A experiência consciente em David Chalmers: uma pedra no sapato do materialista (2015), por André Luís N. Soares
Neste artigo, André Luís N. Soares explica de forma bastante simples porque é aparentemente impossível explicar a consciência pela perspectiva materialista. Para ler o artigo, clique aqui. [Atualizado em 23 de março de 2016)
dezembro 29th, 2015 às 11:30 PM
Acho que, de certa forma, já tentei navegar na superfície deste assunto, quando indaguei em um comentário que fiz, se o amor que sentimos por nossos entes queridos, é apenas um conjunto de reações eletroquímicas, produzidas por um monte de carne e osso.
O presente artigo, abordando com muita profundidade este enigma, joga muita luz nesta janela de luz representada pela consciência.
Um abraço
dezembro 30th, 2015 às 9:21 AM
O ente até então por nós suposto metafísico amor estaria então fisicamente implantado – algo como bits de software – no ente físico porém imaterial consciência…
E daí? Qual a diferença de estar de forma análoga implantado nos neurônios dos animais?
Isso é o mesmo da história de querer provar a existência de deus alegando que tudo que há foi criado. Nada acrescenta, pois que deus tem que ter sido criado também e empurra-se c/a barriga a série na direção de –∞;
Devemos ter a humildade de saber que pouco sabemos acerca dos fundamentos disto tudo em que estamos imersos, mas ficar imaginando entes físicos (no sentido de que não metafísicos) em nada ajuda p/uma melhor compreensão acerca da natureza das cousas.
dezembro 30th, 2015 às 9:24 AM
Entes físicos -i.e., não metafísicos – “imateriais” ou “semi-materiais” (como os espíritos não puros do kardecismo), quis eu dizer…
dezembro 30th, 2015 às 2:46 PM
Oi, Borges
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acredito que o amor seria classificado como um “easy problem” 🙂
dezembro 30th, 2015 às 2:51 PM
Alguém me ajuda nessa tradução?
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“I must get these off by early mail tomorrow”.
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Pior que não tem contexto, é só isso mesmo! Mas quem quiser conferir está na página 150 desse arquivo:
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https://archive.org/details/proceedingsofsoc08soci
dezembro 30th, 2015 às 3:37 PM
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“Isso é o mesmo da história de querer provar a existência de deus alegando que tudo que há foi criado. Nada acrescenta, pois que deus tem que ter sido criado também e empurra-se c/a barriga a série na direção de -?”
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PONDERAÇÃO: mas a ideia de Deus é justamente para evitar a regressão ao infinito: há que haver um ponto inicial, a partir do qual tudo começa…
dezembro 30th, 2015 às 3:45 PM
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“Acho que, de certa forma, já tentei navegar na superfície deste assunto, quando indaguei em um comentário que fiz, se o amor que sentimos por nossos entes queridos, é apenas um conjunto de reações eletroquímicas, produzidas por um monte de carne e osso.”
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PONDERAÇÃO: sem se saber seguramente até onde “reações eletroquímicas, produzidas por um monte de carne e osso” podem alcançar o questionamento é inócuo. A consciência está presente nos animais, embora em nível distinto do do humano. E o que se pode concluir disso, além especulação?
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Então, o homem é mais consciente do que os demais seres vivos porque possui uma mente metafísica (o artigo parece não abordar a diferença entre mente e consciência – li-o superficialmente, depois comento melhor), enquanto os demais não teriam essa benesse, ou porque teria achado a melhor trilha no caminho evolutivo?
dezembro 30th, 2015 às 3:56 PM
Me autopuni proibindo-me de atrapalhá-lo nas traduções, mas não seria
preciso remete-las pelo SEDEX amanhã
ou seja por correio expresso (tem que ver como se chama cá sem ser a marca comercial a EBCT).
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Sr. Administrador: se ainda não saiu p/o feriadão, desejo que o Ano Nove lhe traga, além da saúde que é tudo na vida pois que com ela o resto se consegue…, sensatez. Que pare de tentar promover a Credulidade neste povo já tão frágil (lembra de porque o Jesus chiquista resolveu transportar p/cá a árvore do Evangelho?).
