Livro “Há Dois Mil Anos”, de Chico Xavier (1939) – Novas descobertas

O internauta “Míssel Crítico”, leitor do blog, achou mais 3 correspondências entre o livro “Há Dois Mil Anos” de Chico Xavier e “Vida de Jesus”, de Ernest Renan. Agradeço profundamente sua contribuição! Assim sendo, reuni todos os problemas do livro encontrados até então neste artigo. Para ler, clique aqui.

11 respostas a “Livro “Há Dois Mil Anos”, de Chico Xavier (1939) – Novas descobertas”

  1. Marcos Arduin Diz:

    Ouvi falar que o Renan cometeu uma série de erros históricos e geográficos. Tais erros foram repetidos no livro do Chico?

  2. Míssel Crítico Diz:

    Marcos Arduin,
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    Não sei se há erros geográficos nas obras de Owen e, existindo, se foram aquelas reproduzidas nas obras de Xavier. Mas erros históricos consta sim, como relatado no artigo do Vítor e nos demais deste blog.

  3. Míssel Crítico Diz:

    Encontrei outras possíveis correspondências nos livros de Xavier e Ernest Renan:
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    1) “(Sobre Jesus) Deve provavelmente ter visto Sebasto, obra de Herodes, o Grande, cidade de ostentação […] cujas ruínas fadam crer que foi pré-fabricada e para lá transportada […] Mas esse luxo de encomenda, essa arte administrativa e oficial NÃO O AGRADARAM.- Ernest Renan, p.108
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    “[Personagem sobre Jesus] Falava de nossas grandezas e conquistas como se fossem coisas bem miseráveis, fazia AMARGAS AFIRMATIVAS acerca das obras monumentais de Herodes, em Sebasto – Há dois mil anos, Xavier, p.58
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    Obs: Ambos citam Sebasto como lugar de ostentação/obras monumentais e que Jesus não agradou/fez amargas críticas ao luxo do local. Há alguma outra fonte em que Jesus aborda especificamente Sebasto? Se não, pode ser que seja uma interessantíssima semelhança, presente exatamente nas duas obras comparadas.
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    2) “O Templo, na época de Jesus, era recente, e as obras exteriores não estavam completamente tenninadas. Herodes havia mandado reconstruí-lo, pelo ano 20 ou 21 antes da era cristã (…) A nave do Templo foi feita em dezoito meses, os pórticos em oito anos; mas as partes acessórias continuaram sendo feitas lentamente e só terminaram pouco tempo antes da tomada de Jerusalém” – Ernest Renan, P. 224
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    “o Templo, todo novo na época de Jesus. Sua reconstrução fôra determinada por Herodes, no ano de 21, notando-se que os pórticos levaram oito anos a edificar-se, e considerando-se, ainda, que os planos da obra grandiosa, continuados vagarosamente no curso do tempo, somente ficaram concluídos pouco antes de sua completa destruição.” – Há dois mil anos, Xavier, p. 50 e 51
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    Obs: É o mesmo recorte, com as mesmas expressões e escopo de palavras, tudo na MESMA ORDEM lógica do outro autor: a) falam que o templo era recente/todo novo na época de jesus. b) reconstrução determinada por Herodes. c) ano 20 ou 21/ ano de 21. d) os pórticos foram feitos em oito anos. e) os autores dizem que continuaram/continuados, lentamente/vagarosamente, sendo feitas/no curso do tempo. f) e que só/somente se findou pouco tempo/pouco antes da tomada de Jerusalém/da sua destruição.
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    3) “Os pátios e os pórticos circundantes serviam diariamente de ponto de encontro de uma considerável multidão. Tanto que esse espaço era templo, fórum, tribunal e universidade ao mesmo tempo. Todas as discussões religiosas das escolas judaicas, todo o ensinamento canônico, até os processos e causas civis, toda a atividade da nação estava, enfim, concentrada ali (…) Cheios de consideração pelas religiões estrangeiras, naquela época, desde que elas se restringissem ao seu próprio território, os romanos proibiram a si mesmos entrarem no santuário (…) Mas a torre Antonia, quartel-general da força romana, dominava todo o contorno e permitia ver tudo o que se passava lá dentro” – Ernest Renan, pág. 225.
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    Nos pátios imensos, reunia-se diariamente a aristocracia do pensamento israelita, localizando-se ali o fórum, a universidade, o tribunal e o templo supremo de toda uma raça. Os próprios processos civis, além das discussões engenhosas de ordem teológica, ali recebiam as decisões derradeiras (…) Os romanos, respeitando a filosofia religiosa dos povos estranhos, não participavam das teses sutis e dos sofismas debatidos e examinados todos os dias, mas a Torre Antônia, onde se aquartelavam as forças armadas do Império, dominava o recinto. facilitando a fiscalização constante de todos os movimentos dos sacerdotes e das massas populares. – Há dois mil anos, Xavier, p.51.
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    Obs: Esse trecho é paradigmático da hipótese de plágio, vejamos: a) ambos falam dos pátios do templo e ressaltam o mesmo elemento temporal ‘DIARIAMENTE’ para as atividades ali realizadas, por uma multidão/aristocracia do pensamento israelita. b) Os dois autores descrevem as funções do templo da mesma maneira: Fórum, tribunal, templo e UNIVERSIDADE (este último, adjetivo peculiar para o contexto, querendo indicar local de estudo e aprendizado). Ou seja, caracterizou da mesma forma que o outro autor. c) Dissecaram sobre as mesmas atividades realizadas no templo: discussões religiosas/ discussões teológicas, processos civis. d) Ambos relatam que os romanos tinha considerações/respeitavam as religiões/filosofia estrangeiras e não entravam no santuário/não participavam dessas. e) Outra correspondência da torre Antônia de Renan: ambos falam ser quartel/aquartelavam forças romanas/do império, os dois autores dizem que DOMINAVA todo o contorno/o recinto e que isso permitia/facilitava ver/fiscalizar o que se passava lá/todos os movimentos. Tudo isso na MESMA SEQUÊNCIA lógica do trecho. Em uma olimpíada de plágio, essa seria medalha de ouro kkk
    XX
    4) “provavelmente em frente de Jericó, fosse no lugar chamado Aenon ou “as Fontes”, perto de Salim, onde havia muita água – p. 149 (…)
    O delicioso oásis de Jericó, então bem irrigado, devia ser um dos mais belos lugares da Síria – Ernest Renan, P. 325
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    ” demandou o oásis de Jericó, uma bênção de verdura e águas entre as inclemências da estrada agreste – Xaiver, Boa Nova, pág. 8
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    5) “Dessas cinco cidades, Magdala, Dalmanuta, Cafarnaum, Betsaída e Corazim, a primeira é a única que se pode hoje localizar com exatidão” – Ernest Renan, pág. 176
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    “Difundidas as primeiras claridades da Boa Nova, todos os enfermos e derrotados da sorte, habitantes de Corazim, Magdala, Betsaida, Dalmanuta e outras aldeias importantes do lago enchiam as ruas de Cafarnaum em turbas ansiosas” – Xavier, Boa Nova, pág.33
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    6) “podemos ver as ruas em que Jesus brincou quando criança, pelas veredas pedregosas (…) Certamente a casa de José se parecia muito com essas lojas (…) servindo ao mesmo tempo de carpintaria, de cozinha, de quarto” – Ernest Renan, p.97
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    “Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas, suas lojas singulares” – Xavier, Boa Nova, pág. 7

