Chico Xavier e sua repulsa ao Feminismo, por Lair Amaro (2022)
domingo, maio 22nd, 2022No sistema de crenças e valores do espiritismo chicoxaveriano, as mulheres são constantemente desencorajadas a engajarem-se nas lutas por seus direitos.
Trata-se de uma diretriz tão forte que o santo dos espíritas empregou múltiplas estratégias para persuadir as cristãs do tipo espírita a sentirem repulsa pelo movimento feminista.
Sentindo as repercussões das agitações estudantis de 1968 e das feministas nas ruas, Chico Xavier, em 1989, lança o livro “Fotos da vida” no qual assina como “espírito Augusto Cezar”.
Não por acaso, “Augusto Cezar” é apresentado como um jovem que desencarnara, aos 25 anos, em decorrência de um afogamento. Com efeito, assumir personas de jovens constituiu uma estratégia inteligente para popularizar o espiritismo chicoxaveriano.
No livro, Chico Xavier insere uma crônica intitulada “Feminismo” e nela emprega uma estratégia de convencimento que fez escola e continua sendo usada por vários reveladores espiritas: imaginar uma narrativa envolvendo alguma situação vivenciada pelo Jesus espirita.
O capital simbólico do santo dos espíritas somado à devoção da comunidade de crenças espírita faz com que as crônicas escritas por ele sejam consideradas como histórias reais que não foram registradas nos evangelhos.
Assim, para conjurar os perigos do feminismo para as famílias cristãs do tipo espírita, a crônica descreve Jesus e seus discípulos no rumo de Jericó a fim de visitar necessitados e doentes.
Jesus e seus companheiros, porém, perdem-se no caminho. O aparecimento providencial de um viajante é visto como a salvação para a trupe. Pedro aborda-o pedindo informações sobre a estrada certa que leva a Jericó. O estranho, contudo, trata-os com extrema rispidez e ignorância.
Pedro, então, volta-se para Jesus e comenta que aquela atitude não ficará impune e o Céu há de castigar o brutamontes. Jesus, como seria de se esperar, repreende amorosamente o discípulo. Em seguida, uma “bela jovem carregando um cântaro de água na cabeça” (portanto, uma escrava) é avistada. Pedro (contrariando os costumes judaicos) interpela a moça e esta, com toda a gentileza do mundo (também contrariando os costumes judaicos), mostra-lhes o caminho a seguir.
Embevecido com a situação, Pedro aproxima-se de Jesus e pergunta-lhe qual será a recompensa do Céu para aquela jovem pelo grande serviço prestado ao grupo. Em “voz alta”, Jesus responde — não a Pedro, mas para a comunidade de crenças espírita — que a recompensa da jovem será “casar-se com o homem brutalizado a fim de que consiga educá-lo para Deus e para a vida”.
As palavras conclusivas de Jesus, na situação imaginada pelo santo dos espiritas, foram estrategicamente elaboradas para convencer as famílias cristãs do tipo espírita a repelirem fortemente o feminismo. Com efeito, a jovem gentil que educa o brutamontes para Deus e para a vida prova que “se a mulher nos abandonar à própria sorte, negando-se a cumprir a missão que o Céu lhe atribui, com certeza, nós todos, os homens vinculados ainda à Terra, estaremos perdidos…”
“Abandonar os homens à própria sorte’ seria um dos resultados que Chico Xavier mais tinha repulsa e que se daria caso as feministas prosseguissem lutando pela igualdade de direitos. As feministas, aos seus olhos, eram um péssimo exemplo à medida que negavam-se a cumprir a “missão que o Céu” atribuiu a todas as mulheres, ou seja, permanecerem no lar dedicando-se aos seus afazeres naturais: serem boas mães e boas esposas.
Instagram do Professor Lair Amaro: @professorlair