Una-se a nós e utilize este expressivo espaço para o aprimoramento e não a regressão do intelecto patrício.
dezembro 30th, 2015 às 4:16 PM
há que haver um ponto inicial, a partir do qual tudo começa…
Não! Parafraseando o Russell, já lá pela metade do “semestre” (trimestre na real) de Cálculo II fica-se sabendo que séries infinitas não precisam ter 1° termo (aliás nosso místico aquele vai usá-las se fizer o experimento como corresponde, i.e. vai utilizar transformadas discretas de Fourier).
E se “deus” não foi criado então nem tudo precisa ter um criador então &c.
Por isso sempre digo: atribuir um rótulo para tudo que desconhecemos e/ou nosso cérebro é incapaz de apreender em nada ajuda para um entendimento. É só uma falácia, uma falsa ilusão de “conhecimento”.
Da mesma forma o que fez ABo: transferiu a sede das sensações relacionadas ao conceito metafísico de amor do cérebro para um outro ente um pouco mais quintessenciado que ele chama de consciência.
Ajudou no entendimento? Não; só empurrou pra frente a dúvida. Ou seja: as reações possíveis reações eletroquimicas ou spinores quânticos correspondentes (nesse ramo sempre é bom usar o vocábulo quântico ou seus correlatos) que eventualmente haja foram transferidos por ele p/a consciência, passando então a serem peri-reações e peri-spinores.
E daí ❓
dezembro 30th, 2015 às 4:26 PM
Gorducho,
amanhã ainda trabalho, mas é meio-expediente.
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Eu tinha traduzido como:
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“Devo me livrar daquelas [coisas] expedindo pelo correio amanhã cedo ”
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Pelo menos a ideia eu peguei corretamente, parece.
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Agradeço os votos, mas espalhar a “credulidade” é importante para contrabalançar o “ceticismo patológico”. E de qualquer forma meu objetivo não é nem um nem outro, apenas o de chamar a atenção dos cientistas para tais fenômenos na tentativa de elucidá-los e aumentar o conhecimento das pessoas sobre um campo de pesquisa tão estigmatizado.
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Um bom 2016 pra vc também. Se ganhar na Mega da Virada lembra de dividir com o Montalvão que da última vez que contei tinha 21 cães.
dezembro 30th, 2015 às 4:49 PM
Me livrar não: é só remeter.
Esse early post desconfio que o carteiro também coletava cartas (já seladas, claro).
E talvez tivesse um carteiro de manhã e um de tarde. Cá nunca teve acho.
dezembro 30th, 2015 às 4:51 PM
Aliás carteiro de manhã (SEDEX) + de tarde cá tem.
Mas não coleta, só entrega 🙁
dezembro 30th, 2015 às 5:02 PM
Se lembra quando dia 31 tinha o balanço do banco?
Eu sou do tempo em das fichas de saldos.
Em alguns lugares o cheque tinha uma parte picotada que permitia ao conferente conferir preliminarmente se tinha fundos, autorizando o pagt° ao caixa.
Bons tempos aqueles: tudo era mais difícil…
dezembro 30th, 2015 às 5:05 PM
Oi, Gorducho
sim, tinha dois carteiros, pela manhã e pela tarde. Você está afiado, falei com o Matlock sobre essa passagem, perguntando a que poderia se referir o “these” e ele disse: “This was back when there were two posts a day, one in the morning and one in the afternoon. It is most likely a letter or something written, but it isn’t clear at all!”
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No fim a tradução ficou assim:
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“Preciso remetê-las por correio amanhã de manhã”
dezembro 30th, 2015 às 5:06 PM
O avô dum amigo meu gostava de passar férias aí. Mas ia de maria fumaça porque de avião era muito rápido e sem graça; ele gostava de “aproveitar a viajem”.
dezembro 30th, 2015 às 5:39 PM
O carteiro passava tocando um sino; não era o mesmo entregador.
dezembro 30th, 2015 às 5:42 PM
[The British Postal Museum & Archive]
dezembro 30th, 2015 às 6:43 PM
Traduzindo: aproveitemo-nos dum povo emotivo e com dificuldades de raciocínio para incutir-lhes a Crenças.