  4. Míssel Crítico Diz:

    Identifiquei uma abordagem intrigante, que pode até ser favorável ao CX:
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    “O idioma próprio de Jesus era o dialeto siríaco misturado ao hebraico que se falava então na Palestina. Mais acertadamente, não teve nenhum conhecimento da cultura grega (…) ela não havia penetrado em cidades pequenas como Nazaré – Ernest Renan, p.103,104.
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    “Públio Lentulus considerou dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de Nazaré. Como se entenderiam? Não lhe interessara o conhecimento minucioso dos dialetos do povo e, certamente, Jesus lhe falaria no aramaico comumente usado na bacia de Tiberíades.” – Há dois mil anos, Xavier, p. 84.
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    o que chamou a atenção foi Renan ter mencionado ser o dialeto de Jesus o siríaco misturado com hebraico e CX Aramaico. Segundo a maioria das fontes, Jesus falava aramaico. As fontes também dizem que tinham vários tipos de aramaicos na época. Bom, sou totalmente leigo nesse quesito, mas, pesquisando perfunctoriamente, vi que siríaco seria um dialeto do Aramaico. Então, seria aramaico gênero e siríaco espécie? Caso sejam dialetos distintos, seria ponto favorável a CX, o que não exclui consultas a outras fontes fáceis constando tal informação.
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    Fontes de que siríaco seria um “tipo” do aramaico:
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    “O siríaco é um dialeto do aramaico, a língua nativa de Jesus, outrora falado em boa parte do Oriente Médio e da Ásia Central”
    https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/antiga-biblia-com-texto-em-dialeto-originario-da-lingua-de-jesus-encontrada-no-chipre-3174527
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    “Os siríacos desejam também fazer reviver sua língua, uma língua histórica e abençoada, pois era a língua falada por Jesus Cristo.”
    https://www.cmc-terrasanta.com/pt/media/terra-santa-news/19563/sir%C3%ADacos:-ra%C3%ADzas-aramaicas-e-rebentos-crist%C3%A3os

