Crítica à obra “A crise da morte” de Bozzano

Segue brevíssima análise do aspecto metodológico da obra A crise da morte de Ernesto Bozzano, por Sergio Maurício. Esse pequeno trabalho foi apresentado numa palestra no Teatro Espírita Leopoldo Machado (Telma), em Salvador. A análise é mais extensa do que a aqui apresentada, mas reduziu-se sobremaneira os textos das citações e dos comentários para que ficasse de mais fácil leitura. Em “A Crise da Morte”, Bozzano expõe e comenta os testemunhos vindos do mundo espiritual sobre as diversas situações por que passa o Espírito na ocasião do término de cada experiência no plano material, submetendo os casos citados ao processo científico da análise comparada, do que teria resultado um conjunto de revelações de irrecusável veracidade.

1. Metodologia proposta: análise comparada.

“[…] material que se presta a ser examinado e analisado com fundamento na sua consistência intrínseca, que lhe confere um grau notável de probabilidade, da mesma forma que as narrações dos exploradores africanos se prestam a ser analisadas e verificadas, com fundamento em suas concordâncias…”

A comparação entre o material mediúnico analisado e “as narrações dos exploradores africanos” é estranha: é óbvio que o próprio autor poderia ir à África e retornar com suas próprias observações, atestando ou não aquilo que foi relatado anteriormente como verdadeiro ou falso. O mesmo não se poderia dizer da morte…

2. Ainda a metodologia: o ônus da prova.

“Ninguém pode afirmar ou negar a priori. O fato de negar ou de lançar ao ridículo as ‘revelações transcendentais’ equivale a pretender conhecer, de modo certo, o mundo espiritual, o que constitui presunção indigna de um céptico que raciocine…”

Da mesma forma que se pode afirmar sem provas, apenas amparado por um discurso pseudocientífico, poder-se-ia negar sem qualquer constrangimento. Mas há ainda algo mais sério nessa afirmação que vilipendia uma premissa científica: o ônus da prova é de quem propõe a hipótese. E isso, definitivamente, não foi feito pelo autor…

3. Metodologia: os médiuns.

“Se se chegasse a comprovar que um dos médiuns empregados ignorava absolutamente as teorias espíritas (o que excluiria a hipótese de uma colaboração subconsciente), seria conveniente experimentar com outros médiuns, para se obterem informações sobre o mesmo assunto; e assim por diante, sem que se estabelecessem relações entre eles.”

Médiuns que desconhecessem “as teorias espíritas” e que não tivessem relações entre si. Perfeito! Mas isso foi feito? Como são os exemplos trazidos por Bozzano?

4. Metodologia: como foi na prática.

“A coisa é teoricamente possível, mas de realização difícil, porque é raro que um só pesquisador chegue a encontrar numerosos médiuns, de maneira a poder levar a efeito uma empresa formidável como essa. Mais prático era, pois, aproveitar o material imenso que se acumulou […], relativamente às ‘revelações transcendentais’, para empreender uma seleção severa de todas as peças, classificando-as, analisando-as, comparando-as, tendo o cuidado de colher informações sobre os conhecimentos especiais de cada médium, no tocante às doutrinas espíritas.”

Bem, aqui ele já começa a se desviar de sua proposta…

5. Metodologia: o corte metodológico.

“[…] todos os fatos, que citarei, de defuntos que narram sua entrada no meio espiritual são tirados de coleções de ‘revelações transcendentais’ publicadas na Inglaterra e nos Estados Unidos. “Por que – perguntar-me-ão os leitores – esse exclusivismo puramente anglo-saxônio? […] é claro que, se os povos anglo-saxônios são os únicos que, até hoje, hão mostrado saber apreciar o grande valor teórico e prático das ‘revelações transcendentais’, como são os únicos que a isso se consagraram, empregando métodos racionais, não me restava outra coisa senão tomar o material necessário onde o encontrava.”

Esse corte epistêmico será analisado com mais propriedade num comentário feito no décimo-quarto caso apresentado.

6. Os casos: primeiro.

“Extraio este fato de uma obra intitulada Letters and Tracts on Spiritualism, obra que contém os artigos e as monografias publicadas pelo juiz Edmonds, de 1854 a 1874. Sabe-se que Edmonds era notável médium psicógrafo, falante e vidente. Alguns meses depois da morte acidental de seu confrade, o juiz Peckam, a quem ele muito estimava, […]” 

Um juiz que era notável médium psicógrafo, falante e vidente? Não eram para ser médiuns sem nenhum conhecimento sobre espiritualidade e sem relações com outros?

7. Os casos: terceiro.

“Reproduzo um último caso de data antiga, que extraio do livro do Dr. Wolfe, Starling Facts in Modern Spiritualism (pág. 388). ‘Jim Nolan’, o ‘Espírito-guia’ do célebre médium Sr. Hollis, que disse […]”

À revelia do bobo erro na tradução feita pela FEB, pois não era Sr., mas Sra., a médium Sra. Mary J. Hollis era experiente, rica, membro da Igreja Episcopal e com excelentes relações no meio espiritualista.

8. Os casos: quarto.

“[…] um fato tirado da obra de Mrs. Jessie Platts, The Witness. Trata-se de uma coleção de comunicações mediúnicas muito interessantes, obtidas graças à mediunidade da própria Mrs. J. Platts, viúva do Rev. Charles Platts, que teve a infelicidade de perder seus dois filhos na grande guerra. As comunicações publicadas provêm do filho mais moço, Tiny, rapaz de 18 anos apenas, morto quando combatia na frente francesa, em abril de 1917, e que se comunicou psicograficamente, mercê da mediunidade improvisada de sua mãe […]”

“Termino lembrando que Mrs. Jessie Platts foi levada a cogitar de pesquisas mediúnicas e a tentar escrever automaticamente, pela morte de seus dois filhos na guerra. Ela, pois, nada conhecia – ou muito pouco – das doutrinas espíritas e tudo ignorava acerca do conteúdo das outras coleções de revelações transcendentais.”

Mais ou menos. A médium Sra. Platts levou mais de um ano entre a morte de seu filho Tiny, em 28/04/1917, e o recebimento da primeira mensagem em 03/07/1918. E em seu livro ela relata que durante esse período teve contato com as ditas doutrinas espiritualistas, apesar de afirmar ter sido pouco contato.

