pais hindus incentivem a identificação de seus filhos com muçulmanos.[3] Não se pode dizer que o pai de Naresh deseja que o seu filho alegue ser o filho falecido de um pobre faquir muçulmano.

A tensão entre as duas comunidades religiosas faz com que tanto os pais muçulmanos quanto os pais hindus de uma criança que alega se lembrar de uma vida prévia tenham pouco interesse em procurar os parentes da pessoa com quem sua criança se identificou. De fato o caso de Chinga Khan indica que essa ambivalência muçulmana sobre o sujeito pode ter o efeito inesperado de permitir que rumores sobre um caso circulem porque os parentes muçulmanos da criança não verificam a exatidão das supostas declarações. Os pais de Chinga supostamente teriam tido que suportar o mesmo tipo de tratamento que eu recebi do seu tio-avô se parecessem estar interpretando, impondo, ou nutrindo uma identificação de vida passada em seu filho, embora as evidências sugiram que os pais podem ter acreditado que este era o caso.

Os três casos descritos acima indicam que a evidência de algum processo paranormal estar envolvido necessita de cuidado e deve ser examinada de forma crítica em cada caso. A probabilidade de a criança ter acesso ao conhecimento que ela declara, a consistência e coerência das declarações da criança, e sua veracidade (nesses casos que são resolvidos) devem ser avaliadas.[4] Algumas características destes casos sugerem que processos paranormais podem estar envolvidos. A hipótese alternativa de que os casos são devido a percepção extra-sensorial de pensamentos na mente de alguém não explica a ausência (com raríssimas exceções) de quaisquer evidência de poderes paranormais nos sujeitos destes casos, a não ser pelo conhecimento sobre a vida da pessoa com quem eles se identificam.

Notei no artigo anterior a este que a familiaridade muçulmana e endosso do conceito de possessão pode predispor a comunidade muçulmana a examinar os casos do tipo reencarnação com medo de que eles possam representar casos de possessão. No entanto, Stevenson (1974) convincentemente explicou que a maioria dos casos do tipo reencarnação não são tão bem interpretados em função do conceito de possessão.

Os três casos muçulmanos ou semi-muçulmanos descritos acima mostram que casos diferentes têm forças e fraquezas diferentes. Uma avaliação válida deve pesar a validez dos casos considerados independentemente, assim como a descrição composta representada pelo corpo crescente de casos bem-documentados. Estudos adicionais de casos enquanto eles se desenvolvem (Stevenson & Samararatne, 1988) nos ajudarão a avaliar até que ponto os pais formam e/ou nutrem tais casos consciente ou inconscientemente.

Agradecimentos 

Eu gostaria de agradecer ao Dr. Narender K. Chadha, Professor no Departamento de Psicologia na Universidade de Delhi, e seus estudantes graduados Dr. Vinod Sahni e Srta. Geetanjali Gulati, que atuaram como meus tradutores e assistentes. A gradeço a Emily Williams Cook, ao Dr. Satwant Pasricha, ao Dr. N. K. Chadha, e ao Dr. Ian Stevenson por seus comentários sobre a versão anterior deste artigo.

A correspondência e os pedidos para impressões devem ser enviados a Antonia Mills, Ph.D., Box 152 Health Sciences Center, University of Virginia, Charlottesville, VA 22908. 

Referências 

Bose, S. C. (1960). Your last life and your next. Manuscrito não publicado traduzido do bengali por E. J. Spencer (Texto escrito em bengali em 1939-40). Em arquivo na Divisão dos Estudos da Personalidade, Universidade de Virgínia.

Cook, E. W., Pasricha, S., Samararatne, G., U Win Maung, & Stevenson, I. (1983). A review and analysis of “unsolved” cases of the reincarnation type. II. Comparison of features of solved and unsolved cases. Journal of the American Society for Psychical Research, 77, 115-135.

Degenhardt, K.-H. Von. (1964). Missbildungen der rippen-brustkorbdeformierungen. In P. E. Becker (Ed.) Humangenetik Vol. II (pp. 605-611). Stuttgart: Georg Thieme Verlag.

Mills, A. (1989). A replication study: Three cases of children in northern India who are said to remember a previous life. Journal of Scientific Exploration, 3, 133-84.

Mills, A. (1990). Moslem cases of the reincarnation type in northern India: A test of the hypothesis of imposed identification. Part I: Analysis of 26 cases. Journal of Scientific Exploration, 4, 171-188.