  5. Vitor Diz:

    Ótimas contribuições, Míssel! Já vi que vou ter que rerrepublicar com acréscimos…

  6. mrh Diz:

    Gostei muito.

  7. Míssel Crítico Diz:

    Vitor, me desculpe colacionar mais uma parte, mas prometo que será a última rsrsrs. Tinha faltado alguns trechos para analisar, então os fiz e consegui encontrar mais algumas possíveis influências. Veja só:
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    1) “estava limitada à bacia do lago de Tiberíades (…) O lago tem cinco ou seis léguas de comprimento por três ou quatro de largura (isso dá a dimensão de que era grande); embora apresentando a aparência de um oval bastante regular, ele forma, desde Tiberíades até a entrada do Jordão, uma espécie de golfo (…) Saindo de Tiberíades (…) parece desmoronar sobre o mar” – Ernest Renan, p. 175 e 176
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    “se dirigiam pela estrada que contornava o grande lago [Tiberíades/Genesaré], quase em caprichoso semicírculo, acompanhando o curso das águas do Jordão a descerem sussurrantes e tranqüilas para o Mar Morto.” Há dois mil anos, p. 187
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    Obs: estruturação descritiva bem similar: dimensionam o lago, em seguida dizem ser oval bastante regular/caprichoso semicírculo, logo depois ligam ao Jordão, descrevendo o desague no mar morto. Novamente, caracterizações na mesma sequência…
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    2) “A profunda aridez da natureza nas imediações de Jemsalém devia colaborar para o desgosto de Jesus. Os vales dali são secos; o solo d árido e pedregoso. Quando os olhos mergulham na depressão do Mar Morto, a vista tem algo de impressionante; para aim, é monótona. Unicamente a colina de Mizpa, com suas lembranças da mais velha história de Israel, sustenta o olhar. A cidade possuía, no tempo de Jesus, mais ou menos a mesma aparência que tem hoje.” – Ernest Renan, pág. 223
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    “A secura da natureza, onde se ergue Jerusalém, proporciona à célebre cidade uma beleza melancólica, tocada de pungente monotonia. Ao tempo do Cristo, seu aspecto era quase igual ao que hoje se observa. Apenas a colina de Mizpa, com as suas tradições suaves e lindas, representava um recanto verde e alegre, onde repousavam os olhos do forasteiro, longe da aridez e da ingratidão das paisagens.” – Há dois mil anos, pág. 46
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    Obs: É mais que uma influência de um livro no outro, mas uma apropriação de elementos, vejamos:
    a) Ambos falam da secura/aridez da natureza de Jerusalém, usando o mesmo adjetivo “monotonia” para caracterizar o local. b) Diante a aridez e secura daquela região ambos os autores, na mesma ordem, excepcionam ser unicamente/apenas a colina de Mizpa, c) com suas lembranças da velha história/ tradições suaves e lindas, d) que sustenta o olhar/onde repousam os olhos. E) no mais, os dois acabam por enfatizar que o local hoje é mais ou menos/ quase igual ao tempo de Jesus.
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    3) “Não havia nenhum monumento antigo, pois, até a época dos Asmoneus, os judeus permaneceram praticamente estranhos a qualquer tipo de arte (…) As construções berodianas rivalizam com as mais perfeitas da Antiguidade (…) O estilo desses monumentos era o estilo grego, apropriado aos costumes dos judeus, e alterado consideravelmente segundo seus princípios (…) O gosto dos antigos habitantes da Fenícia e da Palestina pelas construções monolíticas entalhadas na rocha viva parecia reviver nesses singulares túmulos recortados no rochedo e onde os motivos gregos eram tão estranhamente aplicados” – Ernest Renan, pág. 223 e 224
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    “Jerusalém acusava novidades e esplendores da vida nova. As construções herodianas pululavam nos seus arredores, revelando novo senso estético por parte de Israel. A predileção pelos monólitos talhados na rocha viva, característica do antigo povo israelita, fora substituída pelas adaptações do gosto judeu às normas gregas, renovando as paisagens interiores da famosa cidade” – Há dois mil anos, pág. 46