9. Os casos: sexto.

“A Sra. Duffey, que é de espírito muito cultivado, se tornou médium escrevente e escreveu as mensagens de que se trata, quando apenas havia pouco tempo que se interessava pelas pesquisas mediúnicas, quando, por conseguinte, ainda nada lera, ou muito pouco, sobre doutrinas espíritas.”

A médium Eliza B. Duffey, famosa feminista estadunidense, autora de diversos livros sobre saúde e educação da mulher, convertera-se um ano antes dessas comunicações ao espiritualismo e participava de uma sociedade espiritualista, dando inclusive palestras sobre o tema.

10. Os casos: nono.

“Tiro-o do recente livro de mensagens transcendentais intitulado A Heretic in Heaven. O médium-narrador é o Sr. Ernesto H. Peckham, conhecido pelas suas pesquisas metapsíquicas, o mesmo que precedentemente escreveu o belo volumezinho intitulado The Morrow of Death”

Conhecido por suas pesquisas metapsíquicas e já escrevera outra obra sobre o tema? Sem mais comentários…

11. Os casos: décimo-segundo.

“A mãe do autor das cartas (morto aos 30 anos, em 1918) começa por dizer que, não podendo consolar-se da morte de seu único filho, desejou pôr-se mediunicamente em comunicação com ele. Para esse fim, aconselharam-lhe fosse à Direção do British College of Psychical Science. Foi na sede dessa importante instituição que ela chegou a experimentar sucessivamente, com quatro dos melhores médiuns, […] Por um deles – uma senhora dotada de faculdade para a escrita mediúnica – foi que recebeu do filho […]”

Os melhores médiuns do centro de pesquisas! Sem mais comentários…

12. Os casos: décimo-quarto.

“Trata-se de uma santa mãe que se comunica por intermédio de sua filha. Orna a brochura o retrato da morta, cujos traços angélicos se harmonizam de modo muito sugestivo com o conteúdo das mensagens, das quais se exala o perfume celeste de uma bela alma, em suprema comunhão de amor com todos os seres do Universo. É tão espontânea, tão natural a forma em que são ditadas as mensagens, que sugere aos que as leem a intuitiva certeza da origem, autenticamente transcendental, donde promanam.” 

Ou seja, a certeza da origem das comunicações é dada pela forma “tão espontânea, tão natural” das mensagens. Muito científico…

13. Os casos: ainda o décimo-quarto.

“[…] a hipótese ‘reencarnacionista’. Sabe-se que é o único ponto importante em que se depara com um desacordo parcial nas mensagens dos Espíritos que se comunicam: entre os povos latinos, eles afirmam constantemente a realidade das vidas sucessivas, ao passo que, entre os povos anglo-saxões, estão em desacordo, na proporção de dois terços que negam mais ou menos claramente esta forma evolutiva do ser humano, e de um terço que a afirma, de modo mais ou menos categórico. […] Entretanto, conforme já o fiz notar em outras obras, este contraste de opiniões, relativamente a um problema insolúvel para os que o discutem – e, por conseguinte, essencialmente metafísico – nada significa, pois que os próprios Espíritos reconhecem que tudo ignoram a esse respeito e julgam do assunto segundo suas mesmas aspirações pessoais.”

Os relatos dos povos anglo-saxões sugerem, por cerca de 67%, que não existe reencarnação! Isso é muito significativo! Mas o autor resolve o problema dizendo que tudo não passa de discussão metafísica e que os espíritos não sabem de tudo! Resumindo a argumentação do autor: se a opinião do espírito serve para corroborar sua hipótese, ela é válida como prova; se a opinião, mesmo de 67% dos relatos, é contrária, tudo não passa de deficiências pessoais dos comunicantes. Não se pode negar que ele, ao menos, é muito esperto…

Mas fica uma pulga na orelha: 67% dos relatos mediúnicos trazidos nos países anglo-saxões afirmam não existir reencarnação! Isso sugere que o contexto talvez seja mais importante nos relatos mediúnicos do que supõe a nossa vã espiritologia…

14. Os casos: décimo-quinto.

“As mensagens mediúnicas que vamos reproduzir foram obtidas pela Sra. Rambova na residência de seu pai, situada nos arredores de Nice, com o auxílio do médium americano Jorge Benjamim Wehner, que também servia frequentemente para a fundadora da Sociedade Teosófica […]”

Servia frequentemente de médium? Sem mais comentários…

15. Conclusões.

“[…] os informes que transcrevi deveriam bastar, para confirmação da grande verdade que ressalta dos casos dos médiuns improvisados, inteiramente ignorantes das doutrinas espíritas e que, não obstante, recebem mensagens concordantes, em que todos os detalhes coincidem com as outras narrações do mesmo gênero.”

Ops, o que eu perdi? Será que li outro livro ou o editor misturou a conclusão desse com a descrição de outro?

16. Ainda conclusões.

“Em primeiro lugar, cheguei a demonstrar incontestavelmente, fundando-me em fatos, que as mensagens mediúnicas, em que os Espíritos dos defuntos descrevem as fases por que passaram na crise da morte e as circunstâncias em que fizeram sua entrada no meio espiritual, concordam admiravelmente entre si, de maneira tal que nelas não se encontra uma só discordância absoluta com as afirmações dos outros Espíritos que se hão comunicado com os vivos.”

Das duas, uma: ou eu sou um completo maluco que não consegue compreender um texto rudimentar ou o autor acha que somos todos acríticos…

Referência original: http://dialogosespiritas.blogspot.com.br/2013/12/critica-obra-crise-da-morte-de-bozzano.html

34 respostas a “Crítica à obra “A crise da morte” de Bozzano”

  1. Gorducho Diz:

    Para iniciar divertidamente a semana: a reencarnação é uma discussão metafísica até para os espíritos; pois nem eles sabem se ela existe ou não 😀

  2. Gorducho Diz:

    Ótimo artigo, pois na mitologia espírita o Bozzano é apresentado como um “pesquisador” dotado de mentalidade científica e sem excesso de credulidade.
    O método dele equivale a pesquisar sobre ufologia coletando artigos de revistas dedicadas promover a ufologia.
    Como é característico dos espíritas, o objetivo não é pesquisar com independência os supostos fenômenos, mas de propagar a Crença, induzindo o leitor a pensar que se trata de coisas para as quais hajam provas empíricas.