Espero que em 2016 o Sr. compreenda que deve trabalhar contra e não a favor dessa ideologia chiquista de abobalhamento de nossos compatriotas, Sr. Administrador.
Una-se a nós Contra a Credulidade ❗
dezembro 30th, 2015 às 8:53 PM
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onde, “E o que se pode concluir disso, além especulação?”, leia-se:
E o que se pode concluir disso, além DE especulação?
dezembro 30th, 2015 às 9:31 PM
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“há que haver um ponto inicial, a partir do qual tudo começa…”
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GORDUCHO: Não! Parafraseando o Russell, já lá pela metade do “semestre” (trimestre na real) de Cálculo II fica-se sabendo que séries infinitas não precisam ter 1° termo (aliás nosso místico aquele vai usá-las se fizer o experimento como corresponde, i.e. vai utilizar transformadas discretas de Fourier).
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PONDERAÇÃO: correto, mas tal não elide a ideia aristotélica de “primeiro motor”, e outras assemelhadas, qual a de Tomás de Aquino, quer dizer, são conceitos diferentes. (De momento não estou advogando em favor de Deus, em quem acredito, mas refletindo a respeito). Então, a rigor, Deus não precisa ser o primeiro de uma série: ele é quem a partir de certo ponto a regressão nada mais encontra a não ser o próprio.
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“E se “deus” não foi criado então nem tudo precisa ter um criador então &c.”
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PONDERAÇÃO: é, mas a concepção que propõe a divindade também propõe que tudo tenha sido criado (ou seja, provém de “outra coisa”) exceto Deus. Se há outras coisas incriadas seria outra discussão, creio…
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“Por isso sempre digo: atribuir um rótulo para tudo que desconhecemos e/ou nosso cérebro é incapaz de apreender em nada ajuda para um entendimento. É só uma falácia, uma falsa ilusão de “conhecimento”.”
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PONDERAÇÃO: de fato, Deus é uma forma de se ter explicação para o que (ainda) não tem explicação. No passado ele estava bem próximo, comandando exércitos, recompensando quem merecesse e ferrando os ímpios. Na atualidade, o divino está mais afastado, ao menos na visão teológica-filosófica, pois no imaginário popular, ditado por líderes religiosos, ele continua como sempre, escolhendo prediletos e deixando o demônio levar os demais…
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“Da mesma forma o que fez ABo: transferiu a sede das sensações relacionadas ao conceito metafísico de amor do cérebro para um outro ente um pouco mais quintessenciado que ele chama de consciência.”
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PONDERAÇÃO: penso que a manifestação do ABo situa-se noutra esfera, mais “fácil” de ser elucidada. Apesar de não termos uma definição de consciência dada pelo artigo (ao menos não vi), de modo que, a partir dela, se pudesse discutir, e não sabemos como que o ABo conceitua a coisa, ainda assim temos posições definidas a ser consideradas, uma a fisicista, outra a metafísica. O que o André defende, seguindo Chalmers, é que a consciência seja irredutível ao seu arcabouço neurológico, quer dizer, há componentes na consciência que não se explicam considerando apenas o fundamento físico.
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“Ajudou no entendimento? Não; só empurrou pra frente a dúvida. Ou seja: as reações possíveis reações eletroquimicas ou spinores quânticos correspondentes (nesse ramo sempre é bom usar o vocábulo quântico ou seus correlatos) que eventualmente haja foram transferidos por ele p/a consciência, passando então a serem peri-reações e peri-spinores.”
