A Mediunidade não é 100% confiável – por Elias Inácio de Moraes
Nenhum médium pode confiar 100% nas suas percepções mediúnicas, e nem nós 100% no que eles psicografam ou dizem, porque todo médium comete um ou outro equívoco. Kardec já havia alertado quanto a isso no Livro dos Médiuns. Ele atribuiu os erros observados nas comunicações mediúnicas a vários fatores. Para saber mais, clique aqui.
julho 3rd, 2024 às 11:28 AM
Sobre Mediunidade não é 100% confiável.
Não são problemas c/mediunidade. É o mesmo que, por qualquer circunstância, conversarmos c/1 desconhecido(a).
Idem: não é mediunidade.
(❓) Pra mim não mostra nada🤔
Essa mania do Kardec por bom senso/razão — e.g. tout ce qui pèche par la logique et le bon sens [LM XXIV – 266] — valia no século dele. Depois a Realidade vem atropelando “razão”/”lógica” da humanidade terrícola.
Baseado nessas não haveriam os fatos quânticos. Nem provavelmente planetas onde chova Fe d’1 lado e seja 🧊 do outro.
Idem na Sociologia. Qualquer estudo medianamente aprofundado vai nos mostrar organizações sociais as quais nunca cogitariamos baseados nas nossas concepções atuais. E assim como EMPIRICAMENTE retrospectivamente ficamos sabendo dessas, não podemos descartar outras ultramundanas e/ou corpóreas n’outros planetas só porque a nós pareçam ilógicas/inconvenentes.
Então NÃO PODEMOS “filtrar” como sejam sociedades ultramundanas via NOSSA(O) (por definição, claro…) “Razão”/bon sens.
Se “Espíritos” nos informarem coisas espantosas lá dos lugares onde eles morem temos que levar em conta.
Claro: não se trata de acreditar ingenuamente, mas ter presente que não temos como rejeitar (o relato no caso).
Então repito: se Espíritos não puderem dizer coisas que não sabemos contradizendo a NOSSA “Razão”, não faz sentido consultá-los. Exceto, claro, entretiens familiers, que só interessam a… familiares + amigos.
julho 5th, 2024 às 1:52 AM
O problema dessa concepção de “ideia mais abstrata” que vem na mente e o médium apenas “interpreta” com seus recursos pessoais, é que isso só é considerado quando conveniente à manutenção da crença espírita: em face de contradições, diferenças não esperadas e possíveis fraudes.
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O próprio Elias usa exemplo do C. Xavier ao relembrar que toda carta era com o mesmo teor, vocabulário e palavras próprias do uso do médium, pois a mediunidade só conseguiria interpretar ideias e sentimentos que supostamente viriam na sua mente. Ou seja, a mediunidade não seria direta como os adeptos geralmente pensam.
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Ex: sou um médium psicografando carta ao parente, sentindo que ele está se dirigindo com muita ternura ao familiar, embora a mediunidade, como não seria direta, me impeça de saber exatamente suas palavras. Então escrevo com meu vocabulário e meu próprio texto o que supostamente estou sentindo como ternura do espírito ao consulente.
Só que nessas mesmas cartas, paradoxalmente, conseguiria fazer dessas “ideias abstratas” algo direto, tipo um espírito hipotético dizendo “Mamãe, tô aqui com tia Gertrudes. Lembro sempre dos nossos passeios na lagoa das abelhas esmeraldinas”.
Fico pensando, como será a ideia abstrata ou sentimento genérico onde o médium conseguiria interpretar RIGOROSAMENTE um nome próprio como Gertrudes ou de locais específicos?
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Se o médium consegue receber na sua cabeça letra por letra para se formar G-E-R-T-R-U-D-E-S , por que então o resto da carta não expressa exatamente letra por letra, palavra por palavra para se formar precisamente o texto personalíssimo de cada um dos supostos espíritos?
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Praticamente a carta inteira interpretada com as minhas palavras, esboçando as minhas próprias ideias e crenças, contraditoriamente tendo como única “comunicação direta” as poucas informações pessoais do familiar (que poderiam muito bem ser obtidas por intermédio das técnicas de leitura quente) não é nada animador.
Pois justamente esse panorama seria o também esperado de alguém hipoteticamente tentando simular comunicação espiritual direcionada.
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Afinal, tomar conhecimento prévio da maneira como cada familiar de consulente escrevia e sua personalidade textual é muito difícil (o que não deveria ser quando se alega que é um real espírito escrevendo).
Então para um eventual fingimento, o mais esperado para esse hipotético medium é um texto base e clichê adicionado de algumas informações diretas que conseguir colher por vias totalmente terrenas.
Se por um acaso o hipotético medium conseguir a sorte de alguma carta do sujeito quando vivo ou algo com sua assinatura, pode tentar arriscar uma simulação bem mais “aparentemente direta”, imitando seu vocabulário ou letra. Mas dadas as dificuldades de se conseguir isso para todo consulente, se figura como exçecão da exceção.