  3. Marciano Diz:

    Estou sem tempo, ainda vou ler.
    Tenho um livro impresso do Bozzano, sobre a espiritualidade dos animais.
    Pelo que me lembro, aposto na hipótese do medium G Grassouillet, mas vou conferir assim que puder.

  4. Defensor da Razão Diz:

    Marciano, curiosidade: esse Bozzano é o mesmo da loção de barba?

  5. Marciano Diz:

    Deve ser parente.
    Pelo menos a loção existe. Não se pode falar o mesmo das elucubrações bozzanianas. Estas pertencem ao imaginário.
    Gostaria de ter notícias de Bozzano, saber se já reencarnou, se está morando em alguma colônia espiritual.
    Estou morto de cansado, pelo adiantado da hora, apesar de não conseguir dormir.
    Vou deixar a leitura para amanhã.
    Vou relaxar agora, tomando um Cardhu e revendo um filme de Fritz Lang, mestre do expressionismo alemão, em sua fase pré-holliwoodiana, 1933, com um personagem que tem tudo a ver com o psicodelismo dos espíritas: Dr. Mabuse.
    Deixo aqui o link para o caso de alguém ficar curioso, advertindo que o filme tem som original em alemão e legendas em inglês.
    Das Testament des Dr. Mabuse
    http://www.youtube.com/watch?v=Pu-G5_Jo-LQ

  6. Marciano Diz:

    Se alguém se interessar e não falar alemão, é só ativar as legendas. Elas não aparecem automaticamente.
    Mabuse hipnotiza todo mundo, é um psiquiatra misto de gênio e louco.
    A turma espírita deve gostar dele.
    Herr Dr. Mabuse ist wunderbar!

  7. MONTALVÃO Diz:

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    No caso décimo quarto comunica uma “santa mãe”, portanto, merecedora de toda confiança: afinal mães não mentem, a não ser em caso de elevada necessidade. então, esta santa diz ao seu viúvo:
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    “Acho-me, neste momento, contigo, bem perto de ti e dos meus filhos. Varre da mente essa ideia de que me encontro muito longe do meio onde vivi. Podes consultar-me sobre tudo o que te apraza, com mais facilidade do que antes.”
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    COMENTÁRIO: se este espírito de mãe serve como parâmetro da realidade espiritual, deveriam os espíritos estarem prontificados a dar mostras de suas reais presenças, com muito mais facilidade e cooperação que qualquer de nós jamais pode supor. Podemos consultá-los sobre tudo o que nos apraz. Se é assim, então por que o Arnaldo e outros se mostram tão resistentes a nos trazer demonstrações satisfatórias da atuação de espíritos junto aos vivos?

  8. Marciano Diz:

    Segundo a “querida mãezinha”, não só podemos consultar os mortos sobre tudo o que nos apraza como é muito mais fácil do que consulta-los quando estão vivos.

  9. Marciano Diz:

    Tenho de render-me aos fatos. Não tenho tempo de ler todo o conteúdo do livro de Bozzano.
    Fiz uma apressada e salteada leitura dinâmica do livro em pdf e li a crítica do Sergio.
    Minha confessadamente apressada conclusão é a de que Bozzano pensava que eram todos acríticos.
    O que vale para a época dele, vale para agora. São quase todos acríticos, entretanto sempre existiram críticos. Acredito que hoje em dia, devido à facilidade na obtenção de informações sobre os mais variados assuntos, à comunicação de massa mais fácil do que nunca e, principalmente, devido ao fato de que o espiritismo saiu de moda, só sendo praticado por alguns poucos teimosos, como aconteceu com o movimento “hippie”, o qual ainda tem alguns praticantes em de Lumiar, distrito de Nova Friburgo – RJ e aqueloutros (vocábulo desenterrado em homenagem ao estilístico MONTAVÃO), os espitiristas, na República das Bananas, o número de críticos aumentou um pouquinho.
    Dos 52 livros que Bozzano escreveu, tenho apenas um, que já li integralmente (meu saco e meu tempo eram maiores), Os animais têm alma?, 1950.
    Ganhei de uma amiga que queria atrair-me para a espiritice.
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    Segundo a wikipedia italiana (Bozzano era italiano e sempre se encontram mais informações sobre uma pessoa na versão da wikipedia de sua terra natal), Bozzano escrevia para o público visionário, fiel (no sentido de fidelidade a religiões), mitômano, charlatão, que era (ainda é) mais numeroso do que o público de estudos sérios.
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    “Più che sperimentatore fu un ricercatore, ordinatore e commentatore dei fenomeni riferiti alla ricchissima letteratura metapsichica del tempo, nella quale le relazioni dei visionari, dei fideisti, dei mitomani e dei ciarlatani erano di gran lunga più numerose di quelle degli studiosi seri”.
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    Bozzano gostava de escrever sobre telepatia, clarividência, psicocinese, aparições de fantasmas, espiritismo (que os italianos precisam explicar que se trata de “manifestações dos defuntos).
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    “Bozzano pubblicò cinquantadue lavori che trattavano ogni branca ed ogni aspetto della metapsichica: telepatia, chiaroveggenza, psicocinesi, apparizioni di fantasmi, spiritismo (manifestazioni dei defunti)”.
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    Colaborou com a revista “Luce e Ombra” (Luz e Sombra), a qual não tem nada a ver com técnica de pintura (portanto, é inútil).
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    “Collaborò con numerose riviste italiane e straniere, tra le quali vi è “Luce e Ombra”, fondata nel 1900, con cui redasse i resoconti delle sedute medianiche a cui partecipò”.
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    Correspondeu-se com os maiores char, digo, representantes da parapsicologia metapsíquica, dentre os quais, PARA A ALEGRIIIIIIIIIIIAAA DE ARDUIN, Crookes.
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    “Intrecciò una fitta corrispondenza con i maggiori rappresentanti della parapsicologia metapsichica fra cui scienziati di valore come i fisici inglesi William Crookes e Oliver Lodge ed il fisiologo francese Charles Richet”.
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    Resumindo, já morreu tarde (24 giugno 1943).

  10. Defensor da Razão Diz:

    “Se é assim, então por que o Arnaldo e outros se mostram tão resistentes a nos trazer demonstrações satisfatórias da atuação de espíritos junto aos vivos?”
    Montalvão, mostram-se resistentes porque não podem trazer demonstração alguma que não seja destinada aos próprios crentes. Como quem solicita aqui não são espíritas, não vai rolar.