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PONDERAÇÃO: penso que a consciência efetivamente tenha propriedade que não se explicam neurologicamente, embora tal não signifique necessidade de componente que transcenda a matéria para esclarecê-la. De primeiro momento, pode-se conceber que as estruturas, a medida que se complexificam, ganham características novas, algumas das quais não podem ser elucidadas levando em conta o aparato básico: uma simples mesa tem peculiaridades que não se esclarecem pelas interações dos átomos que a compõem, imagine a mente, muito mais complexa?
dezembro 30th, 2015 às 11:30 PM
“Vitor Diz:
DEZEMBRO 30TH, 2015 ÀS 2:46 PM
Oi, Borges
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acredito que o amor seria classificado como um “easy problem” ”
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Não sou psicólogo, aliás, estou muito longe disto; tenho uma filha que é doutora em psicologia, porém, conhecimento não se transfere por parentesco. Sou um pouco abelhudo e gosto de dar pitaco em qualquer assunto. Quando fiz o comentário, eu mencionei que naveguei na superfície do assunto, exatamente porque não tinha condição de me aprofundar, porém, de certa forma, acho que soprei a “flechinha de papel na caixa de maribondo” naquela época.
Você disse que o amor seria classificado como “easy problem”; eu acho que a palavra “amor” não foi citada como exemplo de “easy” nem de “hard”, contudo, posso estar errado. Talvez possa fazer parelha com sentimentos de “angústia”, “arrependimento”, “medo”, “alegria”, etc., neste caso, temos um trecho do artigo que sugere “hard problem”, pois estas palavras formam um conjunto, juntamente com a palavra “enxergar” e esta última, é considerada como experiência.
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“Colocando de outro modo o problema para o materialista, apresento as seguintes indagações: por que nós – tais como sistemas artificiais de computação – que teoricamente também seríamos feitos de bilhões de unidades sem-experiência (neurônios, etc.), quando engajamos o processamento de informações (semelhantemente a uma CPU), somos capazes de experimentar sensações, como a experiência de enxergar e de sentir dor, a angústia de um arrependimento, a experiência de um fluxo de pensamento reflexivo, a sensação qualitativa de um estado de medo ou de alegria? Por que, repita-se, o processamento de informação não acontece ‘no escuro’, da mesma forma que em seu microcomputador? Como pode a experiência emergir da união de bilhões de microcomponentes inexperienciais?
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Claro que posso estar errado, pois o assunto revela-se um tanto complexo, para uma mente despreparada para tal.
Um abraço
dezembro 31st, 2015 às 6:05 AM
Não sou psicólogo, aliás, estou muito longe disto; tenho uma filha que é doutora em psicologia, porém, conhecimento não se transfere por parentesco.
Não se iluda, nesse tema todos temos o mesmo conhecimento. Há um conjunto se sensações neurológicas tais como pulsações cardíacas, ideia fixa, não poder dormir, vontade de estar junto &c., que estes sim podem em tese serem estudados pela psicologia e pela neurologia. Mas a síntese – cuja soma é maior que a soma das partes…- a que chamamos de amor, é um ente metafísico sobre o qual todos temos o mesmo conhecimento, o qual independe de carteirinhas expedidas por cartórios de registro profissional.
É um tema pertinente à Filosofia.
AMo (como sempre…) colocou bem: primeiro seria necessário definir o que é consciência.
Ano que vem proporei este tema ao Administrador (apesar do assunto particularmente não m/interessar porque gosto mesmo é de espiritismo: mesas girantes, Dr. Bezerra, plágios…).
dezembro 31st, 2015 às 6:39 AM
correto, mas tal não elide a ideia aristotélica de “primeiro motor”
Correto, estava me referindo à divindade dos abraâmicos. O piparote inicial aristotélico é o nosso atual big bang; o ente produtor não precisa continuar existindo após dá-lo.
qual a de Tomás de Aquino
Não porque o aquinate postula com os abraâmicos que tal divindade criou. Daí recaímos de novo em que se tudo que existe foi criado &c. Não se trata apenas de chegar a um ponto da série a partir do qual não se consegue prosseguir.