Nowak, H. (1936). Die erbliche trichterbrust. Deutsche Medizinische Wochenschrift, 62, 2003-2004.

Pasricha, S. (1990). Claims of reincarnation: An empirical study of cases in India. New Delhi: Harman Publishing House.

Stevenson, I. (1974). Twenty cases suggestive of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia. (Publicado pela primeira vez nos Proceedings of the American Society for Psychical Research, 26, 1-362, 1966.)

Stevenson, I. (1975). Cases of the reincarnation type. Vol. I. Ten cases in India. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I. (1987). Children who remember previous lives: A question of reincarnation. Charlottesville: University Press of Virginia.

Stevenson, I., Pasricha, S., & Samararatne, G. (1988). Deception and self-deception in cases of the reincarnation type: Seven illustrative cases in Asia. Journal of the American Society for Psychical Research, 82, 1-31.

Stevenson, I., & Samararatne, G. (1988). Three new cases of the reincarnation type in Sri Lanka with written records made before verifications. Journal of Scientific Exploration, 2(2), 217- 238. 

Referênca original: Mills, Antonia. “Moslem cases of the reincarnation type in northern India: A test of the hypothesis of imposed identification, Part II: Reports of three cases”, J. Sci. Exploration 4, No. 2 (1990) pp. 189-202

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Este artigo foi traduzido para o português por Vitor Moura Visoni e revisado pela Inwords.



[1] Chegou-se a esta data de nascimento adicionando nove meses à data que a personalidade prévia morreu, 30 de junho de 1980, que foi registrada na Delegacia de Kakori. Nós não temos nenhuma evidência da data de nascimento de Naresh a não ser pelo testemunho do pai e da tia de Naresh que disseram que ele nasceu nove meses depois da morte de Mushir.

* Tenaz é uma ferramenta, usada preferencialmente por ferreiros e serralheiros, para pegar objetos metálicos à distância e, por isso, dotado de longos cabos, semelhante a um alicate. (N. T.)

[2] O Dr. Abdulaziz Sachedina, uma autoridade sobre seitas muçulmanas e ele próprio um muçulmano, me contou que ouviu xiitas muçulmanos explicando o atual infortúnio em termos de uma presumida causa em vidas passadas mesmo eles não aceitando o conceito de reencarnação como doutrina.

[3] Os parentes hindus de uma criança que se acredita estar lembrando uma vida prévia como um hindu às vezes tem suas próprias razões para resistir a esta interpretação ou, aceitando-a, abster-se de permitir que sua criança encontre os parentes da pessoa identificada como a personalidade prévia (cf. Mills, 1989, 1990; Pasricha, 1990; Stevenson, 1974, 1975).

[4] Cook, Pasricha, Samararatne, U Win Maung, e Stevenson (1983) compararam as características de casos do tipo reencarnação não resolvidos e resolvidos, e eles acharam que na maioria dos aspectos os casos resolvidos e não resolvidos são semelhantes, embora seja menos provável que as crianças em casos não resolvidos sejam citem nomes específicos que ajudem a localizar as pessoas descritas, e elas param de mencionar esta outra identidade bem mais cedo.

3 respostas a “Casos Muçulmanos do Tipo Reencarnação no Norte da Índia: Um Teste da Hipótese da Imposição de Identidade Parte II: Relato de Três Casos, por Antonia Mills (1990)”

  1. Marciano Diz:

    Nossa! Tá rápido demais pra mim.
    Vou tentar me manter atualizado.
    Um torpedeamento intenso.
    .
    MONTALVÃO, tem um comentário que dirigi a você, no tópico “A PERCEPÇÃO TELEPÁTICA NO ESTADO ONÍRICO, por Stanley Krippner e Montague Ullman (1969)”.

  2. Gorducho Diz:

    Sugiro à Administração que considere a tradução – dentro do possível e desde que permita o autor, &c – do artigo Hell, and Back, M D Riti in Bangalore.
    Mostra como as NDEs dependem da cultura do paciente, liquidando assim com a fantasia dos místicos.
    Fui levado ao artigo pré-pesquisando os trabalhos da Drª Satwant Pasricha. Depois vejo: diz que ela andou pesquisando as diferenças de reencarnações nas diversas culturas…

  3. Gorducho Diz:

    Cito pequeno trecho:
     
    Dr Pasricha has conducted extensive surveys of people who profess to have had such experiences. Based on this work, she draws several broad conclusions, which indicate the existence of distinctive differences between cases in India and abroad. Almost every person she interviewed here said s/he had met either Yamaraj or his emissaries.

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