  11. MONTALVÃO Diz:

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    Defensor da Razão Diz: “Se é assim, então por que o Arnaldo e outros se mostram tão resistentes a nos trazer demonstrações satisfatórias da atuação de espíritos junto aos vivos?”
    Montalvão, mostram-se resistentes porque não podem trazer demonstração alguma que não seja destinada aos próprios crentes. Como quem solicita aqui não são espíritas, não vai rolar.
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    COMENTÁRIO: sabemos que as provas espíritas são provas para quem não precisa de provas: o que espero é que, por questão de honestidade intelecto-religiosa, findem por admitir isso. Embora implicitamente já o admitam, considerando as recusas em realizar testes objetivos com os espíritos e disponibilizar os resultados para exame por parte dos céticos.
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    Creio seria boa medida cobrar dos mediunistas que apresentem evidências concretas da comunicação e da intervenção de desencarnados na natureza, sempre que algum aparecer nesse espaço defendendo a validade de suas crenças. Desse modo, as discussões seriam muito mais lucrativas e produtivas para as partes.

  12. Toffo Diz:

    Interessante um outro texto do Sérgio Maurício, que acredito seja espírita, no seu blog. Ele vai assistir a uma palestra na FEB, no Distrito Federal. Tem tudo a ver com o que se discute aqui (a fraqueza dos argumentos e a exposição de matérias com finalidade apologista, ou seja, para um público predisposto a ouvi-las):
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    terça-feira, 11 de março de 2014
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    A ciência, o espiritismo e a FEB
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    “Eu tento. E tento de boa fé. Sério, mas é difícil! Foi assim: vi o anúncio dum evento na FEB, a Federação Espírita Brasileira, marcado para a noite do dia 10/03/2014, com o instigante tema “A física e o espiritismo, paralelo e convergências – A ciência e a ciência espírita”. Como é um tema que muito me interessa, decidi assistir-lhe. Cheguei cedo, cerca de uma hora antes da apresentação, e despendi o tempo na livraria para inteirar-me das novidades literárias.

    O assunto é árduo, principalmente quando abordado para uma plateia sem maiores conhecimentos de filosofia da ciência, teoria do conhecimento e, claro, rudimentos de física. O palestrante teria pela frente responsabilidades em relação aos público e tema.

    Para minha surpresa, o palestrante que falaria da física e suas relações com o espiritismo era um… médico! Bem, tinha esperanças que fosse alguém interessado e ilustrado no que seria tratado. Ouvi-lo-ia então, sem preconceitos.

    O cardiologista começou por tentar definir algumas questões de filosofia da ciência e teoria do conhecimento, objetivando o nivelamento do público ao que abordaria, já que necessárias, como explicara. Definições de verdade, certeza, crença e conhecimento saíam com superficialidade e pouco cuidado, apresentando já as credenciais do que eu enfrentaria naquela noite. Mas quando resolveu caracterizar a ciência “ortodoxa”, qualquer esperança de bom senso se esvaiu imediatamente e meu interesse seguiu o mesmo rumo.

    Uma digressão: sempre que ouço alguém falar de ciência ortodoxa, um sinal de alerta é imediatamente soado: estou diante dum discurso bobo, pueril e pouco elaborado. Não existe uma ciência ortodoxa e outra heterodoxa, existe ciência. Assim, quando se quer dar um ar científico a um discurso infundado, diz-se que é uma ciência, mas não ortodoxa, como o fazem a astrologia, a homeopatia, a psicanálise, a teologia, o espiritismo e outras tantas.

    Pobre ciência, violentada num leito de Procusto, adequando-se às necessidades das pregações inconsequentes. Mas não sou Teseu, e resolvi apenas ouvir, apesar de angustiado pelo sofrimento atroz imputado à indefesa ciência. Indefesa porque o público, em sua maioria ignorante de seus princípios teóricos, cria estar diante de novidades que a aproximavam daquelas bobagens que se seguiam numa verborragia torturante. E eu quase podia ouvir os urros da vítima sendo esticada e amputada em partes essenciais naquele leito de horror.

    E eu, na balbúrdia da minha mente, não obstante o silêncio exterior, refutava cada argumento, cada frase, relembrando as já distantes aulas introdutórias de epistemologia na academia. Como aquilo poderia ser tratado com seriedade por pessoas com um mínimo de entendimento filosófico? Até um aluno dos semestres iniciais de filosofia seria capaz de perceber os absurdos conceituais.

    Após destratar a filosofia e a história, o capataz resolveu também deitar a física no mesmo leito. E eu assistia àquela sessão de tortura silente, incapaz de qualquer manifestação. Fui um covarde, assumo, pois estava muito próximo ao patíbulo para ousar intervir. E, enquanto me contorcia diante daquela tragédia, percebia que o público deliciava-se com as palavras, sem perceber a dor do conhecimento, aceitando-as como nova revelação, como o fazem todos que ignoram algo e não foram educados para a reflexão crítica.

    Terminou como começou e um vazio preencheu meus sentimentos. Senti-me como um parente de vítima perseguida num anfiteatro romano: enquanto todos aplaudiam, eu sofria. Fui-me embora, na noite fria da capital federal, num ônibus vazio. E eu cheio de nada. Pouco a pouco percebi a mente retomando a reflexão, depois daquele espasmo intelectual, e lembrei-me duma frase que usara noutros tempos sem parcimônia: olha no que deu o espiritismo…
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    Quando eu digo que o espiritismo é uma doutrina mofada, tem gente que não gosta…

