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O retrato de Gustave Geley

quarta-feira, março 6th, 2024

Em 2004 – sim, duas décadas atrás – trabalhei com o cético Kentaro Mori na investigação de um caso de fotografia espírita envolvendo o “fantasma” do pesquisador Gustave Geley. O resultado de nossa análise foi publicado na extinta revista Pensar (disponível na língua original aqui e em português aqui). Peço que leiam esse material antes de prosseguir, mas nossa conclusão foi que o fantasma que apareceu na chapa foi extraído de uma fotografia de Geley tirada quando ele era vivo.

Mori terminou o artigo dizendo “restam dúvidas se Stanley De Brath foi mesmo o autor da fraude e se havia outros envolvidos, incluindo o próprio Gustave Geley.” 20 anos depois da publicação do artigo fico feliz em dizer que descobri quem cometeu a fraude – digo fraude porque essa é a explicação mais simples, já que a outra hipótese aventada, a de ideoplastia, carece de maior evidência empírica.

Ocorre que vários volumes da Revista Internacional do Espiritismo foram recentemente disponibilizados, e em seu primeiro número temos o relato da sessão em que foi tirada a fotografia espírita. Transcrevi o relato trazendo para o português moderno e disponibilizei aqui.

Da leitura do relato, fica óbvio que quem cometeu a fraude foi o médium e fotógrafo William Hope. A fraude teria acontecido neste trecho do relato:

Hope e Mme. Buxton se colocaram ao lado do aparelho, mas sem o tocar, limitando-se Hope a abrir os «Chassis» para expor as chapas, o que durou quinze segundos, depois fechou.

Hope foi pego em fraude várias vezes, como se pode ver aqui.

Experimentos Controlados Envolvendo Recepção Anômala de Informações com Médiuns: Uma Análise dos Métodos Aplicados em Estudos Recentes (2022), por Alexander Moreira-Almeida e Julio Silva

terça-feira, novembro 14th, 2023

O estudo da Recepção Anômala de Informações (RAI) com médiuns, onde um indivíduo supostamente tem acesso a dados sem o uso dos sentidos básicos, alegando ter recebido informações de personalidades falecidas, tem o potencial de introduzir novas informações sobre a relação entre a mente e o cérebro. Estudos recentes que investigaram se a RAI ocorre em processos mediúnicos produziram resultados conflitantes. Este artigo compara oito estudos com maior rigor no controle do vazamento de informações no que diz respeito a métodos e resultados, com o objetivo de identificar a causa da disparidade nos resultados. Descobriu-se que parece haver maior probabilidade de resultados significativos para a RAI quando os protocolos do estudo selecionam médiuns com evidências prévias consistentes de RAI; selecionam consulentes que estejam fortemente motivados para o estudo; fornecem ao médium algumas informações sobre o falecido; permitem que ele fale livremente, mas também façam perguntas objetivas; fornecem pontuações para leituras completas e itens individuais; e evitem um grande número de leituras e informações para avaliação. Essa diligência aparentemente proporciona maior equilíbrio entre a validade ecológica e o controle do vazamento de informações, favorecendo a ocorrência e detecção da RAI. Para ler o artigo, clique aqui.

Resenha Crítica do livro “Ciência da Vida Após a Morte” (2023) por Daniel e Natacha Gontijo

quarta-feira, novembro 8th, 2023

Segue a resenha crítica do livro escrito por Alexander Moreira-Almeida et al., “Ciência da Vida Após a Morte”, publicada na revista Interações. Para lê-la, clique aqui.

Comentários ao artigo “Mortos não são testemunha”, de Juliana Melo Dias

terça-feira, novembro 7th, 2023

Juliana Melo Dias é servidora do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), e se mostra bastante conhecedora e crítica das evidências mais recentes para a mediunidade, em especial a psicografia. No entanto, seu artigo “Mortos não são testemunha” peca por uma generalização indevida. Irei comentar algumas das passagens principais de seu escrito. Para ler minha análise, clique aqui.

Mortos não são testemunha: a inadmissibilidade da prova psicografada devido à ausência de fiabilidade (2023), por Juliana Melo Dias

segunda-feira, novembro 6th, 2023

Juliana Melo Dias é Mestra em Teorias Jurídicas Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre Epistemologia Aplicada aos Tribunais (GREAT), liderado pelas Dras. Rachel Herdy e Janaina Roland Matida. Atualmente é servidora do Ministério Público do Rio de Janeiro. Ela escreveu um artigo contestando o uso de cartas psicografadas em processos criminais. Eu discordo de algumas coisas mas recomendo bastante a leitura do artigo, disponível aqui. Minha próxima postagem trará justamente minha análise deste seu artigo, que a meu ver possui pontos altos e baixos.

Análises estatístico-computacionais de atribuição de autoria: Augusto dos Anjos e a obra psicografada Parnaso de Além-Túmulo (2023)

quarta-feira, outubro 18th, 2023

Este é um estudo estatístico textual realizado com a obra psicografada Parnaso de Além-Túmulo (1932), com ênfase de análise nos 31 poemas mediúnicos atribuídos ao poeta brasileiro Augusto dos Anjos pelo médium Francisco Cândido Xavier. O estudo, publicado na revista eletrônica Domínios de Lingu@gem, conclui que era sim possível ao Chico pastichar poetas e/ou escritores. Os autores encontraram dissemelhanças significativas entre os poemas de Augusto dos Anjos quando vivo e quando desencarnado. Para ler o artigo, clique aqui.