O caso da série seria p/os Crentes abraâmicos
z(i) = ƒ[z(i – 1)]
Chegamos a um termo z(-n) a partir do qual não podemos ou não queremos prosseguir (para nosso místico será lá pelo -40 se bem m/lembro…). Mas não daí a dizer-se que z(-n-1) não existe, porque isso contraria a definição da série.
Então se S/Pessoa disser que D⋅ é o mais poderoso ser já encontrado, cujo atirava raios, incendiava sarjas, produzia dilúvios (a partir de agora os terrícolas que se encarregarão – viu ontem a temperatura do polo norte?)… nada a discordar.
dezembro 31st, 2015 às 4:25 PM
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“Correto, estava me referindo à divindade dos abraâmicos. O piparote inicial aristotélico é o nosso atual big bang; o ente produtor não precisa continuar existindo após dá-lo.”
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PONDERAÇÃO: o ente desencadeador do processo não precisa continuar existindo, mas nada impede que continue…
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Meu pensamento é que se há um ente que tenha ingerência sobre o existente este ente é imanifesto, e as tentativas de alcançá-lo são esforços humanos que sequer sabemos se têm retorno, embora muitos garantam que sim. Quer dizer, a concepção de algo-alguém todo-poderoso que possa ter um projeto definido para o universo pode ser gratificante para uns (como o é para mim) e desagradável para outros, porém nenhum dos lados é capaz de apresentar evidências satisfatórias do que considere ser.
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Em suma, Deus, se é, é absconditus (oculto, misterioso). Deus, tal qual a vida além, é uma aposta no escuro, e, como toda boa aposta pode dar o grande prêmio ou não…
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“Chegamos a um termo z(-n) a partir do qual não podemos ou não queremos prosseguir (para nosso místico será lá pelo -40 se bem m/lembro…). Mas não daí a dizer-se que z(-n-1) não existe, porque isso contraria a definição da série.
Então se S/Pessoa disser que D? é o mais poderoso ser já encontrado, cujo atirava raios, incendiava sarjas, produzia dilúvios (a partir de agora os terrícolas que se encarregarão – viu ontem a temperatura do polo norte?)… nada a discordar.”
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PONDERAÇÃO: o raciocínio matemático precisarei de consultar os universitários… mas, creio ter pego a mecânica da reflexão, infelizmente, nada posso propor a respeito da divindade, considerando que dela nada sei, tampouco tive qualquer experiência pessoal probante, qual alguns dizem terem tido.
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A temperatura do pólo norte não vi, mas aqui onde moro tava uns 257º à sombra…
dezembro 31st, 2015 às 4:42 PM
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Falando de Deus absconditus achei texto que pareceu-me interessante, desde que lido até o final…
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Deus Absconditus
Qual é a relação entre o Domingo Rogate (6º. Domingo da Páscoa) e a festa da Ascensão do Senhor (40 dias após a Páscoa)? Talvez a música do Gilberto Gil nos ajude a fazer essa conexão:
“Se eu quiser falar com Deus” (Gilberto Gil):
…
O autor conta que fez essa música a pedido do Roberto Carlos:
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“O Roberto me pediu uma canção; do que eu vou falar? E se eu quiser falar de Deus? E se eu quiser falar de falar com Deus?”
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Conta-se que o Rei não gostou da canção, tanto é que nunca a gravou. Ao tomar conhecimento da música, teria dito que essa não era a ideia que ele tem de Deus.
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Qual é a ideia do Deus cantada na canção? Pois aí está o “DEUS DESCONHECIDO”, pregado no Areópago pelo apóstolo Paulo, na cidade de Atenas (Atos 17). Trata-se do mesmo “Deus absconditus” a respeito do qual se referiram o protestante Martinho Lutero e o católico Pascal, à luz do “Deus misterioso” do profeta Isaías (45.15, na versão latina, a Vulgata: Vere tu es Deus absconditus Deus Israhel salvator).
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Tal é o Cristo ressuscitado que, incógnito, senta-se à mesa com seus discípulos em Emaús, e que, ao mesmo tempo que se revela no partir do pão, desaparece da presença deles (et ipse evanuit ex oculis eorum – Lc 24.31).