  13. Toffo Diz:

    Na sequência, uma descrição dele da primeira palestra pública de 2014 na FEB. Para quem leu os excertos de Samba in the Night de David Hess que eu reproduzi em outro post aqui, contando a experiência do autor no Centro Espírita da Prece, de Chico Xavier, em Uberaba, acredito que vá encontrar uma vaga semelhança, a despeito da diferença de época e lugar.
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    (…)”Chegamos hoje à FEB uns 20 minutos antes do início da palestra. Ainda quase ninguém. Passeei pela livraria e retornei aos documentos raros expostos na entrada do auditório. Entramos e sentamos. Ainda vazio. Faltam agora 5 minutos para o horário previsto e um homem e duas mulheres sobem ao palco e sentam à mesa. A mulher do centro faz uma prece (muito chata) e passa a palavra à outra mulher à sua esquerda. Essa lê um capítulo de Pão Nosso, de Emmanuel, e tece alguns comentários. Achei-os insuportáveis e impertinentes. E mais: desfiguraram aquilo que fora proposto como análise evangélica na obra lida. Vá lá, eu aceito que tudo não passava de prevenção minha, afinal era uma palestra na FEB. O homem então começa a palestrar e sua primeira frase foi: “Daremos hoje continuidade ao estudo da obra de Roustaing, “Os Quatro Evangelhos”. Confesso que minha vontade foi levantar e ir embora naquele momento, mas pensei: “na França, como os franceses” e educadamente fiquei quieto a ouvir um chavascal de impropriedades proferidas daquele púlpito “espírita”. Quando ele citou o Jesus agênere, quase tive uma síncope nervosa e minha mulher me olhava a sorrir. Ao terminar a palestra, todos seguiram para a fila do passe, menos eu, pois saí direto à livraria para reler a RE 1866 e rever a opinião de Kardec sobre a polêmica obra rustenista, enquanto minha mulher tomava a hóst…, ops, o passe.

    Ao sair, fui refletindo no ônibus sobre o papel da FEB, não para o movimento espírita, mas para o espiritismo e sua divulgação. Afinal, é isso mesmo que se pode esperar daquela que se autoproclama a Casa-Máter do Espiritismo?”

  14. Gorducho Diz:

    Por isso venho dizendo que, por incrível que pareça, a postura da FEB é a mais coerente. Assume o papel de uma igreja evangélica que substituiu o dogma do juízo final pelo da reencarnação – até o evangelho dos católicos já estão editando… -; e não fica pretendendo promover estudos empíricos para justificar a fé.
    Aqui não há ironia nenhuma da minha parte: é a postura intelectualmente mais honesta.

  15. Gorducho Diz:

    Eu tentei elogiar a FEB e me dei mal 🙁

  16. Defensor da Razão Diz:

    “Creio seria boa medida cobrar dos mediunistas que apresentem evidências concretas da comunicação e da intervenção de desencarnados na natureza, sempre que algum aparecer nesse espaço defendendo a validade de suas crenças. Desse modo, as discussões seriam muito mais lucrativas e produtivas para as partes.”
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    MONTALVÃO, se a apresentação de evidências concretas fosse exigência aqui certamente não teríamos mais espíritas a participar. A título ilustrativo, veja abaixo a resposta que o espírita Arnaldo Paiva me deu quando, em outra discussão deste blog (O Caso Raphael Shermann) solicitei educadamente a apresentação de evidências de contato com finados por parte de “mediuns”:
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    ARNALDO PAIVA diz: “Nota-se logo a leviandade do seu argumento. “UM EVENTO SIMPLES E OBJETIVO para MOSTRAR A INCRÉDULOS”, sinal evidente de que não sabe do que está falando. Todos os cientistas que empreenderam a investigação dos fenômenos estudados pelo Espiritismo, para chegarem a conclusão da realidade dos fenômenos, da continuidade da vida após a morte, da influência que os espíritos exercem sobre os homens, levaram no mínimo 10 anos de pesquisa, agora vem você querendo “UM EVENTO SIMPLES E OBJETIVO, e aí estaria provado o Espiritismo. Confesso que eu particularmente não tenho nenhum interesse de fazer este tipo de incrédulo acreditar, pois não passa de um CRÉDULO que acredita em qualquer coisa.”

  17. MONTALVÃO Diz:

    MARCIANO: […] Acredito que hoje em dia, devido à facilidade na obtenção de informações sobre os mais variados assuntos, à comunicação de massa mais fácil do que nunca e, principalmente, devido ao fato de que o espiritismo saiu de moda, só sendo praticado por alguns poucos teimosos, COMO ACONTECEU COM O MOVIMENTO “HIPPIE”, O QUAL AINDA TEM ALGUNS PRATICANTES EM DE LUMIAR, DISTRITO DE NOVA FRIBURGO – RJ […] o número de críticos aumentou um pouquinho.
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    COMENTÁRIo: correto sobre o aumento da crítica e de críticos, temos visto que até o fundamentalista-revolucionário Arduin ousa mandar suas criticadas ao espiritismo…
    Quanto aos hippies, creio que nem em Lumiar mais existem, se existem estão em fase extintintória. Estive lá há alguns meses e não vi nenhum representante da espécie. Ou estavam nas colinas em meditações canabivianas ou estão mesmo desaparecendo. O único representante da categoria, vivo, que conheço está em Saquarema, aquele doidão que namorou a Janis Joplin (esqueci-me seu nome).
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    MARCIANO: Segundo a wikipedia italiana (Bozzano era italiano e sempre se encontram mais informações sobre uma pessoa na versão da wikipedia de sua terra natal), Bozzano escrevia para o público visionário, fiel (no sentido de fidelidade a religiões), mitômano, charlatão, que era (ainda é) mais numeroso do que o público de estudos sérios.
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    COMENTÁRIO: há boas(?) informações sobre Bozzano em português, exemplo, no site “guia heu” encontramos:
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    “Ernesto Bozzano
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    Nasceu em 9/01/1862, em Gênova, Itália e desencarnou em 24/06/1943, na mesma localidade. Professor da Universidade de Turim.
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    Ernesto Bozzano foi um dos mais eruditos sábios dos últimos tempos e dado o seu inusitado interesse pelo estudo do Espiritismo em cujo afã dedicou metade de sua profícua existência de 81 anos e merece o cognome de “O Grande Mestre da Ciência da Alma”.
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    Este grande Gigante do Espiritismo se aprofundou na Codificação Kardequiana trazendo um grande avanço no conhecimento da vida espiritual.
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    Ernesto Bozzano expôs, em uma centena de monografias, com cada tipo específico de fenômeno_mediúnico, defendendo sempre a teoria espírita como a mais simples e natural explicação dos fenômenos.
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    Atualmente as obras deste autor são pouco lidas, como se ele virasse uma coisa do passado é atualmente em nosso época são valorizados obras de autores de pouca expressão e que tem somente por finalidade comercial.
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    Os Grupos Espíritas que querem realmente ter um aprofundamento sério da Doutrina Espírita e não queiram se iludir, os livros de Ernesto Bozzano deverão ser livros de cabeceiras.
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    Estamos atualmente em contacto com amigos Espíritas de Portugal e da Espanha que estão nos ajudando nas traduções dos originais.
    A luta continua!!!!
    http://www.autoresespiritasclassicos.com/Autores%20Espiritas%20Classicos%20%20Diversos/Ernesto%20Bozzano/LIVROS%20ESPIRITAS%20GRATIS.htm
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    Um fato novo veio contribuir para robustecer a sua crença no Espiritismo. A desencarnação de sua mãe, em julho de 1912, serviu de ponte para demonstração da sobrevivência da alma. Bozzano realizava nessa época sessões semanais com um reduzido grupo e com a participação de famosa médium. Realizando uma sessão na data em que se dava o transcurso do primeiro ano da desencarnação de sua genitora, a médium escreveu umas palavras num pedaço de papel, as quais, depois de lidas por Bozzano o deixara assombrado. Ali estavam escritos os dois últimos versos do epitáfio que naquele mesmo dia ele havia deixado no túmulo de sua mãe.
    http://www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=86
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    Bozzano publicou cinqüenta e duas obras que tratavam de cada área e de cada aspecto da metapsíquica:
    – telepatia,
    – clarividência,
    – psicocinese,
    – aparição de fantasmas,
    – espiritismo (manifestações dos mortos)
    .
    Trocou uma densa correspondência com os maiores representantes da metapsíquica dentre os quais cientistas de valor como os físicos ingleses William Crookes e Oliver Lodge e o fisiologista francês Charles Richet.
    .
    Até sua morte, esse estudioso solitário, que tinha dedicado grande parte da sua vida à tentativa de dar ao espiritismo um caráter científico, deixou uma biblioteca de metapsíquica das mais ricas da Europa, hoje conservada pela “Fondazione Biblioteca Bozzano – De Boni”, de Bolonha.
    .
    A sua cidade natal – Gênova – deu o seu nome a uma rua.
    .

