“Kant & Swedenborg” (2024) por Márcio Rodrigues Horta
Em 1743, Swedenborg começou a manifestar insanidade; mas esta não era de um tipo comum, incapacitante – tinha método. Acostumado a trabalhar quase ininterruptamente, o notável cientista passou a frequentar jantares, encontros, proferir palestras e escrever livros para divulgar sua boa nova: ele via espíritos, inclusive acordado.
Como era um homem extremamente culto, passou a elaborar conceitos afins e justificar teoricamente suas experiências. Como responder a esta esfinge? Ela devorou o filósofo sueco, que até o fim de sua vida não conseguiu decifrá-la. Todavia, Kant iniciou a produção de uma resposta que considero parcialmente pertinente.
Meu primeiro contato com o Swedenborg mistico foi decepcionante. Para um leitor contemporâneo, o enigma do que ocorreu com esse vidente de espíritos é fácil e rapidamente decifrável – insanidade. Li extratos de suas obras nos quais supostamente sua alma deixava seu corpo, viajava para outros orbes celestes (evento comumente chamado “viagem astral”) e os descrevia. Marte, Júpiter, Lua etc. – todos possuíam cidades com multidões de pessoas que, ao desencamarem, seguiam para as contrapartes espirituais dos seus astros, tal como ocorria na Terra. O avanço da astronomia no séc. XX e a corrida espacial nos libertou. Ademais, céu e inferno hoje não gozam de popularidade acadêmica e dificilmente persuadem com a facilidade com que faziam no séc. XVIII.
Por ocasião do mestrado, li pela primeira vez a tradução espanhola de Pedro Chacon & Isidoro Reguera de Los suenos de un visionario explicados por los suenos de la metafisica, de Kant, ensaio originariamente publicado em 1766, no qual o hoje famoso filósofo criticou duramente a obra Arcana coelestia, de oito volumes, escrita por Swedenborg. Os prefácios das duas traduções espanholas utilizadas para auxiliar a elaboração da tradução para o português de Sonhos (abaixo) repercutem a opinião tradicional de que Kant representava a razão no embate e vitória sobre o obscurantismo. Assim eu pensava também naqueles dias idos.
Relendo recentemente o texto, agora em inglês (Dreams of a spirit-seer ilustrated by dreams of metaphysics, de Emanuel Goerwitz e Frank Sewall, tradução publicada em 1900), pude notar da parte dos organizadores americanos da versão certa simpatia por Swedenborg. Como? O que eles sabiam que eu não sei? A curiosidade me conduziu a ler o texto todo, e a primeira tese imbricada aos comentários e notas é que Kant não leu ou não leu com atenção toda a obra de Swedenborg. Vários extratos desta, apresentados como notas, tocam exatamente em pontos da critica de Kant em Sonhos. Ademais, e eis o tema mais candente: em algumas de suas obras posteriores, Kant teria utilizado conceitos e ideias presentes em Arcana coelestia (e desenvolvidos em outros escritos pelo vidente de espíritos). E os comentadores americanos os apontaram, junto com as passagens correspondentes de Swedenborg.
Para ler mais, clique aqui. (Artigo atualizado em 07/06/2024!)
fevereiro 23rd, 2024 às 7:16 PM
Ohhh, q fofo! Publicado…
fevereiro 25th, 2024 às 6:58 AM
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Dr. mrh disse:
Optei por traduzir geisersehers =======================================================
❓
fevereiro 25th, 2024 às 2:01 PM
?
fevereiro 25th, 2024 às 2:14 PM
Em contraposição a visionário das trad espanholas – mais descritivo.
fevereiro 25th, 2024 às 2:16 PM
geisersehers
fevereiro 25th, 2024 às 2:17 PM
Só q tem um s a mais. Vou verificar.
fevereiro 25th, 2024 às 2:38 PM
O itálico?
fevereiro 25th, 2024 às 2:43 PM
geisersehers
🤔
fevereiro 25th, 2024 às 2:45 PM
Tá faltando uma letra, o t. Entendi. Tenho tido muitos problemas na revisão. K corretor automático muda coisas, tem q supervisionar o tempo todo.
fevereiro 25th, 2024 às 2:47 PM
Agradeço toda correção e objeção tb.
fevereiro 25th, 2024 às 2:47 PM
Agradeço toda correção e objeção tb..
fevereiro 25th, 2024 às 3:05 PM
Und großgeschrieben werden muss.
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Dr. Mrh disse:
no conjunto de todos os casos relatados em pesquisa psiquica, pode existir um resíduo válido
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👍
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Todavia, e se não for assim? E se existir conhecimento válido oriundo de um grupo menor de pessoas?
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🆗mas qual teríamos exceto o conhecimento duma provável existência d’algum ultramundo habitado por espíritos❓
Concordo c/S/argumentação acerca de não ser mera ocorrência a nível de linguagem. Mas para por aí o que temos a poder ser considerado conhecimento válido. As representações dessa eventual interação inter-mundos ficam caóticas c/ruídos oriundos da mente do experienciante terrícola dessa interação + outros possíveis fatores diversos. Então não sai nada confiável que se possa chamar conhecimento exceto o próprio indicativo de que quiçá haja mesmo tal # de interações.
fevereiro 25th, 2024 às 8:39 PM
Alguma coisa passa, caro Fat. É o que advogo nesse trabalho. Por exemplo, a percepção clara da ideia intrusiva do obsessor, que quer que alguém se mate: ninguém gosta de vc, ninguém t quer; por quê vc não se mata? etc., ultrapassam a barreira e são claramente percebidas pela vítima. São minimalistas, mas chegam. Significam algo, e são carregadas de “vontade” – são “energias” indutivas. Com isso já posso inferir que há um mundo, como vc disse, além; mas tb que nem tudo são flores por lá, nem todo mundo é bom etc.
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E boas pessoas por vezes também se manifestam, e posso inferir coisas destas manifestações tb.
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Sei q é muito menos do que um pretenso romance espírita, mas ao menos pode ser real. E também há comunicações simbólicas mais extensas.
fevereiro 25th, 2024 às 8:45 PM
Ah, deliberadamente não usei algumas maiúsculas porque meu teclado não as têm.
abril 30th, 2024 às 1:06 PM
Kant cometeu erros grosseiros. Junto com Descartes, foi o responsável por uma grande queda na inteligência dos que vieram depois. E nós somos a cereja estragada desse bolo também estragado.