Será então apenas coincidência que as cartas dos médiuns que dizem psicografar mensagens familiares apresentem esses mesmos padrõe e sejam, na sua esmagadora maioria, totalmente genéricas?
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Nos livros atribuídos aos espíritos de muitos médiuns por aí, tratando de vários assuntos, não vemos escritos conceitos, termos e nomenclaturas específicas dos temas respectivos?
Por exemplo, como um conceito cientifico ou termo psicanalítico (facilmente obtidos em materiais terrenos) chegariam rigorosamente na mente do médium sendo que esse apenas interpreta com suas palavras uma ideia vaga do além?
Livros de muitos dos médiuns abundam esses termos específicos, em todas as páginas e capítulos, evocando a seguinte contradição: ou a mediunidade não é dessa maneira que o Elias tenta justificar os erros, ou o médium copia livros terrenos; seja para fingir que é um espírito “muito sabido”, seja para enriquecer e impressionar melhor o leitor daquilo “interpreta” genericamente. Em qualquer das últimas opções seria bem problemático.
O uso dessa justificativa aventada pelo Elias escancara, dentre tantas, essa contradição que geralmente não é enfrentada. O uso dela é somente no limite da conveniência de afastar o que abala alicerces da crença espírita.
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Essa justificativa e hipótese extraordinária serve para não encarar o possível fato da não existência de nada espiritual dentro do objeto de contradições percebidas; ou da possibilidade de uma simples inventividade, performance e consulta de materiais pelo médium.
Assim aquilo que está diferente, errado ou falso é porque misturou com os conhecimentos daquele médium ou foram fruto de suas interpretações pessoais. O mais importante pro adepto, é continuar se convencendo que foi fruto de legítimo espírito e legítima “mediunidade”, uma manutenção superficialmente questionadora, mas de profundidade acrítica…
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Por último, é interessante um ponto mencionado pelo Elias para uma discussão válida sobre visão crítica. Já li alguns trabalhos de psicologia que foram a campo estudar atividades de centros espíritas. Eles constataram nos “grupos mediúnicos” um fato interessante: há uma construção coletiva das supostas entidades que apareceriam por lá.
Um determinado médium diz que está vendo um espírito e menciona algumas características e informações. Outros médiuns também dizem que passaram a ver/sentir e também dão algumas contribuições para preencher características e informações da suposta entidade. À partir daí as novas contribuições são incorporadas pelo primeiro a dizer sobre o espírito e pelo grupo todo.
Um processo coletivo e que nada garante que uma primeira imaginação inventiva não tenha sugestionado os demais a também sentirem, verem ou fingirem perceber esse algo inexistente, certo?
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Se eu não me engano, no trabalho “Metamorfoses do espírito: usos e sentidos das crenças e experiências paranormais na construção da identidade de médiuns espíritas”, de Everton de Oliveira Maraldi, em alguns casos foi até mesmo possível ao pesquisador perceber claramente que alguns “espíritos” que surgiam pela primeira vez nas reuniões detinham características de coisas que os supostos médiuns que os relatavam estavam entretidos ou tinham se impressionado alguns dias antes. Outros médiuns depois de apresentados à ideia desse novo espírito que apareceu, validavam e o complementavam sutilmente.
Na mesma linha, recordo de um dos últimos vídeos do canal “questionando crenças”, de um ex espírita.
Já quase descrente na existência de espíritos, mas ainda frequentando o centro, resolveu inventar que uma entidade se manifestava através dele (como tantas vezes acreditou que fazia) e assim ver a reação dos demais “médiuns” do centro.
O que teria acontecido é que alguns deles também passaram a sentir e ver mais ou menos o que ele relatava nesse blefe, embora complementassem diferentemente. Não que isso necessariamente queira dizer que estavam inventando conscientemente, embora alguns possam fazê-lo.
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Assim vamos ao ponto interessante da fala do Elias: “No nosso grupo mediúnico havia dois médiuns videntes. Diante de uma presença espiritual revoltada, agressiva, um colega médium via um animal feroz, um monstro, ou algo parecido, enquanto a outra colega médium via árvores secas, lamaçais. Diante de uma presença espiritual amistosa, ele já via uma ave delicada pairando sobre o médium, enquanto ela via jardins, flores, campos floridos. ISSO MOSTRA QUE HÁ INFLUÊNCIA ESPIRITUAL, mas a expressão é elaborada pelo médium, com seus recursos, sua linguagem.”
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Segundo o Elias, um suposto médium disse ter sentido algo visualizando de uma maneira e o outro disse também ter sentido esse algo, visualizando de outra maneira. Enfim, bastou somente os médiuns dizendo que sentiram espírito para o Elias concluir que “isso MOSTRA que há influencia espiritual”, não obstante qualquer diferença.
A hipótese de que não poderia haver qualquer espírito, mas sim os dois se auto enganando, se sugestionando mutuamente, sequer foi considerada. É pra isso que serve a justificativa da mediunidade como algo abstrato, indireto, interpretativo. A conveniência de tirar o incômodo das contradições na dimensão da realidade e assim preservar o que de fato interessa ao adepto da crença: há sim a influência espirititual.