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    Obs: Esse aparenta ter sido mais modificado, vejamos: a) ambos falam que as construções herodianas eram noveis, Renan dizendo que rivalizava com as da antiguidade/ Para Xavier, revelando novo senso estético. B) Para Renan, os antigos habitantes tinham um GOSTO pelos monolíticos talhados na rocha viva/ Também para Xavier, o antigo povo tinha PREDILEÇÃO por monólitos talhados na rocha viva. C) Segundo Renan, as novas construções eram ao estilo grego apropriados ao costume dos judeus/ Já para Xavier, as construções antigas foram substituídas por adaptações do gosto judeu às normas gregas.
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    Enfim, os “famosos” detalhes históricos constantes no livro, me aparentaram nem um pouco extraordinário. Perante as alegações do seu escritor, de que se trataria de memórias de alguém que viveu naquele tempo, onde exercia papel de destaque político e intelectual; ou seja, tendo vasto conhecimento direto das complexas estruturas sociais da época; sendo escritas pelo próprio, sob uma forma de consciência [espiritual?] que lhe permitiria maior alcance ainda dos supostos acontecidos, me parece que o livro fica estratosfericamente aquém do esperado.
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    Por exemplo, olha que trecho curioso: “A princípio, observou a filha do senador que lhe surgiam algumas erupções cutâneas que, consideradas de somenos importância, foram tratadas tão somente à pasta de miolo de pão misturado ao leite de jumenta, medicamento havido na época como específico dos mais eficazes para a conservação da pele” – Há dois mil anos, p. 361 e 362.
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    Pode parecer ao leitor ser um detalhe bem específico, do qual seria difícil o escritor saber. Mas não é bem assim, a informação era difundida na época em jornais e periódicos, consequentemente, em livros sobre o tema. Saca só:
    “Mais as romanas, mais cuidadosas do frescor de seu rosto, iniciavam o trato diário de sua pelle na véspera. Cada noite, no momento de se deitar, cobriam o rosto com uma pasta de miolo de pão e leite, que só retiravam no momento de lavar o rosto, na manhã seguinte […] toda mulher de bom gosto tinha algumas das várias receitas análogas, mencionadas por Ovídio e na quaes figuravam o leite de jumenta […]” – Magazine mensal illustrada, 1936.
    Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=164380&pesq=miolo%20de%20p%C3%A3o%20leite%20de%20jumenta&pasta=ano%20193&pagfis=26850
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    Cumulativamente a isso, considere o FATO de haver nítidas evidências de supostas apropriações de um livro histórico [Ernest Renan] no outro. Ou seja, um suposto protagonista ‘espiritual’ que teria vivido na época, visto com seus próprios olhos as paisagens e os acontecimentos, necessitou de utilizar descrições de um escritor humano DEZENOVE SÉCULOS depois. Não uma descrição, mas VÁRIAS.
    Tudo isso permite uma conclusão segura de que o livro nada tem de paranormal, mas sim a forte possibilidade de que o autor se utilizava de materiais bem humanos para elaboração da sua obra. Outros artigos desse blog corroboram isso, com mais obras, atribuídas a outros ‘espíritos’ do mesmo escritor, incorrendo nas mesmas incongruências.

  8. Vitor Diz:

    Oi, Míssel
    excelente contribuição. Eu estou há dias tentando acessar o site da Biblioteca Nacional sem sucesso, vc pode mandar para o meu email essa matéria da Magazine Mensal Ilustrada? É vitormoura@hotmail.com

  9. Míssel Crítico Diz:

    Vitor, devo ter feito essa pesquisa apenas alguns dias antes de sair do ar, mas infelizmente só salvei o link com a transcrição do trecho específico.
    Pelo que vi aqui, o site foi vítima de um ataque hacker e deve voltar dentro de alguns dias:
    https://www.uol.com.br/splash/noticias/2021/04/20/site-da-biblioteca-nacional-inicia-volta-gradual-10-dias-apos-invasao.htm

  10. Míssel Crítico Diz:

    Vítor, conferi aqui e parece que o site da Biblioteca já voltou a funcionar.

  11. Vitor Diz:

    Obrigado pelo aviso, Míssel! Agora peguei a página!

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