O CASO DE IRIS FARCZÁDY — UMA VIDA ROUBADA (2005)

segunda-feira, setembro 25th, 2023

Em 1933, uma garota húngara de 16 anos, de boa criação, que sempre havia se interessado muito pela mediunidade, passou subitamente por uma mudança drástica de personalidade, alegando que ela era Lúcia renascida, uma trabalhadora espanhola de 41 anos que havia morrido no início daquele ano. Transformada em “Lúcia”, Íris falou em espanhol fluente a partir de então, uma língua que aparentemente ela nunca tinha estudado e nem tivera a oportunidade de aprender, e era incapaz de entender qualquer outra língua. Lúcia tem estado no controle desde então, e agora, com a idade de 86 anos, considera que Íris foi uma pessoa diferente, a qual cessou sua existência em 1933. Os três autores deste artigo encontraram Lúcia em 1998, e uma fita cassete contendo as suas entrevistas está arquivada na SPR. Tentativas foram feitas para localizar a alegada família espanhola de Lúcia, mas não obtiveram sucesso. Apesar de o aspecto reencarnatório do caso não ser apoiado por provas, ainda resta o mistério de como Iris adquiriu o seu conhecimento da linguagem espanhola, dos costumes e da cultura popular, e porque Iris deveria ter querido ou se submetido a uma “substituição” por Lúcia. Para ler o artigo em português, clique aqui. Em inglês, clique aqui.

Anomalias físicas congênitas associadas a pessoas falecidas em casos de reencarnação com intervalos inferiores a nove meses (2023), por James G. Matlock

segunda-feira, setembro 18th, 2023

Uma revisão da literatura de casos de reencarnação com as pessoas passadas identificadas encontrou 36 casos em que a “intermissão” entre as vidas foi inferior a 9 meses. Em 9 casos, isso representou 7 dias ou menos. Em 32 casos, os indivíduos tinham marcas ou defeitos de nascença correspondentes aos ferimentos da pessoa anterior ou outras cicatrizes satisfazendo o local e a aparência. Múltiplas anomalias apareceram em 20 (62,5%) dos 32 casos com anomalias físicas. Houve 9 casos de morte natural e 27 casos de morte violenta. Em 15 (55,5%) dos casos de morte violenta houve documentação escrita dos ferimentos na pessoa anterior. Os defeitos congênitos mais extremos ocorreram em casos com intervalos de 7 meses ou mais. Interpretações dos dados alternativos à reencarnação são analisadas, mas consideradas inadequadas como modelos explicativos. Se exemplos de reencarnação, esses casos levantam questões relacionadas a quando exatamente a reencarnação ocorre e a natureza do processo, que são considerações importantes para a biologia e a medicina, bem como para a filosofia. Um dos propósitos deste artigo é alertar a comunidade científica para essas descobertas, na esperança de encorajar pesquisas adicionais nessa área. Para ler o artigo, clique aqui.

Recepção de informação anômala por médiuns: Uma meta-análise da evidência científica (2021)

segunda-feira, setembro 11th, 2023

A mediunidade é o fenômeno ostensivo da comunicação intermediada por humanos entre pessoas vivas e falecidas. Neste artigo, os autores fazem uma meta-análise de toda a evidência experimental moderna disponível, especificamente de 2001 a dezembro de 2019, investigando a precisão da informação aparentemente anômala fornecida por médiuns sobre indivíduos falecidos. 14 artigos passaram no critério de seleção, para um total de 18 experimentos. Ambos os modelos de efeitos aleatórios bayesianos e frequentistas foram usados para estimar o tamanho do efeito agregado nos estudos. O tamanho do efeito padronizado geral (índice de proporção), tanto aqueles estimados com o modelo frequentista, quanto com o modelo bayesiano, geraram um valor de 0,18 (95% I.C. = 0,12 – 0,25) acima do nível do acaso. Além disso, essas estimativas passaram pelo controle de dois testes de viés de publicação. Os resultados desta meta-análise, os autores concluem, apoiam a hipótese de que alguns médiuns podem recuperar informações sobre pessoas falecidas por meios desconhecidos. Para ler o artigo, clique aqui.

Uma investigação empírica de suposta escrita mediúnica – um estudo de caso das cartas de Chico Xavier (2019)

terça-feira, agosto 29th, 2023

Há muitas críticas que podem ser feitas a este artigo: (a) os autores passam um perfil completamente falso de Chico Xavier, chegando a dizer, inclusive, que “a conduta de Xavier nunca deu qualquer base para supor que ele fosse capaz de fraude ou trapaça”. Aquele circo das materializações ao lado da Otília Diogo e os plágios seriam o quê?; (b) os autores passam a ideia de que Chico teria adiantado conhecimentos científicos, em especial sobre a glândula pineal ao dizerem que “alguns fatos fisiológicos foram descritos na pesquisa médica apenas muito anos depois da publicação dos livros de Xavier”. Nada mais falso, podendo ser conferido aqui.; (c) os autores dizem que “Xavier era um jovem e pouco educado homem vivendo em uma região rural do Brasil com acesso restrito a bibliotecas”. Falso. Chico teve amplo acesso a livros trazidos por Rômulo Joviano, seu patrão, inclusive livros em inglês que lhe eram traduzidos; (d) os autores dizem que “ao longo de sua vida, Xavier produziu mais de 450 livros, todos supostamente escritos sob influência direta de pessoas falecidas”. De onde tiraram esse número? Os livros de Chico Xavier em vida somam 412 ou 416, a depender da classificação. Mesmo contando algumas dezenas lançados após sua morte não chegam a 450.

Enfim, o artigo é muito ruim. Para quem ainda quiser ler o artigo, clique aqui.

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