    Obras principais (alguns dos títulos listados são publicações póstumas):
    – Hipótese espírita e teoria científica, 1903;
    – Dos casos de identificação espírita, 1909;
    – Em defesa do Espiritismo, 1927;
    – A Crise da Morte, 1930-52;
    – Investigação sobre as manifestações supranormais, 1931-40;
    – Xenoglossia, 1933;
    – Dos fenômenos de bilocação, 1934;
    – Dos fenômenos de possessão, 1936;
    – Animismo ou espiritismo?, 1938;
    – Povos primitivos e manifestações paranormais, 1941-46;
    – Dos fenômenos de telestesia, 1942;
    – Música transcendental, 1943;
    – De mente a mente, 1946;
    – Os mortos voltam, 1947;
    – Literatura de além-túmulo, 1947;
    – As visões dos moribundos, 1947;
    – Luzes no futuro, 1947;
    – Guerra e profecias, 1948;
    – A psique domina a matéria, 1948;
    – Os animais têm alma?, 1950;
    – Pensamento e vontade, 1967;
    – Os fenômenos de transfiguração, 1967.
    http://eusouespirita.blogspot.com/2007/08/ernesto-bozzano.html
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    Ernesto Bozzano foi um dos mais argutos e persistentes pesquisadores da fenomenologia espírita. Autor de cerca de 100 obras sobre os fenômenos supranormais, fundou em Gênova, sua cidade natal, um dos mais importantes grupos de pesquisa metapsíquica da Europa, integrado por intelectuais, doutores, professores universitários.
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    Na busca permanente da verdade, Bozzano trabalhou com mais de 70 médiuns. Incansável, acompanhava de perto a literatura e o movimento espírita de sua época, interessado como poucos na apuração de fenômenos significativos que fornecessem provas da sobrevivência do espírito humano e do inter-relacionamento entre vivos e mortos.
    .
    Fruto desse trabalho incansável, a presente obra reúne provas da vida post mortem, através de variadas manifestações de espíritos desencarnados. São cinco casos especialmente selecionados de identificação de espíritos, nos quais se observam inúmeros detalhes de informações pessoais, nomes de pessoas e localidades, com uma grande riqueza de revelações e rigorosa apuração de cada detalhe, tornando, com isto, impossível a negação dos fatos demonstrados.
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    Prefácio do seu livro: “Cinco excepcionais casos de identificação de Espíritos” – Download

