Erasto, Espírito da Codificação

Mais um excelente vídeo do Felipe Morel mostrando a ignorância e o racismo de Erasto:

8 respostas a “Erasto, Espírito da Codificação”

  1. mrh Diz:

    Parte dessa argumentação do Morel eu já havia visto em outro vídeo, e foi retomada aqui.
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    Faz muitos anos, qdo morava em sp, eu era um rato de sebo. Tive um minhas mãos e não comprei um velho livro sobre os incas. Para minha surpresa, o mapa do seu império ia de parte do México até o sul da américa do sul. Ficou só a lembrança do susto q então levei, educado q fui na historiografia moderna.
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    Por causa do argumento do Morel procurei na net e encontrei o “o imperio dos incas: no peru e no mexico” de jaguaribe, 1913 (ou 23). Talvez seja aquele livro.
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    Esse historiador brasileiro é muito citado nos livros atuais do assunto, e parte de seu argumento eu obtive, apesar de não ter conseguido o pdf.
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    Inca quer dizer chefe, no caso, rei absoluto. Os vários povos americanos tiveram como característica comum imperadores absolutos do méxico ao sul da américa do sul. Inca seria então uma designação geral, dentro da qual os variados impérios americanos absolutistas teriam sido enquadrados pelos espanhóis inicialmente, e astecas, maias e incas uma designação mais específica para cada império em particular.
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    Vemos isso hoje quando nos designamos americanos, pois somos sul americanos, mas mais especificamente os americanos, ou seja, os habitantes dos EUA, se dizem americanos. No futuro, alguém poderá dizer que americanos eram só os norte americanos, apesar da designação geral.
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    Suspeito que Jaguaribe pertencesse à uma possível velha escola, que, antes da consolidação da atual designação como Incas apenas os sul americanos, considerasse todos os americanos “incas” e especificasse de quais incas estava a falar, tal como “Erasto” fez dizendo Inca-asteca.
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    É possível pesquisar essa hipótese procurando nos livros didáticos de história do sec. XIX o modo como apresentavam o tema, antes de ele ter sido modernizado e apresentado como hoje. Vale a pena lembrar que hoje a palavra “astecas” também é considerada inadequada, e usa-se “mexicas”.
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    Em outras palavras, a apresentação da história muda. Talvez tenha sido este o caso.

  2. mrh Diz:

    Vitor, vc conseguiria o pdf do Jaguaribe?

  3. Vitor Diz:

    A princípio só comprando o livro. Há um site porém que talvez permita que alguém dos EUA possa fazer o download do livro, mas essa pessoa só vai poder checar isso no fim de semana. O site é esse:

    https://catalog.hathitrust.org/Record/008384080

    No link https://onlinebooks.library.upenn.edu/webbin/book/browse?type=lcsubc&key=Quechua%20Indians&c=x é dito:

    [X-Info] O imperio dos Incas no Perú e no Mexico. Lido no Instituto Historico de S. Paulo. (S. Paulo, Empresa Typ. Editora “O Pensamento,”, 1913), by Domingos Jaguaribe (page images at HathiTrust; US access only)

    Aí esse US access only talvez signifique que é permitido que alguém dos EUA baixe o livro. Ou não…

  4. mrh Diz:

    O ‘manual de história universal’, francês, de 1836, de S. Cahen, p. 197, depõe contra a hipótese acima. O autor limita Inca a Ataualpa. Ademais, não tem o imperialismo da codificação

    “As pessoas já não se contentavam mais com estabelecimentos simples; queriam ter todos os países deste Novo Mundo. Assim Fernand Cortez facilmente tomou o México desde 1519 (onde os imperadores Montezuma e Guatimoziu se tornaram suas vítimas), e desde 1531 os Pizarros e Almagro tomaram o Peru, onde o infeliz Inca Ataualpa comprou, por um quarto cheio de ouro e pelo batismo, o triste favor de ser estrangulado em vez de queimado vivo! Armas de fogo, cavalaria e cães grandes foram suficientes para algumas centenas de espanhóis, ávidos por ouro, subjugarem vários 100.000 milhas quadradas e vários milhões de bons índios. Quem quer aprender a desprezar os homens Cristãos leia estas cenas de terror descritas por Las Casas!”
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    “Déjà on ne se contenta plus de simples établissemens; on voulait avoir tous les pays de ce Noveau-monde. Ainsi Ferdinand Cortez prit facilement depuis 1519 le Mexique (où les empereurs Montezuma et Guatimoziu devinrent ses victimes), et depuis 1531 les Pizarros et Almagro prirent le Pérou, où le malheureux Inca Atabalipa acheta par une chambre pleine d’or et par le baptême, la triste faveur d’etre étranglé au liee d’etre brûilé vif! Les armes à feu, la cavalerie et de grands chiens suffirent à quelques centaines d’Espagnols, avides d’or, à soumetre plusieurs 1oo,ooo milles carrés et plusieurs milions de bons Indiens. Que celui qui veut apprendre à mépriser des hommes, des chrétiens. lise ces scenes d’horreur décrites par Las Casas!”