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Também no Evangelho de João, Maria Madalena reconhece o Mestre na figura de um jardineiro, e trata de agarrá-lo, pois teme que ele se vá. Mas o ressuscitado a repreende, dizendo: “Não me detenhas, porque […] subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17).
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Algo semelhante acontece no dia da ascensão do Senhor, narrada no livro dos Atos dos Apóstolos: “Depois disso, Jesus foi levado para o céu diante deles. Então uma nuvem o cobriu, e eles não puderam vê-lo mais” (At 1.9).
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Esta concepção teológica afirma que Deus se tornou inacessível, escondendo-se dos olhos da humanidade pecadora, mas que se revela a essa mesma humanidade por meio do desafiador ato existencial da fé (lembram-se de Kierkegaard?).
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Ao contrário do que muitos pregam, o Deus dos Evangelhos é mais um Deus que se oculta do que um Deus vedete, muito longe de um Jesus Christ superstar. Ele é antes o Deus absconditus, o Mysterium tremendum, o Deus Desconhecido.
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Ora, sendo assim, não dá pra deixar de fazer a associação com a instrução de Jesus: “Quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto” (Pater tuus qui videt in abscôndito – Mt 6.6).
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Orar a um Deus Absconditus pode ser angustiante, por causa do risco de tudo dar em nada:
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“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada /… /
Do que eu pensava encontrar”.
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A agourenta, sequência de treze “nadas” insinuando, no dizer do compositor, sucessivas camadas de buraco (usando a expressão da scholar britânica Karen Armstrong), apavora os defensores das certezas eternas. Nem sequer se dão conta da última frase, que, para Gilberto Gil, é a expectativa de algo que culmina
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“com uma luz no fim (do túnel, da estrada, da vida), quer dizer, deixando entrever embutida na morte, a possibilidade de realização de uma existência num plano diferente de tudo que se possa imaginar, mas que de qualquer maneira se imagina existir; a possibilidade de transmutação – com o desaparecimento do corpo físico, da entidade psíquica que chamamos de alma, inconsciente, eu – para outra coisa, outra forma de consciência de todo modo imprevisível, se não for mesmo nada”.
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É aqui que o “nada-Deus” transforma-se no “totalmente Outro”, de Rudolf Otto, e na possibilidade plena da relação EU-TU, de Martin Buber.
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Por que, então, Deus se esconde?
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Talvez para que por essa ausência se abra espaço suficiente para que germine em nós a delicada semente do desejo de buscá-lo.
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Por que Deus é Mistério tremendo?
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Talvez o seja para que possamos ir além da razão e ousemos dar o salto da fé (afinal, não dizem as Escrituras que “o justo viverá pela fé”?, cf. Hc 2.4; Rm 1.17, Gl 3.11 Hb 10.38).
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Por que Ele prefere ser um Deus Desconhecido?
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Talvez o seja para que possamos viver na incessante expectativa de encontrá-lO a qualquer momento no encontro com o outro, de ver Seu rosto no rosto do irmão, no rosto da irmã… Ou talvez no rosto de algum dos pequeninos, mencionados em Mateus 25, que por aí vagam famintos, sedentos, nus, enfermos, presos… pobres.
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E onde será que esse misterioso Deus desconhecido se esconde, afinal?
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Ah, dizem os escritos sagrados que Deus se esconde no Amor. Ubi caritas, et amor, Deus ibi est. Onde há caridade e amor, Deus aí está; porque Deus é amor (1João 4.8).
Luiz Carlos Ramos
http://www.luizcarlosramos.net/deus-absconditus/
dezembro 31st, 2015 às 4:57 PM
Ah, dizem os escritos sagrados que Deus se esconde no Amor. Ubi caritas, et amor, Deus ibi est. Onde há caridade e amor, Deus aí está; porque Deus é amor
[8 (AL ANFAL) : 12]
🙁
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FELIZ ANO NOVO P/TODOS!