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    Quando foi necessário sair em defesa do Espiritismo, não hesitou em discutir com os mais ardentes contraditores, defendendo seus argumentos com a força do raciocínio e apoiando sobre os fatos todas as suas afirmações, sem deter-se em discussões estéreis ou na desqualificação pessoal de seus adversários, a quem sempre ofereceu sua amizade. Assim ocorreu com…
    – Sudré,
    – Morselli,
    – Mackenzie
    – e outros estudiosos contrários à interpretação espírita, que sempre demonstraram respeito à inteligência e às qualidades morais de Bozzano.
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    O próprio Richet confessou-lhe em uma carta que foram suas monografias que o fizeram vencer seu ceticismo a respeito da existência e imortalidade do espírito.
    http://www.novaera.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=79:ernesto-bozzano&catid=43:biografias&Itemid=73
    .
    “Foi no ano de 1891 – data para mim memorável – que pela vez primeira me pus em contacto com as pesquisas psíquicas e isso se deu por obra do professor Ribot, diretor da Revue Philosophique, o qual espontaneamente me enviou o primeiro número dos Annales des Sciences Psychiques, no qual se falava de telepatia. Essa “fortuita coincidência” decidiu para sempre do meu futuro de escritor e de pensador. Uma vocação predominante me havia, ao invés, conduzido a ocupar-me, exclusiva e apaixonadamente, de filósofa científica e Herbert_Spencer era, naquele tempo, o meu ídolo.
    .
    Durante dois anos, eu estudara, ininterruptamente, anotara, classificara com imenso amor todo o conteúdo do seu imponente e enciclopédico sistema filosófico, para, em seguida, lançar-me de corpo e alma nas lutas do pensamento, empenhando-me em polêmicas com quem ousasse criticar os argumentos e as hipóteses que o meu venerado mestre formulara. Transformara-me em apóstolo do meu ídolo, o que significa que em tudo pensava e sentia como Herbert Spencer e a concepção mecânica positivista do Universo era a minha profissão de fé.
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    Acrescente-se que, ao passo que admirava a suprema sabedoria do grande filósofo, que intencionalmente se apartara do grosseiro materialismo imperante no seu tempo, dedicando a primeira parte dos seus First Principies à teoria do “Incognoscível” e afirmando com isso o próprio “agnosticismo” em presença do enorme mistério do ser; ao passo – digo – que admirava a suprema sabedoria daquele que assim se comportava, a síntese conclusiva das minhas concepções filosóficas gravitava decisivamente, nada obstante, nas órbitas dos Büchner, dos Moleschott, dos Haeckel, que negavam a existência de um Ente_Supremo e a sobrevivência_humana. Nessa conformidade, defendia eu, nas revistas filosóficas, esse ponto de vista com apaixonado ardor, correspondente, em tudo, ao que mais tarde viria a demonstrar em defesa de uma causa diametralmente oposta, porém infinitamente mais reconfortante.
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    Pareceu-me oportuno começar lembrando esse período do meu passado filosófico, porque o vigor com que agora defendo a causa espiritista a alguns se afigura indício manifesto de que a firmeza das minhas convicções, longe de exprimir a síntese de profundas pesquisas em torno dos fenômenos_supranormais, é devida à invasão de um misticismo congênito, perturbador de todo juízo sereno. Nada mais distante da verdade: não existe, nem nunca existiu em mim indício de misticismo e o fervor com que defendo as minhas presentes convicções filosóficas é apenas expressão do meu temperamento de escritor. Tanto assim que, quando militava nas fileiras dos pensadores positivistas-materialistas, sustentava com igual ardor apaixonado as minhas convicções filosóficas de então.
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    Como já disse, há quarenta anos me dedico a pesquisas psíquicas; mas nos primeiros nove anos nada escrevi a respeito, porque de pronto medira a formidável complexidade da nova “Ciência_da_Alma” e, por conseguinte, compreendera a necessidade de penetrar nela a fundo, remontando-lhe às origens, investigando-a na história dos povos civis, bárbaros, selvagens, bem como experimentando a todo custo.
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    Por essa misteriosa lei que casualmente aproxima um e outro indivíduos que têm fortes afinidades intelectuais e aspirações científicas do mesmo sentido, cheguei presto a constituir em Gênova um grupo escolhido de estudiosos da matéria, entre os quais…
    – o professor Henrique Morselli,
    – o professor Francisco Porro,
    – Luiz Arnaldo Vassallo, grande jornalista e escritor,
    – e o doutor José Venzano, conhecidíssimo profissional.
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    Cheguei, outrossim, a descobrir e desenvolver ótimos médiuns particulares e, mais tarde, a fazer experiências, durante anos, com a célebre Eusápia_Paladino. Fica, pois, entendido que, se deixei passassem nove anos antes de mergulhar a pena no assunto metapsíquico, não menos certo é que gastei muito bem o meu tempo, uma vez que então me sentia senhor de fortíssima preparação e conquistara o direito de externar publicamente a minha opinião sobre o formidável tema. Quando me decidi a entrar na lida, é de assinalar-se que o primeiro artigo que publiquei na Revista de Estudos Psíquicos, então dirigida por César de Vesme, foi precisamente um artigo em que demonstrava que o Animismo prova o Espiritismo. Daí em diante, não mais pude deixar de investigar, sob todos os aspectos, essa questão, que é fundamental para a correta interpretação da fenomenologia_metapsíquica e cuja solução, em sentido espirítico, se apresenta como a única apta a explicar o conjunto inteiro dos fenômenos supranormais.” ”
    http://www.guia.heu.nom.br/ernesto_Bozzano.htm#Charles_Richet

    /
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    Oh, yes, lembrei-me do nome do hippie saquaremaniano: Serguei… E, como não quero ser guei, fico por aqui…

  18. Gorducho Diz:

    De qualquer maneira o que cá verificou-se agora comprova e existência insofismável dos fenômenos paranormais (ponto para a Casa!). No mesmo instante eu e o Analista Toffo, sem nenhum tipo de comunicação via canais reconhecidos pela ciência oficial, e separados na crosta por expressivas léguas, falávamos na FEB!

  19. Marciano Diz:

    “Ciência ortodoxa”, assim como “paradigma científico tradicional”, é uma malandragem, para insinuar que existe uma ciência heterodoxa, um paradigma não tradicional, e com isso passar a ideia de que as pseudociências são ciências.
    Essas expressões ativam imediatamente meu “baloney detection kit”.
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    Médicos dando aula de física é coisa comum nesses ambientes, assim como já contaram aqui no blog que o ator Carlos Vereza dá aulas de mecânica quântica em seu apartamento, e sem usar matemática.
    A mesma coisa faz Divaldo, quando dá aulas de astrofísica e astrobiologia, falando de crianças índigo que estão migrando do sistema Alcyione.
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    O jesus agênere de Roustaing é como o sexo dos anjos. Discutir se um ser imaginário era de carne e osso ou se era feito de coisa que não existe é como discutir se os anjos têm sexo e se reproduzem-se sexualmente. Para ter sexo os anjos precisariam existir fora da imaginação de deslumbrados.
    .
    Falar da FEB simultaneamente com outra pessoa em um blog destinado a discutir espiritismo não é uma coincidência.
    Ainda bem que o medium G Grassouillet está apenas fazendo ironia.
    Coincidência seria duas pessoas falarem simultaneamente neste blog da tomada de Monte Castelo, mas coincidências acontecem, de vez em quando.
    Estranho seria se NUNCA acontecessem coincidências.

  20. Gorducho Diz:

    Se o Analista Toffo concordar, farei uma simulação Monte Carlo averiguando a probabilidade de 2 comentaristas abordarem o mesmo assunto (FEB) num Δt
    ≅ 5′.
    Depois enviarei o artigo p/uma revista de Parapsicologia.

  21. Gorducho Diz:

    Dia 2 de junho dentro do mesmo ciclo haverá a palestra Correlações entre Física Quântica e a “Ciência Espírita”.
    Como dá tempo p/agendar, quem sabe organizamos uma caravana (“missão”) para assistir?