  5. Gorducho Diz:

    No Novo Dicionário Universal o amigo do Kardec Maurice de La Châtre fala nos Astecas.
    Verbete México

    Tous ces peuples étaient arrivés à un degré de civilization remarcable, surtout les Aztèques, qui dominaient em dernir lieu ;

    [vol. II pg. 698, 1870]
     
    Em O Império do Mexico na Enciclopédia do Diderot + d’Alembert não achei menção aos nomes dos povos, falam só no soberano Montezuma; chefe dos mexicanos; rei…
    [vol. X pg. 480-1]
    Ressalvado que dei só vista-d’olhos.
     
    Então pode-se imaginar que tenha sido nesse interregno entre a Revolução e ’70 que começou a se falar em Aztecas, pelo menos em França🤔

  6. mrh Diz:

    Acabei de folhear um livro em francês d história da américa, do sec XViii, e os indios americanos são tratados como “indies” e incas são só os peruanos,

  7. mrh Diz:

    Salvo algo surpreendente no livro do Jaguaribe, deve-se reconhecer q o Kardec deu (mais) uma impressionante bola fora.

  8. mrh Diz:

    Finalmente chegou às minhas mãos o livro do Jaguaribe, “Os Impérios Incas: no Peru e no México”. Parece que, em certo sentido, a hipótese lá do primeiro post foi parcialmente corroborada. Pode ter existido uma tendência historiográfica, minoritária, com talvez um pé na França, que chamava de Incas os índios americanos do Peru e do México tb. Seguem extratos do livro:
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    “Convem aqui lembrar que tanto no Perú, como no Mexico, imperios foram constituidos por governos que tiveram successão regular, sendo que o Perú contava mais de 400 annos de governo hereditario e o Mexico 200 annos, onde a successão do throno era dada ao mais valente dos mexicanos, com excepção de Montezuma XI imperador que foi o ultimo dos soberanos desthronados pelos hespanhoes, que sendo filho do imperador do mesmo nome, ao qual succedeu, foi por suas qualidades e bravura e não pela herança que elle deveu succeder a seu pai (p. 23).
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    Terminamos observando que o regimem da liberdade que unio as republicas da America no governo republicano, comparado com o longo periodo do Imperio dos Incas, vem provar que a liberdade sem as luzes da justiça e da religião, é um flagelo, porque 400 annos depois da chamada civilização, na mesma Capital do Mexico, onde Cortez prendeu Montezuma de quem era hospede, dentro do seu proprio palacio; o presidente Madero, trahido pelo seu ministro que se proclamou presidente, foi covardemente assassinado no mesmo local! (p. 40).
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    Desde o anno 349 da era Christ? tem o Mexico sido governado por imperadores. A lista é assaz numerosa das duas raças Tultecas e Cerichimecas. (p. 50).
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    E’ no ambiente apropriado á vida dos espiritos que deve operar-se a reincarnação, deve ser na materia corporal, na Terra que se faz esta dolorosa prova da purificação, si bem que todos nós vemos quanta degradação ha nas creaturas, ao par da evolução progressiva das raças, nas nações, todas ellas marchando para a perfectibilidade mas lentamente, por causa das leis humanas imperfeitas, pois é bem certo que achar-se-á a causa dos males que affligem a humanidade, estudando-se a historia de suas instituições. Voltaire, o incredulo, na «Princesa de Babylonia» disse:. «Não é mais surprehendente morrer duas vezes que uma. Tudo é resurreição neste mundo».
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    Por fim, “O império dos incas no México”, um capítulo todo, explícito, a partir da pg. 231.
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    Assim, convém sempre ser prudente relativamente às interpretações históricas: alegação de crassa ignorância quase nunca é o melhor caminho para o delicado trabalho do historiador ou historiógrafo. O passado frequentemente nos surpreende.
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    Coisas que aconteceram século(s) atrás precisam ser pesquisadas cuidadosamente. Pode ter havido, ao tempo de Kardec (e só pesquisa historiográfica adicional, extensa e cuidadosa, permitirá uma posição melhor fundamentada), uma discreta tendência, ou minoritária, à qual o autor espírita teria se filiado, que teria chamado (distintamente de hoje) de incas aos habitantes do Peru e do México tb.
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    Jaguaribe nos remete, além da literatura acadêmica, à literatura ocultista, hipóteses interpretativas do seu tempo e a autores espanhóis e franceses (além de outros idiomas) do XIX e anteriores do tema que não pesquisei. Portanto, quem deseja realizar um trabalho histórico amplo no assunto tem o caminho aberto.

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