  22. Toffo Diz:

    Fuçando o blog “Diálogos Impertinentes” do Sérgio Maurício, deparei-me com um interessante estudo dele intitulado “Reflexões sobre uma ciência espírita”, que me pareceu bastante sério e, ao mesmo tempo, objetivo e claro. Sérgio Maurício, pelo que entendi, é um espírita parakardequiano, ou seja, propõe uma doutrina espírita para além dos postulados de Kardec. Não sei se já foi objeto de discussão aqui, mas fica a sugestão para o Vitor:
    .
    http://dialogosespiritas.blogspot.com.br/2013_04_01_archive.html
    .

  23. Marciano Diz:

    Se for da Força Expedicionária Brasileira, a probabilidade será muito pequena. Foi daí que saiu a referência à tomada de Monte Castelo. Já se for a outra FEB, a probabilidade aumenta exponencialmente.
    .
    Essa é mole de calcular! A correlação entre mecânica quântica e “ciência” espírita é igual a zero!
    Já se partirmos para o conceito popular de mecânica quântica (coisas estranhas, ininteligíveis), se apelarmos para a apropriação indébita de conceitos como entrelaçamento quântico, salto quântico, para usá-los totalmente fora do contexto e do sentido que têm em mecânica quântica, existe uma correlação surrealista, perfeita para enganar trouxas metidos a sábios.

  24. Marciano Diz:

    TOFFO,
    estou até com preguiça de olhar.
    Tá parecendo com Luiz de Mattos.
    Deve ser o embrião de mais uma dissidência espírita, tal como o infame RC.
    Pode ser que vingue ou não.
    Em qualquer hipótese, não passará de mais um RC desses da vida.
    Quem quer que se dedique a ir além dos postulados de Rivail (ou seja, lugar nenhum), não chegará a lugar nenhum, que é exatamente o lugar que fica além de lugar nenhum.

  25. Marciano Diz:

    Teorizar sobre os postulados espíritas é a mesma coisa que dividir por zero.

  26. MONTALVÃO Diz:

    MARCIANO:Já se partirmos para o conceito popular de mecânica quântica (coisas estranhas, ininteligíveis), se apelarmos para a apropriação indébita de conceitos como entrelaçamento quântico, salto quântico, para usá-los totalmente fora do contexto e do sentido que têm em mecânica quântica, existe uma correlação surrealista, perfeita para enganar trouxas metidos a sábios.
    .
    COMENTÁRIO: Em “Mentes Interligadas” um dos babalorixás do paranormal, Dean Radin, dá exemplo de entrelaçamento quântico entre gentes:
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    “Em um futuro próximo… espero que alguém tenha uma idéia brilhante e indague: “o que sucederia, caso dois seres humanos se entrelaçassem? Talvez demonstrassem comportamentos correlacionados também a distância, do mesmo modo que o faz a matéria entrelaçada”… considere o caso verdadeiro em que meninos gêmeos, porém criados isolados, fossem independentemente chamados “Jim” por seus pais adotivos. Cada Jim casaria com uma mulher chamada Betty, se divorciaria e, depois, se casaria com uma mulher chamada Linda. Ambos os “Jims” se tornariam bombeiros e cada um resolveria construir um banco circular, pintado de branco, ao redor de uma das árvores de seu quintal. Será que tantas coincidências poderiam surgir de genes comuns, que ainda programassem as tendências para se casarem com mulheres chamadas “Betty” e, depois, com mulheres chamadas “Linda” e ainda levassem os dois a se tornarem bombeiros? Ou seria este caso um reflexo de que os dois “Jims” estavam de algum modo entrelaçados?”
    .
    Será?…

  27. Marciano Diz:

    Para a melhor compreensão das mentes interligadas, recomendo a seguinte leitura:
    .
    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
    CENTRO DE TECNOLOGIA
    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TELEINFORMÁTICA
    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE TELEINFORMÁTICA
    Ferramentas Algébricas para o Estudo do Entrelaçamento Quântico
    Autor
    JOÃO LUZEILTON DE OLIVEIRA
    Orientador
    RUBENS VIANA RAMOS
    Tese submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Teleinformática, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia de Teleinformática. Área de concentração: Eletromagnetismo Aplicado.
    Fortaleza – Ceará
    Março – 2012
    .
    O link esta aqui http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3824/1/2012_tese_jloliveira.pdf
    .
    .
    A leitura da tese do Luzeilton (que nome!) ajudará bastante a entender a proposta de Dean Radin.

  28. Defensor da Razão Diz:

    Marciano, a tese deveria mesmo ajudar, já que apresenta proposta de ferramental matemático para tratar de um assunto que é praticamente nada sem a linguagem matemática.

  29. Marciano Diz:

    Foi essa a minha intenção, DEFENSOR.
    Falar de mecânica quântica sem embasamento matemático é o mesmo que nada.
    É como se ensinava quando eu estudei física. Falavam em física qualitativa e física quantitativa. Apenas esta última era física de verdade, visto que tinha-se de calcular tudo, de saber muita matemática, para resolver os problemas propostos.
    A primeira (qualitativa) é a baboseira que costumamos ver em documentários de televisão.

  30. Marciano Diz:

    Essa fogueira tá precisando de lenha.
    VITOR, que tal um artigo sobre serendipidade e as alegações espíritas de que criações humanas são “sopradas” pelos espíritos?

  31. Vitor Diz:

    Marciano,
    no momento estou muito envolvido com traduções e escaneamentos. Meu tempo anda bem escasso até para comentar por isso.
    Um abraço.

  32. Marciano Diz:

    Valeu, VITÃO. Pense na proposta, para um futuro próximo.
    Eu sei muito bem o que é falta de tempo.
    Um abraço.

  33. Gorducho Diz:

    Desista dessa fantasia de Espiritismo Americano (“Mediunismo Estatístico”), Sr. Administrador… Se aqui no Brasil não existem “médiuns”, lá também não…
    Então vamos ver se existem aqui; sem manipular esse utilíssimo ramo da matemática.
     
    Do que interessava mesmo, nada… o Sr. JCFF sumiu…
    Está claro para mim que o Emmanuel existe, e isso vai nos custar pelo menos uns 1000 anos no Umbral 🙁

  34. Marciano Diz:

    jcff precisava mesmo aparecer para refutar o cara que sustenta a existência do EmÂnuel.
    O jogo está empatado, nesse respeito, na melhor das hipóteses.
    Já era tempo de ele se fazer presente, refutar o cara e começarmos a ver os debates se acirrarem.
    Está uma pachorra.

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